ZEMA COMEÇA O
BOTA-ABAIXO
O GOVERNADOR JÁ DEMITIU SEIS MIL SERVIDORES E ANUNCIOU QUE VAI EXONERAR MAIS 20 MIL: ESPIÕES DO GOVERNO OBSERVAM QUEM NÃO TRABALHA DIREITO A FAZEM LISTA DOS INDESEJÁVEIS. A PALAVRA DE ORDEM É PRIVATIZAR E EXTINGUIR ÓRGÃOS, AUTARQUIAS E EMPRESAS ESTATAIS CONSIDERADAS INÚTEIS E A LISTA NÃO É PEQUENA
“NÃO SUPORTO O SUCESSO DE ALGUNS COLEGAS”. O QUE FAZER PARA ME LIVRAR DESSA INVEJA? l PÁGINA 20
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NOMES & NOTAS
A CONDIÇÃO HUMANA
CUBA JÁ DEU UM BEIÇO DE US$11 BILHÕES EM ATRASOS NA DÍVIDA COM BNDES
SEMANÁRIO PAMPULHA É MAIS UM JORNAL QUE DESAPARECE EM BELO HORIZONTE
CONFESSE: VOCÊ TAMBÉM MORRE DE ALEGRIA COM O FRACASSO DE COLEGAS?
Nosso colaborador Aristóteles Atheniense, renomado advogado com militância em comércio internacional, fez as contas e constatou que o governo cubano já deixou de pagar uma grana de sua dívida com o BNDES. E o calote tende a aumentar.
Depois de ser impresso sem interrupções durante 22 anos, o Pampulha, cuja tiragem chegou a 100 mil exemplares, deixa de circular. A causa provável é a de sempre: declínio do número de anunciante, causado pela concorrência da internet.
Não se considere o pior dos seres humanos quando você se mostra alegre com o insucesso dos outros. O gesto não passa de uma forma de medir seu valor pessoal em relação aos seus concorrentes: aqueles que fazem parte do seu círculo.
ÍNDICE JANEIRO DE 2019 - MATERIAPRIMA.COM.BR
COLUNAS E ARTIGOS
OPINIÃO
ANO X • Nº 108 • JANEIRO DE 2019
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OPINIÃO - VALÉRIO FABRIS OPINIÃO - ROMERSON CANGUSSU CONVERSA COM OS LEITORES CARTA DO SERTÃO PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS CURVAS DA VIDA SEM LICENÇA HORA EXTRA AQUI ENTRE NÓS CARTA DE PORTUGAL CARTA DO CANADÁ PALAVRA DO LEITOR
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REPORTAGEM DE CAPA
CARTA DO PLANALTO
SPECULATION NEWS
ZEMA BOTA ABAIXO DESPESAS COM DEMISSÃO DE SERVIDORES E VENDA DE EMPRESAS ESTATAIS
CHINESES E ÁRABES REAGEM ÀS HOSTILIDADES DO ITAMARATI, COM PREJUÍZOS A MINAS GERAIS
ZEMA PROMETE SUBSTITUIR SUA FOTO OFICIAL POR UMA SELFIE
Novo governador demite seis mil servidores, anuncia o corte de mais 20 mil ao longo do mandato e promete privatizar ou simplesmente extinguir empresas estatais: Cemig, BDMG, TV Minas e Rádio Inconfidência estão diante da guilhotina.
Empresas mineiras perderão muito se Bolsonaro continuar hostilizando a China, a maior importadora do nosso minério e cliente do agronegócio. Optar pelos israelenses também assusta os árabes, compradores de nossos frangos e soja.
Como a notícia tem cara de fake news, foi parar na seção de humor: o governador, obcecado por economizar cada tostão na máquina estatal, substituirá as fotos nas paredes das secretarias e autarquias por uma que fará do seu celular.
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EXPEDIENTE Márcio Rubens Prado (IN MEMORIAM)
DIRETOR RESPONSÁVEL E EDITOR GERAL: Durval Guimarães
31 2534-0600 MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR durvalcg@yahoo.com.br
EDITOR DE TEXTO: Carlos Alenquer PROGRAMAÇÃO VISUAL: Hudson Franco
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COLABORADORES: Aristoteles Atheniense, Valério Fabris, Romerson Cangussu, Marina Gonçalves, Orion Teixeira, Tiãozito, Itamar de Oliveira, Alcindo Ribeiro, Márcio Fagundes, José Antônio Severo, Symphronio Veiga, Eliane Machado, Arthur Vianna IMAGENS: Creative Commons OCO
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Rua Canopus, 11 • Sala 5 • São Bento • CEP 30360-112 • Belo Horizonte • MG
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UM CALOTE SEM SOLUÇÃO ARISTOTELES ATHENIENSE, ADVOGADO, CONSELHEIRO NATO DA OAB E DIRETOR DO IAB. Entre as temerárias benesses feitas a nações insolventes, merece destaque as obtidas por Cuba, tendo como pretexto estimular a atuação de empresas brasileiras naquele país. A maior parte dessas concessões foi destinada ao financiamento das obras do Porto de Mariel, cuja modernização ficou a cargo da Odebrecht. O BNDES empres-
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tou US$ 682 milhões (R$ 2,6 bilhões pelo câmbio atual), retirados do cofre do Tesouro para pagamento em parcelas até 2034. Vencidas as primeiras, sem que houvesse pagamento, Cuba desculpou-se alegando prejuízos sofridos com o furacão que atingiu seu território. Em julho e agosto, venceram novos compromissos (US$ 11,4 bilhões), tendo o BNDES promovido a ida de uma comitiva a Havana, visando encontrar uma saída para o impasse existente. O governo castrista prometeu enviar
proposta de reescalonamento do débito, o que ainda não ocorreu. No início de dezembro, o Itamaraty insistiu na obtenção de uma resposta concreta em relação à pendência, devido à proximidade de transição entre o governo Temer e o de Bolsonaro. Além desse débito, Cuba encontra-se em atraso com o Banco do Brasil em mais R$ 200 milhões, decorrente da linha de financiamento destinada a exportação de alimentos. A Venezuela, principal parceiro de Cuba, reduziu importante fluxo de divisas, através da venda de Petróleo abaixo do preço de mercado, em razão da grave crise que atinge o governo de Nicolás Ma-
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duro. Os recursos desviados para Cuba resultaram da política de aproximação do Brasil com países latino-americanos e africanos. Foram remanejados de outras áreas do Estado (saúde, educação e transporte), deixando o Tesouro sem a menor possibilidade de recuperação. O ministro do planejamento, Paulo Guedes, terá imensa dificuldade em encontrar uma solução, também, pela via diplomática. O novo chanceler, Ernesto Araújo, é avesso a qualquer entendimento com países esquerdistas, pretendendo imprimir ao Itamaraty uma filiação ideológica ligada a Donald Trump. Quem arcará com o prejuízo?
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OS BARES E A CIVILIDADE URBANA VALÉRIO FABRIS O sociólogo Richard Sennett tem razão. O Villlage não é mais aquele descrito por Jane Jacobs nos anos 1950/60. Ela via os habitantes do bairro nova-iorquino tão próximos uns dos outros que chegavam a ser quase fundidos entre si. Jane Jacobs era jornalista. A paixão que nutria pela cidade viva e pulsante converteu-a na autora do livro que se tornou referência para os urbanistas do mundo inteiro. A sua narrativa do Village é o sonho que qualquer gestor urbano, digno deste nome, quer realizar. Do dinamarquês Jan Gehl ao colombiano Enrique Peñalosa, do espanhol Oriol Bohigas ao brasileiro Jaime Lerner, todas as estrelas do urbanismo mundial têm na cabeceira o canônico The Death and Life of Great American Cities – ou Morte e Vida das Grandes Cidades, segundo a edição da Martins Fontes. Jane Jacobs escreveu o que muitos até então podiam vagamente sentir e, portanto, não conseguiam exprimir. Ela trouxe à tona o inconsciente, o ego e o superego de um Village que sintetiza a escala humana, a cidade caminhável, a vigilância espontânea do olhar dos passantes. Cada um dos milhões dos bares, pelo mundo afora, deveria ter um pôster dela. Sim, essa jornalista e escritora situa os bares como estruturantes da cidade saudá-
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vel, essenciais que são à civilidade urbana. Mas, afinal de contas, qual é o senão de Richard Sennett à Village de hoje? Para ele, não há mais a simbiose humana propiciada por elos de convivência entre moradores de um mesmo bairro. “O individualismo moderno sedimentou o silêncio dos cidadãos da cidade. A rua, o café, os magazines, o trem, o ônibus e o metrô são lugares para se passar a vista, mais do que cenários destinados a conversações”. Sennett tem razão, mas em parte. O Village ficou globalmente tão cosmopolita que seus bares e restaurantes perderam a tonalidade local. Hoje, há gente de todas as cores e nacionalidades morando ou passeando lá. Junto com o SoHo, é uma espécie de Paris incrustada na parte sul da ilha de Manhattan. Cabe aqui abrir parênteses para mencionar a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford sobre a função social dos pubs na Inglaterra e no Reino Unido, que foi tema de capa da Bares & Restaurantes. A pesquisa evidencia que os pubs das áreas centrais das cidades britânicas são impessoais. A clientela é constituída por silenciosos transeuntes. Já os pubs dos bairros são frequentados por “habitués”. Quer dizer, por conversadores.
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Os pubs dos bairros da Oxford de hoje, por exemplo, ainda têm muito a ver com os bares do Village de ontem. Mesmo com o aludido silêncio dos cidadãos que se cruzam nas calçadas ou que se sentam nas banquetas dos longos balcões das choperias, Sennett encontra muito mais virtude nas calçadas e nos ambientes repletos de gente silenciosa do que nos locais em que não há a coexistência de moradias e comércio de rua. Ainda que as pessoas não mantenham conversações entre si, o visual da mescla humana por si só é suficiente para fazer brotar e florescer, nos corações e mentes, o sentimento da tolerância mútua. A cotidiana visualidade do ballet das calçadas, bem como a proximidade física entre os frequentadores de bares e restaurantes, é infinitamente melhor do que os congraçamentos episódicos, propiciados por viradas culturais ou por datadas manifestações cívicas. O cotidiano é insubstituível. As relações humanas e a tolerância coletiva não se tecem em circunstanciais celebrações coletivas, que produzem um brilho intenso e fugaz, como os relâmpagos. Jane Jacobs é imortal. O dia a dia dos bares é que mantém acesa a civilidade urbana.
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FELIZ ANO NOVO! O BRASIL É UM GIGANTE COM MUITAS POSSIBILIDADE. O PAÍS É RICO E O POVO É TRABALHADOR ROMERSON CANGUSSU PASTOR EVANGÉLICO E SUPERINTENDENTE DA IGREJA DO NAZARENO EM MINAS GERAIS. Nos últimos dois anos o nosso país mergulhou num turbilhão político. Mergulhamos e ficamos como quem estava debaixo d’água, sem saber direito aonde isso iria dar. Passadas as eleições – as mais fervorosas eleições da nossa história - temos a certeza de que a luz está logo à frente. Mais um pouco, subiremos à tona para respirar. Nós elegemos o povo. Essa foi a eleição de nós mesmos. Nosso futuro em nossas mãos. Não mais nas mãos de velhos caciques políticos. Demitimos um monte de gente incompetente e corrupta dos mais diversos partidos. Os currais eleitorais estão sendo desmontados. Essa é a redenção política do povo brasileiro. Ainda falta muito, mas tudo indica que o povo se levantou definitivamente. A esperança de que teremos um Ano Novo e melhor está viva até mesmo dentro de quem não consegui eleger seus prediletos. O novo sempre cria alguma expectativa. Isso é como aquele colecio-
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nar que morre de paixão pelo seu velho fusca. Contudo, não vai querer fechar os olhos para as novidades que a Volkswagen lançará no próximo ano. Quem não gosta de novidades? Ao fazer tal comparação, não pretendo ser injusto com o velho e saudoso Fusca. Com certeza, a maioria dos eleitores não sentirá saudades da velha política. Nosso futuro é promissor. Nossa capacidade de superação é indiscutível. Para isso, precisamos navegar em novas águas. Necessitamos conhecer novos cursos de rios. O país é grande e rico. E o seu povo parece ter, de uma vez por todas, tomado a direção de seu destino. Agora é fé em Deus e pena tábua, como diziam os antigos. Com certeza o ano que chegou trará boas notícias. Nós precisamos e nosso povo merece. E Deus é bom Como diz o velho e bom cântico: “Solta o cabo da nau, toma os remos na mão e navega com fé...” Uma atitude positiva quanto ao futuro ajuda muito. Seja otimista e ande com quem tem fé e esperança no coração. Confia em Deus e seja feliz. Feliz 2019
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CONVERSA COM OS LEITORES
O MÁRIO RIBEIRO NÃO MUDOU DE ENDEREÇO. CONTINUA MORANDO EM NOSSOS CORAÇÕES Janeiro é um mês de alegrias e esperanças. Mas também tem sido muito duro aqui na redação de MatériaPrima. Há cinco anos, perdemos nosso editor de texto, o inesquecível jornalista e escritor Márcio Rubens Prado, sempre insubstituível em nossos corações. Agora uma nova perda dilacera a alma da equipe: um enfarte retirou Mário Ribeiro do nosso convívio, das nossas conversas. Queremos informar, porém, que ambos continuam eternos em nossos corações e em nossa revista. O Márcio é a figura principal do nosso expediente, o maestro que nos conduz lá de cima. E o Mário Ribeiro continuará publicando suas crônicas em suas páginas exclusivas, merecidamente batizadas de “Espaço Mário Ribeiro”. São textos impecáveis, publicados em livros, coletâneas e em artigos impressos em muitos jornais. Literatura pura. Sobre o Márcio, muito já falamos e continuaremos a falar, sempre que a saudade ultrapassar a borda desses cálices que nos são oferecidos sem solicitação. Agora queremos lembrar do Mário, nossa perda mais recente. O EDITOR
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O REAL E
MÁRIO RIBEIRO Ainda repercute em nossas memórias o livro Cem anos de solidão, do autor colombiano Gabriel García Márquez, que usou a técnica do realismo fantástico para narrar uma história fora do convencional. A história vem à memória diante de tantas realidades fantásticas do mundo, para não citar a chuva que cai inclemente em nossas cabeças nesses dias, como na Macondo de García Márquez. A adoração e o uso dos aparelhos celulares no nosso dia a dia, por
E O FANTÁSTICO
exemplo, mais do que prestar serviços importantes de informação, tornou-se vício comum para quem não o tira das vistas e das mãos. Nos filmes de faroeste que já não existem, sacava-se o revólver da cintura sem quê nem porquê. Hoje sacamos o celular de forma instintiva, para não dizer “desesperada”. Com razão, porque afinal ali tudo se encontra, mesmo o que não se queira, mas que acaba atraindo a nossa atenção. Cem anos de solidão nos emocionava pelo inusitado, o fantástico e a criatividade do autor em criar situações
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mágicas. O celular, com toda variedade de serviços que oferece, deixou de ser fantasia para se tornar recurso moderno às nossas mãos, como nunca antes nesse mundo. Também ele é fantástico pela utilidade ou vazio das conversas de quem se deixa levar ao infinito em buscas e comunicação. Certamente, mais serviços serão desenvolvidos nos celulares, como cibernética ou questões de física quântica. Tudo passa, mas a história fantástica de Gabriel García Márquez não.
