Revista Científica do Hospital Nosso Lar - 2 Edição

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Ansiedade. Como enfrentar o mal do sĂŠculo?

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E X PE DIE N T E Jornalista Responsável: Juliana Brito (Mtb 2359/CE) Design e Diagramação: Thiago Arcoverde Revisão: Juliana Gurgel e Sarah Guimarães Portela Fotografo: Davi Holanda Revisão Científica: Edyr Marcelo Costa Hermeto Nágela Maria da Silva

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S UM Á R IO

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Ansiedade: quando deixa de ser instinto de sobrevivência e vira doença.

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Unidade Bezerra Monteiro

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Espiritualidade e saúde: o poder da fé no tratamento de doenças mentais.

Gestão do cuidado: a humanização da assistência hospitalar.

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ARTIGO: O USO EXCESSIVO DA INTERNET E O IMPACTO PSICOLÓGICO DAS REDES SOCIAIS NA MODERNIDADE: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA (2004 - 2017)

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ARTIGO: CRIANÇA COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL (2005- 2015)

ARTIGO: ATIVIDADES EXPRESSIVAS NA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS JUNTO A USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS (2005-2015)


Ansiedade: quando deixa de ser instinto de sobrevivência e vira doença.

Entrevista com Dra. Ticiana Macedo por Juliana Brito

Médica pela Universidade Federal do Ceará (2002). Atua na psiquiatra há mais de 15 anos no tratamento de doenças mentais e é diretora clínica do Hospital Nosso Lar 6


“Sem eu perceber, a ansiedade foi tomando uma proporção gigantesca na minha vida. Os primeiros sinais apareceram quando eu enfrentava uma situação mais estressante no trabalho, como receber reclamação do chefe. Minha respiração ficava ofegante, sentia falta de ar, a cabeça era invadida por pensamentos ruins e uma avalanche de probabilidades negativas me paralisava. Mesmo com um problema pequeno e fácil de ser resolvido, a sensação era de um iceberg na minha frente, tudo virava um grande problema. Ao longo dos meses, o corpo foi sofrendo junto com minha mente. Passei a ter pressão alta, tensão muscular, bruxismo e engordei 20kg. E, assim, fui perdendo oportunidades de crescimento profissional e vivendo demissões seguidas em três empresas diferentes”. Ricardo Sales* tinha 30 anos quando viu sua vida desmoronar. Carreira profissional, casamento, saúde, tudo estava em cheque. Ao procurar ajuda médica e psicológica, o diagnóstico logo apareceu: transtorno de ansiedade generalizada, que, segundo o manual de classificação de doenças mentais, é um distúrbio caracterizado pela preocupação excessiva ou expectativa apreensiva, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses, no mínimo, e vem acompanhado por três ou mais sintomas como inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono.

A ansiedade é uma reação natural diante de situações que podem provocar medo, dúvida ou expectativa. É considerada normal a ansiedade que se manifesta nas horas que antecedem uma entrevista de emprego, o nascimento de um filho, uma viagem, uma cirurgia ou uma dificuldade econômica, por exemplo. Nesses casos, a ansiedade funciona como um sinal que prepara a pessoa para enfrentar o desafio e, mesmo que ele não seja superado, favorece sua adaptação às novas condições de vida. Já a ansiedade crônica é um problema de saúde. É quando o estado de tensão cerebral e corporal não vai embora. Essa condição pode desencadear diversos distúrbios mentais, como fobia social, síndrome do pânico, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade generalizada (TAG), entre outros. “Isto acontece quando a ansiedade começa a causar impactos negativos na vida do indivíduo; ela deixa de ser um mecanismo de sobrevivência, de preservação do ser humano, e passa a atrapalhar o dia a dia do paciente. Aquela pessoa que não consegue dormir, que deixa de sair de casa para realizar atividades básicas por medo de ser assaltado, que evita socializar, que repete o ritual no banho 20 vezes e se atrasa para os compromissos, que perde o rendimento laboral (é uma pessoa ansiosa além do normal). Esses são alguns sinais de que a ansiedade passou do nível normal”, explica a psiquiatra 7


A ARMADILHA DAS REDES SOCIAIS

Ticiana Macedo, que atua, há mais de 15 anos, no tratamento de doenças mentais. Ela ressalta, ainda, que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento e interfere na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos pacientes. A ansiedade é considerada por especialistas o mal do século e está entre os transtornos mais sentidos pelo brasileiro. Um levantamento realizado no ano de 2018 pela Organização Mundial de Saúde constatou que o Brasil está no topo, com 9,3% da população manifestando o quadro. Já são 18,6 milhões de brasileiros ansiosos além do normal. Os traços da doença têm causas multifatoriais e podem aparecer em qualquer fase da vida, da infância à velhice. Os motivos vão depender da história de vida de cada paciente; entre os mais graves, estão a morte de um filho e o fim de um relacionamento amoroso. De acordo com Ticiana Macedo, hoje, os distúrbios ocasionados pela ansiedade são observados cada vez mais cedo nos brasileiros. “O estresse e a sobrecarga do dia a dia vão consumindo o indivíduo até ele desenvolver a doença, que antes aparecia aos 40 anos e hoje já atinge os jovens de 18. Isso demonstra a exaustão das defesas psíquicas desde a infância. Quando a pessoa não consegue mais se defender das agressões externas, ela adoece”.

“A ansiedade é considerada por especialistas o mal do século e está entre os transtornos mais sentidos pelo brasileiro.” 8

Um dos grandes gatilhos de ansiedade nesta era tem sido as redes sociais. Num feed cada vez mais permeado de conquistas, de viagens e de felicidade alheia, o ansioso navega pelo mar da autocobrança. Ao observar o jardim do vizinho sempre mais florido, o indivíduo começa a se cobrar em cima das vitórias que os amigos demonstram no ambiente virtual. Aí surgem os questionamentos: “Será que sou um fracassado? Meu amigo terminou o mestrado, o outro já casou e tem 4 filhos, a blogueira vive viajando para o exterior e eu não saio do lugar”. A psiquiatra pontua que essa relação com as redes sociais vai causando uma sensação de inadequação à sociedade, que pode gerar frustração, tristeza e estresse, desencadeando distúrbios de ansiedade. E, quando a ansiedade vira patológica, corre-se o risco de o indivíduo apresentar inclusive ataques de pânico: um surto de atividade cerebral que pode acontecer em casa, no carro ou no ambiente de trabalho, que traz sentimentos de mal-estar, de desespero e de fim de mundo. “No pico do ataque de pânico, a adrenalina sobe acima do nível basal, e o paciente acha que vai morrer, que vai ter um ataque cardíaco ou que vai enlouquecer. Recebemos muitos casos como esses nas emergências, porque os sintomas da carga adrenérgica são muitos; sudorese, tremores, parestesia (arrepios pelo corpo), dor no estômago, enjoo, dor no peito com taquicardia, sensação de opressão no pescoço e na cabeça”, afirma Dra. Ticiana.


SAINDO DA CRISE

Na crise e a longo prazo, a psiquiatra destaca a junção dos tratamentos farmacoterápico e psicoterápico como o melhor caminho para bons resultados. Aliada às medicações e ao acompanhamento psiquiátrico, ela recomenda a prática de técnicas de relaxamento e respiração, além de sessões terapêuticas que ajudem o paciente a descobrir os gatilhos inconscientes que lhe geram ansiedade. Um grande auxílio nesse processo de recuperação é a empatia por parte da família e dos amigos; a aceitação dos problemas sem julgamento ainda é um aspecto a ser melhorado na nossa sociedade. A médica evidencia que, na maioria dos casos, as pessoas costumam encarar a ansiedade como condições que não existem. “Se o paciente não sai de casa é porque ele não consegue, é devido ao transtorno. O familiar dizer que aquilo é besteira não vai ajudar. O que o paciente precisa é de apoio, claro, sem reforçar o comportamento da pessoa. O parente deve se mostrar disponível, oferecer companhia para ir ao médico, demonstrar que entende o sofrimento do outro”.

Lembram-se do Ricardo*, do início da reportagem? Ele conseguiu vencer toda aquela angústia trazida pela ansiedade exagerada. Com a ajuda de profissionais de saúde e dos familiares, o nutricionista deu a volta por cima e ressignificou sua vida. Consolidou a carreira profissional, retomou o peso saudável e reconquistou o equilíbrio emocional que lhe dá ânimo e vigor todos os dias. “Quando lembro do que passei, só posso agradecer a Deus e a todos que me ajudaram, hoje sou outro homem. Para os que ainda estão se descobrindo dentro das estatísticas dos transtornos de ansiedade e para os já estão em tratamento, desejo perseverança e sucesso, pois nada paga a paz que vivo hoje”. As doenças que abalam a mente devem ser abordadas com o mesmo respeito e seriedade de qualquer outra moléstia do corpo. Se você acha que a ansiedade está desproporcional e prejudica sua rotina, não demore em pedir ajuda. A avaliação, com base em um questionário respondido no consultório, já ajuda a flagrar a ansiedade e nortear a abordagem terapêutica. (*nome fictício para preservar a identidade do paciente)

A Ansiedade pode trazer tanto sintomas físicos quanto emocionais. Estão entre eles: • Preocupação excessiva; • Irritabilidade; • Dificuldade de relaxar, concentar e respirar; • Tonturas e tremores.

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Espiritualidade e saúde: o poder da fé no tratamento de doenças mentais.

Entrevista com Dr. Francisco Cajazeiras por Juliana Brito

Médico e professor de neuroanatomia da Universidade de Fortaleza que há 10 anos se dedica ao estudo da Psiquiatria. Presidente do Instituto de Cultura Espírita do Ceará e da Associação Médica Espírita do Ceará. 10


A relação entre religião e saúde nem sempre foi assunto de interesse na medicina. Na verdade, com o advento do renascimento e da revolução científica, período que começou no século XVI e prolongou-se até o século XVIII, a religião tradicional passou a ser desprezada pelos cientistas que começaram a contestar os dogmas da fé a partir do que o conhecimento científico demonstrava na época. Os cientistas passaram a entender a religião como algo místico e do passado, que não tinha mais sentido após o surgimento da ciência moderna. “Eles diziam que a religião era o ópio do povo. Afirmavam que o homem teria criado Deus para buscar amparo diante das dificuldades do dia a dia e das crises existenciais. Achava-se que a ciência desenvolveria tecnologia e conhecimento suficientes para mudar a vida no mundo. De fato, muita coisa mudou, porém, as questões existenciais continuaram existindo e sendo complexas”, explica Francisco Cajazeiras, médico e professor de neuroanatomia da Universidade de Fortaleza, que há 10 anos se dedica ao estudo da psiquiatria. No início do século XX, a medicina volta a demonstrar interesse pela relação entre espiritualidade e saúde, e estudiosos tentam compreender a importância da vivência religiosa na vida das pessoas. A curiosidade dos pesquisadores foi além do bem-estar social e pessoal que a população religiosa apresentava; buscava-se entender de que forma essa vivência impactava o enfrentamento de doenças. Na Inglaterra, pesquisas estatísticas

mostraram que indivíduos com espiritualidade tinham um nível melhor de saúde do que pessoas que não eram espiritualizadas. Os resultados evidenciaram, ainda, que pessoas com práticas religiosas adoeciam menos, tinham maior longevidade e, quando adoeciam, se recuperavam mais rápido. Entre eles foi constatado, também, menor índice de suicídio e de doenças psiquiátricas. Passado um século, hoje, mais estudos comprovam o poder da fé. A pesquisa mais recente divulgada pela Associação Mundial de Psiquiatria mostra que religião e espiritualidade têm impacto relevante no tratamento e na prevenção de doenças mentais. Por outro lado, a falta de espiritualidade ou visões fanáticas de espiritualidade e religião podem piorar os quadros depressivos e aumentar o risco tanto de transtornos mentais quanto de abuso de drogas.

“Religião e espiritualidade têm impacto relevante no tratamento e na prevenção de doenças mentais.” 11


“Pessoas espiritualizadas tem hábitos melhores, são mais tranquilas, mais sadias, mais equilibradas, vivem melhor e por mais tempo.”

Para chegar a essa conclusão, a Associação analisou mais de 3.000 estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde mental. Os resultados indicam que a qualidade de vida e a sociabilidade melhoram com a prática espiritual e religiosa, que combate o estresse causado por perdas, a depressão e a tendência suicida, além de ajudar na recuperação de pessoas que tentaram o suicídio. Em 2013, a publicação de outra pesquisa ajudou a ciência a entender um pouco melhor a influência espiritual na espessura do córtex, que é a membrana que reveste o cérebro: quando o córtex é mais fino, maiores são as chances de se desenvolver a depressão; e quanto mais se nutre a religiosidade e a espiritualidade, mais espesso tende a ser o córtex, diminuindo, por conseguinte, o risco de depressão. A pesquisa foi feita na Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, e publicada no periódico JAMA Psychiatry. Para o doutor Cajazeiras, que também é presidente do Instituto de Cultura Espírita do Ceará e da Associação Médica Espírita do Ceará, isso pode ser explicado porque a espiritualidade ajuda o ser humano a criar estratégias de enfrentamento de problemas da vida. “A capacidade de enfren12

tar situações difíceis e superá-las, adaptando-se à nova realidade que se apresenta após uma doença, por exemplo, é maior em pessoas com práticas religiosas. É o que chamamos de resiliência, um elemento importante do coping (enfrentamento) religioso/espiritual positivo”, afirma ele. Ele menciona, ainda, a psiconeuroendocrinoimunologia, um ramo da neurociência que estuda as interações entre o comportamento e os sistemas nervoso, endócrino e imunológico do corpo humano, comprovando que as emoções positivas tendem a manter a saúde e que as emoções negativas tendem a levar ao adoecimento. Da mesma forma, a psicologia positiva mostra que pessoas que vivenciam bons sentimentos, como amor e alegria, e são bem-humoradas tendem a viver melhor. Ou seja, os pensamentos têm forte ação na saúde física e emocional. “A religião leva o sujeito a sentir e buscar a Deus, faz o ser humano acreditar que foi feito pra felicidade, que Deus não quer o nosso mal. Esse tipo de crença melhora o estado íntimo emocional do indivíduo. Pessoas espiritualizadas têm hábitos melhores, são mais tranquilas, mais sadias, mais equilibradas, vivem melhor e por mais tempo. É claro que existe também o lado negativo,


que é o fanatismo. Quando a pessoa acha que só a fé vai lhe curar e descarta a medicina, não aceita tomar os remédios e, assim, piora os transtornos mentais. É o que chamamos de coping religioso/ espiritual negativo”, esclarece o médico. A relação entre religiosidade e medicina se estreitou de tal maneira que, nos Estados Unidos e no Canadá, a maioria das universidades que formam os médicos já incluíram disciplinas de saúde e espiritualidade no currículo acadêmico. Na visão do professor de neuroanatomia, “o médico precisa entender que a espiritualidade do enfermo deve ser respeitada e estimulada, pois é um elemento importantíssimo no tratamento. A religião influencia a saúde mental por meio de comportamentos e estilo de vida saudáveis, apoio social, sistemas de crenças, estrutura cognitiva, práticas religiosas e expressão saudável do estresse gerado pelo adoecimento”. Ele afirma, ainda, que práticas religiosas podem e devem ser trabalhadas inclusive em pacientes com transtornos mentais que estão internados, especialmente naqueles que já tem a vivência espiritual na sua rotina e que demonstram interesse na religiosidade. “Frequentar grupo religioso, ter práticas diárias de oração tem impacto positivo sobre a saúde do paciente e da família como um todo. Quando a pessoa se conecta com Deus, ela tem um sentimento de amor, união,

agregação e libera um hormônio chamado ocitocina, além de produzir endorfina, que é utilizada pelos neurotransmissores para fazer a comunicação do cérebro com outras células do corpo humano, provocando bem-estar. Sem fé ou interesse religioso, os pacientes ficam vulneráveis, no sentido de não pertencerem a um grupo social, não tendo, portanto, o apoio desse grupo quando necessitam. A vivência religiosa/espiritual é importante quando o paciente consegue separar ‘o que é da doença e o que não é’. A religião aproxima a pessoa da família, protegendo-o de situações de risco”, conclui Francisco Cajazeiras. Nos hospitais psiquiátricos, é comum ver católicos e evangélicos fazendo visitas e orações pelos doentes. Os espíritas também têm essa prática, através do projeto de capelania espírita, que leva a leitura do evangelho, uma prece e o passe para o enfermo. Segundo os espíritas, esse compromisso ecoa na espiritualidade do doente. É como se fizesse uma evocação dos bons espíritos, o que melhoraria a atmosfera do ambiente e geraria uma maior proteção em relação a espíritos perturbadores. Independentemente da crença, acreditar em Deus gera sensações de segurança e amparo, principalmente nos momentos de adoecimento, e fortalece o indivíduo para a vida.

