ANO IX • Nº 107 • DEZEMBRO DE 2018 • R$ 10
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31 COISAS QUE FARÃO SEU
MAIS FELIZ ALGUMAS PODEM SER USADAS JÁ AGORA, SEM NENHUMA CONTRAINDICAÇÃO. OS EFEITOS SÃO IMEDIATOS, COMO UM BOM COMPRIMIDO PARA DOR DE CABEÇA
APRENDEMOS APRENDEMOS EM EM 2018: 2018: AS AS LOJAS LOJAS NÃO NÃO SÃO SÃO AMÁVEIS AMÁVEIS COM COM AS AS PESSOAS. PESSOAS. (ELAS (ELAS SÃO SÃO AMÁVEIS AMÁVEIS COM COM OS OS CARTÕES CARTÕES DE DE CRÉDITO) CRÉDITO)
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M A R Ç O D E 2 0 1 5 • M AT E R I A P R I M A R E V I S TA . C O M . B R
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REPORTAGEM DE CAPA
CULTURA
INFORMAÇÕES PARA QUEM QUER FUGIR PRA PORTUGAL
NÃO ESPERE 2019 PARA SER FELIZ. COMECE AGORA
ORQUESTRA SOM MAIOR: DE VOLTA AOS BONS TEMPOS
Muita gente prometeu ir embora pra Portugal se o capitão Bolsonaro fosse eleito. Alguns já embarcaram. Se você é do time e pensa em atravessar o oceano, temos informações relevantes, para ler antes mesmo de você comprar a passagem de ida.
Claro que com dinheiro é melhor – mas mesmo assim defendemos que ninguém precisa de muitas coisas para ser feliz, mesmo com pouco dinheiro no bolso: testamos e aprovamos 31 sugestões para você se dar bem deste dezembro a dezembro de 2019.
A apresentação da Orquestra Som Maior, no Teatro Sesiminas, em BH, fez lembrar, com muita emoção, o bolero Besame, música de Flavinho Venturini com letra de Murilo Antunes: “A orquestra já nos chamou/ abri meu coração e vi que era feliz.”
ÍNDICE DEZEMBRO DE 2018 - MATERIAPRIMA.COM.BR
COLUNAS E ARTIGOS
NOMES & NOTAS
ANO IX • Nº 107 • DEZEMBRO DE 2018
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CARTA DO PLANALTO POLÍTICA CARTA DE PORTUGAL PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS ERA SÓ O QUE FALTAVA CRÔNICA DO TIÃOZITO ESQUINA DA VIDA CARTA DO CANADÁ AQUI ENTRE NÓS SEM LICENÇA
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HORA EXTRA
PALAVRA DO LEITOR
LIÇÕES DA VIDA
CONHEÇA A MELHOR MANEIRA DE APRENDER COM A VIDA
ABÍLIO DOS SANTOS NÃO QUER PRIVATIZAR BDMG AGORA
2018 NOS ENSINOU: VIVER É PERIGOSO E FAZ MAL À SAÚDE
Parece galhofa, mas a forma mais inteligente de enfrentar a realidade (quando você ultrapassa os 50 anos) é morar com uma mulher. Então, você poderá escrever uma espécie de manual para sobrevivência numa vida a dois. Título: Como Elas Agem.
O ex-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais acredita que a instituição financeira pode ser recuperada e voltar a prestar bons serviços à sociedade – mesmo com sua tímida e pouco importante atuação no mercado nos dias de hoje.
Mas também no corrente ano também nos fez descobrir outras coisas boas. Uma delas foi passar a trabalhar com computadores, em vez de aturar outras pessoas: eles não se atrasam nem reclamam e nunca bebem a sua cerveja escondida no frigobar.
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EXPEDIENTE Márcio Rubens Prado (IN MEMORIAM)
DIRETOR RESPONSÁVEL E EDITOR GERAL: Durval Guimarães
31 99197-2780 MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR durvalcg@yahoo.com.br
EDITOR DE TEXTO: Carlos Alenquer
COLABORADORES: Arthur Vianna; Ivani Cunha; José Antõnio Severo; Mafalda Anjos; Sara Belo Luís; Tiãozito
PROGRAMAÇÃO VISUAL: Hudson Franco
IMAGENS: Creative Commons OCO
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REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Rua Canopus, 11 • Sala 5 • São Bento • CEP 30360-112 • Belo Horizonte • MG
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OPINIÃO
A EXTRADIÇÃO
AGUARDADA
ARISTOTELES ATHENIENSE, ADVOGADO E CONSELHEIRO NATO DA OAB DIRETOR DO IAB E DO IAMG Conforme já anunciado pelo presidente eleito, este não hesitará em determinar a extradição do terrorista Cesare Battisti, se autorizado pelo Supremo Tribunal Federal. Essa iniciativa, que terá certamente repercussão mundial, implicará também numa censura à “solução” encontrada por Lula, com evidente desprestígio da esquerda brasileira e dos países que comungam do mesmo credo político.
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No governo petista, o Ministério da Justiça, através do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), aliando-se ao Itamaraty, recomendou a extradição de Battisti à Itália, onde fora condenado a prisão perpétua pelos quatro assassinatos cometidos naquele país. O homicida reincidente refugiou-se no Brasil em 2004, chegando a pleitear junto a OAB Federal o seu apoio, dizendo-se “preso político”, a fim de que pudesse permanecer em nosso território. Mais tarde, o ministro da Justiça, Tarso Genro, alterou a posição do CONARE, convencendo Lula a manter Battisti entre nós, provocando a indignação da opinião pública italiana, por considerar a medida um desafio ao que ficara assentado na Justiça do país peninsular. Com a fuga do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, para a Itália, após ser condenado pelo STF no mensalão, os seus advogados postularam junto às Cortes italianas o mesmo tratamento que o Brasil dispensara a Battisti. O argumento adotado não vingou, sendo Pizzolato mandado de volta ao país de origem, onde cumpriu pena. Agora, o motivo capital sustentado pelos
defensores de Battisti será o de que a decisão de Lula importou em “ato de soberania nacional”, que não comporta revisão pelos seus sucessores. Essa pretensão será repelida pela Procuradoria-Geral da República no julgamento, mediante a alegação de que se o STF deixou a cargo do ex-presidente a palavra final, por que não admitir que o mesmo possa ocorrer
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de parte da Suprema Corte, ensejando a Temer (até 31 de dezembro), ou Bolsonaro, derrogar a benesse concedida pelo líder petista no apagar das luzes de seu mandato? A palavra definitiva compete ao STF, que, se positiva, permitirá que se desfaça o vergonhoso tratamento dispensado a um criminoso que já deveria estar, há muito, cumprindo pena pelas atrocidades praticadas.
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CONVERSA COM O LEITOR
AOS AMADOS LEITORES E ASSIM SE PASSARAM OS PRIMEIROS DEZ ANOS DA REVISTA MATÉRIA PRIMA Iniciamos, agora em dezembro, as comemorações da primeira década de MatériaPrima. Parece pouco, mas não há em Minas duas revistas mais antigas que a nossa. Os nossos leitores conhecem as nossas ideias, os nossos propósitos e por isso sentimo-nos dispensados de falar da importância da imprensa na vida social. De qualquer forma, vivemos tempos de profunda mudança nos hábitos de leitura por parte da população e nós jornalistas não tivemos tempo ou clareza para nos adaptarmos aos novos tempos. Mas isso terá de ser feito. Sorrindo ou aos pratos. A imprensa não está à beira da extinção, mas não é a mesmo de antes. A migração para os meios digitais vai à toda a velocidade. Infelizmente, faltam dados para avaliarmos com exatidão o fenômeno. Talvez na crise esteja o também o seu remédio. O interesse pela informação persiste e somente os jornalistas são os únicos profissionais capazes de transmiti-la com credibilidade
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e a maior isenção possível. O New York Times criou um sistema que cobra pela leitura de seu noticiário, a partir da décima notícia selecionada pelo internauta. Está dando certo. Quem sabe se, com o sucesso da proposta, a imprensa se livrará da escravidão caracterizada pela submissão à indústria de papel. Hoje mais de 80% das despesas de jornais e revistas são devoradas por esse insumo e pela imensa logística de se levar os exemplares de um lado para o outro da cidade, do estado, do país. A imprensa retornará ao seu papel fundamental de vender conteúdo. É o que estamos fazendo em MatériaPrima. A publicação é distribuída a um mailing superior a 15 mil endereços eletrônicos. O propósito desta carta é apresentar aos leitores a nossa equipe aniversariante, por meio de um breve relato de seus invejados currículos. Esse é pessoal que cria e produz uma das melhores revistas do país. Alguém dirá que se trata de vaidade. E é mesmo. Dá para ser diferente? Vejam:
ARISTÓTELES ATHENINESE - Advogado militante na área cível. Presidente da Seccional mineira da OAB por dois períodos (1979 a 1983); Secretário Geral do Conselho Federal (1993/1995); Vice-Presidente Nacional da OAB (Jan./2004 a Jan./ 2007 Membro da Federação Internacional dos Advogados, Ex-Presidente da Academia Mineira de Letras Jurídicas (2013/2017), onde ocupa a Cadeira nº 37, que tem como patrono o jurista Lincoln Prates. Membro do Conselho Superior do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). Articulista.
MÁRCIO FAGUNDES – Ex-editor de política e cronista do jornal Hoje em Dia. Ex-repórter de O Globo. Assina a coluna “Sem licença”.
ITAMAR DE OLIVEIRA – Ex-repórter do Jornal do Brasil, professor de jornalismo da UFMG e da PUC-MG. Tem residência em Belo Horizonte e Paris.
CARLOS ALENQUER FILHO – Cearense, é poeta, sociólogo e jornalista com livros publicados. É o editor de texto de MatériaPrima, sendo o responsável pela qualidade literária da publicação.
FÁBIO POMPEU – Foi editor gráfico dos jornais Diário do Comércio, O Tempo e Hoje em Dia. Coordena projetos de modernização gráfica em jornais de todo o país.
HUDSON FRANCO – Editor de programação visual. Criador gráfico de jornais e revistas. Trabalha também no jornal Estado de Minas.
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CONVERSA COM O LEITOR ELIANE MACHADO. Correspondente da revista em Lisboa. Foi editora da TV. Band, onde conquistou importantes prêmios jornalísticos.
SEBASTIÃO CARDOSO – Tabelião aposentado em Brumado(BA). Autor de muitos livros. Assina suas crônicas sertanejas, de elevada qualidade literária, com o pseudônimo Tiãozito.
SYMPHRONIO VEIGA – Foi repórter e editor de quase todos os jornais de Belo Horizonte. Foi editor geral do Diário de Notícias, de Porto Alegre. Foi editor da TV Itacolomi, nos tempos de Assis Chateaubriand. Completou 60 de profissão. Assina a coluna “Aqui entre nós”.
ARTHUR VIANNA – Jornalista, publicitário, escritor e político. Foi vereador em Belo Horizonte. Reside em Toronto, de onde nos envia as inteligentíssimas crônicas com o título “Carta do Canadá”.
ALCINDO RIBEIRO –Extraordinário redator, foi chefe de redação do “Diário de Minas” e da “Imprensa Oficial”. É autor de livros. Assina a coluna ‘Esquina da vida”.
JOSÉ ANTÔNIO SEVERO – Gaúcho, é um dos maiores jornalistas brasileiros, tendo trabalhado em Realidade e Veja. Foi editor da TV Globo e diretor da Gazeta Mercantil. Tem vários livros publicados, quase todos sobre as numerosas guerras e revoluções dos caudilhos de seu estado natal.
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Produziu três filmes de longa-metragem. É o nosso homem em Brasília, de onde envia a crônica “Carta do Planalto”.
ORION TEIXEIRA – Não há como sair de casa, sem antes ler os comentários políticos deste ultra bem informado repórter, publicados diariamente em sites da imprensa mineira. Comentarista político da TV Bandeirantes e da Rádio Band News BH e do Portal BHAZ. É também apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária, que discute o direito pela ótica popular. Foi editor de Política, por mais de 15 anos, do jornal Hoje em Dia.
NEY DOYLE JR. – Extraordinário repórter e redator talentosíssimo. Autor de corajosas reportagens, foi processado e absolvido por supostos crimes baseados na Lei de Imprensa.
MÁRIO RIBEIRO- Redator exuberante, assina a coluna “Espaço Mário Ribeiro”. Foi um dos criadores do “Jornal da Tarde”, uma das mais inovadoras publicações da imprensa brasileira. Ainda recebemos colaboração frequente de João Paulo Coltrane, Sandro Campos Guimarães (fotografia), Adalberto Ferraz e Sandra Fiorani. Por último, temos o orgulho de informar que trabalhamos sob a inspiração do extraordinário jornalista e escritor Márcio Rubens Prado, que nos deixou apressadamente.
