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Nossa maior riqueza ĂŠ a vida.
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PA L AVR A DA P RESIDENTE
O Hospital Nosso Lar nasceu no seio da obra social espírita, fundada pelo casal Antônio Leite de Araújo Filho e Maria José Leite de Araújo, denominada Nosso Lar Instituição de Amparo à Criança e à Adolescência ou simplesmente – NOSSO LAR, em 1948. O hospital foi idealizado com duplo objetivo: ajudar na sustentabilidade da Casa de Amparo à Criança e oferecer à população um estabelecimento capaz de acolher, tratar e cuidar de pessoas que passam por transtornos mentais. Foi assim que surgiu, em 12 de maio de 1968, a Casa de Repouso Nosso Lar; atualmente Hospital Nosso Lar, parte integrante da Instituição Espírita Nosso Lar. Ao longo do tempo o Hospital Nosso Lar cresceu sem cessar, sempre melhorando em estrutura, processos, serviços e atendimento, graças ao conjunto de pessoas altamente qualifi-
cadas e dedicadas ao trabalho, ao zelo e aos cuidados com os pacientes. Hoje, com 50 anos de história, o Hospital Nosso Lar segue se aprimorando cada vez mais e ousando no desenvolvimento de novos projetos; e para isso conta com a colaboração de mais de 350 profissionais, dentre médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educador físico, odontólogo, nutricionistas, farmacêuticos e técnicos de serviços essenciais, atuando em suas duas Unidades: André Luiz e Bezerra Monteiro. Somos conveniados com o poder público para atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde SUS e com operadoras de planos de saúde, dentre elas: Assefaz, Cafaz, Cassi, Camed, Saúde Caixa, Unimed, Fusex, entre outros. Prosseguindo na sua trajetória de progressão e profissionalismo, o Hospital Nosso Lar apresenta ao mundo, com muita honra e alegria, a HNL - A Revista de Saúde Mental do Hospital Nosso Lar. A nossa revista amplia a comunicação entre a sociedade em geral e o avanço contínuo das atividades, equipamentos e métodos voltados para o tratamento da saúde mental. Além de trazer informações e atualizações relevantes para o público, temos a convicção de que a HNL - A Revista de Saúde Mental do Hospital Nosso Lar será um excelente instrumento de colaboração para a divulgação de estudos científicos e pesquisas realizadas no seu campo de atuação. Agradecemos a todos aqueles que se empenharam, sem medir esforços, na concretização de mais um projeto, o lançamento da HNL - A Revista de Saúde Mental do Hospital Nosso Lar. Feliz natal! E que o ano vindouro seja repleto de prosperidade, paz e saúde! São os votos de todos nós que fazemos o Hospital Nosso Lar. LUZIA BASTOS - PRESIDENTE DA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA NOSSO LAR - IENL
E X PE DIE N T E Jornalista Responsável: Rita Brito (MTb 1749)
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Design e Diagramação: Thiago Arcoverde
Revisão Científica:
Revisão: Juliana Gurgel
Edyr Marcelo Costa Hermeto
Fotografo: Davi Holanda
Nágela Maria da Silva
S U MÁ R IO
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Suicídio: Precisamos falar sobre.
Brincadeiras perigosas: elas não tem nenhuma graça.
50 anos Hospital Nosso Lar.
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ARTIGO: PERFIL DE USUÁRIOS DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS ATENDIDAS NO SETOR DE TERAPIA OCUPACIONAL NO HOSPITAL NOSSO LAR.
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ARTIGO: AÇÃO EDUCATIVA EM SAÚDE: CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O CÂNCER DE PRÓSTATA EM PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL.
ARTIGO: INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL A FAMÍLIA DE SUJEITOS COM TRANSTORNOS MENTAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.
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ARTIGO: INTERVENÇÃO DE TERAPIA OCUPACIONAL A UMA PESSOA SURDA COM TRANSTORNO MENTAL EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
ARTIGO: A INTERFACE DA ARTETERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL NOS PROCESSOS DE CRIATIVIDADE DOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
O que leva um ser humano a dar fim ao que lhe é (ou deveria ser) mais valioso... sua própria existência?
Entrevista com Paulo Picanço por Rita Brito
Psiquiatra, membro titular da Academia Cearense de Medicina e psiquiatra com mais de 50 anos de atuação na área de saúde mental. 6
O assunto ainda é visto como tabu, mas apenas com o debate aberto em sociedade, é possível desmistificar o assunto e reforçar ações de prevenção. A gente começa esta reportagem com uma pergunta: - Você conhece alguém que cometeu suicídio? Trata-se de uma medida extrema, em que a pessoa quer acabar com um grande sofrimento e não necessariamente com a própria vida. Primeiramente é necessário entender o que há em comum entre as pessoas que cometem suicídio. De acordo com o especialista, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) esclarecem que entre 95 e 98% dos suicídios são praticados por pessoas que passam por transtornos mentais. Apenas cerca de 2 a 4% dos casos envolvem pessoas que nunca tiveram diagnóstico de doença mental. Ainda segundo Paulo Picanço, são 4 os principais transtornos mentais que levam ao suicídio: a depressão maior, a esquizofrenia, e as dependências em álcool e drogas. E a quantidade de registros tem sido alarmante, tanto que a situação precisa ser encarada como um problema de saúde pública. Apenas em 2016, pontua o especialista, foram registrados mais de 800 mil suicídios em todo o mundo. Nenhuma classe social escapa ao problema, que atinge principalmente os homens. Eles responderam por 75% dessa triste estatística e as mulheres por 25% dos casos. Os dados também são da OMS. De acordo com o especialista, cerca de 14% dos pacientes que sofrem com transtornos mentais acabam atentando contra a própria vida. E os registros vêm ocorrendo cada vez mais em pessoas jovens, muitas vezes ainda crianças, ressalta
Picanço. Já em relação aos dados internacionais, os suicídios são registrados, principalmente, entre os adultos jovens, entre 25 e 35 anos. “Acredito que é porque é na faixa etária em que a pessoa está se inserindo no processo social, independência familiar, financeira, econômica e profissional. E, às vezes, a pessoa não atinge esse nível de realização e entra em um processo de depressão e de fracasso, sentimento de culpa”, afirma o especialista. Nesse contexto, é muito importante diferenciar o sentimento de tristeza da depressão. “Depressão é a aquele estado em que a pessoa leva mais de 15 dias, 30 dias, em processo de falta de estímulo pela vida, sentimento de desvalia, sentimento de fracasso, de culpa, de falta de perspectiva na vida, desilusão. Sentimento, principalmente, de que a vida não vale mais a pena”, enfatiza Picanço. Ele explica ainda que, além de ser grave, a depressão é uma doença que tem fundo genético hereditário e fundo biológico neuro-químico. “Na depressão, nós vemos uma deficiência nos mecanismos de serotonina e de dopamina, principalmente. E alterações de noradrenalina, que são os 3 principais neurotransmissores cerebrais que estão presentes nos transtornos mentais”, explica. Picanço ressalta ainda que existem depressões que são só episódicas. Mas a chamada depressão maior, ou depressão bipolar, é mais severa, devendo o paciente se submeter a tratamento médico e medicamentoso por toda a vida. Em casos assim, cuidar do paciente com remédios, mas sem tratamento psicológico mostra-se insuficiente. O mesmo vale para pacientes com esquizofrenia. 7
“A esquizofrenia tem também esse fundo hereditário, biológico, neuro-químico. Em que ocorre uma alteração principal da dopamina cerebral. O excesso de dopamina gera excitação, alucinações, delírios. A pessoa sai do contexto da realidade”, explica Paulo Picanço. Já em relação aos transtornos mentais causados pelo uso de álcool e drogas, o especialista é taxativo: “o que nós sabemos é que, a maioria das pessoas que procura álcool e drogas, procura para se medicar, entre aspas, das suas dificuldades emocionais. Tentando encontrar no álcool a alegria que ele não encontra na vida, o estímulo, as amizades que ele passa a ter em função do álcool. E das drogas também”, conclui.
BUSCAR AJUDA É A MELHOR SAÍDA Depois que o transtorno mental é percebido, o mais indicado é não esperar uma crise mais grave para buscar ajuda. Mas, infelizmente, não é isso o que acontece. De acordo com Picanço, uma pesquisa americana revelou que, em média, uma pessoa leva dois anos sofrendo com sintomas de doença mental antes de procurar um psiquiatra. E essa não é a única questão. Muitas vezes, a procura inicial é por médicos como clínicos gerais e neurologistas. Por traz de tudo isso, ainda impera uma forte carga de preconceito. “As pessoas resistem a isso, muitos só vão ao serviço de psiquiatria quando entram em uma crise maior, que a família traz às vezes de forma tempestiva, ou às vezes unidades policias trazem aquela pessoa completamente fora do seu controle”, pontua. Para o especialista, o ideal seria que a população usasse os serviços de assistência preventivamente. 8
AOS POUCOS, OS AVANÇOS CHEGAM Apesar do cenário ainda preocupante, o psiquiatra Paulo Picanço faz questão de lembrar os avanços que têm sido obtidos em relação a problemas psicológicos, muitas vezes identificados ainda na infância. Ele ressalta que hoje já existem serviços de saúde mental que tentam atuar de forma preventiva. Essa preocupação pode ser vista em muitas escolas, que dispõem de setor de psicologia, para onde são encaminhados casos relacionados a déficit de atenção e dificuldade de aprendizagem, por exemplo. Várias indústrias também já incorporaram o profissional de psicologia em seus quadros. O problema é que, muitas ações necessárias, esbarram na falta de financiamento, como explica o especialista. De acordo com ele, a OMS prevê um gasto diário em saúde de 6 reais por habitante no Brasil. Mas hoje, esse gasto diário só é de 2 reais. A falta de leitos para pacientes com transtornos mentais também preocupa o especialista. De acordo com ele, depois da reforma psiquiátrica, os leitos caíram de cerca de 120 mil para apenas 20 mil. “Deveríamos ter, no Ceará, 1.300 leitos em hospitais gerais ou somando com psiquiátricos. Desses 1.300, só temos em torno de 700 leitos”, afirma. Os desafios são enormes, mas o trabalho dos profissionais segue em meio à adversidade. Quem sabe, no futuro, quando alguém perguntar a você aquele questionamento que fizemos no início da reportagem, sua resposta seja um belo e aliviado “não”. Assim esperamos.
“O suicídio é o recurso que a pessoa usa pra se livrar do sofrimento, que é grande. Sentimento de desesperança, de fracasso e de culpa. O deprimido, mesmo sem ter culpa, se julga culpado de estar sendo impotente pra ter a felicidade ou alegria que os outros têm. Então ele termina decretando pra ele mesmo a pena de morte, que é a pena que nem existe no Brasil”.
Saiba onde encontrar ajuda em Fortaleza
Centro de Atenção Psicossocial (Caps) São 15 ao todo e integram a rede municipal de atendimento. Endereços estão disponíveis em catalogodeservicos.fortaleza.ce.gov.br/categoria/ saúde/serviço/321 Centro de Valorização da Vida ( CVV) Atendimento voluntário via telefone ou internet. Funciona 24 horas, oferecendo acolhimento emocional gratuitamente pelo número 188. Já o site pode ser acessado pelo seguinte endereço: www.cvv.org.br Instituto Dimicuida www.institutodimicuida.org.br Instituto Bia Dote www.institutobiadote.org.br Projeto 4 Varas www.varas.com.br Programa de Apoio à Vida ( Pravida /UFC) Projeto de extensão da faculdade de medicina da UFC. Oferece atendimento gratuito, além de promover capacitações e pesquisas sobre suicídio. Mais informações: 984005672. 9
Brincadeiras perigosas: elas não tem nenhuma graça. Entrevista com Fabiana Vasconcelos por Rita Brito
Responsável pela gestão dos programas de prevenção e educação do Instituto Dimicuida. 10
Nunca foi tão importante conversar com crianças e adolescentes sobre os riscos dessas práticas. Reforçar o diálogo em casa é fundamental para evitar mortes O ano era 2014. Dimitri tinha 16 anos, muitos sonhos e bom relacionamento com os amigos e a família. Mas, inesperadamente, os pais dele o perderam. A morte foi tida como duvidosa, passou por uma investigação e, no meio do sofrimento, chegou-se ao chamado “jogo do desmaio”. O jogo do desmaio é uma das tantas brincadeiras consideradas perigosas que crianças e adolescentes praticam não só aqui no Brasil, mas em várias partes do mundo. Os tipos são variados: além do jogo do desmaio, há inúmeros desafios do desodorante, da camisinha, da canela... Todos esses desafios têm algo em comum: são jogos que provocam a não-oxigenação do cérebro e podem ser fatais. Depois da morte do adolescente Dimitri, na capital cearense, o assunto, ainda bastante desconhecido pelo público em geral, motivou a família do jovem a criar o Instituto Dimicuida. O objetivo é nobre: trazer informação correta sobre o assunto e alertar sobre riscos e formas de prevenção. De acordo com Fabiana Vasconcelos, responsável pela gestão dos programas de prevenção e educação do Instituto Dimicuida, alguns poucos corpos têm uma sensação prazerosa com a não-
-oxigenação que as brincadeiras perigosas provocam. Mas, de fato, o que ela causa é a morte de neurônios e o enfraquecimento cardiorrespiratório. Segundo Fabiana, a busca do jovem geralmente não é o desmaio, mas sim a euforia ou o relaxamento que chega um pouco antes.
PERIGOS E CONSEQUÊNCIAS DOS JOGOS DE NÃO-OXIGENAÇÃO
As práticas de não-oxigenação causam sérias consequências, resumidas em 4 etapas. • Alguns segundos de não-oxigenação: sensação de calor na cabeça, zumbidos, assobios, ofuscamento e alucinações. • Cerca de um minuto sem oxigenação: perda de consciência completa e espasmos convulsivos. • 2 a 3 minutos de não-oxigenação: morte aparente com parada dos movimentos respiratórios. Oclusão das veias jugulares induz a uma parada de circulação. • Entre 3 e 5 minutos sem oxigenação: caso não haja socorro eficaz, acontece a morte real. As brincadeiras de desafios se apoiam no chamado princípio do “você não é capaz”. Em um grupo de amigos, a busca pela proeza, pela competição, pode levar crianças e adolescentes a praticarem esse tipo de brincadeira sem nenhuma graça para se sentirem valorizados. 11
SINAIS FÍSICOS DE QUE O SEU FILHO PODE PRATICAR JOGOS DE NÃO OXIGENAÇÃO: • Violentas dores de cabeça; • Distúrbios visuais passageiros (moscas voadoras); • Traços vermelhos em volta do pescoço ou na lateral do pescoço ( consequência de corda); • Cansaço; • Falta de concentração, esquecimento, perda breve de consciência; • Zumbidos na orelha; • Bochechas vermelhas (petéquia) e vermelhidão nos olhos.
De acordo com Fabiana, existe hoje uma competição de hipersocialização agravada pela internet. Crianças e adolescentes seguem canais de youtubers que incentivam brincadeiras perigosas. O problema é que, geralmente, esses canais, que são produzidos por adultos, lucram bastante, produzindo conteúdo inadequado para crianças e adolescentes. E a luta para retirar conteúdos com desafios perigosos da internet é bastante árdua. “A velocidade é a passo de formiga”, conta Fabiana. Isso porque, para que um vídeo inadequado seja retirado, é preciso que ele receba uma denúncia jurídica. Agora, a luta do Instituto é para alterar o marco civil da internet. “A ideia é que se crie algum tipo de filtro ou alarme. Que esse vídeo seja instantaneamente bloqueado para julgamento ou que só seja feito o upload depois de ser julgado”, explica Fabiana. Para ela, isso é bastante viável. “Se eu faço um vídeo doméstico hoje e eu coloco uma música de um cantor ou compositor famoso, com cinco segundos o You Tube bloqueia - porque eu não pedi os direitos autorais. Então se existe esse bloqueio para direitos autorais de música, ele pode fazer a mesma coisa em relação a comportamento de risco para crianças e adolescentes, ressalta.
A SAÍDA
Para Fabiana, reconectar pais e filhos é fundamental para evitar a difusão de brincadeiras perigosas. Segundo ela, deve haver uma educação para o uso das novas tecnologias digitais. “O que a gente tem que fazer, no momento, é educação pro mundo digital. O uso responsável e saudável da internet. A internet é como qualquer outra ferramenta que a gente tem que educar para o uso. Fabiana acredita ser fundamental o controle dos pais em relação ao uso da internet pelos 12
filhos. Ela explica que, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, até os 3 anos, o ideal seria que a criança não tivesse contato com a internet. Se isso não for possível, é necessário haver o controle parental, que deve se prolongar até os 16 anos do filho. “Controle parental não é você controlar a criança. É você, dentro do seu núcleo familiar, estabelecer como a internet funciona, de modo que você acompanhe tudo que esteja acontecendo”. A problemática das brincadeiras perigosas também deve ser motivo de preocupação nas escolas. “É importante que as escolas comecem a atentar para um programa de prevenção que não seja palestra”, pontua Fabiana. Hoje, o Instituto Dimicuida atua com 3 programas diferentes relacionados ao ambiente escolar. O primeiro deles é voltado para crianças da educação infantil, que têm entre 2 e 5 anos. Através de um livro, também transformado em peça de teatro, os pequenos aprendem a proteger o corpo. Outro projeto é o livro “Tem perigo no ar” que pode ser comprado no site do Instituto. Ele ensina pais a conversarem com seus filhos sobre a importância da respiração e por que não se deve brincar com ela. A partir desse livro, também é encenada uma peça teatral para crianças entre 5 e 12 anos. O outro projeto é a chamada “oficina do brincar”, para crianças a partir de 11 anos. Com a ajuda de um facilitador, as crianças conversam sobre o que é brincar na contemporaneidade. E, a partir do que elas trazem pro diálogo, a conversa adentra em questões importantes para se evitar brincadeiras perigosas.
As brincadeiras com asfixia
Pesquisa feita no Brasil e na França com 1.395 estudantes de 9 a 17 anos, realizada pela psicóloga Juliana Guilheri revela que: 40% já praticaram, ao menos uma vez, uma ‘brincadeira’ de asfixia. 10% provocaram o desmaio voluntário Tanto meninos como meninas praticam, mas os meninos são mais propensos à provocar desmaios voluntários Ocorre independentemente de origem e classe social Alunos vítimas de bullying escolar estão mais propensos a ceder à pressão do grupo e praticar brincadeiras perigosas.
Fontes: Cartilha “Jogos de não-oxigenação” do Instituto Dimicuida Site do Instituto: www.institutodimicuida.org.br 13
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HOSPI TAL NOSSO L AR 5 0 a n os d e s erv i ços p res t ad os à s oc i ed a d e cearen s e por Rita Brito
A unidade fica no Benfica e é referência no tratamento Fotos: Davi Holanda
de pacientes psiquiátricos. 15
O Hospital Nosso Lar é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que recebe pacientes via convênio com o Sistema Único de Saúde - SUS, operadoras de saúde e particulares. Os leitos do hospital são destinados exclusivamente a pacientes em crise, que chegam, na maioria dos casos, referenciados pelo Hospital Mental de Messejana, para as internações do Sistema Único de Saúde - SUS. No caso de internações via operadoras de saúde e particulares, na maioria das vezes, os pacientes são encaminhados por seu psiquiatra particular. Os convênios atendidos são: Unimed, Cassi, Camed, Assefaz, Cafaz, Saúde Caixa e Capesaude. Quando chegam ao Nosso Lar, todos os pacientes são reavaliados por um médico plantonista e a internação só acontece caso o profissional da unidade confirme a necessidade da internação. “O paciente, quando chega aqui, já foi tentado tudo para se evitar a internação,” explica a diretora clínica do hospital, Psiquiatra Dra. Ticiana Macêdo. Ideias suicidas, agressividade e recusa de medicamentos são alguns dos 16
motivos que levam à internação - que costuma ser voluntária e involuntária, mas sempre com recomendação médica e pedido familiar. Vale lembrar que, quando as internações são involuntárias, a legislação é seguida à risca pelo hospital, que comunica esse fato ao Ministério Público em, no máximo, 72 horas. Psicoses como transtorno bipolar e esquizofrenia são algumas das principais causas de internação no hospital, que também recebe pacientes dependentes de álcool e drogas e com quadros graves de depressão. Durante a internação, o paciente recebe assistência no sentido de retornar o mais rápido possível ao seu ambiente de origem. Sabendo da importância do apoio familiar, a assistência às famílias é reforçada dentro do Hospital Nosso Lar. Além das visitas serem diárias, familiares também recebem assistência da equipe multidisciplinar. “O sucesso do tratamento depende basicamente da vontade, do empenho da família em fazer que dê certo”, ressalta a Psiquiatra Dra. Ticiana Macêdo.
