A Bússola

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MULHERES TÊM APOIO NA LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA PÁG. 4

AUTOMUTILAÇÃO NAS ESCOLAS PREOCUPA EDUCADORES PÁG. 7 ANO I I NO 1 DEZ/2018 SALVADOR-BA

VACINAÇÃO EM XEQUE

Notícias falsas afetam campanhas de imunização Doenças erradicadas há mais de três décadas voltam a surgir por conta das fake news

Subúrbio Ferroviário tem reserva ambiental pouco conhecida pela população PÁG. 3 FOTO: BULTOM ORUMINI

Natação ajuda no tratamento de várias doenças PÁG. 14

AYAHUASCA Vinho das Almas: Conceição da Praia: padroeira Bebida de poder do estado completa 469 anos transformador PÁG. 16 PÁG. 19

FOTO: JEFFERSON GONÇALVES

Um esporte completo para todas as idades

FOTO: LEONARDO RATTES/ASCOM SESAB

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população brasileira voltou a correr riscos com enfermidades que estavam controladas, por mais de três dêcadas, pelas campanhas de imunização em massa ­promovidas pelo Ministério da Saúde, com apoio dos estados e municípios. Mas, nos últimos anos, notícias falsas colocando em dúvida a eficácia das vacinas fizeram com que a população deixasse de comparecer aos postos de saúde. Esses boatos contribuíram para o baixo índice de ­vacinação, ressurgindo dessa forma doenças já erradicadas. PÁG. 10


ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

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OPINIÃO

EDITORIAL

Escola Sem Partido é totalmente partidário

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om a vitória de Jair Bolsonaro a Presidência da Republica e com uma bancada a seu favor fortalecida e eleita, o projeto Escola Sem Partido ganha mais força e ocasiona medo aos professores e alunos. O projeto que visa a limitar, ou melhor, a eliminar, a liberdade de expressão em sala de aula, está sendo levado à votação. Sendo aprovado, será um dos principais motivadores para a diminuição de debates sobre assuntos determinantes para o senso crítico dos jovens. Com argumentos rasos e sem nenhum embasamento, os apoiadores do programa afirmam que é totalmente apartidário e não se trata de uma questão política, tampouco de perseguição, mas sim de questões morais e de bem das crianças e da família. Segundo os defensores, os professores ainda utilizam de sua “autoridade” para doutrinar os discentes, levando-os a se tornarem militantes esquerdistas e discutirem sobre sua sexualidade e identidade de gênero. Para eles, questões sexuais e de gênero devem ser discutidas e decididas em família, isso inclui pautas sobre feminismo. Além de ser uma emenda anticonstitucional, eliminando a liberdade de expressão dos docentes, é sabido que a reforma é totalmente partidária, uma vez que seria utilizada para persegui-

Verão em Salvador... um inferno! por Humberto Pitanga

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ção politica a professores esquerdistas. Na época da eleição presidencial em 2018, principalmente no segundo turno, vários professores e estudantes direitistas foram instigados pelo Deputado Federal e filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, a gravarem e denunciarem professores que se mostrassem apoiadores dos partidos de esquerda. Outro caso ocorrido após a vitória de Bolsonaro, foi da deputada e historiadora Ana Caroline Campagnolo, PSL, criou um canal de denuncias na internet para que os alunos denunciem professores “doutrinantes”. Ela denunciou em 2016 a ex orientadora por perseguição ideológica, e o caso foi julgado como improcedente. A grande contrariedade surge quando vários professores de direita foram vistos lecionando com camisas mostrando seu apoio ao Presidente eleito e não sofreram qualquer tipo de represália. Sem embasamento, totalmente aberta a contrariedade e perseguição aos docentes que não concordam com a visão da direita, o projeto Escola Sem Partido não tem o mínimo de fundamento para ser efetivado, uma vez que rasga o que se encontra presente na Constituição e fere os direitos dos alunos de obterem um local que lhes ajude a crescer como cidadão pensante.

Publicação do Curso de Comunicação Social/Jornalismo, turno noturno da FTC Faculdade de Tecnologia e Ciências

agonia já começa na Primavera. Fim de outubro, início de novembro, Salvador já se transforma na filial do inferno: 35OC na sombra. Pra provar que é coisa do diabo mesmo, todo dia amanhece chovendo, você acorda achando que a temperatura vai diminuir um pouco, AOOONDE? Basta colocar o pé fora de casa pra receber o barrufo escaldante do fenômeno da evaporação. O sol parece que espera você sair de casa pra dar as caras e ­sugar do asfalto, toda água da chuva que caiu na madrugada. A sensação é a de estar dentro da caçarola que esquenta a água pro café. “É patrão, hoje vai fazer um solzinho bom, né? O Verão tá chegando”, exclama Zé Carlos, porteiro do prédio, com uma mangueira molhando o jardim, mas sem deixar de notar todo mundo que entra e sai. Solzinho? Verão chegando? Só se for pra você, que vai ficar aí sentado o dia todo, com o ventilador na cara, olhando a vida dos outros, penso. Ele se aproxima pra falar alguma coisa, mas antes que comece, me antecipo e largo: “Já fui, viu Zé”, saio sem dar muito assunto, porque se deixar, perco o buzu. Chego no ponto com a testa brilhando de suor. Vou até a banquinha comprar um cigarro. É o melhor trago do dia. Mal dou duas puxadas o buzu chega. Dou sorte e consigo um lugar sentado, mas o calor está infernal. Ainda tem várias janelas fechadas. Olho pro lado e quase passo mal ao ver um estudante com um casaco pesado e com o capuz na cabeça. “BOM DIA, PESSOAL! ­DESCULPE INCOMODAR O SILÊNCIO DA SUA VIAGEM”. Entra no buzu, aos berros, um

ambulante vendendo capa pra documento por R$ 1. A ‘misera’ pede desculpa e continua gritando acabando com o silêncio da viagem. Três ambulantes depois, salto no ponto com destino ao trabalho. Bato uma paleta de uns dois quilômetros e finalmente chego, parecendo um cuzcuz. Após 20 minutos, meu hu­­mor começa a melhorar. A redação ainda está vazia e o arcondicionado ‘tá batendo certo’. Aproveito ao máximo porque daqui a pouco chega a galera que sente frio e começa a reclamar da temperatura. Seria mais fácil trazer um casaco, mas não, vem com umas blusinhas fininhas, decotada e quer desligar o ar. Engraçado como tantas coisas acontecem todo dia, do mesmo jeito, com as mesmas pessoas. É um eterno déjà vu. “Bom dia, bom dia, bom dia. O sol tá uma maravilha, esse fim de semana vai dar praia”, comemora uma colega. Me limito a retribuir o bom dia. É mais uma louca que adora o sol. Também vem de carro, com o ar ligado, ouvindo música. Venha de ônibus e quero ver chegar nessa felicidade toda. Tenho que manter a paciência porque o calor a partir de agora só vai aumentar. Com ele, vem as festas de largo, o Carnaval, turistas. Em cada esquina, em cada ladeira, em cada escadaria só se vê um povo branco, todo avermelhado parecendo um pimentão. A Barra lotada, Pelô lotado, praia lotada. Até pra comer um acarajé no Rio Vermelho dá trabalho. Todo mundo na farra e eu aqui trabalhando. Sempre tento tirar férias no Verão, mas minha chefa não deixa. Só me resta morrer de inveja ou de calor.

CONSELHO EDITORIAL WILMA NASCIMENTO DIEGO LUZ ADRIANA CALMON IEDA TOURINHO DYOGENES COSTA

DISCENTES CAMILE MACHADO

ILANA PEPÊ

MARIANA DIAS

CARLA THAINÁ

JEFFERSON GONÇALVES

NONATO COUTINHO

CAROLYNE SOARES

JULIA RODRIGUES

PEDRO LEONE

LAINE DIAS

RAFAEL LUCAS

LUCIANA CRUZ

REGIANE SANTOS

MAILA LIMA

TAINÁ RIBEIRO

HUMBERTO PITANGA

MARI SONCIARÊ

VINICIUS CERQUEIRA

ITALO ARAÚJO

MÁRCIO BATISTA

WILLIAM SÁLLI

CLARA ELIS

É um laboratório que destina-se a desenvol­ver os discentes nas técnicas de reportagens, cons­tru­ção dos variados tipos de textos jornalísticos, foto­gra­fia, edição, diagramação e editoração eletrônica de um jornal impresso.

DEJANIRA DA CONCEIÇÃO ÉRICA LIS COSTA FREDSON MANGABEIRA


CIDADE

I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

3 FOTO: CLARA ELIS

ANO I

REQUALIFICAÇÃO DO COMÉRCIO

Praça da Inglaterra ganha novo visual Espaço terá como homenageado o pacifista indiano Mahatma Gandhi por Regiane Santos

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epois de aproximadamente dois meses em reforma, a Praça da Inglaterra, no bairro do Comércio já aparece com um novo visual. Iniciada em setembro de 2018, já está com 90% da sua obra concluída. O tradicional bairro de Salvador, antigo coração financeiro e comercial da capital baiana, ganha um novo espaço mais sustentável. A prefeitura ainda não informou a data de inauguração, mas a previsão é para o início de 2019.

A Praça da Inglaterra ainda não foi finalizada, mas os alunos da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) já podem ver os resultados tanto ao passarem em frente como da sacada da instituição. A Prefeitura de Salvador, em parceria com a Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), contemplaram as principais ruas e praças do Comércio. Além da Inglaterra, as reformas se estendem pela Marechal Deodoro (Praça da Mãozinha), Visconde de Cayru e Rua Miguel Calmon. Segundo um ambulante, que não quis se identificar, as mudan-

ças eram necessárias. “As pessoas estão vindo cada vez menos ao Comércio por conta da falta de infraestrutura. A gente percebe isso na queda das vendas”. Ele diz que a Prefeitura ainda não o procurou para informar se essa reforma destinará novos espaços para sua atividade. Segundo Gilmario Santos, estudante de TI, da Faculdade Dom Pedro, o espaço precisava dessa requalificação. “Era uma praça sem graça, sem iluminação. O mau cheiro era terrível, muita sujeira e sem falar do alto número de mendigos”, disse Gilmario.