DURVAL GUIMARÃES, o editor.
NOMES&NOTAS
ANTES DE FUGIR PRA PORTUGAL POR CAUSA DO BOLSONARO, DÁ UMA OLHADA NO TEXTO ABAIXO É brasileira a principal comunidade estrangeira residente em Portugal. No ano de 2017, o último balanço do Departamento de Estatística do SEF-Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, aponta para exatos 85.426 cidadãos brasileiros residentes em terras lusitanas. Um aumento de 5,1% em relação a 2016. A nacionalidade mais relevante, seguida de longe pela italiana, a francesa e a britânica. Mas os números podem ser bem maiores, se considerarmos os ilegais, pessoas que che-
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gam sem visto algum e vão ficando. O que se sabe é o seguinte: 63% de pessoas barradas pelas autoridades portuguesas nos aeroportos são brasileiros. Muitos perguntam se vale a pena vir para Portugal. Consultamos nossa corresponde em Lisboa, a jornalista mineira Eliane Machado. Leia o que ela nos conta. “A resposta é sempre ‘depende da expectativa de cada um’. Não ache que, pelo fato de a saúde pública ser gratuita, tudo funciona às mil
maravilhas. Não funciona. E nem é gratuita. Os preços cobrados são irrisórios, mas existem. Faltam médicos. Faltam vacinas de gripe. A maioria dos equipamentos dos hospitais públicos está obsoleta ou estragada. É necessário mais de mil milhões de euros para resolver o problema. Um dinheirão. O salário mínimo é baixo. Está em discussão no orçamento para 2019 elevá-lo para 600 euros. A grande massa da população recebe salário mínimo. Independente da graduação que tiver. Jornalistas, em sua maioria, recebem 700 euros. Um aluguel de um imóvel em Lisboa, de um quarto, ultrapassa mil euros. O transporte público tão criticado pelos portugueses, para os brasileiros é uma maravilha. Mas não é barato. Normalmente, os brasileiros chegam em busca de um sonho. O sonho americano no velho mundo. Mas ele é difícil até para os portugueses. O diploma que as pessoas trazem, quando tem diploma, pode não valer aqui, uma vez que as
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disciplinas são outras. A casa linda e confortável que você tinha no Brasil, pode não ser a mesma que você vai conseguir alugar ou comprar. Mesmo com todos os incentivos oferecidos pelo governo. Pode ser que o imigrante só consiga trabalho na área de serviços. E vai concorrer com imigrantes de várias nacionalidades. Porque essa é a área que mais emprega. Indústrias inexistem no país. Uma aqui, outra ali. Agricultura ainda é forte. O setor tecnológico cresce. Mas o país está se reerguendo mesmo é pelo turismo. Então, para quem veio à procura de emprego, ou de fazer seu pé de meia, melhor é não torcer o nariz pelo que você achar de trabalho. Agora, o país é lindo! As portuguesas um charme e os homens gentis. Com toda a fama contrária. Eu, particularmente, me sinto totalmente integrada”. É desse jeito.
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NOMES&NOTAS
QUANDO A SOLIDÃO É UM PROBLEMA TÃO GRAVE QUE JUSTIFICA UM MINISTÉRIO “Para muitas pessoas, a solidão é a triste realidade da vida moderna”, explicou Theresa May, a primeira-ministra, em comunicado, quando anunciou a mais recente inovação do seu Governo: um Ministério da Solidão, a ser dirigido por Tracey Crouch, que vai acumular o cargo com o de subsecretária de Estado para o esporte e a cidadania, que já desempenhava.
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As funções na nova ministra vão passar por liderar um grupo intergovernamental que terá a responsabilidade de dirigir a ação sobre a solidão em todas as partes do Governo – e mantê-lo na agenda. Para os britânicos não há dúvidas: trata-se de um problema grave que torna os doentes mais vulneráveis a infeções virais. “A verdade é que não se trata de um problema singular. Afeta pessoas de todas as idades, com e sem deficiência, recém-mamães, refugiados, quem tem família chegada e quem não tem, e a solução não é simples. O meu desafio é o de criar e coordenar uma estratégia que cruze Governo, empresas, instituições de caridade e muitos outros parceiros para durar uma geração”, explicou Crouch, no seu perfil de Facebook, recordando ainda o empenho desenvolvido pela trabalhista Jo Cox. Esta parlamentar foi uma das principais impulsionadoras dos estudos da solidão nos últimos anos e criara mesmo uma comissão dedicada ao assunto, antes de ser assassinada em 2016. Um primeiro relatório dessa comissão informa que nove milhões de adultos estão frequentemente, ou sempre, solitários e que 3,6 milhões de pessoas com pelo menos 65 anos vêm na televisão a principal forma de companhia. A estratégia final vai ser publicada brevemente.
UMA LAMENTÁVEL OPINIÃO DO NÃO MENOS LAMENTÁVEL JOÃO PAULO COLTRANE Esta é a defesa do nosso cronista a propósito do seu artigo na seção Hora Extra. Abre aspas. Nos recuados tempos da minha juventude, lá pelos anos 70 do século passado, os homens que se aventurassem a fazer qualquer crítica ao comportamento errático das mulheres eram imediatamente insultados com a ofensiva expressão “porco chauvinista”. Éramos machistas. De lá pra cá a situação só piorou. Passamos a ser criminosos assediadores. Na verdade, a adjetivação só tem piorado, nesse ou em qualquer terreno. Um exemplo é o triste destino do adjetivo brutal, vítima de uma brutal alteração de significado. Quase tudo o que é brutal, hoje, é o rigoroso oposto do que era brutal no passado. Mas talvez nenhuma outra palavra tenha tido pior sorte do que o adjetivo genial. Era um termo recatado, precioso, de utilização rara. Aplicava-se quase exclusivamente a coisas que tivessem sido feitas por Leonardo Da Vinci, e era assim que estava certo. De repente, sem que o mundo tivesse acompanhado esse melhoramento, tudo passou a ser genial. Até o sabor de um simples vinho se tornou genial. Quando as mulheres nos acusavam de sermos porcos chauvinista estavam dizendo que éramos imundos, como todos esses por-
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cos de chiqueiros em fundo de quintal. Mas a imundície não é totalmente má. Nem todos sabem mas o grande cientista Alexander Fleming não era exatamente uma pessoa invejada pela sua higiene pessoal. Uma vez (como é sabido), ele foi passar as férias de verão com a família e, quando voltou ao seu imundo laboratório, reparou nuns bolores que se tinham formado a um canto. Observando as suas propriedades, descobriu a penicilina. É por isso que só os homens – os porcos – inventam todas as vacinas. Fecha aspas.
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NOMES&NOTAS
NINGUÉM PODE MAIS MATAR DOIS COELHOS COM UMA SÓ CAJADADA Indignadas com o suposto incentivo à violência contra animais, muitas supostas educadoras tanto reclamaram que a música “Atirei o pau no gato” foi banida do repertório das cantigas de roda das crianças de hoje. A execução musical só é recomendada quando se substitui a também suposta arma, o pau, por palavra menos agressiva, a flor. Assim, as crianças já cantam enfadonhamente “Atirei uma flor no gato”. Animadas com a citada conquista aquelas professoras politicamente corretas querem avançar. Agora, pretendem acabar com a linguagem “anti-animal” e já dispõem de algumas
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ideias para substituir ditados e frases comuns por outras mais inofensivas. Assim, “matar dois coelhos com uma cajadada só” será substituído por “alimentar dois coelhos um pé de alface só”. E “pegar o boi pelos chifres” cederá lugar para expressão “pegar as flores pelo espinho”. Como se imagina, as militantes comparam essas expressões com “linguagem racista, homofóbica e preconceituosa”. No entanto, a despeito de campanha tão edificante em defesa dos animais, nunca se provou que haja uma relação direta entre as letras mais explícitas de algumas canções ou histórias e o comportamento violento das crianças.
UM CONSELHO AO ZEMA: CRIE UM CHECK-LIST PARA SEUS SECRETÁRIOS PREENCHEREM O pai de um colega da redação era piloto e antes da decolagem ele conferia, com seu assistente, uma lista de procedimentos que deveriam fazer antes da decolagem. Basicamente era verificar o que deveria estar ligado. Ou não correr o risco de decolar com pouca gasolina no tanque. Nós recomendamos ao governador Zema a elaboração de check-list para cada secretário, com o propósito de evitar constrangimentos e escândalos. Entre outras questões, as futuras autoridades deveriam responder: “o senhor tem alguma empresa em sociedade com a esposa? Cobra pedágio do salário de assessores? Alguma empresa lhe oferece contribuições?”. Então, somente seriam admitidos aqueles aprovados em todas as respostas.
FELIZ ANO NOVO. MAS SÓ ATÉ JUNHO Acho que ainda há tempo de desejar a todos vocês, leitores de MatériaPrima, Feliz Ano Novo. Pena que seja por pouco tempo; talvez até maio ou junho, no máximo. Uma rápida pesquisa no Google confirma o pessimismo: já estão agendados dois fins do mundo para 2019. Um grupo de gente relativamente perturbada alega que o mundo terminará a 20 de maio e outro grupo com as mesmas características psíquicas garante que o fim do mundo ocorrerá a 24 de junho. Ambos os grupos sustentam a previsão em versículos bíblicos.
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REPORTAGEM DE CAPA
31 SUGESTÕES PARA VOCÊ SER FELIZ JÁ EM DEZEMBRO. MAS A DATA DE VALIDADE SÃO 12 MESES
HOUVE PELO MENOS CINCO PREVISÕES DE QUE O MUNDO IRIA ACABAR NESTE ANO. FELIZMENTE NADA DISSO OCORREU 18
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fracasso dos profetas da catástrofe mostra que, apesar de ter muitos motivos, o Criador não quis se livrar de nós. Com isso, estamos quase atravessando este tormentoso 2018. O país não está lá essas coisas, mas nenhum de nós levou uma facada no abdômen. Minas Gerais também foi pior. Quando este repórter chegou a Belo Horizonte, ainda na década de 50 do século passado, ele deixou sua terra natal, no Vale do Jequitinhonha, com mais de 60% da população sem saber ler ou escrever. Hoje, todos são alfabetizados e há escolas encerrando suas atividades por falta de alunos, já que houve uma redução gigantesca no crescimento da população. Lembro-me quando me iniciei na profissão de jornalismo: a minha primeira reportagem foi sobre uma morte em fila de hospital público, cena que se repetia todos os dias na porta da Santa Casa e no Pronto Socorro. Hoje raramente alguém morre enquanto aguarda atendimento. Não atribuo essas conquistas a nenhum governo em especial mas a todos os mineiros que constroem esse maravilhoso estado com seu trabalho e seu esforço. A vida é melhor que foi na década de 50 e por isso vivemos mais. A expectativa de vida ultrapassou os 73 anos. Então, aproveite: nossos problemas são importantes sim, mas a condição humana é maior de que se preocupar apenas com o nosso futuro e o dos nossos filhos. Olhai os lírios dos campo, dizia o Filho do Homem. Abra a sua alma para o mundo e tente fazer coisas fundamentais nesse tempo radiante, que nos é oferecido a cada dia. Por isso, não apresentamos aqui uma reportagem de capa, mas sugestões de 31 coisas para o prezado leitor realizar no próximo ano. Você não precisa dominar, de uma vez, todas as atividades sugeridas. Mas pode conquista-las à medida que o tempo for passando. Corra! O fundamental é que você seja uma pessoa que faz, num mundo em que se terceiriza tudo. A ação faz a diferença. Aproveite esta que poderá ser sua última oportunidade na vida, já que os profetas da catástrofe podem acertar suas terríveis previsões ainda no próximo semestre. Seguem as propostas, que começam a valer agora em dezembro:
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REPORTAGEM DE CAPA 1
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Tirar uma foto com a família.
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Sair com seu filho para pescar. E, na pescaria, conversar de igual para igual com ele, como um velho companheiro.
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Aprender a praticar um esporte coletivo, qualquer que seja ele.
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Não monopolizar as conversas. Afinal, você não tem nada de tão importante a dizer.
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Escrever cartas aos amigos. Até e-mail serve. Diga por que está escrevendo. Dê notícias.
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Aprender a nadar. Qualquer estilo será válido:
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Mostrar respeito, sem ser puxa-saco. Respeitar o seguinte, nessa ordem: idade, experiência, reputação. Mas não mencionar nada disso durante a conversa ou durante seus atos.
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Dar um conselho que seja importante para alguém.
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facílima, principalmente para quem
Aprender a dar um nó na gravata. Em gravata-borboleta, nem pensar. Dizem que a impossibilidade de acertar esse nó foi a grande frustração que Einstein levou para o túmulo (foi, obviamente, enterrado sem gravata).
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Fazer um coquetel com sua bebida alcoólica preferida.
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Falar um idioma estrangeiro. E pelo menos o suficiente para ser entendido numa conversação.
