ANO IX • Nº 109 • FEVEREIRO DE 2019 • R$ 10
ECONOMIA
POLÍTICA
CARLOS GHOSN, EX-PRESIDENTE DA NISSAM
ESPORTES
HUMOR
CULTURA
FABIO SCHVARTSMAN, PRESIDENTE DA VALE
QUAL A MAIOR DIFERENÇA ENTRE ESTES DOIS HOMENS? AMBOS SÃO DIRIGENTES DE EMPRESAS. AMBOS SÃO ACUSADOS DE CRIMES. UM FOI PRESO. O OUTRO ESTÁ SOLTO. VEJA O POR QUÊ NA PÁGINA 18 VALE DIZ QUE BARRAGEM DA PAMPULHA É SEGURA E LEVA PÂNICO A MORADORES
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M A R Ç O D E 2 0 1 5 • M AT E R I A P R I M A R E V I S TA . C O M . B R
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MARCELO SOUZA ASSUME A CDL E DIZ QUE 2019 SERÁ UM ANO FELIZ EM BH
Novo presidente do CDL, Marcelo Souza e Silva assume num ambiente de boas notícias para o comércio. A Belotur espera 5 milhões de turistas no carnaval, que devem deixar R$ 400 milhões na cidade. Também o governador Zema prometeu quitar o 13º salário.
REPORTAGEM DE CAPA
PRESIDENTE DA VALE ESTÁ SOLTO APESAR DOS 300 MORTOS NO LAMAÇAL DE BRUMADINHO A Justiça não é a mesma em todo o mundo. No Japão, o presidente da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, foi preso por simples suspeita de roubo. No Brasil, o presidente Schvartsman continua em liberdade, apesar das centenas de mortes causadas pela Vale. A cada dia aumenta a certeza – em decorrência de documentos e depoimentos - que a diretoria da Vale sabia do perigo que a tosca barragem de Brumadinho representava para a população. Há a suspeita de que os dirigentes da empresa deixaram o barco correr porque a justiça brasileira jamais foi corajosa o suficiente para encarcerar dirigentes de empresas poderosas.
ANO X • Nº 109 • FEVEREIRO DE 2019
ÍNDICE 4
FEVEREIRO DE 2019 - MATERIAPRIMA.COM.BR
COLUNAS E ARTIGOS
NOMES & NOTAS
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OPINIÃO - BÁRBARA GUIMARÃES EMPREENDIMENTOS AQUI ENTRE NÓS NAS CURVAS DA VIDA SEM LICENÇA CARTA DO CANADÁ CARTA DE PORTUGAL CARTA DO SERTÃO ESPAÇO MÁRIO RIBEIRO CRÔNICA PALAVRA DO LEITOR PRA NÃO DIZER QUE FALEI DE PARIS
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POLÍTICA
QUASE DOIS MESES DEPOIS DE EMPOSSADO, ZEMA AINDA MANTÉM HOMENS DE PIMENTEL
Preocupado em retirar o retrato do ex-governador Fernando Pimentel das paredes das repartições públicas – tarefa que comandou pessoalmente - o governador Zema se esqueceu de destituir os presidente de 15 empresas estatais. Até agora só dois foram substituídos.
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HORA EXTRA
SPECULATION NEWS
VALE DIZ QUE BARRAGEM DA PAMPULHA É SEGURA E MORADORES ENTRAM EM PÂNICO
QUALQUER VAGABUNDA DA TV SABE MAIS DA VIDA QUE A ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA
O escandaloso cronista João Paulo Coltrane, vergonha da nossa redação que só o nosso editor geral não percebe, revela que aprendeu mais sobre a vida nos cabarés que nos bancos da escola. Os programa de TV também foram bons mestres. ECONOMIA
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POLÍTICA
Justiça mandou a Vale investigar segurança das suas barragens mas os engenheiros da empresa se confundiram. Pensaram que era para conferir todas as represas no estado. Garantiram que o muro da lagoa da Pampulha era seguro e moradores entraram em pânico.
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EXPEDIENTE Márcio Rubens Prado (IN MEMORIAM)
DIRETOR RESPONSÁVEL E EDITOR GERAL: Durval Guimarães
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EDITOR DE TEXTO: Carlos Alenquer PROGRAMAÇÃO VISUAL: Hudson Franco
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COLABORADORES: Aristoteles Atheniense, Valério Fabris, Romerson Cangussu, Marina Gonçalves, Orion Teixeira, Tiãozito, Itamar de Oliveira, Alcindo Ribeiro, Márcio Fagundes, José Antônio Severo, Symphronio Veiga, Eliane Machado, Arthur Vianna IMAGENS: Creative Commons OCO
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Rua Canopus, 11 • Sala 5 • São Bento • CEP 30360-112 • Belo Horizonte • MG
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OPINIÃO
A SOLIDARIEDADE HUMANA EMERGE NUM CENÁRIO DE LAMA E GANÂNCIA
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A SENSAÇÃO DE QUEM FAZ A SUA PARTE, MESMO MINÚSCULA, NO TEATRO DE UM GRANDE EMPREENDIMENTO, SERÁ SEMPRE UM ENORME CONTENTAMENTO. UMA PARTE DAS COISAS, A QUE LHE COUBE, FOI REALIZADA
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BÁRBARA GUIMARÃES
oje acordei pensando que o desastre da Vale em Brumadinho tem outro lado. Para além de ser uma combinação trágica de ganância e indiferença, há em toda a operação instalada uma beleza que me comove. Eu me refiro aos profissionais e voluntários que se entregam à causa de amenizar, minimamente, o caos. Tem gente, literalmente, arrastando-se na lama em busca de um pedaço de corpo para entregar às famílias a dignidade de realizarem um funeral. Gente se embrenhando no mato atrás de qualquer vida, de gente ou de bicho, que possa ser salva. Gente que cozinha pra um batalhão
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que não tem apetite depois de um dia de assombro, mas que precisa comer. Gente que foi dar a cara para que as mães possam olhar para um rosto enquanto gritam exigindo informações sobre os filhos desaparecidos, uma vez que a cara da empresa ninguém vê. Gente que dá um ombro, que chora junto, para evitar que à dor absurda se acrescente um sentimento de solidão. Gente que foi lavar um cachorro. Salvar uma vaca. Gente que faz o que pode. Gente que faz o que é certo. “Ah, mas o que toda essa gente faz adianta tão pouco...” Bem, às vezes fazer o que é certo não tem a ver com resultados. Às vezes fazer o que é certo é só isso mesmo. Essas pessoas nem suspeitam o quanto a mais vaga ideia de sua existência me ilumina. Em seu poema “Os Justos”, Jorge Luis Borges diz que essas pessoas que se esquecem de si mesmas irão salvar o mundo. Não sei se há justos suficientes, mas é sempre um alento constatar que existem. Que nós possamos merecer a existência dessas pessoas por meio de nossas escolhas. Nem sempre é possível fazer o tanto que queremos. Mas isso não nos desculpa de não fazer tudo o que podemos.
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NOMES&NOTAS
PRESIDENTE DA FIEM EXEMPLAR PARA O P DURVAL GUIMARÃES Falando sobre o lamaçal de Brumadinho em entrevista à imprensa, o industrial Flávio Roscoe, presidente, da Fiemg-Federação das Indústrias de Minas Gerais, concordou, na tarde de 12 de fevereiro, com a adoção de punição exemplar para o presidente da Vale, Fábio Schvartzman, caso o dirigente seja responsabilizado pela tragédia que matou mais de 300 pessoas em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. – Desconheço como atua a legislação penal brasileira, mas exigimos que os responsáveis sejam rigorosamente punidos. Mesmo sendo o presidente da Vale”. Na entrevista, marcada para tratar das previsões da entidade para a vida econômica em Minas Gerais no corrente ano, o encontro com jornalistas foi dominado pela insegurança provocada pelas barragens das mineradoras, sobretudo da Vale, que é a principal empresa extrativa no estado. “No meu ponto de vista e de pes-
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MG ADMITE PUNIÇÃO PRESIDENTE DA VALE soas categorizadas que consultei, o rompimento das barragens foi provocado por graves erros técnicos causados por inadequado serviço na engenharia das obras. Mas isso terá de ser apurado”. O industrial disse que, apesar da dimensão das tragédias de Mariana e Brumadinho, não se pode demonizar a mineração. “O minério está presente no automóvel ou no ônibus que transporta cada um de nós utiliza todos os dias. Também está presente em incontáveis produtos. Por exemplo: sem fertilizantes minerais não haveria, sequer alimentos para todos”, explicou. Em sua fala, Roscoe revelou que a indústria extrativa é responsável por 25% da produção industrial de Minas e por 2,1% do PIB mineiro. “A redução de produção anual de 10 milhões de toneladas de minério de ferro, como foi anunciada pela Vale, é capaz de promover um queda da receita na cadeia produtiva da mineração de R$3,4 bilhões ou o equivalente a 0,6% do PIB de Minas Gerais”.
O presidenteda Fiemg, Flávio Roscoe, admite a prisão da diretoria da Vale, se ela for culpada
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NOMES&NOTAS
BOECHAT FOI GRANDE JORNALISTA NÃO PELA IMPARCIALIDADE, QUE NÃO EXISTE. MAS PELA VISÃO ABRANGENTE E CORAGEM BÁRBARA GUIMARÃES Nos diversos comentários sobre a morte do grande jornalista Ricardo Boechat muito se falou sobre parcialidade. E eu fiquei pensando sobre o mito da imparcialidade jornalística. Jornalismo imparcial não existe, simplesmente, porque não há uma única construção humana imparcial. Nascemos como parte: de uma família, de uma comunidade, de uma nação. Numa parte do mundo. Em uma parte do tempo. Somos sempre parte de algo, do nascimento à morte, e a qualidade da parte é, obviamente, ser parcial. Grandes jornalistas não apresentam fatos de maneira imparcial, apresentam de maneira abrangente. Ao incluir o maior número de partes – com equanimidade, isto é fundamental – o jornalista nos entrega um panorama mais amplo de um fato. E só. E ainda assim, esta é uma entrega imensa. Boechat era grande o suficiente, tanto para abranger mais de uma parte, quanto para, deliberadamente, assumir seu ponto de vista. E um ponto de vista é tão somente isso: o ponto a partir do qual se enxerga o que a vista alcança e se ignora todo o resto. Assumir um ponto de vista é, generosamente, entregar ao conhecimen-
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to público as dimensões (e, sim, também as limitações) de nossa pequena parte. Somos uma pequena parte em meio a mais de sete bilhões de partes. Sabemos muito pouco desse imenso tudo. Uma gota pode ser toda oceano, mas isso é muito diferente de ser todo o oceano. A verdade absoluta, parece, não é coisa para nosso bico. Boechat não se apresentava como dono da verdade. Era um jornalista que assumia com integridade e dignidade sua condição de parte. Talvez, seja por isso que nos faça esta falta total.
POR FALTA DE DINHEIRO, OURO PRETO DEVE FECHAR AS PORTAS PELA SEGUNDA VEZ Quando as minas de ouro se exauriram, na época em que Tiradentes foi enforcado (1792), a cidade de Vila Rica definhou. Os garimpeiros abandonaram suas casas e as deixaram à disposição de quem se interessasse em ocupá-las, pois não havia como sobreviver naquele lugar. Anos antes, no auge da prosperidade, a produção local de 1,5 tonelada representava a metade da produção anual de ouro em todo o mundo. Houve, porém, um modesto aspecto positivo nesse colapso: a cidade colonial, repentinamente deserta e que a seu tempo era maior que Nova York, foi preservada tal como é Ouro Preto deve se transformar numa cidade fantasma pela segunda vez
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hoje. Nenhuma nova casa foi construída por décadas. Com a mineração, Ouro Preto retomou sua antiga prosperidade. Atualmente a produção local de minério de ferro alcança 31milhões de toneladas anuais, que é vendida por 70 dólares por toneladas no mercado internacional. Em decorrência da sua nova riqueza mineral, que é sua mais relevante atividade econômica, Ouro Preto passou a desfrutar de receita formidável Mas toda essa prosperidade terá vida curta, talvez uns trinta dias de duração. A Vale decidiu paralisar as atividades em dez minas e Ouro Preto será o local mais atingido. A cidade perderá $16milhões anuais, referentes a 77% do que é arrecadado sobre a extração mineral no município. Perderá também R$130milhões, que corresponde a 94% do ICMS recolhido em seus cofres públicos. Sem dinheiro, não haverá mínima condições de sobrevivência para a maioria dos seus moradores, já que a Vale também é responsável por 20% do valor de todos os salários pagos no município. A situação não será muito melhor em Brumadinho, Mariana e Nova Lima, que também terão a atividade mineral paralisadas pela Vale nesses municípios. (DG)
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NOMES&NOTAS
PARA NOVO PRESIDENTE DA LOJISTAS, 2019 SERÁ UM FE O comerciante Marcelo Souza e Silva foi empossado como presidente da Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte (CDL) na noite de 12 de fevereiro, num expressivo evento que reuniu boa parte dos 12 mil associados da entidade. A festa ocorreu três semanas antes de outro evento que se tornou grandioso para o comércio da cidade e que é aguardado com grande expectativa. Trata-se do Carnaval, que deverá atrair pelo menos dois milhões de visitantes à capital mineira, segundo estimativas da Belotur, órgão de turismo da Prefeitura. Quanto o comércio ganhara com isso? Ainda não se sabe ao certo, mas será um bom dinheiro. Nos tempos em que não havia nenhuma folia na cidade, calculava-se que 300 mil mineiros deixavam a cidade em busca dos festejos momescos no interior ou outros estados. A perda era imensa. Os milhares de foliões de Belo Horizonte levavam cerca de R$ 60 milhões para Salvador, Rio, Recife ou nossas cidades históricas e não traziam o dinheiro de volta. Se cada um dos esperados visitantes gastar os mesmos R$ 200,00 durante os cinco dias que permanecerão na capital mineira (estatística subestimada, claro), a cidade receberá uma injeção extra de pelo menos R$ 400 milhões. A verbas vão para hotéis, que estão com reservas esgotadas,
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O presidenete da CDL-BH acredita que Belo Horizonte será a cidade dos bons negócios
bares e restaurantes, principalmente. Em entrevista a MatériaPrima, horas antes da sua posse, o presidente Marcelo Souza também se mostrou otimista com as notícias vindas da Cidade Administrativa, onde o governador Romeu Zema prometeu quitar o atrasadíssimo 13º salário e manter os pagamentos em dia. O presidente da entidade varejista pretende criar condições para que Belo Horizonte seja a melhor cidade para pes-
A CÂMARA DOS DIRETORES ELIZ ANO NOVO
soas de cabelos brancos viverem em paz e harmonia. As estatísticas apuradas por seu setor de economia revelam que as pessoas com mais de sessenta anos e suas respectivas aposentadorias e complementos de fundo de pensão são importantes propulsores do orçamento municipal. O dirigente informou ainda que, durante a sua gestão, de três anos, investirá numa política de enfrentamento ao problema da informalidade, tão recorrente nos dias
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atuais, verificável em qualquer quadra do centro, bem como em eventos de grande público. O comerciante deve puxar para si a ocupação deste espaço, reconheceu. Planos não faltam para uma entidade, autônoma financeiramente, realizar novos projetos. A receita da CDL-BH é de R$ 100 milhões anuais sem depender de subvenções públicas como ocorre com as federações das indústrias, comércio ou o Sebrae-MG.