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NOMES&NOTAS
ROMEU ZEMA INAUGURA OBRA QUE CRIA 500 NOVOS EMPREGOS NA RMBH DURVAL GUIMARÃES Após dominar o noticiário da imprensa como autor de mais de seis mil demissões de servidores públicos e prometer outras vinte mil exonerações no correr do seu mandato, o governador Romeu Zema presidiu na sexta feira, 18 de janeiro, uma solenidade que abriu 500 novas vagas, imediatamente, para trabalhadores da região metropolitana de Betim. Foi a inauguração do quarto hospital da Rede Mater Dei, localizado numa, extensa avenida que interliga os município de Betim e Contagem. O investimento no hospital é integralmente privado e alcançou $260 milhões. Quando estiver totalmente em operação, dentro de poucos meses, o número de empregados subirá para mais de 2.300 funcionários, que serão recrutados basicamente naqueles dois municípios. A informação foi divulgada pelo presidente da Rede Mater Dei, Dr. Henrique Salvador, para um público de mais de mil convidados. Também participaram do evento os prefeitos de Belo Horizonte, Alexandre Kalil; de Betim, Vitorio Medioli e de Contagem, Alex Freitas. O governador Zema compareceu ao evento trajando a roupa
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que o tornou conhecido dos mineiros: camisa esporte de mangas compridas, cuidadosamente dobradas até os cotovelos. Em sua breve fala, disse que sempre teria o prazer de comparecer a eventos que resultassem na criação de empregos para a população. O hospital começou a funcionar no dia seguinte, com capacidade para atender a 1.500 pessoas em seu pronto socorro, diariamente, além de dispor de quase 400 apartamentos para internações.
RUBENS MENIN COMUNICA A BOLSONARO QUE INGRESSOU NO JORNALISMO Os quase mil convidados que participaram na manhã de sexta-feira, 18 de janeiro, da inauguração do quarto hospital da Rede Mater Dei, localizado numa avenida que liga os municípios de Betim e Contagem, ficaram surpresos com a mobilidade do industrial Rubens Menin, proprietário da construtora MRV Engenharia.
Rubens Menin foi ao Palácio do Planalto comunicar sua nova atividade ao presidente Bolsonaro
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Às 10h30, no palco, ele saudou o amigo e médico José Salvador Silva, fundador da Rede Mater Dei, a quem fez muitos elogios pela coragem e determinação em realizar uma medicina de grande qualidade em Minas Gerais. Em seguida, na companhia do governador Romeu Zema, do anfitrião e dos prefeitos de Belo Horizonte, de Betim e de Contagem percorreu os dez andares do moderníssimo hospital que entrou em operação no dia seguinte. Às 11h30 se despediu, como se estivesse indo para o seu escritório no bairro Buritis. No entanto, às 15 horas, o Palácio do Planalto liberou uma foto de Menin ao lado do presidente Jair Bolsonaro, a quem foi comunicar a pessoalmente aquisição dos direitos de uso, no Brasil, do conteúdo da TV CNN, dos Estados Unidos. O negócio foi fechado horas antes, em Nova York. Ainda na festa de inauguração ele foi provocado por jornalistas presentes, mas nada quis declarar sobre a aquisição, sequer que embarcaria no seu jato privado para Brasília, minutos depois. A aquisição da CNN por Menin deixa muitas indagações. Mas também uma certeza: ele é empresário de grande sucesso e jamais iria se aventurar em jornalismo se o assunto ainda não rendesse bons negócios. (DG)
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NOMES&NOTAS NOMES&NOTAS
SEMANÁRIO PAMPULHA É MAIS UM JORNAL QUE DESAPARECE EM BELO HORIZONTE Desde domingo, 13 de janeiro, o semanário Pampulha, de Belo Horizonte, que já teve mais de cem mil exemplares em cada edição, deixou de circular e se transformou num encarte dominical do jornal diário O Tempo. A informação foi divulgada por Alessandra Soares, gerente comercial de O Tempo em sua coluna nesta publicação. Ambos os jornais – o semanário e o diário – fazem parte de uma cadeia de publicações de propriedade do industrial Vitório Medioli. O semanário era distribuído gratuitamente havia 22 anos, nos fins de semana, na região sul de Belo Horizonte mas já apresentava dificuldades havia alguns meses, quando deixou de ser entregue de casa em casa. Além dos dois jornais, Medioli é proprietário dos semanários O Tempo de Betim, o Tempo de Contagem e do diário Super Notícias, dedicado a informações sobre esporte, sexo e crime. Este jornal detém a maior circulação no país. Também faz parte do grupo a Rádio Super, inaugurada há dois anos. Segundo a gerente comercial,
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o encarte de O Tempo trará novas seções, como a dedicada à cultura cervejeira, a página voltada aos cuidados com a saúde e bem estar dos bichos de estimação e uma editoria sobre decoração residencial. Com o encerramento de suas atividades, o semanário Pampulha se torna mais uma vítima da crise econômica que atinge jornais e revista de todo o mundo. Desde o advento da Internet e da ampla divulgação de notícias em computadores e telefones celulares, os leitores desistiram de se informar por meio de veículos impressos em papel. Muitas bancas de jornais em Belo Horizonte desistiram de vender jornais e revistas. Há duas semanas, a editora Abril vendeu todas as suas publicações, incluindo a Veja e Exame, num negócio em que o comprador obteve 92% de desconto sobre o valor solicitado pela família Civita. Em Belo Horizonte, onde a crise não é menor, os jornais enfrentam dificuldades hercúleas para pagar salário e recentemente o jornal Diário do Comércio enfrentou uma greve de jornalistas durante três dias.
ONZE COISAS QUE OS JORNALISTAS DE MATÉRIAPRIMA APRENDERAM EM 2018 A equipe de MatériaPrima relaciona, também em dezembro, as coisas mais importantes que aprenderam no corrente ano. A outra, como dissemos na nota anterior, é a consagração da palavra que mais repercutiu naqueles12 meses. Às vezes aprendemos coisas importantes; outras são simples curiosidades. Veja a relação:
1 Não é só a grama do vizinho que é
repórter que, há dois meses, um ladrão roubou o cartão de crédito da sua mulher. Não fez queixa na polícia, nem fará. O ladrão está gastando menos que ela.
mais bonita que a sua. A mulher dele também.
2 Não há nada tão ruim que não possa piorar
3 O uísque escocês às vezes custa a
9 É perfeitamente aceitável a fantasia de dormir com outra garota, diferente daquela com você esteja realmente na cama. Desde que a personagem do seu sonho não seja, digamos, a ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster.
metade do preço de uma cachaça considerada “da boa” e, no entanto é mais saboroso e elaborado. E poupa o interlocutor daquele bafo intolerável.
4 A paranoia não é nenhuma desgraça.
É a maneira da natureza anunciar-lhe uma coisa pavorosa que está prestes a acontecer.
10 A incompreensão não tem limites.
Na primeira vez (e única) que nosso editor se apresentou com seu saxofone no coral da igreja perto da casa dele, oitenta pessoas mudaram de paróquia. Houve gente que mudou até de religião.
5 Nunca tente fazer uma serenata
para ela. A menos que seu nome seja Caetano Veloso ou Chico Buarque.
6 Sexo não é muito diferente de pizza -
que mesmo quando é ruim, ainda dá pra comer.
7 Um cretino é um cretino; dois
cretinos são dois cretinos. Dez mil cretinos são um partido político.
8 Sim, há males que vem para o bem. Um entrevistado confessou ao
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Aquilo foi um sinal. Na confraternização do Ano Novo, um colega desconfiou que o conhaque era fortíssimo quando o garçom trouxe a dose acompanhada de um dinheiro para pagamento da fiança, caso rolasse alguma confusão mais tarde. A confraternização foi num bar da Savassi.
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QUATRO CONCORRENTES
O TÍTULO DE A PALAVRA
O ano 2018 já encerrou suas atividades há quase um mês mas a redação de MatériaPrima ainda não anunciou o vencedor do concurso “A palavra do ano”, que a revista promove nas edições de dezembro. A disputa foi iniciada em 2010, quando se aclamou a palavra “vuvuzela” nome daquela maldita trombeta de plástico ouvida nos estádios da Copa do Mundo, realizada na África do Sul. Concorrem no presente certame as seguintes palavras, expressões idiomáticas e até uma sigla:
CADÊ O QUEIRÓZ – O procurado é Fabricio
Queiroz, ex-funcionário de um dos filhos do presidente da República que emprestou $24 mil reais à Primeira Dama do Brasil, Michelle Bolsonaro. O cidadão desapareceu por muito tempo e só foi visto algumas semanas mais tarde, num vídeo em que dançava ao lado de um leito de hospital. Até agora o foragido não explicou como conseguiu movimentar mais de R$1 milhão em sua conta bancária
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VAR – A expressão apareceu na Copa do
Mundo. O Árbitro Assistente de Vídeo (VAR, do inglês Video Assistant Referee) é um árbitro assistente de futebol, que analisa as decisões tomadas pelo árbitro principal com a utilização de imagens de vídeo e de uns auscultadores para comunicação.
MAIS MÉDICOS – Trata-se do programa de
aluguel de médicos cubanos, por meio do
DISPUTAM
A DO ANO” qual o governo de Havana se apropria de salários dos seus compatriotas para quitar empréstimo obtido no BNDES e usado na construção do porto de Mariel.
VIAS DE FATO – A expressão apareceu já
nos apagar das luzes do ano passado, nas páginas do jornal e foi usada para definir a briga entre dois deputados no palco do Palácio das Artes. Ambos participavam da solenidade de diplomação de todos os políticos mineiros eleitos em 2018. A expressão “Vias de fato” parecia extinta e era usada pelo próprio jornal Estado de Minas nos recuados tempos em que os repórteres policiais usavam a expressão “decúbito dorsal” para dizer que o morto estava deitado de barriga para baixo.
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MINEIROS COM SAUDADE DA DERROTA DE 7 A 1 CONTRA A ALEMANHA PORQUE NAQUELE TEMPO A GASOLINA CUSTAVA R$3,00 Pesquisas realizadas com leitores de MatériaPrima revelam que 75% dos mineiros estão absolutamente saudosos da derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1no estádio Mineirão. É que, naquele tempo, em 2014, a gasolina custava R$3.00 e muitos postos de combustíveis aceitavam o pagamento no cartão, parcelado em dez vezes. E não apenas isso: a passagem de ônibus custava R$2,85. Os torcedores do Galo, sempre delirantes, acreditavam que o antigo presidente Daniel Nepomuceno levaria o time à gloriosa conquista do bicampeonato brasileiro.