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Pregar botões com esmero. Tarefa gramou em colégio interno. Aprender a tocar um instrumento musical. Menos o saxofone para não se sentir eventualmente humilhado por este repórter, quando ouvi-lo (hahaha). Falar de futebol, sem insultar o torcedor do time rival, ou considerá-lo um indeciso, mal resolvido sexualmente.
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Ser leal. Lealdade não é uma relação de
troca, mas um vínculo, o respeito a uma história compartilhada. 16
Fazer sua cama ao menos uma vez, para revelar sua condição de parceiro fiel e caprichoso.
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Descrever um copo de vinho, sem usar enjoativos chavões, tipo custo/ benefício, frutado, sabor de suor de ginetes búlgaros com ênfase em laivos de carvalho precoce. Uma vez, um dono de loja de bebidas me disse que aquele vinho tinha o paladar de um passeio
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noturno através de um jardim molhado. Acreditei no sommelier, fui fundo, resultado: acabei chegando em casa com os pés encharcados, um resfriado de boreste e uma ressaca piramidal. 18
Aprender a jogar sinuca.
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Contar piada com graça. Coisa leve, sem pornografias ou virulências. Exemplo: dois homens caminham por uma rua, quando se aproxima um assaltante e exige o dinheiro deles. Ambos, a contragosto, puxam a carteira e
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REPORTAGEM DE CAPA começam a retirar o dinheiro. Então um deles volta-se para o outro e diz: “Vou aproveitar a oportunidade, e lhe pagar aqueles 50 que lhe devo”.
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Recitar um poema de memória. Um dos mais chiques é “História de um cão”, que nos fazia chorar nos tempos de meninos, e começava assim: “Eu tive um cão. Chamava-se Veludo. / Magro, asqueroso, asqueroso, revoltante, imundo, / para dizer numa palavra tudo / Foi o mais feio cão que houve no mundo”.
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Dizer “não!”, especialmente para ficar livre daquele nefando cunhado, que vive pedindo dinheiro emprestado e é uma praga ambulante para sua geladeira, liquidando com o estoque de cervejas com uma sede de beduíno do Saara.
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Agradecer sempre. Uma das coisas que mais agrada ao nosso semelhante é o agradecimento. E faça isso de todos os modos possíveis, até por escrito. Pega bem.
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Segurar um bebê (dos outros), fazer cosquinhas, imitar marreco, brincar de nhenhem-nhenhem-nhenhém... mas de olho nas fraldas dos pivetinhos, recipiente perigoso e sujeito a malcheirosos vazamentos.
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Aprender a passar o ferro numa camisa. Vide o item 12, que fala sobre colégio interno e habilidades domésticas.
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Conhecer algumas aves. Se não tem paciência para prestar atenção num
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pássaro, você é um caso perdido.
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Negociar um bom preço. Seja informado. Saiba os preços dos concorrentes do produto que você quer. Procure o gerente da loja. Não seja um imbecil. Ou ofereça algo em troca, como a próxima compra, a sua lealdade.
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Consolar uma mulher chorando. Um abraço apertado é um dos remédios mais frutuosos deste mundo carente.
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Acalmar uma criança chorando. Aceitar que os sentimentos de uma criança são legítimos. A criança deve perceber sua empatia, calma e confiar absolutamente em você.
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Aprender a cozinhar. Coisa simples, como fritar um bife e ou um ovo. Um filé a cavalo é um prato delicioso e fácil de preparar. Não invente essas sensaborias de salmão ao molho degradê de trufas da Toscana, ou nabos gratinados com mostarda da Alsácia.
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Aprenda a beber sozinho. É uma arte, é um evento em si mesmo. Enquanto isso, leia um jornal ou um bom livro. De vez em quando, interrompa a leitura para observar cuidadosamente o comportamento dos garçons, dos frequentadores. Ignore a televisão. Mas não se sinta invadido, se aparecer um amigo. Mande-o sentar e peça mais um copo.
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Ser respeitoso com seus amigos. Ou os evitar para sempre. Não se esqueça que é privilégio ser querido por alguém.
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CARTA DO PLANALTO
PATRUS ANANIAS FALA DO FUTURO DO PT EM MINAS DEPOIS DE UM DESASTRE QUE VARREU COMO UMA EXPLOSÃO NUCLEAR OS QUADROS MAIS EXPRESSIVOS DO PT MINEIRO, O EX-PREFEITO DE BH FICA DE PÉ COMO O CÉLEBRE EDIFÍCIO QUE RESISTIU À BOMBA ATÔMICA E NÃO FOI AO CHÃO JOSÉ ANTÔNIO SEVERO(*) A citação do famoso e solitário prédio, a Cúpula de Hiroshima, é uma metáfora bem-humorada. De fato, o ex-prefeito de BH foi uma das poucas figuras de grande porte do PT mineiro que se destaca no quadro de terra arrasada que sobrou da eleição de 2018 em Minas Gerais. O parlamentar, no entanto, não concorda com essa narrativa, lembrando que o Partido dos Trabalhadores como tal manteve a mesma bancada estadual que elegeu em 2014, ou seja, 10 deputados estaduais.
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“Se não ganhou, não perdeu”, disse à MatériaPrima em seu gabinete no sétimo andar do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Nestes dias, voltando a Brasília para dar continuidade a seu mandato em vigor, Patrus debruça-se sobre a problemática nacional que está sacudindo o Congresso nestes últimos dias de governo. A questão mineira fica para mais tarde, quando a poeira baixar e o País entrar no novo quadriênio. Ele diz: “Sou um mineiro apaixonado por MG, mas a minha preocupação maior hoje, como deputado fe-
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Um dos poucos sobreviventes da "bomba nuclear em Hiroshima", o deputado é pressionado por integrantes do PT mineiro a assumir o comando do partido no estado
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deral é com o Brasil. Nós mineiros temos uma característica de colocamos o Brasil acima dos interesses locais e regionais por mais legítimos que sejam. Neste primeiro momento a nossa preocupação é com o destino do País, com o respeito aos direitos fundamentais, ao estado de direito, aos princípios e a constituição de 1988. MG é o estado mais parecido com o Brasil. O que acontecer no Brasil vai se repetir em MG”. Entretanto, ele está sendo pressionado pelos correligionários a assumir o leme para levar o barco petista a bom porto. Com sua sabedoria mineira, como se diz, com todas as cautelas, ele rebate esse diz-que-diz-que. Sem assumir posição de chefão do partido, nem se admitindo como guia para os novos tempos, Patrus sugere que o PT de Minas retome suas antigas bandeiras, se organize nos moldes que trouxeram o partido desde sua fundação. Diz ele, tecendo um pré-projeto: “Ninguém constrói uma estratégia sozinho. Tem de ser compartilhada, tem-se que
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CARTA DO PLANALTO conversar com as lideranças, com os eleitos para a Assembleia Legislativa, para Câmara, com a sociedade” (e desfia toda a teia de formadores de opinião, como igrejas, universidades, empresários, trabalhadores, entidades de uma maneira geral etc.). Ele avalia os desafios: “Temos eleição municipal (2020). O PT manteve a sua representação legislativa o que comprova que no partido tem força em Minas. Entretanto é preciso estabelecer uma estratégia daqui para a frente para nos recuperarmos no campo majoritário. Precisamos retomar o trabalho de formação política. Com as responsabilidades que assumimos (referindo-se ao vertiginoso crescimento do partido depois que conquistou a presidência da República, governos estaduais, municipais, legislativos, convertendo-se num partido de grande porte). Nos afastamos um pouco desse trabalho de base, de formação. Temos de usar as novas tecnologias os novos instrumentos. Nós precisamos trabalhar com a perspectivas de elevar o nível de consciência política das pessoas, dos mais pobres, dos trabalhadores, no sentido de alargar as consciências, os corações. Temos de trazer as pessoas para o debate político”. Falando especificamente de Minas Gerais, ele apresenta suas ideias: “Temos de ver, também, que políticas que nós queremos, definir as políticas públicas, o que nós queremos para o estado e que tipo de sociedade construir? Quais são os valores fundamentais? O valor fundamental é a vida. É proteger a vida,
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Reeleito para o cargo de deputado federal, Patrus Ananias dá sua receita: desde alimentação segurança alimentar, trabalho, moradia, saúde etc. Também a questão de desenvolvimento regional, sem perdermos vista do projeto estratégico, pensarmos nas potencialidades das macrorregiões. Trabalhar essas regiões com projetos. Realizar encontros territoriais, com lideranças, com prefeitos, vereadores. A gente deve começar com o
“O PT tem de fazer seu exame de consciência, sua reflexão política, precisa andar de volta às bases, enfim, uma nova política de promoção” próprio partido, na dimensão territorial. A reorganização deve contemplar intenso trabalho para formação de militância e de novos quadros”. Patrus Ananias conclui sua sugestão de receita para Minas: “O PT tem de fazer seu exame de consciência, sua reflexão política, precisa andar de volta às bases, enfim, uma nova política de promoção.
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Quando nós começamos o PT, ninguém acreditava que o partido chegasse onde chegou. Esta renovação vai crescer dentro do PT de baixo para cima. Fundamental também é definirmos o que nós vamos fazer nos próximos anos”. (*) O jornalista José Antônio Severo é o nosso homem em Brasília
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DESAFIO INÉDITO E INEXPERIÊNCIA DE ZEMA PREOCUPAM PARTIDO NOVO GOVERNADOR ELEITO PROMETEU MANTER NO CARGO O IRREMOVÍVEL PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS ORION TEIXEIRA* A direção nacional do Partido Novo não esconde a preocupação com o que chama de “vitrine”, referindo-se ao Governo de Minas, o segundo maior estado da federação, por duas razões: pela precocidade da conquista e com a fragilidade e inexperiência do governador eleito Romeu Zema. Como o próprio nome, o Partido Novo foi criado, em 2011, por 181 profissionais liberais com a bandeira do liberalismo econômico, obteve o registro em 2015 e não esperava, três anos depois, logo na sua estreia eleitoral, conquistar um desafio desse tamanho. Romeu Zema será o primeiro filiado a assumir cargo da importância e de repercussão nacional, ou seja, será a prova de fogo para a nova sigla, que tem, claro, pretensões futuras de voos mais altos,
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como a Presidência da República. E mais, a missão é agravada pela situação de insolvência do estado mineiro. É hora de ver então se as propostas deles, baseadas em teorias liberais, vão funcionar. A Lei Orçamentária de Minas prevê déficit de R$ 11,4 bilhões em 2019, mas o governador eleito acredita que o rombo seja maior, de até R$ 30 bilhões. Desde 2016, os servidores estaduais recebem salário de forma parcelada em até três vezes. e atual administração ainda deve às prefeituras cerca de R$ 10 bilhões em repasses para saúde, educação e outros serviços.
Futuro atrelado a Minas Os caciques do Novo estão convencidos de que o futuro do partido dependerá de seu desempenho no governo de Minas. Na eleição deste ano, o candidato
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Laboratório Central de Saúde Pública do estado de Minas Gerais (Lacen) da Funed. Fundação se torna laboratório público com maior número de ensaios acreditados pelo Inmetro. Zema desconhecia sua existência
presidencial, o empresário João Amôedo, alcançou somente 2,5% da votação, ou 2.679.744 votos. O Novo agora terá a oportunidade de testar se é possível ou não gerir um estado como se fosse uma empresa. “Tanto o partido quanto o governador têm plena consciência que nosso destino está intimamente atrelado a Minas Gerais. Por isso, vamos achar as melhores pessoas para nos ajudar”, disse Moisés dos Santos Jardim, presidente do Partido Novo.
Concurso para secretário Não foi à toa que a direção nacional
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partidária montou uma comissão de notáveis para ajudar Zema. São nomes conhecidos no meio econômico – como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, o ex-secretário da Fazenda do Rio de Janeiro Gustavo Barbosa (que conduziu a renegociação da dívida fluminense e que será o futuro secretário da Fazenda), e João Amoêdo. Esse conselho vai auxiliar o futuro governador. Como não tem quadros para governar, Zema e a direção nacional decidiram fazer um processo seletivo na escolha dos secretariados, cumprindo promessa de campanha de contar com auxiliares
técnicos, já que se elegeu sem apoio de uma coligação partidária, o que, em si, representa outra fragilidade para a futura governabilidade. A falta de recursos do governo estadual torna difícil até a formação do secretariado. Os salários não são atraentes, cerca de R$ 8 mil, além disso, Zema fez compromisso de que ele e o secretariado só receberão após regularizar o pagamento dos servidores.