O estudante de TI, que frequenta o espaço, afirma ter tomado várias topadas em pedras que estavam soltas, passando por constrangimentos, mas se diz ansioso para ver o resultado. “Espero que seja positivo”, completou. A nova praça homenagea­ rá o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi com uma estátua erguida no local, bem como o Afoxé Filhos de Gandhi. O espaço terá novos pisos, iluminação, pedras portuguesas brancas, via de pedestre, bancos de madeira e outros equipamentos.

PARAÍSO NA CIDADE

Reserva de Mata Atlântica no Subúrbio Ferroviário FOTO: CLARA ELIS

por Tainá Ribeiro

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m dos últimos remanescentes de Mata Atlântica de Salvador está entre o bairro de Pirajá e o Subúrbio Ferroviário. Trata-se do Parque São Bartolomeu. A área tem cinco cachoeiras sendo somente três conhecidas, levando nomes de entidades do candomblé e da umbanda são elas: Nanã, Oxum (foto), Oxumaré, além disso conta com um manguezal e a barragem do Rio do Cobre. No parque está situada a Mata do Urubu, onde se instalaram os primeiros índios Tupinambás e depois dezenas de quilombolas. O local foi decisivo na Batalha de Pirajá, na luta pela Independência

da Bahia. Considerado o segundo maior bioma em área urbana do Brasil, abriga uma árvore Gameleira centenária. Espaço sagrado para as religiões de matriz africana na realização de seus cultos. Logo, quem visita a reserva tem o prazer de conhecer sua história através dos Guardiões

do Conselho da Área de Proteção Ambiental Bacia do Cobre (APA), que promovem uma trilha ecológica para a comunidade e, por meio dos funcionários, fazem pré-agendamento. O guia conhecido como Iraquiano afirma que os guardiões fazem um trabalho voluntário. “Lutamos

pela preservação da APA-Bacia do Cobre/São Bartolomeu, e, de dois em dois meses, promovemos uma trilha ecológica pelo parque. A próxima será no dia 16 de dezembro”, observou. No entanto, os visitantes do parque não se sentem seguros ao aventurarem sozinhos pelas trilhas, sendo sempre preciso irem em grupo. “Moro no subúrbio e sempre passava pelo parque, e nunca tive curiosidade de conhecer. Ao chegar lá, fiquei encantada com a beleza da natureza e nem imaginava que dentro da cidade tinham cachoeiras, porém a segurança deixa um pouco a desejar”, comentou Airane Alves..


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CIDADE

ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA

Centros ajudam vítimas a quebrarem ciclo de violência

Além das DEAMs, capital baiana conta com dois centros de referência FOTOS: HUMBERTO PITANGA

por Humberto Pitanga

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eminicídio é o termo uti­ lizado para se referir à prática de homicídio doloso que geralmente é motivado por desprezo ou discriminação contra o gênero feminino. Inserido no Código Penal (art. 121, § 2º, VI), atualmente considerado crime qualificado, pode che­gar à pena de reclusão de 12 a 30 anos e variar de acordo com a gravidade do crime cometido. Segundo o mapa da violência de 2015, o Brasil ocupa o quinto lugar na lista de países com as maiores taxas de agressões e assassinatos de mulheres. A Bahia teve aumento no número de casos e ocupa o primeiro lugar entre os estados do Nordeste nas taxas de feminicídio. Essa colocação da Bahia contrasta com os esforços empregados tanto pelo Governo do Estado quanto pela Prefeitura de Salvador. A Ronda Maria da Penha fortalece as ações de combate à violência doméstica no estado. Foram implantadas 15 delegacias especializadas no atendimento à mulher, sendo duas na capital e as outras 13 estrategicamente localizadas pa­ ra atender todas as regiões da Bahia.

O CAMSID tem instalações confortáveis e capacidade para acolher 30 pessoas, também presta um atendimento de referência às vítimas de violência e seus filhos. É o único no Brasil que oferece os dois serviços no mesmo espaço

“A prevenção à violência contra a mulher não ­deveria ser feita apenas com a vítima, mas também com os seus agressores” Maria Auxiliadora, psicóloga e coordenadora do CAMSID

CENTROS DE ­REFERÊNCIA Salvador conta com dois centros de referência no atendimento à mulher vítima de violência, o Centro de Referência Loreta Valadares (CRLV) e o Centro de Atendimento à Mulher Soteropolitana Irmã Dulce (CAMSID) que além do atendimento especializado, promove o acolhimento de vítimas em situa­ ções insalubres de violência. O CAMSID tem capacidade para acolher 30 pessoas

(mães e filhos), e junto com o Loreta Valadares prestou assistência, entre os meses de janeiro e julho de 2018, a mais de 2.500 mulheres. A coordenadora dos Centros de Referência e Casas de Acolhimento de Salvador, Maria Auxiliadora Almeida, entende que o feminicídio é um crime anunciado. Os primeiros sinais ocorrem com a falta de respeito,

violência de gênero, o desprezo, o ódio, a coisificação da parceira na relação, sentimento de perda de controle e da propriedade da mulher, violência psicológica e patrimonial. Para Maria Auxiliadora, o papel do CAMSID é “atender as vítimas de violência doméstica e familiar com o objetivo de fazer elas se perceberem nessa situa­ ção e quebrarem o ciclo dessa violência”, diz. No centro, elas têm atendimento psicossocial. “Tentamos conhecer a história

de vida dessa mulher e o que ela espera encontrar em nossos serviços”, reforça Auxiliadora. Após esse primeiro atendimento, a vítima é encaminhada para a assistência jurídica. Um estudo de caso é realizado pela equipe técnica e é apresentado à mulher um plano de atendimento e um plano de segurança. Esses planos são discutidos e definidos os pontos que estão em concordância com ela e a equipe, a partir desse momento é realizado os encaminhamentos. O ideal é que toda vítima de violência de gênero, além de prestar queixa contra o seu agressor, fosse encaminhada a um desses centros. Com as medidas que são tomadas e o ­apoio dado, muitos casos de feminicídio poderiam ser ­evitados.


CIDADE

ANO I

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Como fazer seu dinheiro render Consultora ensina como evitar gastos desnecessários durante o mês

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economia brasileira pas­ sa por um momento delicado, ao enfrentar uma séria crise. Segundo o Indicador Mensal de Reserva Financeira (IMRF), o brasileiro não tem o hábito de economizar. O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgou em fevereiro de 2018, que três em cada dez brasileiros, com renda superior a cinco salários mínimos, conseguiram encerrar novembro de 2017 com dinheiro guardado. Débora Helena, consultora de Finanças Pessoais e planejamento dá dicas no Instagram de como fazer o dinheiro durar até o fim do mês. Débora informou que para fazer o planejamento, antes de iniciar o mês a pessoa deve anotar o quanto ganha, o quanto vai gastar, listando primeiro todo o gasto fixo como:

o dinheiro sumia. Por não conseguir pagar o cartão de credito acabou perdendo-o. “Agora eu aprendi a ter controle dos meus gastos, consigo controlar o dinheiro que tenho”, disse Jessika. Na pratica, juntar dinheiro é uma tarefa difícil. Segundo a pesquisa da Confe­de­ração Nacional do Co­­mércio de Bens, Serviços e Turis­ mo (CNC), a p r o­x i m a d a ­ men­ te, em 2016, 60% das famílias bra­ sileiras estão endivi­da­ das. A consultora garante que o ideal é que seja investido, no mínimo, 10% do salário.

Para fazer o planejamento antes de iniciar o mês, a pessoa deve anotar quanto ganha e quanto vai gastar. Mas antes, o ideal é calcular o total de despesas mensais.

aluguel, água, luz, telefone e outros. À medida que o tempo for passando a pessoa anota o valor efetivamente gasto e compara com o esperado. Se acontecer um gasto não previsto este deve ser anotado. “No final do mês, comparar o que foi planejado com o que foi gasto e planejar o próximo mês”, afirmou Débora. Ela menciona que muita gente a procura para tirar dúvidas, aprender a economizar e investir. Uma delas foi Jessika Campos, 30 anos, declara que a vida era resumida em R$1.800, mas chegava no final do mês

por Márcio Batista

IBGE aponta recorde de Desemprego no Brasil

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crise econômica que assola o Brasil tem sido um fator preponderante no agravamento do desemprego, o chamado período pós-Copa e Olimpíadas acompanhado de toda a corrupção praticada em torno destes eventos. A maior consequência de tudo isso abateu-se sobre o mercado com o fechamento de 341,6 mil empresas entre os anos de 2013 e 2016, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo dados de agosto, o Brasil possui cerca de 27,6 milhões de pessoas sem empre­go formal, nesse grupo 4,8 milhões desistiram de procurar emprego, são os chamados desalentados. Outros 3,3 milhões poderiam

trabalhar mas não o fazem por motivos diversos, como por exemplo, mães que não têm com quem deixar os filhos. Engrossam essas estatísticas, os 8,1

milhões de brasileiros que se enquadram na chamada força de trabalho em potencial também conhecida como força de trabalho desperdiçada, formada

FOTO: MÁRCIO BATISTA

por Fredson Mangabeira

Diariamente, o SIMM oferece vagas de empregos na capital baiana

por pessoas que gostariam de trabalhar porém no momento da pesquisa não tinham disponibilidade por motivos diversos. Existem os que trabalham menos de 40 horas por semana, estes somam 6,5 milhões de trabalhadores. A pior de todas estas estatísticas remete aos que estão, de fato, desempregados. O gigantesco contingente em questão atinge os inacreditáveis 12,4 milhões de desempregados. Essa pesquisa do IBGE revela um país totalmente destruído econômica e socialmente. Partindo para a realidade local, a Bahia está entre os cinco estados brasileiros com a menor taxa de ocupação. A pesquisa aponta que na Bahia 16,5% da população está desempregada, o que dá um total de 1,1 milhão de desocupados.