Cuidar da saúde de pacientes em crise e ajudá-los a retornar ao convívio em sociedade. Essa é uma das principais missões do Hospital Nosso Lar, prezando por um atendimento ético e humano. A equipe de profissionais é composta por: psiquiatras, clínico geral, psicólogos, terapeutas ocupacionais, farmacêuticas, nutricionistas, enfer m e iro s, té c nico s e m enfermagem, assistentes sociais, educador físico e dentista. Eles trabalham em sintonia para oferecer acolhimento e as melhores terapias disponíveis na atualidade.
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O trabalho realizado pelo Serviço Social é fundamental e conta com a colaboração de seis Assistentes Sociais. Os profissionais dessa área atuam nas múltiplas expressões dos determinantes sociais do processo de saúde-doença, fazendo um resgate do contexto social, político, econômico e cultural do paciente. Dessa forma a pessoa acometida de transtorno mental é vista na sua integralidade. “A gente faz o resgate do contexto social e familiar e do que possa estar interferindo no processo de adoecimento desse paciente, buscando assim a rede socioassistencial de apoio”, afirma Nadja Prata, Assistente Social com 22 anos de experiência em saúde mental. Nesse processo, a família ocupa um lugar de protagonismo e conta com um espaço de escuta e orientação através das Rodas de Conversa, realizadas semanalmente. A família, portanto, é peça-chave. Além de reuniões semanais com familiares, também existem grupos de famílias para, com o apoio
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da assistência social, compartilhar histórias e se fortalecer mutuamente. Nesses encontros, a família é orientada sobre como cuidar do paciente da melhor forma possível e como se precaver de novas crises. A atividade física também é um diferencial no Hospital Nosso Lar. Apesar de não ser obrigatória, todos os pacientes que querem se exercitar são estimulados a elevar a autoestima por meio de atividades como alongamento, caminhada, natação e hidroginástica. O professor responsável pelas atividades é o Educador Físico Guillermo Maciel. Ele explica que a atividade física, muitas vezes, é desenvolvida em parceria com a nutrição. Assim, os resultados relativos a perda de peso e outros objetivos podem ser potencializados. A Terapia Ocupacional está fortemente presente no Hospital Nosso Lar, onde o instrumento de integração são as atividades humanas. Essas atividades é que dão um novo sentido ao sujeito que está em sofrimento.
No s s o d i feren c i al ĂŠ oferecer t ratam ento con j u nto d o m ĂŠd i co p s i q u i atra e c l Ă n i co .
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“O objetivo não é ocupar o tempo ocioso dessas pessoas, mas possibilitar através das atividades a expressão dos sentimentos e a construção da historicidade do sujeito, que muitas vezes está interrompida pela doença”, ressalta Nágela Silva (Terapeuta Ocupacional). As atividades terapêuticas ocupacionais desenvolvidas no Hospital Nosso Lar vão desde as mais simples, como atividades da vida diária (escovar os dentes, tomar banho) até atividades mais complexas que envolvem um nível de colaboração maior dos pacientes, como: pintura, desenho, atividades artesanais e outras. O paciente é atendido em duas modalidades: individual e grupal, dependendo da necessidade de cada um, mas o foco maior são as atividades em grupo como: música, leitura, datas comemorativas, teatro, entre outras. Dentro do contexto hospitalar, a alimentação também é muito importante. Por isso, o Hospital Nosso Lar investe em qualidade e dispõe de acompanhamento nutricional para
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os pacientes. Todos os dias, são servidas seis refeições. E um diferencial é que o trabalho é desenvolvido por duas nutricionistas. Uma fica responsável pela parte de produção e a outra pela assistência aos pacientes. Pacientes que chegam ao hospital com doenças associadas, como diabetes e hipertensão, também contam com dietas específicas. A nutricionista Marylene Rios explica ainda que um trabalho de orientação também é realizado com as famílias para que elas se conscientizem sobre a importância de optar por alimentos saudáveis na hora de levar produtos alimentícios a seus familiares internados. “A alimentação está diretamente relacionada com a emoção das pessoas. Uns não querem se alimentar, outros se apegam com se fosse refúgio para os problemas. Na avaliação, a gente percebe essa relação direta com a emoção deles”, conclui a nutricionista Marylene Rios.
E por falar em emoção, o setor de psicologia é reforçado no Hospital Nosso Lar. No total, sete psicólogas atuam na unidade. Uma delas é Swami Marinho. A história da Swami no hospital é antiga. Ela trabalhou na unidade por 16 anos como assistente social. Depois, cada vez mais interessada pela psicopatologia, entrou na faculdade de psicologia, se formou e agora voltou ao hospital nesta nova função. Swami explica que o tratamento se dá através da fala, já que, os pacientes, que costumam ter problemas psíquicos severos e às vezes crônicos, podem fazer uma narrativa sobre o sofrimento para tratar a dor. “A gente não fica muito interessado em buscar sinais e sintomas da doença, antes buscamos que o paciente produza um saber sobre seu sofrimento, que encontre palavras próprias para dizer de si e que possa nomear esse sofrimento com uma rubrica própria, criando uma narrativa singular para si. Cada paciente sofre, singularmente, atrelado a sua história de vida.” pontua ela. Há 11 anos trabalhando no Nosso Lar, a
psicóloga Cristina Vasconcelos complementa: “Nosso propósito não é o atendimento clínico, como a terapia em consultório. No hospital existe o fator tempo que respeita a melhora do paciente e deve ser o mais breve possível. Temos que pensar que, quanto mais tempo ele estiver dentro do hospital, mais ele se distancia do convívio familiar, mais ele se distancia dessa reinserção na sociedade”, afirma a psicóloga Cristina Vasconcelos. Assim como em outros setores, a psicologia atua em forte parceria com os familiares dos pacientes - que também sempre encontram as portas abertas para atender suas necessidades. Reinserir o paciente na sociedade. Já foi dito, mas fazemos questão de repetir: essa é uma das grandes missões do Hospital Nosso Lar criado em 1968 graças à visão do militar General Antônio Leite de Araújo Filho. Com essa meta em mente, nossos profissionais encaram os desafios cheios de disposição com o apoio irrestrito da presidente atual, dona Luzia Bastos. E vale lembrar: quando a disposição encontra a competência, os resultados só podem ser positivos. 21
Normas para a publicação da Revista HNL.
A Revista HNL é um periódico vinculado ao Hospital Nosso Lar tem como missão transmitir o conhecimento científico e desenvolvido por pesquisadores da área da Saúde Mental. O objetivo do periódico é a publicação de trabalhos originais e inéditos, que contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica da área da Saúde Mental.
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Estrutura
O manuscrito deve conter: a) Até 3 laudas; b) Título (com ou sem subtítulo); c) Resumo e abstract; d) 5 (cinco) palavras-chave; e) Conteúdo com aspectos textuais padrões com introdução, desenvolvimento fundamentação teórica, metodologia, resultados e discussão, podendo ser usados subcapítulos para as partes e conclusões; f) Referências g) ilustrações (entre figuras, mapas, imagens, desenhos, fotografias, gravuras, tabelas e gráficos), dispostas o mais próximas possível do texto aos quais se referirem e acompanhadas das 22
respectivas legendas; h) notas após as referências bibliográficas.
Observações importantes para a qualidade do artigo
O artigo científico é uma apresentação sintetizada, em forma de relatório escrito (observando os rigores do método científico), dos resultados de investigações ou estudos realizados a respeito de um determinado assunto. O objetivo fundamental de um artigo é ser um meio sucinto e rápido para divulgar e tornar conhecidos a questão investigada, o referencial teórico utilizado, o material empregado, o método estabelecido, os resultados alcançados, as dificuldades enfrentadas no decorrer das pesquisas e realização das análises concernentes à questão em foco. 1. Título: deve refletir o assunto discutido no texto. Título e subtítulo (se houver) devem estar na página de abertura do artigo na língua do texto e na língua inglesa. O autor deve evitar sobrecarregá-lo com informação expressa em forma de abreviatura (salvo casos em que são universalmente conhecidas ou nomes de projetos) e entre parênteses. 2. Resumo: texto com quantidade predefinida de palavras, onde se expõe o objetivo do texto, a me-
todologia aplicada, e as soluções encontradas. O abstract é o resumo traduzido para a língua inglesa. 3. Palavras-chave: são palavras características que devem identificar o artigo em bases de indexação. Constituem item obrigatório e devem estar abaixo do resumo, antecedidas da expressão palavras-chave separadas entre si por traço. 4. Introdução: deve situar o leitor no contexto do tema estudado, oferecendo uma visão global da pesquisa realizada, situando a hipótese, a justificativa e a metodologia empregada. 5. Desenvolvimento e explanação dos resultados: é a fundamentação lógica do trabalho, na qual o autor deve fazer uma exposição e uma discussão das teorias que foram utilizadas para o entendimento e o esclarecimento do problema pesquisado e que devem apresentar uma estreita ligação com a dúvida investigada. Dependendo do assunto tratado no manuscrito, há a necessidade de subdivisão em etapas que seguem em seções e subseções.
A divisão do desenvolvimento deve apresentar a seguinte estrutura:
a) Metodologia: descrição precisa dos materiais, métodos, técnicas, equipamentos e outros itens utilizados no decorrer da pesquisa, devendo estar apresentados com a maior clareza possível de modo que outros autores possam contextualizar e empregar em suas pesquisas. b) Resultados: apresentação da obtenção dos dados experimentais, que podem ser demonstrados através de tabelas, gráficos, fotografias, dentre outros recursos utilizados. c) Discussão: comentários cientificamente fundamentados, restritos apenas aos dados do trabalho confrontados com os dados da literatura da área na qual se encontra inseridos o trabalho. 6. Considerações finais: apresenta os resultados obtidos ao longo do manuscrito que foram extraídos da pesquisa ou apontados por ela, sendo relacionadas às diversas questões desenvolvidas ao longo do trabalho, sintetizando os resultados fundamentais, com comentários do autor e as contribuições resultantes da pesquisa. É importante a observação de que trata-se do encerramento do trabalho estudado, devendo responder às hipóteses propostas e aos objetivos apresentados na introdução, não devendo, sob condição alguma, que sejam apresentadas informações novas, que já não tenham sido apresentadas
no desenvolvimento do trabalho. 7. Referências: Conjunto de informações que devem permitir identificar, no todo ou em parte, documentos impressos ou produzidos em diferentes materiais que foram citados no decorrer do texto, devendo seguir as normas da ABNT- 2017 que estão explicadas e demonstradas no documento de orientação da apresentação gráfica do artigo. 8. Linguagem do artigo: O artigo científico é um texto condensado, é importante que sejam observados a correção e precisão da linguagem, coerência das ideias apresentadas, inteligibilidade, objetividade e fidelidade às fontes citadas. A análise destas questões inclui a análise de: a) impessoalidade: O trabalho é resultado da investigação cientificamente fundamentada do autor sobre determinado assunto, não cabendo um relato pessoal sobre o trabalho, haja vista que o estudo deverá ser acessível à comunidade científica sempre que outro estudioso necessitar explorar o assunto em questão, logo deve ser redigido em terceira pessoa, caracterizando o teor universal da pesquisa desenvolvida; b) objetividade: deve ser direto, preciso, sem expressões que possibilitem interpretações medíocres, sem valor científico. Sendo assim, termos como “eu penso”, “eu acho”, “parece-me”, e outros que denotem dúvida ou desconhecimento de causa devem ser abolidos do texto; c) estilo científico: deve ser informativo, racional, baseado em dados concretos, onde podem ser aceitos argumentos de ordem subjetiva, desde que explanados sob um ponto de vista científico; d) vocabulário técnico: a comunicação científica deve ser feita com termos comuns, que garantam a objetividade da comunicação, sendo, porém que cada área científica possui seu vocabulário técnico próprio que deve ser observado; e) correção gramatical: a observação da correção do texto deve ser feita com cuidado, evitando-se o uso excessivo de orações subordinadas em único parágrafo, o excesso de parágrafos, lembrando que cada parágrafo encerra uma pequena ideia defendida no texto, logo, encerrada a ideia, muda-se o parágrafo; f) ilustrações: a Revista Eletrônica do Hospital Nosso Lar considera gráficos, mapas, fotografias, desenhos e tabelas como elementos ilustrativos devendo seguir as normas da ABNT- 2017. Os artigos foram selecionados por banca avaliadora do Hospital Nosso Lar. 23
PERFIL DE USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ATENDIDAS NO SETOR DE TERAPIA OCUPACIONAL NO HOSPITAL NOSSO LAR PROFILE OF USERS OF PSYCHOACTIVE SUBSTANCES SERVED IN THE SECTOR OF OCCUPATIONAL THERAPYNO HOSPITAL OUR LAR Francisco Geornes Peixoto Saldanha¹, Edyr Marcelo Costa Hermeto², Nágela Maria da Silva³ 1
Graduando em Terapia Ocupacional, Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: geornes_81@hotmail.com. Rua Alexandre Joca, 240, Centro, Barreira, Ceará. CEP: 62795-000
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Terapeuta Ocupacional, docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre em Saúde Pública pela UECE E-mail: edyrcosta@hotmail.com
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Terapeuta Ocupacional, docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre em Psicologia e Subjetividade pela UNIFOR.
___________________________________________________________________________ RESUMO Introdução: A dependência química por ser um problema complexo deve ser entendida como uma doença biopsicossocial, afetando a vida do individuo como um todo. É influenciada por vários fatores entre eles: o orgânico, psíquico, sociológico e cultural. Objetivos: Analisar o perfil Socioeconômico Demográfico, Drogadição, Internações e Tratamentos dos usuários de substancias psicoativas atendidos no setor de terapia ocupacional em uma instituição psiquiátrica quanto à vinculação as atividades. Métodos: A pesquisa foi realizada utilizandose abordagem quantitativa, descritiva e intervencionista, com dados de 38 participantes, de ambos os sexos, com faixa etária de 18 a 61 anos, no hospital Nosso Lar. Os dados levantados foram organizados em planilhas e analisados em um programa estatístico (SPSS). Resultados e discussão: A partir da análise dos resultados, percebeu-se que a maioria dos usuários era do sexo masculino, faixa etária entre 26 e 30 anos, com baixa escolaridade, vivia na informalidade, passou por vários tratamentos; mas que apresentavam boa aceitação nas abordagens de terapia ocupacional. Conclusão: A inclusão dos pacientes atendidos no setor de Terapia Ocupacional mediante as atividades realizadas no setting terapêutico proporcionou-lhes a inclusão em um novo ambiente, o discurso sai do estereótipo para uma flexível riqueza de sentidos. Incentivando-os durante os grupos de Terapia Ocupacional a importância da continuidade do tratamento a nível ambulatorial nos Centros de Atenção Psicossocial álcool e outras drogasCAPS ad Palavras-chave: Atividades, Terapia Ocupacional, Dependência Química. ABSTRACT Introduction: Chemical dependence as a complex problem must be understood as a biopsychosocial disease, affecting the life of the individual as a whole. It is influenced by several factors among them: the organic, psychic, sociological and cultural. Objectives: To analyze the profile of users of psychoactive substances treated in the Occupational Therapy sector at Nosso Lar hospital Methods: The research was carried out using a quantitative, descriptive and interventional approach, with data of 38 participants, of both sexes, with ages ranging from 18 to 61 years old, under boarding regime. With the collected data organized in spreadsheets and analyzed in a statistical program (SPSS). Results and discussion: From the
results collected and analyzed, it was noticed that the majority of users were male, between 26 and 30 years old, with low education, lived in informality, underwent several treatments; But which had a good acceptance in the therapeutic approaches of occupational therapy. Conclusion: The inclusion of the patients treated in the Occupational Therapy sector through the activities performed in the therapeutic setting provided them with inclusion in a new environment, the discourse leaves the stereotype for a flexible wealth of senses. Encouraging them during the Occupational Therapy groups the importance of the continuity of treatment at the outpatient level in the Psychosocial Care Centers alcohol and other drugs - CAPS ad Keywords: Activities, Occupational Therapy, Chemical Dependency. INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (2013) considera o uso abusivo de drogas como uma doença crônica e recorrente. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a dependência química caracteriza-se pela presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de saber dos problemas significativos relacionados a ela (SOUSA, et al. 2013). Assim, os órgãos nacionais e internacionais alertam quanto aos problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativo. Onde, sete em cada dez pacientes, recaem. Trazendo diversos prejuízos à vida do indivíduo, tornando-se um problema de saúde pública. Marcon et al. (2012) percebem que a dependência química, por abranger vários aspectos da vida do sujeito (orgânicos, psíquicos, sociológicos, culturais), deve ser encarada como uma doença biopsicossocial interferindo no contexto familiar, sendo esta a base da sociedade. Para Oliveira (2006) e Dalgalarrondo (2000) existem critérios de diagnósticos da dependência química. Devem ser observados alguns comportamentos e reações fisiológicas como: desleixo quanto às obrigações sociais, laborais e familiares; uso descontrolado de substâncias psicoativas (licitas ou ilícitas); problemas com a justiça; fissura pela droga, e a cada vez, doses maiores.
Entretanto Marques e Mângia (2010, p.13) fazem uma observação importante em seu estudo: a dificuldade de encontrar um padrão para conceituar a dependência de álcool e de outras substâncias psicoativas, pois há os que compreendem como uma patologia, enquanto que, para outros autores representa um sintoma de uma desorganização psíquica, que pode estar relacionada a outras patologias, como depressão ou transtornos ansiosos.
Certamente a dependência química quase sempre vem acompanhada de outras patologias e muitas vezes há dificuldade em eleger se foi causa ou efeito. Entretanto, independente das doenças de base, o sujeito taxinômico, deve ser tratado em sua integralidade. O Ministério da
Saúde, percebendo que as doenças relativas à dependência química vão se agravando com o tempo e em curto espaço, começou a pensar em equipamentos e estratégias para atender a este publico. Que caminha para a cronicidade e comorbidade. Neste contexto surgiram as novas politicas com enfoque na clinica ambulatorial, com o internamento em situações especificas. Vale ressaltar que a internação deve ser limitada a janela temporal da crise e curta, evitando a dessocialização (BRASIL, 2000). Segundo Oliveira (2006), elenca critérios indicadores de hospitalização: dependência crômica, complicações sistêmicas, desorganização psíquica, família desestabilizada. Portanto o tratamento medicamentoso, setting terapêuticos, intervenções psicoterápicos são as abordagens de tratamento que ocorrem ou podem ocorrer na hospitalização. Para Ballarin (2003) na Terapia Ocupacional, procura-se criar setting terapêutico fundamentado na oferta de recursos, na gratificação de necessidades, a fim de atender as carências do paciente. Estes pacientes acolhidos participam das atividades, conversam, experimentam materiais, dividem sentimentos, trocam experiências. A boa relação terapêutica é fundamentada e deve ser subsidiada pelos reforços positivos e encorajadores. A abordagem da Terapia Ocupacional ocorre mediante atividades terapêuticas que possam ser facilitadoras para a inclusão de um novo ambiente, diferentemente do contexto vivido anteriormente pelo usuário de substâncias psicoativas. Dando lugar a um novo discurso e a novas imagens, intermediando um encontro com o novo, permitindo assim a construção de um projeto de vida diferente. As atividades socioculturais proporcionarão um espaço de construção e reconstrução da realidade externa trazida pelo paciente de forma caótica e desestruturada, em virtude da vivência com a droga (HERMETO, 2008, p.125).