Afinal, o que é Funed mesmo?! A fragilidade e o despreparo de Zema
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são pauta de conversas na direção nacional. Houve quem estranhou que, em vez de mergulhar nos problemas e na realidade do estado, ele foi para Londres, onde fez curso de gestão de uma semana. Na campanha, chegou a manifestar desconhecimento da existência e função da Fundação Ezequiel Dias (Funed), centenário e importante instituto de ciência e tecnologia na área da saúde de Minas. Sua comissão de transição, como ele, também não deixou o palanque e, sempre que é apresentada a dados da realidade financeira estadual, adota discurso crítico à atual gestão do petista Fernando Pimen-
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POLÍTICA tel. Por duas vezes, foi contestada por divergências na interpretação dos números. Desde que foi eleito, em 28 de outubro, Zema só reuniu com o governador Fernando Pimentel (PT) 40 dias depois, no dia 7 de dezembro, para discutir a transição. Sequer visitou o comando do Tribunal de Justiça de Minas após sua eleição.
Impeachment é para todos Zema tem repetido uma senha segundo a qual pretende dar exemplo para os outros poderes. Não falta quem, na Assembleia Legislativa, se lembre de que os casos de impeachment de governante quase sempre têm relação com o enfrentamento do Executivo com os outros poderes, o Legislativo e o Judiciário. Será que Zema vai querer pagar pra ver?! Ele próprio já deu sinais. Quando perguntado se seria candidato à reeleição (Valor Econômico de 21/11/18) admitiu que, mais cedo do que se imagina, poderá deixar tudo com o vice Paulo Brant (Novo).
Tripé de apoio Como seu partido só tem três eleitos, e igualmente inexperientes, o futuro governador precisará contar com uma boa base de apoio para aprovar as medidas com as quais pretende recuperar financeiramente o estado. Para isso, ainda busca um nome com bom trânsito para fazer a articulação política com a Assembleia Legislativa. De início, como vetou a participação de políticos em seu secretariado, ele terá
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Paulo Brant (Novo), Agostinho Patrus (PV) e Adalclever Lopes (MDB que recorrer a especialistas do mundo da política. Em vez de partidos, deverá se valer da experiência e habilidade de três atores: o atual presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes (MDB), que ficará sem mandato a partir de fevereiro do ano que vem. Como Zema, Lopes disputou o governo de Minas pela terceira via, mas não foi feliz. O outro nome é do virtual e futuro presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV). Ele e seu partido foram os primeiros a apoiar Zema no segundo turno eleitoral. Ganhou a confiança do governador; tanto é que os três deputados do Novo já anunciaram apoio a Patrus, que,
B) formam o trio mais famoso de apoio a Zema. Habilidade e experiência serão de fundamental importância para articulação política além deles, está sendo apoiado por Adalclever Lopes para o cargo. Como especialista em construção de pontes políticas, Adalclever poderá ser convencido a entrar para o futuro governo. Está sendo sondado a ocupar vaga de poder em uma das empresas estaduais, como a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, (Codemig), estatal do nióbio, ou na Companhia Habitacional do estado, a Cohab, embora tenha dificuldades, em alguns casos, por não ter diploma superior. Junto deles, de Patrus e Adalclever, o vice-governador eleito Paulo Brant (Novo) é um executivo com alguma experiência
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na área pública e privada. É reservado e tem bom trânsito no meio político. Outro nome que se assanhou para o futuro governo é o do ex-presidente da Assembleia Dinis Pinheiro (Solidariedade) para eventual função na coordenação política. Dinis tem o apoio do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que o apoiou na malsucedida disputa ao Senado. A possibilidade abriu a primeira crise na comissão de transição, que viu na presença de Dinis contaminação do “velho” na política do “novo”. *Jornalista político; leia mais no www.blogdoorion.com.br
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ONDAS
CARTA DE PORTUGAL
GIGANTES
IMAGINE UM PRÉDIO DE 10 ANDARES, VISTO DE BAIXO PARA CIMA. AGORA, IMAGINE ESSA ALTURA TODA VIVA, EM MOVIMENTO. É DE ARREPIAR ELIANE MACHADO DE LISBOA Confesso que morro de medo de água. Já me afoguei na lagoa que existia (secou) na fazenda de meu tio, no interior de Minas, quando criança. Já fiz dois cursos de natação. Morei em casa com uma piscina que me parecia enorme e que atravessava de costas, num fôlego só. Nem respirava para não perder o equilíbrio. As crianças iam ao delírio. Naquela idade em que curtir com a cara dos pais é a grande diversão. Mas nessa fase de vida em que me encontro, vencer meus medos
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e quebrar barreiras surgem como metas mais do que naturais e apropriadas. Então vamos ao Canhão de Nazaré – ou: as Ondas Gigantes de Portugal. Já tinham me falado das ondas gigantes da vila de Nazaré, distante cerca de 150 km de Lisboa. Sabia que lá foram registradas a maiores ondas surfadas do mundo? A primeira, em 2011, pelo havaiano Garrett McNamara: 23,77 metros. A segunda, em 2017, pelo brasileiro Rodrigo Kioxa, com 24,38 metros de altura. Todas carimbadas e registradas pelo Guinness. Mas como recordes existem para serem batidos, é possível que
o português Hugo Vau tenha surfado uma maior ainda, em janeiro de 2018, com inacreditáveis 35 metros de altura: verdadeiros heróis e deuses do oceano. Mas, o que é o canhão de Nazaré? É um fenômeno da natureza com 227 km de extensão e cinco mil metros de profundidade, que acontece na Praia do Norte, na vila de Nazaré. Tem ligações com uma falha sísmica, em forma de V. Funciona como uma rampa de lançamento que sobe em direção a costa, em forma de funil, projetando as águas para cima. Quem já viu não poupa palavras de elogio e de assombro, todas merecendo maiúsculas e exclamações: Majestosa! Desafiadora! Fascinante! Tudo acompanhado pelo público, em uma espécie de plataforma, do meio do penhasco, com o espetáculo acontecendo a sua frente, como uma sala de observação. Chegamos a Nazaré e subimos até onde era possível. Caminho que você pode fazer de carro ou pelo funicular. Fomos para a plataforma. Eu mal respirava de ansiedade. O coração disparado. O vento quase me desequilibrando. Um frio do cão. Mas nada das ondas gigantes. Lá embaixo, bem embaixo, o mar não dava sinais de inquietação. Apenas seguia seu curso. Que pena: não foi dessa vez. Mas fica a dica: vale muito o passeio.
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MESMO SEM VER O FENÔMENO, NAZARÉ VALE A PENA O Canhão de Nazaré se apresenta sempre no Outono e no Inverno. É mais frequente entre novembro e janeiro. Você pode acompanhar as notícias na página da praiadonorte.com.pt ou direto pelas câmeras do beachcam. Mas além das ondas gigantes, Nazaré é uma das inúmeras vilas encantadoras desse país. É lá que, reza a lenda, as mulheres se vestem com sete saias coloridas. Negras, quando são viúvas. Além de esportes à beira mar, a cidade tem uma bela marina.
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS
VAMOS FUNDAR O PARTIDO DA DESDE A FUNDAÇÃO DE PRIMA, HÁ DEZ CIDADANIA MATÉRIA ANOS, CONVIDAMOS O AMIGO E GRANDE UNIVERSAL? JORNALISTA ITAMAR DE “Prezado amigo e colega Durval Guimarães Vou continuar te (de)vendo um bom texto sobre as minhas (re)descobertas de Paris. Não é por falta de inspiração. É porque estou envolvido, de corpo de alma, na tentativa de escrever um livro razoável sobre os tempos do ex-Governador Hélio Garcia, na política mineira. Uma tarefa que não é pequena porque o homem foi um aluno displicente na Faculdade de Direito da UFMG, mas foi um discípulo devotado de José de Magalhães Pinto e de Tancredo de Almeida Neves. O Dr. Hélio, como é chamado pelos companheiros na política mineira, teve outros professores notáveis. Dentre eles José Monteiro de Castro e Carlos Elói Guimarães, da antiga UDN conspiradora, que se transformou em Arena durante o regime militar. Teve também velhos mestres oriundos do PR de Artur Bernardes e do PSD de Benedito Valadares, Juscelino Ku-
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OLIVEIRA PARA ESCREVER PARA A REVISTA. ELE ACEITOU AGORA E VAI COLABORAR POR MEIO DE CARTAS, DE ONDE ESTIVER, POIS VIVE MAIS EM PARIS QUE EM MINAS
bitschek e Murilo Badaró. Mas sou obrigado a confessar que Paris não sai da minha agenda. Começou nos livros de geografia, história, na literatura, no cinema e nos vários tempos que vivi e continuo vivendo no canto esquerdo da cidade. Desde o início, o Quartier Latin, Saint-Germain des Près e Montparnasse me tornaram um “Gamin de Paris”, como você, o Natal, o Herval, o Vital, o Sinval, que vieram do interior das Minas
As garotas de Maio de 68, tão parecidas com nossas colegas (Marísia, Leila Mara, Maria das Graças, Nereida, Nice e Mercês entre outras, do curso de Jornalismo da UFMG)
e das Gerais em busca de novos e belos horizontes na Bela Belô do Gervásio Horta e do Rômulo Paes, continuam garotos no centro e na periferia de BH. Durval, meu caro amigo, assim como você e o Tom Jobim, também tenho medo de avião. São mais de 11 horas de sofrimento e turbulência para cada reencontro com Paris. Tenho sido abusado e repetido a ousadia por mais duas décadas. Distante de Bom Despacho, Ouro Preto e Porto Seguro fico ao desamparo. Em Paris, minha praia de opção, sou do mundo e sou Minas Gerais.
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Prometi a você que escreveria para os seus leitores um texto contando o meu namoro e minha relação de afeto com Paris. Promessa é dívida. Vou organizar minhas anotações para cumprir a pauta. Pra não dizer que não falei de Paris, este ano de 2018 foi de muitas e fortes emoções na cidade luz, onde alguns amigos nossos, como o Lélio Fabiano, o Emerson de Almeida, o Humberto Werneck, o Ângelo Oswaldo, o José Alberto Nemer e muito outros pintaram o sete. Durval, meu caro, vi muita coisa bacana em Paris este ano de 2018. Fui a vários
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS eventos comemorativos que celebraram os acontecimentos de maio de 1968 em Paris. Percorri, como peregrino, os cenários que serviram de palco para as manifestações libertárias daquele ano que não vai acabar nunca. Durval, como já confessei, publicamente, em Paris sou menino, sempre! ... Mas me senti ainda mais jovem e combatente ao visitar a exposição “Gilles Caron-Paris 1968”. Emocionante, Durval. Faça o favor de escolher algumas fotos para eternizar a arte de um grande fotógrafo/jornalista/poeta desaparecido no Cambodge em 1970, com trinta anos de idade. Gilles Caron fotografou o mundo dos anos sessenta, os artistas, os políticos, as celebridades da época. Registrou os conflitos e os sofrimentos provocados por guerras sangrentas que até hoje nos envergonham. Caron é o grande fotógrafo de Paris 1968. Ele registrou, como ninguém, as imagens de uma revolução simbólica que mudou muita coisa em nossas vidas. 2018, meu caro Durval, está chegando ao fim. No dia 13 de dezembro deste ano, o Ato Institucional no. 5, nascido no cérebro genial e autoritário de Francisco Campos, também celebra seu primeiro cinquentenário. E muita coisa aconteceu no Brasil e no mundo, neste final de ano para nos tirar o sono. Não para nos tirar o sonho. E, para tirar o sono do Presidente francês Emanuel Macron, as
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Capa do livro de Gilles Caron, o fotógrafo principal de maio de 68, morto na Guerra do Camboja
fotos de Caron, de 1968, parecem atualizadas pelo atual cenário de Paris novamente pré-revolucionária. Estamos quase todos, um pouco maduros, para acreditar em contos da carochinha. Mas é certo que existem utopias. As revoluções é que parecem fora de moda. O líder estudantil de maio de 1968, na França, Daniel Cohn-Bendit, que já foi deputado no Parlamento Europeu, lembra que a juventude daquele tempo queria ser dona do próprio destino. Para os jovens de hoje ele recomenda: “o mundo de hoje está ameaçado pela degradação climática, doenças, novas tecnologias e a globalização, que os franceses chamam mundialização. Portanto, esqueceram 1968. Façam outra coisa”. E, sem dúvida, outra coisa está acontecendo em Paris e pode contagiar grande parte do planeta. Acho que 1968 nunca mais vai acabar. O sonho da gente, não morre jamais. Sou menino em Paris e jovem, (e) ternamente, em Minas Gerais. O que 2018 precisa é de uma nova utopia que ninguém pode inventar sozinho. As novas utopias devem ser universais, fraternais e solidárias. Como a gente ainda acredita que pode acontecer. Vamos fundar o Partido/Movimento/ da Cidadania Universal?