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NOMES&NOTAS
QUAIS DESCULPAS VOCÊ USA PARA LUDIBRIAR O PATRÃO E MATAR SERVIÇO? MARILYN AVISOU AO PATRÃO QUE ESTAVA COM O DEDO PRESO NA TORNEIRA. E ESTAVA, MESMO. MAS O CHEFE NÃO ACREDITOU E ENVIOU UM ENCANADOR PARA CONFERIR ANTÔNIO PORFÍRIO Um funcionário disse que não poderia ir trabalhar porque o seu cão estava tendo um colapso nervoso. Outro disse que ele se esqueceu, simplesmente, que não estava mais desempregado. Um terceiro ficou chateado depois que o Galo quase deixou o Danúbio, do Uruguai, empatar o jogo no Independência, na abertura da Libertadores das Américas. Estas são apenas algumas esfarrapadas desculpas que empre-
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gadores disseram ter ouvido para explicar as ausências do trabalho. Diante disso um grupo de profissionais de Recursos Humanos, em Belo Horizonte, está se reunindo para se confrontar a essas desculpas pra lá de mentirosas. É possível que, até o início de março (depois do carnaval, porque ninguém é de ferro), seja publicado um manual para esse universo de lorotas, hoje responsáveis por mais de 30% do absenteísmo no trabalho. Segundo especialistas ouvidos por MatériaPrima, o problema se mostra muito maior na Bahia onde, a partir de 1º de janeiro, quando começam as célebres lavação das escadarias das mais de cem igrejas na capital baiana, a baianada simplesmente desaparece das repartições públicas. Só na festa da lavação da igreja do Senhor do Bonfim, que tem apenas oito degraus (e não seiscentos, como parece), são gastos cinco dias corridos na esfregação, movida a cachaça e acarajé. Há, ainda, a festa de Iemanjá e o carnaval, que se estende por quase um mês. Os baianos, como nem todos sabem, têm dois feriados para comemorar (com orgulhoso civismo) a Independência do Brasil. Há o Sete de Setembro, como em todo o país. E ainda o Dois de Julho, que é só deles.
AS STARTUPS FRACASSAM COMO QUALQUER OUTRA EMPRESA CONVENCIONAL A Fundação Dom Cabral divulgou um estudo que indica as causas da mortalidade das startups: é uma taxa que impressiona, pois 25% das empresas encerram as atividades antes de completar um ano. O objetivo do estudo é entender quais são os erros que estão por trás desse problema para que futuras empresas tentem se planejar para sobreviverem no mercado. O trabalho considerou dois tipos de entrevistados: fundadores de startups que estão no mercado e fundadores daquelas que descontinuaram o trabalho. A ideia é comparar os dois perfis e investi-
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gar o que ajuda uma startup a continuar a funcionar. No total, foi analisada uma amostra de 221 entrevistados, 130 de empresas ativas e 91 de já descontinuadas. Nas entrevistas, algumas características das startups foram avaliadas, como a facilidade de produção ou o volume de capital investido. Dos empreendedores foram analisadas variáveis como tempo de dedicação e sintonia com outros sócios. Vinte e cinco por cento das empresas entrevistadas descontinuaram seu negócio em menos de um ano. Outras 50% pararam de funcionar.
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EMPREENDIMENTOS
Inauguram o Hospital Mater Dei Betim-Contagem: o prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte; o presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Dr. Henrique Moraes Salvador; o presidente do Conselho de Administração da Rede Mater Dei de Saúde, Dr. José Salvador Silva; o governador Romeu Zema; o prefeito Vittório Mediolli, de Betim e Alex de Freitas, prefeito de Contagem
SOLENIDADE MARCA INAUGURAÇÃO
REPRESENTANTES DO GOVERNO, EMPRESAS, CORPO CLÍNICO E OPERADOR Em seu primeiro ato público após ser empossado, o governador Romeu Zema presidiu em 18 de janeiro, a inauguração do Hospital Mater Dei Betim- Contagem. O governador se mostrou especialmente feliz na solenidade pois, como declarou em seu discurso, inaugurava uma obra de importância fundamental para a sociedade e que resultava, imediatamente, na contratação de 2.500 empregados, que irão trabalhar no local. Também participaram da solenidade o Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, o Prefeito de Betim, Vittório Mediolli, o Prefeito de Contagem, Alex de Freitas e o Presidente do Conselho de Administração da MRV, Banco Inter, Log e da CNN Brasil, e
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representando os empresários do Brasil, o Sr. Rubens Menin. Pelo Rede Mater Dei de Saúde compareceram o presidente do Conselho de Administração, Dr. José Salvador Silva, o presidente da Rede, Dr. Henrique Salvador, a presidente do Conselho de Família, Dra. Norma Salvador, além das vice-presidentes Maria Norma Salvador Ligório e Márcia Salvador Géo e do conselheiro da Rede, Renato Salvador. O evento simbolizou o início das atividades do novo Hospital da Rede, que iniciou suas operações no dia seguinte. “Há pouco mais de 4 anos resolvemos investir nesta região, com o objetivo de expandir as nossas operações. Identificamos uma
O Hospital Mater Dei Betim Contagem dispõe de 367 leitos e capacidade de atendimento de 1.500 pacientes, diariamente
O DO MATER DEI BETIM-CONTAGEM
RAS DE PLANOS DE SAÚDE PARCEIRAS ESTIVERAM PRESENTES AO EVENTO grande carência de leitos hospitalares em uma área que abrange dois municípios que representam o segundo e o terceiro PIB de Minas Gerais e que se comunica através de excelente acesso a três outras importantes regiões do nosso Estado: O Oeste, o Sul e o Triângulo Mineiro”, disse o presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador, durante seu discurso. A nova Unidade da Rede, se integra às demais unidades da Rede, Mater Dei Santo Agostinho e Mater Dei Contorno, com a mesma filosofia, o jeito de servir e a cultura de atendimento diferenciado, personalizado e humanizado aos pacientes, seus familiares e toda a comunidade. Representa também a cultura Mater Dei de respeito,
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relacionamento e parceria com colaboradores, médicos, empresas e operadoras de planos de saúde. “Sempre acreditei que o sonho que se sonha só é apenas um sonho que se sonha só. Mas o sonho compartilhado estimula, entusiasma, energiza, fortalece, revigora, potencializa. Tem grande força catalizadora”, destaca o presidente do Conselho de Administração e fundador do Hospital, José Salvador Silva. Foram 20 meses de obra, com início em 11 de abril de 2017. No total, a capacidade de atendimento será de 1.500 pacientes/dia no pronto-socorro, 13 salas cirúrgicas, incluindo obstetrícia, 367 leitos de internação, incluindo CTI adulto, pediátrico e neonatal, e outros serviços.
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REPORTAGEM DE CAPA
O GIGANTE DE PÉS DE BA
PROTEGIDO PELA INDIFE
DO GOVERNO FEDERAL C
SOFRIMENTO EM BRUMA 18
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O presidente Schvartsman, da Vale sequer se levantou para homenagear os mortos de Brumadinho, com um minuto de silêncio
O GOVERNO BRASILEIRO SEQUER SOLICITOU A ABERTURA DE INQUÉRITO PARA APURAR AS RESPONSABILIDADE PELA TRAGÉDIA DE BRUMADINHO, QUE RESULTOU NA MORTE DE MAIS DE 300 PESSOAS
ARRO É
ERENÇA
COM O
DURVAL GUIMARÃES
Ninguém consegue entender a disparidade de atitudes. No Japão, o até então poderosíssimo presidente da Nissan, Carlos Ghosn foi encarcerado preventivamente pelo
ADINHO ECONOMIA
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REPORTAGEM DE CAPA governo japonês, diante da simples suspeita de que desviara cerca de R$ 170 milhões dos cofres da empresa. No Brasil, como provável responsável por um crime escandalosamente maior, que foi o sepultamento em vida de mais de 300 pessoas, o presidente da Vale, Fábio Schvarstman continua em liberdade. Simulou consternação perante as câmeras de televisão, pediu desculpas e reconheceu que “a tragédia é inaceitável”. E tudo ficou por isso mesmo. Até agora, o dirigente da mineradora sequer foi intimado a prestar depoimento à polícia. Schvarstman comanda a Vale desde 22 de maio de 2017 e jamais pisara, antes da tragédia, em qualquer instalação da companhia em Minas Gerais. Provavelmente nem sabia onde era a jazida do Córrego do Feijão, adquirida décadas antes da mineradora alemã Ferteco. Não é absoluta novidade, pois o seu antecessor, Murilo Ferreira, que dirigiu a empresa por seis anos, só foi à sede mineira apenas em três ocasiões. O império é comandado da imponente sede da empresa, no Rio de Janeiro, com vista para a baía de Guanabara.
Mudando de endereço Esse distanciamento é explicado pelo estorvo que se tornou a operação da Vale em Minas. Toda sua imensa pujança foi amealhada com os milhões de toneladas arrancadas do solo mineiro, sobretudo em Itabira. Mas, com a descoberta do minério em Carajás, no Pará, a extração naquele estado se tornou suficiente para
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atender a toda a demanda mundial por minério, com oferta de produto de maior teor e menor custo de produção. Mas a companhia nunca teve a coragem política de abandonar sua antiga galinha dos ovos de ouro. Agora essa desejada retirada será possível, para uma certa alegria dos acionistas da empresa. Dez perigosíssimas sucatas – que são as barragens de rejeito já condenadas – terão que ser reparadas e com isso a empresa desistirá da produção de 40 milhões de tonelada em Minas, nos próximos três anos. O volume será adicionado à estatística de Carajás, onde o minério é extraído a seco, sem praticamente o uso de água para a separação do rejeito. É provável até que aquela produção mineira jamais seja retomada, ampliando o sofrimento dos mineiros, agora sob o ponto de vista econômico.
Cidades extintas A extração em Minas se limitará a outros 40 milhões de toneladas, em jazidas onde o perigo de desabamento é menor. A empresa insinuou que nem tem certeza do aproveitamento dos seus funcionários enquanto as dez minerações estiverem paralisadas. A Federação das Indústrias de Minas Gerais fez as contas e em entrevista no dia 12 de fevereiro, o presidente Flávio Roscoe exibiu a extensão dos devastadores prejuízos para os mineiros. Os municípios de Nova Lima, Brumadinho, Ouro Preto e Congonhas praticamente serão extintos, do ponto de vista econômico. Ouro Pre-
A tragédia foi uma barbaridade”, exclamou o presidente. E ficou nisso
to perderá 95% da receita de ICMS (que atualmente é de R$ 130 milhões), 72% da sua receita do imposto sobre exploração mineral(CFEM), que é de R$ 22 milhões. E a maior parte dos três mil empregados da Vale corre o risco de ser dispensada. Isso dentro de 30 dias.
Um ‘pibinho’ à vista O PIB mineiro que tinha crescimento estimado em 3,3% no corrente ano, cairá para 1,8%. A indústria extrativa mineral é responsável por aproximadamente 25% da produção industrial de Minas Gerais e por 2,1% do PIB mineiro. No entanto, ele exerce grande influência na cadeia produtiva industrial. Para cada R$ 100 milhões a menos de receita do setor extrativo mineiro, há perdas
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adicionais de R$ 25 milhões em outros segmentos. A tragédia chocou o mundo e trouxe o presidente Jair Bolsonaro a Minas, que sobrevoou Brumadinho. Ao desembarcar em Brasília, prestou as declarações de praxe à imprensa: “Foi uma barbaridade”, exclamou. E depois foi providenciar sua internação no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para cuidar da sua colostomia, que também era assunto grave. O ministro Sérgio Moro, que poderia solicitar investigações à Advocacia Geral da União sobre essa calamidade nacional, muitas vezes maior que a rebelião no presídio de Fortaleza, nada falou sobre o tema, como se vivesse em outro planeta. Assim, tudo parece caminhar para o leito judicial da tragédia da Samarco, onde passados três anos, ninguém foi punido.
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REPORTAGEM DE CAPA
VOCÊ CONFIA NUMA BARRAGEM QUE DEV Então, pergunto ao leitor: você residiria num prédio, onde toda as noites uma equipe de engenheiros realiza delicadas medições para avaliar se o edifício pode desabar durante o seu sono? Parece absurdo, mas assim ocorre diariamente com as barragens de mineração. A cada 24 horas, sem nenhuma exceção, uma equipe monitora a represa para ver se ela aguentará o tranco naquela dia e se não há nenhuma água escorrendo de algum lugar. Esse cuidado é absolutamente necessário porque, ao contrário do que muita gente imagina, as represas de rejeitos minerais, que devem suportar imensos volumes de lama, não são construídas em concreto, como as hidrelétricas. Estas são capazes de resistir a bombardeios militares. As barragens de mineração são simples muros de areia, terra e pedras avulsas amontoadas por tratores e escavadeiras. Não há sequer uma massa de cimento para manter aquele pilha unida e estabilizada. Esse disparate da engenharia nacional chegou ao conhecimento da população
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VE SER MONITORADA TODOS OS DIAS? Câmera fixa no alto da Mina Córrego do Feijão flagra o momento logo após a barragem da Vale em Brumadinho se romper. O vídeo mostra onda de lama e rejeitos logo após rompimento
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muitos dias depois do massacre de Brumadinho, quando a represa simplesmente escorreu montanha abaixo, destruindo tudo em questão de minutos. O Corpo de Bombeiros estava em posse daquelas cenas já no dia 26 de janeiro, imediatamente após a tragédia, mas seu comandante preferiu adiar a divulgação do vídeo para evitar que a população entrasse em pânico. E certamente o desespero seria inevitável, pois há mais de 300 barragens desse tipo em Minas Gerais. As empresas mineradoras têm uma explicação para suas barragens de barro. Eles alegam que as barragens de concreto são onerosas e teriam de ser ampliadas frequentemente, pois sempre há mais rejeito para ser contido. Sim, eles alegavam que as represas eram caras, quando a tonelada de minério era vendida a 13 dólares, como ocorria no século passado. Mas não mudaram de opinião e nem aderiram as novas tecnologias, quando o preço foi lá nas grimpas e o minério passou a ser comercializado por 180 dólares por tonelada. (DG)
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REPORTAGEM DE CAPA
A LAMA DE BRUMADINHO É UMA HERANÇA INCONVENIENTE DA ESTATAL CIA. VALE RIO DO DOCE A BARRAGEM DE BRUMADINHO EXISTIA HAVIA DÉCADAS, COMO TODAS AS DEMAIS DA ANTIGA MINERADORA, COM TODOS OS SEUS RISCOS. QUEM VENDEU E QUEM COMPROU SABIAM DISSO JOSÉ ANTÔNIO SEVERO Foi a gota d’água. Um humilde filete de água que escorria inocentemente por um dreno clandestino subitamente exerceu seu poder com gramas de peso, alargou os centímetros que faltava e veio tudo abaixo. Um menino fazendo xixi na margem e o lago veio abaixo. Uma explosão demonstrava que ali o mundo desabava, um mar de lama projetou-se sobre aquela fração do planeta. Estavam lançadas as cartas da maior tragédia ambiental do País. Ainda está no ar a responsabilização final pelos danos da tragédia. Há quem diga que a barragem seria um passivo ambiental da antiga estatal Companhia Vale do Rio Doce, que fora lá atrás legada de má-fé aos novos donos privados. Isto ainda não veio à tona, mas já há especulações neste sentido. Por enquanto, Brumadinho é um problema mineiro, estadual e municipal.