O interesse pelo estudo emergiu no período de estágio da disciplina de contexto hospitalar. No qual, surgiram vários questionamentos com relação ao perfil dos pacientes usuários de substâncias psicoativas internados. Viu-se a necessidade em aprofundar os conhecimentos com relação aos pacientes com histórico de dependência química internados em instituição psiquiátrica correlacionando com a adesão aos grupos de Terapia Ocupacional. A pesquisa tornou-se relevante, pois se traçou o perfil Socioeconômico Demográfico, Drogadição, Internações e Tratamentos dos usuários de substancias psicoativas atendidos em uma instituição psiquiátrica, no tocante a aderência dos pacientes atendidos na Terapia Ocupacional. Possibilitando assim, traçar um perfil dos pacientes vinculados nos grupos de Terapia Ocupacional, adquirir novos conhecimentos acerca da dependência química e da
atuação da Terapia Ocupacional neste contexto. Avaliando, portanto, as potencialidades do grupo a partir da participação dos colaboradores; por exemplo, nos grupos de autoajuda como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos (A.A./N.A.); nos grupos de atividades; nas oficinas terapêuticas; nas atividades expressivas; laborativas ou educativas. Percebe-se que os grupos de Terapia Ocupacional realizados com os usuários de substancias psicoativos em regime de internação integral possibilita a organização do cotidiano, do grupo e a realização da atividade. Favorecendo a criação de um espaço que se interponha entre a droga e o paciente. Espaço este que se pode caracterizar como espaço potencial. Para tanto o objetivo do estudo é analisar perfil de usuários de substancias psicoativas atendidas no setor de Terapia Ocupacional em uma Instituição Psiquiátrica
MÉTODOS Pesquisa de abordagem quantitativa (Dalfovo, Lana, Silveira, 2008), descritiva (Gil, 1991) e intervencionista (Gil, 2009). Os pesquisadores selecionaram previamente os entrevistados quanto às características de interesse. As entrevistas foram feitas sempre individualmente, respondendo a um questionário fechado, bem estruturado, construído por perguntas claras e objetivas, responsáveis pela uniformidade do entendimento dos entrevistados. Por fim, foi feito o relatório constando da apresentação dos dados obtidos em planilhas, tabelas e gráficos. A pesquisa foi realizada no setor de Terapia Ocupacional do Hospital Nosso Lar. A entidade recebe pacientes com Transtornos Mentais e Dependência Química em regime de internação integral, atendendo SUS e particular. A coleta de dados realizou-se após a liberação do Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2016, nos meses de Agosto a Outubro, as segundas e sextas-feiras, no período da manhã. Participaram da pesquisa 38 (trinta e oito) pacientes usuários de Substâncias Psicoativas (SPA`s) em regime de internação integral, de ambos os sexos, com faixa etária de 18 a 61 anos, que desejaram participar da pesquisa, participaram das atividades de Terapia Ocupacional e concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Teve como critérios de exclusão pacientes com outros diagnósticos médicos e ausência do desejo de participar das atividades de Terapia Ocupacional. Como instrumento de coleta de informações foi utilizado questionário fechado, observação em prontuário (arquivo corrente e arquivo morto) e diário de campo. O questionário aplicado foi dividido em quatro grupos de perguntas. O primeiro referia-se as questões do perfil socioeconômico demográfico (sexo, faixa etária, escolaridade, ocupação,
naturalidade). O segundo; questões do perfil de drogadição (familiar dependente, início do uso das drogas, droga de início). O terceiro; questões do perfil de internações e tratamentos (número de internações em hospitais psiquiátricos, número de internações em comunidades terapêuticas, tempo de tratamento no CAPS, número de vezes em que abandonou o tratamento no CAPS, motivos da internação em hospital psiquiátrico). O quarto e último grupo de perguntas foram elaborados para que se pudesse traçar o perfil de participação na terapia ocupacional (frequência no setor de Terapia Ocupacional, vinculação nos grupos de Terapia Ocupacional, atividades desenvolvidas na Terapia Ocupacional, sentimento do participante na Terapia Ocupacional, e perspectiva de futuro após a alta hospitalar). Finalizado a segunda e terceira fases da pesquisa, os dados coletados, foram compilados em planilha do Microsoft Office Excel, versão 2010. Em seguida passados para um programa de análise estatística de dados (SPSS) versão 22, ano 2014. A pesquisa adotou os princípios éticos preconizados pela Resolução 466/12 do Ministério da Saúde. Foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza (Unifor), sob o parecer número: 1.508.589. Este estudo não obteve fontes de financiamento.
RESULTADOS E DISCUSSÕES A tabela 1 dispõe sobre o perfil socioeconômico demográfico dos participantes, no que se refere a variável sexo, faixa etária, escolaridade, ocupação e naturalidade.
Tabela 1. Questões Socioeconômicas Demográficas de Usuários de Substâncias Psicoativas Atendidas no Setor de Terapia Ocupacional na IENS Variáveis Sexo
Faixa Etária
Escolaridade
n
%
Feminino
7
18,42
Masculino
31
81,58
18 a 20 anos
2
5,26
21 a 25 anos
9
23,68
26 a 30 anos
12
31,58
31 a 35 anos
7
18,42
36 a 40 anos
3
7,89
41 a 61 anos
5
13,16
Analfabeto
2
5,26
Fundamental Incompleto
23
60,53
Fundamental Completo
2
5,26
Médio Incompleto
2
5,26
Médio Completo
7
18,42
Superior Incompleto
1
2,63
p-valor
X²
<0,001
15,158
>0,046
11,263
<0,000
71,053
Ocupação
Naturalidade
Superior Completo
0
0,00
Pós-Graduação
1
2,63
Desempregado
11
28,95
Empregado (Formal)
7
18,42
Empregado (Informal)
16
42,11
Aposentado
1
2,63
Reformado
0
0,00
Estudante
3
7,89
Capital
22
57,89
Região Metropolitana
5
13,16
Interior
11
28,95
<0,001
19,368
>0,003
11,737
Fonte: IENS, 2016. Legenda: n - Frequência absoluta; % - Frequência relativa; P- valor (α= 0%); X²- Qui- quadrado.
Quanto a primeira variável deste primeiro grupo de perguntas, apresenta-se os resultados como a predominância do sexo masculino com um percentual de 81,6% dos participantes (31), enquanto que o sexo oposto (feminino) apresentou-se com 18,4%, correspondendo a sete indivíduos, diferença estatisticamente significativa (p-valor <0,001 e X2 = 15,158). Essa diferença também foi confirmada em dois estudos: Jorge (2010); Faria e Schmeider (2009), os quais encontraram taxas de 84,60% e 88,15%, de usuários do sexo masculino em relação ao feminino, respectivamente. Percebe-se que o maior índice de internação em instituição psiquiátrica é do sexo masculino, enfatizado nos discursos durante o processo grupal que a busca pelas drogas dar-se-á pela falta de oportunidade de emprego, evasão escolar, falta de perspectiva de futuro, credibilidade e refúgio dos conflitos familiares. Durante a intervenção foi enfatizado que a Secretária sobre Drogas do Governo do Estado Do Ceará e Prefeitura Municipal de Fortaleza, tem politicas públicas voltadas aos dependentes químicos. Muitas vezes, a buscar por estes serviços é insuficiente por parte dos pacientes, no qual foi relatado por alguns que preferiam ficar nas ruas. Há também a falta de vinculação dos pacientes nos serviços substitutivos, dados estes colhidos durante o grupo de Terapia Ocupacional. No que se refere a faixa etária, a idade dos usuários variou entre 18 e 61 anos. Vemos que o primeiro quadrante de 18 a 20 anos tem apenas 5,3% (2 indivíduos) e 21 a 35 anos com 23,7% (9). O maior número de usuários foi observado na faixa etária de 26 a 30 anos com 31,6% (12). Enquanto que 31 a 35 anos com 18,4% (7); 36 a 40 anos com 7,9% (3) Por último, os usuários de 41 a 61 anos, temos 13,2% (5). Percebe-se que o percentual, a partir do pico dos 26 a 30 anos, foi declinando no sentido das menores para as maiores idades. Foi observado por Almeida et al (2014), em um levantamento feito em João Pessoa, que o maior uso de SPA´s ocorre
também entre os mais jovens e declinando à medida que avança a idade. Análogos aos resultados de Batista, Batista e Constantino (2012) onde prevaleceu a baixa idade. Cada vez mais cedo adolescentes e adultos jovens estão buscando as drogas, percebe-se em outros estudos que a incidência varia de 21 a 35 anos de idade. Quando abordado durante o processo grupal os motivos pelos quais da busca pelas drogas, que ocorre cada vez mais cedo, a maioria afirmou ser por status na comunidade onde viviam e busca por dinheiro fácil, muitas vezes mais rápido do que trabalhando. Quanto à variável escolaridade temos 5,3% (2) de Analfabetos; 60,5% (23) com Fundamental Incompleto; Fundamental Completo 5,3% (2); Médio Incompleto 5,3% (2); Médio Completo 18,4% (7); Superior Incompleto 2,6% (1); Superior Completo 0% (0); Pós-graduação 2,6% (1). Fica evidente no estudo um elevado índice de semianalfabetismo. No qual é justificado por alguns participantes do grupo que tiveram que sair muito cedo de casa para conseguir o sustento levando assim a busca também mais cedo pelas drogas Velho (2010) referindo-se a escolaridade, também fomentou a prevalência do diminuído nível escolar entre dependentes químicos, mostrando que 66,80% dos usuários com baixa escolaridade. Assim como Monteiro et al (2011), apresentaram taxa de 80,17% para analfabetos e fundamental incompleto. A relação entre uso de SPA e baixa escolaridade é fato concreto nas pesquisas. Pois as drogas, segundo Pechansky; Szobot; Scivoletto (2004) ocasionam dificuldades de aprendizagem em virtude de dificuldade de concentração, memorização, raciocínio lógicos; tendo com consequência baixo rendimento, desinteresse e evasão escolar. Um dado importante neste estudo foi de ocupação (situação profissional no momento da internação) com 28,9% (11) de Desempregados; Empregado (formal) 18,4% (7); Empregado (informal) 42,1% (16); Aposentado 2,6% (1); Reformado 0,0% (0); Estudante 7,9% (3). Resultados semelhantes apareceram em pesquisa feita por Monteiro et al. (2011), onde 48,50% encontravam-se empregados; 35,70% desempregados; 12,30% estudavam e 3,50% aposentados. Com relação ao dado ocupação pode-se constatar o alto índice de desemprego por parte dos pacientes entrevistados, no qual relatam que a falta de estudo prejudicou a qualificação profissional, e certa acomodação quando se reportam ao amparo social recebido pelas famílias do governo federal. Em relação à naturalidade com 57,9% (22) da Capital; Região Metropolitana 13,2% (5) e 28,9% (11) oriundos do Interior do estado. Certamente esta diferença, favorecem os pacientes oriundos da capital (22), em virtude da maior proximidade e melhor rede de cuidados, com o uso da referencia e contra referencia. Em contrapartida, quem mora no interior, apesar da menor
assistência a nível hospitalar, encontra-se também amparado, confirmando-se pelo número de internos (11). No parágrafo a seguir visualiza-se a tabela 2, que dispõe sobre as questões de drogadição. Tabela 2. Questões sobre Drogadição de Usuários de Substancias Psicoativas Atendidas no Setor de Terapia Ocupacional na IENS
Familiar Dependente de SPA
Início do Uso das Drogas
Drogas de Início
Variáveis
n
%
Não Existe
17
44,74
Existe (Pai)
3
7,89
Existe (Mãe)
4
10,53
Existe (Irmão)
3
7,89
Existe (Irmã)
4
10,53
Existe (Avô)
0
0,00
Existe (Avó)
0
0,00
Existe (Filho)
4
10,53
Existe (Filha)
3
7,89
Com menos de 12 anos
5
13,16
12 a 15 anos
16
42,11
16 a 19 anos
13
34,21
20 a 23 anos
1
2,63
24 a 27 anos
2
5,26
28 a 31 anos
0
0,00
Com mais de 32 anos
1
2,63
Álcool
13
34,21
Tabaco
3
7,89
Maconha
18
47,37
Crack
2
5,26
Cocaína
2
5,26
p-valor
X²
<0,000
29,053
<0,000
34,000
<0,000
29,105
Fonte: IENS, 2016. Legenda:n -Frequência absoluta; % - Frequência relativa; P- valor (α= 0%); X²- Qui- quadrado
No segundo grupo de perguntas, onde se verifica o perfil sobre drogadição, perguntou-se incialmente se havia algum familiar de primeiro grau (ascendente ou descende), residente em seu domicilio que fosse usuário de SPA. A maioria 44,7% (17) respondeu que não havia. Enquanto que o restante respondendo que sim, especificou-os como 7,9% (3) sendo o pai; 10,5% (4) a mãe; 7,9% (3) o irmão; 10,5% (5) a irmã; 10,5% (4) o filho; 7,9% (3) a filha. Neste item do questionário apareceram mais de uma resposta para cada entrevistado, mas no momento era inquirido acerca de “quem mais” possivelmente o influenciava ou era influenciado. Foi surpreendente que houve um equilíbrio entre as respostas, apesar de uma leve vantagem sobre a influência negativa da mãe. Schenker e Minayo (2003) citam que a influencia da família (seja positiva ou negativa) é preponderante para a consequente dependência química ou não.
Famílias que tem comportamentos ou pensamentos que não são funcionais, transmitem padrões de conduta e comportamentos desviantes de um membro para outro. Descrevem diversos métodos que se caracterizam essencialmente por intervenções que envolvem a família do adicto, destacando-se a importância da família no auxilio a adesão ao tratamento. Quanto ao início do uso de drogas; 13,2% (5) dos usuários tinham menos de 12 anos; 42,1% (16) de 12 a 15 anos; 34,2% (13) entre 16 a 19 anos; 2,6% (2) de 20 a 23 anos; 5,3% (2) de 24 a 27 anos; 0,0% (0) de 28 a 31 anos; de 32 a 61 anos apenas 2,6% (1). Segundo Ribeiro, Alves e Vieira (2008) é na adolescência que geralmente ocorre à dependência, pois em estudo desenvolvido no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD) em São Paulo, observou que a maioria deles contava com 16 anos na época. A faixa etária de inicio do uso de SPA por estes adolescentes está entre 11 e 13 anos. Nas drogas de início: a maior prevalência foi entre os usuários de maconha com 47,37% (18), seguido pelos usuários de álcool com 34,21% (13). Quanto o uso de drogas licitas a exemplo do álcool, Ferreira et al. (2012 p. 59) registraram que 82% das internações são decorrentes do uso de álcool (45,10%) e do uso de múltiplas drogas (36,90%). Almeida, Silva e Silva (2010, p. 18) também afirmaram ser o álcool a principal droga que leva às internações, quando verificaram um percentual de 85% de dependentes dessa substância nas unidades de internação. No estudo de Velho (2010, p.121), o uso de álcool foi registrado em 46,10% dos usuários, seguido por crack (44,4%) e maconha (5,80%).Costa et al (2011), registraram que o álcool (68,60%), a maconha (17,10%) e o crack (4,3%) estavam entre as drogas mais consumidas.
Neste estudo, o ranking das substâncias seguem com 7,89% (3), crack 5,26 (2) e por fim cocaína 5,26% (2). Vale ressalta que havia outras opções, mas, em um primeiro momento, apareceram como 0% (a exemplo de Medicamentos psicotrópicos como Artane e Rohypnol e Inalantes como Cola, seguido de Ecstasy, Heroína e Ópio). Os colaboradores relataram mais de uma roga de início, mas foi considerada apenas a primeira opção. No paragrafo a seguir visualiza-se a tabela 3 que dispõe sobre as questões acerca das internações e tratamentos. Tabela 3. Questões sobre Internações e Tratamentos de Usuários de Substancias Psicoativas Atendidas no Setor de Terapia Ocupacional na IENS.
Internações em Hospital Psiquiátrico (HP)
Variáveis
n
%
Uma Vez
10
26,32
Duas Vezes
5
13,16
Três Vezes
6
15,79
p-valor
X²
>0,146
10,842
Internações em Comunidade Terapêutica (CT)
Tempo de Tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps)
Abandono Tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps)
Motivo da Internação no Hospital Psiquiátrico (HP)
Quatro Vezes
4
10,53
Cinco Vezes
2
5,26
Seis a Onze Vezes
5
13,16
Doze a Quinze Vezes
1
2,63
Mais de Dezesseis Vezes
5
13,16
Nenhuma Vez
25
65,79
Uma Vez
8
21,05
Duas Vezes
1
2,63
Três Vezes
1
2,63
Quatro Vezes
1
2,63
Cinco Vezes
0
0,00
Seis a Dez Vezes
0
0,00
Onze a Quinze Vezes
1
2,63
Mais de Dezesseis Vezes
1
2,63
Não faz Tratamento no Caps
6
15,79
Há um mês
11
28,95
Há seis meses
7
18,42
Há um ano
5
13,16
Há dois anos
6
15,79
Há mais de dois anos
3
7,89
Não faz Tratamento no Caps
6
15,79
Nunca abandonou Tratamento no Caps
14
36,84
Abandonou Uma Vez
10
26,32
Abandonou Duas vezes
4
10,53
Abandonou Três Vezes
3
7,89
Abandonou Entre Quatro e Sete Vezes
1
2,63
Abandonou entre Oito e Onze Vezes
0
0,00
Abandonou mais de Onze Vezes
0
0,00
Por falta de Apoio Familiar
2
5,26
Por Abandono da Família (Situação de Rua)
5
13,16
Por Desistência do Tratamento do Caps
1
2,63
Por Não Conseguir Abandonar a SPA
8
21,05
Por Não Tomar Medicamentos Corretos
6
15,79
Por Surto Psicótico
14
36,84
Por Ordem Judicial
2
5,26
<0,000
89,842
>0,349
5,579
>0,002
18,526
<0,001
22,789
Fonte: IENS, 2016. Legenda: n - Frequência absoluta; % - Frequência relativa; P- valor (α= 0%); X²- Qui- quadrado.
Quanto ao terceiro grupo de perguntas referente ao número de internações em hospitais psiquiátricos (HP), constatou-se que 26,32% (10 indivíduos) foram internados apenas uma vez e 13,16% (5) foram internadas duas vezes. Enquanto que 15,79% (6) três vezes; 10,53% (4) quatro vezes; 5,26% (2) cinco vezes; 13,16% (5) de seis a onze vezes; 2,63% (1) de doze a Quinze vezes; 13,16 % (5) mais de dezesseis vezes.
Na pesquisa de Carvalho, Silva e Rodrigues (2010, p.53) foram verificadas uma frequência de 97,90% de internações psiquiátricas entre os dependentes químicos estudados. Com relação à internação psiquiátrica, no estudo Pelisoli; Moreira (2007, p.146) verificou-se que 5,9% (145) dos pacientes cadastrados já estiveram internados; em sua amostra apresentou percentual mais alto de pacientes que retornam e realizam tratamentos mais longos e mais benéficos, o que para o pesquisador, forma um conceito mais otimista da questão de eficácia de tratamento.
De acordo com o Ministério da Saúde (2013), os hospitais psiquiátricos devem ser reservados para os casos de duplos diagnósticos, e devem oferecer serviços especializados no tratamento da dependência de substâncias psicoativas em associação com quadros psiquiátricos graves e de difícil manejo em ambiente extra-hospitalar. Cita algumas indicações de tratamento em unidades psiquiátricas, como casos em que o uso das substâncias ou comportamentos constitui perigo iminente para si ou para terceiros. Quanto às internações em comunidades terapêuticas (CT), foi surpreendente o número de participantes (25), correspondendo a 65,79 %, que nunca haviam feito esse tipo de internação. Mas 21,05% (8) frequentaram uma vez. Enquanto que: duas, três ou quatro vezes, apenas 2,63% (1) para cada opção, respectivamente. Não houve nenhum participante que tenha sido internado de cinco a dez vezes. Mas houve dois participantes (5,26%) que foram internados de onze a mais de dezesseis vezes. Resultados semelhantes também foram apresentados no estudo realizado por Pelisoli; Moreira (2007), onde apresenta um percentual de 67,2% de dependentes químicos que nunca haviam passado por Clínica Terapêutica (CT). Uma ressalva importante que estes pesquisadores fizeram foi em relação à proposta terapêutica apresentada por estas CTs, que em muitas situações são desacreditadas e por isso não conseguem atingir um maior número de clientes. O problema destas alternativas de tratamentos é que muitas criam um mundo fictício, isolando os dragadctos em fazendas ou sítios do mundo social (internet, família, amigos). Ao saírem da internação, choca-se com a realidade. Fazendo com que haja uma necessidade de ressocialização gradual. Em uma das perguntas do questionário, referente ao tempo de tratamento no Caps, 15,79% (6) respondeu que não faziam tratamento. Enquanto que 28,95% (11 participantes) relataram que há um mês frequentavam o Caps; 18,42% (7) frequentavam há seis meses; 13,16% (5) frequentavam há um ano; 15,79% (6) há dois anos; 7,89% (3) há mais de dois anos. De acordo com o Ministério da Saúde (2000), os principais objetivos do CAPS se referem à reinserção
social do usuário por meio do acesso ao lazer, ao trabalho, aos seus direitos enquanto cidadão, à família. Isso só pode ser alcançado se houver comprometimento e disciplina das abordagens de tratamentos ofertadas na rede secundária de saúde, utilizando-se inclusive dos serviços de referencia e contra referência. No quesito relativo a quanta vezes abandonou o tratamento no Caps e 15,79% (6) relataram que nunca haviam iniciado o tratamento medicamentoso. Enquanto que 36,84% (14) nunca abandonou o tratamento no Caps; 26,32% (10) abandonaram uma vez; 10,53% duas vezes; 7,89% (3) três vezes; 2,63% (1) entre quatro e sete vezes. No entanto, não houve quem abandonasse mais de onze vezes. Por isso Souza, Kantorki e Mielke (2006, p. 23) afirmam: (...) que para o sucesso do tratamento dos usuários de SPA´s, faz-se necessário a submersão na rede de relações do indivíduo, pois essas, em conjunto, dão forma ao verdadeiro corpo do fato da dependência da droga, e remete aos vínculos afetados do indivíduo com sua família, serviço ou meio em que esta inserida.