Abração Itamar de Oliveira ” (*) Jornalista e Professor
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ERA SÓ O QUE FALTAVA
ÁRVORES DE NATAL IVANI CUNHA A moita de bananeiras sempre existiu ali, no fundo do quintal, bem próxima de um dos vértices formados pelo muro. Um dia, o homem teve a idéia de utilizar a pequena clareira à sombra das grandes folhas, e foi para lá, com um banquinho de madeira e um livro. Logo se convenceu de que não ia dar certo: por causa do piso irregular, com algumas raízes à flor da terra, era impossível manter o banquinho apoiado de modo uniforme sobre as quatro pernas. Além disso, havia o desagradável odor de fezes do cachorro e dos gatos que viviam no quintal. Melhor abandonar a ideia de ocupar o local. Embora não tivesse mais vontade de freqüentar a pequena clareira, ele gostava das bananeiras. Por isso, fez cara feia quando lhe disseram que as plantas (isto é,
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suas raízes) seriam arrancadas para uma reforma do quintal. Ele sempre passava algum tempo observando as grandes folhas lisas, recortadas, e um dia tentara reproduzi-las em desenho, mas faltou-lhe talento. Gostava também do delicado sabor das bananas, que se apresentavam em cachos enormes, e aprovou o sabor da salada de umbigo de bananeira, conforme receita de sua mãe. A vista do homem custou a se acostumar com a ausência da moita no fundo do quintal. Ficou-lhe uma sensação de perda, e depois ele descobriu por quê: em sua distante infância, o homem só conhecia árvore de Natal de ouvir falar, e aquelas bananeiras eram as árvores de Natal que agora ele podia ter – árvores generosas, com os cachos da fruta substituindo as bolas coloridas. O projeto de reforma impôs também a derrubada
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de uma mangueira, outra árvore de Natal, cuja idade ninguém jamais teve condição de calcular. Ela já estava lá quando a casa foi construída, há mais de 40 anos. Suas mangas eram bem grandes, dessas de comer em fatias, e não deixavam fiapos entre os dentes. No período de safra, principalmente quando chovia, o homem costumava sentar-se numa velha e confortável poltrona, na área com piso de ardósia sob os quartos da casa, para contemplar os galhos açoitados pelo vento e acompanhar a queda das frutas. Este prazer também não existe mais, porque a velha mangueira foi derrubada numa manhã de dezembro, quinze dias antes do aniversário do homem e vinte dias antes do Natal. Abater a grande árvore era o que faltava para dar prosseguimento à reforma do quintal. A operação resolveu muitos problemas de uma só vez, pois a mangueira ocupava grande espaço, lançava folhas inclusive na piscina de um vizinho e, quando ventava, as folhas eram levadas para o telhado da casa colada ao muro do fundo. Às vezes surgia também o temor de a árvore favorecer a escalada de algum invasor até um dos quartos da casa. Ah, se os ladrões soubessem... As últimas safras da mangueira não foram abundantes e as mangas também não eram mais as mesmas. Como as pessoas, as plantas não têm o privilégio da vida eterna, e a queda de desempenho de humanos e vegetais é inevitável, principalmente se levam uma vida ao deus-dará. A velha árvore nunca teve a visita de um engenheiro agrônomo, nem mesmo de um estagiário de escola técnica rural. O tronco escuro, rachado de cima a baixo, denunciava a falta de cuidado com a mangueira, que se confirmava agora em cada manga. Caso as plantas tenham uma vida depois desta, a velha mangueira e a moita de bananeiras devem se encontrar agora no mais bem-cuidado pomar da eternidade.
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CRÔNICA DO TIÃOZITO
A PINGUELA E O
Ao saltar, inadvertidamente girou o cós da saia e, através da maneira, deixou entrever uma tentadora calçola de chita estampada, combinando com o califom, de onde saltavam seios fartos e tentadores. Pedira uma ponga, a meio caminho de casa, exatamente na carroça daquele que, platonicamente, estava caidinho por aquela moça em quem acreditava ainda virgem, sem saber que fora deflorada pelo primeiro que lhe abrira ocorrião, reata por reata. — Vosmecê ia deslindar essa lonjura toda a pés? — perguntou-lhe com o jeito brejeiro que caracteriza o nosso homem do hinterland, sem sequer observar o pai que, da porta e ainda de ceroulas, lison-
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jeiro, disse-lhe um “Deus lhe ajude”. — Não é tão longe assim, não. Daqui, donde eu vinha é, na bestunta, légua e meia — respondeu, matreira, como se ele não soubesse a distância percorrida. A moçona, vistosa e sedutora, era uma bela fêmea, ainda que tivesse a cara marcada por vestígios de uma bexiga que se lhe acometera, havia pouco. Por sua vez o rapaz não lhe era indiferente, visto que, embora não fosse bonito, tratava-se do beque do time dali e sempre que ele ia
cobrar “ofissaide” ou “córnia”, aproveitava-se para observá-lo de perto. Não sem razão era considerado quem melhor centrava entre os jogadores das redondezas. O guapo e ingênuo rapaz, gentil, muito tranqüilo e de boa nascença, outrora um guri muito malino, hoje de indubitável homência, muito operoso e cobiçado pelas interesseiras, era torcedor apaixonado do Flamengo {Garcia, Leoni e Pavão – Jadir, Dequinha e Jordan – Joel, Rubens (doutô Rúbe), Índio, Benitez e Esquerdinha}, acostumado a ouvir “a voz inconfundível” de Jorge Cury, através das ondas da “Rádio Nacional”, num aparelho alimentado por acumulador, sob a parca iluminação do inestimável fifó; seu sonho era ter uma radiola, coisa nova que ouvira tocando na cidade grande, lá no Armarinho de Oflávio. — Seu Osmar, vê lá se é de gosto eu casá cum sua fia, apois qui sem ela a gente num pode tê outras, né verdade? Foi assim que, contrariando a própria mãe viúva, porquanto rapariga falada e tratada como sobejo pelos seus circunstantes, pediu a mão a um já desiludido pai que, sem sequer ouvir a filha, aceitou de pronto, conquanto o casório fosse o mais rápido possível; era o mais do que lógico. Além de tudo tratava-se de um moço sério e abstêmio, acostumado a só beber garapas, de preferência limão com rapadura, sem bicarbonato, porquanto outra bebida, mesmo refrigerantes, ainda quentes, dava-lhe tremenda gastura. Do outro lado do rio já havia construído casa de morada, de adobes e coberta de telhas vãs, mas rebocada e caiada, onde colocou uma sentina de cimento e
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tijolos de alvenaria, coisa rara na região. Não faltaram ao menos cama “Patente”, colchão de marcela e dorme-bem. O casamento, mesmo com o tempo bastante chuvoso, foi concorridíssimo, até porque os jovens convidados sabiam que Tranquilino, ainda que sem outros defeitos, era simplesmente um donzel; viam nele, com sua aura virginal, o próprio fruita. Depois do arrasta-pé, que durou até o raiar do dia, os dois foram, sozinhos e andando, para o novo lar e, por ele, esperado dia de núpcias. Eis que, cuidadosos e tementes com o rio cheio, ele à frente, ao atravessar a pinguela, de súbito Célia, com astúcia, deixou cair um bombom da festa, colocou as mãos sobre o baixo-ventre e gritou, desesperada: — Tranco, meu cabaço caiu, amor... — E lamentou: — Ô meu Deus do Céu! Não deu outra, assim que ouviu o ruído na água, Tranquilino pulou, com roupa e tudo, mergulhou no caudal das águas, sumiu de novo, vasculhou como pôde, tornou e bracejou rio acima, mergulhou outra vez com a afoiteza anterior, voltou, tomou fôlego e perguntou açodado: — Ô Célia, o pixéu taí??? — Tá sim, meu anjo, pruquê? — Antão deixa o cabaço pra puta qui pariu, sua bosta! Êta muié besta... Geraram uma ninhada e ficaram juntos e harmoniosos até o fim de suas vidas. P.S.: O Autor sugere consultar o dicionário nas palavras grifadas, todas ainda em uso corriqueiro lá na sua saudosa caatinga
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“A ORQUESTRA JÁ NOS CHAMOU, ABRI MEU CORAÇÃO, TREMEU O CHÃO, EU VI QUE ERA FELIZ” (MURILO ANTUNES E FLÁVIO VENTURINI, EM “BESAME”)
MINEIROS SE REENCONTRAM COM O TEMPO EM QUE ERAM FELIZES, NA APRESENTAÇÃO DA ORQUESTRA SOM MAIOR, NO TEATRO SESIMINAS DURVAL GUIMARÃES Foi dado à humanidade pouco tempo para desfrutar das Big Bands, nome dado às grandes orquestra populares norte-americanas que dominaram a cena musical de todo o mundo, no curto período de 1935 a 1946. Em apresentações inesquecíveis em grandes shows e bailes, essas poderosas formações musicais nos brindaram com talentosíssimos músicos, compositores, arranjadores e cantores. E, principalmente com melodias formidáveis que arrebataram nossos corações para sempre. Se tivesse que escolher apenas uma pessoa para marcar aquela época, aqui está o nome: Frank Sinatra, o maior cantor de todos os tempos. Foi um período infelizmente, muito curto - apenas 11 anos – de um reinado fascinante. Onde quer que tocassem, desde que coubessem alguns milhares de fãs, elas dominavam, absolutas. Cada orquestra era batizada com o nome do seu
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A Orquestra Som Maior, com sua sonoridade exuberante, na apresentação que encantou o público do Teatro Sesimina
maestro, numa claríssima demonstração do orgulho de todos eles, como pais-coruja, diante da sonoridade exclusiva que produziam. Pérolas, pérolas, pérolas. Entre os chefes-de-orquestras, recordamos Tommy Dorsey, Benny Goodman, Harry James, Arthie Shaw e o mais famosos de todos, Glenn Miller. O rádio e os primeiros discos as trouxeram para dentro de casa. No Brasil essa sonoridade recebeu a magnífica leitura de Severino Araújo, o condutor da nunca suficientemente festejada Orquestra Tabajara. Foi ele quem misturou chiclete com banana numa batucada brasileira. Em Minas, fomos enfeitiçados pelo som deslumbrante das orquestras de Castilho, de Delê e de Dungas. Aqui pedimos licença para falar um pouco mais de Dungas, afetuoso apelido dado a José Onofre Neiva, enorme talen-
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to de absoluta modéstia que viveu toda a sua vida em Itabirito, a bonita cidade a caminho de Ouro Preto. Era um funcionário público, apaixonado por clarinete e responsável pelo conjunto regional da rádio Cultura de Itabirito, sempre colorindo as manhãs de domingo da população, que se despertava com aquele encantador som brejeiro. Regional era o nome dado a um grupo de músicos formado por violões, bandolim, cavaquinho, clarineta e pandeiro. Todos amontoados em torno de um microfone e patrocinado pelo comércio afamado da cidade. Dungas foi também criado e regente da Dungas e sua Orquestra, um grupo poderoso que se exibia em salões de bailes de todo o estado, Às vezes em São Paulo, onde era admirado pelos músicos e ouvintes da famosa orquestra do maestro Sílvio Mazuca.
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CULTURA Mais que todos os outros maestros do seu tempo, Dungas entendeu o sentimento e o gosto das pessoas. Os frequentadores dos bailes disputavam as mesas da frente, bem perto do músicos, para não perder uma única nota ou acorde daqueles arranjos de altíssima qualidade. A orquestra se impunha exclusivamente por sua exuberância musical, dispensando qualquer malabarismo ou bailarinos, como se observa hoje nos palcos. A Dungas bastava seu repertório revolucionário e inovador. Ele sabia que ao final da cada noite inesquecível, muitos sairiam do baile com uma definitiva lembrança dos momentos enquanto dançavam “Besa-me mucho”. Alguém, então, perguntará: se as Big Bands foram tão maravilhosas, porque desapareceram de forma tão rápida e definitiva? Há duas ou três causas fundamentais. Uma delas: muitos músicos foram convocados para a 2ª Guerra e não voltaram do front. Entre os que ficaram nos campos de batalha destaca-se o inesquecível Glenn Miller, que desapareceu na travessia aérea entre Londres e Paris, no meio a bombas despejadas pelos alemães. Outro motivo: as orquestras eram encorpadas, com pelo menos dezoitos músicos de apuradíssima qualidade que se agrupavam em harmoniosos naipes de saxofones, trompetes e trombones. Além de pianista, contrabaixo, guitarra, ritmos e cantores. Quem dispunha de dinheiro para pagar tanta gente? Os grandes cassinos do Rio e São Paulo assumiram essa conta mas com o encerramento de suas atividades, em 1946,
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Maestro Adilson Francisco, o condutor de um projeto cultural luminoso
as orquestras ficaram sem financiadores. Nos Estados Unidos também ninguém se interessou em investir em tanta gente, quando os donos de salões perceberam que as gigantescas caixas de som, recém lançadas, e três guitarristas num palco punham as pessoas para balançar o corpo do mesmo jeito. Nesse ambiente de desolação, a orquestra de Dungas foi uma das mais felizes porque o maestro encontrou um continuador. No leito da morte, há 32 anos, ele entregou a batuta para o seu amigo e crooner (cantor), Adilson Francisco, que o acompanhava por quase duas décadas. Não se tratava de herança material, dessas tão desejadas por herdeiros ambiciosos, mas um legado cultural. Na prática doou-se apenas uma montanha de partituras (653 arranjos para orquestra completa), algumas estantes de madeira para apoiá-las e a esperança de não deixar o sonho morrer. Apenas isto. Dungas sabia o que fazia. O seu sucessor, Adilson Francisco, é um músico completo. Além de cantor, é clarinetista de grande habilidade, arranjador inspirado e maestro absolutamente seguro. Trabalhou em grandes orquestras brasileiras, exercendo as funções citadas. Numa única palavra, Adilson é um obstinado e invencível, se essas forem as palavras que definem alguém que nunca deixa a peteca cair. O maestro e sua orquestra se apresentam onde há pessoas interessadas em ouvir música de fina qualidade. Foi o que aconteceu em11 de novembro, no Teatro Sesi Minas, onde o público que lotou aquele auditório, já nos primeiros acordes, se reencontraram felizes, com seus sonhos e fantasias.