Foto Hospital Nosso Lar 13


Gestão do cuidado: a humanização da assistência hospitalar. O mês de maio se encerra com novidade no Hospital Nosso Lar que atua há 50 anos, em Fortaleza, na valorização da vida, através do tratamento de pessoas com transtornos mentais. Pela primeira vez, a instituição promove uma Jornada Científica com o objetivo de fomentar discussões relevantes, promover o intercâmbio de conhecimento e atualização científica, e ainda proporcionar acesso às novidades da indústria laboratorial e farmacêutica. “A Jornada Científica do Hospital Nosso Lar acontece no dia 30 de maio de 2019, nos auditórios da nossa sede, no bairro Benfica. Estamos trabalhando para proporcionar um ambiente aconchegante e propício ao desenvolvimento da nossa especialidade. A programação, que contará com convidados de reconhecida atuação nacional, está dividida em palestras, sessões temáticas e apresentações de pôsteres digitais, o que garante o alto nível científico do nosso encontro.”, explica Luzia Bastos, presidente da Instituição Espírita Nosso Lar. O evento passará a ser promovido anualmente pelo Hospital Nosso Lar e, em sua primeira edição, traz o tema “Os desafios e possibilidades da rede de aten14

ção à saúde mental na contemporaneidade”; pautado no contexto nacional e baseado nas experiências dos profissionais locais e convidados. Com uma programação bem específica, distribuída em palestras, sessões temáticas e apresentações de pôsteres, a expectativa é de reunir 100 participantes, entre médicos, profissionais da saúde e acadêmicos. Um dos convidados nacionais é Marcelo Chanes, Doutor em Ciências pela Escola de Enfermagem da USP, autor de livros em Gestão em Saúde, com destaque para o título SAE Descomplicada, revisor ad hoc das Revistas Computers & Education, Nurse Education Today e International Journal of Nursing Knowledge. Atuou, ainda, em Sociedades de Especialistas Nacionais e Internacionais, como NANDA International, SOBRECEN, SOBRAGEN e SOBEF. Entre outros assuntos, Chances abordará sobre como implementar uma gestão do cuidado que leve uma experiência positiva do paciente, e sobre o engajamento profissional pela ressignificação do papel e função da pessoa que atua na saúde mental. E foi sobre este tema que ele concedeu entrevista para a Revista do Hospital Nosso Lar.


Entrevista com Dr. Marcelo Chanes por Juliana Brito

Revista HNL: Como ser um gestor do cuidado na saúde mental? Quais são os desafios de quem atua nesta área? Marcelo Chanes (MC): Ser um gestor do cuidado na saúde mental é ter uma visão do ser humano que não seja meramente fisiológica ou patológica. Enxergar que a doença mental é multifatorial, ou seja, vários fatores impactam: a cultura, a maneira como o paciente foi criado, o ambiente em que ele vive, se tem um relacionamento saudável com as pessoas que convive, se sofre ou sofreu bullying na escola. Tudo isso são questões que podem afetar a saúde mental. Gerir o cuidado é receber um paciente, que chega ao hospital com ansiedade, por exemplo, e ter um olhar profissional que vai além; perceber as singularidades do indivíduo que demonstra a ansiedade e entender que muitas variáveis contribuem para o adoecimento. É promover a saúde também através de práticas integrativas e não só farmacológicas. Hoje, o desafio principal está na formação desses profissionais de saúde, aonde não se tem o enfoque no relacionamento interpessoal, na escuta ativa, no vínculo de confiança. O aluno se vê formado, acreditando que tem que estar distante do paciente e não próximo. Mas, na saúde mental, se você não criar proximidade, vínculo, confiança, se você não mostrar conhecimento e não demonstrar interesse em cuidar, o paciente não vai permitir ser cuidado e, assim, pode cronificar. Então, a gestão do cuidado é

ter um olhar holístico e entender que a pessoa é um ser bio-psiquico-socio-espiritual-cultural-econômico. Ele não é a soma dessas partes, ele é tudo isso integrado. O profissional de saúde precisa se relacionar com todas essas dimensões do paciente. Eles estão se relacionando só com o fisiológico e o grande desafio é quebrar esse paradigma. Revista HNL: O que é preciso para ser um profissional responsável por uma experiência positiva dentro do sistema de saúde mental? MC: É preciso ter como grande competência central o relacionamento interpessoal e a visão holística do paciente. Todas as outras competências são importantes, mas essas duas são a base estrutural da assistência hospitalar. A experiência só vai ser positiva se for um humano tratando de um humano. É indispensável abordar o outro como um ser que tem escolhas e significados próprios de vida. Se não for um paciente com alto grau de cronificação, um paciente que mantêm a condição mental, existencial e psicológica, o profissional de saúde consegue resgatá-lo ao respeitá-lo como ser humano. É isso que falta muitas vezes, pois o paciente psiquiátrico é muito estigmatizado. Às vezes, ele é só alguém que, pelo sofrimento, transformou-se em uma pessoa triste, que se relaciona de maneira agressiva com os demais porque quer se defender para evitar mais dores. 15


Revista HNL: Como o profissional de saúde pode se tornar o polo forte na relação de cuidado com o paciente? MC: Ele precisa trabalhar o autoconceito. Entender que atuar em saúde mental, qualquer área que seja, significa lidar com pessoas fragilizadas, com medo, com ansiedade e etc. E precisa se preparar para lidar com esses sentimentos. Mas eu só estarei preparado se eu souber lidar com as emoções dentro de mim. É essencial não minimizar o que o paciente está sentindo. Tentar trabalhar a partir dos seus sentimentos (ansiedade, tristeza, pânico) o sentimento do outro. Eu posso nunca ter vivido a realidade de uma doença mental, mas posso usar a grande chave mestra que é a empatia. Eu gosto muito da tradução americana que diz “se eu estivesse calçando os seus sapatos”. Só quem calça o sapato do outro, sabe aonde o calo aperta e dói. É preciso entender o contexto do paciente, por isso a capacitação holística. O paciente pode ter uma família desatenta, que não demonstre amor por ele. Isso justifica ele chegar ao hospital querendo atenção, sendo alguém que demanda demais. Ele não é poliqueixoso, ele é ‘polisofrido’, e está aí o motivo de solicitar tanto toque e amor. Quando o profissional entende isso, torna-se o polo forte.

“Só quem calça o sapato do outro, sabe aonde o calo aperta e dói. É preciso entender o contexto do paciente...”

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Revista HNL: Qual a importância de estar bem para ser o polo forte na relação de cuidado? MC: Qualquer pessoa, quando fica doente, quer carinho. Nós somos assim. Quem tem animal, sabe como é, adoecidos eles ficam suscetíveis, ficam manhosos, amuados, deixam a gente fazer carinho. Esse cuidado remete à sensação de ninho. Com o humano, é igual. Então, é importante que o profissional que vai tratar o doente atue como o polo forte e não como alguém despreparado. Falar frases do tipo ‘você tem que sair dessa’, ‘você tem que melhorar’ devem ser substituídas por ‘eu estou aqui por você’, ‘quando precisar, pode me chamar’, ‘olha a chamada de emergência da enfermagem aqui, pode acionar sempre que for necessário’. Mostrar-se solícito, aberto, prestativo, zeloso no cuidado. Esse é o conceito de cuidado: presteza, velocidade, atenção excessiva, zelo, prontidão para poder cuidar. Isso é importante porque passa segurança ao outro. O paciente sabe que, se precisar, será atendido e não estará sozinho. Assim, ele não se sente um polo fraco e abandonado. Demonstrar que estou ali por ele é a grande sacada de ser o polo forte. Revista HNL: De que forma a experiência de cuidado (positiva e negativa) impacta no tratamento do paciente? MC: A experiência do cuidado vai impactar diretamente no tratamento porque vai mexer com os sentimentos do paciente. Se a experiência for positiva, ele vai ficando bem, tranquilo, entregue, calmo, participativo ao tratamento. Mas, se a experiência for negativa, se a relação paciente/profissional for seca, rude, sem orientação, sem toque, sem humanização, o paciente se torna igual; porque nós somos frutos do meio ambiente, somos culturalmente feitos. Então, se eu entro num hospital mal humorado, eu sou ser um paciente mal humorado. Se eu entro num hospital calmo, tranquilo, empático, eu vou ser calmo, tranquilo e empático. Essa é a grande sacada para os gestores de hospitais, no geral: que possa ser criada, dentro do hospital, uma realidade de empatia, de tranquilidade, de relacionamento com vínculo de confiança, para que a experiência seja positiva. Isso faz até mesmo com que o tempo de hospitalização seja menor e a cura mais rápida.


Até hoje, os profissionais do Hospital Nosso Lar já prestaram atendimento a 36 mil pacientes. A presidente Luzia Bastos afirma que um dos compromissos primordiais da instituição é promover momentos de atualização de conhecimento para as equipes multidisciplinares que atuam diariamente com os internados. “Somos obstinados em fazer a diferença no tratamento humanizado de pessoas com transtornos mentais e quem trabalha com propósito, vai mais longe. Por isso, investimos em profissionais qualificados e em constante desenvolvimento no sentido de manter a qualidade e credibilidade nos atendimentos já conquistados e trabalhamos no sentido de continuar aprimorando a qualidade dos serviços oferecidos aos clientes.”, conclui ela.

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A unidade fica no Benfica e é referência no tratamento de pacientes psiquiátricos.

UNIDADE BEZERRA MONTEIRO Prof i s s i on a i s q u al i f i c a d o s e ex p eri entes ofert am c u i d a d o e am p aro por Juliana Brito

Fotos: Davi Holanda

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Banhado, cheiroso, com cabelo bem penteado e recebendo carinho da mãe. Foi assim que encontrei Renato, de 35 anos, que ocupa um dos 100 leitos da Unidade Bezerra Monteiro no Hospital Nosso Lar. “Já são 15 anos entre idas e vindas ao hospital”, conta dona Hilda Nogueira. Aos 6 meses de vida, o filho caçula teve a primeira crise e logo foi diagnosticado com epilepsia em alto grau. “A doença o deixa muito agressivo, principalmente nos momentos de crise. Já foi preciso sete pessoas para acalmá-lo. Eu lutei muito, tentei de tudo, queria mostrar aos médicos que ele ultrapassaria os prognósticos, mas eu vi que eles tinham razão e aceitei a missão de me doar para que meu filho tenha uma melhor qualidade de vida”. Renato precisa tomar cerca de 30 comprimidos diariamente para controlar os sintomas da doença, e, quando está em crise, para um melhor tratamento, a internação é prescrita pelo psiquiatra que o acompanha. “Aqui nós somos muito bem atendidos, os profissionais são acolhedores, já criamos vínculo com todos, da equipe técnica à administração. Os médicos 20

estão sempre presentes, atendendo aos nossos chamados e cuidando bem do meu filho. Como o nome diz, aqui é mesmo o nosso lar!”, relata a mãe. A Unidade Bezerra Monteiro é referência no tratamento de transtornos psiquiátricos no estado do Ceará e recebe pacientes particulares e via convênio com operadoras de saúde. Os convênios atendidos são: Unimed, Cassi, Camed, Assefaz, Cafaz, Saúde Caixa e Capessaude. A unidade tem 100 leitos e é dividida em 3 postos, dois masculinos e um feminino. As principais causas que levam à internação são psicoses como esquizofrenia, transtorno bipolar, quadros graves de depressão e dependência química (álcool e drogas). Na maioria das vezes, os pacientes em crise são encaminhados por seu psiquiatra particular, mas, quando chegam ao Nosso Lar, todos são reavaliados por um médico plantonista, e a internação só acontece caso o profissional da unidade confirme a real necessidade. O tempo de permanência na assistência hospitalar varia de acordo com a patologia..


“Nossa equipe é composta por profissionais altamente qualificados em suas especialidades e comprometidos com a qualidade de vida dos pacientes, visando à recuperação e à reintegração ao convívio familiar após a alta hospitalar. E o nosso trabalho é realizado tendo como foco a promoção da humanização na relação com o paciente, proporcionando mais cuidado e bem-estar”, reforça Luzia Bastos, a presidente da Instituição Espírita Nosso Lar, da qual a Unidade Bezerra Monteiro faz parte.

Para integralizar todas as possibilidades tera-

pêuticas, o Hospital Nosso Lar investe numa equipe plural com 15 médicos psiquiatras, 3 clínicos gerais, 1 cirurgião-dentista, 2 farmacêuticas, 10 enfermeiras, 78 técnicos de enfermagem, 36 auxiliares de enfermagem, 1 assistente social, 3 psicólogas, 6 terapeutas ocupacionais, 1 educador físico, 2 nutricionistas, além de outros colaboradores que não são da área da saúde.

Segundo o diretor técnico do Hospital, Dr.

Anchieta Maciel, o acompanhamento na instituição visa a ajudar os pacientes a retornar ao convívio em sociedade e é feito de forma multidisciplinar, pois “a combinação de profissionais de diferentes áreas, com qualificações e experiências complementares, garante um tratamento completo e s i stêmi co da saúde m ental e física”, ressalta o ps i qu i at ra q ue há 4 0 ano s atua na área da s aú de ment al .

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O DIA A DIA NO HOSPITAL

Na admissão, o paciente passa pela avaliação do psiquiatra e, em seguida, é recebido pela equipe de enfermagem. Nesse processo, que nem sempre é consensual, o acolhimento é o principal pilar. É o momento em que se inicia a assistência psicológica, para se oferecer suporte emocional ao doente e à família que sofre junto e chega ao hospital também necessitando de orientação e esclarecimentos. “A gente faz a escuta e colhe as informações do paciente para tentar identificar os gatilhos do processo de adoecimento e ajudá-lo a partir disso. Dependendo do grau de consciência do paciente, conseguimos melhores resultados. Aqueles que reconhecem precisar de ajuda são os que tomam a medicação com vontade de melhorar, começam a verbalizar as dores da alma e aceitam ‘um ombro amigo’. Esses saem da crise mais rápido do que aqueles que não se reconhecem adoecidos. Nesses casos, a gente trabalha a aceitação da doença para haver uma adesão ao tratamento”, pontua a psicóloga Cristina Vasconcelos, especialista em psicopatologia. Os atendimentos psicológicos acontecem uma vez por semana e também têm como objetivo alertar para a importância da continuidade no tratamento após a saída do hospital. A família tem papel determinante nesse contexto e na evolução do quadro. Cristina conta que, na maioria das vezes, os próprios parentes procuram o setor de psicologia nas visitas diárias aos familiares internados para tirar dúvidas de como cuidar melhor do paciente e tentar evitar novas crises. A família recebe ainda o apoio irrestrito das assistentes sociais do hospital, que fazem o resgate do contexto social e familiar do que possa estar interferindo no processo de adoecimento do paciente. Através de reuniões semanais e grupos de famílias, a equipe de assistentes sociais dá amparo e fornece ferramentas para o fortalecimento mútuo e um ambiente propício ao compartilhamento de histórias.

“A gente faz a escuta e colhe as informações do paciente para tentar identificar os gatilhos do processo de adoecimento e ajudá-lo a partir disso.” 22

Cristina Vasconcelos// Psicóloga


Para o paciente internado, uma grande aliada é a terapia ocupacional, que utiliza diversos tipos de atividades (expressivas, lúdicas, laborativas, socioeducativas) como instrumento terapêutico. O hospital tem um cronograma de práticas diárias que acontecem numa sala montada especialmente para que os pacientes se sintam à vontade para realizar suas preferências, sejam elas tocar algum instrumento, pintar telas, desenhar, fazer artesanato, jogar jogos de tabuleiro etc. Dentro desse processo, são trabalhadas a socialização, a autoestima, a autoconfiança e a organização do cotidiano do sujeito, durante 1 hora e 20 minutos. “Quando estamos desenvolvendo as atividades, eles começam a relatar a história de vida e, através da organização do cotidiano, nós vamos auxiliando-os a reconstruir a sua historicidade que foi perdida com a doença. Seguir horários estabelecidos para as atividades e até nas refeições ajuda a quebrar o padrão patológico da doença. Assim, o paciente volta a se sentir pertencente a algo, a se sentir útil e capaz de fazer aquilo que antes não conseguia”, explica Edyr Hermeto, terapeuta ocupacional do Nosso Lar há 7 anos. Edyr Hermeto //TO

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Outra assistência oferecida pelo hospital é o acompanhamento nutricional com foco no tratamento sistêmico do paciente, que muitas vezes chega à unidade com transtornos alimentares associados à doença mental. “Alguns chegam aqui desnutridos, porque apresentam falta de apetite como um dos sintomas, outros já comem em excesso. Nós tentamos equilibrar as emoções para melhorar a relação deles com a comida, já que a alimentação está diretamente ligada ao psicológico. É comum pacientes confessarem que a preferência por comida pastosa, por exemplo, é desencadeada pelo quadro de ansiedade em que se encontram, sem nenhum motivo fisiológico para a rejeição ao prato. Nesses casos, trabalhamos em conjunto com a psicóloga até conseguir reverter o quadro”, relata Marylene Rios, nutricionista da Unidade Bezerra Monteiro, que fica responsável pela assistência direta aos internados.

Marylene Rios.// Nutricionista

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Guilermo // Educador fisico

Diabéticos e hipertensos recebem uma dieta diferenciada. Todos são orientados a fazerem as refeições nos horários adequados e também são estimulados a praticarem atividade física. Um dos diferenciais do hospital é ter um educador físico atuando na equipe multidisciplinar. O Nosso Lar é a única unidade de assistência à saúde mental, em Fortaleza, que possui esse tipo de profissional no quadro de funcionários. Aqui, os pacientes podem praticar natação, hidroginástica, fazer caminhada e alongamento. Os exercícios estimulam na perda de peso e elevam a autoestima. Assim, é feito um esforço conjunto para reinserir o paciente na sociedade e devolvê-lo

ao convívio familiar o quanto antes, sem se esquecer a preocupação em orientá-lo e os familiares sobre como prevenir novas crises. Para essa reportagem, conversamos com inúmeros profissionais da unidade Bezerra Monteiro, e uma percepção clara é a paixão que eles têm pela área de atuação: a saúde mental. São especialistas e mestres com décadas de dedicação ao tratamento de psicoses que se unem para elaborar e executar protocolos multidisciplinares. Um relato unânime entre os entrevistados é que comumente eles são surpreendidos por gestos e palavras de carinho dos pacientes que, aqui, estão sendo cuidados, mas também dão importantes lições de vida e de superação.