EDUCAÇÃO

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MUITO ALÉM DA CRENÇA

Escola no terreiro de candomblé Instituição de ensino traz boas experiências a novos professores

FOTO: MAILA SILVA

por Maila Silva

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ocalizada no Bairro de São Gonçalo (Salvador), a Escola Municipal Eugênia Ana dos Santos oferece aos alunos um ensino um pouco diferenciado. A instituição está inserida num dos mais famosos terreiros de candomblé, o Ilê Axé Opô Afonjá, além de cumprir o calendário exigido pelo Ministério da Educação (MEC), ela inclui em alguns dias da semana a cultura do terreiro. Para os alunos, o ambiente é maravilhoso. A escola é rodeada por muitas árvores frutíferas, animais silvestres e uma cultura riquíssima. As crianças cursam do 4o ao 5o ano do Ensino Fundamental. Mirela Bárbara, graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia e especialista em Gestão e Coordenação Pedagógica, lecionou na escola e contou como foi a experiência de ensinar lá. “Hoje eu só visito a escola e as crianças, mas no período que lecionei foi tudo novo, muito enriquecedor”, afirmou Mirela. No dia da sua posse na Secretaria de Educação, seria definida a escola onde iria atuar. Naquele momento, as vagas disponíveis eram para bairros mais

A Escola Eugênia Ana dos Santos funciona dentro da área do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá (foto no alto)

longe de onde ela morava, então solicitou que fosse verificada a possibilidade de uma unidade nas imediações do Cabula. Foi quando surgiu uma vaga nessa escola, localizada no bairro do São Gonçalo. Essa oferta da vaga foi feita por um servidor, mas com muitas ressalvas, pois diversos professores retornavam à secretaria, para solicitar mudança de unidade, por não se adaptarem à escola. Mesmo assim, Mirela encarou o desafio e se dirigiu à instituição para assinar o Termo de Assunção com a diretora Iraildes Santos Nascimento. A jornada era em tempo integral. No primeiro dia de aula alguns acontecimentos causaram estranhamento, mas com o tempo foi se acostumando. A rotina

era como em toda as outras escolas. Às 7h30 o hino nacional e na seqüência o hino da escola. A diferença é que foi ensinado às crianças em Yorubá. Nas quartas-feira tem o amalá de Xangô (quiabo cortado, cebola ralada, pó de camarão, sal e azeite de dendê) com a presença da Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi’. A diretora da escola, que atua na unidade há mais de cinco anos, revelou já ter havido problemas. “Alguns não admitiam os trabalhos escolares que os professores mandavam, diziam que a gente influenciava na religião dos seus filhos”, afirmou Iraildes. A direção tem a certeza que a escola é diferente do ponto de vista de algumas pessoas, mas ela busca apoio da comunidade e luta para levar essa cultu-

ra aos alunos. Josefa, 42 anos, mãe de uma aluna disse que a cada dia sua filha tem mais respeito ao próximo. “Depois que minha filha começou a estudar na Eugênia ela é outra criança. Bem mais feliz e só nos traz alegria”, afirmou Josefa. A diretora informou que o projeto pedagógico da escola, foi construído com base no Livro de Mitos Africanos Irê Avó, de Vanda Machado. Todos os anos são selecionados um ou dois mitos desse livro para nortear o projeto. Dentro de tantas coisas uma das curiosidades é que as crianças aprendem a boa convivência em Yorubá que é um idioma da família linguística nígero­congolesa, falada secularmente pelos iorubás em diversos países ao sul do Saara.


EDUCAÇÃO

ANO I

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MARCAS PROFUNDAS

Automutilação nas escolas Quando as lâminas vão além de um simples corte, e os profissionais de educação precisam intervir

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ma nova problemática entre os jovens brasileiros caminha a passos largos embaixo de casacos, luvas, bonés e meias. Esse problema se chama automutilação. É um comportamento intencional, sem vias de querer o suicídio, onde a pessoa corta a própria pele, bate em si mesmo por razões sociais ainda não compreendidas. Em Salvador, a professora Paula Barreira que é estudante de psicologia contou que essa nova “tendência” entre os jovens não é nenhuma novidade para ela. Lecionando há 10 anos, a docente conta que este comportamento é bastante comum, principalmente entre os jovens de 13 e 17 anos. A professora relata que o caso mais recente foi de uma aluna de 13 anos. “O fato aconteceu esse ano em uma das escolas par-

ticulares que trabalho. A garota, vamos chamar de “L” era sempre comunicativa, gostava de escutar música na sala e não parava de conversar”, afirmou Paula.

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Foi aí que a professora começou a notar comportamentos estranhos, a começar pelo casaco diário que a menina usava, mesmo em dias de forte calor. Paula Barreira conta que perguntou o motivo da mudança de comportamento, sem mencionar qualquer suspeita de automutilação, mas a jovem apenas disse: “Professora a vida é difícil, a escola é difícil, tudo é difícil, e eu não sei por que estou fazendo isso”. Paula acrescenta: “Eu até tentei continuar o papo, mas o responsável pela adolescente chegou para buscá-la, a jovem me agradeceu e pediu para que não contasse nada a seus pais. Eu agradeci a

ela por ter confiado em mim e disse que estava a disposição para qualquer coisa”, afirmou a docente. A pedagoga declara que naquele momento não contou para a escola, mas encontrou a avó de “L” na rua e não precisou dizer nada. Ela já sabia da FOTO: ÉRICA LIS COSTA

por Érica Lis Costa

Paula Barreira é professora e estudante de psicologia

situação e desabafou sobre a automutilação da neta. A professora e estudante de psicologia foi informada pela avó que a família da menina não tinha condições financeiras para levá-la a um psicólogo e não sabia como resolver a situação. Disse também que os pais não dão atenção devida e que “L” passa o dia todo na casa dela dentro do quarto. Através da professora a família busca esclarecimentos e ajuda psicológica para a estudante. Paula sabe que assim como “L”, outros adolescentes já passaram ou passam por esse mesmo drama. Esse problema acende uma luz de alerta para os pais redobrarem a atenção, e não permitir que os conflitos familiares afetem a convivência entre eles. Quem se automutila não tem a intenção de se matar, apenas procura uma forma rápida de se livrar de uma dor psicológica.

RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO

Reitor da UNEB não cumpre promessa de campanha por Laine Dias

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A Universidade mesmo sendo pública, para muitos alunos existem custos que dificultam sua permanência e ao conversar com um aluno e o Reitor da universidade entendemos um pouco do que acontece na faculdade. O restaurante universitário é parte importante naquilo

FOTO: LAINE DIAS

oje, nas Universidades do Estado da Bahia (UEBA’s) cerca de 7% dos alunos são contemplados com políticas de permanência, sendo elas postas em uma logica de produção acadêmica. Uma parcela grande

dos discentes que ingressam em uma universidade pública precisam de assistências para poder se manter em seus cursos, como por exemplo, transporte, cópias xerográficas, alimentação saudável, além de residência para quem vem de outros estados ou do interior.

Estudantes protestam, cobrando a implantação do Restaurante Universitário no Campus I, no Cabula

que deve ser a permanência estudantil. Hoje, alunos do Campus I da Universidade do Estado da Bahia não têm opção de uma comida balanceada e que se encaixe no seu orçamento, dentro da própria instituição e não é por falta de mobilização, pois o próprio reitor da Universidade, José Bites, já baseou suas campanhas para o cargo na construção do RU, mas essa promessa não foi cumprida. O aluno do curso de Historia, Geovane (26), nos contou como isso está afetando sua vida. “Tenho que sair da faculdade todos os dias e gastar com restaurante, não pago faculdade, mas o que gasto de alimentação é quase uma mensalidade de uma particular” exagera Geovane.


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EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO SISTÊMICA

Um olhar simples para o ensino Novos caminhos que unem a escola e a família a serviço da sociedade Faça um breve resumo do que é Educação Sistêmica A Educação Sistêmica é uma abordagem inovadora desenvolvida a partir da compreensão das Leis Sistêmicas ou Ordens do Amor (Pertencimento, Ordem e Equilíbrio) descobertas pelo filósofo alemão Bert Hellinger, que propõe um novo olhar para a relação entre alunos, professores e escola. Este olhar inclusivo e amoroso, que vê para além do aluno, incluindo-o no seu sistema de origem, possibilita que os envolvidos no ambiente escolar desenvolvam uma nova postura voltada para soluções e, portanto, para a leveza no dia-a-dia da escola. O professor com a postura sistêmica passa a ter recursos para lidar com as mais diversas situações em sala de aula, de maneira simples. O conhecimento das Leis Sistêmicas o ajuda tanto a acessar seus recursos de força quanto a reconhecer nos demais envolvidos no processo educacional a força que possuem. A abordagem sistêmica se adapta a qualquer contexto metodológico e oferece ao professor novas ferramentas complementares ao que já está sendo desenvolvido na escola, servindo como uma nova caixinha de ferramentas utilizáveis em contextos em que antes não havia clareza na busca de soluções. Na educação sistêmica é dito que nenhuma criança é difícil. O sistema que é difícil. Neste caso, qual o processo usado com crianças com transtornos psiquiátricos, neurológicos, por exemplo, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade TDAH e até mesmos problemas emocionais gerados pelos padrões impostos pela sociedade? O que percebemos é que as crianças espelham o comporta-

FOTOS: ÉRICA LIS COSTA

por Érica Lis Costa

Comunicólogo, mestre em ­Linguística Aplicada, ­educador e facilitador sistêmico, Leo Costa, tambem é diretor-fundador do Instituto Alegria, responsável por promover cursos, palestras, vivências e atendimentos a grupos, instituições educacionais e empresas utilizando ­abordagem sistêmica. Formado tambem em Constelações Familiares pelo Instituto Desenvolvimento Sistêmico para a Vida (IDESV), atua ha mais de 25 anos em sala de aula. Orienta, educa e forma professores.

mento do sistema e dos pais. Já está provado pela neurociência que partes do nosso cérebro são responsáveis por espelhar o comportamento do outro. Tanto o que é feito consciente quanto inconscientemente.