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Talvez seja a derradeira foto de mineração em Mariana
Minas Gerais é o parque dos dinossauros mineral. No estado, barragens fossilizadas podem se romper sem aviso, como foi o caso de Brumadinho. Desativadas há anos, sem uso, à espera de melhores momentos para serem ressecadas, são como as bombas dormentes da Segunda Guerra na Europa. Soterradas, jazem à espera de uma faísca para explodir sem aviso. Quando encontradas, podem ser desativadas. Não é o caso das 96 represas de rejeitos antigas do Estado. O método anunciado para desativar esses reservatórios consiste em drená-los o máximo possível, soterrá-los, cobrir o banhado remanescente com uma camada de terra fértil. Estabilizado o aterro, com o plantio de gramas e árvores, a superfície vai se recompor. Onde era o pântano malcheiroso, ver-se-á um belíssimo parque verdejante. Entretanto, nas profundezas, a lama tóxica se consolida e vai, pouco a pouco, sendo reabsorvida pela natureza. Este é o quadro ideal. O perigo sempre fica. Algumas vezes, como em Brumadinho, a natureza dá seu recado antes do tempo
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humano. Nesse dia a casa cai. Foi o caso da Mina do Feijão, em 25 de janeiro: aquele insignificante filete de água que vasava não esperou. O plano da Vale seria iniciar aqueles trabalhos na próxima seca, quando os custos do aterramento e o enxugamento do lago tóxico são mais baratos e também fáceis de executar. Ocorre que o risco de desmoronamento se multiplica justamente no tempo ruim para as obras, quando chove muito e o reservatório está cheio da lama, com o peso da água exponencialmente reforçado pela presença maciça dos rejeitos do minério. Então, literalmente, vem tudo por água abaixo. O laudo técnico da empresa alemã Tüv Süd, que atestou a segurança da “Barragem 1”, da Mina do Feijão, apontou erosão e problemas de drenagem, o que podem ter provocado o rompimento da estrutura. O atestado de estabilidade emitido pela empresa contratada pela Vale para vigiar suas barragens pré-históricas, em setembro do ano passado, cinco meses antes da tragédia, atestava a segurança da barragem pelo período de um ano. O documento tinha para lá de
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REPORTAGEM DE CAPA 200 páginas, com minuciosos detalhes da perícia atestada pelo engenheiro paulista Makoto Namba. O clima não esperou pelo prazo de validade. Nesse documento, com as cautelas apropriadas para a delicadeza do veredito, Namba não deixou de dizer que a situação era crítica. Entretanto, como tudo nesse tipo de coisa, diante de uma construção gigantesca, dizer que vai cair amanhã ou depois é um risco à reputação do técnico. Preferiu dar um prazo de segurança de um ano. Para a Vale bastou. Melhor esperar a seca. O laudo concluiu pela estabilidade da estrutura, mas registra que, em determinada área da barragem, que estava parcialmente saturada de água, havia um dreno seco. Em outros lugares, continham trincas de onde vertia água. Ou seja: sinais claros de perigo. O engenheiro paulista que representa a empresa especializada do Primeiro Mundo, foi precavido. Sem alarmismo, recomendou a instalação de novos piezômetros, equipamentos que medem a pressão e o nível da água no solo, e de um mecanismo de registro sismológico no entorno da barragem. Ou seja: com tais equipamentos, em tese, o desandar poderia ser previsto. Segundo o laudo, para aumentar a segurança da barragem e evitar a liquefação — quando a lama passa de pastosa para líquida —, a Vale deveria tomar atitudes que diminuíssem a probabilidade de gatilhos, como proibir detonações nas redondezas, evitar o tráfego de equipamentos pesados, e impedir a elevação do nível da
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água na estrutura. Em nota, a Vale informou que todas as recomendações foram atendidas ainda no ano de 2018. “Cabe reforçar que se tratavam de recomendações rotineiras em laudos deste gênero”, diz a nota da empresa. O último laudo foi assinado pelo engenheiro Namba, preso junto com mais outro engenheiro da Tüv Süd e três funcionários da Vale, em Minas, após o acidente por determinação da Justiça. Os cinco já foram libertados. A empresa alemã elaborou dois relatórios sobre as condições de segurança
da taipa de Brumadinho. O primeiro, de agosto de 2017, conclui que “o desempenho da barragem se encontrava adequado, atendendo às exigências das normas brasileiras de segurança para barragens”. O segundo, de julho de 2018, reafirma a mesma conclusão. Uma represa com as mesmas técnicas, rompeu-se, há três anos em Mariana. Foi um alerta desprezado. O mesmo valeria para todas as demais construídas com essa tecnologia. Os especialistas concordam que estão condenadas, ultrapassadas há décadas, e constituem ameaças sérias às populações das imediações e
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aos rios das bacias integradas por essas represas. Nem todas elas pertencem à Vale. Certamente caberá ao poder público resolver a questão. Muitas delas pertenceram a empresas extintas, que há anos encerraram suas atividades. Algumas são estrangeiras e já se foram do País. Não há nem rastro delas, pois como é da natureza da mineração, esgotada a produção é tudo desativado, deixando cidades fantasmas, buracos abertos, túneis e rejeitos ao léu. Que dirão os acionistas da Vale sobre tais custos? Esses esqueletos pertenciam à estatal, também extinta, Vale do Rio Doce, que abandonou suas responsabilidades sem dar sinal de compromisso com seu passivo, vendendo a firma a investidores privados dizendo que estava tudo em ordem. Os dirigentes da Vale privada estão absorvendo as culpas, calados, pois não é hora de tirar o corpo fora. Mas esse caso ainda vai parar na Justiça, especula-se. Danos e indenizações não serão facilmente reconhecidos pelos atuais detentores da mineradora. Embora a companhia tenha mudado seu nome, tirando da marca a referência ao rio de seu nascimento, o aprazível Rio Doce, ela está tomando providências e aceitando socorrer vítimas sem reclamar a autoria das culpas. Entretanto, é tudo discutível, pois a compra de uma empresa com tais passivos ocultos pode ser reclamada. O verdadeiro dono da obra seria o Ministério de Minas e Energia do Governo Federal, antigo controlador da empresa. Ainda vai rolar muita água e muita lama. Quem pagará a conta?
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MEU PIRÃO PRIMEIRO A TRAGÉDIA DE BRUMADINHO ENSEJOU LIÇÕES À HUMANIDADE. ESSA É UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DOS FLAGELOS DE GRANDE PROPORÇÃO. ISSO NÃO QUER DIZER, NECESSARIAMENTE, QUE SERÃO APRENDIDAS MÁRCIO FAGUNDES Uma certeza escorreu junto ao lamaçal: o capital desconhece o sofrimento humano. As duas últimas guerras mundiais são provas disso. Que ele não tem fronteiras, todos sabemos. Que ele não tem coração, muito menos sentimento, Charles Chaplin encenou. Não interessa a dimensão do desastre
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ambiental. Muito menos quantas vidas foram ceifadas. Fosse um Mineirão lotado engolido pela Terra, e nada mudaria na disposição dos capitalistas de faturar com a desgraça alheia, ainda mais se o estádio fosse um ativo com partilha de dividendos aos acionistas. O físico Albert Einstein, aquele mesmo que virou hospital de ponta em São Paulo, alertou os EUA, em 1939, para o
potencial da bomba atômica. Duas delas pulverizaram a população de Nagasaki e Hiroshima, obrigando o Japão a se render no Pacífico. Muitos destes artefatos, que dizimam cidades e quiçá todos os seres vivos se lançados, espalham-se pelo mundo. Aguardam apenas o apertar de um botão. Convivemos com este horror, como se não houvesse amanhã. E está tudo certo. No dia em que se deu a tragédia em Brumadinho, as ações da empresa de mineração despencaram para frustração de alguns, que aguardavam pacientemente sua elevação no mercado de valores, há bom tempo. Em 24 horas, os papéis da empresa subiram 9%. Os cadáveres ainda estavam frescos sob a enxurrada de rejeitos de minério. Ou seja, o espertalhão que comprou na baixa vendeu as ações ao fim do primeiro dia com quase 10% de lucratividade. Uma barbaridade, mas assim funciona o mercado. Esse estado de completo desprezo ao emocional, que dispensa pieguices e lágrimas, tem por objetivo a conta bancária. A total ausência de sensibilidade e responsabilidade também pairou sob o julgamento de Nuremberg. E a vida seguiu, sabe-se lá a que preço. O assunto é polêmico. Ele se insere na virtualidade das finanças mundiais. Agravado, sem dúvida, com as novas tecnologias. O déficit das nações deduzido do que produzem fecha a conta? Tenho dúvidas. Acho que nem a ciência econômica saberia dizer. Afinal, a crise também é de valores. Quanto custa o trabalho em extinção? A ética tem preço na competitividade? A produtividade atende ao uni-
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verso de consumo? A retração consciente do mercado de consumo afetaria o sistema? Satisfeitos com uma geladeira e um computador, bens duráveis, todos estariam dispostos a comprar outra unidade? Perguntas não faltam. O mega-investidor Warren Buffett, revelou em sua magnífica biografia que nunca gastaria um tostão com ações da área de informática. Para o norte-americano, republicano, protestante, gato escaldado, o real seria palpável. Não o produto que se hospeda em nuvens, imaginável. Seus
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REPORTAGEM DE CAPA investimentos compravam ações de plantas industriais consagradas, como a Coca-Cola. Esse negócio de software e hardware não era com ele, brincou com Steve Jobs e Bill Gates, num encontro de magnatas. Por fim, do alto de seus mais de 90 anos e fortuna de 80 bilhões de dólares, Buffett se rendeu à Apple que, para seu azar, desceu do pedestal. A população brasileira no todo, com exceção de um universo mínimo de apostadores na Bolsa de Valores, desconhece o funcionamento deste modelo de investimento de risco. Por dois motivos: nunca comprou nem irá comprar uma ação de empresa com capital aberto, pois lhe falta numerário ao fim do mês; não existe a cultura de aplicação em ações no país, porque inexiste a perspectiva de poupança. Mesmo assim os veículos de comunicação insistem diariamente em informar que a Bolsa está em alta ou em baixa, como se o fato fosse importantíssimo para a sobrevivência de toda gente. Bastasse uma pesquisa: você tem ações? A movimentação de ações interfere no seu orçamento doméstico? As mesmas indagações caberiam no Crack da Bolsa de New York, em 1929. Depois, ali se criou uma cultura geracional de aplicação em ações, a partir de economia pujante. A título de ilustração, o pai ou avô presenteavam o filho ou filha já no nascimento com ações de ganhos futuros. Sua restituição pagaria a universidade. A diabólica parceria de Karl Marx e Engels pautou o mundo por século e meio. A história, quando se repete, ressurge como farsa, diziam. Depois da Samarco, a Vale... Ambos destrincharam o materia-
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lismo histórico com estudos, pesquisa e dialética durante o avanço da Revolução Industrial. A dupla de ideólogos apostou na degeneração do capitalismo num processo autofágico. O próprio sistema se encarregaria de consumir as partes gangrenadas, a ponto de o socialismo evoluir até comunismo. Seria o fim da exploração do homem pelo homem, com meios de produção e terra coletivizados. China e União Soviética, cada uma ao seu modo, viveram a experiência. Entretanto, as olarias continuam a produzir tijolos para muros fronteiriços, mas caiu o de Berlim, em 1989.
A capacidade de regeneração do capitalismo, entretanto, extrapolou em muito o trabalho dos dois. Eles não mensuraram o tamanho da ambição do ser humano, muito menos a rapidez com que crescia o rabo da lagartixa, depois de decepado. Essas as maiores característica do capitalismo: ampliar as desigualdades; renascer nas crises. Ou seja, quem tem não põe, quer mais. Quem não tem, não tira. Apenas sonha... E ajuda a pagar as contas. A atuação do capitalismo tem similaridade com figuras mitológicas. Procusto, bandido grego, atacava os viajantes.
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Deitava-os em um leito. Se pequenos, esticava-os; se grandes, decepava-os. Ele reduzia qualquer um a dimensões desejadas. É símbolo da banalização, da redução da alma a medida convencional; a própria perversão do ideal em conformismo. Já Proteu, deus secundário do mar e personagem da Odisséia, tomava todas as aparências que desejava: se arrasta pela terra, em água, em fogo divino, sem jamais responder com precisão, exprimindo-se por enigmas. Está lá, no Dicionário de Símbolos de Alain Gheerbrant e Jean Chevalier. Se necessário, a maleabilidade do capitalismo se traveste de Procusto e Proteu. A Copasa é empresa mista com capital na Bolsa. Seus acionistas se espalham pelo mundo. Nenhum deles, contudo, se dispôs a fazer um passeio até a lagoa Várzea das Flores, entre Betim e Contagem, construída nos anos 60. Caso o fizessem, constatariam in locum que uma das galinhas dos ovos de ouro da empresa recebe línguas de esgoto in natura em vários pontos. Ou seja, ela deixa morrer seu ganha-pão por inoperância. Manancial de abastecimento fundamental para a Grande BH, que lhe rende dividendos. Vista a poluição ambiental do lugar, em sã consciência alguém compraria ação da Copasa? Como se vê, sim, contrariando a lógica ambiental. As múltiplas facetas do capital provam, enfim, que ele renasce como Fênix no individual e coletivo. Sua capacidade de soerguimento parece insuperável. Mesmo que custe a vida no planeta. Aliás, isso é de somenos importância. Alguém vai sempre ganhar com a “miséria terrena”.
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REPORTAGEM DE CAPA
A LAMA DA INJUSTIÇA ROMERSON CANGUSSU PASTOR EVANGÉLICO, CHEFE DO DISTRITO DA IGREJA DO NAZARENO EM MINAS GERAIS A lama das minas é o refugo na apuração do minério de valor. Assim como as mortes e destruição do meio ambiente têm sido os dejetos da injustiça que permeia os tribunais do Brasil. O livro mais lido em toda a história, pela boca do Profeta Isaías, decreta: “Pois eu, o Senhor, amo o juízo, aborreço o roubo e toda injustiça; fielmente lhes darei sua recompensa...” Pelo visto, nossos governantes e magistrados passarão incólumes mais uma vez, infelizmente. Todavia receberão a recompensa divina e eterna por todas as vezes que legislaram contra a vida e a dignidade humana. Não ficarão livres da prestação de contas perante o Grande e eterno Juiz. Com toda certeza não se safarão da culpa pelos seus conluios e maquinações odiosos. Não dessa vez, quando findarão suas obras e inevitavelmente prestarão contas de cada ato na presença do Criador. Não, não contamos nossos mortos vitimados pelos ataques sanguinários de terroristas, como em outras nações da terra. Nossos compatriotas investidos de autoridade e que legislam em causa própria, eles é que são nossos desalmados terroristas. Deus nos livre deles! O que aconteceu em nossa bucólica
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Brumadinho fez Mariana parecer “apenas” um prenúncio do inferno que viria. Brumadinho pode ressuscitar a esperança das famílias das vítimas da histórica Mariana. Ou pode sepultar definitivamente toda esperança se a injustiça mais uma vez prevalecer. Podemos até esperar as intermináveis entrevistas de advogados, ativistas, ONGS, políticos, procuradores etc. etc. De dentro de suas salas confortáveis e bem refrigeradas, quase todos buscarão, longe da lama e da angústia dos familiares das vítimas, encontrar um meio de promover seus interesses antes de tudo.