Quanto aos motivos da internação no hospital psiquiátrico (HP), em que 5,26% (2) relataram que foi por falta de apoio familiar, configurando em aparente desinteresse em ajudá-lo; 13,16% (5) relataram também por abandono familiar, mas ressaltaram que preferiram viverem em situação de rua, portanto longe da família. Um ponto importante apresentado por Raupp e Adorno (2011, p.11) é a inconstância na vida dos usuários. Dada à instabilidade de seus padrões de vida, os usuários ficam vulneráveis a viver em situação de rua. Nessa lógica, traça-se uma linha que liga momentos de abstinência à consecução de trabalho, moradia e ao restabelecimento de ligações afetivas importantes, em que a pessoa deixa seu lar para viver nas ruas.
Dando continuidade a descrição dos dados; 2,63% (1) relatou que foi por desistência no tratamento do Caps. Enquanto que 21,05% (8) relataram que não conseguiam abandonar a SPA; outros 15,79% (6), que o motivo era por não conseguir tomar os medicamentos corretos, associando-os ao uso de álcool. Enquanto que a maioria 36,84% (14) por surto psicótico, apresentando risco para si e para os outros; 5,26% (dois indivíduos) por ordem judicial em virtude de terem praticado atos ilícitos. Pelo o exposto neste quarto grupo de perguntas a internação hospitalar tornou-se necessária em virtude dos recursos extra-hospitalares terem falhado para estes pacientes. A internação psiquiátrica foi à saída mais viável na consecução na proteção e cuidados intensivos do paciente. Independente da forma de internação (voluntária, involuntária ou compulsória), o hospital configura-se com um ambiente especial, favorecendo cuidado intensivo e utilização de abordagens terapêuticas especiais. Quanto ao último grupo de
cinco perguntas, pesquisaram-se sobre as questões acerca da vinculação as atividades Terapia Ocupacional.
Tabela 4. Questões sobre a Abordagem da Terapia Ocupacional de Usuários de Substancias Psicoativas Atendidas no Setor de Terapia Ocupacional na IENS Variáveis
Frequência na Terapia Ocupacional
Vinculação nos Grupos de Terapia Ocupacional
Atividades na Terapia Ocupacional
Sentimento do participante na Terapia Ocupacional
Perspectiva do futuro após a alta hospitalar
n
%
Não Participa
0
0,00
Participa uma vez
19
50,00
Participa duas vezes
15
39,47
Participa três vezes
2
5,26
Participa quatro vezes
1
2,63
Participa cinco vezes
1
2,63
Participa mais de seis vezes
0
0,00
Ótima
10
26,32
Boa
18
47,37
Razoável
7
18,42
Ruim
2
5,26
Pessíma
1
2,63
Atividade Expressiva
12
31,58
Atividades Laborativas
9
23,68
Atividades Educativas
0
0,00
Oficinas Terapêuticas
12
31,58
Grupos de Atividades
5
13,16
Grupos de Autoajuda (N.A./A.A.)
0
0,00
Motivado
11
28,95
Animado
9
23,68
Concentrado
8
21,05
Cansado
3
7,89
Entediado
4
10,53
Estressado
3
7,89
Voltar a Trabalhar
12
31,58
Voltar a Estudar
10
26,32
Voltar/Ir para o Caps
7
18,42
Voltar ao Convívio Familiar
6
15,79
Voltar para as ruas (Situação de Rua)
2
5,26
Voltar para o uso das drogas (SPA's)
1
2,63
p- valor
X²
>0,354
5,569
>0,321
5,285
>0,331
5,584
>0,334
5,384
>0,381
5,321
Fonte: IENS, 2016. Legenda: n - Frequência absoluta; % - Frequência relativa; P- valor (α= 0%); X²- Qui- quadrado.
Descrevendo os resultados, ainda sem serem feitos os cruzamentos de varáveis, ficaram assim: frequência na Terapia Ocupacional; uma vez que a participação era critério de inclusão neste estudo; foi 0% (0) o percentual de “não” participantes. Enquanto que a maioria 50% (19) participava uma vez por semana; 39,47% (15) duas vezes; 5,26% (2) participavam três vezes; 5,26% (2) de quatro á cinco vezes; e nenhum participante 0% (0) mais de seis vezes.
Ressaltando que os usuários poderiam frequentar o setor nos dois períodos (manhã e tarde), caso desejassem. As atividades terapêuticas ocupacionais possibilitam o sujeito uma reestruturação e reorganização de sua qualidade de vida, no qual através da atividade, o espaço que era preenchido pelas drogas passa a ser preenchidos pelas atividades. Vinculação nos grupos de Terapia Ocupacional, 26,32% (10) relatou ótima; 47,37% (18) relataram ser boa; 18,42% (7) relataram ser razoável. Enquanto que 5,26% (2) relataram ser ruim e 2,63% (1) disseram ser péssima. Segundo Lopes e Leão (2002), a profissão esta alicerçada na proposta de produzir e promover saúde, exatamente pelo uso da atividade, buscando autonomia do sujeito e significativa participação social. A vinculação nos grupos de Terapia Ocupacional é um fator primordial no qual podemos estar utilizando este espaço para a troca de experiências e informações, orientações com relação a qualificação profissional e a aderência nos serviços substitutivos e a busca pela melhoria da qualidade de vida. Atividades desenvolvidas na Terapia Ocupacional, 31,58% (12) desenvolviam atividades expressivas; 23,68% (9) atividades laborativas; 0% não quisera participar de atividades educativas; 31,58% (12) participaram de oficinas terapêuticas; 13,16% (5) de grupos de atividades; foram ofertados também grupos de autoajuda (N.A./A.A.), mas não houve quem participasse. Hagedorn (2007) cita um recurso eficiente no tratamento desta clientela, é o trabalho em grupo. Tendo em vista que as dificuldades de inter-relacionamentos e a falta de liberdade para afinidades característicos poderiam ser amenizados com a abordagem na atividade grupal. O interesse pelas atividades expressivas é notório no grupo terapêutico. No qual se pode observar através da exteriorização de sentimentos trazidos pelos pacientes, ficando claro nos discursos a falta de oportunidades e algumas vezes falta de amparo familiar. Sentimento do participante na Terapia Ocupacional 28,95% (11) referiu sentirem-se motivados; 23,68% (9) sentiram-se animados; e 21,05% (8) estarem concentrados; 7,89% (3) disseram ficarem cansados; 10,53% (4) relataram que ficavam entediados; 7,89% (3) relataram ficarem estressados e logo abandonarem a atividade proposta. Perspectiva de futuro após alta hospitalar, 31,58% (12) relataram que seu maior anseio seria voltar a trabalhar; 26,32% (10) seriam voltar a estudar; 18,42% (7) voltar ou ir para o CAPS; 15,79% (6) voltar ao convívio familiar. Enquanto que 5,26% (2) seriam voltar a viver em situação de rua e 2,63% (1) voltar para o uso das drogas (SPA’s).
Fica evidente que a maioria dos pacientes demonstra interesse pela mudança, à busca pela ocupação profissional (no retorno) ou a busca por um novo trabalho. Porém percebe-se no discurso a falta de credibilidade em oportunizar essa nova chance de emprego. Foram feitos cruzamentos de varáveis investigando, por exemplo, a frequência na Terapia Ocupacional com atividades desenvolvidas na Terapia Ocupacional; a seguir por outro cruzamento sentimento do participante e atividades desenvolvidas. Complementando, fezse um gráfico de perspectiva de futuro após a alta hospitalar. No paragrafo a seguir temos a tabela 5 dispõe exatamente sobre este primeiro cruzamento de varáveis. Tabela 5: Cruzamento da variável Frequência no setor de TO com Atividades Desenvolvidas na TO Atividades Desenvolvidas na TO Expressiva/
Frequência no setor de TO
Participa uma vez
Contagem
57,9%
100,0%
-2,7
2,7
14
1
15
93,3%
6,7%
100,0%
3,1
-3,1
1
1
2
50,0%
50,0%
100,0%
-,4
,4
1
0
1
100,0%
,0%
100,0%
Residual ajustado
,8
-,8
Contagem
0
1
1
% dentro de participação TO
,0%
100,0%
100,0%
Residual ajustado
-1,3
1,3
24
14
38
63,2%
36,8%
100,0%
Contagem
Contagem % dentro de participação TO Residual ajustado Contagem % dentro de participação TO
Total
Total
42,1%
Residual ajustado
Participa cinco vezes
Atividade
19
% dentro de participação TO
Participa quatro vezes
Terapêutica
11
Residual ajustado
Participa três vezes
Laborativa/ Grupo
8
% dentro de participação TO
Participa duas vezes
Oficina
Contagem % dentro de participação TO
Fonte: IENS, 2016.
Percebe-se que foi feita uma junção entre Atividades Expressivas com Oficinas Terapêuticas e Atividades Laborativas com Grupos de Atividades. Justifica-se esta junção para que a analise estatística dos dados se tornasse significativa, pois agrupou-se exatamente as duas sub variáveis que mais apresentaram resultados (expressiva e oficina terapêutica) com a duas que menos
apresentaram (laborativa e grupo de atividades). Enquanto que, as atividades educativas e grupos de autoajuda (N.A./A.A.), não apresentaram resultados, por isso não foram colocadas neste primeiro cruzamento. No paragrafo a seguir a Tabela 6 faz-se um cruzamento da variável Sentimento do Participante com Atividades Desenvolvidas na TO. Tabela 6: Cruzamento da variável Sentimento do Participante com Atividades Desenvolvidas na TO Atividades Desenvolvidas na TO Sentimento do Participante
Motivado
Contagem
100,0%
Residual ajustado
,0
,0
Contagem
7
2
9
77,8%
22,2%
100,0%
1,0
-1,0
2
6
8
25,0%
75,0%
100,0%
-2,5
2,5
2
1
3
66,7%
33,3%
100,0%
Residual ajustado
,1
-,1
Contagem
3
1
4
75,0%
25,0%
100,0%
Residual ajustado
,5
-,5
Contagem
3
0
3
100,0%
,0%
100,0%
Residual ajustado
1,4
-1,4
Contagem
24
14
38
63,2%
36,8%
100,0%
Contagem
Contagem % dentro de sentimento participante TO
% dentro de sentimento participante TO
% dentro de sentimento participante TO
Total
Total
36,4%
Residual ajustado
Estressado
Grupo Atividade
63,6%
% dentro de sentimento participante TO
Entediado
Terapêutica
11
Residual ajustado
Cansado
Laborativa/
4
% dentro de sentimento participante TO
Concentrado
Oficina
7
% dentro de sentimento participante TO
Animado
Expressiva/
% dentro de sentimento participante TO Fonte: IENS, 2016.
Pode-se perceber nesta tabela que foram sete (63,6%) o número de participantes que relataram motivação nas Atividades Expressiva/ Oficinas Terapêuticas; quatro (36,4%) os que relataram motivação nas Atividades Laborativas/ Grupo de Atividade. Os que relataram estarem animados foram sete (77,8%), referente à Atividade Expressiva/ Oficina Terapêutica; foram dois (22,2%) os que relataram estarem animados referente à Atividade Laborativa e Oficinas Terapêuticas.
Dois (25,0%) participantes que referiram concentração nas Atividades Expressiva/ Oficinas Terapêuticas; foram seis (75,0%) os que relataram concentração nas Atividades Laborativas/ Grupo de Atividade. Dois (66,7%) participantes disseram estarem cansadas nas Atividades Expressivas/ Oficinas Terapêuticas; foi um (33,3%) que relatou estar cansado nas Atividades Laborativas/ Grupo de Atividades. Pode-se perceber nesta tabela que foram três (75%) o número de participantes que relataram entediados nas Atividades Expressiva/ Oficinas Terapêuticas; um (25%) relatou estar entediado. Três (100%) participantes relataram estarem estressadas nas Atividades Expressivas/ Oficinas Terapêuticas; e nenhum (0%) relatou estresse na outra opção. No Gráfico 7 temos a perspectiva de futuro após a alta hospitalar. Em relação à perspectiva de futuro após a alta hospitalar, percebe-se que a maioria pretende voltar a trabalhar (12/31,58%); seguido do desejo de voltar a estudar (10/26,32%); em terceiro vem à vontade de retomar ou iniciar o tratamento no Caps (7/18,42%); os que perderam parte do vinculo familiar correspondem a seis indivíduos (15,79%); entretanto a aqueles que mesmo sabendo dos prejuízos advindos da dependência química, relataram que gostariam de voltar para as ruas (2/5,26%) e/ou voltarem para o uso de SPA’s.
PERSPECTIVA DE FUTURO 31,58 26,32 18,42 12
Fonte: IENS, 2016.
10
7
15,79
6
5,26 2
Perspectiva de futuro após a alta hospitalar % 2,63 1
Perspectiva de futuro após a alta hospitalar n
CONSIDERAÇÕES FINAIS A inclusão dos pacientes atendidos no setor de Terapia Ocupacional mediante as atividades realizadas no setting terapêutico proporcionou-lhes a inclusão em um novo ambiente, o discurso sai do estereótipo para uma flexível riqueza de sentidos. As trocas passam a ocorrer como crescimento mútuo, não negócio entre coisas. A mudança do estilo de vida e a busca por novas oportunidades de reinserção social passam a ser primordial em seu crescimento pessoal, familiar e profissional, incentivando-os durante os grupos de Terapia Ocupacional a importância da continuidade do tratamento a nível ambulatorial nos Centros de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas- CAPS ad. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. A. S.; SILVA, A. O; SILVA; S. S. Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPS-ad) de Campina Grande – PB: perfil socioeconômico dos usuários. In: Reunião Anual da SBPC, 62. 2010, Natal. Anais... Natal: UFRN, 2010, p. 18. ALMEIDA, R. A.; ANJOS, U. U.; VIANNA, R. P. T.; PEQUENO, G. Perfil dos usuários de substâncias psicoativas de João Pessoa. Saúde Debate, Rio e Janeiro, v. 38, n. 102, p. 526-538, jul-set 2014. BALLARIN, M.L.G.S. Algumas reflexões sobre grupos de atividades em Terapia Ocupacional. In: Pádua EMM, Magalhães LV. Terapia Ocupacional: teoria e prática. 2ªed. Campinas: Papirus; 2003. BATISTA, L.S.S.; BATISTA, M.; CONSTANTINO, P. Perfil de usuários de substância psicoativas do CAPS-AD em 2000 e 2009, Campos dos Goytacazes, RJ. Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 7, n. 2, p. 23-38, 2012. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO A SAÚDE. 041-Manejo clínico do usuário de crack Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília. p.380, 2013.Disponível em http://www.fhemig.mg.gov.br. Acessado em: 14 de Agosto de 2015. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. Saúde mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília. p. 11-18, 2000. ______________BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. Saúde mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília. p. 11-18, 2000. CARVALHO, M. D. A.; SILVA, E. O.; RODRIGUES, L. V. Perfil Epidemiológico dos Usuários da Rede de Saúde Mental do Município de Iguatu, CE. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas (Ed. port.), Ribeirão Preto, v. 6, n. 2, p. 337-349, 2010. COSTA, S. K. P. et al. Fatores Sociodemográficos e Condições de Saúde Bucal em DrogaDependentes. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, João Pessoa, v.11, n.11, p.99-104, 2011.
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AÇÃO EDUCATIVA EM SAÚDE: CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O CÂNCER DE PRÓSTATA Á PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL Brenda Jully Machado Silva 1, Jéssica Raquel de Souza Marques 2, Nágela Maria da Silva 3 Acadêmica do curso de Terapia ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. ³ Mestre, Docente e Supervisora do Estágio Supervisionado Hospitalar em Saúde Mental e Saúde Coletiva do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. ¹
RESUMO Realizar uma ação educativa em saúde tem como finalidade transmitir informações e conscientizar um grupo de pessoas a respeito dos agravos a saúde, através de diálogo, onde ambas as partes contribuem de sua maneira para a construção do conhecimento. A Terapia Ocupacional busca conscientização da informação através de prevenção e promoção da saúde, elevando o nível da qualidade de vida. O estudo tem como objetivo relatar a importância de uma ação educativa realizada com pacientes com transtorno mental. Trata-se de relato de experiência, de caráter qualitativo, participando 17 pessoas do sexo masculino, que estavam em regime de internação de um hospital psiquiátrico, realizado em novembro de 2016, em Fortaleza, Ceará, Brasil, cenário de campo prático do módulo Terapia Ocupacional no Contexto hospitalar II do curso de graduação da Universidade de Fortaleza. Foi realizada uma atividade educativa em alusão ao “novembro azul”, onde utilizou-se um banner,com informações sobre os cuidados de saúde para o homem, enfatizando a prevenção ao câncer de próstata. A atividade se realizou através de uma explanação informativa e depois uma roda de conversa, com troca de conhecimentos, onde acadêmicas e pacientes contribuíram sobre o tema. Houve, ainda, mediação em Libras pelas acadêmicas a um paciente surdo. Percebeu-se o envolvimento e a participação dos pacientes durante a atividade, com realização de perguntas e relatos de experiências de suas próprias vidas. Foi de grande relevância a inclusão do paciente surdo nesta atividade, onde além do acesso a informação e a trocas, percebeu-se que o mesmo se sentiu parte do grupo. A atividade proposta tida como uma ação educativa em saúde permitiu esse espaço de conscientização dos participantes sobre o câncer de próstata e manutenção do autocuidado. Sabido da importância da educação em saúde e compreendendo práticas que incluam o cidadão no processo enquanto ator social. Palavras-chaves. Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Ação educativa em saúde.
INTRODUÇÃO A terapia ocupacional se constitui uma profissão com várias áreas de atuação e que possui diversas definições, desde a sua criação aos dias de hoje, podendo ser definida como: Campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemáticas específicas (físicas, sensoriais, psicológicas, mentais e/ou sociais), apresentem, temporária ou definitivamente, dificuldades na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso de atividades, elemento centralizador e orientador na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico. (SCHNEIDER APUD RIBEIRO, 2005, p. 427) .
O terapeuta ocupacional em sua atuação centra-se ao cuidado humanizado que compreenda o sujeito em sua totalidade, considerando todos os aspectos de sua vida cotidiana. Por ser uma profissão que congrega conhecimentos de várias disciplinas, a terapia ocupacional pode “ser um elemento importante na construção de novos rumos para a atenção à saúde integral, globalizante e na perspectiva da totalidade, subjetividade e singularidade das pessoas. (BARROS; GHIRARD; LOPES; 2002, p. 98). O sujeito que sofre por algum transtorno psíquico vive uma ruptura da sociedade, visto como alguém
que não é capaz de realizar algumas atividades e que não entende o que se passa com o mundo e consigo mesmo. Como afirma Wachholz e Mariotti (2009) uma vez que a pessoa com transtorno mental está suscetível à incapacidade de gerar sentido em consequência do isolamento social e da ruptura das suas redes. O profissional de terapia ocupacional deve levar, por meio de sua especificidade, a ampliação do cuidado e a expectativa de resgate dos direitos de cidadania desses sujeitos. O sujeito não mais deve ser visto como portador de uma doença que precisa ser controlada, mas sim como pessoa que, devido às suas diferenças, necessita de locais e pessoas que o ajudem a garantir sua cidadania, a sua qualidade de vida, enfim, as suas trocas sociais e afetivas (RIBEIRO, 2005). A Terapia Ocupacional recobre um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, em educação e na esfera social, devendo desenvolver metodologias adequadas à ação territorial e comunitária. Assim, torna-se imprescindível para a terapia ocupacional aceitar os desafios que se colocam e buscar contribuir, a partir dos saberes que vem acumulando em outras esferas, na formulação e desenvolvimento de ações que possam equacionar problemas vinculados aos processos de ruptura de redes sociais de suporte. (SILVA; ARAÚJO, 2013, p.45).