Orgulho em fazer a diferença é o que nos leva mais longe. 25


Normas para a publicação da Revista HNL.

A Revista HNL é um periódico vinculado ao Hospital Nosso Lar tem como missão transmitir o conhecimento científico e desenvolvido por pesquisadores da área da Saúde Mental. O objetivo do periódico é a publicação de trabalhos originais e inéditos, que contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica da área da Saúde Mental.

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Estrutura

O manuscrito deve conter: a) Até 3 laudas; b) Título (com ou sem subtítulo); c) Resumo e abstract; d) 5 (cinco) palavras-chave; e) Conteúdo com aspectos textuais padrões com introdução, desenvolvimento fundamentação teórica, metodologia, resultados e discussão, podendo ser usados subcapítulos para as partes e conclusões; f) Referências g) ilustrações (entre figuras, mapas, imagens, desenhos, fotografias, gravuras, tabelas e gráficos), dispostas o mais próximas possível do texto aos quais se referirem e acompanhadas das 26

respectivas legendas; h) notas após as referências bibliográficas.

Observações importantes para a qualidade do artigo

O artigo científico é uma apresentação sintetizada, em forma de relatório escrito (observando os rigores do método científico), dos resultados de investigações ou estudos realizados a respeito de um determinado assunto. O objetivo fundamental de um artigo é ser um meio sucinto e rápido para divulgar e tornar conhecidos a questão investigada, o referencial teórico utilizado, o material empregado, o método estabelecido, os resultados alcançados, as dificuldades enfrentadas no decorrer das pesquisas e realização das análises concernentes à questão em foco. 1. Título: deve refletir o assunto discutido no texto. Título e subtítulo (se houver) devem estar na página de abertura do artigo na língua do texto e na língua inglesa. O autor deve evitar sobrecarregá-lo com informação expressa em forma de abreviatura (salvo casos em que são universalmente conhecidas ou nomes de projetos) e entre parênteses. 2. Resumo: texto com quantidade predefinida de palavras, onde se expõe o objetivo do texto, a me-


todologia aplicada, e as soluções encontradas. O abstract é o resumo traduzido para a língua inglesa. 3. Palavras-chave: são palavras características que devem identificar o artigo em bases de indexação. Constituem item obrigatório e devem estar abaixo do resumo, antecedidas da expressão palavras-chave separadas entre si por traço. 4. Introdução: deve situar o leitor no contexto do tema estudado, oferecendo uma visão global da pesquisa realizada, situando a hipótese, a justificativa e a metodologia empregada. 5. Desenvolvimento e explanação dos resultados: é a fundamentação lógica do trabalho, na qual o autor deve fazer uma exposição e uma discussão das teorias que foram utilizadas para o entendimento e o esclarecimento do problema pesquisado e que devem apresentar uma estreita ligação com a dúvida investigada. Dependendo do assunto tratado no manuscrito, há a necessidade de subdivisão em etapas que seguem em seções e subseções.

A divisão do desenvolvimento deve apresentar a seguinte estrutura:

a) Metodologia: descrição precisa dos materiais, métodos, técnicas, equipamentos e outros itens utilizados no decorrer da pesquisa, devendo estar apresentados com a maior clareza possível de modo que outros autores possam contextualizar e empregar em suas pesquisas. b) Resultados: apresentação da obtenção dos dados experimentais, que podem ser demonstrados através de tabelas, gráficos, fotografias, dentre outros recursos utilizados. c) Discussão: comentários cientificamente fundamentados, restritos apenas aos dados do trabalho confrontados com os dados da literatura da área na qual se encontra inseridos o trabalho. 6. Considerações finais: apresenta os resultados obtidos ao longo do manuscrito que foram extraídos da pesquisa ou apontados por ela, sendo relacionadas às diversas questões desenvolvidas ao longo do trabalho, sintetizando os resultados fundamentais, com comentários do autor e as contribuições resultantes da pesquisa. É importante a observação de que trata-se do encerramento do trabalho estudado, devendo responder às hipóteses propostas e aos objetivos apresentados na introdução, não devendo, sob condição alguma, que sejam apresentadas informações novas, que já não tenham sido apresentadas

no desenvolvimento do trabalho. 7. Referências: Conjunto de informações que devem permitir identificar, no todo ou em parte, documentos impressos ou produzidos em diferentes materiais que foram citados no decorrer do texto, devendo seguir as normas da ABNT- 2017 que estão explicadas e demonstradas no documento de orientação da apresentação gráfica do artigo. 8. Linguagem do artigo: O artigo científico é um texto condensado, é importante que sejam observados a correção e precisão da linguagem, coerência das ideias apresentadas, inteligibilidade, objetividade e fidelidade às fontes citadas. A análise destas questões inclui a análise de: a) impessoalidade: O trabalho é resultado da investigação cientificamente fundamentada do autor sobre determinado assunto, não cabendo um relato pessoal sobre o trabalho, haja vista que o estudo deverá ser acessível à comunidade científica sempre que outro estudioso necessitar explorar o assunto em questão, logo deve ser redigido em terceira pessoa, caracterizando o teor universal da pesquisa desenvolvida; b) objetividade: deve ser direto, preciso, sem expressões que possibilitem interpretações medíocres, sem valor científico. Sendo assim, termos como “eu penso”, “eu acho”, “parece-me”, e outros que denotem dúvida ou desconhecimento de causa devem ser abolidos do texto; c) estilo científico: deve ser informativo, racional, baseado em dados concretos, onde podem ser aceitos argumentos de ordem subjetiva, desde que explanados sob um ponto de vista científico; d) vocabulário técnico: a comunicação científica deve ser feita com termos comuns, que garantam a objetividade da comunicação, sendo, porém que cada área científica possui seu vocabulário técnico próprio que deve ser observado; e) correção gramatical: a observação da correção do texto deve ser feita com cuidado, evitando-se o uso excessivo de orações subordinadas em único parágrafo, o excesso de parágrafos, lembrando que cada parágrafo encerra uma pequena ideia defendida no texto, logo, encerrada a ideia, muda-se o parágrafo; f) ilustrações: a Revista Eletrônica do Hospital Nosso Lar considera gráficos, mapas, fotografias, desenhos e tabelas como elementos ilustrativos devendo seguir as normas da ABNT- 2017. Os artigos foram selecionados por banca avaliadora do Hospital Nosso Lar. 27


O USO EXCESSIVO DA INTERNET E O IMPACTO PSICOLÓGICO DAS REDES SOCIAIS NA MODERNIDADE: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA (2004 - 2017)

THE EXCESSIVE USE OF THE INTERNET AND THE PSYCHOLOGICAL IMPACT OF SOCIAL NETWORKS IN MODERNITY: A BIBLIOGRAPHIC RESEARCH (2004 - 2017)

Adriana Cavalcante Arruda,1 Edyr Marcelo Costa Hermeto,2 Nágela Maria de Silva3

1

Psicóloga, Especialista em Saúde Mental e Políticas Públicas- Universidade de

Fortaleza- UNIFOR, Fortaleza, CE, Brasil.

2

Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do

Ceará- UECE, Especialista em Saúde Mental pela Universidade Estadual do CearáUECE. Fortaleza, CE, Brasil. edyrcosta@hotmail.com

3

Terapeuta Ocupacional, Mestre em Psicologia e Subjetividade pela Universidade de

Fortaleza- UNIFOR Especialista em Saúde Mental pela Escola de Saúde PúblicaESP. Fortaleza, CE, Brasil. nagelacorreia@hotmail.com

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Resumo

Objetivo: Analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca dos aspectos psicológicos que estão sendo afetados pela utilização excessiva da internet. A internet causou uma verdadeira revolução na vida das pessoas, e é inquestionável que ela se constituiu num marco histórico desde a sua criação, na década de 90, tomando como parâmetro os conhecimentos advindos dessa descoberta tecnológica, que é um poderoso veículo de comunicação mundial, e proporciona, dentre outros benefícios, os contatos interpessoais. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa, para a qual foram selecionados 14 artigos no período de 2004 a 2017, adquiridos a partir da base de revistas cientificas nacionais. Como fontes de dados utilizou-se: Redalyc SCIELO; Revistas eletrônicas científicas e revistas eletrônicas de notícias; e Lilacs. Resultados e discussões: O uso excessivo da internet está ocasionando inúmeros prejuízos psicológicos e gerando transtornos psiquiátricos, os quais ainda não constam no CID 10 ou no DSM V, porque os pesquisadores consideram ainda insuficientes os estudos realizados sobre o assunto. Conclusão: Quando a internet é utilizada sem controle ou quando é utilizada como válvula de escape para problemas emocionais que os usuários estejam atravessando, ela poderá possibilitar seu uso patológico, uma vez que viabiliza o contato virtual, em detrimento do real, propiciando o distanciamento dos contatos sociais. Palavras chaves: Dependência de internet; uso patológico de internet; redes sociais digitais.

Abstract Objective: To analyze the knowledge produced and disseminated in scientific databases about the psychological aspects that are being affected by the excessive use of the Internet. The internet has caused a real revolution peoples lives and it is unquestionable that it has been a historical landmark since its creation in the 90s, taking as a parameter the knowledge derived from this technological discovery. The internet is a powerful vehicle for global communication, and allows interpersonal contacts, among other benefits. Methodology: This is an integrative review of the literature along with a qualitative approach, for which 14 articles were selected in the period from 2004 to 2017. They were acquired from the base of national scientific journals. The data sources used were: Redalyc SCIELO; Electronic scientific and news journals; and Lilacs.


Results: The excessive use of the Internet is causing numerous psychological damages and generating psychiatric disorders, which are not yet included in ICD 10 or DSM V, because researchers consider the studies carried out on this subject to be insufficient. Conclusion: when the Internet is used without control or as an escape valve for emotional problems that users are experiencing, it may lead to its pathological use, since it makes possible the virtual contact, in detriment of the real one, which provides distancing of the social contacts. Key words: Internet addiction; pathological use of internet; digital social networks.


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INTRODUÇÃO

Atualmente, existem vários aplicativos na internet, como Facebook, Instagram, Whatsapp, Tinder, dentre outros, que propõem uma aproximação interpessoal à distância. Esses aplicativos são utilizados de forma intensa, e, realmente, o uso desses recursos para estabelecer contatos variados entre as pessoas é inquestionável. É relevante compreender a influência psíquica e comportamental causada pelo uso excessivo da internet, mais especificamente das redes sociais, entre as pessoas no Brasil. Há um vasto conteúdo existente sobre o assunto; vários pesquisadores se debruçaram sobre a temática, havendo registros de que um dos pioneiros a se interessarem sobre o conteúdo em tela foi a Psicóloga Kimberly Young, norteamericana e autora do primeiro livro a identificar a dependência à internet, no ano de 1995. Faz-se necessário identificar-se se a ligação excessiva com as redes sociais seria uma forma de evitar os contatos presenciais ou uma nova forma de estabelecer novas relações interpessoais dentro de um contexto moderno, no qual o fator tempo é cada vez mais raro. Muitas vezes, no ambiente intrafamiliar, mesmo as pessoas estando presentes na mesma residência, os contatos acontecem via Whatsapp, o que pode sinalizar uma forma de evitar o contato presencial. Esse fenômeno dos relacionamentos superficiais, instantâneos, já havia sido objeto de inquietação do sociólogo polonês, Zigmuntt Bauman, o que fica evidente quando faz referência às relações líquidas (2004). Especialistas que se debruçaram sobre a temática alertam que o uso em excesso dos smartphones pode viciar. O transtorno ainda não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM V, mas é sabido que ocorrem mudanças cerebrais e comportamentais devido ao uso abusivo de celulares e smartphones. Segundo Lemos (2003 apud Vermelho, Velho, Bonkovoski e Pirola, 2014), o momento no qual estamos inseridos é profundamente influenciado pela cibercultura, que veio a se concretizar no período compreendido entre as décadas de 1980 e 1990,


8 quando a internet ganhou força, popularizando-se e tornando-se um veículo de comunicação de massa, com a criação da world wibe web, em 1991. As redes sociais tornam possíveis os contatos com pessoas conhecidas e desconhecidas em todas as partes do mundo; com um clique, torna-se possível iniciar uma conversa, trocar ideias e obter informações, e esse aspecto de interatividade é fascinante. Para Vermelho et al. (2014), a mais poderosa ferramenta de comunicação da contemporaneidade são as redes sociais. Com o surgimento de novas tecnologias, surgiram também meios de se estabelecer uma comunicação mais interativa, tornando-a mais flexível, uma vez que liberta as pessoas das limitações espaço-temporais. O artigo tem como objetivo analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca dos aspectos psicológicos que estão sendo afetados pela utilização excessiva da internet.

PERCURSO METODOLÓGICO

Tipo de estudo

A metodologia utilizada na elaboração desta pesquisa é de caráter qualitativo, pois compreende uma revisão bibliográfica de conteúdos disponíveis sobre a temática no período compreendido entre 2004 e 2017. Foram utilizadas informações colhidas na internet, através do Google Acadêmico, e artigos de periódicos, sendo as palavras-chave para a busca: dependência de internet; uso patológico de internet; redes sociais digitais. Foram utilizados os parâmetros da psicologia e da psiquiatria para elencar as mudanças comportamentais e os sintomas psíquicos ocasionados pela exposição excessiva à internet. A finalidade de uma revisão integrativa é associar e resumir as conclusões de estudos sobre um delimitado tema ou questão, de forma ordenada e sistemática, proporcionando a compreensão de um determinado assunto e indicando espaços vazios do conhecimento que precisam ser preenchidos com a confirmação de novas pesquisas (MENDES, Mendes; Silveira; Galvão 2008).


9 No que se refere à pesquisa qualitativa, conforme Godoy (1995), “hoje em dia a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A influência da internet em excesso na saúde mental

É indiscutível o poder exercido pela internet na vida das pessoas, principalmente sobre os jovens. Ela influencia comportamentos, cria desejos e gera sentimentos positivos e negativos, e essa influência tem causado impacto na saúde dos indivíduos. Para Vermelho et al. (2014), a promoção da saúde populacional não deve ser tida como de exclusiva responsabilidade do setor de saúde, mas também dos setores que promovem e atuam na formação e informação das pessoas. Portanto, a orientação é que a população adote hábitos mais saudáveis de vida, através de ações sobre a promoção da saúde, uma vez que é esperado que as informações sobre esse aspecto sejam difundidas de forma mais ampla e acessível a todos. Infelizmente, isso não tem ocorrido, e as redes sociais digitais têm sido usada muitas vezes de forma errônea, com informações distorcidas, ocasionando prejuízos à saúde mental das pessoas. O impacto causado no comportamento das pessoas já é observado por especialistas em saúde há algum tempo, principalmente a influência na imagem corporal delas. Conforme Frois et al (2011): Assim, as mídias, principalmente a televisão e a internet, têm influenciado na divulgação e na valorização do corpo perfeito. Entre sites de agências de beleza, comunidades virtuais que valorizam o culto aos músculos, e a conquista de corpos cada vez mais magros e rejuvenescidos, observa-se o constante aumento da busca pelo ideal de um corpo moldado e esculpido que esconde as marcas do tempo e as vivências a que o sujeito está submetido.


10 Observamos, no Instagram, verdadeiras disputas virtuais, nas quais as postagens diárias são a rotina nas academias de ginástica, vídeos nos aparelhos de musculação, homens e mulheres obstinadamente em busca de corpos ideais, “barrigas tanquinho’’, músculos de lutadores de box, dietas fitness que são divulgadas na internet com a promessa de emagrecimento super acelerado etc. Tudo isso mascara a vida real, que é constituída de alegrias, mas também de problemas que não são postados nas redes sociais, as quais raramente deixam evidências de que aqueles estão acontecendo. Buscar um corpo bonito, saudável e agradável para si mesmo é um ideal legítimo e digno de ser perseguido; o problema se instala quando isso vira uma obsessão. Conforme defendido por Frois et al (2011), “os belos corpos, sempre esculpidos, magros e rejuvenescidos, estão a serviço do consumo e refletem o desejo de uma sociedade que busca no imediatismo a eternização da juventude’’. O desejo se transforma em patologia, em transtorno, em adoecimento; esse é o fenômeno que estamos acompanhando nas redes sociais frequentemente. Para Frois et al (2011): Tentar concretizar o sonho de um corpo-imagem é ilusório, e se, a partir da valorização desse ideal e das seduções, sobretudo das mídias, o indivíduo se vê impelido a buscar essa efetivação, os resultados não são promissores, não passando de frustrações, afastamento social, imperfeições, depressões ou morte.