Também eles terão que, um dia, acertar as contas com Aquele em quem não há injustiça. “Ai dos juízes injustos e dos que decretam leis injustas, que não deixam haver justiça para os pobres, para as viúvas e para os órfãos. Sim, porque a verdade é que até chegam a roubar as viúvas e os órfãos” (Isaías 10:1). Não adianta condenarmos a atividade mineradora. Todos os países do mundo exploram suas riquezas minerais. Precisamos sim de profissionais responsáveis, legisladores honestos, magistrados aplicados à justiça e governantes que sejam
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vigilantes a respeito do interesse coletivo. Em suma, precisamos amar as pessoas, próximas ou não. Em Brumadinho nem o próximo (no caso, os funcionários) foi considerado. Ainda vamos levar muito tempo para limpar a lama dos gabinetes políticos e dos tribunais. É um trabalho árduo. Porém, precisamos fazê-lo com coragem, fé e esperança. Caso contrário, inevitavelmente – enquanto o juízo de Deus não chega – nossos filhos e netos seguirão perguntando pelo resto dos anos: – Que pais é este?!
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REPORTAGEM DE CAPA
A VALE, A RESISTÊNCIA DE DRUMMOND E O NOVO GOVERNO
ARISTOTELES ATHENIENSE, ADVOGADO E CONSELHEIRO NATO DA OAB DIRETOR DO IAB E DO IAMG As janelas do casarão onde Carlos Drummond de Andrade viveu a sua infância davam para o colosso de ferro que dominava a paisagem de Itabira. “E cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê”, dizia ele. Decorridos muitos anos, quando o poeta visitou a sua cidade foi tomado de uma indignação cívica contra a exploração mineral mantida pela antiga Companhia Vale do Rio Doce. Esse ímpeto o levou a escrever artigos polêmicos divulgados no “Correio da Manhã” e no “Jornal do Brasil”, questionando os efeitos da atuação mineradora. A seu ver, os lucros não retornaram
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em benefício de Itabira. Vale lembrar que se a empresa absorvia 70% dos empregos locais, das jazidas então exploradas resultou a riqueza da Vale. Drummond qualificou a atividade minerária como uma “indústria ladra”, pois, esta “tira sem repor, devassa e abandona os lugares que explora num incessante processo de destruição criativa da terra”. Em 1970, a empresa atacada publicou no jornal “O Globo” a sua resposta numa sátira aos versos de Drummond, alardeando a existência de “uma pedra no caminho do desenvolvimento”, com a marca obtida naquele ano (20 milhões de toneladas de ferro exportado), acrescida do autoelogio: “Somos especialistas em transformar pedras em lucro para a Nação. É de mais pedras como essa que o Brasil precisa”. O flagelo de Brumadinho não foi antecedido apenas pela hecatombe do córrego do Fundão, em Mariana. Além desta, houve o rompimento da barragem de Herculano em Itabirito, sobrevindo novo desastre em Miraí e Muriaé, onde 4.000 pessoas perderam seus lares. Em 2008, outra ruptura, desta vez numa barragem da CSN, em Congonhas, desalojando milhares de moradores. O atual presidente da República, na fase pré-eleitoral, enfatizou que a fiscalização ambiental importava num entrave inútil e burocrático. Caberia ao novo governo “tirar o estado do cangote do produtor”. Logo após sua vitória, externou sua disposição em extinguir o foco criador da “indústria de multas”, ou seja, com a abolição do Ministério do Meio Ambiente, criado em 1985. Ante a reação dos ruralistas, temerosos em perder o mercado internacional
para os seus produtos, o Ministério do Meio Ambiente foi mantido. A escolha do titular da pasta recaiu num jovem advogado que já exercera o cargo de diretor jurídico da Sociedade Rural Brasileira, instituição que defende os interesses do setor agropecuário. Em Minas Gerais, o apoio às mineradoras contou com expressiva ajuda do governador Fernando Pimentel. Partiu dele a iniciativa de enviar projeto ao Legislativo restringindo a atuação do Ministério Público no processo de aprovação das barragens. A medida foi acolhida sem rebuços. Na Assembleia Legislativa, composta de 77 deputados, 55, de todos os partidos, receberam doações quando a contribuição das pessoas jurídicas ainda era permitida pela legislação eleitoral. A Lei Estadual 21.735 (3/8/2015), que dispunha sobre o crédito estadual não tributário, perdoou as multas aplicadas entre 2011 e 2015 (art. 6º), adotando como pretexto o fato de que o processo de cobrança daquelas multas era oneroso, redundando em valor superior ao das penas cominadas. Isto ocorreu quatro meses antes da tragédia de Mariana, fato que Pimentel deplorou, com lágrimas de crocodilo, implorando o auxílio da União para cobrir os prejuízos conhecidos e até hoje não reparados. Não deixa de ser preocupante saber que o atual presidente, quando candidato, houvesse proclamado que “essa questão de licença ambiental atrapalha”, trazendo no seu bojo uma inspiração ideológica. Essa avaliação, na contramão da história, assegura a manutenção de privilégios. As providências anunciadas para conter a
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voracidade das mineradoras poderão tornar-se uma “comédia embromatória”, a que Drummond se referiu na sua prédica, contra a tremenda desigualdade das forças envolvidas neste processo lucrativo. No momento, encontra-se em tramitação no Congresso projeto de autoria do ex-senador Romero Jucá, em favor da liberação de atividades consideradas como “estratégicas ao país”. Trata-se de um artifício, a fortalecer o “licenciamento flex”, visando a aprovação automática de empreendimentos que sejam de baixo impacto ambiental. Em face deste quadro, forçoso é reconhecer que o refrão adotado pela Vale, na segunda metade do século passado, na resposta dada às apreensões de Drummond, ontem como hoje, foi inspirado somente no lucro financeiro das empresas. É um imperativo resistir a essa pantomima, com a solidariedade do Executivo atual, ainda que este, no passado, não comungasse das providências que todo o Brasil reclama, ante o infortúnio desmedido que vitimou centenas de cidadãos indefesos.
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Cledorvino Belini, novo presidente da Fiat, é o segundo dirigente de estatal nomeado por Zema. Faltam 15
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FALTA DE QUADROS DO NOVO DEIXA ESTATAIS ACÉFALAS EM MINAS MESMO DERROTADO, EX-GOVERNADOR FERNANDO PIMENTEL MANTÉM SUA EQUIPE DIRIGINDO AS EMPRESAS PÚBLICAS MINEIRAS ORION TEIXEIRA* Entre várias razões, a principal delas é a falta de quadros de seu partido, o Novo, o governo Romeu Zema entra no terceiro mês de gestão em um estado de acefalia das empresas públicas, quando não, ainda sob o controle dos nomeados do governo passado, de Fernando Pimentel (PT). Das 17 empresas de controle estatal, apenas a maior delas, a Companhia Energética de Minas Gerais, a Cemig, ganhou novo presidente no dia 8 de fevereiro, quase 40 dias depois da posse do governador, assim como a Prodemge (Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais). Nas demais, é como dizem lá na Assembleia Legislativa, “o governo está dormindo com o inimigo”, até porque há contratos milionários nessas empresas, que deverão ser avaliados pelos atuais diretores. O mesmo ocorre com as 15 autarquias do estado. A nomeação de diretoras
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para grandes empresas é um processo interno demorado. Após a indicação do governador, o nomeado tem que passar pelo crivo do conselho de administração.
Método novo, mas discutível O partido Novo, assim como o governador Romeu Zema – e nenhum deles nega isso – não estava preparado para assumir logo na primeira eleição estadual que disputou. Tanto é que, desde a transição e após a posse, o governador tem adotado processo seletivo para preencher os cargos, inicialmente, os de secretários. Apesar de inovador para a área pública, o sistema trouxe dificuldades, como na área da Saúde, onde teve que trocar o comando com apenas dois meses de exercício. Recorreu novamente ao modelo para encontrar o substituto para chefiar a saúde pública estadual.
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Cemig teve queda na bolsa A Cemig, que é a maior empresa estadual, com grande peso e influência sobre a gestão, não mereceu do governador a devida atenção. Ele demorou a definir o novo comandante e, quando o fez, viu, no dia seguinte, as ações da energética, uma das maiores do país, despencarem mais na bolsa do que as de outras empresas, ainda que o momento não tinha sido bom para ninguém. Seja como for, o mercado reagiu sem entusiasmo à indicação do ex-presidente da Fiat Automóveis Cledorvino Belini. As ações da Cemig (CMIG4) registraram queda de 1,04% a R$ 13,26, no início da tarde da segunda-feira (11), na bolsa paulista. Por mais que tenha um currículo de gestor competente, Belini não é do ramo energético e deverá ter muitas dificuldades no início. Além disso, Zema o nomeou para outras três diretorias: vice-presidente da companhia, diretor jurídico e diretor de gestão de pessoas. Por quê? Pela falta de quadros para a composição compatível.
“Inimigos” ficam O que mais chamou atenção, ao demitir o ex-presidente Bernardo Alvarenga Salomão, antigo funcionário de carreira, foi a dispensa de outros cinco diretores, dos quais três eram técnicos da própria estatal e manutenção daqueles egressos de diretorias do Banco do Brasil da gestão Lula/Dilma (ambos do PT): Daniel Faria, diretor de Gestão Empresarial e o diretor financeiro Maurício Fernandes, além do Adézio Almeida Lima, que ficou
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na presidência do Conselho de Administração. Egresso da iniciativa privada, Belini terá como desafios a restruturação e adequação da empresa no cenário prometido pelo atual governador, que quer uma empresa mais enxuta e mais eficiente, para, provavelmente, privatizá-la no futuro próximo. Para a Prodemge, indicou um aliado e nome capacitado para o setor, Rodrigo Paiva, que foi candidato derrotado ao Senado na última eleição. Engenheiro civil, especializado em tecnologia, ele foi nomeado no final de janeiro.
Trava contra a privatização Outra razão apontada no meio político e empresarial para a demora e indefi-
nição de Zema é sua intenção privatizante. Além dos princípios liberais do partido Novo, o governo mineiro passa por processo de adesão à renegociação da dívida do estado, junto à União, de cerca de R$ 90 bilhões, pelo qual uma das contrapartidas seria a venda de estatais, tendo a Cemig como o principal alvo. Ainda do grupo da energética, há a Companhia de Gás de Minas Gerais, Gasmig, comandada por Pedro Magalhães, diretor-presidente indicado pelo governo Pimentel. Situação semelhante é a das Companhia de Água e Esgoto (Copasa), Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig/Codemge), a poderosa estatal do nióbio, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epa-
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mig), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), a Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab), entre outras. Para três delas, a Copasa, Cemig e Gasmig, há um dispositivo constitucional que as impede de serem privatizadas sem a aprovação de dois terços da Assembleia Legislativa, maioria absoluta, e da realização de plebiscito. Esse rito funciona como uma trava que dificulta a alienação delas. No caso de autarquias, as nomeações do governador precisarão de aprovação da Assembleia Legislativa, após sabatina dos indicados. (*) JORNALISTA POLÍTICO LEIA MAIS NO WWW.BLOGDOORION.COM.BR
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O TAMANHO DO ESTADO EMPRESAS PÚBLICAS Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG Caixa de Amortização da Dívida - Cadiv Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais - Codemge Companhia de Gás de Minas Gerais - Gasmig Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais - Cohab Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais - Prodemge Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig COPASA Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste De Minas Gerais S/A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - Emater Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG Empresa Mineira de Comunicação - EMC Instituto Integrado de Desenvolvimento Econômico - INDI MGS - Minas Gerais Administração e Serviços S/A Minas Gerais Participações S/A - MGI Trem Metropolitano de Belo Horizonte S.A. - Metrominas
AUTARQUIAS Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte - ARMBH Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Vale do Aço - ARMVA Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário do Estado de MG - ARSAE Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais - DEER Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais - Idene Instituto de Metrologia e Qualidade do Estado de Minas Gerais - Ipem Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais - Ipsemg Instituto de Previdência dos Servidores Militares do Estado de Minas Gerais - Ipsm Instituto Estadual de Florestas - IEF Instituto Mineiro de Agropecuária - IMA Instituto Mineiro de Gestão das Águas - Igam Junta Comercial do Estado de Minas Gerais - Jucemg Loteria do Estado de Minas Gerais - LEMG Universidade do Estado de Minas Gerais - Uemg Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
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REFORMA SÓ ENXUGA GELO Após ganhar o reforço do PSDB, representante da ‘velha política’, como aliado estratégico de governabilidade, o governador Romeu Zema (Novo) apresentou, no dia 5 de fevereiro, seu projeto de reforma administrativa ao estilo tucano: apenas cortar cargos e reduzir secretarias, visando redução de despesas. A economia com a reforma será de R$ 1 bilhão em quatro anos, durante todo
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o mandato. Para se ter uma ideia de seu impacto, apenas a folha mensal com os salários dos cerca de 600 mil servidores estaduais custa R$ 2,1 bilhões. O déficit do estado, para este ano, é de R$ 12,5 bilhões, ou seja, R$ 1 bilhão por mês. A reforma será apreciada e votada pela Assembleia Legislativa, e prevê, em síntese, a redução de 21 para 12 secretarias e o corte de 3.600 cargos comissionados.
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AQUI ENTRE NÓS
MÉDICO GLUTÃO POR GLÚTEOS SYMPHRONIO VEIGA Chorando, a empregada Ozilda pega sua mala e se despede da patroa Florilda, que lhe pergunta: - Uai aonde você vai? - Para minha terra, Dona Frô, morrer junto dos meus. - Mas o que aconteceu, querida? - Óh Dona Frô, a senhora mesmo fala que o seu marido é um excelente médico e nunca errou um diagnóstico. - Pois é, é verdade, ele nunca se engana no diagnóstico e sempre acerta prevendo as coisas... Mas, o que tem isso a ver com a sua saída de casa? - Então, Dona Frô, é que o doutor, hoje pela manhã, ao sair para o trabalho, me disse, apertando minha bunda com as duas mãos: - Desta noite não passa!!!
BOM MARIDO: “Minha mulher tem um excelente físico”. (ALBERT EINSTEIN)
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(Não acontecido na impoluta Itapecerica das rosas e do tamanduá. Lá não tem médico infalível nem glutão por glúteos).
ESCREVER É FÁCIL: “Você começa com a letra maiúscula e termina com um ponto. E no meio coloca as ideias”. (PABLO NERUDA)
COMO MELHORAR A VIDA CONJUGAL? (Tema do Festival Itapecericano de Verão) O tradicional Festival de Verão de Itapecerica das rosas e do tamanduá, MG, realizado este ano no salão nobre da Universidade Católica Apostólica e Romana do Campo das Vertentes com um seminário para as senhoras casadas teve como tema ‘Como melhorar a sua vida conjugal?’ Foi questionado: - “Quais de vocês ainda amam seus maridos?” Todas levantaram a mão! Em seguida foram inquiridas sobre qual a última vez que teriam dito aos seus maridos que o amavam. Algumas responderam “Hoje”, outras “Ontem”, mas a maioria não lembrava. Por fim, fizeram um teste. Pediram que todas pegassem seus celulares e enviassem um SMS aos seus maridos dizendo: “Te amo muito, querido.” Depois, foi pedido que mostrassem as respostas dos respectivos maridos. Eis algumas das respostas: - Você está bem? - Que foi? Bateu com o carro outra vez? -O que você fez agora, meu Deus!!! - O que que você quer dizer? - Não fala com rodeios. Diz logo de quanto você precisa. - Estou sonhando? - Se não me disser para quem era este SMS juro que te mato!!! - Quem é?