Dentre as atividades que podem se utilizadas nesse contexto, é a educação em saúde ou ação em saúde, se faz de grande relevância como instrumento de promoção da saúde. Candeias (1997, p.211) define educação em saúde como “quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde” e promoção da saúde como “combinação de apoios educacionais e ambientais que visam a atingir ações e condições de vida conducentes à saúde”. Esse processo educativo tem como finalidade informar a população e conscientizar sobre os agravos a saúde. Segundo Ruiz, Lima e Machado (2004) a educação em saúde deve ter como propósito libertar as pessoas para que estas possam ser sujeitos sociais capazes de fazer opções construtivas para suas vidas e para a sociedade. Sabemos que para a pessoa com transtorno mental existem barreiras, que muitas vezes são criadas pelo próprio preconceito da sociedade, o sujeito deixa de ter autonomia, passa a ser dependente, é podado em suas escolhas, que na maioria das vezes é feita pela família. No âmbito da Educação em Saúde, a profissão em questão tem, como foco de intervenção, construir o elo inicial de uma cadeia evolutiva para a comunidade. Sua prática se constitui vinculada ao uso de atividades, sejam elas de autocuidado, de lazer ou laborativas, adotando prática que estimule as pessoas a reconhecerem seu estado de saúde e as mudanças necessárias no cotidiano, a fim de que
elas conquistem sua autonomia. (PAZ; SILVA, 2004). O terapeuta lança mão do uso das atividades que fazem parte do processo terapêutico no contexto da saúde mental, atividades como expressivas, lúdicas, artesanais, da vida diária e de automanutenção, psicopedagógicas, profissionalizantes, entre outras, para realizar ações educativas em saúde, como palestras que tragam o tema em questão algumas vezes se utilizado de materiais de divulgação entre outras ações. A proposta da educação em saúde diz respeito à constituição de um grupo aberto onde possam ser debatidas questões sobre a saúde, no estudo em questão o tema abordado foi o câncer de próstata. O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). É o sexto tipo de câncer mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representa aproximadamente 10% do total de cânceres. A taxa de incidência do CP é cerca de seis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. (JÚNIOR et al., 2015). O câncer de próstata é o sexto tipo de câncer mais comum no mundo e o segundo mais prevalente entre os homens no Brasil, sendo importante prevenir e tratar inicialmente as alterações prostáticas evitando o aumento da incidência de câncer de próstata. O câncer da próstata pode apresentar evolução silenciosa inicialmente; os pacientes podem não apresentar sintomas ou, apresentarem sintomas parecidos aos do tumor benigno da próstata. Com o avanço da doença, podem apresentar também dor óssea, problemas urinários, infecção generalizada ou insuficiência renal. A prevenção tem como intuito a redução da incidência e prevalência da doença nas populações. A queda das taxas de morbidade e mortalidade pode estar associada com o reconhecimento de doenças crônicas no estágio inicial e mudanças de hábitos. (INCA, 2014).
Com isso foi realizado uma ação educativa em saúde como finalidade de transmitir informações e conscientizar um grupo de pessoas com transtorno mental a respeito dos agravos a saúde, precisamente nesse realto sobre o câncer de próstata através de diálogo, onde ambas as partes contribuem de sua maneira para a construção do conhecimento. A Terapia Ocupacional buscou conscientizar da informação através de prevenção e promoção da saúde, elevando o nível da qualidade de vida. OBJETIVO O estudo tem como objetivo relatar a importância de uma ação educativa sobre o câncer de próstata realizada com pacientes com transtorno mental.
METODOLOGIA Trata-se de relato de experiência (MARCONI, LAKATOS, 2008), de caráter qualitativo (MINAYO, 2010), participando 17 pessoas do sexo masculino, que estavam em regime de internação integral de um hospital psiquiátrico, realizado em novembro de 2016, em Fortaleza, Ceará, Brasil, cenário de campo prático do módulo Terapia Ocupacional no Contexto hospitalar II do curso de graduação da Universidade de Fortaleza. A coordenação da ação educativa foi feita por duas estagiárias do 6º semestre do curso, com auxilio da professora e de outras estagiárias do mesmo semestre. As etapas se deram da seguinte forma: primeiro com a escolha do tema a ser abordado, o novembro azul, sobre o câncer de próstata. Segundo com a confecção do banner e estudo sobre o tema e confecção de algumas viseiras azuis. E terceiro o ação educativa propriamente dita. DESENVOLVIMENTO A atividade se realizou através de uma explanação informativa e depois uma roda de conversa, com troca de conhecimentos, onde acadêmicas e pacientes contribuíram sobre o tema. Em um grupo aberto onde pudessem ser discutidas questões sobre a saúde em geral dos usuários, privilegiando informações sobre a temática. Então foi apresentado sobre o câncer de próstata em alguns pontos como: conceito, diagnóstico, causas, tratamento, e dando enfoque na prevenção. Sobre a qualidade de vida, pois muitos fatores das causas dessa doença são pela forma de viver. Durante toda a ação, os pacientes participavam ativamente, fazendo perguntas e relatando experiências suas ou de alguém da sua família. É importante frisar que houve respeito e atenção por parte do grupo durante toda a atividade. Antes da ação iniciar, foi acordado sobre regras para melhor desenvolvimento do grupo, sendo elas: respeitar a opinião do outro, saber ouvir quando alguém estiver falando, não rir quando algum colega contasse alguma experiência e permanecer atento durante a ação. Houve, ainda, mediação em Libras (Língua Brasileira de Sinais) pelas acadêmicas, que coordenavam o grupo e que tinham conhecimento a cerca dessa língua, a um paciente surdo, já que conhecendo e respeitando a cultura surda e, ainda, reconhecendo o paciente como parte do grupo, era necessário que o mesmo participasse de forma ativa de toda a ação. Enquanto uma das acadêmicas falava, a outra interpretava para o surdo.
Essa mediação faz referencia a atuação do terapeuta ocupacional nesse cuidado mediante as demandas que o cliente traz, pois o cliente surdo que estava participando sentiu-se parte do grupo com esse acolhimento, e com as informações que não se perderam por conta da comunicação que aconteceu na língua de sinais. Realizar um trabalho educativo é tentar conscientizar a clientela no sentido de adquirir conhecimento da importância do uso de equipamentos de proteção individual com o objetivo de prevenção e promoção da saúde, elevando o nível da qualidade de vida. (PAZ; SILVA, 2004). Por ser o mês de novembro a professora solicitou que fosse feito uma ação educativa em saúde sobre o “Novembro azul”, que remete a conhecimento e prevenção sobre o câncer de próstata então direcionou duas das estagiárias para coordenação de tal ação. Utilizando banner com as informações necessárias sobre o assunto. O espaço onde foi realizada a ação estava ornamentado com a cor representativa do mês, a cor azul. Realizado no espaço da Terapia ocupacional foi montado o banner com muitas ilustrações e alguns conteúdos necessários para aquela clientela, com informações sobre os cuidados de saúde para o homem, enfatizando a prevenção ao câncer de próstata. Foram confeccionadas algumas viseiras azuis pelas acadêmicas que estavam coordenando a ação, com o objetivo de presentear cada paciente, fazendo com que se sintam amados e importantes pela Terapia Ocupacional. Ao longo da ação, enquanto as estagiárias explanavam sobre o assunto, iam surgindo dúvidas bastante pertinentes dos participantes, por exemplo, “se meu pai teve esse câncer, eu já sei que terei?”, “tem cura para o câncer de próstata?”, “a falta da prática de exercício físico, pode contribuir para o aparecimento do câncer?”, “a genética interfere nesse processo de adoecimento?”, entre muitas outras dúvidas. À medida que as dúvidas iam surgindo, as acadêmicas respondiam, mesmo que a pergunta já tivesse sido respondida. Foi explicado sobre a relação da genética e o surgimento da doença, que era a dúvida da maioria dos participantes. Foi permitida a participação dos pacientes a qualquer momento, sempre que as acadêmicas falavam algo que suspeitavam que fosse deixar uma dúvida, perguntavam se estavam compreendendo, ou se gostariam que fosse repetido.
Os pacientes, ao final, da roda de conversa, demonstraram que entenderam muito bem tudo o que foi explanado, até repetindo algumas frases faladas durante a ação e tirando dúvidas dos outros pacientes. Como critério de inclusão no grupo utilizou-se o nível de orientação, tolerância e compreensão e o desejo de participar, ao todo foram 17 homens que participaram. Pactuamos também com o grupo que os presentes seriam responsáveis de passar as informações para os demais e ficaram bastante satisfeitos e felizes por terem recebido esta função. Por último, foi distribuído uma viseira azul e foi preparado um momento de descontração, com um lanche, para proporcionar uma maior interação grupal. RESULTADOS Esta ação foi bem planejada e pensada pela professora do módulo e pelas duas acadêmicas responsáveis por coordenar a atividade, esta ação surpreendeu pelo nível de participação e a quantidade de pacientes envolvidos. Percebia-se através das expressão faciais o nível de satisfação e interesse pelo assunto. É importante a inclusão do cliente fazendo parte ativamente de seu processo de tratamento, visto não pelo seu diagnóstico, mas como pessoas na sua singularidade e importância. Durante a ação, não importava o motivo pelo qual aqueles homens estavam naquela sala, importava apenas que estes eram mais um que entenderiam o que é o câncer de próstata e como podem fazer para se protegerem desta doença. Sendo importante tratar o sujeito como um todo, não só em seus aspecto psíquico. Foi surpreendente a participação de todos os que estavam na ação. Pois à medida que um sujeito ia querendo falar, os outros se sentiam influenciados a também fazer um comentário. E neste momento era necessário fazer uma intervenção, pois todos queriam falar ao mesmo tempo. O paciente surdo tinha um brilho nos olhos que não era percebido nos primeiro dias em que participou das atividades da sala da Terapia Ocupacional. Para ele, ter alguém que o compreendesse naquele contexto, era algo acolhedor e inédito. Aos poucos ele ia se entrosando com os demais pacientes, que no início demoravam a compreender o que ele estava dizendo, mas que ao final já tinham paciência e queriam se comunicar com ele também. A Terapia Ocupacional tem papel fundamental neste contexto, mais especificamente nesta ação, pois fica visível o objetivo de reinserir o sujeito na sociedade, de ressignificar o cotidiano da pessoa com transtorno mental, de promover a independência e de torná-lo protagonista da sua saúde e do seu autocuidado.
Segundo Moraes e Lima (2012), a Terapia Ocupacional busca construir meios alternativos para as experiências do sofrimento e para a alienação social, através das atividades, que é a principal ferramenta do profissional. Neste estudo, a atividade que foi utilizada é a ação educativa, onde o sofrimento psíquico foi esquecido durante a manhã e alienação social foi substituída pela participação social, em que cada sujeito poderia construir o conhecimento naquele momento, junto com a Terapia Ocupacional. “[...] A Terapia Ocupacional preocupa-se com o desempenho do indivíduo em seu cotidiano e em como esse desempenho afeta seu engajamento em ocupações que sustentem sua participação social.” (MORAES; LIMA, 2012) O fato de os pacientes não serem informados sobre o prognóstico do câncer de próstata, pode gerar a doença, produzindo uma exclusão ainda maior da sociedade, por isso a preocupação de informá-los, pois todos os homens devem ser prevenidos. É necessário uma sistematização sobre educação em saúde, com práticas que objetivem a inclusão social no processo de ator social, reflexivo e informado para que o mesmo possa contribuir no processo de transformação social. (RUIZ; LIMA; MACHADO, 2004) Percebe-se a importância de ações como estas para a sociedade de modo geral, mas principalmente para pessoas que vivem em situações de exclusão social, que muitas vezes não têm acesso à informação devido a preconceitos por parte dos próprios profissionais da saúde. Um fato importante para refletir, também, é o quanto os pacientes deste hospital psiquiátrico valorizaram esta ação em saúde, o quanto se envolveram, participaram de forma como nunca participaram antes de outras atividades desenvolvidas no setor de Terapia Ocupacional. Portanto, é significativo para o sujeito com transtorno mental participar de ações em saúde, independente de onde esteja, no CAPS ou internado em um hospital psiquiátrico, o importante é que seja informado e ensinado sobre diversas doenças que pode vim a contrair no seu dia-a- dia, como qualquer outra pessoa, além de ser estimulado a ter independência nos cuidados a sua própria saúde. Considera-se, ainda, a atuação da Terapia Ocupacional nesta ação que reconheceu todos os participantes na sua singularidade, percebendo a necessidade de cada um quanto a informação, tendo um olhar atento para todos e, ainda, respeitando as diferenças de cada e incluindo um paciente surdo à roda de conversa, fazendo uma escuta qualificada de cada dúvida que surgia ao longo da ação.
Por fim, sugere-se que haja mais ações em saúde em todos os contextos, principalmente, dentro dos hospitais, na sua diversidade de especialidades, para que a população previna-se de doenças que muitas vezes causam inúmeras mortes, podendo ser prevenidas com pequenas ações de cuidado. Quando há promoção em saúde, há menos risco de surgimento de doenças na sociedade. CONCLUSÃO A busca pela conscientização e sensibilização da população através de práticas educativas em saúde proporciona a construção conjunta do cuidado, onde possibilita através da educação que o individuo seja responsável ativo e protagonista dos cuidados com sua saúde. Realizar esses momentos de discussão sobre saúde equivale num veículo de transmissão de informações essenciais para a prática de medidas preventivas. O terapeuta ocupacional com a sua prática pode contribuir de forma ativa nesse contexto e junto dessa clientela, com seu olhar diferenciado para o cuidado em saúde, pois seu eixo está na melhoria da qualidade de vida e promoção de vida. Deve considerar a complexidade do ser humano e proporcionando o desenvolvimento de suas potencialidades para que se torne efetivamente ativo nesse processo. Considerando que a pessoa com transtorno mental também pode ser protagonista desse cuidado, como são relatados nas novas formas do cuidado em saúde mental. A atividade proposta tida como uma ação educativa em saúde permitiu esse espaço de conscientização dos participantes sobre o câncer de próstata e manutenção do autocuidado. Sabido da importância da educação em saúde e compreendendo práticas que incluam o cidadão no processo enquanto ator social. A educação em saúde por si só, não tem como arcar com o compromisso de promover a saúde é fundamental que haja integração de ações intersetoriais, tentando solucionar as necessidades sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas, visto que todos estes setores interferem na saúde das pessoas. REFERÊNCIAS MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2010. MORAES, Gabriela Cruz de; LIMA, Fernanda Vieira dos Santos. Avaliação e intervenção em terapia ocupacional. In: NOTO, Cristiano S.; BRESSAN, Rodrigo A.. Esquizofrenia: Avanços no tratamento multidisciplinar. 2 ed. Santana: Artmed, 2012.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008. WACHHOLZ, Simone Miyuki Shinike; MARIOTTI, Milton Carlos. a participação do terapeuta ocupacional na reforma psiquiátrica e nos novos serviços de saúde mental. Cadernos de Terapia Ocupacional da Ufscar, São Carlos,, São Carlos, v. 17, n. 2, p.147-159, dez. 2009. RIBEIRO, M. C. A reabilitação psicossocial num CAPS: concepção dos profissionais. São Paulo, 2005. Dissertação (mestrado) - Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Schneider apud Ribeiro MBS, Oliveira LR. Terapia ocupacional e saúde mental: construindo lugares de inclusão. Interface. 2005; 9(17):425-431. BARROS, D.D.; GHIRARDI, M.I.G.; LOPES, R.E. Terapia Ocupacional Social. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13, n. 3, p. 95-103, set./dez. 2002. SILVA, Monique Carla da; ARAÚJO, Morgana Kallany Viana de. Terapia ocupacional em saúde mental: evidências basedas nas portarias do sus. Revista Baiana de Terapia Ocupacional, Bahia, v. 2, n. 1, p.4152, maio 2013.
Candeias NMF. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e mudanças organizacionais. Rev Saúde Pública.1997; 31(2):209-13. RUIZ, Vanessa Romeiro; LIMA, Alessandra Ribeiro; MACHADO, Ana Lúcia. Educação em saúde para portadores de doença mental: relato de experiência. Revista Escola Enfermagem Usp, São Paulo, v. 38, n. 2, p.190-196, dez. 2004. PAZ, Maria Hercília Dias da; SILVA, Raimunda Magalhães da. ações educativas em saúde: uma proposta da terapia ocupacional para pessoas portadoras de dermatoses. A Revista Brasileira em Promoção da Saúde, Fortaleza, v. 17, n. 2, p.72-78, abr. 2004. Instituto
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Disponível
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INTERVENÇÃO DE TERAPIA OCUPACIONAL A UMA PESSOA SURDA COM TRANSTORNO MENTAL EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Jéssica Raquel de Souza Marques¹; Nágela Maria da Silva²; Edyr Marcelo Costa Hermetto³ Acadêmica do curso de Terapia ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. ² Mestre, Docente e Supervisora do Estágio Supervisionado Hospitalar em Saúde Mental e Saúde Coletiva do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. ³ Mestre, Docente e Supervisor de Estágio Supervisionado Hospitalar em Saúde Mental Curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. ¹
_______________________________________________________________________ RESUMO A Terapia Ocupacional tem o papel de estimular e ampliar o autocuidado, resgatando a autoestima e a cidadania de sujeitos com transtorno mental. Através das atividades, o profissional atua diretamente com o cotidiano do cliente, auxiliando na organização e promoção do protagonismo social. O estudo é do tipo relato de experiência, de caráter qualitativo, realizada em novembro de 2016 em um hospital psiquiátrico, em Fortaleza, Ceará, Brasil, cenário de campo prático do módulo Terapia Ocupacional no Contexto Hospitalar II do curso de graduação da Universidade de Fortaleza. Participou um paciente surdo, 26 anos, fluente em LIBRAS. Inicialmente foi realizada uma avaliação em Terapia Ocupacional, para compreender todos os contextos em que o sujeito estava inserido e posteriormente elaborado um projeto terapêutico para o seu período na internação. O estudo descreve uma experiência de atendimento em Terapia Ocupacional com um sujeito surdo com transtorno mental no período de sua internação. Foi observado que o sujeito sofria de uma exclusão social, tanto dentro como fora do hospital, já que nenhuma pessoa sabia a língua nata deste. O mesmo se isolava dos outros clientes e não tinha amigos. Porém, após a intervenção da estagiária, que possuía uma fluência da língua de sinais, e da participação do cliente nos grupos , o mesmo iniciou um contato melhor com outras pessoas, melhorando seu nível de participação tanto nos atendimentos individuais como grupais. É de grande importância o papel da Terapia Ocupacional na saúde mental, pois visa a inclusão social, transformando o cotidiano do sujeito e potencializando sua identidade. Além disso, percebe-se a importância de todos os profissionais da saúde ter um curso básico de LIBRAS, para que o surdo possa ter um tratamento ao alcance como dos outros sujeitos.
PALAVRAS-CHAVE: Transtorno Mental, Surdez, Terapia Ocupacional. INTRODUÇÃO Em mundo totalmente oralizado, a surdez era vista como uma aberração, algo que deveria ser corrigido, sem levar em consideração questões pessoais do sujeito. Porém, atualmente, a língua de sinais vem ganhando espaço na sociedade e sendo adotada por muitos ouvintes. O surdo constitui sua identidade através de traços culturais como a língua, a percepção de mundo, os costumes, os relacionamentos e os fatores visuais e gestuais da comunidade ao qual pertence. (MUNGUBA, 2007) Então, seu desenvolvimento e interação social dependerão da forma como foi estimulado, como qualquer pessoa ouvinte. Levando isso em consideração, tem-se a diferença entre um sujeito surdo e um ouvinte, que se dá pela percepção visual, bastante aguçada para o primeiro, a cultura, a linguagem, as representações artísticas, entre outras especificidades.