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A CONDIÇÃO HUMANA
EU NÃO TOLERO O SUCESSO DE ALGUNS COLEGAS. COMO FAÇO PARA ME LIVRAR DESSA INVEJA? COMPARAR-SE COM OS OUTROS É DA NATUREZA HUMANA. VEJA COMO NÃO DEIXAR O (RE)SENTIMENTO TE ENVENENAR PARA SEMPRE 20
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MARINA GONÇALVES
cabei de voltar de um seminário no qual fiquei rodeado por 11 mil outros nutricionistas no maior encontro mundial de especialistas em nutrição e alimentação. Entre as sessões, reuniões e eventos de networking, não pude deixar de me comparar aos meus colegas. Se ela tem 30.000 seguidores, pensei, por que não posso? Se ela está criando e vendendo vários cursos on-line, o que estou fazendo de errado em meu próprio negócio? Não foi ótimo. Parece impossível não nos compararmos com os outros - mesmo quando não estamos fisicamente cercados por 11 mil pessoas. Mas aqui está a boa notícia: a comparação social não é apenas uma parte totalmente normal do ser humano, mas há também maneiras de gerenciar esses pensamentos para que você não reaja tão negativamente às comparações que seu cérebro faz. A “teoria da comparação social”, como é chamada no mundo acadêmico, existe há muito mais tempo que o Facebook ou o Instagram, aprendi em uma aula de Marci Evans, um nutricionista registrado em Cambridge, Massachusetts. De fato, a teoria foi proposta pela primeira vez em 1954 com a premissa de que o desejo de aprender sobre si mesmo através da comparação com os outros é uma característica humana universal. Alguns teorizam que a comparação vem de uma necessidade evolucionária
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de medir a força de alguém contra a dos concorrentes. Há até neurociência para apoiá-lo: o centro de recompensas do seu cérebro se ilumina não apenas quando você tem um bom desempenho, mas quando você tem um desempenho melhor que os outros. Normalmente, a comparação é feita para cima, com uma pessoa que está melhor ou mais bem sucedida do que você. Mais raramente, a comparação acontece para baixo, em direção a pessoas que estão em situação pior. Como era de se esperar, a comparação para baixo faz com que as pessoas se sintam melhor consigo mesmas, enquanto a comparação para cima as fazem sentirem-se piores. Este é o caso, mesmo que o desempenho de outra pessoa não tenha nada a ver com a sua. Por exemplo, se comparar meu site ao site de um grande negócio on-line, começo a me sentir mal comigo - quando, na realidade, nossos negócios são totalmente diferentes. Portanto, embora não seja nova, a tendência de nos compararmos com os outros é intensificada nos tempos modernos porque temos muito mais oportunidades para fazê-lo. Nós não estamos apenas de olho no punhado de pessoas da caverna em uma tribo vizinha, estamos nos colocando contra pessoas que nunca conheceremos. Hoje, em vez de determinar nosso valor pessoal com base em quantos javalis podemos caçar, comparamos constantemente nosso sucesso, dinheiro, aparência, atratividade, inteligência e outras características com aqueles que estão ao nosso redor e com aqueles que não estão.
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A CONDIÇÃO HUMANA Embora algum nível de comparação social possa ser saudável e motivar uma mudança positiva, certas pessoas são mais levadas a compararem-se regularmente com os outros. Isso pode, então, promover sentimentos negativos, como inadequação, culpa e insatisfação, e pode causar distúrbios na saúde. As pessoas que não param de se comparar tendem a ter baixa autoestima e têm tendências mais depressivas. Então, se nossos cérebros são conectados desta forma, há algo que possamos fazer para superá-lo? Acontece que existe:
1.Desenvolver técnicas de autocompaixão Empregue autocompaixão quando você sentir que ela pode te ajudar a superar as emoções negativas que a comparação pode trazer. Pratique expressar gratidão pelas coisas que você tem ou pelas coisas em que você é bom. Empregue
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uma mentalidade de crescimento, vendo desafios como uma chance de crescer, em vez de um obstáculo. Em vez de criticar a si mesmo em comparação com os outros, encontre inspiração em seus sucessos. Não se massacre.
2. Nunca leia as notícias que façam mal a você Não podemos controlar o que as pessoas publicam nos jornais e revistas sobre elas mesmas. Mas podemos controlar quanto tempo gastamos nelas, quem seguimos e, portanto, o que vemos. Deixe de seguir as notícias que desencadeiam emoções ou comparações negativas, incluindo as que te fazem sentir-se mal consigo próprio ou com o seu corpo. Em vez disso, busque as notícias que apresentem mensagens positivas e outras que tenham um sentimento mais positivo. Mas apenas variar o noticiário não é suficiente - monitore quanto tempo você gasta nas mídias sociais e o reduza quando você percebe sentimentos negativos se infiltrando. Além desses aconselhamentos não se sinta culpado quando sentiu prazer (secretamente ou abertamente) com a desgraça de outra pessoa. Talvez você tenha se encontrado sorrindo quando ouviu que um colega desagradável e cruel não conseguiu a promoção pela qual ele ou ela estava se esforçando. Ou talvez você tenha se sentido estranhamente satisfeito quando descobriu que a ex-paixão que te abandonou estava tendo problemas no novo relacionamento. Ou, talvez você pensou que a justiça foi servida quando um
vizinho esnobe que ostentou um estilo de vida luxuoso acabou por pedir a falência. Se você já se sentiu assim, está longe de estar sozinho. Em um momento ou outro, a maioria das pessoas têm alguma satisfação em ver ou ouvir sobre os pequenos contratempos, problemas ou falhas de alguém - um fenômeno chamado schadenfreude. Esta palavra da língua alemã designa um sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio do outro, ou seja, trata-se do prazer que se sente com a desgraça alheia. -A sensação de schadenfreude é uma experiência muito humana”, escreveu Mina Cikara, professora assistente de psicologia da Universidade de Harvard, que fez uma extensa pesquisa sobre a farsa e a empatia. “Mesmo quando não há um benefício tangível para o observador ou alguma justiça social maior foi servida, os infortúnios [de outras pessoas] são praze-
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rosos em parte porque fazem com que as pessoas se sintam melhor consigo mesmas. Parece ser derivado principalmente de processos de comparação social: Se eu me comparar com os outros e descobrir que não sou tão bom quanto [eles são], estou muito mais propenso a ficar satisfeito quando eles forem abatidos. ” Claro, nada disso é bonito. Mas você pode enfrentar esse defeito da sua personalidade. Se você muitas vezes acaba se sentindo culpado por sentir prazer em vez de empatia quando as coisas não estão a favor de alguém, você pode tomar medidas para minimizar a presença desses sentimentos. Quando alguém sofre um revés, faça um esforço para se concentrar nos bons traços da pessoa ou em como você se sentiria mal se a mesma coisa acontecesse com você. Basta isso. Claro é bom também que você trabalhe mais, estude mais e se torne uma pessoa generosa.
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REPORTAGEM DE CAPA
DESMONTE DOS NOVOS GOVERNOS DESORGANIZA A PRÓPRIA GESTÃO A INEXPERIÊNCIA DE UM E O FÍGADO POLÍTICO DE OUTRO EMBALARAM AS PRIMEIRAS DECISÕES DOS GOVERNOS ESTADUAL E FEDERAL. EM VEZ DE DESMONTAR ESTRUTURAS VICIADAS DE PODER E DE CASTAS DEPENDENTES DA VIÚVA, ACABARAM POR DESMONTAR OS PRÓPRIOS GOVERNOS ORION TEIXEIRA Os novos governos foram os primeiros a dar a largada do ano novo e dos novos mandatos, errando e acertando, como é de hábito; mais errando, pois desconhecem, na plenitude, o funcionamento da
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máquina pública. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador Romeu Zema (Novo) começaram fazendo o desmonte, com aquele gostinho de ainda estarem no palanque, promovendo demissões em massa como se estivessem mirando os rivais, os antecessores.
PELA CULATRA Aqui, em Minas, o desmonte saiu pela culatra, porque o ex-governador Fernando Pimentel (PT) demitiu 4 mil comissionados no dia 31 de dezembro enquanto ainda usava a caneta oficial. Ninguém deu informação, mas três versões foram espalhadas: que foi a pedido Zema; que era para atrapalhar o sucessor e, ainda, que era para pagar os direitos dos servidores aliados. Entre uma e outra, Zema demitiu mais dois mil. As medidas afetaram ser-
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viços essenciais. Depois, o governo saiu a suspender várias demissões. Ou seja, demitiu sem critérios e, provavelmente, recontratará sem eles.
FEITIÇO E FEITICEIRO No governo federal, foi igualmente desastroso. Sob o argumento de “despetizar” a administração, o governo demitiu cerca de 3.200 servidores na primeira semana. O curioso é que o PT deixou o governo há quase três anos, em maio
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REPORTAGEM DE CAPA de 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas a onda de demissões, que paralisou setores do governo, foi interrompida para identificar quem não era petista e recontratar.
O FEITIÇO VIROU-SE CONTRA O FEITICEIRO O governo saiu a bater cabeça. Com apenas duas semanas de governo, o presidente anunciou aumento do IOF, revisão da tabela do imposto de renda e uma idade mínima para a reforma da Previdência.
FOI DESMENTIDO PELA PRÓPRIA EQUIPE Foram realizadas duas reuniões ministeriais e, delas, nenhuma meta foi apresentada. Junto disso, o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, foi acusado de usar notas fiscais de empresa de amigo para faturar a verba indenizatória da Câmara dos Deputados e o filho do vice-presidente, general Hamilton Mourão, Antônio, recebeu mega promoção no Banco do Brasil e passou a ganhar três vezes mais.
HAVERÁ PLEBISCITO? Tudo somado, são medidas deveriam ser tomadas com critérios e planejamento nos primeiros 100 dias de governo para evitar a descontinuidade. Sem afogadilho e sem a preocupação com as manchetes e repercussão. Ainda falam do fim da Justiça do Trabalho no país e da Cemig, em Minas. Seria o fim da CLT, que, antes de sua extinção e importância histórica, deveria passar antes por consulta popular, assim como a Constituição mineira obriga em caso de venda da estatal energética.
VOTO DE CONFIANÇA VOLÁTIL O primeiro mês de governo e do ano, o de janeiro, será o grande teste do governador Romeu Zema, principalmente, pela maneira como irá conduzir a herança
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de crises deixada pelo antecessor Fernando Pimentel. É cedo para críticas em função do reconhecimento da incontestável e impositiva realidade financeira, mas a reação política obedece a outras razões. O “não” costuma atrair a indignação, o descaso e a reprovação. Para isso, não há prazo de validade; pode ser imediato ou durar um mês. O fato é que Zema repetiu a mesma prática de Pimentel ao manter o parcelamento dos salários dos servidores. Começou a pagar no dia 14 de janeiro, até R$ 2 mil, e completou a quitação só no dia 28 do mesmo mês. Com relação aos municípios, fez o repasse das primeira e segunda semanas com os mesmos atrasos do antecessor. Aqui, não se fala em dinheiro do caixa, mas aquilo que é do município e foi retido, apropriado indevidamente, mesmo tendo recebido uma mãozinha do Supremo Tribunal Federal (STF), que desbloqueou R$ 443 milhões do estado antes retido pelo governo federal. Isso não pode, disse o ministro do STF, mas ninguém falou, na mesma corte, sobre a indébita apropriação do estado do dinheiro dos municípios. Resultado, além das críticas, tomou protesto de servidor da área de segurança e ação judicial. Dos prefeitos também, claro, pipocaram críticas generalizadas por copiar o modelo Pimentel e afetar a máquina municipal. Na verdade, os prefeitos torcem para que o voto de confiança que estão dando a Zema dê certo e que não tenham quer ir para o confronto do qual, sabem, todos perderiam. O voto de confiança dos prefeitos não é sem fundamento. Ensaiaram acordo, por meio do presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM) e prefeito de Moema, Julvam Lacerda, para que o governo pague uma dívida gerada pelos atrasos nos repasses, que são constitucionais, mas não são respeitados, e que está, hoje, calculada em R$ 12,5 bilhões. A pré-condição para o acordo seria o fim dos atrasos nos repasses atuais. O voto de confiança está ameaçado.
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REPORTAGEM DE CAPA
ZEMA JÁ EXAMINA EXTINGUIR A TV MINAS, A RÁDIO INCONFIDÊNCIA E O BDMG QUANDO NÃO HÁ DINHEIRO SEQUER PARA PAGAR SALÁRIOS, NÃO HÁ JUSTIFICATIVA PARA PRESERVA ÓRGÃOS PÚBLICOS QUE NÃO PRESTAM SERVIÇOS RELEVANTE DURVAL GUIMARÃES Quando o então secretário de Agricultura, Israel Pinheiro, criou a rádio Inconfidência em setembro de 1936, o seu propósito era o de levar informações do governo de Minas a todo o estado, pois naquela longínqua época, era impossível se comunicar com os municípios do nos-
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so imenso sertão. Um telegrama costumava demorar mais de três dias para ser entregue de uma cidade à outra, pois as viagens costumavam ser à cavalo.
PEQUENO HISTÓRICO Hoje há emissoras por toda parte e praticamente não há um único grotão
que não seja alcançado pela voz de uma emissora local ou da vizinhança. No entanto a rádio Inconfidência continua no ar e devorando o dinheiro público desviado de escolas, postos de saúde e ou unidades de segurança pública. Também a TV Minas foi inaugurada no governo de Tancredo Neves, na década de 80, do século passado, com o propósito de ampliar o esforço educacional no estado, por meio do ensino à distância. Subsidiariamente, pretendia manter os mineiros informados sobre as notícias do governo, emanadas de uma miríade de assessorias de imprensa espalhadas por todos os órgãos públicos estaduais. Na época existiam apenas seis emissoras de televisão abertas e nenhuma delas educativa. Hoje há mais de 300 canais de emissoras de TV a cabo ou por satélite, muitas delas de caráter educativo com programação de qualidade invejável. No entanto, por falta de recursos financeiros, sempre insuficientes para a voracidade de sua burocracia, a TV Minas vai capengando, numa indigência de fazer dó. Hoje, tornou-se simples repetidora de redes nacionais de televisão. Também não dispõe de importante grade de programação educativa. Nada do que a Rede Minas apresenta sequer se aproxima do que é exibido pelas emissoras privadas. Com isso, sua audiência se tornou praticamente inexistente. Não seria absurdo dizer, como nos textos do evangelho, que é mais fácil um camelo atravessar aquele espaço no fundo de um agulha que se encontrar um telespectador da TV Minas.