Para uma criança, o natural é que ela imite os pais e perceba neles o que lhes falta e se comporte a fim de mostrar o que esses pais não conseguem ver em si mesmos, muitas vezes a partir de um “mau” comportamento esse é o impulso da evolução humana, e as crianças estão a serviço do seu sistema, nesse sentido. Em famílias em que as dificuldades de ordem emocional se estendem através de gerações, os descendentes, que são a essência desse sistema, tomam para si as dificuldades dos seus ancestrais. A epigenética – área de vanguarda na medicina – já mostra isso cientificamente. Qual é o papel da família nessa abordagem? A família é o sistema principal, o de origem. Se a nossa relação com a nossa raiz não se resolve, enfrentamos dificuldades em todos os ramos da nossa vida. O professor que cuida da criança sem perder de vista seus pais biológicos, e não os julga, independente do que eles tenham feito, ganha a confiança da criança e assim ela pode aprender e se ajustar às demandas educacionais. Tudo começa com o olhar respeitoso para si mesmo e para o outro. Esse olhar é inclusivo, reconciliatório e por isso sistêmico.

Uma perspectiva diferente sobre a relação entre pais, alunos e professores

Na educação sistêmica, observase que vocês falam de constelações familiares, o que seriam? As constelações familiares são um método desenvolvido pelo alemão Bert Hellinger, que têm um aspecto fortemente terapêutico. Nas escolas não fazemos terapia, portanto não utilizamos as constelações. Utilizamos, sim, o conhecimento filosófico e sistêmico que foi descoberto através delas, como as Leis Sistêmicas. O trabalho do educador sistêmico é multidisciplinar, e como ele é realizado em conjunto com outras profissões? O olhar sistêmico abrange todas as áreas. Trata-se de um olhar, uma postura, uma maneira de ver as coisas. Todas as disciplinas podem se beneficiar desse olhar. Como se trata de terapia, existe alguma relação com a prática psicológica? Por quê? A Educação Sistêmica não é terapia, é uma abordagem, que inclusive tem sido descoberta por muitos psicólogos e psicopedagogos em todo o mundo. O que eles têm percebido é que esse olhar amplia sua prática e oferece soluções que antes não eram vistas por conta do olhar cartesiano, ainda muito presente na ciência. O senhor poderia nos dizer quais seriam os próximos passos da educação sistêmica em Salvador? Claro! O Instituto Alegria, do que sou co-fundador e atual diretor-geral, acabou de formar a segunda turma de educadores sistêmicos que concluíram o curso de 80h que oferecemos na capital baiana e em outras cidades do Brasil. Esses próximos meses serão de muito trabalho, pois muitas escolas têm descoberto os benefícios desse trabalho, nos convidando para palestras e vivências com seus professores, encerrando e abrindo os anos letivos.


SAÚDE

ANO I

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EM BUSCA DO CORPO PERFEITO

Cirurgias crescem entre jovens

O Brasil ocupa segundo lugar na procura pelos procedimentos estéticos FOTO: LALO DE ALMEIDA /FOLHA DE S. PAULO

B

por Carla Thainá

uscando adaptar-se ao padrão estético, a busca por cirurgias plásticas cresce ano a ano. O Brasil ocupa o segundo lugar nesse tipo de procedimento, perdendo apenas para os EUA.

Botox, implante de silico­ne nos seios, lipoaspirações, abdominoplastia, mastopexia e mamoplastia redutora estão entre os mais procurados pelo público mais jovem que decide aperfeiçoar traços físicos sem necessidade reconstrutora. Segundo pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP) procedimentos reconstrutores ou puramente estéticos avançaram 23% e 8%, respectivamente em 2018 em comparação com o ano de 2014.

Público feminino é o mais recorrente em cirurgias plástica

RISCOS Em contrapartida, a beleza custa caro. O número de mulheres que morrem durante procedimentos cirúrgicos aumentou com as buscas baratas e rápidas com profissionais não qualificados. “Tem muita gente tentando fazer estética sem estar com a

formação habilitada adequadamente e, como a procura muito grande, as pessoas acabam se submetendo a um risco desnecessário”, afirmou o presidente da SBCP, André Maranhão. Em julho deste ano, no Rio de Janeiro, quatro casos fica­ram nacionalmente conhecidos depois

que mulheres morreram por complicações durante e após os procedimentos. Todos eles realizados por falsos médicos sem especialidades em cirur­gias plásticas. Segundo especialistas, a lipoaspiração, procedimento que consiste na eliminação de gorduras localizadas, é a mais procurada entre as mulheres e também a mais fatal quando não praticada por profissional qualificado. Para fugir das dúvidas que circulam sobre procedimentos cirúrgicos, a Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas lançou no ano de 2016 um aplicativo para smartphones que disponibilizam informações dos processos, tanto estéticos quanto reparadores, bem como dados sobre os especialistas e profissionais associados ao membro.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL

Veganismo aliado à consciência ambiental FOTO: SITE OFICIAL SEJA VEGANO

por Luciana Cruz

O

veganismo é um estilo de vida que elimina qualquer alimento, produtos do cotidiano, artigos de higiene, medicamento e vestuário derivados de origem ou testado em animais. Cada vez mais essa filosofia tem ganhado espaço e seguidores no mundo, principalmente os mais jovens que afirmam uma preocupação genuína com as questões ambientais. A estudante de História Giovana Tainá (19), afirma “a minha sensibilidade com tamanha violência que os animais sofrem, é maior que a simples vontade de comer carne. Ser vegana para mim é um ativismo contra a terrível indústria alimentícia/pecuária que poucos conhecem.” Este público critica a quantidade de animais terrestres que são mortos diariamente para

Veganos adotam pratos tradicionais

consumo humano, além dos gases poluentes que são emitidos através confinamento do rebanho. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) 14,5% das emissões mundiais de gases do efeito estufa são causadas pela pecuária. Além das enfer-

midades modernas que são desenvolvidas ao logo do consumo exagerado de carne bovina. A especialista em alimentos, Lorena Anjos (25), conta que para um balanceamento e substituição dos alimentos de origem animal que contém es-

tes aminoácidos essenciais por outros de origem diferente é necessário que o indivíduo passe por uma consulta com um(a) nutricionista e que somente este profissional pode prescrever uma dieta onde contenha a quantidade de proteínas necessárias para cada indivíduo. Ela explica que a proteína é uma macromolécula abundante no nosso sistema biológico e sua ingestão é essencial na dieta para que estas participem dos inúmeros processos do nosso organismo como o reparo de tecidos, crescimento de cabelo e defesa. O mercado vegano possui fiscalização feita pelo Ministério da Agricultura para verificar sua autenticidade, com o propósito de garantir a todo o consumidor a transparência e eficácia dos processos produtivos e também de sua composição, desde a extração da matéria prima até o seu processamento.


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ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

SAÚDE

FAKE NEWS QUE MATAM

Notícias falsas fazem ressurgir no Brasil doenças já erradicadas

Distorção de fatos e falta de informação geram insegurança na população

Ouvi dizer que as vacinas estão infectadas”, “Você sabia que as vacinas estão matando crianças?”, “Vacina não é eficaz”. Frases como essas começam a ressuscitar uma grande insegurança na população, principalmente por se tratar de dados falsos e apelativos. Como consequência, essa onda de Fake News pode custar muito caro, a exemplo do ressurgimento de doenças já erradicadas no Brasil. O Ministério da Saúde reforçou no início do mês de agosto de 2018, a necessidade de participar do Campanha de Vacinação contra a Poliomielite e o Sarampo, isto porque, segundo informações da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), até junho deste ano foram descobertos mais de 2 mil casos de sarampo no Brasil. Felizmente a vacinação atingiu a meta de 95% da cobertura, mas as Fake News ainda mantiveram grande proporção entre os brasileiros. As desastrosas consequências ocasionadas por disseminações de notícias falsas geram diversas enfermidades na po-

FOTO: CARLA ORNELAS

por Pedro Leone

A baixa imunização deveuse principalmente pelo surgimento de notícias sem fortalecimento verídico de dados sobre a vacinação. O Ministério de Saúde reforça, que em campanhas como essa, palestras, documentos, materiais didáticos e informações em redes sociais e veículos de comunicação continuem sendo praticadas a fim de atingir o máximo de pessoas.

COMBATE SOCIAL ÀS FAKE NEWS

pulação, essencialmente entre crianças de 1 até 5 anos de idade, e que podem resultar em paralisia e até mesmo a morte. Segundo o Ministério da Saúde sete pessoas morreram devido à doença no país neste ano, sendo quatro em Roraima e três no Amazonas.

FALTA DE CONHECIMENTO Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, a ex-

plicação mais concreta da baixa cobertura registrada há cerca de 16 anos, deve-se principalmente a falta de conhecimento sobre as doenças que estão ativas e as que foram extintas. “Doenças como rubéola, sarampo e poliomielite foram erradicadas, e não são mais vistas, dificultando que as pessoas enxerguem o risco. Muitas vezes até profissionais da área de saúde deixam de fazer recomendações mais enfáticas também por falta de percepção”, afirmou.