Porém, vale ressaltar que nenhum é superior ao outro, mas as diferenças contribuem para uma exclusão social e uma desvalorização cultural que ainda hoje se faz presente. (RODRIGUES; QUADROS, p. 72, 2015) Isso é percebido no dia-a-dia, por exemplo, em uma escola regular com um aluno surdo inserido, sem que a mesma adapte a ensinagem de acordo com as necessidades do mesmo, ou em um hospital onde os profissionais não sabem se comunicar em língua de sinais ou não tem um intérprete; entre outras situações. Quando estas diferenças são respeitadas, a identidade surda é favorecida, contribuindo para um desenvolvimento cognitivo, afetivo, sociocultural e acadêmico da pessoa surda. Ao contrário, ou na ausência da interação surdo/surdo, essa identidade pode acarretar prejuízos para a mesma. Em uma pesquisa realizada por Lopes e Leite (2011), surdos relatam como se sentem perante a sociedade e a sua deficiência, alguns desabafam que sentem tristeza, submissão em relação aos ouvintes, desprezo, desvantagem e que tudo isso se relaciona desde a família até o ambiente escolar, laboral, lazer, hospitalar, entre outros contextos. Então, alguns surdos, desde a infância com a dificuldade na escola e de relacionamentos de amizade, sentem-se excluídos da sociedade, do mundo onde tudo se dá através do som e não só da imagem. Tudo isso, na medida em que essa criança vai se tornando um adulto, vai se tornando mais grave, gerando os problemas psíquicos. Dessa forma, a exclusão social ou da própria família, entre outros problemas, podem gerar depressão, dificuldades de socialização e de autoestima e, até problemas psíquicos, levando o sujeito surdo a, muitas vezes, uma solidão e a uma desvalorização cultural por parte dos ouvintes. A Terapia Ocupacional por ser uma profissão que se preocupa com o sujeito e tem o objetivo de inserir essa pessoa na sociedade, além de proporcionar a independência da mesma, está totalmente relacionada a este público. Segundo Silva e Araújo (2013), a Terapia Ocupacional tem a atividade como principal ferramenta de trabalho para promover o protagonismo social e transformar o cotidiano do sujeito em sofrimento psíquico. Utiliza-se das atividades durante todo o processo de tratamento terapêutico ocupacional do sujeito, já que esta reflete diretamente aquilo que foi colhido durante as avaliações do paciente sobre seus gostos, seu cotidiano fora do hospital, seus hobbies, relacionamentos, entre outros pontos importantes da vida da pessoa.
[..] A importância da relação do ser humano com o que produz e com os objetos que utiliza como própria extensão de seu corpo para produzir, colaboram com um modo de pensar de que fazer atividades não gera somente produtos, em um sentido unidirecional, do ser humano para a sua produção, mas sim também forçam uma relação com ele e uma relação da ordem de ter que produzir. (BENETTON; MARCOLINO, 2013)
As autoras deixam muito claro que a atividade não é realizada para preencher o tempo ocioso do paciente, o que é produzido durante a mesma, não é algo sem significado, mas que tem relação com a sua identidade, com o que está sentindo naquele momento e com a sua história de vida. A Terapia Ocupacional tem a sua atuação centrada no cliente, auxiliando na superação de barreiras que se opõem a sua participação social, na recuperação da sua identidade, desempenho de forma satisfatória de suas atividades de vida diária e na autonomia do sujeito. (SILVA; ARAÚJO, p. 49, 2013) O terapeuta ocupacional tem um olhar diferenciado dos outros profissionais, pois se preocupa com o indivíduo como um todo, em todos os contextos dos quais participa. Resgatando a identidade que, muitas vezes, o transtorno mental oculta, e a participação social propriamente dita, através de atividades produtivas, ou seja, que geram renda, artesanais, expressivas, lúdicas, entre outras. Outra forma de contribuir no auxílio do tratamento desse paciente é através da expressão, da experimentação e elaboração do sofrimento de várias maneiras, utilizando a diversidade de comunicação (pintura, música, teatro, escrita) e uma linguagem que propiciem um fazer significativo para este indivíduo. (COSTA; ALMEIDA; ASSIS, p. 192, 2015) Dentro do setting terapêutico, ou seja, dentro do espaço onde acontece o atendimento, o paciente fica livre para escolher a atividade que mais se identifica, expressando o que está sentindo de várias maneiras, com a supervisão do terapeuta ocupacional, que neste momento cria o vínculo entre terapeuta e paciente, formando assim a tríade da profissão que se constitui em terapeuta/paciente/atividade, fundamentais neste processo. Da mesma forma acontece com um paciente surdo, o mesmo processo é construído pelo terapeuta junto com o sujeito, porém realizando as adaptações necessárias, de acordo com a demanda apresentada pelo mesmo.
Portanto, o surdo não é diferente de qualquer outro paciente e, assim possui as suas particularidades e singularidades que devem ser respeitadas durante a intervenção. A Terapia Ocupacional, estando ciente disso deve basear o seu atendimento de acordo com a cultura surda e, ainda, de acordo com a forma de comunicação desse sujeito. OBJETIVO O estudo busca descrever uma experiência de atendimento em Terapia ocupacional com um sujeito surdo com transtorno mental no período de sua internação. METODOLOGIA O presente estudo é do tipo relato de experiência (LAKATOS; MARCONI, 2008), com abordagem qualitativa (MINAYO, 2010), realizado durante o campo prático do módulo Terapia Ocupacional no Contexto Hospitalar II, do curso de graduação da Universidade de Fortaleza. Durante o módulo as acadêmicas passaram por dois campos, sendo o segundo um hospital psiquiátrico, localizado em Fortaleza - Ceará, no qual foi realizado o estudo. Foi realizado em novembro de 2016 e teve como participante E., um paciente, do sexo masculino, surdo, 26 anos, residente na cidade de Canindé – Ceará, que chegou a capital do estado fugido de casa, fluente em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), que estava internado no hospital há poucos dias. Houve outras intervenções, porém, esta foi escolhida devido a sua importância. Foi utilizada uma ficha de avaliação de Terapia Ocupacional em Saúde Mental, realizada em LIBRAS, para compreender todos os contextos em que o sujeito estava inserido, seu histórico de vida e ocupacional, e posteriormente, foi elaborado um projeto terapêutico para o seu período na internação. DESENVOLVIMENTO O estudo teve início com uma avaliação realizada por meio de uma ficha de avaliação, padronizada, de Terapia Ocupacional em Saúde Mental, criada por docentes do curso da Universidade de Fortaleza. Em respeito ao paciente, que é uma pessoa surda, a avaliação foi realizada do começo ao fim em LIBRAS. Além dos componentes da ficha de avaliação, foi feita uma observação durante todo o momento em que estavam juntos a acadêmica e o paciente, sendo essa de fundamental
importância para a avaliação como um todo, pois muitas vezes o paciente fala muito mais com as expressões e com o corpo do que pelas palavras, propriamente dita. Inicialmente foi analisado o nível de compreensão da língua do paciente, pela acadêmica, para então adaptar a ficha para avaliar o mesmo. O roteiro de avaliação é dividido em onze questões que, durante a conversa com o paciente, devem ser contempladas, dentre elas estão: queixa principal, história da doença atual (HDA), histórico ocupacional, vida escolar, atividades de lazer, habilidades e interesses, atividades de vida diária e vida prática (AVD’s e AVP’s), relacionamentos afetivos, contatos sociais e diagnóstico situacional. Este roteiro de avaliação foi criado para auxiliar os acadêmicos durante as avaliações, portanto, se houver necessidade pode ser modificado e acrescentado, a depender da demanda do paciente. Todas as questões devem ser respondidas pelo paciente, para que seja avaliado, também, seu nível de orientação. Durante toda a avaliação, E. sinalizava em relação a Deus, que o mesmo iria libertá-lo, que se sentia culpado por tudo, que fugiu de casa, uma cidade do interior do estado, e que é “louco”, igual ao seu pai que também fugiu de casa. Pareceu desorientado sobre seu diagnóstico e sobre a data da sua admissão no hospital. Em relação a sua família, o paciente relatou que ninguém foi visitá-lo, que nem sabem onde ele estar, já que “pegou as suas coisas, guardou em uma mochila, pegou um ônibus e fugiu da sua cidade”. É um jovem com um cotidiano bastante empobrecido, não possuindo nenhuma atividade de lazer, laboral ou escolar. Nas atividades de vida diária é independente, relatando que as realiza sozinho e não precisa de nenhum tipo de auxílio. Dentro do hospital não tinha nenhum amigo, apenas na cidade onde mora tem dois amigos. Relatou, ainda, que tem três irmãos, porém, nenhum deles “quer saber dele”, como sinalizou. No decorrer da avaliação foi percebido que E. gostava de desenhar e de escrever, que ele mesmo pediu uma folha e um lápis para que pudesse demonstrar. Na folha, o mesmo desenhou uma caveira com dentes longos e escreveu seu nome, um ano (possivelmente o ano do seu nascimento), o nome bíblia, Japão e o nome Gessica (que segundo ele, foi sua namorada no passado), coincidindo com o nome da terapeuta.
Como a maioria das palavras que sinalizava eram relacionadas a Deus, como foi relatado anteriormente, o paciente falava que gostava de ler a bíblia, porém, lá no hospital ele não tinha nenhuma. Contava que ouvia a voz de Deus e que esse era a única pessoa que estava junto dele sempre. A partir dessa avaliação, foi sendo construído um vínculo entre a acadêmica e o paciente, favorecendo a participação do mesmo nas atividades de grupo. Aos poucos, no decorrer das intervenções, E. foi pedindo para participar das atividades de grupo e interagindo com os demais participantes do grupo. Durante essas participações das atividades de grupo, os outros pacientes perguntavam quem ele era, seu nome e, através da mediação da acadêmica, se iniciava um laço de amizade entre as partes. Os outros pacientes foram entendendo suas dificuldades e nas semanas seguintes, já chegaram para a sala da Terapia Ocupacional juntos. Sua primeira atividade foi durante a própria avaliação, onde ele pediu para desenhar. Na semana seguinte quando a acadêmica perguntou o que ele queria produzir ou o que ele gostaria de fazer, novamente ele preferiu desenhar. Então, o desenho era a sua principal forma de expressão. Seus desenhos sempre tinham características semelhantes, sempre com desenhos que lembram caveiras, desenhos que na sua maioria retratavam o sofrimento interior que estava sentindo e, ainda, seus delírios. Nas semanas seguintes, outras acadêmicas realizaram atividades artesanais, E. surpreendeu a acadêmica que lhe acompanhava, pois a mesma achava que ele não iria querer participar, mas o mesmo quis e participou. Sempre se dirigia a ela para fazer perguntas, pois só se sentia seguro com ela. Foi criado um vínculo entre terapeuta e paciente, que favoreceu o processo de tratamento no período em que a turma estava presente no hospital. Foi apenas um mês de intervenção neste hospital, portanto não se sabe como o paciente evoluiu após a finalização do módulo. Sabe-se que o mesmo já teve alta, porém não pode ser afirmado que voltou para a sua cidade natal ou para a sua família, já que o contato com o paciente foi encerrado no final do mês de novembro. O tempo foi curto, comparado a um tempo de estágio propriamente dito, mas foi bastante proveitoso para ressignificar o cotidiano de E. e para favorecer uma mudança de
comportamento, contribuindo assim para uma melhora da sua relação interpessoal e sua exclusão social. RESULTADOS No decorrer de cada intervenção, desde a avaliação inicial, o diálogo através da linguagem de LIBRAS foi fundamental para que a acadêmica conhecesse melhor E. (paciente) e o vínculo entre os dois fosse sendo construído. O paciente passou a perceber que naquele lugar tinha alguém que o compreendia, fato esse que o deixava muito satisfeito. Através da inserção do paciente no grupo, percebemos que o mesmo foi se identificando e se tornando membro do mesmo, percebeu-se que ele sentia-se parte daquele lugar e daquele momento, sendo aceito pelos outros membros do grupo. O que geralmente não acontecia com pacientes ouvintes, porém, devido ao histórico deste que foi relatado no decorrer deste estudo, essa interação social foi uma grande mudança no seu comportamento. Outro fator bastante relevante nessa intervenção é que E. se sentia seguro por poder falar o que estava sentindo, perguntar, quando não compreendia o que deveria ser realizado e saber o que os outros estavam falando, já que muitas vezes achava que os outros pacientes falavam mal dele, como comentou em um dos atendimentos. Daí pode ser identificado a importância da capacitação dos profissionais de qualquer área para a aprendizagem de LIBRAS, podendo transformar o ambiente em que o surdo está inserido e gerando, de imediato uma mudança no seu comportamento e das outras pessoas. Percebe-se que o surdo nesse contexto, e em outros, se torna uma pessoa excluída socialmente, rotulada como alguém diferente e “antissocial”, distante de todos e que não respondem a nenhuma tentativa de aproximação. Porém, é notável que tudo isso se dá pelo fato de não conseguir se comunicar ou ter medo que ninguém compreenda o que quer falar. Outro fator que dificulta essa interação é o fato de as culturas serem diferentes, tornando aquilo que para o surdo é certo, algo escandaloso para o ouvinte e vice-versa. Então, o que falta nessa situação é uma mediação entre as pessoas, para que ambas compreendam suas diferenças e semelhanças. A Terapia Ocupacional teve papel fundamental nesta intervenção, já que utilizou de atividades que eram significativas para E., ao mesmo tempo que foi uma ponte para o bom relacionamento entre o mesmo e os outros pacientes.
Segundo Munguba (p. 394, 2007), o sujeito surdo tem dificuldade, naturalmente, de se submeter a autoridade de alguém, para cumprir ordens, para obedecer a horários e possui, ainda, um limiar reduzido à frustação, tornando-o assim, difícil de ser compreendido e, até, gerando uma ideia de agressividade. Como foi relatado no estudo, o surdo possui uma cultura diferente e uma forma de ver o mundo totalmente diferente de um ouvinte, por isso, para o mesmo agir desta forma é algo natural, tido como certo em sua cultura. Dessa forma, precisa que alguém, pacientemente, lhe explique que essa atitude pode provocar sentimentos ruins nos ouvintes ou medo. Munguba (p. 394, 2007), ainda relata que “o terapeuta ocupacional precisa atuar a partir do vínculo e do conhecimento que tenha da história de vida e história ocupacional do cliente, desenvolvendo tarefas que envolvam as atitudes adequadas [...]”. Foi o que ocorreu durante as atividades de grupo em que E. participou. A atuação do terapeuta ocupacional tornou-se necessária neste sentido, já que essa situação faz parte do cotidiano desse sujeito e que interfere no seu comportamento social. Portanto, foi percebido várias mudanças no comportamento de E., que passou a querer entrar na sala de Terapia Ocupacional, se interessar em participar das atividades em grupo, que interagia com outros pacientes durante a partilha de materiais e durante toda a atividade. E que passou a ter amigos no hospital. CONCLUSÃO A partir deste estudo podemos compreender a importância de profissionais da saúde ter conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para um melhor atendimento de pessoas surdas, que precisam do serviço de saúde como qualquer outro usuário. Nesse sentido pode ser percebido a importância de uma intervenção como esta, que se preocupou não só com o quadro comportamental que o paciente estava apresentando e, também, em respeitar a identidade e a cultura surda, tão importante para o tratamento. Os resultados foram percebidos rapidamente, a partir da primeira intervenção, com a interação de E. com a acadêmica, já que a mesma tem um interesse pessoal pela cultura surda e fluência em LIBRAS, o que facilitou o atendimento.
É importante ressaltar que quando há respeito pelo sujeito que vai ser atendido, o tratamento flui de maneira natural e satisfatória, pois a confiança e a segurança são construídas. Como Benetton e Marcolino (p. 648, 2013) “abordam, a relação triádica contribui para uma boa relação entre as partes e para todas as atividades que serão desenvolvidas no decorrer do tratamento, podendo provocar transformações e surgimento de um novo”. Percebe-se que essa tríade da Terapia Ocupacional: paciente/terapeuta/atividade, se fez presente contribuindo para um melhor resultado, para a interação entre os participantes do estudo e para uma boa construção de vínculo entre as partes. Outro ponto importante a ser ressaltado é que a cultura surda deve ser melhor divulgada, para que a sociedade compreenda quem é o surdo e a desvalorização e a exclusão social chegue ao fim. Sendo a Língua Brasileira de Sinais a segunda língua oficial do Brasil (Lei Federal 10.436/2002), todos os cidadãos deveriam saber falar, assim a inclusão seria favorecida. Nesta intervenção algumas características da cultura surda foram esclarecidas para as outras acadêmicas do módulo, para a terapeuta ocupacional responsável pelo setor de Terapia Ocupacional do hospital e, ainda, para os outros pacientes que participavam do grupo de atividades. Com isso foi percebido que E. passou a ser melhor aceito pelos outros pacientes do hospital, alguns começaram a tentar se comunicar com ele ou pediam para interpretar o que queriam dizer e o que ele estava sinalizando e aos poucos foram se adaptando ao fato de ter uma pessoa de pé, para se comunicar apenas com E.. Considerando tudo isso, nota-se a relevância deste estudo para a Terapia Ocupacional, já que une uma área bastante conhecida da profissão, saúde mental, ao estudo de um público bastante comum do tipo de serviço, porém, pouco relevante para muitos profissionais. Ressalta-se, ainda, a importância da continuidade desse estudo, para que haja uma melhoria no atendimento desses usuários no serviço de saúde brasileiro. REFERÊNCIAS BENETTON, Jô; MARCOLINO, Taís Quevedo. As atividades no método terapia ocupacional dinâmica. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 3, p. 645-652, 2013. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LOPES, Mara Aparecida de Castilho; LEITE, Lúcia Pereira. Concepções de surdez: a visão do surdo que se comunica em língua de sinais. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v.17, n.2, p. 305320, 2011. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2010. MUNGUBA, M. C. Abordagem da terapia ocupacional na disfunção auditiva. In: CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. (Org). Terapia ocupacional: fundamentação e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007, p. 385-398. RODRIGUES, Carlos Henrique; QUADROS, Ronice Muller de. Diferenças e linguagens: a visibilidade dos ganhos surdos na atualidade. Revista Teias, v.16, n. 40, p. 72-88, 2015. SILVA, Monique Carla da; ARAÚJO, Morgana Kallany Viana de. Terapia ocupacional em saúde mental: evidências baseadas nas portarias do SUS. Revista Baiana de Terapia Ocupacional, 2013. COSTA, Luciana Assis; ALMEIDA, Simone Costa de; ASSIS, Marcella Guimarães. Reflexões epistêmicas sobre a terapia ocupacional no campo da saúde mental. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 23, n. 1, p. 189-196, 2015.
INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL A FAMÍLIA DE SUJEITOS COM TRANSTORNOS MENTAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA. Brenda Jully Machado Silva¹; Nágela Maria da Silva² Acadêmica do curso de Terapia ocupacional da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Terapeuta Ocupacional, docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre em Psicologia e Subjetividade pela UNIFOR. ¹
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_______________________________________________________________________ RESUMO No âmbito da Terapia ocupacional, deve haver sempre um lugar para a família no processo de tratamento, em qualquer área da saúde é indiscutível a importância do atendimento aos familiares, mas especialmente ma família do sujeito com transtorno mental esse atendimento é indispensável. Este estudo tem como objetivo relatar a importância do olhar e escuta da Terapia ocupacional com um olhar familiar da pessoa com transtorno mental. Trata-se de um relato de experiência, de caráter qualitativo, realizado em novembro de 2016 em um hospital psiquiátrico em Fortaleza, Ceará, Brasil, cenário de campo prático do módulo Terapia ocupacional o Contexto hospitalar II do curso de graduação da Universidade de Fortaleza. Em um dos atendimentos à cliente foram apresentadas algumas propostas de origami no qual a mesma realizou sem nenhuma dificuldade, mediado um momento junto de sua filha, onde elas interagiram na atividade. Porém, no dia da intervenção sua filha que a vinha visitar acompanhou sua mãe no setor de Terapia ocupacional, percebemos que a mesma precisava de uma escuta qualificada, identificou-se certo nível de sobrecarga por parte de sua filha, única familiar que visitava a mãe e era responsável pela mesma, algumas orientações referentes à saúde mental e o cuidado a cliente foram feitas. Foi percebida a importância da realização da atividade em conjunto e a relevância do envolvimento da filha no processo de tratamento da mãe. A mesma pediu para que fotografasse as duas com os origamis, e na semana seguinte a acadêmica presenteou com um porta retrato. A Terapia ocupacional é de grande relevância para uma melhor assistência aos familiares de pessoas com transtornos mentais. A sua intervenção possibilita a criação e a potencialização de relações, contextos e lugares que favorecem a escuta e o acolhimento dos familiares, além de uma abordagem centrada no cliente.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Saúde Mental, Família.