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ROMBO NA TV A emissora, mesmo sem programas relevantes e sem nenhuma capacidade de transmissões externas devora quase R$ 2 milhões mensais. Seus diretores recebem salários exorbitantes, acima de R$ 15 mil mensais, para não fazer praticamente nada. Os programas são basicamente repetições de programas da Empresa Brasil de Comunicação, uma emissora federal que se dedica à propaganda das realizações do Palácio do Planalto. A produção diária de conteúdo inédito é inferior a três horas, incluindo a leitura de noticiário, geralmente enviado pelo Palácio da Liberdade. Não há melhor utilidade para esse dinheiro que sai do bolso do povo? Claro que sim. O governador Romeu Zema já promoveu a exoneração de 75 funcionários comissionados da televisão estadual, que é a terceira maior do país, atrás apenas da TV Brasil e da TV Cultura. Esses profissionais respondiam por mais de um terço da força de trabalho da emissora, sendo muitos deles da área técnica, o que afetou diretamente as operações da TV. Até mesmo a presidente Luiza Moreira Arantes de Castro foi exonerada, deixando a Rede Minas atualmente sem comando.
ROMBO NA RÁDIO A situação da Inconfidência não é menos lamentável. Sua audiência, reconheçamos, é um pouco melhor. Mas nada que possa ser verificado sem auxílio de uma poderosa lupa. Emissoras semelhantes às inúteis TV
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REPORTAGEM DE CAPA Minas e rádio Inconfidência foram extintas em outros estados, sem nenhum prejuízo para as populações locais. Na verdade, elas são obsoletas como a máquina de escrever mecânicas, a fita de VHS e o táxi para transportes de passageiros. Sim, prestaram importantes serviços para a população, no passado, mas não têm nenhuma utilidade no presente. Reequipá-las seria absurdamente oneroso para um estado que não dispõe de dinheiro sequer para quitar salários do seu pessoal. Sabemos que não é fácil promover a extinção de órgãos públicos tantos são os interesses na ocupação daqueles empregos. No entanto, caso elas sejam mantidas em nome da preservação de empregos, que se mande todos para casa. Assim se economizará pelo menos no aluguel dos prédios e no custo de energia, indispensáveis à manutenção desses inúteis elefantes brancos.
MISSÃO IMPOSSÍVEL Mesmo se os problemas fossem apenas o fechamento de duas emissoras desnecessárias, essa ação se tornará quase inalcançável, dada a enorme capacidade de pressão que os funcionários públicos terão sobre o governo Zema. Há um ano publicamos nota falando sobre a inutilidade das duas emissoras, o resultado foi uma gigantesca manifestação que tomou conta das redes sociais, como se tivéssemos proposto o encerramento das atividades do Hospital de Pronto Socorro Odilon Bherens e não de duas emissoras que ninguém vê ou escuta. Fomos acusados de promover o desemprego
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de colegas jornalistas. O fechamento de outras autarquias e empresas que se tornaram irrelevantes também encontrará barreiras que podem se mostrar instransponíveis. Muitos funcionários graduados do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais contam com a ajuda misericordiosa do vice-governador Paulo Brant para retirá-lo da fila dos órgãos públicos que marcharão para guilhotina.
VICE SEGURA O salvador Paulo Brant foi diretor do BDMG mas, ao seu tempo aquela instituição financeira foi responsável pela atração de importantes empresas para Minas Gerais, como a Fiat Automóveis (agora FCA Group). Hoje, o BDMG apenas ocupa um prédio luxuosíssimo na rua da Bahia e para fingir que exerce alguma atividade, realiza empréstimos consignados para pequenas e micro empresas. Dada a sua imponência, suas pare-
Luxuosa sede da TV Minas Ex-governador Fernando Pimentel concede entrevista na rádio Inconfidência
des em vidro fumê e os espessos tapetes vermelhos que cobrem todos os seus 12 pavimentos, o BDMG seria o local ideal para a instalação do Museu das Mordomias, que o governador Zema pretende criar para exibir ao público a opulência em que vivem algumas categorias de servidores públicos. Seriam, sim, mais adequado que o escondidíssimo palácio das Mangabeiras, uma simples casa de campo nas grimpas da Serra do Curral, de dificílimo acesso e que de palácio tem apenas o nome. É situação semelhante ao Palácio dos Fogões modesta oficina de aparelhos domésticos localizada na região do Mercado Central, mas de nome imponente.
CORTAR NA CARNE De qualquer forma, o bota-abaixo começou com a demissão de seis mil funcionários comissionados. Não haverá como preservar instituições como a
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Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab), que leva um ano para construir as casas populares que empresas privadas, como a MRV Engenharia, inaugura em uma semana. A situação se mostra sem alternativas, mesmo com a simpatia de Brant com seus colegas do BDMG ou com os funcionários da Secretaria de Cultura. Simplesmente porque não há dinheiro suficiente. No passado, os estados tinham alguma forma de emissão, por meio de seus bancos públicos, mas eles foram privatizados, como os mineiros Bemge, Credireal e Agrimisa. Ou extintos, como a Caixa Econômica Estadual. Agora, quando os cofres ficam vazios, nada há a fazer a não ser passar o facão. Também nada adianta demitir alguns funcionários se a autarquia ou estatal continuam de portas abertas causando esse gigantesco sangramento financeiro que praticamente destruiu a economia pública em Minas.
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CARTA DO SERTÃO
UM JULGAMENTO EQÜINO TIÃOZITO Essa coisa de vizinhança é sempre muito complicada. Na maioria das vezes, os vizinhos não são amigos entre si e existe um clima de cordialidade, um tanto hipócrita, naquela base do “Como tem passado?” pra lá, “Vivendo, como Deus é servido”, pra cá. Quando só uma das vizinhas gosta de pedir, emprestada (e nunca paga nem retribui), alguma coisa, ora uma xícara de
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açúcar, ora uma pitada de café, não sabe a espinafrada que vem sempre levando na casa confinante. Não podemos esquecer o que nos ensina a sabedoria popular, quando afirma que “A galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha”. Momentos hão em que é a própria vizinha que hoje está mais gorda e ontem estava mais magra, no disse me disse das “comadres” contíguas de ambos os lados. Noutros momentos, ainda, ela é, para
os varões da parede próxima, muito mais apetecível e, consequentemente, mais desejada que a dona da casa de cá. Não é à toa que causa polêmica, principalmente entre os mais leigos, a colocação jurídica de que o fruto que pende de uma árvore, seja ela jaqueira, jabuticabeira ou mangueira, para o lado do quintal limítrofe, ao proprietário de lá pertence. Dispensemos, aqui, elucubrações doutrinárias sobre o assunto, com refletida propriedade. Sei que todo mundo conhece a anedota, mais vou contá-la, por pura consentaneidade com o causo final: um touro, sequioso, fareja o cio da vaquinha, toda serelepe e de olhares pedintes, do outro lado da cerca. Mede e pesa, calculista, a altura da cerca que os separa. Dá, não dá para pular, eis a questão. Decide-se, toma distância e arremete-se com toda a avidez possuída, saltando a cerca empecilho. Mas eis que, ao chegar junto ao seu objeto de desejo, um frio percorre-lhe a espinha e a sedutora vaquinha, ao notar-lhe tamanho desânimo, pergunta estimulante: — O quê foi que houve, queridão? Uma grossa lágrima escorre-lhe até o focinho, com o qual aponta, após compungido suspiro, seus “documentos” pendurados no arame farpado. Conto agora o causo, ouvido como verdadeiro. Flávio tinha um cavalo castanho, numa propriedade vizinha do Régis. Este, por sua vez, dono da confrontante
“Fazenda Quixabeirinha”, ali criava um belo exemplar eqüino fêmeo, vulgarmente conhecido como égua. Lá um dia, o animal cavalar de Flávio pulou a cerca, sem prejuizos “documentais”, traçou a linda egüinha alazã, enxertando-a sem piedade. Onze meses depois nasceu o potro da discórdia, do qual Flávio queria, arrazoadamente, sua metade. O dá-não-dou foi parar, como tantas outras causas fúteis, na Justiça e nas mãos de um juiz que se gabava de não fazê-la tão cega. Na audiência designada, o salomônico magistrado deu a palavra ao dono do castanho, tentando deixá-lo o mais à vontade possível: — Conte, com suas palavras e sem arrodeios, o que aconteceu. Flávio colocou o Código Civil no meio da mesa, entre ele e o juiz, narrando o fato com a maior veracidade imaginável: — Seu Doutor, faz de conta que isto aqui é uma cerca, eu sou o cavalo e o senhor é a égua. — Levantou-se, gesticulando com as mãos, e continuou:—- Então eu pulei a cerca e, crau, comi o senhor e emprenhei. De quem é a cria? — Da potra que o pariu! — respondeu, com raiva, um ofendido julgador, para júbilo do pressuroso Régis, que passou a gritar vitorioso, braços para cima, vibrando como num gol: — Eu não disse? Eu não disse? É min-nhá, é min-nhá, é min-nhá!!! Assim prolatou-se a sentença mais rápida e mais sucinta da história da magistratura brasileira.
N. A.: Imprescindível esclarecer que o filho não seria bem da “potra” e sim de mãe mais impura, porém o Autor não quis ferir castos ouvidos (ou olhos?), como o doutor Juiz fê-lo.
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS
TENHO, SIM APARTAMENTO EM PARIS. MAS AINDA MORO NO BRASIL LAMENTO INFORMAR QUE A IMPRENSA ESTÁ EM BAIXA EM TODO O MUNDO AQUI EM PARIS, O SEMPRE CITADO E RECONHECIDO “LE MONDE” VENDE MUITO POUCO NAS BANCAS ITAMAR DE OLIVEIRA “Meu caro amigo e colega Durval Guimarães Sua ‘Matéria Prima’, como diz a galerinha, está bombando. Enviei o exemplar de dezembro para um grupo de amigos e os elogios não foram poucos. Sobrou até para o meu texto sobre a exposição do repórter fotográfico Gilles Caron, na Prefeitura de Paris, dentro das iniciativas que celebraram os cinqüenta anos de maio de 1968 na capital francesa. Fiquei inchado demais e me vi, novamente, empolgado como os jovens repórteres que fomos nos anos sessenta e setenta. Primeiro quando “invadimos” a redação do antigo “Diário Católico”, para aprender um pouco de jornalismo com o nossos queridos José Mendonça, Anis José Leão, Adival Coelho, Milton Amado, João Etienne Filho, Afonso Celso Raso, José Flávio Dias Vieira, que nos inspiravam e incentivavam nas primeiras reportagens. Cada
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época da nossa geração nos jornais locais e nos veículos do Rio e São Paulo até hoje me emocionam. Como o Mauro Santayanna, somos todos eternos “focas”. Pena que os professores, como o Jacques do Prado Brandão, o Guy de Almeida e o Dídimo Paiva sejam cada vez mais raros porque o jornalismo impresso está em declínio no mundo inteiro. O ano passado, em Paris, constatei que os veículos impressos estão em baixa. O sempre citado e reconhecido “Le Monde” vende muito pouco nas bancas. O “Libération”, o “Figaro” e todos os demais jornais e revistas estão em crise. Até o “Canard Enchaîné”, que me encanta pela ousadia e rebeldia, também está perdendo leitores. Ainda bem que “Matéria Prima” está na internet e pelo menos os meus amigos mais chegados me garantem que terei leitores que me deixarão animados com o nosso ofício de escrever. E na internet posso continuar a campanha planetária para construir o Partido da Cidadania Universal que já tem um adepto fervoroso: o nosso
fraterno e terno Antônio Faria, um respeitado e eterno dissidente dos partidos nos quais esteve filiado. Vou pedir ao Faria para convencer o Manoelzinho, o Manuelzão, o Persechini e o Mário Lara, a Leila Mara, a Gleida Naves e a Maria das Graças Portugal a formar o primeiro núcleo do Partido da Cidadania de Belo Horizonte prá gente eleger um prefeito mais do que perfeito, que pode ser o Vital, o próprio Faria ou outro colega nosso que aceite o desafio de transformar a política em arte de servir ao povo. Acho que eu e você precisamos ficar de fora de qualquer aventura política, porque precisamos transformar a “Matéria Prima” na revista mais lida de Minas Gerais. Assim
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que terminar o livro sobre os tempos de Hélio Garcia, juro por Deus que vamos aprontar na “nossa” revista. Durval, meu caro amigo, estou com um problema sério para enfrentar. Como já te disse, faz tempo que passo um pedaço do verão em Paris. Fico no máximo dois meses. Minha mulher, às vezes, fica um pouco mais. E tenho muita coisa bacana, vivida em Paris, que fico com vontade de compartilhar com os amigos. Mas a repercussão do meu texto na “Matéria Prima”, me deixou muito grilado. Acho que vou desistir de escrever o meu livro mais romântico cujo modesto título será “Paris, Mon Amour”. Mas qual editora vai acreditar no meu talento literário e bancar o meu sublime livro de amor a Paris? E agora, Durval, tem um outro problema mais sério e muito grave de verdade. Você conhece muito bem o nosso amigo José Ulisses de Oliveira, pai do Tiago Ulisses e ex-marido da minha amiga Maria Olívia, minha vizinha de Lagoa da Prata. O Zé Ulisses é de Santo Antônio do Monte e conhece os meus amigos e conterrâneos de Bom Despacho. Não sei se você sabe, mas o José Ulisses é um tremendo fofoqueiro. Ele está me detonando em todo canto, principalmente em Bom Despacho. Ele chega lá na Praça da Matriz ou na Praça da Estação e maldosamente pergunta: o Brasinha (meu apelido lá em BD) tem aparecido aqui na cidade? Quase sempre a resposta é negativa. Ele aproveita e completa, com malícia, o Brasinha anda sumido de todo mundo. Ele estava sempre no Minas Tênis e nem no clube ele aparece mais. Parece que ele agora vive, mora e
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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PARIS passa o ano inteiro em Paris. Parei de mandar cartão-postal para os meus amigos de Bom Despacho. Se enviar um cartão de Paris vou dar motivo para o Zé Ulisses dizer que troquei de time, de mulher e de país. O Zé Ulisses, que conhece os ricos de Bom Despacho, anda me comparando com o Ricardo Valadares Gontijo, que tem avião, apartamento e domicilio em Paris. As intrigas me intimidam e fico constrangido de continuar contando nossos pequenos casos de amor com Paris. O José Ulisses, que já foi deputado constituinte, empresário bem sucedido e secretário de Comunicação do Governo Hélio Garcia, foi aluno do Teatro Universitário da UFMG e sempre guardou uma relação de afeto com o teatro, a música e o cinema. Ele vai morrer de inveja quando souber que saímos encantados da exposição “Montmartre, Décor de Cinema” que vimos no verão passado no Museu de Montmartre. O Museu de Montmartre é lindo. Você precisa perder o medo de avião e conhecer os encantos de Montmartre. Tem quase tudo que existe em Bom Despacho e Almenara. Durval, meu caro amigo, sei que você também é apaixonado pela sétima arte. E nos mais belos cenários de Paris, o cinema francês e internacional, escolheu Montmartre para eternizar alguns dos filmes mais bonitos de todos os tempos. Quem não se lembra de “French Cancan, 1955, de
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Jean Renoir? Quem não se emociona ao ver as belas cenas de “Boulevard”, “1960”, de Julien Duviver? E quem não se encanta sempre com Audrey Hepburn fazendo Sidney Pollack ouvir “La Vie em Rose “no ambiente mágico de gente parecida com Ives Montand, Edith Piaf ou Pablo Picasso que são eternos deuses do Olimpo mágico da cidade-luz. Durval, quase todos os cartões postais de Paris, destacam a magnífica basílica do Sacré-Couer, no ponto mais elevado de Montmartre. Também gosto muito de subir e descer naquelas ensolaradas manhãs as escadarias para ver Paris do alto. É uma vista maravilhosa que o cinema levou para todos os cantos da terra. Foi também o cinema que fez a fama do Moulin Rouge, o mais celebre e festejado cabaré do mundo. Frank Sinatra, Shirley Mac Laine e Maurice Chevalier, com a participação de Cole Porter, levaram para as telas a doce poesia da música e da boemia de Montmartre. Fico comovido quando revejo as cenas do belíssimo filme de Marcel Carné “Les Enfants Du Paradis”. Um filme do ano de 1945. De Marcel Carné a François Truffaut, até chegar ao talento irreverente de Wood Allen, Paris e Montmartre se encontraram na exposição que celebrou também o sucesso do “Fabuleux Destin d’ Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, 2001. Foi uma das mais lindas exposições que vimos no ultimo verão. Nós adoramos Montmartre. A Carmosa (apelido de Bernardete, minha mulher) gosta de
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tomar um vinho da Mosele e passa o dia inteiro em cadeira, quase cativa, no café “La Boheme” na Place de Tertre, onde se misturam artistas, turistas, vagabundos e batedores de carteira que também são filhos de Deus e, como os pássaros de outros lugares, também adoram Paris e seu bairro mais encantador, cenário de todas as rebeldias. Como sou mais inquieto rodo o bairro inteiro em busca de histórias para contar no meu futuro “Best-seller”, Paris Mon Amour. Para evitar que nosso amor por Paris seja explorado como desamor ao resto do mundo, vou presentear o José Ulisses com um livro sobre a exposição que nos emocionou. Ele vai gostar e certamente deixará de inventar histórias sobre minhas viagens viajadas ou a viajar. Abração Itamar PS: Será que alguém mais vai se interessar pela organização do Partido da Cidadania Universal? E o Macron, Durval? O coitadinho está mais sitiado em Paris do que o governador do Ceará em Fortaleza. Eu tenho muito medo de peixeira e não simpatizo muito com os “Gillets Jaunnes”. Espero que o Partido da Cidadania Universal dê um jeito no mundo inteiro. Ultima coisa, Durval, você acha que alguma editora vai se interessar pelas histórias que estou registrando e inventando sobre Paris?”