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ESQUINA DA VIDA
CENAS DE UM
CASAMENTO CAVIAR MALOSSOL DERRUBA FALSA MADAME ALCINDO RIBEIRO Se vivo e ao meu lado, Federico Fellini, o grande mestre do cinema italiano, poderia chegar ao máximo do prazer ou à loucura dirigindo o filme de um chique casamento para o qual fui convidado: da noiva às iguarias tudo era beleza e elegância; em nada exagero essa farta declaração. GRAVANDO, diria logo o cineasta. Se não, vejamos, por partes, como diria Jack, o Estripador, usando velha e gasta expressão: às 19h30min, hora marcada com destaque dourado no convite, a igreja está repleta e a noiva, como de costume, atrasada; os convidados, impacientes, olham para cá e para lá, ouvem-se cochichos, de mulheres principalmente comentando vestidos, enquanto os homens se dividem em grupos: alguns sorriem e outros chamam a atenção das esposas; de repente, o organístico e harmonioso som da música enche mais a
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igreja, a marcha nupcial abre o sorriso de todos e cadencia a entrada do cortejo, com os olhares para a bela noiva, enquanto o noivo sorri. CORTA, seria a ordem de Fellini. O que vem a seguir não difere muito de qualquer casamento, em qualquer igreja: pequena, simples, grande, histórica, bonita, famosa ou não. As palavras do padre só mudam do meio para o fim, e o modo de alertar os noivos para o compromisso que estão assumindo. O início da cerimônia é praticamente o mesmo: “Meus irmãos, estamos aqui reunidos para celebrar o sacramento do Matrimônio de Alberto Costa Brava e Aline Ferreira dos Anjos...... “ As palavras do sacerdote vão caindo como pétalas de esperança nos ouvidos dos casais de namorados; como rosas de espinhos nas mãos de noivos desanimados, já morando juntos; como marteladas na consciência dos que se esqueceram das mesmas promessas que
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ESQUINA DA VIDA agora fazem aqueles dois ao pé do altar; ou, para poucos, como suave música coroando um casamento de bodas de variadas idades. EM CENA, é a palavra do cineasta deixando transparecer um cansaço de tantos e tantos casamentos. Após a cerimônia, bonita, mas longa, ouvem-se comentários variados: recepção?..... sei lá.... estou ouvindo por aí... acho que vai haver ...eram partes das conversas, algumas em voz alta. A estranha movimentação dos convidados só não assusta o padre e Fellini, acostumados ao corre-corre dos “fiéis”, alguns deslocando bancos, e outros, mais afoitos, pisando em caudas de falsas madames pela pressa em sair da igreja. O noivo, de sorriso largo, confirma a recepção, com endereço e tudo, enquanto alguns convidados, calmos e mais educados, ouviam o CORTA, de Felini, na filmagem. Dado o sinal da largada para a corrida do ouro, digo para a recepção, acontece de tudo na arrancada tipo Fórmula 1 dos carros, inclusive deixando alguns de dar a gorjeta aos famigerados “flanelinhas”. A chegada à terra da promissão, isto é, à festa, a equipe de Felini se prepara para entrar em ação. Ainda que exigindo rapidez e coragem dos convidados, a demarcação das glebas, digo vagas, terminou bem, com alguns gritando os tradicionais Eu vi primeiro, Desculpa, Pode ficar. Assim, tudo acaba bem e já no salão, ao lado de garbosos e uniformizados seguranças, Fellini observa a cena de tantos filmes que já havia dirigido. LUZ, CÂMERA, AÇÃO, ele dá ordem. Enquanto os convidados tomam os lugares, impecáveis garçons começam a circular, com fartos sorri-
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sos. O serviço de bebidas mostra a tradicional cerveja, com preferência a escolher, ao lado de importados e famosos vinhos, com os cobiçados uísques de anos e anos no currículo. Surpresa: um telão instalado ali mostra cenas do casamento na igreja e o que se passa na recepção. Um lance chama a atenção geral: o garçom está curvado, com a mão esquerda às costas; sorrindo oferece, com a mão direita, uma bandeja com finas iguarias a uma senhora “chiquê”; ela recusa, com estranhos trejeitos de corpo, dizendo claramente: Não gosto de passas. O marido, ao lado, saboreando um empanado camarão regado a cerveja alemã, tenta salvá-la: Não são passas, é amora pequena, meu bem”, expondo sua triste ignorância do internacional caviar molossol. O telão vira estrela no ambiente, revelando lances de humor, do fino e inteligente ao popular e ridículo, comparado a comédia burlesca. Alguns exemplos: um rapaz grita no salão, com voz pastosa, dizendo que foi convidado por um amigo do noivo, e toda vez que passa um garçom ele tenta falar: ô cara.... completa o uisquinho aqui pra mim... Todos saem de perto e uma repórter (jornalistas, intelectuais de todo tipo e políticos nunca faltam) sai cambaleando. Coitada, tá bêbada....diz a amiga; Quê nada...é o salto alto que ela nunca usou, fala outra, saindo amparada, com a voz em dois tons e palavras entrecortadas por alguns hic, hic, atravessando a língua pastosa. Com o telão revelando outros lances da inesquecível festa, alguns falando mais e descontraídos, o famoso Fellini dá sua última ordem. Federico Fellini foi um sonho na minha vida. Tudo é pura fita.
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AQUI ENTRE NÓS
A MATEMÁTICA
DA LIBIDO
SYMPHRONIO VEIGA
Um professor de matemática envia para sua esposa um fax com a seguinte mensagem: “Querida esposa, sei que compreendes que agora tens 54 anos, e que eu tenho certas necessidades que já não podes satisfazer. Sou feliz contigo, como minha esposa e, sinceramente, espero que não te sintas magoada ou ofendida ao saber que, quando estiveres lendo este fax, estarei no Big Dick Motel com minha secretária, que tem 18 anos. Mas não te preocupes, que chegarei em casa antes da meia-noite.” Quando o cara chega em casa
vindo do motel encontra a seguinte carta da esposa: “Querido marido, obrigada pelo aviso. Aproveito a oportunidade para lembrar-te que tu também tens 54 anos. Ao mesmo tempo, te comunico que, quando estiveres lendo esta carta, estarei no Motel Happy Dust com meu professor de tênis, que também tem 18 anos. Como és um matemático, poderás compreender facilmente que estamos nas mesmas circunstâncias, mas com uma pequena diferença: 18 entra mais vezes em 54, do que 54 em 18...Portanto, não me espere, porque vou chegar só amanhã!”
- Minha filha, as vizinhas estão dizendo que você está ‘fazendo amor’ com o seu noivo, quando fica sozinha em casa... - Ah, mãe, este povo é muito língua-solta... A gente deita com um qualquer e dizem logo que é o noivo... (PS: Não ocorrido naquela vetusta cidade dos tamanduás: lá, a perseguida só é liberada após a consagração matrimonial)
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Dois caipiras mineiros das terras do Tamanduá no Egito. - Esses bichos de pedra tão dormindo? - Não, aqui tá escrito que esfinge.
EM FAMÍLIA... No Bar Bicota, na Savassi, em BH, um uberabense e um itapecericano discutiam valores familiares, casamento e sexo. O de Uberaba fala: “Eu não fiz sexo com a minha esposa antes de casar. E você?” O de Itapecerica responde: “Não lembro, qual é mesmo o nome da sua esposa?”
ERROS DE IMPRENSA Escrever corretamente com clareza, objetividade e exatidão era a primeira recomendação que se fazia antigamente ao repórter iniciante. Mesmo assim os erros eram comuns. Antes da imprensa informatizada e das escolas de jornalismo, o bisonho “foca” ia aprendendo o trabalho na redação aos poucos. Seguia orientação dos mais experientes, que recomendam em relatos diários fixados em quadro de avisos: Pode parecer pedante ou errado dizer <quando eu vir João darei o recado a ele>. Este é o emprego correto do verbo ver no futuro do subjuntivo. Mas, se o verbo é vir, a coisa muda: “Quando eu vier, se eu vier”. Presta atenção: “a fim de” equivale a para: Veio rápido a fim de me encontrar; afim tem relação com afinidade. Não tenho ‘nada a ver’ com isso, e ‘não haver’ com isso. Toda vez que usar o ‹verbo gostar› tenha cuidado com a ligação que ele tem com a preposição de. Ex:
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a coisa de que mais gosto é passear no parque. A pessoa de que mais gosto é minha mãe. Só use ‘quantia’ para somas em dinheiro. Para o resto, pode usar ‘quantidade’. Veja: Recebi a quantia de 20 mil reais. Era grande a quantidade de animais no meio da pista. Não confunda: “Senão” quer dizer «caso contrário» e “se não” equivale a “se por acaso não”. Chegue cedo, senão eu vou embora. Se não chegar cedo, não me encontrará.
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CARTA DO CANADÁ
MARCELO LUZ
E SEU CARRO SOLAR ARTHUR VIANNA Marcelo da Luz é, entre outros atributos, um inventor e pioneiro brasileiro que vive em Toronto, no Canadá. Em outubro passado, Marcelo foi homenageado em Montreux, na Suíça, durante o evento Pioneiros e Aventureiros da Energia Solar, que contou com a presença do príncipe Albert II de Mônaco. O
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nosso patrício teve o seu nome e o seu legado gravados entre aqueles que, em todo o mundo, se destacaram na luta pela defesa do nosso meio ambiente e na busca de energias alternativas. Marcelo é o projetista e construtor do carro solar XOF1. O nome do veículo é uma abreviação de “The Power of One” (A Força de Um). Atualmente, ele promove palestras e apresentações em escolas, universidades e
O brasileiro Marcelo da Luz e o Príncipe Albert II de Mônaco
empresas sobre sustentabilidade e energias alternativas.
todo o processo, Marcelo manteve aberto o projeto do carro solar, compartilhando informações com equipes universitárias de várias partes do mundo. Como acontece com os carros da Fórmula 1, o XOF1 é um laboratório sobre rodas, uma oportunidade de desenvolver e testar novas tecnologias. O XOF1 tem um banco de baterias que armazena energia do sol e um motor elétrico. Seu teto é revestido de 893 células solares que convertem a luz em eletricidade. O carro é construído com materiais leves, como fibra de vidro, espuma de poliuretano e reforçado com fibra de carbono, pesando cerca de 300 kg. Sua velocidade máxima é de 120 km/h, podendo rodar até 500 km durante o dia ou 200 km à noite. Ele vai de zero a 85 km em 6 segundos. O veículo é equipado com uma microcâmera, em vez de espelho retrovisor, e tem um microdisplay colocado à frente com informações sobre o veículo. O motorista fica na posição horizontal, sendo que o modelo foi moldado para o corpo do Marcelo. “É como alguém me abraçando o tempo todo”, ilustra o inventor.