INTRODUÇÃO A pessoa com transtorno mental está sujeito à incapacidade de gerar sentido em decorrência do isolamento social e da ruptura das suas redes. O cuidado destinado a essas pessoas é constituído por uma equipe de profissionais da área da saúde que visam uma melhor forma de dar assistência a esses clientes, dentre as profissões está a Terapia ocupacional. A terapia Ocupacional possui diversas definições que consigo trazem a grandiosidade de atuação dos profissionais por todo o mundo. Pode ser definida como: Um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia de pessoas que, por razões ligadas a problemáticas específicas (físicas, sensoriais, psicológicas, mentais e/ou sociais) apresentem, temporária ou definitivamente, dificuldades na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso de Atividades, elemento centralizador e orientador na
construção complexa e contextualizada do processo terapêutico. (SCHNEIDER APUD RIBEIRO, 2005, p. 428).
Em Saúde Mental não se faz diferente a atuação desse profissional, dimensionando sua atuação pelo uso de atividades no processo terapêutico. Sabendo que nesse contexto o uso de algumas atividades pode ser o único momento que esse cliente se sinta autônomo, no fazer da atividade a ele proposta. Segundo Ribeiro (2005), o instrumento da profissão mostra-se adequado com as questões da transformação atual, mediante a essa nova lógica de inclusão social. A terapia Ocupacional, por ter como ferramenta principal a atividade, que reflete a cotidianidade do sujeito, pode transformar a sua ação junto à sua clientela em promotora de um protagonismo social que historicamente foi arrancado daqueles que foram marcados pela história da psiquiatria. Sabendo da história do tratamento de pessoas com sofrimento psíquico no Brasil, recordamos dos tratamentos com o uso de violências com os clientes hospitalizados, a terapia Ocupacional possibilita um cuidado diferenciado, trazendo mudanças no cotidiano do cliente hospitalizado. O terapeuta ocupacional amplia o cuidado e a possibilidade de um resgate aos direitos a cidadania. Por ser uma profissão que engloba conhecimentos de várias disciplinas, a terapia ocupacional pode “ser um elemento importante na construção de novos rumos para a atenção à saúde integral, globalizante e na perspectiva da totalidade, subjetividade e singularidade das pessoas” (BARROS et al. 2002, p. 97). Assim, na Terapia Ocupacional, o processo de trabalho, o raciocínio clínico e o ato terapêutico ocupacional se realizam no sentido da produção de seu objeto de trabalho, o que, no âmbito mais geral, corresponde à promoção, tratamento e recuperação da saúde humana e, num âmbito mais específico e disciplinar, do fazer humano relativo ao trabalho, lazer e atividades domésticas. Ao mesmo tempo em que busca reduzir limitações, dificuldades ou barreiras, investiga talentos, habilidades e aptidões, favorecendo o encontro entre essas habilidades e as ocupações oferecidas no mundo contemporâneo. (ALMEIDA; TREVISAN, 2011, p.303).
E o produto desse trabalho, do fazer da Terapia Ocupacional condiz com o que é proposto pela reabilitação psicossocial, fazer com que esse cliente tenha autonomia, participação social e recuperação da saúde humana fazendo menção a definição da organização Mundial da saúde, onde saúde não é a ausência de uma doença, “Organização Mundial de Saúde (OMS)
define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental, social e espiritual não somente ausência de afecções e enfermidades”. (OMS, 2016). Nesse processo de inclusão social a família se faz de extrema importância e a Terapia ocupacional por ser uma profissão que deve está inserida em todos os contextos do cliente, faz essa relação de troca e apoio às demandas dos familiares. Sabe-se que as famílias das pessoas que passam por um sofrimento psíquico devem ser incluídas no processo de reabilitação psicossocial de seus parentes, pois a nova forma de cuidar em saúde mental prevê a reabilitação psicossocial desse sujeito. Porém muitas famílias devido ao desconhecimento da doença, ou um conhecimento do senso-comum não consegue enfrentar de forma satisfatória esse processo de adoecimento, necessitam também de uma escuta e olhar acolhedor, para entender o sofrimentos de seu familiar, e junto com a equipe colaborar e ajudar no processo terapêutico. As famílias são importantes, não importa como são definidas. Elas fornecem um dos contextos chave e pontos de referência para a socialização, pois ajudam a desenvolver as identidades e moldam o comportamento de seus membros em relação aos outros. É no seio das famílias que se aprende a estar no mundo, como se entende e se interage com o mundo e as pessoas ao redor. As famílias fornecem o contexto para a aprendizagem das crenças, valores, atitudes e costumes que norteiam parte da vida dos indivíduos. (CASAGRANDE et al. 2015, p. 428)
Considerando essa família como unidade básica de cuidado necessita um preparo e apoio dos profissionais. As ações dirigidas aos familiares de indivíduos com transtorno mental devem se estruturar de maneira a favorecer e potencializar a relação familiar/profissional/serviço, bem como a relação familiar/pessoa com transtorno mental. (PEREIRA, 2003). Borba, Schwartz e Kantorski (2008) referem que ao receber suporte para enfrentar as dificuldades no relacionamento com a pessoa com transtorno mental e a sobrecarga, a carga emocional da família é amenizada. Ela deve ser encarada como foco de intervenção para que seus anseios sejam acolhidos e sua sobrecarga seja minimizada. Sendo necessário conhecer a dinâmica daquela família e estabelecer as metas de intervenção a partir de sua realidade. No contexto de atenção à família, o terapeuta ocupacional deve estabelecer um programa selecionando, analisando e, se necessário, adaptando atividades que atendam às demandas da pessoa com transtorno mental em si, mas que se fundamente nas possibilidades da família. Também é de sua responsabilidade manter os familiares informados acerca da doença do indivíduo, além de oferecer suporte para que eles exponham suas dúvidas, angústias, temores e incertezas. (ROSA et al., 2010, p.9).
No âmbito da Terapia ocupacional, deve haver sempre um lugar para a família no processo de tratamento, em qualquer área da saúde é indiscutível a importância do atendimento aos familiares, mas especialmente ma família do sujeito com transtorno mental esse atendimento é indispensável. OBJETIVO Este estudo tem como objetivo relatar a importância do olhar e escuta da Terapia ocupacional com um olhar familiar da pessoa com transtorno mental. METODOLOGIA O presente estudo é do tipo relato de experiência (MARCONI, LAKATOS, 2008), com abordagem qualitativa (MINAYO, 2010), realizado por uma acadêmica do sétimo semestre do curso de terapia ocupacional, da Universidade de Fortaleza, no mês novembro de 2016 em um hospital psiquiátrico em Fortaleza, Ceará, Brasil, cenário prático do módulo Terapia Ocupacional no contexto hospitalar II. Participaram do estudo a cliente a qual estava na instituição e sua filha que há vinha visitar. Utilizado como suporte teórico o método de Terapia Ocupacional dinâmico Nessa proposta, o núcleo central é a relação triádica, constituída por paciente, terapeuta ocupacional e atividades, que se caracteriza por possibilitar e manter uma dinâmica particular de funcionamento, na qual movimentos de ação e reação são determinantes da dinâmica relacional entre os três termos que a constituem. (BENETTON; MARCOLINO, 2013). Esse relato ocorreu em dois encontros: o primeiro encontro ocorreu no dia de visita à cliente, onde tivemos a oportunidade de conhecer mais a história de vida da cliente, apresentada por sua filha e a partir desse momento veio à demanda da escuta qualificada a família. O segundo momento foi na semana seguinte, onde foi presenteada a cliente um porta retrato contendo a foto da cliente com sua filha no momento da atividade que as duas realizaram juntas.
DESENVOLVIMENTO Ao iniciarmos nossa prática foi orientado pela professora que acompanhasse a cliente S. No Inicio da avaliação, fui presenteada com vários barquinhos de papel pela cliente, atividade na qual gostava sempre de fazer, então foi sugerido pela estagiária outros tipos de origami,
atividade esta que a cliente logo aceitou, nesse mesmo dia foi mediado um momento junto de sua filha, onde elas interagiram muito bem na atividade. Porém, no dia da intervenção sua filha que a vinha visitar acompanhou sua mãe no setor de Terapia Ocupacional, percebemos que a mesma precisava de uma escuta qualificada, identificou-se certo nível de sobrecarga por parte de sua filha, única familiar que visitava a mãe e era responsável pela mesma, algumas orientações referentes à saúde mental e o cuidado a cliente foram feitas. O conceito de sobrecarga é multidimensional, envolvendo diversos aspectos que interferem na rotina e dinâmica familiar, desorganizando o dia a dia da família (SOARES; MUNARI, 2007). A filha relatou que se sentia sobrecarregada todas as vezes que sua mãe voltava para casa, por ser a única pessoa que cuidava da mesma e que isso a limitava sua vida social, bem como seus momentos de lazer. Nesse momento foi feita a escuta e orientação a cerca de um acompanhamento também para a filha que compartilhava desses sentimentos. Então foi realizado esse momento dentro do setor de terapia ocupacional, enquanto era realizada a atividade com a cliente S a filha quis junto de sua mãe confeccionar os origamis. E relatava sobre como era o convívio fora do ambiente de internação, que sua mãe era muito dependente em algumas atividades e que isso deixava limitada em suas próprias atividades já que a mesma estuda, mas não trabalhava por conta de sua mãe. Foi feita essa escuta qualificada e mediante a essa escuta, foi feito algumas orientações acerca da saúde mental e os cuidados necessários. Além de uma breve explicação da condição de sua mãe, já que a filha não sabia direito sobre esse processo de adoecimento. Nesse contexto, a escuta apresenta-se como uma estratégia de comunicação essencial para a compreensão do outro, pois é uma atitude positiva de calor, interesse e respeito. (MESQUITA; CARVALHO, 2014, p. 1127). Sendo esse instrumento importante para a coleta de informações, saber escutar é essencial tanto para o cliente que vem com suas próprias demandas, como para o familiar, que se faz necessitado desse acolhimento. Acredita-se que os familiares devem ser acompanhados e orientados quanto às reais possibilidades de inclusão de pessoas com transtornos mentais. A família precisa ter informações sobre a doença, bem como do seu prognóstico, para que se sinta segura e consciente dos problemas que poderão ocorrer. (GONÇALVES; SENA, 2001).
Foi perceptível que a filha não se sentia preparada para receber sua mãe em casa, pelo desconhecimento da doença, do cuidado e por ser a única pessoa com essa responsabilidade. Assim, os familiares precisam sentir-se preparados para conviver a pessoa com transtorno mental em casa, bem como seguros quanto à disponibilidade do serviço de escuta e auxílio na resolução de problemas que venham a ocorrer (COIMBRA et al., 2005; MELLO, 2005). Feitas as devidas orientações acerca do tratamento de sua mãe, sobre seus cuidados e ao término da intervenção a filha pediu para que a estagiária tirasse uma foto em seu celular com sua mãe segurando ambas as atividades realizadas. Na semana seguinte foi entregue um porta retrato da foto tirada com a mãe e filha, com seus respectivos origamis confeccionadas na manhã junto da acadêmica de Terapia Ocupacional no setor dentro do hospital. A cliente S ficou emocionada com o presente, e disse que iria guardar e mostrar para sua filha na próxima visita.
RESULTADOS A terapia ocupacional por ser uma ciência que reúne conhecimentos de diversas disciplinas, se faz presente nesse processo junto à família da pessoa com algum transtorno mental. As intervenções que esses profissionais ofertam podem exigir que os indivíduos e, talvez, toda a sua família, mude sua rotina diária. Esses pedidos podem ser atendidos, acrescentando-se algumas ocupações ou atividades específicas na rotina diária ou alterando-se a forma de execução estabelecida para essas rotinas. Muitos terapeutas sabem, no entanto, que essas alterações não são fáceis de implementar. (CASAGRANDE et al., 2015, p.433)
Como as famílias são elementos de grande importância na sociedade, elas devem fazer parte do discurso dos terapeutas ocupacionais. Os desafios que esses profissionais enfrentam com esse contexto é elaborar, planejar intervenções como adotar uma perspectiva de sistemas sociais, colocar a família como uma unidade de intervenção, capacitar às famílias, promover o crescimento da produção de comportamentos ao invés de tratamento dos problemas, focar na identificação das necessidades da família, construir a capacidade da família, fortalecer a rede social da família e expandir papéis profissionais e a forma como os papéis são executados (CASAGRANDE et al, 2015). Esse cuidado não consiste apenas em permitir a presença da família junto ao portador de transtorno mental, mas sim sua inclusão no cuidado, onde os familiares
atuam como parceiros efetivos da equipe de saúde, tanto planejando quanto realizando o cuidado. Essa é uma prática fundamentada na informação compartilhada e na colaboração entre a equipe de saúde e a família (MATTINGLY; LAWLOR, 2009).
A intervenção da Terapia Ocupacional oportuniza a criação e a otimização de relações, contextos e lugares que favorecem a escuta e o acolhimento dos familiares. Como ocorrido na intervenção com a mãe e filha, fortalecendo esse cuidado. A partir dos vínculos criados nos espaços de acolhimento e escuta, a família se sente fortalecida para lidar com o transtorno mental e tem a possibilidade de reorganizar seu núcleo familiar de acordo com sua vivência com a doença mental. (ROSA; ROSSIGALLI; SOARES, 2010). Para que a família se sinta amparada e fortalecida é fundamental que as intervenções e os suportes a ela assegurados envolvam questões de informação, base para aumentar a capacidade emocional, escuta de questões particulares, dentre outras. Assim, pressupõe-se que a carga emocional da família e do indivíduo com transtorno mental seria diminuída através do envolvimento deles, dando-se suporte para o enfrentamento das dificuldades relacionadas ao transtorno mental, da sobrecarga, da culpa, do isolamento social, da carência de informações, dos problemas de vínculo com os profissionais de saúde, das situações de crise, emergência e conflitos familiares, aumentando o nível de interação e empatia da família com seu familiar com transtorno mental (COIMBRA et al., 2005). Utilizando a escuta e passando a valorizar as angustias e preocupações que aquela familiar estava passando oportunizamos uma melhor comunicação, e compreensão das suas preocupações pessoais. Assim como Brusamarello et al. (2013):“No cuidado, a escuta pode minimizar as angústias e diminuir o sofrimento do assistido, pois por meio do diálogo que se desenvolve, possibilita ao indivíduo ouvir o que está proferindo, induzindo-o a uma autorreflexão” Foi percebida a importância da realização da atividade em conjunto e a relevância do envolvimento da filha no processo de tratamento da mãe, por meio do olhar em que a estagiária de Terapia ocupacional teve naquele momento e sua escuta a família, trazendo na
prática essa relevância que deve ter a família do cliente. A mesma pediu para que fotografasse as duas com os origamis, e na semana seguinte a acadêmica presenteou com um porta retrato.
CONCLUSÃO Mediante o aumento da responsabilidade da família no cuidado ao indivíduo com transtorno mental e o impacto que essa situação gera no núcleo familiar, destaca-se a necessidade de inclusão dessa família no processo junto ao cliente com objetivo de aumentar a qualidade dos serviços, assim como diminuir a sobrecarga sentida por esses familiares. A Terapia Ocupacional é de grande relevância para uma melhor assistência aos familiares de pessoas com transtornos mentais. A sua intervenção possibilita a criação e a potencialização de relações, contextos e lugares que favorecem a escuta e o acolhimento dos familiares, além de uma abordagem centrada no cliente. É preciso que os profissionais da área da saúde forneçam as informações aos familiares sobre a doença do indivíduo, o tratamento oferecido ao sujeito com transtorno mental. Estratégias para lidar com a pessoa com transtorno mental no dia a dia e nos momentos de crise devem ser fornecidas pelos profissionais, além do apoio nas dificuldades enfrentadas. Bem como a importância da escuta por esses profissionais aos familiares, torna-se necessário uma reflexão sobre a escuta como essa ferramenta. O cuidado é o elemento essencial para a transformação do modo de viver e do sofrimento do indivíduo com transtorno mental e de sua família no cotidiano. Portanto, os profissionais de saúde necessitam desenvolver maneiras de inserção da família no cuidado. O terapeuta ocupacional, por meio de sua prática, pode contribuir de maneira significativa nesse trabalho, mediante a escuta, orientações e acolhimento desses familiares no cuidado ao cliente que está em sofrimento psíquico. REFERÊNCIAS BARROS, D.D.; GHIRARDI, M.I.G.; LOPES, R.E. Terapia Ocupacional Social. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13, n. 3, p. 95-103, set./dez. 2002. construindo lugares de inclusão. Interface. 2005; 9(17):425-431. BENETTON, M.J. Terapia Ocupacional e Reabilitação Psicossocial: uma relação possível In: PITTA, A. (Org.). Reabilitação psicossocial. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 2001. p.143-9.
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A INTERFACE DA ARTETERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL NOS PROCESSOS DE CRIATIVIDADE DOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Thiago Madeira Sousa¹, Edyr Marcelo Costa Hermeto², Nágela Maria da Silva³ 1
Graduando em Terapia Ocupacional, Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: tiagolevita@gmail.com
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Terapeuta Ocupacional, docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre em Saúde Pública pela UECE E-mail: edyrcosta@hotmail.com
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Terapeuta Ocupacional, docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre em Psicologia e Subjetividade pela UNIFOR.
_______________________________________________________________________ RESUMO Objetivo analisar os processos criativos dos usuários de substâncias psicoativas através da interface entre a Arteterapia e Terapia Ocupacional. Metodologia: Pesquisa é de natureza qualitativa, descritiva do tipo relato de experiência. Realizada na Instituição Espírita Nosso Lar na cidade de Fortaleza - CE, sujeitos da pesquisa, usuários de substancias psicoativas de ambos os sexos em regime de internação integral, como instrumento de coleta de dados utilizou-se o Diário de Campo. Resultados e discussões: A interface da Arteterapia e Terapia Ocupacional privilegiou a experiência de ser e a espontaneidade, cooperando para a recuperação das capacidades de viver a vida dos pacientes sobre uma perspectiva dos processos criativos. Propor atividades, como usar a criatividade, envolve um investimento na relação terapeuta-paciente, isto, traz pessoalidade e particularidades na experiência promovida. Conclusão: considerando alguns aspectos apresentados na pesquisa, como, a melhora no quadro clínico e evolução de muitos pacientes através das vivencias de experiências com processos criativos, podemos contribuir para a relevância da atuação interfaciada em Arteterapia e Terapia Ocupacional. Palavras-chave: substância psicoativas, criatividade, arteterapia, terapia ocupacional, saúde mental ABSTRACT Analyze the creative processes of users of psychoactive substances through the interface between the Art Therapy and Occupational Therapy. Methodology: Research is qualitative, descriptive type experience report. Held in the Spiritist Institution Our Home in the city of Fortaleza - CE, the research subjects, users of psychoactive substances of both sexes in hospitalization regime, such as data collection instrument used the Field Journal. Results and discussion: The Art Therapy and Occupational Therapy interface privileged experience of being and spontaneity, working to recover the capacity to live the life of patients on a perspective of creative processes. Suggest activities, using creativity, involves an investment in the therapist-patient relationship, that brings personality and circumstances in promoted experience. Conclusion: considering some aspects presented in the survey, as the improvement in the clinical picture and evolution of many patients through vivencias experiences with creative processes, we can contribute to the relevance of interfaciada performance in Art Therapy and Occupational Therapy. Key words: psychoactive substances, creativity, art therapy, occupational therapy.
INTRODUÇÃO A história do uso de substâncias psicoativa, em épocas, culturas e sociedades diferentes, nos mostra que o ser humano busca não só experimentar o prazer, mas também refrigério para suas fraquezas, esquecimento de sofrimentos vividos e temores, contudo o da morte, e a modificação intencional dos estados de consciência.
Para Carneiro (2009), o uso de drogas é tão antigo quanto à própria humanidade e seu consumo deve ser encarado como permanente manifestação humana. A história do uso de drogas, em épocas, culturas e sociedades diferentes, revela que o ser humano busca não só a obtenção de prazer, mas também alívio para os cansaços, esquecimento de traumas e medos, sobretudo o da morte, e a modificação intencional dos estados de consciência. As drogas fazem parte dos hábitos e costumes de culturas diversas e transitam no imaginário social. O próprio conceito de droga é alvo de modificações, de acordo com momentos e contextos históricos. O uso de drogas ilícitas configura-se como um problema de saúde pública, por sua extensão e pela natureza das novas drogas, bem como pelos impactos sociais — sociológicos, econômicos, políticos — e pelos impactos sanitários — doenças diretas e indiretas, tratamentos e seus custos. A compreensão de uma problemática tão complexa requer diferentes leituras e atuação intersetorial e interdisciplinar, de cada vez maior número de profissionais de campos distintos como saúde, educação, justiça, polícia e serviços sociais.