Devido às intensas transformações vivenciadas na adolescência, e também ao estímulo das políticas públicas com relação ao uso da internet, os adolescentes fazem parte da grande parcela populacional que mais utiliza a internet (Méa et al, 2016). Com base em dados de uma pesquisa realizada pela UNICEF, no ano de 2013, uma parcela de 64% de adolescentes utiliza a internet diariamente (Méa et al, 2016). O termo Uso Patológico de Internet foi criado pela Psicóloga Dra. Kimberly Young, em 1996. Após a criação do termo, vários estudiosos se debruçaram sobre o assunto, e, para Fortim et al (2013), o termo “Uso Patológico de Internet (UPI)’’ constituiu-se como objeto de pesquisa. De fato, ficou constatado que existem pessoas que se denominam “viciadas de internet’’. Quatro aspectos psicológicos ficaram evidenciados neste estudo: (i) dinâmica relativa ao controle: a sensação de controle sobre a relação com os outros e sobre a imagem de si mesmo; (ii) o UP, uma estratégia de coping, de enfrentamento da ansiedade; (iii) característica das atividades da internet serem vistas como ilusórias e como reais; (iv) papel libertador; seja de aspectos


11 sombrios, de comportamentos sexuais, agressivos, seja de aspectos até conhecidos, mas pouco assumidos frente aos outros. Coping é a ação de lidar adequadamente com uma situação, superando as dificuldades ou limites que essa situação apresenta (Schviger, 2009). De acordo com Fortim et al (2013), o uso torna-se patológico quando as pessoas perdem o interesse pelas relações presenciais, privilegiando os contatos virtuais, o que pode gerar consequências graves, comprometendo o sono e a alimentação e prejudicando as relações interpessoais, o trabalho e a vida escolar. É estranho observar o movimento de pessoas que diminuem o tempo que poderiam estar interagindo com amigos e familiares para voltar para suas casas e postar na internet as selfies que tiraram nesses momentos. Para Azevedo et al (2014), o Uso Patológico da Internet pode manifestar-se de várias formas: dependência cibersexual; dependência ciberrelacional; compulsões por jogos em rede; sobrecarga de informação; e dependência de computador. Conforme Azevedo et al (2014), a “dependência cibersexual é o vício em utilizar salas de chat para adultos ou ciberpornografia. A dependência de ciberrelacional são as amizades online, feitas em salas de chat ou newgroups que substituem a vida real da família e amigos. As compulsões por jogos em rede, que é o uso compulsivo por jogos online, dependência de leilões online, e o comércio online obsessivo. A sobrecarga de informação é a navegação compulsiva pela rede Web ou banco de dados de pesquisa. A dependência de computador é o uso obsessivo do computador, jogos ou programação de informática”. Existem síndromes ligadas ao uso abusivo de internet, mas que estão aguardando validação; são elas: a oniomania (comportamento do comprar compulsivo); o impulso sexual excessivo; a dermatotilexomania (transtorno de escoriação); a automutilação recorrente; e as dependências tecnológicas, como a de internet e a de videogame, além da chamada nomofobia (o medo de ficar sem o celular), frequente entre as pessoas que utilizam o aparelho. Fortim et al (2013), apud Abreu et al (2008), afirmam que esses sintomas fazem parte do Transtorno do Controle do Impulso, identificado no CID – 10, sob o código F 63.9.


12 É comum pessoas se sentirem angustiadas ao esquecerem seus smartphones em casa. A dependência pela tecnologia é comportamental, enquanto as outras são químicas, mas ela causa o mesmo desgaste na ponta do neurônio que as drogas, podendo dar a mesma sensação de necessidade e abstinência da dependência química (Jornal do Brasil, 2015). O abuso pelo uso excessivo da Web e do Whatsapp causa um efeito muito parecido, a nível cerebral, ao do uso do álcool e da cocaína (Jornal do Brasil, 2015). Dentre as consequências negativas do uso excessivo de internet, podemos citar: prejuízos no trabalho; riscos de demissão; descuido consigo mesmo e com dependentes, como crianças e bebês, que passam a ter pouca importância para os usuários (Fortim et al, 2013). A faixa etária mais atingida pelo transtorno de dependência de internet é a adolescência, mas isso não isenta os adultos de manifestarem sintomas do transtorno, sendo esse fato um aspecto preocupante, pois os adolescentes costumam ter nos adultos seus referenciais para se constituírem como sujeitos no mundo. O que vemos são os adultos instáveis e desequilibrados, o que nas palavras de Frois et al (2011) é uma “adolescentização” da sociedade atual. Esse fenômeno faz que sejam valorizados atributos próprios desse ciclo de vida, tornando-os importantes para outras etapas; observamos adultos com comportamentos consumistas, imediatismo e relações descompromissadas (Frois et al, 2011). Quando nos reportamos ao fenômeno contemporâneo do imediatismo, consumo excessivo e relações sem compromisso, vale a pena nos reportarmos às ideias de Bauman (2004) de relações líquidas, relações instantâneas, em que nada cria raiz, nada permanece. Essas ideias coincidem com os relacionamentos virtuais da nossa modernidade, nos quais os encontros se dão por intermédio de um aplicativo de celular e, mesmo que muitas vezes progridam para o mundo real, não se enraízam. Muitas vezes, também, ocorre o sexo virtual, uma nova modalidade de exibicionismo e de satisfação, utilizando-se uma webcam, comportamento esse gerador de vazio, pois não é fruto de um contato concreto, construído e maduro. Vivenciamos uma solidão compartilhada em rede; essa é a sensação que transparece. É o estar sozinho, mas o não querer sentir-se como tal. Uma falsa ideia de que temos uma vida perfeita, sem problemas, sem dissabores, sem dificuldades. Um


13 mundo colorido, no qual podemos tudo com um clique. Ao menor indício de uma contrariedade, podemos evitá-la com a tecla delete ou com a função bloquear do aplicativo. Não é necessário envolvimento, não é necessário sofrimento na modernidade. Entretanto, se isso fosse verdade, a depressão não teria sido identificada como a doença do século XXI. A psicanalista Teresa Pinheiro, em uma entrevista dada à Revista Carta Capital (2014), fala que inexiste, na atualidade, um bem comum; isso é da ordem do individualismo da sociedade. É o sentimento de inutilidade que paira no mundo moderno. Não ter um papel na sociedade é algo muito ruim para o sujeito. Na atualidade, cada um basta para si mesmo, e isso é adoecedor; é um sentimento narcisista na sociedade, que se manifesta no comportamento depressivo. Mas a psicanalista não atribui às redes sociais o fato de as pessoas se sentirem mais isoladas e tristes, afirma que isso seria preconceito, pois essa é uma nova forma de comunicação mundial. Para Pinheiro (2014), o problema existente na sociedade é o consumismo, a necessidade de possuir aquilo que não se tem, a importância extrema que o mundo moderno atribui à aquisição de objetos, o que se confirma em Bauman, apud Corrêa (2011), quando diz que nessa sociedade não são comprados apenas produtos e serviços, mas também modelos de personalidades e de relacionamentos. Dentre os usos abusivos identificados na pesquisa realizada por Fortim et al (2013), foram encontrados dados sobre o uso da internet: com uma maior frequência, para conversar com conhecidos e desconhecidos (75); para a obtenção de prazer sexual (41); para navegação difusa, sem objetivo específico (37); para relacionamento amoroso - obtenção ou manutenção de vínculos sentimentais (18). Esses são os números que mais têm relevância na amostra separada, em um universo de 189 sujeitos de ambos os sexos, que enviaram e-mails ao serviço de orientação do Núcleo de Pesquisas de Psicologia e Informática (NPPI), da Clínica de Psicologia da PUC-SP. A duração dessa pesquisa equivale a um período de dez anos. O Dr. Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que o nosso cérebro passa por um processo de amadurecimento, o qual só é finalizado aos 21 anos. A última área a ser finalizada é o córtex pré-frontal, que funciona como nosso freio comportamental. Os adultos conseguem frear suas ações, já os jovens não


14 conseguem diminuir o apelo de seus comportamentos. É por esse motivo que o acesso à tecnologia deve ser monitorado em crianças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dependência de internet não possui um diagnóstico psiquiátrico estabelecido nos manuais nosográficos, tais como o CID 10 e o DSM IV-TR, e nem mesmo consta como síndrome no DSM V, por causa da quantidade insuficiente de pesquisas sobre o assunto (Frois et al, 2011), mas são inúmeros os prejuízos comportamentais causados pelo uso descontrolado da internet. De fato, existe uma queixa de sofrimento por que o sujeito passa e que é por ele atribuído como uma inabilidade de afastar-se da internet. Esse sofrimento é acolhido pela equipe de psicólogos do Núcleo de Pesquisas de Psicologia e Informática da PUCSP (Frois et al, 2011). Conclui-se que, quando a internet é utilizada sem controle ou como válvula de escape para problemas emocionais por que os usuários estejam passando, ela poderá possibilitar seu uso patológico, uma vez que viabiliza o contato virtual em detrimento do real, propiciando o distanciamento dos contatos sociais.


15 REFERÊNCIAS: Azevedo, Jefferson Cabral; Nascimento, Giovane do; Souza, Carlos Henrique Medeiros de. Ciberdependência: o papel das emoções na dependência de tecnologias digitais. 2014. Disponível em://<http:www.periodicos.letras.ufmg.br>. Acesso em 03 de nov. de 2017. Bauman, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos; tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. Corrêa, Leandro Morais. Modernidade Líquida. Disponível em https://leandromoraiscorrea.wordpress.com. Mai. de 2011. Acesso em: 13 de janeiro de 2018. E.s.s.e Mundo Digital. Ética. Segurança. Saúde. Educação. 2015. Disponível em://<http:www.essemundodigital.com.br>. Acesso em: 03 de dezembro de 2017. Fortim, Ivelise, Alves de Araújo, Ceres, Artigo: Aspectos psicológicos do uso patológico de internet. Revista: Boletim Academia Paulista de Psicologia 2013 33(85):Disponível em:<http:umich.redaly 1415-711X>. Acesso em: 12 de out. de 2017. Frois, Erica; Moreira, Jacqueline; Stengel, Márcia. Mídias e a imagem corporal na adolescência: o corpo em discussão. Psicologia em estudo[online] 2011,16. (Mar. – Nov.). Disponível em://<http:www.redalyc.org>. Acesso em: 29 de out. de 2017. Godoy, Arilda Schmidt. Pesquisa Qualitativa: Tipos Fundamentais. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, mai/jun. 1995. Jornal do Brasil. Ciência e Tecnologia. Uso excessivo de internet e celular podem levar ao vício. 03/08/2015:Disponível em://<http:www.jb.com.br>. Acesso em: 08 out de 2017. Méa, Cristina Pilla Della; Biffe, Eliane Maria; Ferreira, Vinícius Renato Thomé. Padrão de uso de internet por adolescentes e sua relação com sintomas depressivos e de ansiedade. Psic. Rev. São Paulo, volume 25, n.2, 243—264, 2016. Disponível em://<http: revistas.pucsp.br>. Acesso em 12 de novembro de 2017.


16 Mendes,K.D.S.; Silveira,R.C.C.P.; Galvão,C.M. Revisão Integrativa: Método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem, São Paulo, v. 4, n. 17, p.758-764, dez. 2008. Pinheiro, Teresa. Depressão, a doença do século XXI. Out. de 2014. Disponível em://<http: www.cartaeducacao.com.br>. Acesso em 15 de nov. de 2017. Revista Estadão. Emais.estadao.com.br. Estamos criando uma geração de alienados, afirma psicólogo do HC. Set. de 2016. Acesso em 13 de jan. de 2018. Schviger, Amarilis. O que é “coping”? Mai. de 2010. Disponível em://<http:www.psicologia.pt>. Acesso em 13 de jan. de 2018. Silva, Lídia J. Oliveira Loureiro da. A Internet – A geração de um novo espaço antropológico. Disponível em://<http.www.bocc.uff.br>. Acesso em: 14 de out. de 2017. Souza, Josefa Aparecida da Silva. A nova era digital e as performances do corpo. Disponível em://< artefactum.rafrom.com.br>. Acesso em: 14 de out. de 2017. Vermelho, Sônia Cristina; Velho, Ana Paula Machado; Bonkovoski, Amanda; Pirola, Alisson. Artigo: Refletindo sobre as redes sociais digitais. Revista: Educação & Sociedade. Vol. 35 n.126, p. 179-196, jan. - mar. 2014:Disponível em://<http:www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 12 de out. de 2017.


CRIANÇA COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL (2005- 2015)

CHILD WITH ATTENTION AND HYPERATVITY DEFICIT TRANSTORN: OCCUPATIONAL THERAPY ACT (2005-2015)

Maria de Fátima Sampaio,1 Edyr Marcelo Costa Hermeto,2 Nágela Maria de Silva3

1

Terapeuta Ocupacional pela Universidade de Fortaleza- UNIFOR. Fortaleza, CE, Brasil

2

Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará-

UECE, Especialista em Saúde Mental pela Universidade Estadual do Ceará- UECE. Fortaleza, CE, Brasil. edyrcosta@hotmail.com

3

Terapeuta Ocupacional, Mestre em Psicologia e Subjetividade pela Universidade de

Fortaleza- UNIFOR Especialista em Saúde Mental pela Escola de Saúde Pública- ESP. Fortaleza, CE, Brasil. nagelacorreia@hotmail.com

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Resumo

As crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade exibem movimentação exagerada e são incapazes de manter a atenção, o interesse e a insistência em tarefas de seu cotidiano. Esse transtorno é neurobiológico, com grande participação genética. O Terapeuta Ocupacional busca favorecer o desempenho ocupacional da criança, focando no desenvolvimento das habilidades necessárias à sua faixa etária. Objetivo: Analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca da criança com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a atuação do terapeuta ocupacional (2005-2015). Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa, para a qual foram selecionados 12 artigos no período de 2005 a 20015 adquiridos a partir da base de revistas cientificas nacionais. Como fontes de dados utilizou-se: Ebsco Host, Redalyc SCIELO, Caderno de Terapia Ocupacional da UFSCar, Lilacs e a Revista Científica do Unisalesiano. Resultados: O estudo demostra que a produção científica nacional atual, a respeito da atuação do Terapeuta Ocupacional junto à criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH, tem se mostrado insuficiente, sendo de suma importância a intervenção do Terapeuta Ocupacional ao basear sua prática, favorecendo a melhora das habilidades da criança na realização de atividades de vida diária e promovendo sua independência. Assim concluise que a Terapia Ocupacional tem muito a contribuir no desenvolvimento das crianças com TDAH. Palavras chaves: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade; Criança; Terapia Ocupacional.

Abstract

Children with attention deficit hyperactivity disorder exhibit exaggerated movements. They are unable to maintain attention, interest and insistence on their daily tasks. It is a neurobiological disorder with high genetic participation. The Occupational Therapist favors the occupational performance of the child, focusing on developing the necessary skills for their age group. Objective: To analyze the knowledge produced and disseminated in scientific databases about the child with attention deficit hyperactivity disorder and the role of the occupational therapist (2005-2015). Methodology: This is an integrative literature review along with a qualitative approach, for which we selected 12


items from the period 2005-2015 acquired from the national scientific journals base. The data sources used were: Ebsco Host; Redalyc SCIELO; Occupational Therapy Notebook UFSCar; Lilacs; and the Scientific Journal of Unisalesiano. Results: The study demonstrates that the current national scientific production concerning the role of the occupational therapist to the child with Attention Deficit Disorder Attention Deficit Hyperactivity Disorder, ADHD, has been insufficient. This type of production is extremely important so that the occupational therapist can base their practice theoretically. This would help the occupational therapist in favoring the improvement of the child's skills in performing activities of daily living and in promoting their independence. Thus, the study concludes that occupational therapy has a lot to contribute to the development of children with ADHD. Key words: Attention Deficit Disorder Hyperactivity Disorder; Child; Occupational Therapy.


7

INTRODUÇÃO

Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (2015), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, com grande participação genética, que tem início na infância e que pode persistir na vida adulta, comprometendo o funcionamento da pessoa em vários setores de sua vida. Ele caracteriza-se por três sintomas primários: hiperatividade (aumento da atividade motora); impulsividade (deficiência no controle dos impulsos); e desatenção (quando não consegue manter a concentração por muito tempo), vindo a interferir expressivamente na vida e no desenvolvimento normal do sujeito. O TDAH acomete crianças, adolescentes e adultos, independentemente do país de origem, do nível socioeconômico, da raça ou da religião. De acordo com Boo (2006), citado em Silva et al. (2012, p. 77), as crianças com TDAH exibem movimentação exagerada e, diferentemente das demais crianças de sua idade, são incapazes de manter a atenção, o interesse e a insistência em tarefas de seu cotidiano, mesmo naquelas consideradas agradáveis pela maioria, tais como brincadeiras e jogos. Conforme Santos e Vasconcelos (2010, p.717- 718): Apenas em 1902, a primeira descrição do transtorno foi apresentada pelos pediatras ingleses George Still e Alfred Tredgold [...] quais denominaram essa alteração de defeito na conduta moral acompanhado de inquietação, desatenção e dificuldades diante de regras e limites. No início do século XX, o interesse pelo TDAH parece ter sido curiosamente despertado em decorrência de um surto de encefalite ocorrido na América do Norte entre os anos de 1917 e 1918. As crianças que sobrevieram à encefalite passavam a apresentar grande parte da sintomatologia que hoje faz parte do diagnóstico de TDAH, incluindo inquietação, desatenção e impulsividade.