Lançado no mesmo período da Campanha de Vacinação, o Ministério da Saúde, promoveu uma campanha onde profissionais do setor de saúde auxiliam a população quanto ao avanço de notícias falsas e assim, disponibilizar a veracidade dos dados que circularam em volta do movimento de vacinação. Através de um número de WhatsApp, pessoas que tinham conhecimento de noticias falsas entravam em contato com o atendimento para certificar sobre a veracidade do fato. O conteúdo é apurado junto às áreas técnicas do órgão e devolvido ao cidadão com um carimbo que informa se é fake news ou não.


SAÚDE

ANO I

I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

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BRUNO PITANGA

DEPRESSÃO uma destigmatização neurológica por Carla Thainá

A

tingindo uma média anual de 300 milhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) do ano de 2018, a depressão é um transtorno neuropsiquiátrico que está paralelamente acompanhado com preconcepções e preconceitos que levam às diversas especulações, e que na maioria são falsas, dificultando o suporte para o seu tratamento. A depressão pode ser designada como transtorno de ordem mental e psicológica e se diferencia fortemente de um indivíduo com cérebro saudável de outro que tenha algumas disfuncionalidades. O neurocientista Bruno Pitanga explica como a depressão surge em quesitos neurológicos e como informações deturpadas ocuparam as discussões sobre o tema. O que é a depressão? O DSM-5 (Manual de Diag­ nóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-5) classifica a depressão dentro dos transtornos de humor. A depressão é uma doença que afeta os neurotransmissores cerebrais. Como consequência, a pessoa sentirá uma tristeza incomum acompanhada de desmotivação. A depressão é uma doença incapacitante que leva a pessoa a um estado de total desinteresse, desmotivação e desânimo absoluto. Como ocorre o desenvolvimento deste distúrbio no cérebro humano? A depressão é uma doença que envolve alterações nos neurotransmissores, que são mensageiros químicos do cérebro. No caso dessa doença, dois mensageiros químicos estão envolvidos: a serotonina e a dopamina. E nesse transtorno, os dois neurotransmissores já citados se encontram reduzidos no cérebro do indivíduo portador dessa condição. Desta forma, para que

ocorra a normalização na concentração dessas moléculas é fundamental a terapia psicofarmacológica e psicoterapêutica, sendo recomendada a procura de médicos psiquiatras e psicólogos, respectivamente. Qual é o principal motivo que leva ao surgimento da depressão? Atualmente, sabemos que até mesmo os aspectos genéti-

“A maioria das pessoas não tem a noção de que a depressão é um fator de risco para uma das maiores causas de morte: o suicídio”. cos parecem estar envolvidos. Apesar disso, existem alguns fatores de riscos já comprovados, tais como: traumas emocionais, tristeza, carências afetivas, estresse (seja ele físico ou psicológico), doenças do sistema endócrino (hipotireoidismo), consumo de drogas licitas (álcool) ou ilícitas

(cocaína), ou ainda certos tipos de medicamentos (anfetaminas). Como o estereótipo de que a depressão é insignificante ganhou tanta repercussão? Pela falta de informação. A grande maioria das pessoas não sabem que a depressão é uma doença grave. Não tem a noção

de que a depressão é um fator de risco para uma das maiores causas de morte na população brasileira, quiçá mundial; o suicídio. O que fazer para extirpar esse preconceito principalmente no Brasil? Mais informação. As escolas, os centros universitários e as faculdades deveriam informar a sociedade através de palestras e cursos de extensão sobre assa doença. Assim como a mídia, que deveria se preocupar muito mais com a orientação, para evitar esse conflito, a ficar estimulando nas pessoas uma felicidade irreal que jamais será alcançada.


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ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

ESPORTE

JOIAS PERDIDAS

Determinação do MPT limita formação dos clubes baianos

Medida não ocorre em outros estados e clubes baianos perdem talentos FOTO: MAURÍCIA DA MATTA

por Rafael Lucas

U

m Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em comum acordo pelos dois principais clubes baianos, Bahia e Vitória, com o Ministério Público do Trabalho (MPT), ainda em 2013, tem gerado questionamentos e dificuldades para captação e formação de jovens jogadores para divisão de base dos clubes atualmente.

O MPT na Bahia tem sido inflexível em liberar atividades competitivas entre garotos menores de 14 anos

“Os melhores atletas de 12 e 13 anos acabam saindo de Salvador para os times do sul/sudeste. A disparidade é tão grande, que em São Paulo há campeonatos sub 11 e 13, organizados pela Federação Paulista de Futebol, mas aqui não pode”. O vice-presidente do Esporte Clube Bahia, Victor Ferraz relata que essa situação traz grandes impactos para o clube baiano já que em outros estados existem flexibilizações, o que contribui para o fortalecimento das categorias de base. “Em algumas federações tem flexibilizado o registro de garotos e organizado competições; não é o caso da Federação Baiana. Aqui na Bahia existe uma resistência do Ministério Publico do Trabalho em autorizar atividades que possam se caracterizar como atividade de rendimento, atividades competitivas entre garotos menores de 14 anos”. Segundo levantamento realizado pelo site Transfermarket, especializado em transferências de jogadores, o Esporte Clube

Vitória é o 14° clube que mais arrecada com venda de jogadores no Brasil. Este ano, a maior venda realizada foi de um jovem formado nas categorias de base, o atacante David, rendendo aos cofres do clube cerca de 10 milhões de reais por 70% dos direitos econômicos do atleta. O Bahia também não fica atrás, é um dos clubes do nordeste que mais arrecada com a

venda de jogadores formados nas categorias de base do clube. Só neste ano, arrecadou aproximadamente R$ 16 milhões com a venda de três crias da base; o goleiro Jean, o lateral esquerdo Juninho Capixaba e o meio campista Rômulo, segundo declarações do presidente, Guilherme Bellintani, em entrevista coletiva à imprensa em junho deste ano.

Em outros países a realidade é outra

F

ernando Ovelar (foto), de 14 anos, se converteu no jogador mais jovem a marcar na elite paraguaia, superando o ex-atacante do Olimpia Gustavo Neffa, que havia anotado com 15 anos, 8 meses e 16 dias, em 1987. Também é o mais novo a disputar o clássico assunceno entre Olímpia e Cerro Porteño e o segundo do mundo a marcar em uma liga de primeira divisão, atrás apenas do armênio Armen Ghazaryan, (14 anos, 7 meses e 15 dias). Ovelar jogou 63 minutos e teve outras duas chances de gol.

FOTO: ANDRÉS CRISTALDO (EFE)

O MPT considerou que os clubes baianos não devem realizar avaliações físicas ou qualquer outra prática esportiva com crianças e adolescentes que possuam até 14 anos de idade, baseado no “art. 5°, § 6°, da Lei n. ° 7.347/85, visando o cumprimento das normas constitucionais e legais” para que não se configure relação trabalhista e deixe de ser “considerado o princípio de proteção integral e prioridade absoluta da infância e adolescência” que impendem atividades e contratos de trabalho antes dos 14 anos de idade. O ex-secretário da divisão de base do E.C. Vitória, Guilherme Portnoi, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Bússola e comentou sobre esse TAC do MPT e de que forma essa determinação impacta na formação de novos atletas no clube: “Até os 14 anos, o atleta passa pela fase do aprendizado e assimila o futebol de maneira lúdica, o que é importantíssimo para a sua formação.”, afirmou Portnoi. Para ele, isso tem gerado um grande déficit para formação de jovens atletas e perdas para outros centros esportivos e clubes do Brasil porque os jovens encontram as portas fechadas aqui:

Ninguém imaginava que um garoto poderia demonstrar tanta personalidade diante de jogadores experientes, a maioria com o dobro de sua idade. Somente seu treinador tinha alguma noção do que ele era capaz.


ESPORTE

ANO I

I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

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PRECONCEITO NAS ARQUIBANCADAS

Um espaço ainda predominantemente machista FOTO: CMDF

por Camile Machado

D

ados indicando que mu­ lheres sofrem com assédio sexual e moral no Brasil são cada vez mais alarmantes. Segundo pesquisas da Kering Foundation e do Datafolha, publicadas em 2017, 20,4 milhões de mulheres já receberam comentários desrespeitosos nas ruas do Brasil. Nos estádios de futebol essa realidade parece ser ainda mais violenta, um espaço que historicamente é apontado como predominantemente machista e masculinizado. A Assistente Social, Elizabete Dantas, 26 anos, frequentadora assídua de estádio de futebol há mais de 15 anos, vê com otimismo a presença das mulheres nas arquibancadas para romper barreiras. No entanto, lembra de momentos constrangedores vivenciados no estádio. Conta que quando era mais nova usava saia

Mulheres buscam descontruir preconceitos nas arquibancadas

e “os caras abaixavam a cabeça pra ver minha calcinha. Hoje, se um cara fizer isso, eu vou constranger ele, mas quando era mais nova isso me constrangeu e eu deixei de usar essa tipo de roupa”, afirmou ela. Elizabete reitera que atualmente voltou

a vestir saia, pois acredita que os homens “têm que aprender a respeitar as mulheres independente da peça que ela esteja usando”. Diante deste cenário, o Ministério Público Estadual, junto com o E.C. Bahia e o E.C. Vitó-

ria se comprometeram no dia 29 de outubro de 2018, a realizar uma campanha contra a descriminação de gênero no futebol. O objetivo é contribuir com a promoção da igualdade, visando manter uma sociedade mais justa e solidária. Além disso, busca promover a liberdade de expressão, locomoção e de participação feminina nos estádios e nos ambientes esportivos de um modo geral. “Essa campanha ajudará na liberdade de expressão das mulheres, fortalecerá a nossa presença nos jogos, o que é fundamental. Pois todos têm o direito de torcer pelo time que ama”, afirmou Wine Lavínia, 19 anos, estudante de pedagogia e torcedora do Bahia. Wine acredita que a relação das mulheres com o futebol está maior a cada dia e essa participação e espaço conquistado deve ser respeitado por todos.