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TRÊS VEZES MAIOR QUE O POLEGAR - A comida leva 7 segundos da boca ao estômago. - Um fio de cabelo aguenta 3kg. - O tamanho médio do pênis do homem é 3 vezes o comprimento do polegar. - O fêmur é mais forte que concreto. - O coração da mulher bate mais rápido que o do homem. - Existem cerca de um trilhão de bactérias em cada um de seus pés. - As mulheres piscam duas vezes mais que os homens. - O peso médio da pele de uma pessoa é duas vezes maior que o do cérebro. - Seu corpo utiliza 300 músculos para manter o equilíbrio quando você está parado em pé. - Se a saliva não consegue dissolver algo, você não consegue sentir seu sabor. - As mulheres que estavam lendo este texto já terminaram. PS: Os homens ainda não. Certamente estão ocupados medindo seus polegares
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NAS CURVAS DA VIDA
A ÉTICA
EM PRIMEIRO LUGAR
O VERDADEIRO PAPEL DO JORNALISTA ALCINDO RIBEIRO Aposentado há algum tempo e fora das gostosas e saudosas redações, ainda acredito que hoje em dia os novos jornalistas aprendem bem menos nos jornais do que antigamente. Muito mais, no entanto, do que nas escolas de comunicação, de jornalismo, pelo que sei. Na escola da Redação ensinava-se, sobretudo graças ao empenho e à boa vontade de alguns teimosos veteranos, algo assim: como se redige a notícia ou matéria apenas informativa; como se estrutura a edição de uma reportagem; como se faz um prudente copidesque – função que nem existe mais nas redações, acho, e uma legenda, evitando-se falar do óbvio na foto; a propósito, a profissão ensina que o óbvio é o maior inimigo da redação. Essas e outras lições são ensinamentos que se passavam aos que começavam no jornalismo, os focas, como ainda devem ser chamados por velhos jornalistas, ao invés do novo termo, “treni”, assim aportuguesado. No entanto, antigamente como hoje, há coisas e coisas que não se ensinam, porque são próprias da natureza de cada um; por exemplo a maldade, ou melhor,
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Oficina de linotipos do “The New York Times”, onde os textos eram produzidos em chumbo. Os profissionais deviam beber um copo de leite a cada hora
a sutileza no título, chamariz para o leitor; o toque espirituoso, detalhe inteligente nas legendas, jogando-se com as palavras e situações, enfim, como se escreve; são coisas que não podem ser ensinadas. Não por falta de boa vontade ou de paciência para com os novos, mas porque isto é dom, é graça de Deus: quem sabe, faz; quem não sabe, trate de aprender. Mas isto é outra questão e eu não estou aqui para dar aula de jornalismo, pois não sou professor. Essa conversa toda aí serve de lide, isto é, de abertura para o que pretendo comentar. Trata-se do caso de dois jogadores de futebol que se filmaram pelados na concentração e entregaram a máquina a duas menores, suas fãs. O fato, ocorrido há muito tempo em Viçosa, interior de Minas, foi noticiado na imprensa local e na de Belo Horizonte. Revoltada, claro, a mãe das meninas processou os jogadores. Agora, passados meses e anos, não se sabe que fim levou o caso. Não vou entrar no mérito da questão, se é que esta questão pode ter algum mérito, mas gostaria de comentar o enfoque da notícia na imprensa. Com a manchete – Filme revela lado negativo de jogadores – na primeira página, tenho certeza que o editor ajudou na venda do jornal, objetivo maior dos empresários. O jornalista soube explorar o assunto com estilo e ética, profissionalismo, sem agressões ao leitor e aos imprudentes jogadores. Como deve ser a imprensa, tanto na época das máquinas de datilografia, no caso, como agora, tempo do computador e sem o chumbo das linotipos. ECONOMIA
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SEM LICENÇA
A CRIATIVIDADE E GRANDES CLUBES DE FUTEBOL DECRETARAM O FIM DOS CRAQUES EM CONTRATOS NEFASTOS COM JOVENS MÁRCIO FAGUNDES O ninho do urubu gerou uma serpente de muitas cabeças, como uma peça mitológica. São várias as interpretações da tragédia, que matou 10 jovens e deixou alguns feridos. A emoção futebolística prevaleceu na justificativa de causas dolorosas e dolosas. Atletas de futuro promissor... Que falácia! O funil de bico microscópico despeja no gramado verde dos cifrões uns pouquíssimos destes guris. São raros aqueles que chegam lá. Quem conhece os bastidores do futebol sabe que este ambiente é pútrido. O que tem de malandragem, sem-vergonhice, esperteza e golpes financeiros... Há quem se arrisque a dizer que supera em muito o ambiente político em matéria de canalhice. Deus livre a todos! É tremenda hipocrisia tomar esta juventude como de craques talentosos cujo destino lhes sorriu. A seleção brasileira de garotos na faixa dos 20 anos foi eliminada do mundial. Deu vexame sem glória, em mais uma prova de que o futebol brasileiro já era. Igualou-se por baixo. Perdeu a supremacia. Em nome de um tecnicismo
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corpóreo e financeiro. E não é de agora. Vade retro habilidade. Qualquer diretor rastaqüera de categorias inferiores sabe que uma maioria de jovens atletas vai morrer na beira do campo. Com as pernas encharcadas de éter para tirar o cheiro ruim das caneladas da vida. Estes meninos, grosso modo, se espelham em Neymar. Um produto de marketing e da velhacaria do pai, nem tão brilhante assim com a bola nos pés, para não ir longe. Fosse o Flamengo dedicado às categorias de base, apenas para citar exemplo
EXIGE LIBERDADE
recente, não teria comprado Arrascaeta (Cruzeiro) e Gabigol (Santos), por uma baba milionária. Bastaria subir dois ou três meninos para o time principal. Portanto, sai demagogia! Por que o investimento nesta rapaziada? A prata da casa usa chuteira de trava alta no calcanhar. Um imaginário salto alto na esperança do atleta, conluiado com ambição familiar. Ninguém lhes advertiu com cartão amarelo sobre a inerência da frustração, decepção. O correto seria estimular as novas promessas em times de origem, mesmo que na várzea, próximos ao núcleo familiar.
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O atleta de Divinópolis, que treinasse no Guarani; o do Ceará, que batesse bola no Fortaleza. O contrato de gaveta se assemelharia a um chamado no banco de reservas na hora da necessidade. Este procedimento sairia mais barato. Manteria o vínculo com os clubes para orgulho de parentes e ganha-pão dos olheiros. O país do futebol não produz mais craques. Sabe por quê? Os clubes tiraram a liberdade dos novos atletas. Em vez de deixá-los em seus domínios, cada qual com dificuldades existenciais, transferiu-os para o isolamento dos centros de treinamentos. Ali são obrigados a exercitar uma falsa criatividade em cones e peladas de um ou dois toques, numa atividade própria para autônomos. Quem foi Machado de Assis? Indagaria o bom diretor, com a rapaziada reunida no centro do gramado. O plantel entraria em imediata convulsão intelectual. Dirigentes, cornetas, diretores, empresários, técnicos, auxiliar técnico, categorias de base, médicos, preparadores físicos, massagista, roupeiro, torcida organizada, etc. Todos estes segmentos compõem o profissionalismo dos maiores times. No Brasil, não são mais do que os dedos dos dois pés. Tem gente boa, claro, mas, no geral, onde entram cifras astronômicas em negociatas, o importante é chutar da medalhinha para cima. Não restou em segredo de orelhada a informação de que técnicos levam um troco na venda de jogadores,
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SEM LICENÇA alguns medíocres, desde que escalados. Clube virou empresa, distanciada do amadorismo. Todavia, profissionalizada com patrocínios, veículos de comunicação e gestão empresarial. Por conseguinte, almeja lucro. Quem se insere nela, não é atleta, mas trabalhador, sujeito a cartão vermelho. Ele vende sua força de trabalho com mais suor do que o de um trabalhador comum pela natureza da tarefa, embora não cumpra jornada. Isso é mais antigo do que andar para frente. O futebol é esporte burro. De pouca criatividade, com estratégias que se repetem. Ele deplora inovações, riscos. Corre léguas das novidades. O jogo se passa no coletivo. Os méritos são do indivíduo. O melhor em campo, eleito pela crônica, leva um relógio. Alguns procedimentos neste esporte atiçam a curiosidade. Cito uma: por qual motivo os atletas, com péssima formação escolar, aliás, treinam pela manhã se ao longo da carreira jogarão apenas de tarde e à noite. O biorritmo se alterna em vários períodos nas 24 horas. Ao acordar, corpo e mente são um. Para uns tantos, o conjunto se recusa a despertar com reflexos de mau humor. Depois de almoçar, ir ao banco, levar o filho na escola e conversar com amigos a pessoa é outra. Empertigado e dono de vasta cultura, como todo Andrada, o mineiro Martim Francisco fez história ao criar o 4-2-4, nos anos 50, a quem rendo homenagens. Futebol com pontas e laterais em destaque e meio de campo fixo. A técnica, no entanto, cedeu espaço para a brutalidade e o preparo físico. Tão ao gosto europeu, bem alimentado desde o nascimento, com me-
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Um urubu pousou na sorte dos meninos do Flamengo
nores discrepâncias sociais. Hoje, todos marcam o adversário em efeito sanfona no campo inteiro ou meio campo. Atiçada pela imensa torcida, a mídia fluminense, como na música “País Tropical”, de Jorge Benjor, é Fla-Fla/Men-Men/ Go-Go! O trágico acidente revelou mais um triste instantâneo do país. Outra demonstração de desintegração familiar. Afeto, carinho, criação e convivência foram para a bandeirinha de escanteio. As relações humanas de raiz levam uma bicuda de pronto. Outras se constroem, pois apenas os cemitérios abrigam os insubstituíveis. Uma ilusão de acertar na mega-sena dos estádios prevalece entre estes iniciados. Nesta imolação acidental, se muito, com próprio seguro de vida.
A educação foi relegada a quinta categoria. A família entrega um frangote a um clube de futebol sem se preocupar com o futuro do adulto-cidadão na esperança de ver um dia sua conta bancária com no mínimo 10 dígitos. Antigamente, os meninos eram encaminhados a seminários e internatos. Saíam com formação humanística superior. Prontos para lecionarem ou se dedicarem a uma profissão liberal. Aprendiam outros idiomas, dentre as quais o latim. Hoje língua morta. A ruptura dos laços familiares nesse caso significava um retorno em formação educacional e cultural de qualidade. Grandes nomes da história nacional passaram, a título de ilustração, pelo Caraça. Ninguém viu alunos de um úni-
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co educandário se manifestar com pesar pela morte destes garotos, seus prováveis colegas de sala de aula. Os mesmos não estudavam. Assim pareceu por dedução lógica. Eles aprendiam os ensinamentos propiciados pela faculdade do funk, o último escracho da vida brasileira, com letras imbecilizadas e nenhuma musicalidade. Aqui simples constatação, sem juízo de valores. Quem quiser que se lambuze... Os parças rubro-negros, desta vez, agora reunidos no céu, não tiveram tempo de beijar o símbolo da camisa, que tanto amavam, para ovação da galera, na esperança de seguir na primeira ocasião para um time estrangeiro. E as duas mãos aprontando um coraçãozinho para a câmera de televisão mais próxima. Afinal, futebol é paixão.
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CARTA DO CANADÁ
O CANADÁ E OS MENOS JOVENS ARTHUR VIANNA ARTHURVIANNANET@GMAIL.COM No Brasil, somos chamados de velho, longevo, macróbio, provecto, ancião e até de matusalém. Só não concordo com uma tal de “melhor idade”. Querem enganar quem? Na lei, encontramos os termos “idoso” e “terceira idade”. Mas a idade varia. Na Constituição Federal, inicia-se aos 65 anos, enquanto, no Código Penal Brasileiro, a partir dos 70 anos. Já a Política Nacional do Idoso registra 60 anos. Em 2003, após tramitar por seis anos no Congresso Nacional, o presidente Lula sancionou o Estatuto do Idoso, projeto do deputado Paulo Paim. Nele, os direitos dos brasileiros maiores de 60. No Canadá, somos todos tratados pelo eufemismo “senior”. A palavra também existe em português, “sênior”, antô-
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nimo de “júnior”. O governo canadense leva tão a sério a população acima dos 65 anos que mantém, na capital federal, o Ministério do Idoso. O mesmo acontece nas províncias (equivalentes aos nossos estados). Em Ontário, por exemplo, existe, desde 1982, o Ministério do Idoso e da Acessibilidade. A preocupação do governo canadense se justifica. O país está envelhecendo. Nas grandes cidades, cerca de 16% da população tem acima de 65 anos. E nas cidades pequenas, chega a 20%. No Brasil, a média é de 9,2%. Acredita-se que, em 2023, a população idosa no Canadá ultrapassará a população de jovens até 20 anos. Uma pesquisa realizada em 2016 revela, no entanto, que os idosos no Canadá estão mais satisfeitos com suas vidas do que aqueles em grupos etários mais jovens. Satisfeitos com a segurança, qualidade do meio ambiente local e relações pessoais. Mas nem tanto com relação à aposentadoria paga pelo governo. De fato, o valor da pensão federal é relativamente pequeno para os padrões de vida em uma cidade como Toronto: pouco mais de mil dólares canadenses por mês para uma pessoa solteira (em torno de 3 mil reais). Mas o cálculo é bastante variá-
vel e são muitos os fatores. No Canadá, há dois tipos de aposentadoria federal. Uma conta o que você contribuiu ao longo do período. Outra, mais utilizada pelos imigrantes, não leva em conta as contribuições e sim a idade e o seu período de residência no país. As empresas, no entanto, têm seus programas próprios de aposentadoria, sempre acima do rendimento oficial.Na maior cidade canadense, Toronto, vivem cerca de 300 mil pessoas com idade superior a 65 anos, aproximadamente 16% da população. Houve aumento de 33,5% em relação a 1996. Por grupo étnico, os gregos ficam com 23% do total. Já os portugueses, 14%. Entre os idosos de Toronto, 15,5% têm 85 anos ou mais. Em Toronto, o governo financia os
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Centros Comunitários, organizações sem fins lucrativos dirigidas por conselhos de diretores eleitos pela comunidade, e ainda os Centros de Idosos, que oferecem programas educacionais, recreativos e sociais. As atividades podem incluir cursos de pintura, artesanato, passeios, atividades físicas e palestras. Localizados em todos os bairros da cidade, somam mais de 60 unidades. Além de farta divulgação pela web, os governos federal, provincial (estadual) e municipal distribuem, em suas diversas repartições, guias com toda a informação necessária ao atendimento de saúde, lazer, moradia e proteção ao idoso. E ainda colocam à disposição dos menos jovens uma linha telefônica para emergência.