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NAS CURVAS DA VIDA
PISTA DE CAMINHADA
VIRA PALCO DE RUA
ABSORVENTES PERFUMADOS, A MODA DA HORA ALCINDO RIBEIRO O premiado escritor João Ubaldo Ribeiro, o baiano que honra a literatura brasileira, ao lado de outros grandes, e que dispensa biografia porque seu nome já é uma legenda, tem uma crônica sobre um personagem, o “Capenguinha”, que o atormentava nas caminhadas com passadas rápidas, apesar de um defeito físico. Atormentava duplamente, dizia: primeiro, porque fazia a caminhada sempre no mesmo horário dele, e até parecia que o “Capenguinha” o esperava para saírem juntos; segundo, o humilhava pela ligeireza e alegria com que fazia o exercício da caminhada, embora carregando um problema bem visível. Mais: atormentava, sobretudo, porque ele, o cronista, inicialmente repudiava a caminhada não acreditando em seus salutares efeitos; além de tudo, quando decidiu fazer aquele exercício, encontrou de cara com aquele moço logo no primeiro dia e não o largou nunca mais. Relendo assim João Ubaldo, em pensamento e caminhando, lembrei-me do seu jeito gostoso de escrever, das meticulosas
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referências aos personagens e da honesta definição de qualquer um deles. Estava me lembrando dessas crônicas quando cruzei na pista com um alegre e suado vendedor de “lenços especiais para desportistas”, como ele anunciava seu produto. Pra quê isso? Escutei, quase gritado, de um resfolegante senhor de mais de 50 anos, acho, respondendo à insistente oferta do vendedor, um rapaz de cerca de 20 anos, que me parecia estudante procurando aumentar a mesada da casa; ou seria malandragem? Fiquei curioso pelo final daquela conversa, embora atraído mais pela resposta nervosa do homem. Apertei o passo da sagrada caminhada e virei bicho, no gostoso linguajar folclórico: fiquei com rabo de olho e orelha em pé para saber, de fato, o que se passava. Estava impressionado, embora esta palavra não defina nem retrate o que me aconteceu; melhor seria abobalhado ou bestificado. O rapaz daqueles lenços estava fazendo caminhada também, às vezes até corria emparelhado com possíveis compradores; eu vi e ouvi seu anúncio: Este é um lenço produzido no Exterior
especialmente para desportistas de caminhadas. Depois de rigorosos testes de laboratório foi aprovado e reconhecido pela ANVISA, com uma justificativa especial: liberado, principalmente, por conter ingredientes que combatem, especificamente, bactérias naturais de pistas de caminhada. A esta altural desportista já havia parado de correr: encostado numa árvore, suando feito “chapa” de caminhão de mercado, esbravejava palavrões de todo tipo além dos conhecidos, ao atrevido vendedor que gritava de peito aberto: Aqui, o lenço feito pra você que absorve o suor e perfuma seu corpo. Não ouvi mais, aliás, recusei-me a ouvir, principalmente quando escutei um palavrão, seguido do “vai trabalhar... vagabundo, moleque”. Apertei o passo, porque me atrasara naquela pista saudável e “garrei a maginá”, como diria um cantador letrado do sertão mineiro. Parei no Baiano dos Côcos, pedi um copo daquela água, gelada, e pensei:
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Como mudam depressa os tempos: ontem era Pista de Cooper, um chique espaço onde desfilavam belezas como em passarela, e os homens mostravam poder nos tênis importados completando a roupa certa, fina e leve, própria para o exercício físico, como diziam. Hoje, o Cooper caiu de moda: primeiro tiraram seu nome e o exercício virou apenas Caminhada; as belezas de ontem deixaram o fino estilo de modelo e seu andar de passarela, passando a usar um curtíssimo “short” com uma camiseta sempre com mensagens sutis de duplo sentido ou de publicidade enganosa para incautos. Tudo, explicado pelo modernismo da sociedade livre, leve e solta. Para os homens, os lenços absorventes e perfumados, que tomam o lugar do dorso da mão espalmada no rosto, para enxugar o suor da caminhada, são pequena amostra da liberdade que chegou com vontade, confundida por alguns como sinal de liberalidade. Ora, essa.
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SEM LICENÇA
SE NÃO TEM REMÉDIO, REMEDIADO ESTÁ... OU RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO O BELO-HORIZONTINO ESTÁ DOENTE, EM GRANDE PROPORÇÃO. VIEMOS TODOS COM DATA DE VALIDADE. UNS DE CURTA DURAÇÃO; OUTROS, LONGEVOS MÁRCIO FAGUNDES Parece não haver cidadão com boa saúde por aqui. Essa a dedução imediata e lógica, visto a quantidade de farmácias espalhadas pela capital. Tem quarteirão com três ou mais lojas deste comércio em concorrência de metros. Os fármacos nobres ficam resguardados atrás do balcão. De bagulhos estéticos a ração veterinária, em proporção de 75% se comparados ao espaço dos medicamentos, o grosso se situa no primeiro plano físico. Os maiores se regozijam em matar os pequenos nessa atividade. E conseguem-no, pois compram no atacado com prazo e bom preço. Neste ramo não existe política da boa vizinhança. A aniquilação é típica do capital. O forte massacra o fraco. Os sobreviventes são enterrados vivos, moribundos. A isso se chama regulação brutal
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e liberal de mercado. O consumo se faz por conquista ou compra. Não existe outra maneira. O pequeno desaparece sem alarde, vítima da concorrência e do fiado. A destemperança na compra de fármacos traça diagnóstico de corações partidos, nervos afetados, fígados engordurados, epidemias gripais, vírus diarréicos e aleatórios. A anamnese acusa pouca virtude na coletividade. Inveja, preguiça e falta do que fazer, por sua vez, aos borbotões. Antes, prevenir. Agora, remediar. No início do século XX, em Belo Horizonte, barbearias exibiam para aluguel potes com sanguessugas prontas para a sangria, de acordo com a historiadora Betânia Gonçalves Figueiredo, no magnífico livro “A Arte de Curar – cirurgiões, médicos e curandeiros no século XIX em Minas Gerais”. Milhares se empenham em romper o comodismo da vida sedentária com caminhadas, corridas, ciclismo e academias. Exercícios físicos na medida do corpanzil, na esperança de conter a obesidade e um quadro de baixa estima. Grassa a depressão. Males introspectivos e angustiantes corroem-nos por dentro. Um leite de rosas para a indústria mundial de produtos medicamentosos, cuja lucratividade é astronômica. Aqui se vai à farmácia como se fosse ao supermercado. Com lista, carrinho e,
às vezes, receituário médico. Uma nova droga sempre substitui a outra por preço mais elevado. O medicamento se antecipa à moléstia. Não tem nada a ver com a pílula do dia seguinte ou baixa libido masculina. Goza de saúde aquele que não padece de sofrimento físico, psíquico, espiritual e social. Pelo visto, poucos; uma raridade. Nas horas graves, invocam-se as personalidades de terreiros, raizeiros, benzedeiras e milagreiros pentecostais. Além, claro, dos seguidores de Hipócrates, homeopatas e acupunturistas. “Por que não lhe posso limpar o corpo e o sangue das corruções”, indagava Machado de Assis. O farmacêutico da antiga, amigo da família, era um prático da medicina. Sabia manipular o êmbolo da seringa de vidro, que fervia junto às agulhas, num recipiente térmico de aço inoxidável. Somente as ampolas eram descartáveis, depois de seguidos petelecos. Convocado aos sussurros, ele recomendava Bezetacil aos jovens gonorréicos. Um bando seqüencial
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deles. Fregueses do mesmo rendez-vous, quiçá da mesma senhora. O farmacêutico aplicava vacina anti-rábica em doze subcutâneas na barriga. E também contra o tétano. Criança com estrepe, sem unha no dedão, ferido por vidro, faca ou arame farpado provava ali mesmo, atrás da cortina, com ou sem choradeira, da sua arte na sutura, sob os olhares vigilantes de Nossa Senhora Aparecida. Nem sempre com linha cirúrgica, mas grampo metálico. A farmácia ortodoxa era um alívio nas aflições físicas: dor de garganta, ressaca, pedra nos rins, gripe, mal-estar e azia (refluxo gastroesofágico). Tinha um leque de conselhos gratuitos na prateleira para quem padecesse de sofrimento existencial. Dor de corno e luto passa em seis meses, consolava. Para ele, o corpo humano não era máquina. A visão mecanicista chegou ao país com a Revolução Industrial. Antibióticos, Camisa de Vênus, Mercúrio Cromo, Violeta Genciana, Colubiazol, Sonrisal, Pomada Minâncora, Emulsão Scoth,
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SEM LICENÇA Leite de Magnésia Philips, Ácido Bórico, Iodo, Bicarbonato de Sódio, Pente Fino, Acetona e Água Oxigenada compunham o cardápio básico. Assepsia caprichada, seu segredo na cura. Parte deste estado hipocondríaco da população belo-horizontina tem resquício no passado. A cidade ganhou fama como local ideal na cura da tuberculose por causa do clima. Gente de todo lado espalhada em sanatórios por temporada, o que nos remete à “Montanha Mágica”, de Thomas Mann. Meu pai, a título de ilustração, ainda jovem contraiu a temível doença, o que lhe custou meses de internação, além de enorme cicatriz a circundar a omoplata. À época, foi operado dos pulmões pelo método da cauterização radioterápica. Uma espécie de ferro incandescente murchava os alvéolos contaminados pelo bacilo de Kock. O antibiótico era raro, caro e importado, fruto do cogumelo Aspergillus penicillinum. Todavia, sem os efeitos alucinantes dos parentes nascidos no composto fecal dos animais do campo, depois das chuvas, para alegria dos malucos anos 60 e 70. Durante parte de minha infância e de meus irmãos, recordo-me como se fora hoje, o Velho nunca tocou em copos, talheres e pratos na casa dos outros, o que gerava incompreensão familiar. Ele acompanhava-nos em eventos infantis. Anos depois, já crescidinhos, contou-nos que, por ser uma província, parte da cidade sabia que fora acometido de tuberculose. Midas ao Avesso poupava os anfitriões do prejuízo de atirar ao lixo os objetos que tivesse encostado por receio de contrair a doença. Os hansenianos passaram pelo
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mesmo drama. Em igual escala com preconceitos, isolamento social e internação em colônias. Os filhos foram separados de seus pais por medo de contágio. Os anos 30 e 40 foram terríveis. Aliás, não vou perder a oportunidade de discorrer sobre outro método cirúrgico que traumatizou toda uma geração de belo-horizontinos da qual faço parte. Esse no campo da odontologia. Sob o argumento de que, no futuro, evitaria o uso de aparelho, os dentistas arrancavam os dentes de leite das crianças, antecipadamente, com o boticão. Eu tirei todos os da frente (oito), embora nem mole estivessem. Isso acontecia nos campos de concentração na Segunda Guerra e, pior, sem anestesia. A lacuna maxilar, segundo eles, possibilitaria ao dente definitivo chegar sem obstáculo, o que, no futuro, resultaria em sorriso perfeito. Até hoje me borro na cadeira do dentista. Em compensação, tem gente de cabeça branca desfilando por aí com fios de aço e presilhas na boca. A doença pede carinho, atenção, atendimento de pronto, tratamento e compra de remédios por chancela médica, de preferência. Não nos esqueçamos, ainda, que projetada para ser a capital de Minas Gerais, por Aarão Reis, a cidade abraçou a classe média e, por conseguinte, suas contradições. Segmento social inseguro quanto à estabilidade de conquistas e solidez de privilégios, constituído, basicamente, de funcionários públicos e profissionais liberais. Essa turma tem motivo de sobra para se entupir de ansiolíticos, antidepressivos, chazinhos alternativos e afrodisíacos laboratoriais. Os infortúnios dos outros, de alguma maneira, também
são nossos. Portanto, redes neurais em colapso refletem em toda a coletividade. Alerto a todos para o ataque de uma doença chamada herpes-zoster. Ela arrasa qualquer um. A ponto de induzir ao suicídio em caso extremado. Pede três quesitos básicos: sistema imunológico debilitado, depressão e baixa estima. É tiro e queda! Dói para chuchu sem aliviar um segundo. Um fio desencapado no corpo. O vírus da catapora contraído na infância hiberna por anos. De repente, como se pressentisse a desgraça alheia, desperta do estado de dormência no intuito de estuporar os nervos da vítima com ferroadas diabólicas. Se na cabeça, ataca os nervos ótico e auditivo; no peitoral, o choque se irradia pelos membros. Os passíveis deste tormento se encontram em maioria na faixa dos 50 aos 70 anos. Não tem química brava que alivie o sofrimento. Um em cada três brasileiros vai penar com herpes-zoster. Os tempos pedem resiliência, capacidade de absorção, superação. É mais um caso.