De acordo com o DSM-IV-RTM, a trilogia sintomatológica passou a incluir desatenção, hiperatividade e impulsividade. O transtorno passou a ser chamado de Distúrbio do Déficit de Atenção/Hiperatividade - ADHD (Attention-Deficit Hiperactivity Disorder) -, mas a nomenclatura brasileira utilizada é de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (BARKLEY, 2008). Silva et al, 2012, p. 78 nos esclarece que: A criança recebe a classificação tipo combinado, quando apresenta seis ou mais sintomas de desatenção e seis ou mais sintomas de hiperatividade-impulsividade


8 há pelo menos seis meses; tipo predominantemente desatento, quando possui seis ou mais sintomas de desatenção no mínimo há seis meses e tipo predominante hiperativo, quando há seis ou mais sintomas de hiperatividadeimpulsividade há pelo menos seis meses.

É possível que a pessoa que apresenta TDAH tenha também outros diagnósticos “comorbidades”, tais como transtorno de conduta, transtorno opositor desafiante, transtornos de humor, transtornos de aprendizagem e outros, o que torna difícil o processo de diagnóstico e tratamento. Para Mattos et al. (2006), citado por Gomes et al. (2007, p. 95), o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um importante enigma de saúde, cujos efeitos ocasionam desde dificuldades no desempenho escolar até problemas psicológicos e sociais, afetando não apenas o comportamento, mas ainda o procedimento de aprendizado. Nas crianças com TDAH, podem estar presentes diversas condições associadas, incluindo dificuldades no desenvolvimento motor, que se manifestam nos atos de hiperatividade. Neto et al. (2007) afirma que a atividade motora é de suma importância para o desenvolvimento global da criança. A abordagem terapêutica deve abranger todas as áreas do desenvolvimento da criança, uma vez que o desenvolvimento motor influencia profundamente o desenvolvimento cognitivo e também o desenvolvimento afetivo. Visando a isso, a atuação da Terapia Ocupacional no desenvolvimento motor deve fundamentar-se em estimular e favorecer a criança, por meio de métodos, técnicas e orientações específicas, para que perpasse, de forma satisfatória, todas as fases do desenvolvimento. Segundo Santos; Stellato e Favarão (2011, p.125-127): A criança pode atrasar ou adiar os aspectos do desenvolvimento infantil, dependendo dos estímulos que receber no seu dia a dia. [...] O fato de conhecer a sequência das capacidades da criança permite apreciar o desenvolvimento das mais íntimas aquisições e entrever as competências que estão por vir, portanto o bom estado do seu cérebro e a progressiva maturação do sistema nervoso faz com que a criança adquira aptidões cada vez mais complexas. [...] cada criança transpõe-nas no seu ritmo.

Santos; Stellato e Favarão (2011) enfatizam que a atuação do Terapeuta Ocupacional verifica a evolução e a capacidade da criança nas áreas do desenvolvimento neuropsicomotor, beneficiando e estimulando experiências em atividades do cotidiano, por meio dos aspectos físicos, sensoriais, cognitivos, emocionais e sociais da criança. Tendo em vista as demandas da criança com transtorno de déficit de atenção e


9 hiperatividade, o Terapeuta Ocupacional pode desenvolver seu trabalho utilizando-se de diferentes ferramentas, em diversos contextos e em contato com populações distintas, atendendo, assim, a diferentes demandas. O tratamento realizado pelo Terapeuta Ocupacional pode ser conduzido tanto individualmente quanto em grupo, de acordo com os objetivos propostos aos sujeitos (CUNHA; SANTOS 2009), sabendo-se que as condições adversas do TDAH afetam o desenvolvimento

psicossocial

e

comportamental

da

criança,

interferindo

significativamente em sua vida e em seu desenvolvimento normal. Pacciulio; Carvalho e Pfeifer (2011) colocam que o Terapeuta Ocupacional busca favorecer o desempenho ocupacional da criança, focando no desenvolvimento das habilidades necessárias à sua faixa etária, para o que adequa ações intencionais através da brincadeira, cuja importância se dá como meio para atingir a melhora dos componentes de desempenho de uma forma lúdica, agindo sobre o fazer humano. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é hoje um dos transtornos mais expostos pela sociedade. Ainda se questiona muito sobre o seu tratamento, em que é necessário explorar e apresentar que a terapia ocupacional pode colaborar e ajudar a criança, baseando-se em fundamentos teóricos na organização de seu cotidiano, em sua reinserção na sociedade e em formas de lidar com suas limitações e frustações para realizar um bom desempenho. Barros; Ghirardi e Lopes (2002, p. 95-103), citados por Alcântara e Brito (2012, p. 457), afirmam que a Terapia Ocupacional compreende a pessoa entre a objetividade de seu problema e a subjetividade da interpretação de suas necessidades, apontando que os terapeutas ocupacionais agem nas disfunções que se revelam em diferentes áreas das vidas dos sujeitos que, por diversas razões, foram impedidos de avançar, favorecendo assim a autonomia. Rodrigues; Marcelino e Nóbrega (2015, p. 418) apresentam que: Terapeutas ocupacionais fundamentam a sua prática na compreensão de que a participação em ocupações e atividades positivas, em casa, na escola, no trabalho e na vida comunitária, estrutura a vida cotidiana, contribui para a saúde e para o bem-estar dos indivíduos. [...] Além disso, o terapeuta ocupacional é um profissional que pode atuar no domicílio, onde são realizadas as atividades diárias do paciente. A atuação é feita pela observação do ambiente do paciente, o envolvimento dele com as tarefas e seus significados, como também identificar seus hábitos e se há algum comprometimento nas habilidades motora, cognitiva e social.


10 O presente artigo tem como objetivo analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca da criança com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a atuação do terapeuta ocupacional (2005-2015).

PERCURSO METODOLÓGICO

Tipo de estudo

O estudo caracteriza-se por ser uma revisão integrativa da literatura, acerca da Criança com Transtorno de Déficit de Atenção e hiperatividade e a atuação do Terapeuta Ocupacional (2005-2015). A revisão integrativa tem como finalidade reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, favorecendo a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, assinalando lacunas do conhecimento que necessitam ser completadas com a verificação de novos estudos (MENDES, Mendes; Silveira; Galvão 2008). Segundo Minayo (2008), a pesquisa qualitativa oferece um conhecimento mais detalhado de casos específicos, dando ênfase aos significados, às aspirações, aos valores e às crenças de cada um e preocupando-se com a realidade que não pode ser definida em números, e fornece a possibilidade de obtenção de informações sobre as experiências individuais e pessoais dos pesquisadores.

Fase exploratória e levantamento bibliográfico

A pesquisa foi iniciada pela fase exploratória, que se constitui de um levantamento das bibliografias publicadas no período 2005 a 2015 encontradas na base de dados do campo da saúde adquirida de artigos de revistas cientificas nacionais. Foi realizado um levantamento bibliográfico na biblioteca da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com artigos de internet indexados, tendo-se como objetivo realizarse um levantamento bibliográfico seguindo os critérios de inclusão dos descritores: Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; criança; e Terapia Ocupacional.


11 Os critérios de exclusão foram: os artigos escritos em língua estrangeira; artigos sem relação com o assunto abordado; e artigos que não tinham como objetivo criança com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a atuação da terapia ocupacional. Foram encontrados 12 artigos, sendo: (1) na Ebsco Host; (2) na Redalyc - Rede de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal-Scientific Information System; (2) no Scientific Electronic - SCIELO; (5) no Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar; (1) na Revista Científica do Unisalesiano; e (1) no Lilacs. A pesquisa favoreceu a análise qualitativa dos dados, seguindo a combinação dos seguintes descritores: Criança, Transtorno de Déficit de Atenção e hiperatividade e Terapeuta Ocupacional.

Método de análise dos dados

Para investigar o material coletado, utilizou-se o método de análise integrativo numa perspectiva crítica e analítica reflexiva com abordagem qualitativa, com propósito de investigar e relatar conteúdos seguindo os descritores escolhidos. Mendes, Silveira e Galvão (2008, p. 759) deixam claro que: A revisão integrativa inclui a análise de pesquisas relevantes que dão suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática clínica, possibilitando a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos. Este método de pesquisa permite a síntese de múltiplos estudos publicados e possibilita conclusões gerais a respeito de uma particular área de estudo.

A revisão integrativa proporciona aos profissionais de diversas áreas de atuação o ingresso rápido aos resultados relevantes de pesquisas que fundamentam as condutas ou a tomada de decisão, oferecendo-lhes um saber crítico. Broome (2000) define esse método de pesquisa como sendo favorável para o entendimento de um determinado fato baseando-se em estudos anteriores. Para maior compreensão e clareza das informações obtidas após a leitura exploratória dos artigos na sua totalidade, análise e seleção dos mesmos, buscou-se realizar um resumo dos estudos encontrados, sendo elaborado um quadro abreviado que considerou os seguintes aspectos: fonte e ano; autores; tipo de estudo; e resultados obtidos.


12

Fonte e ano

Autor

Tipo de estudo

Resultados obtidos

Para um eficaz encaminhamento para o CARREIRO, LRR; JORGE,

tratamento do transtorno

Psicologia: Teoria e

M; TEBAR, MR;

de TDAH, é

Prática - 2008, 10(2): 61-

MORAES, PF; ARAUJO,

67.

RR; OLIVEIRA, TAER;

avaliação. Os prejuízos

PANHONI, VACS.

trazidos pela avaliação

Descritivo.

imprescindível a correta

incorreta podem ocasionar diversos danos à criança. Criança com TDAH apresenta dificuldades ConScientiae Saúde,

SILVA, J; CONTREIRA,

2012; 11(1): 76-84.

AR; CAPISTRANO, R;

motoras que podem ser Descritivo.

BELTRAME, TS.

associadas a sintomas como distração ou impulsividade na realização dos movimentos. Alterações nas funções

Avaliação Psicológica, 2007, 6(1), p. 51-60.

executivas estão

CAPOVILLA, AGS; ASSEF, ECS; COZZA,

Revisão Biográfica.

HFP

relacionadas a distúrbios como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, Jan-Jun 2008, v. 16, n. 1, p. 37-46.

O Terapeuta Ocupacional GRIGOLATTO, T; CHAVES, GFS; SILVA,

usa o brincar como meio Estudo de caso.

MBDC; PFEIFER, LL.

de intervenção para conseguir a melhora das habilidades da criança.

Cadernos de Terapia

CUNHA, ACFC; SANTOS,

Ocupacional da UFSCar,

TF.

Revisão Bibliográfica.

O tratamento realizado pelo Terapeuta


13 São Carlos, Jul-Dez

Ocupacional pode ser

2009, v. 17, n. 2, p. 133-

realizado tanto

146.

individualmente quanto em grupo, conforme os objetivos propostos aos sujeitos. A importância do

Jornal Brasileiro de

GOMES, M; PALMINI, A;

Psiquiatria, 56(2): 94-

BARBIRATO, F;

101, 2007.

MATTOS, LARP.

conhecimento da Descritivo.

população, no geral, sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). A visão interdisciplinar

Psicologia: Teoria e

das bases biológicas e

Pesquisa

comportamentais

Out-Dez 2010, vol. 26, n. 4, p. 717-724.

contribui para o SANTOS, LF; VASCONCELOS, LA

Revisão de literatura.

desenvolvimento e para a manutenção dos comportamentos clássicos do TDAH, sendo fundamental para terapias eficazes. O Terapeuta Ocupacional se vale do brincar como

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar,

PACCIULIO, AM;

São Carlos, Jan/Abr

CARVALHO, TSE;

2011, v. 19, n. 1, p. 93-

PFEIFER, LL.

fim de intervenção, Descritivo.

favorecendo o desenvolvimento das habilidades necessárias à

99.

faixa etária de cada criança.

Rev Bras Cien Mov, v. 15, n. 1, p. 45-51, 2007.

NETO, FR; ALMEIDA, GMF; CAON, G; RIBEIRO, J;

O desenvolvimento motor Analítico.

influencia diretamente no aprendizado da criança.


14 CARAM, JA; PIUCCO, EC.

A atuação da Terapia Ocupacional no desenvolvimento motor

Revista Científica do Unisalesiano – Lins - SP, ano 2, n.3, Jan/Jun 2011.

fundamenta-se em

SANTOS, KP;

estimular e favorecer a

STELLATO, MO; FAVARÃO, AS.

Descritivo.

criança por meio de métodos, técnicas e orientações específicas, para que perpassem, de forma satisfatória, todas as fases do desenvolvimento. O olhar da Terapia

Caderno Terapia

Ocupacional no cuidado

Ocupacional. UFSCar,

ALCÂNTARA, DB;

São Carlos, v. 20, n. 3, p.

BRITO, CMD.

individual e coletivo, Relato de experiência.

455-461, 2012.

visando à necessidade de transformação do cotidiano em busca de sua ressignificação. O Terapeuta Ocupacional, baseando sua prática, favorece o

Caderno de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 23, n. 2, p. 417-426, 2015.

envolvimento da criança

RODRIGUES, TCL; MARCELINO, JFQ; NÓBREGA, KBG.

Descritivo.

na realização de atividades de vida diárias, na comunicação e no brincar de acordo com a necessidade e a realidade em que ela se encontra.

Tabela 1. Síntese dos artigos obtidos nas bases de dados, de acordo com fonte, ano publicação, autor, tipo de estudo e resultados obtidos. Fortaleza, CE, Brasil, 2015.


15

Análise dos resultados dos dados obtidos

Os resultados encontrados na pesquisa integrativa foram agrupados, depois da análise, em: Transtorno de Déficit de Hiperatividade; Criança; e Terapia Ocupacional. Em todas as pesquisas selecionadas, constatou-se que foi verificada a precisão do conhecimento da atuação do Terapeuta Ocupacional junto à criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Os estudos ainda apontaram fatores que podem influenciar a obtenção desses conhecimentos por parte dos profissionais da Terapia Ocupacional, tais como: o tempo de experiência profissional na área; a sutileza dos sinais do desenvolvimento neuropsicomotor normal da criança na reorganização do cotidiano; a reinserção do indivíduo na sociedade; e o fazer humano. Verifica-se, a partir dos dados encontrados, que a produção científica nacional atual, a respeito da atuação do Terapeuta Ocupacional junto à criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, tem se mostrado escassa. É imprescindível a correta avaliação do TDAH, evitando, assim, os prejuízos trazidos pela avaliação incorreta, que pode trazer diversos danos à criança. Muitas vezes, a criança com TDAH apresenta dificuldades motoras (as quais influenciam diretamente o aprendizado da criança), que podem ser associadas a sintomas como distração ou impulsividade na realização dos movimentos. O Terapeuta Ocupacional, baseando sua prática, favorece o envolvimento da criança na realização de atividades de vida diárias e na comunicação e usa o brincar como meio de intervenção para conseguir a melhora das habilidades da criança, podendo intervir junto a ela, individualmente ou em grupo (com outras crianças), conforme os objetivos propostos, favorecendo o desenvolvimento das habilidades necessárias à faixa etária de cada criança. Além disso, é necessário o conhecimento da população, no geral, sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) para uma melhor aceitação dessas crianças no convívio social.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho permitiu identificar que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um sério problema de saúde, o qual afeta não apenas o comportamento da criança que manifesta esse transtorno, mas provoca dificuldades e limitações no seu desempenho escolar, social, familiar e motor e pode motivar até mesmo problemas psicológicos. Foram encontrados poucos autores que mencionam a intervenção da Terapia Ocupacional junto a essas crianças com TDAH. Dentre os artigos encontrados, destaca-se apenas o contexto escolar, limitando a coleta de dados para análise. Entretanto, ressalta-se a importância da intervenção do Terapeuta Ocupacional e sua proposta, o que favorece bom desempenho global e autonomia dessas crianças, respeitando suas limitações. O Terapeuta Ocupacional tem procurado mostrar sua importância nos diferentes contextos de desempenho com bases teóricas, e a pesquisa realizada para a construção deste artigo deixa mais intensa a importância de se buscarem novos estudos e publicações da atuação do Terapeuta Ocupacional junto à criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em todos os contextos.


17 REFERÊNCIAS

ATENÇÃO, Associação Brasileira do Déficit de. Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por: <www.tdah.org.br>. em: 17 jun. 2015. ALCÂNTARA, D. B.; BRITO, C. M. D. Projeto brincar e contar: a terapia ocupacional na atenção básica em saúde. Cad. Ter. Ocup. UFSCar (Impr.), v. 20, n. 3, 2012. BARKLEY, R. A. et. al. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnostico e tratamento. Porto Alegre, (2008). BARROS, D.D.; GHIRARDI, M.I.G.; LOPES, R. E. Terapia Ocupacional Social. Revista de Terapia Ocupacional da Universalidade de São Paulo, São Paulo, v.13, n.3, p. 95-103, set/dez. 2002. BOO, G.M.; PRINS P.J.M. Social incompetence in children with ADHD: possible moderators and mediators in social skills training. Clin Psychol Rev. 2006;27:78-97. BROOME M.E. Integrative literature reviews for the development of concepts. In: Rodgers BL, Knafl KA, editors. Concept development in nursing: foundations, techniques and applications. Philadelphia (USA): W.B Saunders Company; 2000. p.23150. CUNHA, A. C. F.; SANTOS, T. F. Utilização do grupo como recurso terapêutico no processo

da

terapia

ocupacional

com

clientes

com

transtornos psicóticos:

Apontamentos Bibliográficos. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, Jul-Dez, v. 17, n.2, p 133-146, 2009. GOMES, M. et al. Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade no Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 56, n2, p. 94-101, 2007. MATTOS, P. et al. Painel brasileiro de especialistas sobre diagnóstico do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) em adultos. Rev Psiquatr RS, 28:50-60, 2006. MENDES,K.D.S.; SILVEIRA,R.C.C.P.; GALVÃO,C.M. REVISÃO INTEGRATIVA: Método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem, São Paulo, v. 4, n. 17, p.758-764, dez. 2008. MINAYO, M.C.S (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.Petropolis: Vozes. 2008. NETO. F. R. et al. Desenvolvimento motor de crianças com indicadores de dificuldades na aprendizagem escolar. Rev Bras Cien Mov, v.15, n. 1, p. 45-51, 2007.