PARCERIA COM O BRASIL EM BUSCA DE NOVAS TECNOLOGIAS
MUITAS VIAGENS. MUITOS PLANOS PARA O FUTURO
O projeto foi desenvolvido em Toronto com a ajuda de engenheiros brasileiros e canadenses. Do Brasil, uma participação especial da empresa Tresca Engenharia e também a contribuição de alunos da USP. Durante
O XOF1 já esteve em centenas de cidades da América do Norte e Caribe. Em 2008, por exemplo, foi exibido na Times Square, em Nova York, representando o carro do futuro nas comemorações do centenário da Grande
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CARTA DO CANADÁ
Impedido de dirigir o XOF1, Marcelo puxa o seu carro solar por 643 quilômetros Corrida de 1908. Ainda em 2008, Marcelo foi a primeira pessoa a dirigir um veículo elétrico até o Ártico, uma viagem de 46 dias. Em 2010, o carro solar quebrou um novo recorde ao rodar pela estrada de gelo mais longa do planeta, passando pelo congelado rio Mackenzie e pelo oceano Ártico. A província canadense de Ontário, cuja capital é Toronto, é a única região do país que não permite a circulação de um veículo movido a energia solar. Como o carro foi totalmente construído em Toronto, Marcelo da Luz decidiu ir a pé, puxando o seu XOF1, das Cataratas de Niágara (sul do Canadá) até Toronto. E, no ano seguinte, de Toronto até a capital do Canadá, Ottawa, uma caminhada de 28 dias e 503 km. Durante todo o trajeto, Marcelo era incentivado e aplaudido pela população. E, quando chegou ao Parlamento Canadense, foi recebido por políticos de todos os partidos. Segundo ele, “Naquele momento, me esqueci
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de todas as dores mentais e físicas, vendo as expressões nos rostos das pessoas ao longo do caminho, com mensagens de apoio e carinho”. E deixa claro: “O único obstáculo entre você e o seu sonho é você mesmo”. Além das palestras que ministra pelo mundo afora e do site que mantém – www. xof1.com –, Marcelo espera lançar em breve três livros. O primeiro será sobre o sonho, o desafio e a vitória. O segundo, sobre uma viagem sem destino com um carro solar. O terceiro, sobre o desafio do gelo. E mais, após tantas conquistas e recordes, ele revela mais um sonho: atravessar as Américas, saindo de um ponto no Ártico até o extremo sul da América Latina, passando pelos países banhados pelo Pacífico e chegar a Ushuaia, na Terra do Fogo. E depois voltar pelo lado do Atlântico, atravessando a Argentina, o Uruguai e o Brasil. Já no Brasil, ele gostaria de percorrer todo o país, de norte a sul e de leste a oeste.
Com o seu criador, o carro solar na garagem de sua casa em Toronto
CONQUISTAS DO XFO1 Recorde mundial de distância de um carro movido apenas pela energia solar
Primeiro veículo elétrico e primeiro carro solar a cruzar a estrada de gelo mais longa do mundo, trajeto depois repetido
Primeiro carro solar no mundo a operar abaixo de temperaturas congelantes
Primeiro veículo elétrico e primeiro carro solar a chegar ao Círculo Ártico e depois repetir a jornada
Primeiro veículo elétrico e primeiro carro solar no mundo a dirigir em uma estrada de gelo
Motorista solar com mais horas e maior distância percorrida: 38.000 km
Primeiro veículo elétrico e primeiro carro solar a carregar com o poder do sol da meia-noite Primeiro veículo elétrico e totalmente movido a energia solar no mundo
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Primeiro a esquiar sobre o Oceano Ártico puxado por um veículo elétrico e um carro solar: Jim White no XOF1 Recorde mundial de distância de um veículo puxado à mão: 643 km, Marcelo da Luz
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SEM LICENÇA
UMA BOA MÉDIA QUE NÃO SEJA REQUENTADA NÃO ADIANTA COMBATER AS FAKE NEWS. ELAS VIERAM AO MUNDO PELA BOCA DO PRIMEIRO HOMEM, O MENTIROSÍSSIMO ADÃO MÁRCIO FAGUNDES (*) Existe uma campanha mundial contra a falsa notícia. Tem muito a ver com credibilidade, confiança e, principalmente, manipulação. Atrelados aos velhos conceitos, que remetem a uma pretensa inocência, se expõem interesses de toda natureza. A sociedade moderna, em parte, foi tomada pelo sentimento de vestal. Ao contrário da falsa baiana, que quando entra no samba ninguém se incomoda, nesse projeto esquisito todos parecem se engajar. A mídia tradicional entrou de pronto nele. Legisla em causa própria, pois, no fundo, sabe que passado e presente a condenam. Assim, paira no ar uma pre-
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tensa busca pela verdade em tempos de largo espectro tecnológico e economia globalizada. Informação é produto, embora fundamental. Hoje, de facílima acessibilidade. Circula em mercado, gera lucro ou prejuízos. Tem caráter social, pacífico ou bélico.
Objeto estranho visto por Márcio Fagundes da janela do seu apartamento
Pode ser educativa, lúdica. Tudo depende do lado em que se mira o cristal. Instituições, entidades, corporações e veículos de comunicação encamparam uma cruzada a favor da verdade. Substantivo feminino que tem ojeriza a adjetivações. A verdade é única, universal. Não existe a meia. Está
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acima, inclusive, de dogmas religiosos, questionáveis no âmbito da espiritualidade, da metafísica e das sacras divindades. É natural, portanto, que se invoque a mentira nessa polêmica. Esta, sim, se chafurda nas adjetivações. A mentira, contudo, se encontra no âmago da civilização.
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SEM LICENÇA Ela se impôs ao longo dos milênios, tal um freio de arrumação, como boia de salvação, até por questão de sobrevivência da humanidade. Esse ancestral ardil recheado de sutilezas tem lá sua sapiência. Torna-se sedutor para quem escuta. Mágico para quem o profere. A mentira age nos neurônios do subconsciente, mascara a verdade, quase como elemento hipnótico. Desde os primórdios, os hominídeos, então bípedes pensantes, descobriram que movimentos e linguagem são capazes de ludibriar a realidade nas questões de hierarquia, sexualidade e alimentação. O enganoso sugere um estado de espírito. Rica em possibilidades e hipóteses, a mentira tem paixão por incorreções, incertezas, erros, falsidades, numa cumplicidade sem fim. Ela é estapafúrdia. Leva desaforo para casa. Se sente tão encantadora, que se desdobra em versões de múltiplas facetas. Ela regurgita a sua própria dialética, isto é, se sobrepõe a si. A ciência se ampara na verdade, grosso modo. Se exatidão existe, não cabe oposição. Forças que giram nos cosmos, solitárias, independentes, sem a mínima conexão, de repente se agrupam. E brota um Big Bang. A verdade é filha única, sem descendência. A mentira uma família de frondosa árvore genealógica. Desde a infância, a criação se dá em cima da mentira. O Bicho Papão, o Lobo Mau, o Papai Noel, A Bruxa e outros personagens do imaginário são fantasiosos. Todos irão gravitar em torno de nosso inconsciente pelo resto da vida como uma condenação à revelia. A hora pede, no entanto, uma campanha pela diversificação das informações.
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Todas são bem-vindas, sem distinção, inclusive de cunho ideológico, como exige a moda. Melhor confiar na capacidade de discernimento. Esse é um nosso atributo, exercício de livre arbitragem. A persuasão é arte cruel. Todos os dias saem de casa um bobo e um esperto, rege a pauta do ceticismo. E por isso o globo gira... Tão desprovidos de vontade, todos, nos deixamos levar por conveniência ou comodismo. Embora de pouca graça, o mundo adulto sabe o que lhe convém. Por trás desse autoritário jogo de verdade versus mentira, quase um sim versus não, como se a complexidade e peculiaridades não
formatassem a beleza da existência, formata-se um desejo moralista de censura. Não há dúvidas. A verdade, assim como a mentira, não tem donos. Ambas se inseriram na proposta de vida melhor. A insulina é verdade; o açúcar uma mentira. O rico é mentira, o pobre, verdade. Não se deixem levar por essa conversa de Fake News, mais um anglicanismo incorporado. Cada um sabe onde lhe apertam os calos. Não passei procuração a ninguém para que digam a mim o que é falso ou verdadeiro. Sou adulto, maior de idade, sei de minhas limitações. A verdade não
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se torna mentira, caso contrário houve erro de origem. O vice-versa é possível, sem lástimas. O estado, este ente abstrato, que a todos de alguma forma inferniza, adora que repassemos a ele um direito individual. Abocanha-o na maior desfaçatez. Assim, em breve, imporá a todos, como se nos prestasse um imenso favor, o carimbo oficial de que a peça de teatro, a notícia, o cinema, o livro, as relações, a cultura, quiçá, as emoções e até o amor, também são falsos. E isso, definitivamente, eu não vou aceitar. Nunca! (*) Márcio Fagundes Oliveira, 63 anos, é jornalista
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HORA EXTRA
COISAS QUE EU APRENDI NA VIDA COM AS MULHERES SIM, EXISTEM ALGUNS ASPECTOS DO CÉREBRO FEMININO QUE UM HOMEM SÓ PODE REALMENTE COMPREENDER DEPOIS QUE COMPARTILHA UM ESPAÇO CONFINADO COM UMA MULHER 62
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JOÃO PAULO COLTRANE
o ultrapassar os 50 anos de idade, você já viveu muitas experiências com mulheres. Desde a primeira namorada, aquela que você, na maior cara de pau, convidou para conhecer sua coleção de selos, na fétida república em que vivia, no 18º andar do edifício Maletta. Depois vieram outras, até chegar nesta penúltima, contra quem você chamou a polícia para retirar da sua casa. Então, você dispõe de informações úteis para repassar ao seu filho que acaba de completar os 18 anos. Será uma espécie de manual para sobrevivência numa vida a dois e que bem poderia ser um livro de denúncia com o sugestivo título: Como elas Agem. Também conversei, prolongadamente, com muitos amigos na mesa do bar Seu Romão, aqui no bairro Santo Antônio, para que nada de relevante fosse esquecido nesse relato. Enfim, veja o que aprendi.
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VOCÊ TESTEMUNHA OS MAIS ESTRANHOS HÁBITOS ALIMENTARES
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Sanduíches com muito bacon no café da manhã e pizzas à noite para o jantar. Na verdade, estou bastante certo de que a maioria das minhas companheiras femininas nunca cozinhou, mas apenas se alimentou de lixo. E você provavelmente acabou participando.
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O QUE FAZER QUANDO ELA SOME?
Caso ela desapareça, você pode reconstruí-la a partir de partes e objetos íntimos espalhados pela casa. São os cabelos espalhados pelo banheiro, a calcinha pendurada inicialmente na torneira do chuveiro e depois por toda casa (até na árvore de Natal). Sapatos em todo o lugar. E vestidos no seu lado do armário.
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HORA EXTRA 3
CASAR COM UMA MULHER É OPTAR POR VIVER COM NINGUÉM
Você descobre que aquele genuíno interesse em saxofones (citação de detalhes dos instrumentos, comparação de estilos dos grandes músicos e de seus fantásticos solos) era apenas pretexto para agarrar um amador. Amador na música e na vida. Depois que assumiu a metade da sua cama, lá está ela reclamando do barulho do seu instrumento, que a impede de conversar com amigas ao telefone ou de ver as intermináveis novelas na televisão, que se arrastam até as 22 horas, quando se inicia a hora do silêncio no prédio.
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NUNCA UMA MULHER LHE DIRÁ ONDE É O PONTO G
Mas ele existe. A única trilha é continuar fuçando até encontrá-lo.
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QUERIDINHO DA MAMÃE, NUNCA
As mulheres apreciam os homens que amam e respeitam sua própria mãe. Mas os garotos que são filhos da mamãe são tão atraente quanto eunucos e muito mais irritantes. Outra coisa: nem todas querem casamento e filhos. Algumas desejam apenas orgasmos. E mais: elas nem sempre querem que você abandone sua esposa para ficar com ela.
COMO É O NOME DELA?
Ao dizer o nome da sua namorada durante o sexo e luzes apagadas, você deve ter a certeza de que é com ela
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que você está na cama. É bom também memorizar a cor dos olhos delas. Há registro de mulheres que perguntaram a cor dos olhos delas, depois que as luzes se apagaram.
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COMO LEMBRAR QUE VOCÊ VIVE COM UMA MULHER - Acontece que em
determinados momentos você se esquece que vive com uma mulher – e no geral isso acontece em situações muito inconvenientes. Você levanta de manhã meio zonzo e vai aos banheiros e a vê fazendo xixi com porta aberta e sentada no vaso, na maior naturalidade. Em outro momento, lá está ela raspando a perna com seu barbeador. Ou, simplesmente, aproveitando que você está ali, pede que lhe que esprema algumas espinhas em partes íntimas do corpo. O consolo é que, depois de um tempo, você para de se importar com as cenas.
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QUE JOGO É ESTE?
Campeonato Brasileiro você joga com sua esposa. Com a mulher que você sai pela primeira vez, você disputa a Copa Brasil. É mata-mata. Se o placar for adverso na primeira partida, nem terá chance da segunda.
TUDO É DITO NUM SORRISO
Quando é bom ouvir risos dela: quando você está contando piadas. Quando é péssimo ouvir os risos dela: quando você está se despindo no motel.