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CARTA DE PORTUGAL
AS ANDANÇAS DOS BRASUCAS EM TERRAS PORTUGUESAS 52
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ELIANE MACHADO DE LISBOA “Conhecimento é Poder”. A afirmação, do matemático e filósofo inglês Thomas Hobbes, está em seu livro Leviatã, escrito no século 16. Não sei se é o conceito mais antigo que destaca a importância do conhecimento, mas certamente a ideia foi evoluindo ao longo dos tempos e chegamos ao tão famoso know how, presente em qualquer conversa sobre administração e produção. E por que não também sobre vida? E por que eu começo com a palavra conhecimento? Porque eu vou falar sobre migração, esse movimento que impulsiona o ser humano a se deslocar de um lado para o outro, em busca de uma vida melhor. Vou falar especificamente sobre essa loucura que tomou conta dos brasileiros, desde que Portugal facultou o ingresso em terras lusitanas, para vários países do globo, e que nossos patrícios estão dando devida resposta a cada momento. E que resposta! Segundo os últimos dados disponibilizados pelo SEF-Serviço de Emigrantes e Fronteiras, em 2017 residiam legalmente em toda Portugal, incluindo as Ilhas, exatos 421.711 imigrantes. Um em cada cinco era brasileiro. E os apelos são mesmo irresistíveis. O país foi eleito, pelo segundo ano consecutivo, o melhor destino turístico do mundo, pelo World Travel Awards, conhecido como o Oscar do turismo. Ao todo foram 16 prêmios. Entre Lisboa, considerada a
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melhor cidade, a Ilha da Madeira, o melhor destino insular e por aí afora. Mas estamos tratando da população que entrou com um dos vários vistos disponibilizados pelo governo. Se formos considerar os ilegais, pessoas que vieram como turistas e foram ficando, o número não é nada confortável: cerca de 30 mil brasileiros, segundo a Associação de Imigrantes. Assim como não é confortável a vida que passam a ter: sem documentos, sem a Autorização de Residência e sem o número da Segurança Social, simplesmente caem no limbo. Daí, não conseguem trabalhar, alugar
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CARTA DE PORTUGAL uma moradia – e ainda por cima a regularização passa a ser um processo lento e longo.E trabalho até que existe. Segundo números divulgados recentemente pelo governo, Portugal tem 30 mil empregos a preencher. Só no setor de comércio são 10 mil. São empregos que os portugueses não querem. Mas mesmo com a oferta, não existe mão de obra qualificada. Sim, aqui não existe a figura do quebra-galho. É preciso qualificação.
Casais e solteiros Fernando e Cristina vieram para Portugal há cerca de 10 meses. Deixaram em São Paulo uma casa e uma vida confortável, para tentar a vida por aqui. Tudo pela segurança da filha, de 10 anos. Queriam na verdade ir para os Estados Unidos. Mas tiveram o visto negado. Viraram o leme para Portugal. Não gostam do país. Não sabem nada sobre onde estão. Não enxergam a beleza que está à frente deles. Dizem sofrer discriminação. Não conseguem documento, nem emprego. Renato é um profissional qualificado no ramo da Comunicação. Também veio sem visto. Mas macaco velho em morar fora do Brasil, não recusa os empregos que surgem. Sabe que uma hora vai dar certo.
Polêmicas no pedaço Migração é um tema polêmico e delicado. Principalmente porque movimentos nacionalistas estão surgindo por toda a Europa.
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O coordenador do Observatório da Emigração, do Instituto Universitário de Lisboa, Rui Pena Pires, defende que Portugal precisa desesperadamente de imigrantes e, para resolver o problema da falta de mão de obra, deve facilitar a entrada de estrangeiros e fazer campanha de recrutamento no exterior. Um estudo, produzido pela Fundação Manoel dos Santos, criada para estudar, divulgar e debater a realidade portuguesa, vai além. Em seu livro Migrações e Sustentabilidade Demográfica, um de seus autores, João Peixoto, escreve: “Nós tentamos provar que as migrações, quer a entrada de pessoas estrangeiras, quer a redução da saída dos portugueses são benéficos para a sociedade portuguesa. Vão desa-
celerar o processo de envelhecimento, vão beneficiar a economia, vão beneficiar as políticas sociais portuguesas”. Segundo o estudo, Portugal tem que atrair 47 mil emigrantes todos os anos, ate 2060, só para garantir a manutenção da população atual, em torno de 10 milhões de habitantes. É muita gente.
Vistos para privilegiados Para por mais lenha na fogueira, a Comissão Europeia recentemente mirou justamente nos vistos Gold. Criado em Portugal, em 2012, garantem residência permanente para quem investir em imóveis, acima de 500 mil euros, ou na economia de uma forma geral. Portugal é um
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dos 20 países que fornecem este tipo de visto. A Comissão quer uma maior transparência no processo e uma troca de informações entre os Estados-membros. Segundo Bruxelas, os esquemas de venda de cidadania podem constituir uma ameaça à segurança e à integridade coletiva da União Europeia. Em Portugal já foram concedidos 7.000 vistos. O Brasil só perde pra China. E assim, entre deficiência de uns e falta de conhecimento de outros, os brasileiros vão vivendo como podem. Alguns estão desistindo e voltando para casa. Começam a perceber que o sonho não é americano. É europeu. E que Portugal não é a Disneylândia. Nem quer ser, graças a Deus.
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CARTA DO SERTÃO
DE OUTROS CARNAVAIS TIÃOZITO A vida transcorria normalmente na cidade, de pouco mais de três mil habitantes, quando um grito de alerta surpreendeu a todos: — Hoje é carnaval, gente! A constatação do fato se deu, porque Almir e Verbena, filhos do avançado Dió da Pensão, desciam pela rua, naquela monótona terça-feira, de mãos dadas, fantasiados de Pierrô e Colombina. Já no tempo do “Cordão das Rapaduras — leia-se Raparigas”, denominação dada pelo filósofo Ápio ao caminhão em que as meninas da Rua da Gameleira, erroneamente denominadas de mulheres de vida fácil, hoje quase em extinção, desfilavam pela cidade, pulando ao som da clarineta de Vá de Nezinho, do saxofone de Cuchila, do pistom de Mirandinha e do trombone de Asclepíades. O Carnaval contava, ainda, com bailes, ora na Prefeitura Municipal, ora na Biblioteca Pública, inclusive um vespertino baile infantil.
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Para participar de um destes bailes, dona Dezinha fantasiou a sua menina Therezinha de Jesus com um corpete e um saiote de tiras de papel crepom vermelho encarnado. Achando-se uma verdadeira princesa, a menina sequer encostava os braços na fantasia, para não descaracterizá-la e lá se foi para a Biblioteca pular com “Chiquita Bacana”. Eis que no fim da festa um baita toró, daqueles que a gente ganhava quando tínhamos águas de março, desabou sobre a cidade, por horas e horas, obrigando nossa carnavalesca a voltar para casa, pois que não podia passar da hora do jantar. A chuva foi encharcando o papel crepom, que se desmilinguia no seu corpo, caindo pedaço por pedaço, tira por tira. Conta nossa foliona que “cada tira que caia, era como tirar um pedaço do seu infantil coração”, além de chegar em casa só de calcinha e toda borrada de vermelho, chorando inconsolavelmente. Mas o carnaval progredia em todos os sentidos, inclusive chegando-se aos blocos matutinos de caretas e masca-
rados, os homens indo ao desplante de se vestirem de mulher. Influenciado pela sua turma de colegas do Banco do Brasil, Benito, disfarçado por uma careta bem feita, vestiu-se de fêmea, à revelia de seu severo pai. Animado por umas biritas, aproximou-se do inflexível velho Osmar, assumiu uma voz fina e afeminada e tentou dialogar com o progenitor, esquecendo-se que trajava uma camisola da senhora sua mãe. — Toma vergonha nesta cara, seu moleque! Vai logo pra casa e tira esta porcaria, seu idiota!! — foi o repelão paterno na presença dos assustados colegas e amigos, tirando-lhes a animação daquele sonhado Carnaval. No Clube Social de minha juventude, fundado pela ousada iniciativa de seu Agnelo Azevedo, o “Reinado de Momo” tomou cores modernas, quando chegamos a dispor de duas orquestras, uma daqui de Brumado e outra de Livramento, sendo que nesta despontavam Begue (o imortal maestro Lindembergue Cardoso), Boanerges e o nosso querido Zé Primo, hoje com quarenta anos dedicados á melodia. Cada uma das orquestras tocava durante uma
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hora e a folia não parava um segundo, varando a madrugada e encontrando o amanhecer, quando então a gente “pegava o sol com a mão.” Jair, Ronaldo, Gilson, Wilson Farani, Tião Alves etc, funcionários públicos, bancários e comerciantes de alta pecúnia, distribuíam fartos confetes e serpentinas no salão, bem como faziam o lança-perfume misturar-se à bebida farta. Só na quarta-feira, já nas Cinzas, viria o acerto das despesas no bar. Paga um, paga outro, Izolino, reconhecido mão-de-vaca, intrometia-se com audácia e arrogância: . - Vê a minha conta ai também, menino!! - exibia-se. - Um momentinho, seu Izolino...— pedia o atarefado balconista. Decorridos alguns minutos ele voltava á carga: -Já, já, seu Izolino — desculpava-se o garçom. Depois de muita insistência e gordas contas recebidas, Izolino foi atendido: - São duas caixas de chicletes do senhor, seu Izolino... - Ué!!! E quem procurou a outra??
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ESPAÇO MÁRIO RIBEIRO
TORRE DE BABEL MÁRIO RIBEIRO Livre pensar é só pensar – decretou Millôr Fernandes certa vez e, como em tudo que escrevia, ele nos fazia meditar com mais profundidade sobre o conteúdo de suas frases. Hoje talvez tenhamos até liberdade demais para pensar coisas boas e ruins num mundo em ebulição e com tantas verdades à disposição do freguês. Não se justifica a tentativa de impedir a livre manifestação de pensamento, mas é preciso manter o espírito crítico como forma de “pesar a água e o fubá” como se dizia em outros tempos porque, senão “encaroça o angú”. Hoje são bilhões e bilhões de pessoas se manifestando pelas redes sociais com influência na corrida civilizatória, um caminho traçado pelo homem e que não tem volta. Por isso, mais do que nunca é preciso calma e tirocínio para aprovar ou desaprovar tantas afirmações, geralmente peremptórias. Curiosamente uma expressão popular alerta que “é ruim pra cabeça pensar demais”, enquanto é cada vez maior a nossa necessidade de adaptação à nova realidade gerada por milhões de meios de comunicação virtuais ou normais a
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falar de novas posturas e regras a serem seguidas. Como nunca se pode deixar para depois o que precisamos fazer em cada instante da vida, não há como nos omitir de dar nossa opinião sobre tudo, assim gerando alguma coisa próxima do que se conta sobre a Tôrre de Babel onde cada um se expressava em uma Língua diferente e aquilo se transformou numa confusão dos diabos. Talvez uma boa providência a fazer seja nos desligar um pouco do acesso midiático compulsivo, ler boa literatura e adotar o “livre pensar é só pensar” do Millôr.
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CRÔNICA
XIXI EM DEUS LUIZ GIFFONI Eu caminhava debaixo de sol forte no meio de Mianmar, país asiático antigamente conhecido como Burma. Na região predominam os animistas, seguidores de uma religião que atribui espíritos e deuses a coisas e animais, como montanhas, rios, árvores, elefantes. O guia da caminhada, Chauk, era animista. Assim que começamos a subir ao pico mais alto da área, ele parou e se pôs a orar, ajoelhado. Perguntei-lhe o motivo. Ele pedia autorização ao deus da montanha para atravessarmos o solo sagrado. Obtida a permissão, seguimos em frente. De repente, ele me segurou: – Sente a presença de deus? Está aqui, ao nosso redor. Até tocou em minha pele. Me esforcei para sentir o toque divino, mas nada. Percebi o sol, o calor, o vento abafado, o cansaço, o suor. Nenhum deus. Decepcionado, Chauk seguiu em frente. Parou-me de novo duas horas depois:
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– É verdade mesmo que não sente a presença do deus da montanha? – Não sinto, Chauk. Desculpe. Então veio o problema. Eu quis fazer xixi. Virei de lado, pronto para me aliviar, o primeiro pingo tinha caído. Chauk entrou em desespero: – Não, não, aqui não, eu imploro. Seremos castigados por todos os deuses. O solo é sagrado. – Como que eu faço, então? – Segura. – Não aguento mais. – Segura! – Peça ao deus da montanha para me liberar, por favor. Chauk ajoelhou, ergueu as mãos. Falou com tristeza: – Sinto muito. O deus não permitiu. Aqui, jamais. – Então vamos voltar depressa. Desci a trilha correndo. A cada impacto das botas no chão a vontade duplicou. E ainda faltava uma hora para chegar ao banheiro. Não suportei a pressão. Pedi desculpas ao Chauk, pedi desculpas ao deus, pequei. Pequei gostoso em cima de umas plantinhas quase sem folhas de tão secas. Salvei-as da morte. O pequeno deus que as habitava devia até me agradecer. Chauk ficou bravo comigo. Para amenizar, abri uma barra de chocolate, dividi-a com ele, que nunca havia experimentado cacau. Adorou. Dei-lhe outra barra. Chocolate lhe fez bem. Ficou falante outra vez. Jogou um pedaço para o deus da montanha e me contou que eu tinha sido perdoado. Ave, chocolate! É a melhor penitência para quem fez xixi em deus.
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HORA EXTRA
NA ESCOLA DA VIDA, QUALQU QUE OS TRINTA VOLUMES DA JOÃO PAULO COLTRANE Tenho um grande arrependimento na vida: foi uma mulher quem me ensinou a beber e jamais tive a cortesia de agradecer-lhe. Também tive decepções: a primeira vez que toquei meu saxofone no coro de uma igreja, duzentas pessoas mudaram de religião. Agradeço as lições
que muitas mulheres me ensinaram ao longo da vida, como fabricar uísque escocês e imprimir notas de mil guaranis. Pena que esse dinheiro não seja aceito em nenhum lugar do mundo. Também me ensinaram a fabricar água em pó. Mas não sei o que devo usar para dissolvê-la, Agradeço em especial às duas mulheres citadas abaixo:
GRACIE ALLEN (1902-1964) Como muitas mulheres, ela fez sucesso nas costas do marido. No caso, o extraordinário comediante George Burns, com quem fez uma dupla notável. Seu humor variava entre a ingenuidade comovente e a absoluta estupidez. Em 1940 criou o Partido Surpresa (Surprise Party), no qual se candidatou à presidência da república dos EUA. Os eleitores pensavam acertadamente que o país já tinha bastante problemas e rejeitou aquela que seria a primeira mulher a ocupar a Casa Branca. Sua verdadeira idade jamais foi conhecida, como sempre acontece com elas, até a data em que foi emitida sua certidão de óbito. Comentava-se em Hollywood que o
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casal era tão unido e interdependente que um morreria pouco tempo depois do outro. Mas não foi o que aconteceu. Depois que Gracie morreu, o viúvo permaneceu entre nós por mais 40 anos e sempre feliz e divertido. Ela tinha um olho verde e outro azul, mas nenhum deles era de vidro. Veja ao lado o que ela nos deixou de herança:
UER VAGABUNDA SABE MAIS A ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA 1
Estava tão surpresa de haver nascido, que nada falei durante um ano e meio.
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O presidente da República de hoje é somente o retrato na parede de amanhã.
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Um garoto não deve ser considerado incorrigível só porque é idiota e não serve para nada. Talvez esteja apenas imitando o pai dele.