MANOBRAS NA CORDA BAMBA

Slackline é sensação em Salvador mesmo sem grandes apoios FOTOS: COSME NONATO

por Cosme Nonato

S

lackline é uma modalidade esportiva que vem crescendo bastante em todo o Brasil. Duas edições da competição já foram realizadas na Bahia. O último evento aconteceu no dia 3 de novembro, no Parque da Cidade, em Salvador, atraindo um público de todas as idades. O primeiro lugar ficou com o catarinense Henrique Lima, 17 anos, considerado revelação da competição. O segundo foi Leleco da Ribeira (26) e em terceiro lugar, o alagoano Gastão (22). A

Parque da Cidade: saltos radicais nas alturas

Bahia contou com mais três participantes: João Miguel, do Cabula, Silas e Biscoito, de Camaçari. Henrique, atleta mais jovem da competição já acumula dois tí-

Henrique Lima, Leleco e Gastão Alagoano no pódio

tulos. “Eu adorei o calor humano dos soteropolitanos e estou feliz em ter tirado o primeiro lugar”, falou o campeão. Os organizadores do evento também se manifes-

taram ao falar sobre a deficiência na divulgação do esporte e na dificuldade em captar patrocínio, dificultando assim a realização da modalidade pelo Brasil.


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UM ESPORTE COMPLETO

Natação faz bem em toda idade

Além de fortalecer a musculatura torácica, auxilia no tratamento de doenças

Todo homem culto de­ve saber ler, escrever e nadar”, já defendia o filósofo Platão, sobre a importância da natação na construção e formação do indivíduo. O esporte que exige braçadas longas e frequentes na piscina podem trazer diversos benefícios ao ser humano, como no desenvolvimento dos músculos, flexibilidade, re­ sistência, melhor equilíbrio, coordenação motora, dentre outros. Para comentar e aprofundar mais sobre a modalidade, o jornal A Bússola conversou com o professor de natação da Academia Cavalo Marinho, Ruy Alburqueque, que ressaltou a importância da natação para a vida das pessoas, sejam elas crianças, jovens e/ou idosos. “A natação talvez seja o esporte que produz maiores benefícios por causa de sua grande exigência aeróbica. O nado, por sua vez, beneficia sobremaneira as funções cardiorrespiratória, circulatória e articular já que a execução não causa impacto. Além disso, os exercícios ajudam controlar os níveis de açúcar e colesterol no sangue”, explica Ruy. Para o técnico, que também é especializado em natação infantil, o segredo para uma vida mais saudável e um envelhecimento tardio pode ser encontrado na natação quando praticado desde cedo. Ele enfatiza que não tem um limite de idade para iniciar a prática esportiva.

FOTOS: MARIANA DIAS

por Mari Sonciarê e Mariana Dias

Professor de natação, Ruy Albuquerque e seus alunos

O segredo para uma vida mais saudável “Em linhas gerais, a pessoa pode começar a praticar com qualquer idade, levando-se em conta que até o parto pode ser feito na água”, compara o educador, que explica que a natação infantil além de fortalecer os músculos e desenvolver as habilidades psicomotoras da criança, também contribui para um bom desenvolvimento nos aspectos emocionais e sociais. A professora de letras, Letícia Santos, matriculou a filha Eloá de cinco anos na aula de natação e declarou estar bastante satisfeita sobre a experiência: “Percebi que durante certo período, ela adquiriu mais confiança e segurança na água. Além disso, ela está desenvolvendo suas habilidades mais rápido. Sem falar

que o esporte também se torna um momento de lazer aos pequenos”, garante Letícia. No caso dos idosos, a atenção deve ser mais rígida. É necessário cuidado na temperatura da água, já que os mais velhos estão mais sujeitos ao choque térmico; na entrada e na saída da piscina, para não escorregar; dentre outros. A natação também atrai os jovens que mergulham e que sonham com as competições e Olimpíadas. Para eles, o esporte proporciona trabalho em grupo e convivência interpessoal. Ruy Albuquerque também destacou algumas regras a quem deseja nadar até o pódio. “Podemos dividir a prática em algumas etapas: I) Adaptação

ao meio líquido – superando medos; II) Iniciação – aprendendo os estilos de nado e suas coordenações específicas; III) Aprimoramento; A partir desses requisitos é feita a definição se a prática será somente na promoção da saúde ou para a competição. Na primeira, o objetivo é manter o corpo saudável e na segunda é obter maior resistência e tempo cada vez menor para determinadas provas”, pontua Ruy. Na Bahia, de acordo com o último levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde em junho de 2016, apenas 54,1% dos brasileiros praticam algum tipo de atividade física ou esporte regularmente. Deste percentual, somente 4,9% são adeptos à natação.


ESPORTE

ANO I

I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

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CHAPADA DIAMANTINA

Esportes radicais ganham força Modalidades não param de crescer e atrai grande número de turistas FOTO: ARQUIVO PESSOAL

por William Salli

M

undialmente conhecida pelos seus encantos e belezas naturais, a Chapada Diamantina é uma preciosidade da Bahia. Situada no centro do estado, os seus atrativos naturais e culturais convidam turistas de todo o mundo para se confortarem e descansarem sobre as maravilhas do lugar. Entre atrativos como a rica culinária, os festejos culturais, serras, grutas e rios. A Chapada vem se tornando também referência nos esportes radicais como rapel, corrida, ciclismo em trilha, escaladas em serras e tirolesa são alguns dos mais praticados. Exemplo disso, é a cidade de Morro do Chapéu-BA que, tem mostrado firmemente os seus potenciais. Durante todo o ano, o município recebe atletas dos mais variados lugares do país para realizarem as atividades esportivas. As localidades oferecem para os praticantes não só a diversão, adrenalina, mas o contato com beleza natural do lugar

Rapel na Cachoeira do Ferro Doido, em Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina

como conta o morador da cidade Hélio Machado. “Já fiz duas vezes o rapel aqui na Cachoeira do Ferro Doído. É muito gratificante. Esse contato com a natureza, o estado de espírito que a gente encontra é maravilhoso, além da adrenalina e a diversão das atividades”. O guia turístico e instrutor de rapel, Filinto Emanel conta que além das riquezas naturais e manifestações próprias do lugar, os esportes radicais estão caindo na graça da galera e levando o nome da cidade pelo Brasil a fora. “Entre 2011 e 2012, nós começamos com a modalidade de rapel nas cachoeiras e grutas aqui do município e vem dando muito certo. Antes disso, já tinham algumas coisas acontecendo, como, por exemplo, o ciclismo e o enduro até a Gruta dos brejões”, disse Filinto. Filinto destaca também que esses eventos são importantes para a rotatividade econômica do município. “As pessoas que vem de fora acabam contribuindo fortemente para o setor cultural e hoteleiro”.

E

m julho, em Morro do Cha­ péu, foi realizada a primeira corrida em trilha. O evento foi promovido pela Adventuremag e reuniu 300 participantes. Dentre eles, personalidades famosas da imprensa baiana. Danilo Ribeiro, repórter e apresentador do Globo Esporte na Bahia foi uma delas. “Foi muito bom participar do evento porque o fato de ser filho de Morro do Chapéu, naturalmente me traz um orgulho muito bom. Então, se você juntar o fato de eu ser da cidade, de enxergar o potencial do turismo que tem a partir do esporte, principalmente esporte de aventura. Tomara que isso cresça”, afirmou Danilo.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Morro do Chapéu tem forte potencial para o turismo de aventura Morro do Chapéu fica a 393 quilômetros da capital baiana. É uma cidade de inúmeras quali­ dades culturais e turísticas. No inverno, quando a cidade registra os mais baixos níveis de temperatura e as cachoeiras estão cheias, é o período em que concentra o maior número de visitantes. Para quem pretende praticar atividades esportivas, é só procurar as informações das equipes disponíveis no mercado cultural da cidade.

Danilo Ribeiro, jornalista da TV Bahia na primeira corrida em trilha de Morro do Chapéu


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ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

CULTURA

Ayahuasca

MISTÉRIOS DO CHÁ SAGRADO

Um rito genuinamente brasileiro por Ilana Pêpe

A

bebida Ayahuasca, no­ me de origem quéchua, é feita a partir da decocção do cipó Jagube Mariri (banisteriopsis ­caapi) e da folha Chacrona ou Rainha (psychotria viridis). Índios xamãs amazonenses passaram adiante o conhecimento e modo de preparo do chá, e Mestre Irineu foi

Conhecido como um dos maiores ­antidepressivos naturais, a Ayahuasca ja se expandiu pela Europa, Ásia, Estados Unidos, Canadá e grande parte da América Latina

o responsável pela cristianização e outros sincretismos para que os brasileiros pudessem praticar com entendimento e absorver os ensinamentos de Hoasca. Tanto o Santo Daime, quanto a Barquinha e a União do Vegetal são religiões hoasqueiras, genuinamente brasileiras, cultura nacional que já se estende a diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Portugal. Um dos seguidores da União do Vegetal (UDV), membro do Centro Espiritualista

Estrela do Oriente (C.E.E.O), em Abrantes, na Bahia, Washington Nascimento, frequente há cinco meses na doutrina afirma que o chá vem mudando sua vida. “Quando cheguei aqui eu achava que era feliz, hoje estou me reconectando à minha essência, e conhecendo o que é verdadeiramente a felicidade”, afirmou. Ayahuasca, medicina indigena de poder transformador, significa o “vinho das almas”, proporciona um êxtase espiritual e “quem conhece e bebe sabe que jamais vivenciará algo parecido”, afirmou outro membro do C.E.E.O, Fabiano Passos.