O uso de substâncias psicoativas de forma imoderada causará danos irreparáveis ao sujeito e ao sistema familiar. Neste contexto, Schenker (1997) considera que o grupo familiar como a instância onde se desenvolve a primeira relação do indivíduo, e com base no pressuposto definido por Olivenstein (1985), a dependência química se estabelece a partir de uma dinâmica relacional (entre o sujeito, a droga e o contexto), no qual é possível pensar o fenômeno do abuso de substancias psicoativas ligado às experiências vividas na rotinafamiliar. Schenker (1997, p.49) refere que: “o indivíduo se interliga a família, que se interliga ao social, formando uma rede de causalidades múltiplas.” É perceptível que o uso de drogas vem atingindo todo o País. O consumo abusivo dessas substâncias se associa como determinante, hoje em dia, ao agravamento das condições sociais em nosso país. O aumento desordenado do consumo de substâncias psicoativas acontece em períodos em que rápidas mudanças sociais repercutem fortemente sobre o percurso de indivíduos e suas famílias, que têm de lidar com situações cada vez mais adversas. De acordo com o Ministério da Saúde (2005), o uso nocivo ou abusivo e a dependência de substâncias psicoativas é um grave problema de saúde pública no Brasil, com grande impacto no imaginário social e baixa resposta institucional, bem como é um transtorno de alta e crescente prevalência e reduzidas Políticas Nacionais Públicas eficazes na nossa atualidade. Diante da
problemática, o uso e abuso de substâncias psicoativas, requer intervenções complexas de diferentes áreas de conhecimentos. Conforme sinaliza Tedesco (1995, p.50): [...] a dependência química passa a ser uma conduta assumida frente a um projeto de vida insustentável, onde a comunicação entre o mundo interno e externo só se viabiliza frente a uma distorção das realidades vividas, ou frente a uma nova imagem de si mesmo, não, mas “eu”, mas “eu-droga” [...] Esta distorção ocorre pela alteração das percepções, alterações dos vínculos consequentes de uma atitude aditiva. Este projeto de artificialização da vida entra em falência quando o paradoxo do uso se acirra: o dependente químico encontra-se aqui em um momento de crise, quando percebe que continua não podendo viver sem a droga e, paradoxalmente, não pode mais viver com ela.
Quando o sujeito é levado a fazer uso de substancias psicoativas, percebemos inúmeros motivos: a ansiedade, a busca pelo novo, dificuldades familiares. Nesse momento, muitas vezes, não conseguindo lidar com suas angústias, se voltam para a droga como fuga ou refúgio. Nesse contexto que possibilita o sujeito a busca incessante pelas substancias psicoativas, devemos compreendê-los proporcionando sua inserção em grupos terapêuticos objetivando a reestruturação de seus processos criativos vinculados a grupos de Terapia Ocupacional e Arteterapia como possibilitador do potencial criativo do sujeito, respeitando sua singularidade, possibilitando assim uma revalorização da vida em sentido amplo. A Terapia Ocupacional e a intercessão com a arterterapia, proporciona o sujeito usuário de substâncias psicoativas a processos criativos, permitindo promover o contato entre os aspectos subjetivos e objetivos da realidade do sujeito. Nesse contexto, abre-se espaço para o aparecimento de formas de expressão mais integradoras de sua personalidade. Para Valladares (2008), a Arteterapia pode ser uma ferramenta no cuidar em saúde, um processo terapêutico que utiliza a arte como espaço de criatividade, experimentação, transformação e facilitação da experiência simbólica de dependentes de drogas hospitalizados e em fase de recuperação. A Arteterapia é uma forma lúdica de mobilizar processos internos conflitivos, facilitando a estrutura e expansão da personalidade conforme sinaliza os autores Valladares (2008); Vibranovski (2002) e Jung (2005). Na Arteterapia, os conteúdos do inconsciente são registrados pela produção de imagens. A análise dos conteúdos das produções simbólicas apresenta o reflexo da vida intrapsíquica do autor e o seu significado, a consciência que os seres humanos fazem parte do universo simbólico. Arteterapia pode ser uma ferramenta no cuidar em saúde, um processo terapêutico que utiliza a arte como espaço de criatividade, experimentação, transformação e facilitação da
experiência simbólica, podendo ajudar os usuários de substâncias psicoativas e reconstruir um novo projeto de vida. Sakamoto (2000) coloca que a criatividade estabelece intima relação com a espontaneidade, com a franqueza, com a pessoalidade e se manifesta através das ações que o homem realiza e de sua ocupação. A capacidade de criatividade nos traz questões relacionadas à capacidade de autonomia, à subjetividade e à imersão no mundo simbólico. Para compreensão do presente estudo, é importante entender os processos de criação. O Criar é, em termos básicos, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o contexto da atividade, trata-se nesse novo, de novas coerências que se estabelecem para a mente do homem, fenômenos interligados de modo novo, e compreendidos em termos novos. Ostrower (1999, p.9) diz: O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e essa por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar. Como processos de intuição, os processos de criação relacionam-se intimamente com o nosso ser sensível. Mesmo no âmbito conceitual a criação se articula principalmente através da sensibilidade. A sensibilidade é própria a todos os seres humanos. Mesmo em diferentes graus ou talvez em áreas sensíveis que se diferenciam, toda pessoa que nasce, nasce com uma potencialidade de sensibilidade. A sensibilidade, portanto, representa uma abertura constante ao mundo e nos liga de modo imediato ao acontecer em nossa volta.
É característica do usuário de substâncias psicoativas, no momento em que chega para o tratamento a uma interrupção na continuidade da vida, e nos processos de criação de projetos e inserções sociais, acompanhado de dificuldades em fazer escolhas pessoais. Karaguilla (2013) refere o ato de realizar atividades, como algo que implica um investimento pessoal na presença de um outro, que faz da experiência particular e traz a pessoalidade. A criatividade dá-se pelas manifestações do sujeito e sua subjetividade na cultura. Sendo assim, a criatividade como entendemos, implica uma força crescente que vai se renovando pelos próprios meios dos quais se realiza. Franco (2004) coloca que o setting terapêutico privilegia a experiência de ser, a espontaneidade, visando recuperar, ao menos em parte a capacidade de impregnar a vida com um toque pessoal. Diante do que foi apresentado acima, vemos a importância da interface da Terapia Ocupacional coma Arteterapia. Observando que tanto a Arteterapia com a Terapia Ocupacional, direcionam suas ações e projetos terapêuticos, no intuito de construir espaços de troca e de convivência com os diferentes, buscando a inclusão de pessoas, contribuindo para a experimentação de toda a integralidade do homem, promovendo o resgate da auto-estima,
exercício de sua cidadania e melhoria na qualidade de vida.
Deste modo, os processos de
criatividade, é a matéria prima desta pesquisa. Considerando o presente estudo, surgiram então, alguns questionamentos: Como se dá a relação do usuário de substâncias psicoativas e esse mundo que pode ser conflituoso à sua volta? É possível uma imersão em experiências criativas para um resgate de sua autonomia? Como a Terapia Ocupacional e a Arteterapia, podem favorecer o uso da criatividade dos usuários de substâncias psicoativas? O intuito desse estudo é mostrar a importância desses encontros do sujeito consigo mesmo e suas potencialidades, visando à importância da criatividade na saúde do homem, e como a Terapia Ocupacional e a Arteterapia podem favorecer a ressignificação da vida para usuários de substâncias psicoativas. A pesquisa em Terapia Ocupacional interfaciada à Arteterapia, será relevante para o desenvolvimento de estratégias que possam favorecer uma melhor compreensão da dinamicidade das propostas que podem ser eficazes para intervenções em saúde mental, contribuindo assim, para a construção de um setting terapêutico voltado à promoção de experiências singulares durante o tratamento de usuários de substancias psicoativas, possibilitando dessa forma uma fazer criativo rumo à independência.
METODOLOGIA Pesquisa é de natureza qualitativa, descritiva do tipo relato de experiência. Teve como instrumento de coleta de dados o Diário de Campo. Como critério de inclusão nos grupos, utilizamos o quantitativo de dez (10) pacientes de ambos os sexos, com faixa etária acima de dezoito (18) anos de idade, sem sintomas psicóticos e que tivessem o interesse em vincular-se aos grupos terapêuticos, o quantitativo se deu por acreditar ser um número significativo para a pesquisa. Como critério de exclusão pacientes usuário de substâncias psicoativas com sintomas psicóticos e pacientes sem diagnósticos de dependência química, em regime de internação integral na Instituição Espirita Nosso Lar na cidade de Fortaleza - CE. Inicialmente foi realizado um planejamento para a concretização das atividades, estabelecido os critérios de vinculação nos grupos como aderência e vinculação dos pacientes ao processo grupal. Ficou estabelecido que seriam realizadas 10 sessões grupais, de uma hora e meia
de duração, nos dias de segunda e sexta feira, no qual levou-se em consideração as dificuldades de cada paciente, o horário da execução da atividade os recursos e materiais necessários para a elaboração da proposta, como telas, tintas e pinceis, lápis de cor, giz de cera, recursos que estimulassem a criatividade e expressividade, com previsão de uma hora de duração. RESULTADOS E DISCUSSÕES As atividades foram realizadas no setor de Terapia Ocupacional do Hospital Nosso Lar, onde atendem pelo SUS. O setor é de fácil acesso, faz parte do contexto social dos mesmos, onde eles frequentam nos horários livres e participam livremente das atividades em Terapia Ocupacional. As atividades foram iniciadas com dinâmicas de apresentação, seguidas de uma escuta da história de vida dos mesmos. Ficou esclarecido com o grupo como seria a proposta da presente pesquisa. Sakamoto (2000) diz que, a experiência criativa ao longo da vida, depende primeiramente de condições ambientais afetivamente favoráveis, que contribuam para a manifestação
do
potencial criador.
Dentro
das
propostas,
obtivemos
momentos
de
compartilhamento, produção e pinturas em diferentes tipos de materiais. O desenho está relacionado ao movimento e ao reconhecimento do objeto e tem a função ordenadora (VALLADARES, 2008). Nessa feita, as propostas em pinturas trouxeram harmonia e intenso prazer ao grupo, possibilitando-os que associassem os desenhos às imagens trazidas por suas memórias. A técnica da mandala em Arteterapia de abordagem Junguiana, tem uma dupla finalidade, o de conservar a ordem psíquica, se ela já existe: ou de restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, incentiva a criação do ser humano (JUNG, 2005). Com a produção de uma obra, como o uso de mandalas, o grupo pôde atribuir valores e significados às produções. Philippin (2005) refere o uso da mandala como recurso que possibilita o distanciamento emocional, estimula a racionalidade e contribui para a ordem das ideias e acontecimentos. Nessa feita, o uso do desenho na mandala contribuiu para melhoria da estruturação psíquica, trazendo associações entre sensações relacionadas à experiência vivida no decorrer da atividade e imagens de cenas vividas em seu cotidiano, como relatou o paciente S em seu discurso no momento do fechamento com o grupo, ele disse:
[...]Eu gostei de fazer esse desenho porque não consigo me concentrar muito e ele me ajudou a concentrar sabe,...ao pintar essa paisagem, eu me lembrei do céu..._ sempre gosto de olhar pro céu, de ouvir o som dos pássaros , de ver o mar, o azul me lembra muito a praia, eu gosto de praia, me traz paz(...)sempre que eu posso eu vou à praia, ver o mar, ver o céu. Evidenciaram-se muitas vezes durante a atividade, a sensação de prazer do reconhecimento de suas obras, que os mobilizaram à realização de uma exposição do que tinham produzido. Machado (1991) nos diz que, o homem é um ser expressivo e sente a necessidade de se expressar, de simbolizar, de formar, além do que já expressa por si só em suas atividades cotidianas. Durante os processos arteterapêuticos e terapêuticos ocupacionais, houve possibilidades dessas pessoas reconhecerem seus estilos, usando tonalidades, demonstrando preferencias na escolha de materiais, perceberam em suas obras um reflexo de suas interiorizações, isto ficou evidente nas seções. Provavelmente foi esse espaço de liberdade e acolhimento que provocou nos pacientes o acesso à criatividade. A cada fechamento, foram obtidos gestos espontâneos de pessoalidade e peculiaridade nas produções. Para Winnicott, a capacidade de ser espontâneo somente pode surgir de uma experiência inicial de confiabilidade” (PHILLIPS, 1988, p. 64). Houveram pinturas em telas e colagens bidimensionais, rodas de conversa, espaço para falas, compartilhamento de percepções e exposições do que fora realizado. O paciente L, ao pintar em tela expressando sua percepção , nos relatou dizendo : [...] Esse vermelho me trouxe vida. Sinto força ao olhar para esse carmesim,... que me faz lembrar o coração, o pulsar dentro de mim, o sangue, que representa vida. Com a atividade proposta em Terapia Ocupacional, podemos observar a interação do paciente em seu discurso, seu desenvolvimento e envolvimento durante a seção. Castro e Silva (1990) traz uma forma de entendimento da Terapia Ocupacional que supõe o uso da atividade a partir do processo criativo, permitindo promover o contato entre os aspectos subjetivos e objetivos da realidade do sujeito. Nesse contexto, abre-se espaço para o aparecimento de formas de expressão mais integradoras de sua personalidade. Um paciente solicitava a ajuda do terapeuta ocupacional constantemente, diversas vezes perguntava sobre a técnica, se poderia pintar com outras cores, em que parte do desenho ele poderia pintar de azul, de vermelho, dizia que não conseguiria pintar o desenho todo, mas, suas
solicitações eram como se buscasse uma aceitação ou aprovação de suas decisões nas execuções da pintura. Aparentemente o paciente aparentava não ser um exímio desenhista, ao receber a orientação do Terapeuta, o mesmo pôde ser estimulado e concluir a atividade. Ao final obtivemos uma riqueza nos detalhes das cores, dos sombreamentos e também através de seu discurso, descobrimos sua habilidade com a pintura. Outro paciente, em sua narrativa, evidenciou um sentimento de alegria e grande satisfação ao poder acessar sua própria fala, ao reconhecer aspectos seus em sua atividade realizada: [...] Eu fiquei muito feliz, gostei muito,ficou muito bonito né,..eu gostei de poder pintar, colocar as cores que eu imaginei... quando eu comecei a fazer pensei que não poderia pintar, quando eu vi que estava pintando, me veio uma sensação de prazer e de muita alegria, eu era pintor, gosto de pintar e desenhar,.. foi muito bom [...] Ficou claro na atividade que o o papel do terapeuta ocupacional e do tratamento foi a aceitação do paciente e a estimulação para uma organização de suas habilidades artísticas. Foram obtidas expressões de habilidades artísticas que estavam adormecidas na vida desses pacientes, alguns não gostavam de falar, mas ao realizarem as atividades faziam questão de expor e de apreciar seus trabalhos. Nassif (1998 apud Castro e Silva 1990) menciona que o fazer da pessoa reflete o seu ordenar íntimo. Do mesmo modo, vemos que formar, nesta perspectiva, refere-se o fazer, experimentar, desmanchar e refazer, num movimento dialético entre homem e matéria. Isso porque, em suas tentativas de estruturar e dominar a matéria, o homem reconhece a sua estrutura e se reestrutura. Nas exposições dialogadas, nos chamou a atenção, o potencial desses pacientes, todos participaram assiduamente dos encontros. Castro e Silva (1990), nos diz que é nos significados que o indivíduo encontra, criando e sempre formando, que estrutura-se sua consciência diante da vida. Nessa perspectiva, podemos observar a necessidade que eles tinham de se expressarem e principalmente de criarem. O prazer de se relacionar com o meio que o cerca e poder criar, dar cores e formas, apareceu na narrativa da paciente M: [...]o fazer atividades como essa, me organiza, não sou muito de falar,.. eu não sei explicar direito o que estou sentindo, mas, é como que me acalmasse e me fizesse muito bem,.. essas cores, esse sol, o amarelo, me enche de vigor, me renova(...) eu gosto de criar coisas, mas eu não me considero uma artista(...)esse desenho fala comigo algo que não consigo expressar em palavras, mas esta me faz muito bem(...) Estou muito feliz, quero levar
comigo essa produção ao sair daqui. A possibilidade de expressividade não só verbalmente, mas através da atividade que o individuo realiza, pode gerar um impulso criativo, este se apresenta quando há relação da pessoa com o mundo em que está inserida. No registro da atividade com colagens bidimensionais o paciente F, evidenciou um resgate de suas experiências através de seu discurso: [...] Eu fui pedreiro, sei fazer construção, desenhar plantas de casas, edifícios(...) e eu desenhava muito bem(...) queria ser engenheiro(...). Eu tenho esse dom, eu sei desenhar olhando, tinha parado de desenhar, mas agora voltei[...] O paciente F encontrou maior segurança e liberdade, como dito em sua fala. As atividades e a experiência vivida, durante os trabalhos realizados, lhe forneceram maior aceitação e reconhecimento de suas habilidades, com isso o paciente pôde experimentar à realização da experiência com processos de criatividade. Através do trabalho realizado sobre “a interface da Arteterapia e Terapia Ocupacional nos processos de criatividade dos usuários de substâncias psicoativas”, os usuários tiveram um espaço que permitia o contato com suas habilidades criativas, onde puderam dar novos significados e serem estimulados a terem novas experiências de criação. No discurso dos pacientes que participaram do grupo, ficaram evidenciados que as atividades em Arteterapia entrelaçada à Terapia Ocupacional lhes possibilitaram momentos de relaxamento e houve o esquecimento de suas dificuldades atreladas ao uso de substâncias psicoativas. Ocorreu o aumento de experiências criativas, o que cooperou para uma organização do uso de seus potenciais, isto lhes trouxe consciência de suas habilidades que estavam ocultas. O raciocínio que embasa o processo terapêutico é o da compreensão dos seres humanos como capazes de realizar. Nos resultados colhidos, ficou evidente o acesso desses pacientes à experiência criativa durante as seções com as atividades. A maioria dos entrevistados relatou desprendimento das exigências externas na realização do que lhes era oferecido durante a terapia ocupacional, isto lhes possibilitou o empoderamento dos processos criativos e o gozo de sua pessoalidade nesses processos. Este desprendimento das inseguranças para o reconhecimento de suas habilidades ficou evidente no relato do paciente P, ao expressar o prazer das descobertas feitas nas atividades realizadas, onde o mesmo pôde ser atuante. Ele disse: [...] Eu me sinto agradecido pelo trabalho feito... por me aceitarem, por poderem me ajudar a acreditar que sou capaz de realizar. Não
acredito que fiz essas coisas atividades. Pretendo continuar esse tipo de trabalho ao receber alta(...). Sempre gostei de pinturas, mas não sabia que gostava tanto. Isso só descobri graças a vocês aqui da TO[...]. Wills G. (2003) refere que, à partir do sujeito, procura-se elaborar um projeto terapêutico que promova o deslocamento da substancia psicoativa do cerne da vida para a periferia, estimulando sua autonomia, de modo que deixe de ser escravizado pelo uso da substancia. Sair deste ciclo vicioso só é possível se a droga perder o significado como seu proposito de existir no mundo. Assim, abriu-se a possibilidade do estabelecimento de sentidos para os participantes do grupo onde os mesmos puderam ressignificar sua forma de relação com o ambiente à sua volta. Nesta feita podemos analisar os processos criativos dos usuários de substâncias psicoativas através da interface entre a Arteterapia e Terapia Ocupacional. O trabalho pôde privilegiar a experiência de ser e a espontaneidade, cooperando para a recuperação das capacidades de viver a vida dos pacientes sobre uma perspectiva dos processos criativos. Respeitamos suas singularidades, seu próprio tempo de organizarem-se para a compreensão e execução das atividades bem como suas necessidades. RESULTADOS E DISCURSSÕES Com a realização da presente pesquisa, percebeu-se a grande necessidade de se promover o uso da criatividade nos processos terapêuticos, entendendo o quanto a terapia ocupacional interfaciada à arteterapia favorece para a melhora do quadro clínico dos usuários de substancias psicoativas. Entendemos que as estruturações provocadas através de atividades artísticas, forneceram o uso da capacidade do individuo, onde o mesmo poderá reconhecer seu potencial e apoderar-se de sua pessoalidade. Com o desenvolvimento da pesquisa e analises dos processos criativos diante do perfil da clientela abordada, podemos compreender a necessidade de continuidade e grande relevância da pesquisa. São estudos desse tipo que contribuem para um amadurecimento dos processos terapêuticos e ampliação da clínica em terapia ocupacional utilizando vivencias de experiências com processos criativos, interfaciada à arteterapia. Trabalhos como este favorecem melhores condições para a saúde.
REFERENCIAS
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