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PALAVRA DO LEITOR
SERÁ UM ERRO EXTINGUIR O BDMG, DIZ ABÍLIO DOS SANTOS EX-PRESIDENTE É CONTRA O ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DO BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS Publicamos, na edição de novembro, informação liberada por membro da comissão de transição da administração estadual, que o governador Romeu Zema pretende privatizar ou extinguir várias empresas estatais, entre elas o BDMG A esse respeito se manifestou o ex-presidente da instituição, Abílio dos Santos por meio da mensagem que resumimos, abaixo. Senhores, Caso o governo pretenda recuperar a economia de Minas Gerais, ele jamais poderá abrir mão da fantástica máquina de desenvolvimento chamada BDMG. São 56 anos de experiência. Reconheço que, no momento, o banco não funciona bem. Quando fui presidente da instituição financeira, de 1975 a 1979, a média anual de liberações foi de US$ 2,8 bilhões. Hoje, o volume é de apenas US$ 600 milhões, menos de um quarto do que era registrado naquela época. Dá para consertar, desde que seja administrado por pessoas com um mínimo de competência. Extingui-lo seria um erro clamoroso. Realmente, não foram muitas as grandes empresas atraídas nos últimos quatro
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anos para Minas. Mas o conteúdo tecnológico hoje pode ser mais importante que o tamanho. Surge, então a indagação: diante do desempenho atual, o BDMG se justifica? Deve ser considerado: A) O nosso modelo operacional da década de 70 e do início da de 80, combinava a atuação de um banco estatal de fomento com uma notável organização de apoio técnico. Estou me referindo, em especial, ao INDI, cuja implantação eu tive a honra de coordenar, com o apoio da superempresa de consultoria Arthur D. Little. O propósito era promover a atração de investimentos externos. O modelo foi inquestionavelmente vitorioso, reconhecido internacionalmente e, sem qualquer dúvida, o principal responsável pela arrancada da economia de Minas naquela época. Houve crescimento recorde, e dificilmente superável, do PIB estadual. B) No meu entendimento, nos tempos atuais, tal modelo permanece válido, com as necessárias adaptações. C) Lembramos que deve haver gestão, gestão e gestão. Multiplicada por 10 elevada à potência 79 (como dizia Edmundo
Menezes Dantas, meu super-professor na Escola de Engenharia da UFMG). D) Também é importantíssima a atuação eficaz dos demais órgãos do Estado e das prefeituras, no que se refere à infraestrutura, à educação e à modernização da burocracia. A nossa administração pública é considerada uma das piores do Brasil. E) Estudo recente, elaborado pela Mackinsey, uma das maiores consultorias do mundo, revela que Minas Gerais, nos últimos 10 anos, vem sistematicamente, perdendo produtividade e competitividade diante dos demais estados da União. Portanto, se o BDMG não apresenta bom desempenho atualmente, a solução não é a sua extinção, mas a adoção de medidas para que sua gestão se torne moderna, competente, eficiente e eficaz. Leio frequentemente que um dos eixos principais do governo Bolsonaro,
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será a descentralização administrativa, que pode ser resumida na frase “Menos Brasília, mais Brasil”. Isso significa, no caso específico, que o BNDES terá, também, de descentralizar a aplicação de seus recursos. E adivinhem qual o único estado brasileiro que tem um banco de fomento de porte, com 56 anos de experiência na promoção de investimento, e com uma instituição com habilidade no comércio exterior (o INDI)? Está tudo pronto para ser readequado e dinamizado. Trata-se de vantagem gigantesca na guerra para a atração de empreendimentos. Finalmente é bom ter em conta que o BDMG jamais dependeu do aporte de recursos do Tesouro Estadual para promover aumentos de capital. A sua extinção agora seria extremamente complexa dos pontos de vista jurídico e operacional. Além disso, haveria necessidade da busca de vultosos recursos financeiros do Tesouro Estadual, para realização da operação. Esses recursos simplesmente não existem. Nós, liberais de democratas, somos favoráveis a um poder executivo extraforte do ponto de vista financeiro, supercompetente e ultra mínimo. A tradução para este último conceito é: não manter uma única empresa estatal. Mas tudo no seu devido tempo. A Cemig, por exemplo, já foi uma espécie de banco de fomento (via energia elétrica). Fundamental. E continuará assim sendo. Mas, agora, poderia ser privatizada, desde que de forma competente. A venda ou extinção do BDMG terá que aguardar algumas décadas. Peço paciência. Com um cordial abraço, ABÍLIO DOS SANTOS – BH-MG
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AS GAROTAS BEM COMPORTADAS VÃO PARA O CÉU. AS VAGABUNDAS SE TORNAM PRINCESAS É FALSA A IDEIA DE QUE AS GAROTAS DEVASSAS SERÃO PUNIDAS PELOS SEUS PECADOS. SÓ SE FOR NO JUÍZO FINAL Em recente edição, um leitor se queixou da ausência de reportagens e artigos sobre cultura nas páginas de MatériaPrima, embora esse tema faça parte da logomarca da revista. E aproveitou para apresentar a resenha do filme Pretty woman (Uma linda mulher), que completa 28 anos desde que foi às telas pela primeira vez. Para os que não tiverem a divertida oportunidade de ver a película, Pretty Woman é protagonizado por duas pessoas: uma exerce uma atividade profissional moralmente duvidosa; a outra é uma prostituta. No entanto, a prostituta sofre maior discriminação social do que o empresário que ganha a vida fechando empresas e despedindo pessoas. A resenha é deliciosa, mas aquele leitor poderia ter registrado que no caso, mais uma vez a vida imita a arte. Estou me referindo ao casamento do príncipe sueco Karl Philip, 35, com a prostituta e atriz pornô Sylvia Hellqvist, 30. Os vídeos pornôs, que se pode comprar em qualquer esquina da cidade, mostram o que Sylvia é capaz de realizar na cama ou no palco. Ela não deixa de atender as
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mais delirantes fantasias dos mais degenerados homens e mulheres do planeta. Sim, mas ela é maravilhosa com seus olhos deslumbrantemente azuis e o corpo esculpido certamente por Michelangelo. O Príncipe Karl, terceiro na linha de sucessão do trono sueco, e a pornô-atriz se conheceram há alguns anos numa discoteca de Estocolmo (onde mais poderia ter sido?). Imediatamente Sua Alteza se apaixonou por aquele pedaço de mau caminho. Claro que os pais do noivo não ficaram felizes quando souberam do emocionante passado da nora. Mas ela garantiu aos sogros que deixou para trás toda a sua experiência. Em
uma recente entrevista ela disse: “Eu não me arrependo do que fiz, mas não pretendo fazê-lo novamente”. A cerimônia de casamento, que foi antecedida por tiros de canhão e desfile de cavalos brancos, teve lugar dentro da Capela Real de Estocolmo. Em seguida, os noivos deram início (?) à lua de mel no palácio Drottningholm. Desde que abandonou o seu passado, a princesa que foi prostituta, tem promovido o voluntariado e é madrinha de instituições de caridade. Como no cinema, a história terá um final feliz. O conto de fadas realmente existe na vida real. LEO GOMES / BH-MG
À direita, a princesa sueca À esquerda, uma vagabunda sueca
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PALAVRA DO LEITOR
RECEITA PARA AMAR A VIDA A revista tem publicado muitos comentários, artigos e cartas de leitores sobre o comportamento das pessoas no trabalho. Mas eles serão mais felizes em 2019 se adotarem um comportamento positivo em todos os momentos da vida e não apenas no trabalho. Para mim, são os seguintes: Jogue fora todos os números não essenciais para a sua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixe o médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago! Frequente, de preferência, seus amigos alegres. Os “baixos-astrais” puxam mesmo você para baixo. Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer! Curta coisas simples. Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego! Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é VOCÊ mesmo. Esteja VIVO enquanto você viver! Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um
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hobby, o que for... Seu lar é o seu refúgio! Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda. Não faça viagens de remorsos. Viaje para o shopping, para uma cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faça viagens negativas ao passado. Àqueles que você ama, diga sempre que você realmente os ama em todas as oportunidades. E, lembre-se sempre que a vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego de tanto rir ... rir de surpresa, de êxtase, de felicidade! Tudo isso pode parecer autoajuda. E é mesmo. Mas você será feliz no seu trabalho, se seguir essas regras tão simples. SELMA ROMANO / BH-MG
OS MINEIROS NÃO TÊM BANCOS, MAS TÊM COLCHÕES Num curtíssimo prazo perdemos o Banco Rural, que foi extinto e mais os bancos Bonsucesso e BMG que foram abocanhados por banqueiros paulistanos. Então pergunto: o que faremos com nosso amado dinheirinho? O melhor método, e o mais seguro, parece ser o mais antigo: guardar o dinheiro no colchão. O meu colchão tem várias vantagens. A primeira é que sou eu quem lhe faz a supervisão, e tenho mais tempo para lhe dar atenção do que o Banco Central. Todos os dias, verifico se o meu colchão abriu offshores nas ilhas Caiman, ou se perdeu milhões em ações da Petrobras ou nas empresas de
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Eike. Ou se pretende entrar numa fria, comprando a editora Abril e suas revistas decadentes. Até agora, nada. Tem sido um bom colchão, não só na gestão dos meus ativos como a proporcionar suporte lombar o que os bancos, aliás, sempre negligenciaram. A segunda vantagem é o rigor e a estabilidade que o colchão me proporciona. Todos os dias saem novas e devastadoras notícias sobre a JBS, aquele enorme açougue do Joesley. Mas a família Ortocrim mantém o recato e a discrição próprias dos grandes banqueiros de antigamente. LAURO ESTEVES / BH-MG
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LIÇÕES DA VIDA
O QUE APRENDEMOS
EM 2018
(A CADA ANO APRENDEMOS MUITAS COISAS)
O ANO ESTÁ ACABANDO E, AO CONTRÁRIO DO QUE IMAGINÁVAMOS, FALTA POUCO PARA SOBREVIVERMOS A ELE. MAS NÃO ESTÁ SENDO FÁCIL, DIANTE DE TANTAS TURBULÊNCIAS QUE ATRAVESSARAM À NOSSA FRENTE DA REDAÇÃO Todos nós aprendemos alguma coisa a cada dia. A direção da revista MatériaPrima não quer ser a única a opinar em seus editoriais. Reunimos nossa equipe de profissionais para saber o que 2018 nos ensinou, neste ano meio bizarro, no qual uma greve de caminhoneiros quase destruiu o país. Será que foi um ano perdido? Certamente que não. Quase todos preferiram oferecer depoimentos filosóficos e existenciais. Houve muitas citações de frases de autores cujos nomes não se recordam. É compreensível depois da imensa intolerância que marcou campanha presidencial e
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que resultou num atentado contra o candidato que venceu a competição. A censura se tornou quase tão grave quanto no período da ditadura militar, pois a qualquer opinião você é acusado de ser coxinha ou mortadela. A maioria reconhece que o país caminha bem, cercado de países que tropeçam pela estrada. O brasileiro, e mais especificamente o mineiro, tem na alma a eterna esperança dos dias ainda melhores. Alguns se regozijam com coisas bem simples, como o nascimento de um filho. Outros, mais ecléticos, aprofundam nos temas, numa visão filosófica e mundial.Veja abaixo que a nossa equipe registrou.
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sobre todas as coisas, sem nenhuma moderação. Será que tudo é possível escrever sem qualquer espécie de equilíbrio, em nome do princípio de que todas as pessoas têm o direito à palavra?
A preguiça não é mais do que o hábito de descansar antes de ficar cansado. A melhor maneira de admirarmos uma pessoa é não a conhecermos. Não compreendo porque os jornais moderam os comentários quando, logo a abaixo, os leitores escrevem
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Quando alguma coisa começa a dar lucro no Brasil, surgem logo uns “especialistas” arremessando
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LIÇÕES DA VIDA
2018 2019 ataques contra a coisa. Seja ela que coisa for, se dá dinheiro há que regulamentar, intervir, estudar, nomear comitês e comissões, enfim, estragar. Já dizia Reagan: “Se se mexe, taxa; se se continua a mexer, regulamenta; se para, subsidia”.
Nunca deixes que alguém te diga o que podes ou não podes fazer. Tens de proteger o teu sonho.
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Algumas pessoas só começam a acreditar nelas quando os outros começam a acreditar.
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Seja decidido: faça ou desista, mas nunca apenas tente.
Aquilo que fazemos no presente
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Ninguém esquece a verdade, apenas aprende a mentir melhor.
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Todos os homens morrem, mas
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É muito bom trabalhar com
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As lojas não são amáveis com as pessoas. São amáveis com os cartões de crédito.
Os grandes homens não nascem grandes. Crescem grandes.
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nem todos vivem.
computadores. Eles não discutem, se lembram de tudo e não bebem
Ri e o mundo inteiro ri contigo. Chore e estarás sozinho. Parte da imprensa mundial e, especialmente, a brasileira, só quer ver o mundo pegar fogo.
ecoa para a eternidade.
sua cerveja.
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Quando alguém diz que o livro escrito por ele ou o filme que ele fez é colocar os leitores para pensar, está dizendo de forma arrogante que é “para aprender a pensar como ele pensa”.