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A educação é algo valiosíssimo. Imaginem que, com suficiente educação e um cérebro estimulado, um homem mediano pode se tornar um advogado. Um advogado medíocre.
Sempre coloco água fervendo congelador. Dessa forma, cada vez que necessito novamente de água fervendo, simplesmente a descongelo.
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A inteligência é algo comum em minha família. Quando entrei para a escola no primeiro ano primário, o professor deve ter se impressionado, pois permaneceu em minha sala por cinco anos.
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Estou diante de vocês nesta noite como um mulher simples e despojada. É que não consegui um horário com meu maquiador.
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Quando minha mãe tinha que fazer comida para oito, ela cozinhava para dezesseis e só servia a metade.
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Meu marido nunca voltará a correr atrás de outra mulher. Ele é muito educado, muito decente e, sobretudo, muito velho.
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10 Seja muito bom com seus filhos porque eles que escolherão o asilo de idosos onde você irá morar. 11 Limpar a casa quando seus filhos ainda são crianças é como secar o quintal quando a chuva ainda está caindo. 12 O solteirão é alguém que nunca cometeu o mesmo erro uma vez. 13 Meu cachorro morreu depois de lamber minha foto de casamento. 14 Quero que meus filhos tenham tudo o que não tive. E que venham morar comigo com todas essas coisas. 15 Passamos os primeiros doze meses da vida dos nossos filhos ensinandoos a caminhar e a falar. E os doze meses seguintes dizendo-lhes que se sentem e que se calem. 16 Bradd Pitt uma vez me convidou a sair. Eu estava no quarto dele.
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JOAN RIVERS (1937-2014) Foi uma comediante de grande mordacidade e absoluta falta de piedade. Entre as suas vítimas preferidas estavam sua filha Melissa que, merecidamente, tentou matar a mãe. Outra perseguido foi o ma1 A um garoto de um ano se pode ensinar a não fazer algumas coisas, como pegar numa panela quente, abrir a torneira do gás, enfiar o dedo na tomada ou despertar a mamãe antes do meio-dia. 2 Não faço exercícios físico. Se Deus desejasse me ver curvando e agachando, teria colocando diamantes no piso. 3 Muita gente diz que o dinheiro não é a chave da felicidade, mas eu sempre pensei que, se você conseguir muito dinheiro, pode mandar fazer essa chave. Ou comprar uma chave de fenda. 4 Muito me preocupo que a pessoa que criou a música ambiental esteja pensando em fazer mais outra coisa. 5 Meus ancestrais (NR: ela era judia) vagaram perdidos pelo deserto por quarenta anos porque, desde os tempos bíblicos, os homens se sentem diminuídos em perguntar as direções. No caso, onde era o caminho para chegar a Jerusalém. 6 Há um restaurante em Nova York, que tem a seguinte placa na entrada: “Desculpem, estamos abertos”. 7 Tenho minhas opiniões sobre a maternidade e a gravidez. A vida
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rido Peter, que acabou se suicidado em 1988. Deixou um bilhete dizendo que estava indo tarde. Quando morreu em 2014, surgiram dezenas de vídeo mostrando que ela foi uma das mais transgressoras, politicamente incorretas e corrosivas figuras que apareceram no mundo da comédia. Veja abaixo o seu pavoroso legado: já é bastante dura sem ter alguém te chutando a barriga pelo lado de dentro. 8 O Vaticano sempre se manifestou contra barriga de aluguel. Mas não foi isso que aconteceu quando Jesus nasceu? 9 Ninguém está realmente feliz com o que tem sobre a cabeça. As pessoas com cabelo muito lisos, querem anelá-los; as com cabelos anelados, querem alisá-los na chapinha. E os que não têm nenhum cabelo, querem que todo mundo fique cego. 10 O casamento já não é o que foi antes. Atualmente as mulheres, quando conhecem um homem perguntam: “É este o homem com quem eu quero que meus filhos passem seus fins-desemana?”. 11 A princípio não havia nada. Então disse Deus: Faça-se a luz”. Continuou sem existir nada, mas passou-se a enxergar melhor. 12 Minha mãe enterrou três maridos, sendo que dois deles estavam apenas dormindo a sesta, depois do almoço. 13 Meu namorado e eu rompemos nosso caso. Ele queria se casar e eu não concordei que ele fizesse isso.
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VALE GARANTE QUE BARRAGEM DA PAMPULHA É SEGURA E MORADORES ENTRAM EM PÂNICO JOÃO PAULO COLTRANE A Justiça mineira determinou à Vale que a avaliasse a segurança de todas as suas barragens de mineração em Minas Gerais mas na pressa em executar a ordem judicial, a empresa confundiu as bolas e decidiu fiscalizar todas as barragens existentes no estado, qualquer que fosse o proprietário. Incluindo as barragens hi-
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drelétricas, que pertencem à Cemig. A primeira barragem de terceiros investigada foi a da Pampulha, bem em frente ao aeroporto e que pertence à prefeitura. Depois de rápida olhada em fotografias do Google Street, os engenheiros da Vale concluíram que a barragem era absolutamente segura. Esse atestado foi o suficiente para estabelecer o pânico entre os moradores do bairro. “A Vale garantiu anteriormente que as barragens da Samarco e de Mariana eram seguras como uma rocha. No entanto, elas espalharam lama para todos os lados”, disse um morador da avenida Portugal, enquanto providenciava a mudança para um lugar firme, na Serra da Piedade. A casa não ficará abandonada, porém. Ele decidiu deixar a sogra tomando conta do imóvel pois em caso de inundação, a Vale oferece R$ 100 mil como indenização à família da vítima. O cachorro, no entanto, acompanhará a mudança porque não foi estabelecido nenhum valor para a perda de animais domésticos.
MANIFESTANTES AFIRMAM QUE ACADEMIA DE JUDÔ ELEFANTE BRANCO É RACISTA E QUEREM MUDAR O NOME PARA ELEFANTE NEGRO A icônica academia de judô localizada no bairro Gutierrez, em Belo Horizonte, e que já formou milhares de excelentes judocas ao longo de décadas de existência, foi atingida por uma raivosa manifestação de militantes políticos, no final de janeiro. Os manifestantes solicitaram a imediata substituição do seu nome por outro politicamente correto. “O nome atual é uma clara demonstração de privilégios dados aos elefantes brancos, quando todos os animais deve-
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riam ser tratados com isonomia. Só não invadimos o estabelecimento porque lá é cheio de lutador – por sinal com faixa preta, disse um dos líderes da manifestação. “Os manifestantes não consideram, porém, que a direção da academia seja supremacista – defensores de que os branco sempre é melhor. Os lutadores mais categorizados ostentam um cinto preto, enquanto a faixa branca é destinada exatamente aos dos piores no tatame”, esclareceu.
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BRASIL VAI TRANSFERIR EMBAIXADA EM PORTUGAL PARA FÁTIMA E NA ESPANHA PARA SANTIAGO DE COMPOSTELA Preocupado com as possíveis retaliações comerciais de países árabes ao anúncio da transferência da embaixada brasileira em Israel para a cidade de Jerusalém, o presidente Bolsonaro deverá promover novas mudanças das representações brasileiras no exterior. A embaixada em Portugal será transferida para o santuário de Fátima, onde Nossa Senhora apareceu para três adolescentes e a da Espanha irá para Santiago de Compostela, que é o fim da caminhada de peregrinos chiques. “A oposição precisa entender que Deus está acima de todos!”, teria dito o presidente à sua belicosa família. Também a transferência da embaixada na França para o santuário de Lourdes, está sendo avaliada. Fontes próximas ao governo informaram que Bolsonaro também pretende transferir a capital brasileira para Aparecida, em São Paulo, que é a sede do catolicismo no Brasil. A bancada pentecostal, no entanto, vai se posicionar contra as mudanças, pois todas elas beneficiariam a igreja Católica: os pastores dessas igrejas querem que
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a Capital seja transferida para Abadiana, terra do João de Deus. Por outro lado, a transferência da sede do governo para Aparecida também sofre grande resistência por parte de ministros que professam várias religiões, que não consideram aquela basílica como o verdadeiro santuário brasileiro, mas sim o estádio do Maracanã.
KALIL PROPÕE QUE PRESIDÊNCIA DE NICOLÁS MADURO NA VENEZUELA SEJA DECIDIDO PELO VAR Impaciente com as notícias vindas da Venezuela, onde duas pessoas, ao mesmo tempo, se declararam presidentes da república, o prefeito de Belo Horizonte, o atleticano Alexandre Kalil, sugeriu que a permanência de Nicolas Maduro seja decidido pelo sistema de vídeo-arbitragem VAR (sigla em inglês de vídeo assistant referee ou árbitro assistente de vídeo). “Essa é uma solução moderna e incontestável, acatada pelos principais países da Europa. Se Maduro pisou na bola,
todo mundo enxerga na hora.” Mesmo ressalvando que toda a sua experiência internacional de longo alcance consistiu em acompanhar o Galo no jogo contra o Raja Casa Shopping, na disputa pelo campeonato mundial de 2013, Kalil disse que está na “hora de acabar com essa palhaçada”. Fez porém uma ressalva: “O vídeo-árbitro jamais será José Roberto Wright, que roubou do Galo, contra o Flamengo”. Imediatamente após citar o nome do clube rubro-negro, Kalil sofreu um leve tremor facial e gritou que o Sport Clube foi o verdadeiro campeão brasileiro de 1987. Kalil também sugeriu a nomeação do filósofo, astrólogo e cartomante Olavo de Carvalho para acompanhar o ação do vídeo árbitro, na condição de brasileiro mais influente nas redes sociais.
* NÃO PUBLICARAM PORQUE AINDA NÃO ACONTECERAM. EMBORA A IMPRENSA PUBLIQUE MUITAS NOTÍCIAS SOBRE FATOS QUE JAMAIS EXISTIRAM
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ALÔ ECONOMISTAS: SE VOCÊS PORQUE AINDA NÃO FICARAM A pergunta é de uma economista de Chicago, Deidre McCloskey, já tem muito tempo e é sempre atual. Porque é que tantos economistas se apresentam como íntimos conhecedores dessa misteriosa máquina que comanda as economias e compreendem as leis que organizam o mundo, mas não são ricos? Keynes, mais modesto, e logo ele que o era pouco, sugeria que os economistas deviam aspirar a ser como os dentistas, simples e competentes. Ajustar um dente, corrigir uma cárie, melhorar o aspec-
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to, e é muito. Menos é mais. Só que pouca gente o ouviu. A alegada superioridade da economia entre as ciências sociais é uma construção artificiosa e uma forma de poder. Ou seja, a economia afastou-se da prudência do dentista e declarou uma superioridade principesca que a destaca entre as ciências sociais. Mas a pergunta é sempre a mesma: se estes economistas decifraram o enigma dos mercados e apresentam modelos da máquina universal, se sabem que cortar nos salários cria tanto empre-
EU ODEIO A PAIXÃO DOS JORNALISTAS PELAS REDES SOCIAIS
SABEM TANTO, RICOS? go e se construíram dogmas de tantas outras ideias surpreendentes, porque é que nem a realidade lhes obedece nem se tornam industriais poderosos, como Steve Jobs foi? A pergunta, tão antiga, vem sempre à memória quando os ministros da Fazenda decidem destruir lares e causar a infelicidade de milhões de brasileiros com seus cortes e sua recessões inúteis. FLÁVIO MÁRCIO MAGALHÃES BH-MG
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Há vários motivos para abominar jornalistas e o mais recente talvez seja a admiração que vocês dedicam às chamadas redes sociais. Tudo o que se diz nas redes sociais é notável, ao contrário do que se diz nos botequins como naquele em que bebo depois do expediente. As pessoas também dizem coisas em botequins. Normalmente, as mesmas coisas que se dizem nas redes sociais, o que é curioso. No entanto, os jornalistas nunca repercutem o que se fala nos botequins. Nunca noticiaram: “Tal caso está gerando a maior polêmica nos botequins”. Talvez porque seja impossível saber o que se diz em todos os bares da cidade. No entanto, também há milhares de milhões de usuários de redes sociais, pelo que custa a crer que seja possível saber qual é a opinião das redes sociais. Em princípio, estão lá todas as opiniões possíveis. Provavelmente por razões de deslumbramento tecnológico, atitudes de botequins, quando tomadas em redes sociais, ganham, para os jornalistas, outra credibilidade. Digo que são atitudes de botequins porque, tal como no bares, nas redes sociais também não há conversas em voz baixa - circunstância que os próprios jornalistas reconhecem. Como frequentador da noite, exijo que a nossa opinião seja respeitada. CARLOS HEITOR MACHADO - BH-MG
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PALAVRA DO LEITOR
PADRÃO BOECHAT DE JORNALISMO
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Brasil tem vivido os idos de março. Tentativa de morte contra o presidente, rompimento de barragem com 360 desaparecidos e perdas ambientais incalculáveis, incêndio devorador de jovens inocentes. Os brasileiros estão sofridos, injustiçadamente sofridos. Surge agora uma nova tragédia para a coleção de tormentos por que devemos passar. Morre o queridíssimo antes do respeitadíssimo jornalista Ricardo Boechat, âncora da Rede Bandeirantes, âncora, sim, da verdade. Era ele que um imenso público
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ouvia e era nele que a imprensa, seus próprios colegas, e uma massa de espectadores e ouvintes, acreditava. O ímpeto inútil de o retermos na terra nos move a uma tentativa frívola de não o deixarmos ir. Todos nós morremos um pouco com Ricardo Boechat. Boechat era desses que a história conta como amantíssimos, mas o destino, sempre insondável, os ceifa cedo. Mistérios para nós ... Este homem fantástico reunia, em uma presença emblematicamente simpática e sedutora, uma franqueza que encantava, concebeu um universo de lemas e dilemas que cativou todo o Brasil pela sua voz envolven-
te, por sua comunicação sincera, objetiva, lúcida. Ricardo era tudo que um jornalista profissional sonha em ser. Onde estará agora aquele que clamava por sua “doce Veruska”, aquela que lhe proporcionou a imensa alegria de, já maduro, ganhar duas lindas crianças, que o esperavam para almoçar no dia fatídico. Boechat deixou lembranças, melhor dizendo, nos deixou um legado precioso de como ser brasileiro, de como compreender os fenômenos sócio-políticos e de como nos livrarmos dos adversos, dos injuriosos à nação, dos perniciosos, até dos letais. Sua aparição diária no rádio, na televisão
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ou nos jornais era cumprir o seu dever de casa – a casa como sua consciência – e seu dever como brasileiro. A vida de cidadão, de pai e de marido de Boechat se confundia com sua irrepreensível carreira de jornalista, como foi em mais de uma dezena de redações. De todas elas sai o Boechat proclamado por colegas, amigos, leitores, espectadores e ouvintes como o às da verdade, da perspicácia nas análises, quase um talismã que fareja o interesse menor e o reprimia ostensivamente. Em síntese, Boechat foi o Barbosa Lima Sobrinho de nossa geração, com um espírito mais solto, aquele que valorizou e elevou a imprensa em patamar importante e indispensável de opinião. Boechat, com sua simplicidade não apenas pontificou, mas foi o regente de um conjunto de comunicadores de nossos últimos tempos de jornalismo radio-televisado. O patrimônio que ostentava era o da ética. Um comentário de Boechat era como o solo de uma clarineta que soava como diretriz para um concerto de projetos, de opiniões e de ações que estavam a reclamar uma regência senão olímpica, corajosa. Sua última viagem impediu que ele repetisse Barbosa Lima, que, enveredado na política, sempre mostrou desassombro, patriotismo, audácia. A Boechat faltou tempo para ir além, mas é um nome que se eternizará como paradigma do bom cidadão, do jornalista brilhante, do pai amoroso, do brasileiro leal. Um ícone de nosso tempo. JOSÉ MARIA COUTO MOREIRA - BH-MH
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PALAVRA DO LEITOR
MINHA TABELA DE PREÇO SERVIÇOS TÉCNICOS DE I Todo mundo que é técnico sabe como é frustrante ter que aturar cliente mala que fica pechinchando preço e desqualificando nosso conhecimento e anos de estudo. Escutar coisas como “o filho do vizinho que manja tudo ia me cobrar muito menos” e “mas tem gente no jornal que só cobra R$ 10” dá vontade de soltar umas respostinhas atravessadas. Pensando nisso um amigo fez a tabela de preços abaixo.