18 PACCIULIO, A. M.; CARVALHO, T. S. E.; PFEIFER, L. I. Atuação terapêutica ocupacional visando á promoção do desenvolvimento de uma criança em internação prolongada: Um estudo de caso. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, Jan-Abr, v. 19, n.1, p. 93-99.2011. RODRIGUES, T. C. L.; MARCELINO, J. F. Q.; NÓBREGA, K. B. G. Tecnologia assistiva na atuação terapêutica ocupacional com uma criança com doença degenerativa do sistema nervoso central. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, Recife, v. 23, n. 2, p. 417-426, 2015. SANTOS, K. P.; STELLATO, M. O.; FAVARAO, S. A. Elaboração pela Terapia Ocupacional de um manual de orientações para mães de crianças de 0 a 2 anos atendidas na UBS- Ribeiro sobre o desenvolvimento motor. Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, v. 2, n.3, 2011. (ver se esta correta) SANTOS, L. F.; VASCONCELOS, L. A. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade em Crianças: Uma Revisão Interdisciplinar. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasilia, v. 26, n. 4, p.717-724, out. 2010. SILVA, J. et al. Desempenho motor de escolares com e sem Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Conscientiae Saúde, São Paulo, v. 11, n. 1, p.76-84, jan. 2012.


ATIVIDADES EXPRESSIVAS NA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS JUNTO A USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS (2005-2015) EXPRESSIVE ACTIVITIES IN PREVENTING RELAPSES WHIT USERS OF PSYCHOACTIVE SUBSTANCES (2005-2015)

Juliana Lemos Duarte Jorge¹, Edyr Marcelo Costa Hermeto², Nágela Maria da Silva3 1Terapeuta Ocupacional pela Universidade de Fortaleza- UNIFOR, Fortaleza, CE, Brasil. 2Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará- UECE, Especialista em Saúde Mental pela Universidade Estadual do CearáUECE. Fortaleza, CE, Brasil. edyrcosta@hotmail.com 3Terapeuta Ocupacional, Mestre em Psicologia e Subjetividade pela Universidade de Fortaleza- UNIFOR Especialista em Saúde Mental pela Escola de Saúde Pública- ESP. Fortaleza, CE, Brasil. nagelacorreia@hotmail.com ______________________________________________________________________ Resumo: Os usuários de substâncias psicoativas consomem drogas por diversos motivos, como: experiências espirituais, lazer, curiosidade e alívio de sofrimento. A droga é capaz de modificar e desorganizar a função biológica dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento, ou seja, provoca sensações e alterações no grau de consciência ou no estado emocional do indivíduo. É necessário identificar esses usuários, principalmente os que já se encontram em dependência da droga para inserí-lo em um programa de tratamento, promovendo o vínculo terapêutico com os profissionais e assim, conseguir uma adesão do mesmo neste processo de prevenção à recaídas com o uso de atividades expressivas como forma de expandirem seus olhares e encararem a realidade. Objetivo: Analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca das Atividades Expressivas na Prevenção de Recaídas Junto a Usuários de Substâncias Psicoativas (2005-2015). Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa, para o qual foram selecionados cinco artigos em revistas indexadas com recorte temporal de 2005 a 20015 adquiridos a partir da base de revistas cientificas nacionais, como fontes de dados utilizou-se SCIELO; Caderno de Terapia Ocupacional da UFSCar; Centro de Estudo de Terapia Ocupacional- CETO e Dissertações da Universidade de Lisboa. Resultados e Discussão: Percebe-se que o grupo de prevenção de recaídas tem por objetivo auxiliar os pacientes a manterem os resultados obtidos tratamento durante a prevenção de recaídas. A prevenção de recaídas pode ser definida como um programa de autogestão, que busca estimular o estágio da manutenção no processo de mudança. Portanto é de suma importância dos profissionais que atendem nos Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas- CAPS-ad,


conhecerem a importância da prevenção de recaída, fazendo como parte do processo de tratamento. Conclusão: Percebe-se que substâncias psicoativas é um problema de saúde pública, sendo importante estudos de aprofundamento, bem como identificar, avaliar e tratar este sujeito usuário de drogas que está inserido em diferentes contextos. Os dados demonstram que a produção científica nacional mostra-se insuficiente quanto a produção que aborda acerca das atividades expressivas na prevenção de recaídas junto a usuários de substâncias psicoativas. Palavras chaves: Atividade; Expressão; Prevenção; Recaída; Drogas


Abstract: The drug users take drugs for many reasons, such as spiritual experiences, leisure, curiosity and pain relief. The drug is capable to modify and disrupt the biological function of living organisms, resulting in physiological or behavioral changes, or causes sensations and changes in the degree of consciousness or emotional state of the individual. You need to identify these users, especially those who are already in the drug dependency to insert it into a treatment program, promoting the therapeutic relationship with professionals and thus achieve a membership of it in the process of prevention of relapse using expressive activities as a way to expand their eyes and face reality. Objective: To analyze the knowledge produced and disseminated in scientific databases about Expressive Activities in Relapse Prevention Along the Psychoactive Substance Users (2005-2015). Methods: This is an integrative literature review with a qualitative approach, for which five articles were selected in journals indexed by time frame 2005-20015 acquired from the base of national scientific journals, such as data sources was used SCIELO; Occupational Therapy Notebook UFSCar; Therapy Study Center Ocuppational- CETO and Dissertations University of Lisbon. Results and Discussion: It is noticed that the relapse prevention group aims to help patients maintain the results obtained treatment for relapse prevention. The relapse prevention can be defined as a selfmanagement program, which seeks to encourage the maintenance stage of the change process. Therefore it is very important for professionals attending the Psychosocial Care Center Alcohol and drogas- CAPS-ad, knowing the importance of relapse prevention, making as part of the treatment process. Conclusion: It is noticed that psychoactive substances is a public health problem, with important studies to deepen and identify, evaluate and treat this subject a drug user that is inserted in different contexts. The data show that the national scientific production proves insufficient as the production that addresses about the expressive activities in preventing relapses with users of psychoactive substances.

Key words: Activity; Expression; Prevention; Relapse; Drugs.


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INTRODUÇÃO Desde a Pré-História, o ser humano faz uso de substâncias psicoativas com a finalidade de aliviar o sofrimento, favorecer experiências espirituais, como também, a diversão. O uso de drogas está intrinsecamente relacionado às leis, costumes, hábitos, contextos sociais dos indivíduos e influências da sociedade. Segundo Hermeto, Sampaio e Carneiro (2009, p. 453), “atualmente, o uso de drogas ilícitas configura-se como problema de saúde pública, constituído pela extensão do uso e pela natureza das novas drogas e impactos sociais – sociológicos – econômicos - políticos – sanitários doenças diretas, doenças indiretas, tratamento e seus custos”. Trata-se da compreensão de uma problemática tão complexa que atinge a maior parte da sociedade nos dias de hoje e o impacto que este causa na vida do indivíduo, perdendo tempo de vida, tornando-se incapaz de realizar algumas atividades por conta do efeito da droga, bem como o impacto que é gerado na família. Para os autores citados acima (2009, p. 454): a história do uso de drogas em épocas, culturas e sociedades diferentes revela que o ser humano busca não só a obtenção do prazer, mas também o alívio para os cansaços, o esquecimento de traumas e medos, sobretudo, o da morte, e a modificação intencional dos estados de consciência.

O efeito das substâncias psicoativas geram um certo prazer momentâneo, por isso o indivíduo procura a substância para os fins citados acima, principalmente quando este está passando por um momento de dificuldade e não quer encarar a realidade ou não sabe como agir diante daquela situação. Consoante Gabatz, Johann, Gomes et. al (2013, p. 521) “a droga é definida como qualquer substância capaz de modificar e desorganizar a função biológica dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento”, ou seja, provoca sensações e alterações no grau de consciência ou no estado emocional do indivíduo.


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Silveira & Doering-Silveira (2014, p. 70) classificam os tipos de drogas em: drogas depressoras que diminuem a atividade mental, atenção, concentração, tensão emocional e a capacidade intelectual (Álcool; Ansiolíticos; Cola; Morfina; Heroína); drogas estimulantes que aumentam a atividade mental, fazendo com que o cérebro funcione de maneira mais acelerada (Cafeína; Tabaco; Cocaína; Crack) e drogas alucinógenas que alteram a percepção, provocando alterações no funcionamento do cérebro (LSD; Ecstasy; Maconha).

Existem vários tipos de drogas, como as que foram citadas acima, dentre outras. O indivíduo busca a droga pelo efeito que ela reflete ao seu organismo, como por exemplo: se deixa-o excitado, agitado; se diminui a sua concentração, atenção, deixando-o mais parado ou tendo alucinações, seja visual ou auditiva inexistente. O forte desejo e a influência para o consumo de drogas surgem principalmente, quando o indivíduo está em sofrimento psíquico ou pela influência da sociedade, tendo em vista que os efeitos das drogas causados no organismo por alguns minutos e/ou horas são de esquecimento, prazer e diversão. No momento, o indivíduo tende a esquecer de todos os problemas envolvidos em sua vida e, com isso, sente momentos de descontração fora da sua realidade (BRASIL, 2014). Para compreender-se as substâncias psicoativas é preciso conhecer as classificações do consumo de drogas e o que seria a dependência química que pode ocorrer em qualquer indivíduo que faça uso das substâncias. Silveira & Doering-Silveira (2014, p. 97), utilizam como classificação de consumo de drogas: uso experimental (pessoas que utilizam uma única vez); uso ocasional (pessoas que utilizam de vez em quando, de maneira esporádica, sem maiores consequências na maioria dos casos) e a dependência (sujeito que usa a droga de forma intensa, em geral quase todos os dias e com consequências danosas.

Quando o indivíduo passa a usar a droga diariamente, várias vezes ao dia, sentindo falta da substância e dos efeitos que ela causa em seu organismo, gerando algumas consequências, limitações na vida do mesmo, este se torna um dependente químico. A dependência química faz com que o indivíduo busque a droga por conta de sinais e/ou sintomas que surgem quando a substância não está mais no organismo.


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Segundo Silveira & Doering-Silveira (2014, p. 96): dependência química é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua (sempre) ou periódica para obtenção do prazer. Esta dependência pode ser física ou psicológica. A dependência física se evidencia pela presença de sinais e/ou sintomas quando o sujeito interrompe o uso da droga ou diminui bruscamente a quantidade utilizada, é a chamada Síndrome da Abstinência. Já a dependência psicológica corresponde a um estado de mal estar e desconforto que surge quando o dependente interrompe o uso de uma droga. Os sintomas mais comuns são: ansiedade; sensação de vazio; dificuldade de concentração, podendo variar de pessoa para pessoa.

Nem toda pessoa ao consumir uma droga pode se tornar um dependente, geralmente experimentam por curiosidade. O desenvolvimento da dependência pode ser considerado parte de um processo de aprendizagem. A dependência é o resultado de uma interação complexa entre os efeitos fisiológicos das substâncias psicotrópicas no cérebro e o que o usuário interpreta daquela situação, relacionando-a ao ambiente e consolidando como aprendizado. Meyer, Silveira, Souza et. al (2013, p. 2002) diz em que “as consequências causadas pelo uso dessas substâncias químicas atingem tanto a qualidade de vida quanto a saúde individual e coletiva”. A dependência química pode levar a baixa qualidade de vida, pois está diretamente ligada ao desequilíbrio entre a combinação do bem-estar psicológico e a saúde física. Ressalta-se a importância da promoção da saúde feita pelos profissionais da área da saúde que implica no fortalecimento individual e coletivo do ser humano, a fim de lidar melhor com os determinantes e condicionantes da saúde, buscando uma redução dos riscos ou vulnerabilidades. Com a promoção da saúde se promove qualidade de vida. Kantorski, Lisboa, Souza (2005, p. 02) afirmam: o uso e/ou abuso de substâncias psicoativas tem sido objeto de intervenção dos profissionais da saúde, necessitando, no entanto, qualificar o aporte técnico-científico, humanitário e social dessa intervenção, consistindo em um espaço de qualificação das práticas de cuidado dos profissionais de saúde.

Se faz necessário a atuação interdisciplinar de diversos saberes e práticas no processo de acolhimento e compreensão da problemática das substâncias psicoativas. O manejo clínico adequado dos profissionais de saúde irá favorecer o conhecimento a respeito das substâncias psicoativas e a sua compreensão em uma visão dinâmica. Para tanto, o acolhimento ao usuário de substância psicoativa (SPA) com o intuito de minimizar as recaídas, é necessário para a criação de um vínculo terapêutico desde a chegada do paciente a um serviço de atenção. Este contexto proporcionará um espaço acolhedor, bem como


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incentivar a vinculação da família no processo de prevenção à recaídas. Portanto os profissionais devem ter uma escuta qualificada, favorecendo a adesão deste familiar no processo de tratamento durante os grupos. Sobre acolhimento Cruz (2014, p. 177) refere: o acolhimento é uma forma de atuação dos profissionais que recebem usuários desde a sua chegada a um serviço e que visa facilitar o estabelecimento de um vínculo terapêutico. Isso inclui, com efeito, aspectos objetivos e subjetivos. Dentre os aspectos objetivos, está a exigência de espaço adequado e acolhedor, os horários disponíveis e as práticas de registro.

Para Cruz (2014), o mais importante é que todos os profissionais incluam no acolhimento a disponibilidade, uma boa escuta e a empatia com o indivíduo. Não se pode julgar a pessoa que vai até o serviço em busca de ajuda/atenção só porque é usuário de substância psicoativa ou tem outros comportamentos. Além disso, é necessário que os profissionais busquem soluções para aliviar o sofrimento deste indivíduo, sempre oferecendo um bom tratamento e escutando as suas dificuldades e necessidades. O acolhimento não tem hora para acontecer e pode ser feito por qualquer profissional desde a chegada deste indivíduo a um serviço de saúde. É uma postura ética, que vai desde a escuta do cliente, do reconhecimento das suas necessidades e do seu adoecimento, bem como com o compartilhamento de saberes. É necessário que o usuário de substância psicoativa possa evitar fatores e eventos negativos, mas antes de tudo o mesmo precisa não só identificar, mas também ter a consciência de não saber lidar com os mesmos. A partir deste reconhecimento, o usuário de substância psicoativa passa a ter um repertório maior de habilidades e estratégias para enfrentar as adversidades da vida e evitar possíveis recaídas. De acordo com Silva, Guimarães e Salles (2014, p. 1008): recaída ocorre por motivo vinculado a fatores externos e/ou internos que o usuário de substâncias psicoativas não consegue manusear e/ou enfrentar. Estão diretamente ligados à dificuldade na inter-relação com situações ambientais, falta de habilidades de enfrentamento, falta de controle pessoal e muitas vezes, da necessidade dos efeitos positivos da droga.

A recaída ocorre quando o indivíduo não consegue lidar com o que está a sua frente, seja por um problema que esteja passando ou até mesmo por conta dos sinais e/ou sintomas que surgem


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quando este interrompe o uso das substâncias psicoativas, sem saber enfrentá-los de forma positiva ou até mesmo uma falta de controle emocional. Para o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e Drogas - CEPAD (2011, p. 10), a prevenção de recaídas é: um conjunto de estratégias de autocontrole que incluem estabelecimento de metas, auto eficácia (habilidade que a pessoa tem para lidar com situações de risco sem beber ou utilizar qualquer outra droga), identificação das crenças e dos comportamentos que facilitam a manutenção do hábito e possibilidades de aprendizagem de alternativas para enfrentamento de situações que podem levar ao consumo de bebidas alcoólicas.

É preciso que antes de elaborar tais estratégias de enfrentamento, o indivíduo tenha um autocontrole e volte ao seu comportamento. Em seguida, ele precisa ter um controle de si, sobre suas ações. Depois é necessário uma avaliação para saber o que ocasionou a recaída deste indivíduo e assim educa-lo, através de conscientizações, informações sobre a adicção, recuperação, dentre outros. Outro ponto importante na prevenção é auxiliar na recuperação de forma integrada, buscando uma vida equilibrada, com a criação de hábitos saudáveis, estruturação familiar, psicológica, boas condições de moradia e emprego, construção de sólido círculo social para apoio, estabelecimento de metas alcançáveis e aprendizado para evitar situações que sejam motivos para recaídas em cada caso particular. Neste caso Sanchez (2014), diz que a prevenção de recaídas visa minimizar os impactos dessas substâncias psicoativas na vida do usuário, conscientizando este indivíduo sobre as possíveis consequências que podem ocorrer, através das estratégias elaboradas para que este tenha um autocontrole. Através dessas estratégias, o usuário pode conseguir obter uma autopercepção e a aprender a solucionar os problemas com maior facilidade. O grupo de prevenção de recaídas tem por objetivo auxiliar os pacientes a manterem os resultados obtidos no tratamento durante a prevenção de recaídas. A prevenção de recaídas pode ser definida como um programa de autogestão, que busca estimular o estágio da manutenção no processo de mudança. Busca também mudar um hábito autodestrutivo e manter a mudança, por meio da aprendizagem de comportamentos mais adaptativos e da identificação de cognições disfuncionais (ROMANINI; DIAS; PEREIRA, 2010). Os indivíduos começam a criar estratégias para lidar e/ou solucionar as situações de risco. Uma vez que esta situação é identificada, o indivíduo consegue compreender possíveis soluções e resoluções para a obtenção da gratificação.