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Se puder sentar, para que ficar de pé; se puder deitar, para que ficar sentado... A máxima hedonista caberia bem ao papel de Grande Otelo, no filme “Macunaíma”, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, extraído de obra do paulista modernista Oswald de Andrade. A referência ajuda a elucidar outro fenômeno comercial na capital mineira, que, como batatinha, se esparrama pelo estrado. O belo-horizontino é bom de cama. Finge dormir o sono dos justos, pois o lugar é confortável também para chorar. Nunca se viu tanta loja de venda de colchões. Em cada esquina, onde cai um pouco a tua vida, como diria Cartola, existe um estabelecimento de venda de colchões. De molas ensacadas, espuma dura, solteiro, casado e viúvo, king size e vibracional, controle remoto, todos servem ao propósito de cair na horizontal. Se procurar bem é capaz de encontrar colchão de pregos para sádicos momentos de reflexão. Ali, além do soninho reconfortante, se faz coisas do arco da velha. Quando jovens em qualquer lugar e posição. Depois é melhor não se arriscar: decúbito dorsal, cata-cavaco, papai e mamãe. Poucas variações para não correr o risco de vexame e serviço médico de urgência. Ninguém dorme em cama de campanha, tatame ou no chão, com exceção dos milhares de mendigos. O jornalista Carlos Cândido, sabedor da publicação deste artigo, fez outra constatação urbana, coberto de razão. Ele também um atento à vida metropolitana. Os salões de beleza se espalham aqui como sementes de capim na enxurrada, assegurou. Concordei em gênero e número, embora de beleza e estética entenda pouco. Por vício de origem, vejo bonito no feio.
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CARTA DO PLANALTO
MINEIROS TEMEM DANOS AO MERCOSUL COM A NOVA POLÍTICA EXTERNA CASO O GOVERNO NÃO SE ACERTE COM OS ARGENTINOS VAMOS PERDER DINHEIRO COM EXPORTAÇÕES JOSÉ ANTÔNIO SEVERO (*) O gaúcho Ernesto Araújo, novo chanceler do Brasil, criou uma saia justa com a Argentina, a ponto de o presidente do País não comparecer à posse de seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro. Minas Gerais, estado exportador para o MERCOSUL, está de cabelos em pé de tanto medo do que pode vir por aí no rastro dessa desfeita ao principal cliente da indústria do Estado. Os exportadores já estão com as barbas de molho. As indústrias automobilísticas mineira, dos produtores de autopeças, siderurgistas do aço e muitos outros itens da pauta metalomecânica, isto para falar apenas de um segmento do que o Estado vende para os platinos, prenderam a respiração. Contando o MERCOSUL como um todo, acrescentando o resto da América Latina, África e oriente muçulmano, também alvos do novo ministro, as ameaças
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de retaliações podem ser um desastre, atingindo outros itens industriais do Estado, a começar por roupas femininas, passando por celulose, chegando até às commmodities tradicionais, como café e o nosso velho e emblemático leite de vaca, que compõe em pó ou in natura às prateleiras dos supermercados de nossos vizinhos. Não se pode dizer que esses temores sejam um excesso da proverbial desconfiança dos mineiros, nem que sua população esteja com um pé atrás com o novo governo, pois está logo aqui atrás uma vitória acachapante do presidente Jair Bolsonaro e de seu aliado local, Romeu Zema. É o temor mesmo de que seus mercados sejam travados por imposições restritivas como sobretaxas, quotas e outras barreiras tarifárias ou não, como resposta a confrontos políticos. Por exemplo: a China, outro desafeto do novo governo, importa 54% do minério de ferro, o que pega Minas de calças curtas. Mineira-
mente, os empresários se perguntam: O que fizemos para esses fregueses? Também outras regiões estão apreensivas. São Paulo, o maior vendedor e comprador de produtos argentinos, não sabe o que dizer. Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm os países do Prata como uma porta aberta para a expansão de suas economias. Além de apagar um passado de guerras e rivalidades. Tensão no Cone Sul? O presidente Maurício Macri deixou de lado as coceiras dos pruridos e disse que vem ao Brasil apertar a mão de Jair Bolsonaro. Então
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poderá esclarecer-se em profundidade o que que se passa realmente nas relações entre o Brasil e seu vizinho mais próximo e principal parceiro comercial. A Argentina é o maior importador de produtos industrializados do Brasil, ou seja, é geradora de empregos de qualidade internos no País. O Cone Sul já foi a sub-região mais conflitiva da América do Sul, desde que os bandeirantes paulistas, desobedecendo às ordens de Lisboa, rasgaram o Tratado de Tordesilhas, no Século XVII. E assim veio, ora mais quentes, ora menos, até os
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CARTA DO PLANALTO últimos embates sobre o posicionamento e tamanho das barragens no rio Paraná, Itaipu e Corpus, nos anos 1970, volta a aumentar a temperatura. Pela primeira vez, desde a invenção do avião a jato, que um presidente da Argentina não comparece à posse de seu colega brasileiro.
Cadeira vazia Chamou atenção no salão de honra do Itamarati a cadeira vazia de Maurício Macri. Em Brasília comenta-se que o novo presidente brasileiro não fez essa pirraça a sua contraparte argentina só para vingar a eliminação da Taça Libertadores do seu Palmeiras pelo Boca Juniors de Macri (ele foi o presidente que relançou o Boca, e por aí fez sua carreira política). Também não foi birra com o River Plate ou por esquecimento ou desconsideração do novo ministro do Exterior, o gremista Ernesto Araújo, que não citou uma única vez, em seu discurso de posse, o nome do país vizinho. Araújo também esqueceu de mencionar dois outros destacados fregueses de produtos do agronegócio brasileiro, China e Oriente Médio. Assim como em Contagem e no Vale do Aço, em Minas, também no oeste de Santa Catarina e noroeste gaúcho, as grandes regiões produtoras de aves do mundo, os colonos estão abismados com a possibilidade real de restrições de volume ou tributárias dos mercados árabes. Os países muçulmanos compram 20 por cento das carnes brasileiras e 54% do açúcar refinado. Coisas do comércio internacional. Quando um fornecedor perde competiti-
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Ministro das Relações Exteriores, diplomata Ernesto Araújo
vidade, logo outro toma seu lugar. No caso argentino, o temor dos industriais exportadores brasileiros é que o Mercosul vá para o vinagre. Ou seja, que o Brasil esterilize o acordo regional, tirando seu conteúdo político de bloco. Com isto, seria cada um por si, como no passado. Esse fato teria repercussões no comércio intra-regional. Por isto tanto se falou da vinda ao Brasil dos presidentes dos demais sócios do MERCOSUL (Paraguai e Uruguai) e agregados (Chile e Bolívia são associados). Já a questão do “desconvite” aos três países que repudiaram oficialmente o ato do Congresso brasileiro que depôs à presidente Dilma Rousseff, não tem consequência imediatas. Cuba e Venezuela devem muito dinheiro ao BNDES. Nicarágua é um parceiro distante. Na área de comércio, de compra a venda, não deve haver retaliações. Na área política, esses países já estavam em retórica hostil ao Brasil e, retirando seus embaixadores de Brasília. A Venezuela é um caso a pensar, pois o presidente Nicolás Maduro elegeu o Brasil como “inimigo externo” e já está convidando o vice-presidente Hamilton Mourão (que já foi adido militar em Caracas) para uma briga de socos (“que venha desarmado”, disse o presidente venezuelano). O perigo é alguma provocação, do tipo de prisão de um brasileiro destacado (empresário ou funcionário) acusando-o de espionagem, por exemplo, criando uma saia justa e dando motivo para a mídia brasileira vociferar. Seria bom convocar o Barão do Rio Branco. (*) José Antônio Severo é o nosso correspondente em Brasília
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ALÔ GAROTAS: AQUI ESTÃO AS 19 COISAS PARA VOCÊ FAZER SE DESEJA SE CASAR COM UM DE NÓS CONSELHOS INFALÍVEIS PARA VOCÊ ESCAPAR DA SOLIDÃO E ENCONTRAR ALGUÉM PARA CHAMAR DE SEU JOÃO PAULO COLTRANE A revista Matéria Prima é declaradamente partidária da causa masculina, pois se destina, em especial, a dirigentes do mundo corporativo e esportivo. Nesses terreno, para o bem ou para o mal, nós homens mandamos no pedaço. Isso não quer dizer, porém, que somos insensíveis às grandes causas femininas, sobretudo em Belo Horizonte, onde há cem mil mulheres sem namorados. E o que pior: provavelmente nunca se casarão, já que elas são imensa maioria da população, em todas as faixas de idade (a partir dos 18 anos) e em todas as camadas sociais. O propósito desse texto é colocar as nossas leitoras em boas condições de vitória nessa vital disputa. E conseguir um homem para chamar de seu. Conversamos com muitos assinantes para saber por que há milhares de homens por aí, mas você não está casada e sequer namorando com nenhum deles. Veja o que apuramos:
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Homens não gostam de mulheres que sempre estão certas. Quem faz isso acaba se achando a melhor do que todas as outras pessoas, aí incluindo o próprio namorado. Você estará certa de que realmente é um ser superior se constar da sua biografia a realização de algum grande benefício para a humanidade. Por exemplo: a descoberta dos tipos sanguíneos ou o fator RH do sangue. Ou uma coisa ainda mais simples: a penicilina Nunca se importe com aparência do interessado, exceto se ele for pobre. Mas se, apesar da falta de dinheiro, for o gerente da loja ou do banco, as coisas mudam. Não seja exigente. Para de procurar apenas rapazes com emprego, aparência ou famílias melhores que as suas.
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Não seja brava com seu namorado pois ele tem o poder invencível de te rejeitar. E não adianta, mais tarde, acusá-lo de idiota, ao preferir uma garota bobinha a uma mulher brilhantíssima como você. Homens gostam de mulheres meigas. Repito: mulheres meigas.
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Ainda a propósito de mulheres meigas. Você pode ser gostosa, sexy, inteligente, mas se não for afetuosa, você está perdendo seu tempo, pois nenhum homem vai querer se casar contigo. Ninguém precisa de uma megera em casa.
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Nunca brigue com a mãe dele. Ao promover ou concordar com o conflito, você estará desconhecendo o impacto dela nos sentimentos do filho. Você é substituível, mãe só tem uma.
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Deixe de ser controladora. Não invada o celular dele ou cheire a roupa em busca de odores ou marcas suspeitas. Ninguém gosta de viver sob desconfiança. Não se esqueça de que o mercado não é favorável a você, segundo o censo do IBGE.