HISTÓRIA No Brasil há uma incrível diversidade religiosa. Muitas

chegaram através da imigração e também do processo de colonização com os portugueses. Mas a única religião nascida no Brasil é o Santo Daime, criada em 1930, no estado do Acre, por Raimundo Irineu Serra. Originária de costumes indígenas, a doutrina espiritualista se dá através da ingestão do chá Hoasca ou Ayahuasca como também é conhecido. A bebida é um enteógeno e não um alucinógeno como muitos pensam. Ela proporciona um estado expandido de consciência, onde todos acessam conteúdos que só dizem respeito ao eu interior de cada um. O Daime surgiu através de um homem simples, nascido em 1892, que trabalhava como seringueiro na região Amazônica, Mestre Irineu, que

recebeu a missão de através do chá, elevar a cons­ciência humana e espiritual aqui na terra. Após muito preconceito de cunho racial, devido o mentor ter sido um homem negro, seringueiro e descendente de escravos, a origem da Ayahuasca sempre foi alvo de muitas discussões e tabu, também por ser uma medicina indígena. Somente em 26 de janeiro de 2010 o Conselho Nacional Anti Drogas (CONAD) aprovou o uso do chá em contexto religioso e retirou do catálogo a bebida milenar e sagrada. Segundo o Dr. Domingos Bernardo de Sá que presidiu o estudo para a aprovação do uso do vegetal, “não atrapalha em nada a vida social dos seguidores, pelo contrário, orienta no sentido da felicidade dentro de um contexto ordeiro e trabalhador”.


CULTURA

ANO I

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ECONOMIA E ENTRETENIMENTO

Salvador tem pouco investimento Na área cultural, cidade gera mais retorno financeiro em períodos festivos

S

alvador, terceira maior ca­ pital do Brasil movi­ menta sua economia principalmente através de setores como Turismo. Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), a rede hoteleira na cidade apresentou uma taxa de ocupação de 61,32% nos 10 primeiros meses de 2018. Em 2017, Salvador obteve um investimento privado de US$ 105 milhões para a pasta, e, no ano anterior, foram injetados cerca de R$ 840 milhões na economia local através do ramo. Entretanto, o setor cultural apresentou números poucos satisfatórios durante o primeiro semestre de 2018. Apenas R$8 milhões, por exemplo, foram investidos em editais lançados através da Fundação Gregório de Matos (FGM) voltados a pequenos produtores, enquanto

que, em 2016, direcionaram R$ 80 milhões para a revitalização de espaços culturais.

OTIMISMO EM ALTA Embora os cálculos não sejam tão atrativos como o setor turístico, a indústria cultural é responsável pelos mais de 85% da geração de emprego, garante a Secretaria Municipal de Cul-

tura e Turismo (Secult). Parte do Produto Interno Bruto (PIB) vem de festividades, o que impulsiona segmentos como o comércio, mobilidade e infraestrutura. Além disso, somente em 2018, há a expectativa de que R$3,9 bilhões sejam movimentados durante todo o Verão. Ainda, de acordo com a Secult, no período carnavalesco des-

te ano, Salvador bateu recordes e superou estimativas: cerca de R$1,7 bilhão foi injetado na cidade, bem como os 250 mil trabalhos temporários gerados, mesmo com a crise que ameaçou a venda de blocos e camarotes. Por outro lado, o Réveillon na capital promete movimentar mais de R$ 400 milhões da economia soteropolitana nos cinco dias de festa. FOTO: JEFFERSON GONÇALVES

por Ítalo Araújo

Mercado Modelo e Elevador Lacerda, principais cartões-postais de Salvador e para obrigatória dos turistas

PARA ALÉM DO ACARAJÉ

Casa de jogos de tabuleiro resgata nostalgia na cidade

C

om a chegada dos jogos digitais, meios tradicionais de entretenimento familiar, como xadrez, foram esquecidos no fundo da estante. Porém, jovens empreendedores buscam resgatar a nostalgia dos mais velhos e aguçar a curiosidade dos mais novos. Foi por isso que Gabriel Avelar, 27, decidiu criar com mais alguns amigos o espaço Coliseu de Jogos. Segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), em 2017, o setor de jogos de tabuleiro e de cartas faturou R$ 567 milhões, um aumento de 6% em relação a 2016. “O meio de jogos, os digitais e os de tabuleiro, foi o único que, durante a recessão,

só estagnou. Ele não decresceu também e isso já fala sobre como os jogos de tabuleiro crescem no Brasil”, explica Gabriel. Contudo, a concorrência e as editoras aumentam cada

vez mais, e novos títulos surgem quinzenalmente. Conforme Avelar, existe a dificuldade de lidar com os di­ f erentes tipos de público, já que o perfil de consumidor

FOTO: VINÍCIUS CERQUEIRA

por Vinicius Cerqueira

Gabriel Avelar, fundador do espaço Coliseu de Jogos

sofre alterações de acordo com a plataforma. Os clientes mais maduros, entre 26 e 30 anos de idade, que jogam há muito tempo, vão à loja comprar o produto. Os mais jovens, para conhecer novas modalidades. A comunidade soteropolitana ainda caminha a passos lentos, embora seja “um ambiente para introduzir novas pessoas e fazer a galera veterana ter um espaço dentro de Salvador”, completou. A capital ganha novas caras e o mercado cultural amplia seus espaços para contemplar a diferentes públicos. O Coliseu de Jogos funciona de domingo a domingo, das 14h às 22h, e custa R$ 10, e fica localizado no Shopping Boulevard, 3ª andar, Pituba.


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ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

CULTURA

CENTRO CULTURAL PLATAFORMA

Espaço promove entretenimento e arte no Subúrbio Ferroviário

CCP completa 11 anos de reinaugurado e facilita acesso à arte e à cultura FOTOS: ÍTALO ARAÚJO

por Ítalo Araújo

O

bairro de Plataforma já foi palco de grandes acontecimentos. A aldeia de São João, fundada pelos jesuítas, padres da Companhia de Jesus, em 1558; a invasão holandesa em 1638; e, em 1822, a Batalha de Pirajá, são parte dos eventos que ali ocorreram. Atualmente, o bairro abre as cortinas para eventos em locais como o Centro Cultural Plataforma (CCP). Informações do acervo digital do espaço mostram que ele foi inaugurado na década de 1930 pelo Círculo Operário da Bahia (COB), instituição fundada por Irmã Dulce e Frei Hildebrando. O Cine Plataforma foi construído com o objetivo de arrecadar fundos para o COB com filmes exibidos no local. “Na época, a gente ainda não tinha a Avenida Afrâno Peixoto, a famosa Suburbana e o cinema era a única opção de lazer para a população de Plataforma no fim de semana”, relembrou Dona Lúcia Tinônco, 77, moradora do bairro. O antigo cine-teatro ficou aos cuidados do governo estadual por volta de 1970. Trancou as portas, em 1990, por mais de 15 anos, e foi reinaugurado somente em julho de 2007 graças às mobilizações de grupos locais. “Para reinaugurar e eleger a coordenação do espaço foi uma grande luta. O governo queria mandar uma pessoa que não entendia nada de cultura e de comunidade, e a gente não aceitou”, contou Dona Nauzina dos Santos, que coordena o grupo Herdeiros de Angola, no CCP. Para o professor Thiago Souza de Jesus, 25, graduado em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a

O centro possui três camarins, um palco italiano na sala ­principal, 206 assentos, duas salas de ensaio e um foyer

criação de espaços culturais em bairros populares é importante para que mais pessoas acessem a cultura. “Infelizmente, vivemos num país onde cada vez mais há um fosso entre os mais ricos e os mais pobres, e, para as populações carentes, os espaços culturais são a única forma de entretenimento”, afirmou. Segundo Souza, esses espaços contribuem para a construção da identidade dos bairros, no entanto é preciso democratizá-los. “O acesso de boa parte da população é menor do que deveria acontecer. O valor dos espetáculos, por exemplo, não

é acessível à maioria da população”, concluiu. A vendedora e moradora da região, Beatriz dos Reis, 24, frequenta o local e gosta das programações. “São poucos bairros do subúrbio com espaços como esse, inclusive vêm jovens de outros bairros para as atividades do centro”, disse.

ESTRUTURA A acústica do CCP é considerada uma das melhores da cidade e ultrapassa teatros como o Castro Alves e Vila Velha. A cabine de luz não interfere nos espetáculos, permitindo aos técnicos visões privilegiadas das

montagens. O centro cultural já nasceu sob o conceito de acessibilidade com três lugares reservados a cadeirantes. Entretanto, Christiane Veigga, 50, formada em Artes Cênicas pela Escola de Teatro da UFBA, e que ministrou oficinas no espaço por quase 10 anos, aponta algumas insuficiências administrativas. “Faltam recursos como equipamentos e pessoal mais qualificado”, destacou. O centro possui um palco com 10,30m de largura e 7,92m de profundidade, além de um processo de refrigeração completa, mesmo de casa cheia. Dotado de sistema de iluminação, sonorização e projeção de vídeo, o Centro Cultural Plataforma fica localizado na Praça São Brás, 14, Plataforma. A administração funciona de segunda a sexta-feira, das 09 às 19h, e a bilheteria, de terça-feira a domingo, aberta sempre uma hora antes dos eventos.