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Se faz necessário a inserção de um Terapeuta Ocupacional nos grupos de prevenção à recaídas, pois o mesmo busca o máximo de autonomia e independência em relação as suas atividades de vida diária, tendo em vista que o usuário de substância psicoativa fica prejudicado quanto aos seus afazeres diários. O Terapeuta Ocupacional entra também na parte de conscientização deste indivíduo. O Terapeuta Ocupacional é um profissional que tem sua atuação voltada para o campo da atividade humana. Esta atividade é entendida enquanto espaço para criar, recriar e reproduzir um mundo humano, cujo processo envolve simbolismo, intenções, desejos e necessidades (BARROS, 2010). Segundo Nogueira e Pereira (2014, p. 292), “as atividades mais utilizadas pelos profissionais de Terapia Ocupacional nos atendimentos foram, em primeiro lugar, as atividades categorizadas como atividades autoexpressivas”. As atividades expressivas têm sido muito utilizadas pela prática dos Terapeutas Ocupacionais, por meio da produção teórica, nos últimos anos. A arte sempre expressou situações vividas pelo ser humano desde a antiguidade. Tem sido um caminho para o homem adaptar-se a novas situações. Possui vários significados, e ao tomar forma de conhecimento, o homem passa a compreender seus pensamentos. No início as atividades expressivas podem causar certos sentimentos como angústias, repressão, medos, por conta que muitas vezes estes sujeitos desconhecem seus próprios conflitos. A utilização de artes no processo terapêutico propicia ao cliente a possibilidade de enxergar nas atividades realizadas, os seus sentimentos, pensamentos ou situações vividas em sua vida. Tais atividades expressivas ou artísticas são uma tentativa de apresentação dos sentimentos quando a linguagem não é capaz de fazê-la, visto que a arte é sempre a criação de uma forma. As formas nas quais a arte se apresenta constituem, por sua vez, maneiras de se exprimir os sentimentos (BARROS, 2010). Quando o indivíduo não é capaz de verbalizar, as atividades expressivas são ótimas ferramentas para que este com o tempo possa exprimir os seus medos, angústias, pensamentos, alegrias e, assim passar a fazer parte de seu tratamento.


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O homem é um ser expressivo e sente a necessidade de se expressar, de simbolizar, de formar, além do que já expressa por si só em suas atividades cotidianas (BARROS, 2010). Criar significa assim estruturar e comunicar-se; integrando significados e transmitindo-lhes. No ato da criação, as pessoas buscam se aprofundarem no conhecimento das coisas e do mundo. No ato da criação, as pessoas buscam se aprofundarem no conhecimento das coisas e do mundo (MARTINS, 2012). A autora citada acima refere que (2012, p. 06): o objetivo é o crescimento pessoal, o contanto com o seu mundo sensível e o desenvolvimento emocional. No processo arte-terapêutico, a vivência artística pela criação enriquece o imaginário e colabora para o autoconhecimento, impulsionador da elaboração dos conteúdos internos e da transformação pessoal.

Através dessas atividades, o indivíduo entra em contato com o seu inconsciente e passa pelo processo de novas descobertas que até então estavam desconhecidas. Assim, ajuda no desenvolvimento do seu tratamento e, consequentemente, no seu crescimento pessoal e desenvolvimento. Para Liberman, Samea e Rosa (2011), o laboratório de atividades expressivas “trata-se de um lugar para a experimentação, para o exercício da reflexão, para o desenvolvimento da criatividade, para se entrar em contato consigo mesmo e para a realização de tarefas coletivas”. As atividades expressivas possibilitam ao indivíduo uma gama de pensamentos à cerca do momento que está passando, ou que muitas vezes não tem consciência e acabam internalizando. As oficinas expressivas são espaços em que os usuários trabalham com a expressão plástica, como a pintura, por exemplo; a expressão corporal, como a dança; a expressão verbal, com poesias, contos etc.; a expressão musical; a fotografia; e o teatro (PÁDUA, MORAIS, 2010). Para Pádua e Morais (2010), com as atividades expressivas, pretende-se promover a autonomia e aumentar o poder contratual dos indivíduos. Ao possibilitar a circulação dos usuários nos diversos territórios e agenciar formas de eles se relacionarem com um número significativo de pessoas – não outros indivíduos que são excluídos, mas também aqueles que se interessam em experimentar a arte – produz-se uma dependência de uma maior possibilidade relações e os usuários de saúde mental deixam de ser considerados suspeitos, incompreensíveis e sem afetos.


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É através da arte que os indivíduos passam a se descobrirem no mundo e com isso, passam a ter novas experiências no mundo e acabam se relacionando entre si, trocando essas mútuas experiências que até então eram desconhecidas. Assim, através da arte, os sujeitos que vivenciaram a experiência da loucura constroem novos vínculos e relações com o circuito social e incluem-se no mundo da cidadania. Amplia-se, portanto, seu universo de relações, sua circulação social e desenvolvem-se alternativas para a inserção de singularidades na sociedade (PÁDUA; MORAIS, 2010). O presente artigo tem como objetivo analisar os conhecimentos produzidos e divulgados em bases de dados científicos acerca das atividades expressivas na prevenção de recaídas junto a usuários de substâncias psicoativas (2005-2015).


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PERCURSO METODOLÓGICO

O estudo caracteriza-se por ser uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa, acerca das Atividades Expressivas na Prevenção de Recaídas junto à Usuários de Substâncias Psicoativas (2005-2015). O propósito inicial deste método de pesquisa é alcançar um entendimento baseando-se em estudos anteriores, permitindo a abreviação de diversos estudos publicados. A revisão integrativa permite a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis sobre o tema investigado, permitindo a incorporação das evidências na prática. Esse método de pesquisa tem a finalidade de reunir e permitir a síntese de múltiplos estudos publicados sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado dando suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática (ALVES; PINTO, 2013). Para Minayo (1996), a pesquisa qualitativa oferece um conhecimento mais detalhado de casos específicos dando ênfase aos significados, aspirações, valores, crenças, preocupando-se com a realidade que não pode ser definida em números. Permitiu a análise de artigos relevantes para prática da Terapia Ocupacional, possibilitando apontar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos, onde foi favorável o uso da abordagem qualitativa oferecendo um conhecimento mais detalhado do tema abordado possibilitando conclusões gerais a respeito da intervenção da Terapia Ocupacional. A pesquisa foi iniciada pela fase exploratória, que constitui num levantamento das bibliografias publicadas no período 2005 a 2015 adquiridos a partir da base de dados do campo da saúde em artigos de revistas científicas nacionais. Foi realizado um levantamento bibliográfico na biblioteca da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com artigos de internet indexados, tendo como objetivo realizar um levantamento bibliográfico com critérios de inclusão dos descritores: Atividade, Expressão, Prevenção, Recaída, Drogas. Os critérios de exclusão foram; os artigos escritos em língua estrangeira; artigos sem relação com o assunto abordado; artigos que não tinha como objeto as atividades expressivas na prevenção de recaídas junto à usuários de substâncias psicoativas. Foram encontrados 05 artigos que atendiam aos critérios estabelecidos para responder a questão geradora do estudo se as atividades expressivas ajudam na prevenção de recaídas junto a usuários de substâncias psicoativas, sendo: (01) na Revista CETO; (02) no Caderno de Terapia


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Ocupacional da UFSCAR; (01) no Scielo - Scientific Electronic; (01) nas Dissertações da Universidade de Lisboa. Para investigar o material coletado utilizou-se o método de análise integrativa numa perspectiva crítica e analítica reflexiva com abordagem qualitativa, com propósito de investigar e relatar conteúdos seguindo pelos descritores escolhidos. Para maior compreensão e clareza das informações obtidas após a leitura exploratória dos artigos na sua totalidade, análise e seleção dos mesmos, buscou-se realizar um resumo dos estudos encontrados, sendo elaborado um quadro abreviado que considerou os seguintes aspectos: fonte e ano; autores; tipo de estudo e os resultados obtidos. Tabela 1. Síntese dos artigos obtidos nas bases de dados, de acordo com fonte, ano publicação, autor, tipo de estudo e resultados obtidos. Fonte e ano

Tipo de estudo

Resultados obtidos

Descritiva, Qualitativa

A Terapia Ocupacional valoriza sobretudo a individualidade e subjetividade do indivíduo, considerando-o como um ser expressivo, criativo, lúdico, social, com capacidade de desenvolver-se para uma maior independência.

Cadernos de Terapia NOGUEIRA, Ocupacional da UFSCar, São Adriana; Carlos, Jul-Dez, v. 22, n.2, p 285- PEREIRA, Andrea. 293, 2014.

Exploratória, Descritiva.

Mostra que tais atividades expressivas oferecem ao indivíduo a oportunidade de expressar conflitos e desejos configurando-se, portanto, uma importante forma de comunicação de sua realidade interna.

Rev. Psicol. USP, São Paulo, v. 21, PÁDUA, Flávia n. 2, p. 457-478, Abr-Jun 2010. Helena; MORAIS,

Revisão Integrativa, Qualitativa

Pretende fazer uma reflexão crítica de como as atividades expressivas podem ser ferramentas para reinserção dos usuários de saúde mental na sociedade e sobre as atividades artísticas realizadas nos serviços de saúde mental e nos diversos espaços sociais. O laboratório de atividades expressivas trata-se de um lugar para a experimentação, para o exercício da reflexão, para o desenvolvimento da criatividade, para se entrar em contato consigo mesmo e para a realização de tarefas coletivas.

Revista CETO, ano 12, n. 12,

Autor BARROS, Márcia.

2010.

Mª de Lima.

Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 19, n.1, p. 81-92, JanAbr, 2011.

LIBERMAN, Flávia.; SAMEA, Marisa.; ROSA, Soraya.

Descritiva, Qualitativa.


16 Tese - Universidade de Lisboa, MARTINS, Faculdade Belas Artes, 2012. Daniela.

Teórico Conceitual; Através das várias formas expressivas das Histórica e Estudo de artes, a pessoa comunica e explora os seus Caso. sentimentos. O desenvolvimento criativo leva o indivíduo a romper resistências e a reconhecer suas próprias capacidades, o que se traduz em sentimentos de maior autoestima e bem estar.

RESULTADOS E DISCUSSÕES O consumo de drogas se dá através das influências das variáveis ambientais, biológicas, psicológicas e sociais, fazendo com o que o indivíduo tenha a interação entre o agente droga, o indivíduo, o meio, a sociedade, bem como os contextos socioeconômicos e culturais. Para Gabatz, Johann, Gomes et. al (2013), as possíveis razões para o início do uso de drogas podem ser o surgimento de uma oportunidade da escolha pela experimentação por parte da pessoa, o poder de transformar as emoções que a droga possibilita, a influência do grupo no consumo, tentativas de minimizar sofrimentos e sentimentos como solidão, baixa autoestima ou falta de confiança. O uso indiscriminado de drogas constitui um fenômeno complexo. O dependente diante das dificuldades cotidianas encontra na droga um meio quimicamente efetivo de superar a sua fragilidade e, supostamente, impedir a desestabilização do seu ego. A dependência química pode causar a baixa qualidade de vida, que segundo Meyer, Souza, Silveira et. al (2013, p. 2002), “é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. A qualidade de vida é essencial para que o ser humano possa medir suas condições que contribuem para o bem físico e espiritual em sociedade. Quando há a dependência química esses indivíduos acabam ficando marginalizados, prejudicados, principalmente, nas suas atividades de vida diária (AVD’s). Na citação abaixo, Meyer, Souza, Silveira et. al (2013, p. 2002) relatam sobre a qualidade de vida no processo de tratamento: existem diversas pesquisas sobre sua importância no processo de tratamento, pois certas atividades e avaliações promovem nos dependentes maior controle da ansiedade, autoestima e autoimagem positivas e responsabilidade social, levando à melhor qualidade de vida.


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Sendo assim Gabatz, Johann, Gomes et. al (2013) relatam que, reconhecer o consumidor, suas características e necessidades, exige a busca de novas estratégias de contato e de vínculo com ele e seus familiares, para que se possa desenhar e implantar múltiplos programas de prevenção, educação, tratamento e promoção adaptados às diferentes necessidades Por isso, é de grande relevância que este indivíduo possa aderir aos programas de tratamento que estão a sua volta, principalmente os atendimentos nos CAPS-ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas). Os CAPS-ad foram implantados após a Reforma Psiquiátrica que pretende modificar o sistema de tratamento do doença mental, bem como dar suporte aos usuários de substâncias psicoativas, eliminando gradualmente a internação como forma de exclusão social. Este modelo seria substituído por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, visando a integração da pessoa que sofre de transtornos mentais e dependência química à comunidade. Segundo Barros (2010, p. 65), entre os objetivos do CAPS destacam-se: tratar transtornos, psicogênicos e/ou organogênicos, cristalizados sob forma clinicamente reconhecida de doença mental; oferecer contenção para crises psicológico/psiquiátricas, além de indicativos de crescimento pessoal a partir delas; prevenir hospitalismo, desamparo e outras formas de alheamento, garantindo permanência dos vínculos sociais; prevenir rotulação, estigma e cronificação; estimular redimensionamento crítico das relações com família, trabalho, vizinhança, sexualidade e política; apoiar a promoção de cidadania e a construção coletiva da qualidade de vida; supervisionar atividades de saúde mental comunitária, desenvolvidas na atenção primária; oferecer retaguarda às internações em leitos psiquiátricos de hospital geral.

Os CAPS tem por obrigação oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico, bem como a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Convidam o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento.

Logo, para ser atendido no CAPS, pode-se procurar diretamente esse serviço ou ser encaminhado pelo Programa de Saúde da Família ou por qualquer serviço de saúde. A pessoa também pode ir sozinha, mas na maioria dos casos é levada pela família, devendo ser acolhida em seu sofrimento a fim de construir um vínculo terapêutico e de confiança entre o profissional e o indivíduo que procura o serviço. Posteriormente é traçado um projeto terapêutico individual,


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construído de forma estratégica para atender as atividades de maior interesse para eles, respeitando o contexto em que estão inseridos, e atendendo também as suas necessidades.

O usuário neste momento também se compromete a cooperar com o tratamento, seguindo as prescrições médicas, participando de oficinas culturais, grupos terapêuticos, atividades esportivas, oficinas expressivas (dança, técnicas teatrais, pintura, argila, atividades musicais), oficinas geradora de renda (marcenaria, cerâmica, bijuterias, brechó, artesanato em geral), e oficinas de alfabetização o que possibilita exercitar a escrita e a leitura, como um recurso importante na (re)construção da cidadania. Oferece atividade de suporte social, grupos de leitura e debate, que estimulam a criatividade, a autonomia, e a capacidade de estabelecer relações interpessoais impulsionando-os à inserção social. Essas oficinas podem contar com a participação da família e da comunidade, que são muito importantes para o processo de reabilitação e reinserção das pessoas portadoras de transtorno mental e dependentes químicos, pois produzem um grande e variado conjunto de relações de troca, reforçando os laços sociais e afetivos e proporcionando maior inclusão social desses membros.

Alguns CAPS-ad funcionam 24h na cidade de Fortaleza- CE. Existe um CAPS nesse formato no qual oferecem atendimento à população, realizam o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os CAPS também atendem aos usuários em seus momentos de crise, podendo oferecer acolhimento noturno por um período curto de dias; apoia usuários e famílias na busca de independência e responsabilidade para com seu tratamento. É por essas razões que as políticas públicas de saúde mental visam elaborar leis que contribuam para a melhoria no atendimento dos serviços e benefícios para os usuários, transformando aquilo que é individual em ações coletivas, garantindo assim seus direitos sociais. Consoante Gabatz, Johann, Gomes et. al (2013, p. 521): a legislação brasileira, por meio da Lei 11.343/06, criou o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (SISNAD), que busca articular as atividades desenvolvidas pelos profissionais da saúde, integrando e coordenando programas de prevenção,


19 promoção, tratamento e reinserção social de usuários de álcool e outras drogas, assim como a repressão ao tráfico.