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Saiba cozinhar. Homens gostam de mulheres que sabem cozinhar. Isso não quer dizer que eles desejam te transformar em empregadas domésticas. Há mulheres que jamais acenderam o fogão do seu apartamento ou na sua geladeira só há iogurtes, bebidas energéticas e cervejas. Lembre-se: se você está disposta a cozinhar um dia para o seu filho, porque não faz o mesmo, agora, para o seu namorado?
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Homens gostam de mulheres parecidas com eles. Alma gêmea não quer dizer idêntico? Ele pode se encantar com seu corpo maravilhoso, mas se ele adora música sertaneja ou assistir a rodeios em Barretos não o leve para concertos de jazz no Palácio das Artes.
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O perfeccionismo é devastador. E logo mostra a cara. Você começa a lamentar: ele deveria ser um pouco mais bonito, a profissão dele não é interessante ou poderia ter uma conversa mais divertida. Isso te impede de enxergar as coisas boas dele e, nesse caso, o final da história nunca é bom. Ninguém jamais preencherá todos os seus pré-requisitos.
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Faça como os pescadores: use a isca certa. Nem todos os peixes são atraídos pelos mesmos tipos de iscas. Uns gostam de minhocas, outros preferem peixes menores e há até aqueles que mordem qualquer coisa brilhante e reluzente que aparece à sua frente.
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Não busque o cara que você quer, mas o que você precisa. Ninguém fica eternamente satisfeito em ter conquistado o que sempre desejou. Essa é uma das desgraças da nossa condição humana. Fixe-se homem que você precisa. Ele será, basicamente, uma pessoa com dinheiro o suficiente para ajudar você a crescer e chegar o máximo como ser humano.
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Homens não gostam de galinhas, a não ser no almoço de domingo. Ninguém confia em mulheres que fazem sexo casual com a turma toda ou já teve mais namorado do que o número de estrelas no céu. Mostre-se recatada, pelo menos no am-
biente que você vive. E não comente nada sobre o seu passado, pois vai se revelar tão sujo quanto cozinha de restaurante.
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Aprenda com o silêncio dele. Se ele nunca diz que está apaixonado por você é porque não está. E se você sente necessidade de saber se ele está num relacionamento sério com você é porque também não está. Não será com perguntas insistentes que você irá conquistá-lo, mas com atitudes amorosas.
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Afaste-se de homens indisponíveis. Não dá para guardar seu carro numa garagem ocupada por outro automóvel.
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Ciúme em demasia é irritante. Homens não gostam de mulheres absurdamente ciumentas ou que se mostram loucas. Ele não ficará com você simplesmente porque você arranhou ou jogou uma pedra no vidro do carro dele. Isso é como jogar role-
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ta russa, com balas em todas as câmaras do revólver, exceto uma. Sua chance é mínima.
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Não o agarre à força - Nenhum homem gosta de mulher disposta a fazer qualquer coisa para ficar com ele, pois isso resulta sempre em atitudes drásticas, como ficar grávida. Você acabará sozinha e com um filho para criar.
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Não mude nem tente mudá-lo. Seja sempre o que você se mostrou para ele quando o conheceu. Ele também será sempre o que se mostrou. Não seja dissimulada nem tente mudá-lo. Isso é mudar as regras do jogo durante a partida.
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Não desanime. Evite a leitura de artigos de revistas que falam que todos os homens legais estão casados, são gays ou se mudaram para Miami. Seja determinada, pois o homem da sua vida pode ter perdido o vôo para os EUA.
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(Tudo o que você gostaria de ler nas revistas mas nunca publicaram)*
PIMENTEL GARANTE: DEIXOU O DINHEIRO DO 13º SALÁRIO. ZEMA É QUE NÃO PROCUROU DIREITO O ex-governador Fernando Pimentel desmentiu a denúncia feita pelo governador Romeu Zema de que não deixou dinheiro do 13º salário, mas apenas boletos para serem pagos por sua administração. Em entrevista a HoraExtra, o petista esclareceu que Zema apenas não procurou direito. “O dinheiro para pagamento do13º salário ficou debaixo do açucareiro, na cozinha do Palácio Mangabeiras”, afirmou. O ex-governador informou também que o seu amigo Aécio Neves ficou de lhe passar o telefone de Joesley Batista, presidente do grupo JBS. “Assim que estiver com o número, o repassarei ao Zema, caso ele ainda necessite de recursos para colocar em dia o pagamento das professoras. Joesley é boa gente e nunca negou nada a ninguém. Se ele tiver o dinheiro, adiantará na hora”, afirmou.
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ZEMA PROMETE SUBSTITUIR SUA FOTO OFICIAL: “VOU FAZER UMA SELFIE; FICA MAIS BARATO O governador Romeu Zema, do Partido Novo, promete muitas medidas de economia nesses primeiros meses de gestão. O objetivo será o de arrumar dinheiro para pagar salários atrasados do funcionalismo e, por isso, pretende adotar a mesma política de recursos humanos das suas empresas, que consiste em 12 horas diárias de trabalho, incluindo sábados e domingos. Não haverá vale-transporte para o funcionalismo, mas essa medida tem apenas o objetivo de melhorar a saúde dos servidores, obrigando-os a se exercitar antes e depois do trabalho. A ordem é ir a pé para a repartição. Cada um também deverá levar de casa seus objetos pessoais, como computador e caneta. O papel higiênico será obrigatórios para aqueles que usam o banheiro da Cidade Administrativa. Da sua parte, Zema vai contribuir com a substituição de suas fotos nas paredes das secretarias e autarquias por uma simples selfie, que fará do seu telefone celular. Outra iniciativa positiva será o encerramento das atividades do Ipsemg, que
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atualmente presta arriscada assistência de saúde aos funcionários e seus dependentes. Os funcionários serão atendidos pelo SUS, que é aquele suplício que todo mundo conhece, mas pelo menos tem a garantia de que não faltarão médicos, uma vez que o salário é depositado em Brasília, pelo Ministério da Saúde, sem risco de atraso.
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(Tudo o que você gostaria de ler nas revistas mas nunca publicaram)*
CRISE FINANCEIRA ATINGE VATICANO E FAZ IGREJA PINTAR DE BRANCO TETO DA CAPELA SISTINA O papa Francisco ordenou a execução de nova pintura do teto da Capela Sistina. Por medida de economia, o Sumo Pontífice determinou que o teto será todo branco. Segundo nota assinada pelo secretário de imprensa vaticanês, “os custos para a manutenção do teto, até então completamente coberto pela obra do
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pintor toscano Michelangelo, superavam em muito a venda de ingressos para turistas interessados naquela onerosa obra de arte”. A nota afirma que a nova pintura ficará mais bonita, muito clara e absolutamente grátis na hora de manutenção: “Para limpar, basta passar um pano molhado”, teria declarado o Papa. O jornal L’Osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, informou, em editorial na terceira página, que Sua Santidade também pretende editar um pacote de medidas financeiras com o propósito de aumentar as receitas da Igreja em todo o planeta. Uma das medidas seria o fim do casamento indissolúvel, que hoje já não é mais respeitado pelos fiéis. Em homilia dirigida aos cardeais, Sua Santidade lembrou que muitas pessoas se casam até cinco vezes, mas apenas uma na paróquia do seu bairro. Nas outras quatro, a união fica na informalidade. “Quanto dinheiro a Igreja perdeu em situações como essas, que se repetem a cada minuto no planeta?” perguntou o jornal.
ONU APROVEITA DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTARIADO E OFERECE NOMES PARA ADMINISTRAR MINAS E BH Embora o Dia Internacional do Voluntariado tenha ocorrido em cinco de dezembro passado, somente agora a ONU divulgou a informação de que sugeriu alguns nomes para administrar o governo de Minas e a prefeitura de Belo Horizonte. No primeiro caso, o assunto já foi resolvido com a substituição de Fernando Pimentel, mas no caso da capital mineira, persiste a preocupação com uma grande capital que há dois anos está desgovernada. Segundo a organização internacional, única coisa que funciona em Belo Horizonte são os engarrafamentos de trânsito, que nunca faltam ao serviço. As inundações foram também citadas e sempre se aproveitam da omissão da prefeitura para provocar mortes e causar prejuízos. Mas as enchentes estão distantes pois irão se reapresentar somente no final do ano. A nota informa que não será difícil conseguir voluntário para ocupar o cargo aparentemente vago, pois administrar a cidade será simples. “O prefeito anterior deixou bastante dinheiro em caixa. Como o atual nada realizou, também não haverá gastos com as caríssimas festas de inauguração”, explicou.
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LOJA DO GALO TEM RELOGIO QUE FAZ CONTAGEM REGRESSIVA PARA O TIME VOLTAR A SER CAMPEÃO O sofrimento de quase 50 anos na fila para ver o seu time sagrar-se novamente campeão brasileiro não desanima a torcida e dirigentes do Atlético. Antes mesmo da abertura de mais uma temporada esportiva, a Loja do Galo, estabelecimento comercial onde se expõe o tradicional manto sagrado, recebeu um relógio especial (foto) que marca os dias, horas e segundos que faltam para o time sagrar-se campeão e, quem sabe, aterrissar novamente em algum país onde se disputar o campeonato mundial de clubes. Quando os ponteiros se encontram no meio-dia, surge uma voz cacarejante grasnando “Eu acredito! Eu acredito!”
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AQUI ENTRE NÓS
A IMPRENSA DE
ANTIGAMENTE
(AQUELE ‘INCORRIGÍVEL’ COPIDESQUE) SYMPHRONIO VEIGA Antigamente, a relação entre repórteres e copidesques (o profissional de redação com a função de adequar textos de matérias para publicação) nem sempre era pacífica. Repórteres reclamavam das modificações nos textos muitas vezes distorcendo o conteúdo das matérias. Mas, havia raros copidesque perfeitos no trabalho, como Geraldo Mayrink, que começou sua carreira na década de 60, trabalhando no Diário de Minas a convite do chefe Fernando Gabeira. Ele faleceu aos 67 anos, vítima de um câncer. Mayrink
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era diferente dos demais copies: conversava com os repórteres no momento da correção das matérias e o entrosamento era total, sem reclamações. Mas, nem sempre era assim. No final da década de 70, o professor e filólogo Ayres da Matta Machado mantinha coluna no jornal Estado de Minas com o nome ‘Como Escrever Certo’. Naquele tempo, quem fazia a revisão nas matérias era o secretário do jornal, Odair de Oliveira, um sisudo copidesque incorrigível, ou seja, como diziam, irrepreensível na função. Sistemático, Odair chegava para trabalhar exatamente às 13 horas, assinava o ponto, dirigia-se à mesa, tirava um monte de matérias da gaveta, e começava o trabalho, invariavelmente usando lápis. Seis horas depois, assinava o pondo de saída, houvesse ou não matérias para corrigir. Antes, por volta das 15 horas, chegava à redação o professor Ayres com a coluna em três laudas datilografadas. Dava “boa tarde” ao copidesque, que não respondia e nem olhava para o velho professor, que, humildemente, pedia: - Odair, corrige só o errado, viu!...
GUARDA DO FILHO ÚNICO Em um julgamento de divorcio, o casal briga pela guarda do único filho. A mãe, muito emocionada, tenta se defender: - Excelentíssimo juiz... Esta criança foi gerada dentro de mim...Ela saiu do meu ventre, portanto eu mereço ficar com ela, eu fui a máquina que a gerou.
PAPO 4 ESTRELAS SOBRE AS 3 VIRTUDES À paisana em palácio (da Alvorada), um 4 estrelas mais experiente conta para o colega de caserna que quando Deus a fez o mundo para que os homens prosperassem, decidiu dar-lhes duas virtudes. Fez os suecos organizados e respeitosos; os ingleses corajosos e estudiosos; os japoneses trabalhadores e disciplinados; os italianos alegres e românticos; os franceses cultos e finos; os brasileiros inteligentes, honestos e petistas. Os franceses, trajando coletes amarelos, saíram para a rua protestando: “A todos os homens do mundo foram dadas duas virtudes, por que três para os brasileiros?” Sem usar canhões de duchas de água, cassetetes e balas de borracha, Deus acalmou a multidão, admitindo o erro, e decidiu: “Mantenho as três virtudes, mas nenhum brasileiro poderá utilizar simultaneamente mais de duas virtudes”. Assim foi que quem escolhesse ser petista e honesto não poderia ser inteligente; quem fosse petista e inteligente não poderia ser honesto e o que fosse inteligente e honesto não poderia ser petista.
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O juiz passa a palavra para o marido, que resolve usar o seu lado lógico: - Senhor juiz, me responda uma pergunta: quando eu coloco uma moeda em uma máquina de refrigerantes, a latinha que sai é minha ou da máquina?
DIPROMA Na sala de estar de uma tradicional fazenda do Campo das Vertentes, um poderoso fazendeiro recebe a visita de um pecuarista uberabense: - Diproma, vai falar para sua avó trazer um cafézim aqui pra visita! - Mas que nome engraçado tem esse menino! É seu parente? - É meu neto! Eu chamo ele assim porque mandei a minha filha estudar em Belzonte e ela voltou com ele!