CULTURA

ANO I

I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

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MISTURA DE CULTURAS

Cultura POP invade capital baiana Ganhando cada vez mais espaço, o geek agora faz parte da miscigenação soteropolitana FOTO: CORREIOS

por Carolyne Soares e Julia Rodrigues

S

alvador é a capital do Carnaval, entretanto o palco recebe mudanças, pois outras vertentes surgem na cidade. A cultura pop está tomando conta dos espaços da região. Há um tempo, o cenário da cultura nerd na Bahia era escasso. No decorrer dos anos, evoluiu e trouxe atenções para o crescente público, foi registrado um crescimento das empresas que atuam no setor criativo. Dados do 2° Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC), indicam que, entre 2013 e 2018, o número de estúdios que desenvolvem games nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul passaram de 20 para 61. Somente na Bahia, foram registrados 12 deles. O crescimento do setor é evidente

Anipolitan, o maior evento de cultura pop da Bahia

em eventos como o ‘Anipólitan’ e o ‘Gamepólitan’, nos quais fãs se vestem com fantasias dos seus personagens favoritos. Para o estudante de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia (FTC), Rai Vitor, 18, os dois eventos são importantes por proporcionarem uma mescla entre costumes. “[Os eventos] têm grande importância por trazerem cultura diferente

para a gente. Eu acho isso incrível”, afirmou. A venda de produtos licenciados ao público nerd também se consolida entre os setores de varejo, ocupando as prateleiras dos fãs de mangás, HQ’s, séries e outros ícones da cultura pop. Estimativas da Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) reforçam movimento em cerca de R$ 18 bilhões por ano, graças ao seguimento.

Tradição religiosa é a mais antiga do país por Jefferson Gonçalves

A

festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia, acontece desde 1549, quando a imagem da santa chegou a Salvador. A data fixa das comemorações só foi definida em 1854, no próprio dia 8 de dezembro, antes era realizada aleatoriamente. A tradição começa 9 dias antes com o Novenário, todos os dias na Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia e vai até um dia antes da festa. No dia 8 quando é celebrado, às 8h30 acontece a missa presidida por Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, e às 10h acontece a tradicional procissão pelas ruas do comércio, entorno da igreja.

O tema da festa esse ano é: “Com a virgem Maria Proclamamos: “Santo é o seu nome”. Sede santos também vós”. Segundo Dom Murilo Krieger Neste ano a novena quer lembrar os cristãos da vocação com a santidade. E pra que tenham a ideia concreta do que é ser santo.

MILAGREIRA Heloisa Santos, devota, conta que sofreu uma queda durante uma gravidez e teve uma hemorragia. “Os médicos disseram que eu não sairia viva, mas durante a operação eu enxergava a imagem de Nossa Senhora. O meu organismo cicatrizou sozinho a hemorragia, foi um milagre. Devo a minha vida a Nossa Senhora”

Aos aficionados que desejam um espaço para chamar de seu, há diversas opções na cidade. No bairro de Brotas, a Sharman Games começou revendendo produtos e, agora, reúne viciados em jogos e RPG. Nele, acontecem muitos campeonatos e lançamentos mundiais. Já na Avenida Tancredo Neves, a Red Sheep Comic Shop é uma boa pedida aos amantes de quadrinhos, livros e colecionáveis. O Rio Vermelho ganhou recentemente a Hell’s Kitchen Comic Bookstore, cuja nomenclatura referencia um super-herói da Marvel. O diferencial da loja é a mistura entre mundo geek e cerveja, vende todo tipo de produtos para quem curte colecionar quadrinhos, livros e vestuário, o que agradou soteropolitanos. FOTO: JEFFERSON GONÇALVES

É CHEGADA NOSSA CONCEIÇÃO

NOVOS LOCAIS DE ENCONTRO

“Maria, a mãe de Jesus, que entendeu como ninguém o que significa ser santo”

Dom Murilo Krieger


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ANO I I No 1 I DEZ/2018 SALVADOR, BAHIA

Bebeto

CULTURA meu vizinho verde-e-amarelo

por Ítalo Araújo

S

exta-feira. Início da madrugada. Eu aproveitava o tempo já perdido dando likes em fotos no Instagram. Vi uma sobre um tal de Alienildo. Tinha um plano de fundo amarelo-meiomostarda com traços desengonçados de um rapaz equipadíssimo com óculos escuros e camisa preta estampada com o rosto do Número 17. Dizia na última tirinha: “Ele espalha fake news em nome da moral e dos bons costumes!”. Compartilhei no grupo da família. Sou desses. Achei cinematográfico o fuzuê causado. Mainha, que não sabe muito bem como usar ferramentas que a tecnologia nos oferece, me enviou um áudio de cinco minutos no privado! Fui obrigado a parar minha playlist de sexo que escuto enquanto limpo a casa (para alguma coisa devia servir). Pensei ser uma das músicas que ela canta enquanto lava os pratos. “Meu advogaaado é o meu Senhooor. Ele me defeeende do acusadooor”. Mas era sobre a “contenda do inimigo” que eu havia plantado. A tal imagem me lembrou Bebeto, meu vizinho. Éramos colegas de classe na quinta ou sexta série. Um cara do bem. Tem 28 anos, uma filha de seis, estudou em escola pública, e até faz faculdade com a bolsa integral que ganhou do ProUni. Claro, ele não é uma pessoa legal por isso, mas o broto tem um coração bom. Apesar de sempre ter achado que política é uma parada chata e indiscutível, se mostrou muito engajado ultimamente. Me surpreendo com seus posts antipetistas no site faces. Uma vez, ele me encaminhou uma mensagem no WhatsApp. “Dessa vez, a travestir (sic) Pabllo Vittar foi longe demais”. Dessa vez? Achei hilário. Vários emojis. Uma obra de arte contemporânea. Falava de um tal programa “gayzista” que ela apresentará na “Globo esquerdista” com Jão Wesley, comunista do PSOL. Analisei a veracidade dos fatos. Não há nenhum Jão Wesley no partido, porém ele afirmava sem provas, mas com convicção, que sim. Viu no zap, fazer o quê? Mandei emojis de risos para finalizar a conversa. Pela primeira vez, me senti satisfeito ao não me responderem uma mensagem. Bebeto nunca se interessou pelo passado do Brasil. Lembro que ele filava aulas de História para jogar bola e azarar a torcida feminina — foi com uma das moças que se casou, inclusive. De uns tempos pra cá, ele tem falado de um tal plano comunista que tentam implementar no país desde... desde antes de um período aí que eu nem era nascido. Se Che Guevara, o cangaceiro-esquerdista-mor, tivesse criado a América Latina comunista, o Brasil se tornaria uma verdadeira “vuvuzela”! Bebeto também diz não ter nada contra “os viado”, só não aceita essa ideologia de gênero surgida não sabe de onde. Contudo, o que imagino mesmo é o Brasil do nosso futuro. O ano é 2032. As crianças brigam no recreio da escola com uma espécie nova de ofensas: – Não quero mais brincar com você, seu Zé Droguinha! – Zé Droguinha é seu pai, que vendia Hinode e se achava empreendedor! – E sua mãe, que comprava seguidor no Instagram pra ganhar mimos da Itália? – E seu pai, que chorou com o fim do namoro de Neymar e Bruna Marquezine? Meus amigos, parece que tempos tenebrosos virão.

AGENDA CULTURAL

MÚSICA

FESTIVAL DE VERÃO 2018 Com atrações já confirmadas e ingressos à venda, a 20a edição do evento reúne músicos do Brasil e do mundo. Local: ARENA FONTE NOVA, Ladeira da Fonte das Pedras, s/n Data: 8 e 9/12 Horário: 16h Preço: R$ 60 a R$ 603

TOUR VELHAS VIRGENS 30 ANOS

A banda paulista que teve início nos anos 80, está de volta à Salvador para comemorar suas três décadas de ­existência. Data: 14/12 Horário: 21h Preço: R$ 40 a R$ 60 Local: SALVADOR MUSIC PLACE, Rua Manoel Antônio Galvão, 1075, Patamares.

FESTIVAL DA VIRADA

RÉVEILLON DE SALVADOR 2019 Festa que reúne grandes artistas em Salvador, e promove o encerramento das atividades culturais do ano. Data: 28/12 a 01/01 Horário: 18h Preço: Gratuito Local: Boca do Rio, Salvador, Bahia.

CINEMA AQUAMAN

Arthur Curry descobre que ele é o herdeiro do reino subaquático da Atlântida. Agora, deve dar um passo adiante para liderar seu povo e ser um herói para todo o mundo. Data: 13/12

O RETORNO DE MARY POPPINS

Décadas depois de sua visita original, a babá mágica retorna para ajudar os irmãos Banks e os filhos de Michael durante um período difícil em suas vidas. Data: 20/12

DE PERNAS PRO AR 3

O longa de comédia mostra o sucesso da franquia Sex Delícia. A protagonista Alice (Ingrid Guimarães) decide mudar os planos de se aposentar quando Leona (Samyra Pascotto) entra em cena. Data: 27/12 Locais: Salvador Shopping, Shopping Bela Vista, Shopping da Bahia Os valores dos ingressos variam de acordo com o espaço.

TEATRO

“TAQUIPARIUDOIDO” O humorista Tirullipa comemora seus 20 anos de carreira ao contar histórias que relembram o percurso artístico por ele trilhado. Data: 07/12 Horário: 19h Preço: R$ 40,00 a R$ 120,00 Local: Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Praça 2 de Julho, s/n, Campo Grande.

UM NATAL ELETRIZANTE

O espetáculo da companhia americana Lightwire Theater é uma combinação de dança com marionetes e uso de instrumentos luminosos. Data: 08 e 09/12 Horário: 16h e 20h Preço: A partir de R$ 25,00 Local: Teatro Castro Alves, Praça 2 de Julho, s/n, Campo Grande.

MUSICAL SIMPLESMENTE SONHEI

Com poemas de Claudio Machado, músicas e coreografias, o espetáculo retrata o quanto é difícil desistir dos seus sonhos. Direção: Lika Ferraro Data: 21/12 Horário: 20h Local: Espaço Xisto Bahia, Rua General Labalut, 27, Barris


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