TABELA DE PREÇOS PROBLEMA E CUSTO Quebra galho: R$ 90,00 É só um ajustinho: R$ 85,00 Parafusinho: R$ 65,00 Favor para amigo: R$ 70,00 Só uma olhadinha: R$ 90,00 Meu filho desprogramou: R$ 65,00 Fulano faz por tanto: R$ 110,00 Eu nem mexi: R$ 70,00 Coisa simples: R$ 50,00 Deve de ser um fiozinho solto: R$ 80,00 Só pra ver como fica: R$ 55,00 É só pôr isso no lugar: R$ 85,00 Aparelho mexido por curioso: R$ 100,00
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É uma pecinha solta: R$ 50,00 Duas pecinhas soltas: R$ 100,00 Só uma soldinha, até eu mesmo faria: R$ 85,00 Eu não confio em deixar com qualquer um, tem que ser hoje ou levo pra outro: R$ 150,00 Eu mesmo troquei: R$ 85,00 Me disseram pra instalar: R$ 90,00 Eu juro que não apaguei: R$ 150,00 Derramei em cima: R$ 95,00 Meu amigo que fez: R$ 120,00 Não lembro: R$ 165,00 Peguei na internet: R$ 50,00 Instalei do CD da revista: R$ 45,00 Até ontem funcionava: R$ 77,00 Se arrependimento matasse: R$ 320,00
Deve ser um fusível: R$ 75,00
Minha irmã que mexeu: R$ 90,00
O aparelho não tem nada é só um “detalhezinho”: R$ 90,00
Meu irmão que mexeu: R$ 120,00 Lavei para limpar: R$ 180,00
Serviço pra ontem: R$ 60,00
Caiu dentro: R$ 110,00
Serviço pra já!: R$ 120,00
Quebrou sozinho: R$ 100,00
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OS PARA INFORMÁTICA
Cumprimentos pela qualidade de MatériaPrima. Mais uma vez, venho agradecer por este belo exemplar de sua revista. A quem repasso, fica muito satisfeito. Continue neste caminho certeiro. Fique com Deus. E que Ele nos abençoe. Muito agradecido. FLÁVIO DIAS –BH-MG
Eu juro que “não fui eu”: R$ 130,00 Me disseram que era bom: R$ 95,00 Tá caro: R$ 300,00 Vírus: R$ 130,00 Só mexi aqui: R$ 80,00 Encostei o dedo: R$ 120,00 Eu que fiz: R$ 100,00 Eu que arrumei: R$ 150,00 Parou de funcionar sozinho: R$ 450,00 + PEÇAS O filho do vizinho entende pra caramba: R$ 92,00
Durval, Adorei a sua revista!!!! Frescor no mundo editorial, com tiradas maravilhosas. Parabéns e obrigada por me permitir conhecêla. Abraços, MARIA HELENA A SIQUEIRA. –BH-MG Prezados senhores Gostei do conteúdo da edição de janeiro de 2019. Parabéns. MARCO ANTÔNIO GOUVÊA – BH-MG
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS
OS DERRADEIROS ENSINAMENTOS DO NOSSO GRANDE POETA: FERNANDO BRANT DE ITAMAR OLIVEIRA PARA MEU CARO AMIGO E COLEGA DURVAL GUIMARÃES Continuo muito impressionado com a repercussão da nossa MatériaPrima. Onde ela chega os elogios aparecem com extrema generosidade dos nossos leitores. Durval do céu, as nossas brincadeiras sobre Paris estão sendo levadas a sério. Imagina você que um amigo querido me ligou para saber se tenho mesmo um apartamento na capital francesa. Durval, nós que somos do interior, somos donos do mundo. Com os amigos que temos em todos os cantos do mundo, por qual razão a gente teria casa, condomínio e despesa em alguma parte do planeta? Outra coisa, meu caro Durval, a cada numero da nossa revista, o entusiasmo com o Partido da Cidadania Universal aumenta exponencialmente. O Antônio Faria foi o pioneiro. E agora já recebi a declaração de apoio incondicional de dois novos futuros militantes daquele que pode ser o movimento de cidadania que o brasileiro Josué de Castro lançou em Paris nos anos setenta. Mais uma coisa, Durval de todas as utopias, um pequeno desabafo: você se lembra que a campanha das Diretas-Já foi
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um tempo de unidade e de esperança? Você se lembra que a Assembleia Nacional Constituinte foi um acontecimento inesquecível? Pois fique sabendo, Durval, que muita gente, que ajudou a promover a redemocratização do País, está falando mal e culpando a nossa Carta Magna pelos problemas que o Brasil enfrenta na atualidade. Pode uma coisa dessas? Pois bem, para lembrar o que precisa ser lembrado, não vou falar da Belle Époque de Paris. Para não dizer que não falei de flores, apresento aos leitores da nossa MatériaPrima, a ultima entrevista que o jornalista, poeta e compositor Fernando Brant me concedeu em 2014. Sabe qual foi o assunto? Adivinha, Durval. A defesa da Constituição-Cidadã de 1988. Legal, não é mesmo?
CAMINHANDO E SEGUINDO A CANÇÃO – O Brasil de hoje ]é muito melhor do que o Brasil que viveu sob o domínio de uma ditadura civil militar implantada em 31 de março de 1964. Certamente não somos o país dos nossos sonhos. Mas é claro que deixamos de
viver o angustiante pesadelo que durou mais de 20 anos e que terminou pela mobilização mais consequente e expressiva da população brasileira em toda a nossa história. Conquista obtida depois de muita dor e sofrimento, suportados durante quase 21 anos. O desabafo do músico, poeta e compositor Fernando Brant, ao dar um balanço
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da Constituição de 1988, é um alerta para as futuras gerações, especialmente para quem nasceu e vive num país que não pode se esquecer do sofrimento passado se quiser construir um futuro melhor. Quem viveu o período da luta contra a ditadura jamais vai esquecer aquela fase de travessia para a democracia. Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Teotônio Vi-
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS lela formam a santíssima trindade de um tempo que nos marcou indelevelmente, recorda o compositor e poeta popular. E continuava nos lembrando. – Quem não viveu aquela caminhada de luta contra a ditadura deve procurar aprender para que a tragédia não se repita. É uma pena que 2014 seja um ano eleitoral. Poderia ser um grande momento para todos os brasileiros se unirem para relembrar o cinquentenário do golpe civil militar de 1964 e aperfeiçoarmos as instituições democráticas do Brasil. Mas é claro que as eleições, a Copa do Mundo e outros acontecimentos da agenda eleitoral terão prioridade e nós não teremos tempo de comemorar a grande vitória democrática instituída com a Constituição Cidadã de 1988. Comemorar os avanços democráticos é fundamental. Esquecer a dor e o sofrimento do regime de 1964 é impensável. A Constituição deve ser a bíblia e a bussola de todo cidadão brasileiro. Sou filho de juiz de direito e aprendi desde menino a valorizar quem se dedica a resolver conflitos e aplicar, com conhecimento e sensatez, a Justiça. Mais que a lei, a Justiça, pois a legislação que foge do bom direito não deve prosperar, tem que ser revogada.
MUITOS JUIZES, GOVERNANTES E LEGISLADORES NÃO TÊM SENSIBILIDADE POPULAR O cidadão Fernando Brant é um apaixonado pelo artigo quinto da
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Constituição que trata dos direitos e garantias individuais. E confessa que, seguindo o conselho do comandante da democracia, Ulysses Guimarães, anda sempre com o “livrinho” porque infelizmente os governantes ainda estão acostumados a usar o poder para passar por cima das pessoas. É uma coisa terrível, argumentava. – Os presidentes da República, ministros e servidores nomeados para cumprir tarefas no Poder Executivo se comportam como donos do poder. E querem mandar no Legislativo, no Judiciário e só descobrem que são servidores públicos quando são demitidos, exonerados ou enviados para os tribunais ou para os presídios. No poder Legislativo ainda existem cidadãos que exercem bem as funções para as quais foram eleitos. Mas é inegável que do
vereador ao senador, passando pelos deputados, o Legislativo tornou-se uma enorme casta de privilegiados e a população tem razão de abominar o comportamento ético dos que deveriam cuidar do aprimoramento das instituições democráticas. O Poder Judiciário, embora menos conhecido por suas caraterísticas próprias, também precisa melhorar bastante. Muitos juízes se comportam com a mesma falta de sensibilidade popular dos governantes e dos legisladores.
OS ESCÂNDALOS VÃO CONTINUAR ACONTECENDO. O QUE NÃO PODE CONTINUAR É A IMPUNIDADE – A insatisfação popular com a elite
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brasileira é justa. A falta de compromisso com a justiça social afeta o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nenhum governante gosta de ser criticado. Mas a construção da democracia é uma tarefa das mais difíceis. Como Sísifo, é preciso carregar a pedra até alto e recomeçar, carregando o mesmo peso, com a paciência de quem sabe que o mundo vai sendo mudado e transformado por aqueles que dentro ou fora do poder entendem que o bem comum está acima do interesse individual. No regime democrático ficou mais difícil esconder o errado. Os escândalos vão continuar acontecendo. O que não pode acontecer é a impunidade. Com o aperfeiçoamento das instituições democráticas o Brasil continuará caminhando rumo a uma superação das desigualdades. O que está ocorrendo lentamente. Mas ainda somos uma nação centralizada e centralizadora. O Município não pode quase nada, o estado pode muito pouco e a União poderia muito mais se realmente a gente vivesse num regime federativo de equilíbrio. Falta gente, como Ulysses Guimarães, com espírito público para liderar os partidos políticos, a Câmara, o Senado, pensando mais no povo brasileiro. Os partidos políticos, com a atual fragmentação partidária, perderam sentido. Os pequenos lutam por espaço e pelos recursos do fundo partidário. Os maiores atuam para preservar cargos que possibilitam o controle de vultuosos recursos que asseguram condições para a perpetuidade do atual modelo de representação política. Um modelo que está falido.
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS CADA TECNOLOGIA TEM UMA IMPORTÂNCIA E AFETA O NOSSO MODO DE VIVER – Desde os 16 anos, até quase os 40, tive que suportar, resistindo o peso da ignorância, da estupidez. Lembro-me de meu pai expulsando de sua sala um indivíduo que, desejando uma decisão, insinuando pressioná-lo, afirmou ser amigo de militares. A justiça não pode e nem deve se render à força. Sou paciente com o processo de reconstrução democrática. Costumo observar que até as boas causas costumam começar com altas manifestações de radicalismo. A maior conquista civilizatória do final do século 20 e início do 21 é a consolidação da influência das mulheres na cultura, na política e no trabalho. O pessoal que radicalizou na luta pelo meio ambiente também evidencia que o caminho do diálogo é o mais eficiente para a evolução social da humanidade. Outra questão dos tempos atuais é a internet. As pessoas não percebem que cada tecnologia tem uma importância e afeta a nossa maneira de viver. Foi assim com a imprensa. Os tipos móveis permitiram a viagem da idade média para o mundo moderno. O rádio, a televisão e a internet são inovações e transformações que interferem na nossa vida cotidiana. Não morro de amores pelas redes sociais. Continuo amigo dos livros, dos discos e dos filmes que continuam me encantando. Mas entendo que uma grande parcela da juventude só se interesse pelo mundo
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virtual e fique navegando num universo que oferece todo tipo de informação. Acredito que no futuro haverá um certo equilíbrio entre o meio ambiente cultural e o universo virtual das novas gerações.
APRENDI COM DRUMMOND, ULYSSES, GUIMARÃES ROSA, QUE VIVER É UMA GRANDE [A]VENTURA – A tecnologia, diferentemente das pessoas, não tem alma. Ela não é boa nem má. Ela é neutra. Quem comanda o que vai ser veiculado é que pode ser caracterizado como bom ou ruim. A mesma precaução que tínhamos com os jovens, os livros e as certezas alheias deve nos servir de orientação. A juventude vive uma experiência de liberdade inédita. Mas está cada vez mais evidente que não se trata de uma liberdade real. Tudo o que se coloca na internet é controlado e controlável. Está tudo nas mãos das autoridades
governamentais. A vida não é brincadeira para ninguém. Aprendi com Drummond, Ulysses, Guimarães Rosa, sem perder o contato com os meus companheiros e amigos de todos os tempos, que viver é uma grande [a] ventura. Estou empenhado na luta pelos direitos autorais dos músicos e compositores brasileiros. Não tenho animo e nem desejo de participar de grandes eventos. Minhas viagens são cada dia mais familiares e voltadas para o prazer de viver e conviver com quem amo e compartilho a vida. Aprendi muito com a paternidade, da mesma forma que me instrui debaixo do abrigo e carinho dos meus pais. O que sou hoje devo muito a essas experiências.
TEMPO NÃO É DINHEIRO, COMO DIZEM OS CAPITALISTAS. TEMPO É MUITO MAIS E MELHOR – O tempo que temos para viver é um
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período bom, se não nos atolarmos em necessidade que não temos. Tempo não é dinheiro, como dizem os capitalistas. Tempo é muito mais e melhor. Somos levados a aceitar um redemoinho de compromissos, de vícios, de ativismo e velocidade desnecessária. Muitos pensam em trabalhar como um animal agora para aproveitar, no amanhã, a aposentadoria. Mas e se não houver o amanhã? A tecnologia criou possibilidades de se trabalhar menos e produzir melhor. Mas o sistema aumenta cada vez mais a carga de ocupação das pessoas. Qual o motivo de se perder tempo com tanta coisa inútil? Tenho tentado me organizar para que o meu tempo seja realmente meu. Meu, da minha família, dos meus amigos, dos meus companheiros de travessia e de caminhada. É preciso seguir caminhando e cantando a canção que está na alma e no coração do nosso povo. PS/ No dia 12 de junho, Fernando Brant partiu. Deixou a família, os amigos e os companheiros de caminhada entontecidos e preocupados. Recebi a notícia em Porto Seguro. Foi uma paulada. Chorei pensando nas belas canções que ele eternizou. A responsabilidade de seguir cantando a canção que ele nos deixou, não é pequena. Saí de casa para ver o mar verde azul da praia de Taperupuan. O mar de Caymmi estava maravilhoso. As ondas, bem comportadas, ouviam o vento levando a poesia de Fernando Brant para um céu muito azul. Meu choro foi abafado pelo sorriso iluminado do poeta que nos ensinou a ter fé na vida, sempre.
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