A partir do tratamento é interessante que o usuário de substâncias psicoativas possa evitar fatores e eventos negativos, mas antes de tudo o mesmo precisa não só identificar, mas também ter a consciência de não saber lidar com os mesmos e isso ele passa a aprender quando procura ajuda de profissionais e cria um vínculo dentro do processo terapêutico. A partir deste reconhecimento, o usuário de substância psicoativa tem um repertório maior de habilidades e estratégias para enfrentar as adversidades da vida. O usuário de substância psicoativa pode apresentar recaída, mesmo estando em um tratamento, pois no momento em que se encontra sem o uso das substâncias psicoativas, uma série de sinais e/ou sintomas desconfortáveis podem surgir, como: ansiedade; sensação de vazio; irritabilidade; dentre outros. Silva, Guimarães e Salles (2014, p. 1008) afirmam que: a adesão ao tratamento da dependência química é norteada por vários desafios, sendo que na maioria das vezes, este é interrompido pelo retorno ao uso da droga, caracterizando assim, a recaída. Baixa adesão e falta de motivação para o tratamento acarretam altas taxas de recaídas, indicando quadro preocupante. Primeiros dias de tratamento do usuário de substâncias psicoativas são mais difíceis devido às crises de abstinência, sendo que através da observação, acompanhamento e análise de recaídas de dependentes ao longo do tempo, é possível verificar que a estabilização de ocorrências de episódios de recaídas começa acontecer aproximadamente 90 dias após início da abstinência. A recaída, com passar do tempo, torna-se fator recorrente durante a vida dos usuários, pois são raros os dependentes, que conseguem permanecer abstinentes após uma única tentativa de abandonar as substâncias psicoativas.

Quando o usuário de substância psicoativa tem o interesse em participar ativamente do processo de tratamento, contribuindo para a retirada das substâncias, este sim apresenta poucas chances de recaída. Diferentemente quando o indivíduo possui falta de motivação, baixa autoestima, sem interesse em melhoras e acaba tendo a recaída. A recaída ocorre principalmente, quando surgem os sintomas de abstinências que são desconfortáveis, como: ansiedade; sudorese; tremores, dentre outros. Assim, vale ressaltar o que Kantorski, Lisboa, Souza (2005, p. 05) diz: “depreende-se que o profissional deve ser preparado para influenciar a motivação do paciente, pois a motivação reflete o grau de envolvimento e/ou aderência ao tratamento e, consequentemente, aponta para a possibilidade ou não de mudança”.


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No entanto, é necessário que o profissional que está atendendo este usuário tenha motivação ao falar, ao conscientizar, ao aplicar técnicas de atividades que ajudem no tratamento do paciente, para que o mesmo possa ter uma boa aderência. Neste caso, Sanchez (2014) coloca que a prevenção de recaídas visa minimizar os impactos dessas substâncias psicoativas na vida do usuário, conscientizando este indivíduo sobre as possíveis consequências que podem ocorrer, através das estratégias elaboradas para que este tenha um autocontrole. Através dessas estratégias, o usuário pode conseguir obter uma autopercepção e a aprender a solucionar os problemas com maior facilidade. O grupo de prevenção de recaídas tem por objetivo auxiliar os pacientes a manterem os resultados obtidos no tratamento. A prevenção de recaídas pode ser definida como um programa de autogestão, que busca estimular o estágio da manutenção no processo de mudança (ROMANI; DIAS; PEREIRA, 2010). O Terapeuta Ocupacional, por ser um profissional da área da saúde que trabalha no campo da atividade humana com ocupações significantes pode trabalhar com usuários de substâncias psicoativas, objetivando a prevenção de recaída do mesmo, através de atividades expressivas dentro dos CAPS-ad (Cento de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas). Barros (2010, p. 66) coloca que: tais atividades expressivas ou artísticas são uma tentativa de apresentação dos sentimentos quando a linguagem não é capaz de fazê-la, visto que a arte é sempre a criação de uma forma. As formas nas quais a arte se apresenta constituem, por sua vez, maneiras de se exprimir os sentimentos.

As atividades expressivas são formas de comunicação quando o sujeito não é capaz ou por outros motivos não tem a linguagem para dizer o que sente. É uma forma de liberar sentimentos que muitas vezes são desconhecidos. Nogueira e Pereira (2014, p. 287) analisam que: as atividades dão forma e estrutura ao fazer das pessoas, estabelecendo um sistema de relações que envolvem a construção da qualidade da vida cotidiana. E a qualidade da vida cotidiana nada mais é que a percepção subjetiva do sujeito sobre seu bem-estar e suas condições de vida.


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Quando o indivíduo começa a se exprimir, consequentemente ele vai tomando conta da sua consciência e interagindo com o meio e com a construção de sua atividade. Isso proporciona um bem estar nesse indivíduo que muitas vezes encontra-se em momento de angústias. Segundo Pádua e Morais (2010, p. 468) “a arte é um importante instrumento de inclusão e de produção de novas subjetividades. O que se propõe nas oficinas expressivas, portanto, é a criação de novos mundos, outras formas de se experimentar o viver”. É uma forma de elaboração do inconsciente do que o usuário passou em sua vida. Através das atividades expressivas, o Terapeuta pode focar mais no íntimo do usuário. Além disso, com as atividades expressivas o indivíduo age de acordo com suas necessidades e interesses de momento. Dá ao indivíduo possibilidades de comunicação por gestos e posturas, tendo como característica comum a intenção explicita de expressão e comunicação por meio dos gestos. O corpo é a expressão de uma conduta e, ao mesmo tempo, criador de seu sentido a partir de uma intenção que se esboça e reclama a sua complementação. Antes da expressão há apenas uma ausência determinada que o gesto ou a linguagem procura preencher e completar. As oficinas expressivas são uma das ferramentas contra hegemônicas que podem promover uma ruptura da exclusão daqueles que são considerados diferentes. Busca-se que, através de experimentações artísticas escolhidas pelos participantes, haja uma identificação do sujeito no fazer e em um trabalho criativo e satisfatório. Assim, a arte é um importante instrumento de inclusão e de produção de novas subjetividades. O que se propõe nas oficinas expressivas, portanto, é a criação de novos mundos, outras formas de se experimentar o viver (PÁDUA; MORAIS, 2010).


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho permitiu identificar que as substâncias psicoativas é um enorme e constante problema de saúde pública que existe desde a antiguidade para fins de diversão; lazer; alívio de sofrimento; dentre outros. É preciso identificar esse indivíduo, acolher e investigar seus contextos a fim de inseri-lo em um programa de tratamento, através de grupos de prevenção à recaídas, principalmente nos CAPS, tendo um olhar e uma escuta mais adequada junto com os demais profissionais da equipe, visando o vínculo no processo terapêutico, bem como, a melhora do mesmo.

As atividades expressivas nos grupos de prevenção à recaídas funcionam como uma liberação de sentimentos, pois muitas vezes esse usuário internaliza seus desejos, vontades e emoções, buscando na droga efeitos positivos para viver a vida.

Com o uso das atividades expressivas, estes usuários experimentam o mundo da criação, comunicando-se, integrando-se e dando sentido a sua vida. É um tema que merece um olhar e uma pesquisa mais aprofundada, tendo em vista que os usuários de substâncias psicoativas estão aumentando.

Como não há muitos trabalhos científicos sobre as atividades expressivas na prevenção de recaídas junto a usuários de substâncias psicoativas e por considerar importante uma reflexão de como essas atividades podem ser ferramentas para a reinserção dos usuários de saúde mental na sociedade, para promover a desinstitucionalização e para a produção de novas subjetividades, são necessários estudos aprofundados a respeito do assunto.


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Contribuição dos Autores Juliana Lemos Duarte Jorge participou da coleta, análise exploratória e seleção dos artigos, bem como da redação do artigo. Edyr Marcelo Costa Hermeto participou como orientador, colaborou no desempenho do estudo, análise e correção do documento, como também na revisão crítica.

CADERNO DA UFSCAR Diretrizes para Autores APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS Os originais devem ser encaminhados aos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar por meio eletrônico no site: www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br FORMATO Textos em português, inglês ou espanhol, digitados em arquivo do programa Microsoft Word 2007 ou posterior, papel tamanho A4, margens de 2,5 cm, espaço 1,5, letra Times New Roman 12. Todos os parágrafos devem começar na coluna 1, sem tabulação. Os artigos submetidos deverão atender aos critérios de estruturação para a sua apresentação e de acordo com as diretrizes apontadas a seguir. É sugerido aos autores que façam um checklist quanto à estrutura do artigo antes de submetê-lo ao periódico. Os artigos que não atenderem aos itens mencionados serão devolvidos aos autores para adequação anteriormente à avaliação pelos Revisores ad hoc. Seguem abaixo as diretrizes para elaboração da: 1) Folha de Rosto e 2) Estrutura do Texto. Folha de rosto- Abrange as seguintes informações: título, autores, contato do autor responsável (endereço institucional) e fonte de financiamento. Título: Conciso e informativo. Em português e inglês. Quando o texto for apresentado em espanhol, o título deve ser apresentado nos três idiomas (espanhol, português e inglês). Informar, em nota de rodapé, se o material é parte de pesquisa e/ou intervenção. No caso de pesquisas envolvendo seres humanos, indicar se os procedimentos éticos vigentes foram cumpridos. No caso de análise de intervenções, indicar se todos os procedimentos éticos necessários foram realizados. Informar, ainda, se o texto já foi apresentado em congressos, seminários, simpósios ou similares. Autores: Nome completo e endereço eletrônico do(s) autor(es). Informar maior grau acadêmico, cargo e afiliação institucional de cada autor (instituição, cidade, unidade da federação, país).


26 Contato: Indicar autor responsável pela comunicação com a revista. Nome completo, endereço institucional (instituição, rua, CEP, cidade, unidade da federação, país), endereço eletrônico e telefone para contato. Fonte de Financiamento: O(s) autor(es) deverá(ão) informar se o trabalho recebeu ou não financiamento. Agradecimentos: Se houver, devem vir ao final das referências. Contribuição dos autores: O(s) autor(es) deve(m) definir a contribuição efetiva de cada um no trabalho. Indicar qual a colaboração de cada autor com relação ao material enviado (i.e.: concepção do texto, organização de fontes e/ou análises, redação do texto, revisão etc.). O(s) autor(es) deverá(ão) dispor em nota de rodapé a afirmação de que a contribuição é original e inédita e que o texto não está sendo avaliado para publicação por outra revista. Estrutura do Texto- Resumo e Abstract: Devem refletir os aspectos fundamentais dos trabalhos, com no mínimo 150 palavras e, no máximo, 250. Preferencialmente, adotar explicitação da estrutura do trabalho, com colocação de subtítulos (Introdução, Objetivos, Métodos, Resultados/Discussão e Conclusões). Devem preceder o texto e estar em português e inglês. Palavras-chave: De três a seis, em língua portuguesa e inglesa, apresentadas após o resumo e após o abstract, respectivamente. As palavras-chave deverão vir separadas por vírgulas. Consulte o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde – http://decs.bvs.br) e/ou o Sociological Abstracts. Tabelas: Devem estar citadas no texto através de numeração crescente (ex.: tabela 1, tabela 2, tabela 3) e apresentar legenda numerada correspondente à sua citação. As tabelas deverão ser apresentadas em formato editável (indica-se, preferencialmente, o uso do programa Microsoft Word 2007 ou posterior para preparação e envio das tabelas em formato .doc). Tabelas devem estar também devidamente identificadas e em escala de cinza. As tabelas devem estar inseridas no texto, em formato editável, e não ao final do documento, na forma de anexos. Todo quadro deve ser nomeado como tabela. Figuras: As figuras (diagramas, gráficos, imagens e fotografias) devem ser fornecidas em alta resolução (300 dpi), em JPG ou TIF, coloridas e em preto e branco, e devem estar perfeitamente legíveis. Toda figura deve estar citada no texto através de numeração crescente (ex.: figura 1, figura 2, figura 3) e deve apresentar legenda numerada correspondente. As figuras devem estar inseridas no texto, em formato editável, e não ao final do documento, na forma de anexos. Todo diagrama, gráfico, imagem e/ou fotografia deve ser nomeado(a) como figura. Citações e Referências- Citações no texto: Quando o nome do autor estiver incluído na sentença, deve estar grafado com as iniciais maiúsculas e com a indicação da data. Ex: Segundo Silva (2009). Se o nome do autor vir entre parênteses, esse deve estar grafado em letras maiúsculas. Quando houver mais de um autor, os nomes devem estar separados por ponto e vírgula. Ex: (SILVA; SANTOS, 2010). Se os autores estiverem incluídos no corpo do texto/sentença, os nomes deverão vir separados pela letra “e”. Ex: Segundo Amarantes e Gomes (2003); Lima, Andrade e Costa (1999). Quando existirem mais de três autores em citações dentro ou fora dos parênteses, deve-se apresentar o primeiro autor seguido da expressão “et al.”. Toda a bibliografia utilizada e citada no texto deverá, obrigatoriamente, estar na lista de referências, assim como toda a lista de referências deverá estar citada no texto. As citações diretas (transcrição textual de parte da obra do autor consultado) com menos de três linhas devem ser inseridas no corpo do texto entre aspas duplas; as citações diretas com mais de três linhas devem ser destacadas do texto com recuo de 4 cm da margem esquerda, com o tamanho da fonte um ponto menor que o da fonte utilizada no texto e sem aspas (nesses casos é necessário especificar na citação a(s) página(s) da fonte consultada). Referências: Os autores são responsáveis pela exatidão das referências citadas no texto. As referências deverão seguir as normas da ABNT NBR 6023/2002. Ao


27 final do trabalho, as referências devem ser apresentadas e ordenadas alfabeticamente, conforme os exemplos: Livro: CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. Capítulo de livro: CASTRO, E. D.; LIMA, E. M. F. A.; BRUNELLO, M. I. B. Atividades humanas e terapia ocupacional. In: DE CARLO, M. M. R. P.; BARTALOTTI, C. C. Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus, 2001. p. 41-59.

Artigo de periódico: LOPES, R. E. Terapia ocupacional em São Paulo: um percurso singular e geral. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 12, n. 2, p. 75-88, 2004. Tese: MEDEIROS, M. H. R. A reforma da atenção ao doente mental em Campinas: um espaço para a terapia ocupacional. 2004. 202 f. Tese (Doutorado em Saúde Mental) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004. Documentos eletrônicos: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades@: São Carlos. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 21 jun. 2008. Registro de ensaios clínicos- O periódico Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde – OMS e do International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE, reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos em acesso aberto. Sendo assim, quando se tratar de pesquisa clínica, somente serão aceitos para publicação os artigos que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (http://www.icmje.org/faq_clinical.html). O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. Revisão Ortográfica- Após a fase de apreciação, os textos aprovados serão submetidos à revisão de língua portuguesa (todo o texto) e inglesa (versão do título, das palavras-chave e do resumo), sendo que o(s) autor(es) do artigo deverá(ão) arcar com o custo desse trabalho. Justifica-se a elaboração de revisão ortográfica para a garantia da habilidade de comunicação escrita dos textos a serem publicados e a sua leitura pelo público nacional e internacional. Condições para submissão- Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verificar a conformidade da submissão em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidas aos autores. A contribuição é original e inédita e não está sendo avaliada para publicação por outra revista; O arquivo da submissão está formatado, apenas, pelo programa Microsoft Word 2007 ou posterior e os trabalhos enviados à revista em formato .doc editável; URLs para as referências foram informadas quando possível; O texto está em espaço 1,5; usa fonte Times New Roman tamanho 12; emprega itálico em vez de sublinhado (exceto em endereços URL); as figuras e tabelas estão inseridas no texto, não no final do documento na forma de anexos; O texto segue os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em Diretrizes para Autores, na página Sobre a Revista; Todas as referências seguem as instruções e modelos apresentados; Não há identificação no corpo do texto que comprometa a Avaliação Cega por Pares. Declaração e Transferência de Direitos Autorais - No momento da submissão do artigo, os autores devem encaminhar a Declaração de Responsabilidade, Conflito de Interesse e Transferência de Direitos


28 Autorais segundo modelo abaixo, assinada por todos os autores. Declaração de Responsabilidade, Conflito de Interesse e Transferência de Direitos Autorais

Título do trabalho: Certifico que participei da concepção do trabalho para tornar pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo, bem como que apresentei as informações pertinentes sobre as fontes de recursos recebidos para o desenvolvimento da pesquisa. Afirmo não haver quaisquer ligações ou acordos entre os autores e fontes de financiamento que caracterizem conflito de interesse real, potencial ou aparente que possa ter afetado os resultados desse trabalho. Certifico que quando a pesquisa envolveu experimentos com seres humanos houve apreciação e aprovação de Comitê de Ética de instituição pertinente e que a divulgação de imagens foi autorizada, assumindo inteira responsabilidade pela mesma. Certifico que o texto é original e que o trabalho, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro material de minha autoria com conteúdo substancialmente similar não foi enviado a outro periódico, no formato impresso ou eletrônico. Atesto que, se solicitado, fornecerei ou cooperarei totalmente na obtenção e fornecimento de dados sobre os quais o texto está baseado, para exame dos editores. Nome completo do(s) autor(es) e assinatura: Termo de Concordância com Licença de Acesso Aberto O(s) Autor(es) deverá(ão) enviar o Termo de Concordância com Licença de Acesso Aberto assinado (por todos), conforme o modelo abaixo: O periódico Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar é publicado conforme o modelo de Acesso Aberto e optante dos termos da licença Creative Commons BY-NC (“atribuição uso não-comercial”, disponível no site http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/). Nós, Autores do artigo “TÍTULO” abaixo assinados, declaramos que lemos e concordamos com os termos da licença acima. Nome completo do(s) autor(es) e assinatura: Nome completo, Data, Assinatura Política de Privacidade- Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.



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