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CARTA DE PORTUGAL
COIMBRA DAS CANÇÕES
E DOS DOUTORES ELIANE MACHADO DE LISBOA
Cheguei em Coimbra com duas informações na cabeça: ali estava uma das universidades mais antigas e famosas da Europa, Patrimônio Mundial da UNESCO. E era dali, ou inspirada ali, a música chamada justamente Coimbra, de autoria dos
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portugueses Raul Ferrão e José Galhardo, que Roberto Carlos gravou e que eu ouvia na minha infância. Nem precisa dizer que foi um tremendo sucesso na voz da eterna musa do fado, Amélia Rodrigues. Também sabia que era uma cidade musical. Com vários corais e bandas. Já tinha visto pelas ruas de Lisboa, mais de uma vez, apresentação de alunos daquela Universidade, com suas inconfundíveis
capas pretas e seu constante bom humor. Então as duas palavras de ordem eram: conhecimento e música. O dia não era nada favorável. Tinha ido de trem, o chamado comboio e, a despeito do conforto do vagão (ou carruagem como é conhecido pelos portugueses) a chuva e a neblina me impediam de curtir a paisagem e a cidade. Mas a estação era bem no centro, o hotel era próximo e já estava tudo acertado com a assessoria de imprensa da universidade. Tempo apenas para um almoço rápido e lá vou eu conhecer a tão famosa Universidade de Coimbra. Começamos com uma visita guiada ao Paço das Escolas, que abriga, entre outras
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edificações, a tão famosa Faculdade de Direito e a biblioteca Joanina, uma das mais belas do mundo. No final, a entrevista com o vice-reitor. Tudo cronometrado.
Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá Estes versos, que abrem o poema Canção do Exílio, foram escritos aqui em Coimbra, por Gonçalves Dias, em 1843, enquanto cursava Direito. “O aqui a que
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CARTA DE PORTUGAL ele se refere é Coimbra”, me lembra o vice- reitor Joaquim Ramos de Carvalho, logo no início de nossa conversa. Mais tarde, bem mais tarde, outra parte do poema seria incorporada à versão final do Hino Nacional do Brasil. Gonçalves Dias veio para a Universidade estudar, como vieram para cá outros brasileiros ainda nos séculos XVII e XVIII. “Formamos durante muito tempo as elites dos países europeus e, depois do século XVI, tornou-se a universidade das elites do espaço que falavam português. Porque os portugueses sempre tiveram essa ideia que deveriam centralizar a educação das elites em um único local, para melhor transmitir e formar um espírito único, numa consonância de ideias”, continua o vice reitor. “E por isso está muito ligada à formação das elites brasileiras. Que aqui foram formadas e, de certa maneira, aqui criaram a sua própria consciência nacional e a sua vontade de independência” conclui. E os brasileiros continuam a chegar. O último levantamento, correspondente ao ano letivo 2017/2018, apontou 2.500 estudantes de todas as partes do Brasil. Com brasileiros em Coimbra, em todas as épocas, não é de se estranhar a participar da universidade no nosso processo de independência. De alunos e de professores. Conversações e planos que começaram inspirados pelos ideais iluministas, vindos da França e embalaram a nossa Inconfidência Mineira que queria, como todos sabemos, acabar com a domínio português sobre o nosso país. Na
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época, 27 estudantes brasileiros estudavam aqui. Doze vindo das Minas Gerais. Apenas Tiradentes perdeu a cabeça. Independência que ainda demoraria algumas décadas e custaria ao Brasil, segundo alguns historiadores, uma pesada indenização em libras esterlinas.
Inconfidentes conspiram contra Portugal. Exatamente em Coimbra Joaquim Ramos de Carvalho cita o escritor brasileiro, Murilo de Carvalho como
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o detentor de um estudo detalhando a forma como, ”nas primeiras décadas da construção do Brasil como nação havia uma percentagem elevada de pessoas que haviam estudado em Coimbra e, se diz, haviam conspirado juntas contra os portugueses. A mais famosa delas, José
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CARTA DE PORTUGAL Bonifácio de Andrade e Silva”, patrono brasileiro. Aproveitando o clima cordial da entrevista, faço ao vice-reitor Joaquim Ramos de Carvalho a pergunta que não quer calar: – Como acadêmico e historiador, como enxerga essa curva do mundo para a direita? Dr. Joaquim não responde diretamente. Fala da importância de todos terem acesso ao ensino, diz que a universidade tem que ser digna da situação privilegiada que tem, dos altos custos do ensino em todo o mundo, da importância do trânsito de alunos e da diversidade de ideias e confessa uma preocupação, senão mundial, bastante europeia: “as universidades são, de fato, espaços de liberdade, tolerância pela diversidade, estímulo à crítica. Mas também correm o risco de, nesse processo, perder o contato com a população à volta. E quando isso acontece, é muito mal. Quando falam de extensão, falam de criar empregos, de criar empresas, mas nunca falam de valores. E isso, está tendo um custo”. E com esse pensamento de que o mundo acadêmico e a população em geral devem falar uma mesma língua, para evitar tantos desencontros, me despeço da Universidade e de Coimbra. Deixo para trás, com promessa de volta, uma arquitetura de impressionar, numa mistura de modernidade e tradição, o conhecimento que a Universidade é forte na área da saúde (pesquisa, tecnologia e produção de medicamentos) becos e ruelas e a diversidade ali tão presente na figura de jovens de todas as partes do mundo, num constante vai e vem pela cidade. Desço cantarolando uma música: Coimbra do choupal/ Ainda és capital/ Do amor em Portugal, ainda/ Coimbra onde uma vez/ Com lágrimas se fez/ A história dessa Inês tão linda. (Para quem não sabe ou não se lembra, Inês foi a mulher de dom Pedro, futuro rei de Portugal, assassinada a mando do pai dele, dom Afonso, em 7 de janeiro de 1355. Em Coimbra. Mas essa é outra história.)
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Vice-reitor da Universidade de Coimbra, Joaquim Ramos de Carvalho
SETE SÉCULOS DE
CONHECIMENTO
A Universidade de Coimbra foi fundada em 1290, por iniciativa do rei dom Dinis. Começou a funcionar com disciplinas que na época eram fundamentais, como Direito canônico. Atualmente é dividida em três polos, oito faculdades e dezenas de centros de investigações. Dica: não deixe de visitar o Paço das Escolas, que reúne a Biblioteca Joanina, a Capela de São Miguel, a torre da Universidade, o antigo colégio de São Pedro, o Jardim Botânico e o Museu de Ciências. No ano letivo de 2017/2018 foram contabilizados quase 23 mil alunos inscritos, em cursos conferentes de grau.
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CARTA DO CANADÁ
O MELHOR DESTINO PARA INTERCÂMBIO ARTHUR VIANNA arthurviannanet@gmail.com
O mercado brasileiro de educação no exterior cresceu 23% e alcançou a marca de 302 mil estudantes em 2018. Os dados foram divulgados na pesquisa promovida em todo o Brasil pela Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio e realizada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo. O levantamento inclui informações obtidas em 446 agências de intercâmbio e entrevista com 6.151
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alunos que já fizeram intercâmbio ou que pretendem realizá-lo. Os números impressionam. Com média de US$ 9.989 por aluno, o setor movimentou entre 2,7 e 3 bilhões de dólares nos últimos doze meses. Os cursos de idiomas continuam sendo o programa mais realizado por brasileiros, seguido pelo ensino com trabalho temporário e pacotes de férias para adolescentes. Mas, nos últimos anos, houve crescimento na procura por cursos de mestrado e doutorado no exterior, mesmo com a queda do investi-
mento público em bolsas de estudo. Com relação aos destinos mais procurados pelos estudantes brasileiros, o Canadá manteve a liderança, seguido pelos EUA, Reino Unido, Austrália e Irlanda. Há doze anos que o Canadá é escolhido como o melhor país para intercâmbio, tanto pelas agências quanto pelos estudantes pesquisados. Um em cada quatro estudantes considerou o Canadá como o melhor país para estudar no exterior. Entre os motivos apontados para a escolha, estão a qualidade de vida, a facilidade na obtenção de visto, a segurança, a cultura local e a boa infraestrutura para receber estudantes internacionais. Belo Horizonte conta com muitas e boas agências de intercâmbio. Uma rápida consulta no Google revela mais de 30 empresas na cidade. Algumas são espe-
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cializadas em programas de curta duração e outras mais voltadas ao ensino profissionalizante. E tem uma que só trabalha com o Canadá. O importante é pesquisar e buscar referências com quem já utilizou o serviço. Nem pensar em arriscar seu dinheiro e ainda ter problemas no exterior. Sem concorrer com as agências de intercâmbio e com um programa totalmente diferenciado, o Rotary International possui o seu próprio sistema de enviar e trazer jovens mundo afora. Os primeiros intercâmbios tiveram início em 1929, entre jovens da Dinamarca e da França. Hoje, mais de 8.000 jovens de 82 países participam anualmente do programa. No Brasil, o Programa de Intercâmbio de Jovens (PIJ) do Rotary começou em Belo Horizonte, há 51 anos, quando sete estudantes foram intercambiados para EUA,
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CARTA DO CANADÁ
Austrália e Alemanha. O número aproximado de jovens (entre 15 e 17 anos) que já participaram do programa no Brasil é de 21.500. Em 2017, 697 estudantes foram para o exterior e igual número chegou ao Brasil. Naquele ano, o Brasil ocupou a 2a colocação no PIJ do Rotary, superado apenas pelos EUA. O Canadá é forte parceiro do Brasil, pois, dos 180 jovens canadenses que foram para o exterior no ano passado pelo Rotary, 65 vieram para o Brasil. E o Canadá recebeu 65 brasileiros. E, já agora, vale a pena informar por que o sistema de envio e recepção de jovens pelo Rotary é diferente das agências de intercâmbio. Para começar, não há qualquer remuneração para os dirigentes rotarianos. São todos voluntários: instrutores, conselheiros e guias. Da mesma forma, as famílias anfitriãs não recebem do Rotary ou do jovem hospedado qualquer remuneração. O Rotary promove treinamentos tanto para os rotarianos que terão contato com os jovens quanto para as famílias an-
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fitriãs, que podem ser ou não associadas. O Rotary ainda mantém uma equipe em sua sede mundial para apoiar o programa e certificar os clubes que participam do intercâmbio. Outra grande diferença é que os dirigentes de um país conhecem pessoalmente os seus congêneres dos países parceiros, pois há encontros internacionais onde são realizados treinamentos e estabelecidas as parcerias. O custo do PIJ do Rotary é geralmente o mais acessível financeiramente, mas, por outro lado, é o de mais difícil ingresso por haver uma rígida seleção de seus participantes estudantes.
PALAVRA DO LEITOR
A ESSÊNCIA CULTURAL DE MINAS
“As Minas são muitas”. Nesta expressão de Guimarães Rosa está contida a amplitude da diversidade cultural mineira que se forma em três séculos de história atuante. E que nos legou 853 municípios e perto de cinco mil povoados, com variadas e diferentes heranças históricas, sociológicas e culturais e peculiares modos de vida, mentalidades, organizações urbanas e típicas feições sociais e econômicas. Estado mediterrâneo e central no mapa brasileiro, com seis fronteiras, com variedade antropológica e étnica, geográfica e geológica, onde encontramos a sua rica e singular herança cultural. É na plena compreensão deste “mosaico mineiro” que situa-se o patrimônio cultural de Mi-
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nas, que é seu diferencial e com que se insere e influi na história e na formação da nacionalidade brasileira. E que demonstra a indesviável necessidade de que seja preservada e estimulada por uma visão prioritária de políticas governamentais lideradas por uma Secretaria de Cultura. Pioneira na ocupação do território interior do Brasil-Colônia, na corrida pelo ouro e pedras preciosas, Minas gera extensa rede urbana e produzira, no Século XVIII, sociedade irrequieta e libertária, com lutas indenitárias e aspirações autonomistas, sempre presentes na Colônia, no Império e na República. A dinâmica da atividade mineratória gera os primeiros núcleos urbanos iniciais da Capitania, a
“Minas geratriz” de Rosa, completando-se ocupação do território com as atividades agropastoris, representando as matrizes essenciais da formação mineira. De minerador a agropecuarista, o mineiro mescla sua formação cultural e com estes traços conforma e caracteriza sua personalidade regional, reconhecidamente distinta no contexto nacional. Minas Gerais mantém os traços essenciais de uma “civilização urbana”, com um tipo de sociabilidade, de interação sociocultural. Assim, além da produção “estética”, nas artes e na cultura, mantém sua constelação antropológica com esta herança e este perfil. Surpreende a formação iluminista mineira no Século XVIII, que levou à Inconfidência Mineira de 1789, mesmo ano em que, em Paris, caia a Bastilha e iniciava-se a Revolução Francesa, com as mesmas motivações ideológicas. O século nos lega as cidades históricas e um surto artístico-cultural excepcional, que produz acervo hoje está inscrito na lista do Patrimônio
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Cultural da Humanidade da Unesco. Nas artes plásticas e visuais, na arquitetura, escultura, literatura, música e pintura, Minas gerou patrimônio raro e exemplar, com que se distingue na História e na Cultura brasileiras. E que, por sua excepcionalidade, merece atenção e tratamento diferenciados até para que gerem efetivas resultantes econômicas, de modo especial para os vários segmentos do turismo contemporâneo. Esta é a essência de Minas, decorrente da sua singular formação histórica e sociológica, compondo um patrimônio cultural com que se diferencia no Brasil e no mundo. O apoio necessário à plena exploração econômica do potencial cultural de Minas é um condicionante da sua modernidade. E que deve integrar a recuperação econômica do Estado e conformar, como merece, o seu futuro. MAURO WERKEMA - JORNALISTA E ESCRITOR MWERKEMA@UOL.COM.BR
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PALAVRA DO LEITOR
MINAS E A MUDANÇA Ainda não houve na história político-administrativa de Minas um governador egresso da iniciativa privada, aquele que ainda não assistira o exercício da governadoria, que tem por vértice o interesse público, tão só o interesse público. Agora nos defrontamos com a exceção, o governador eleito é cristão novo. Minas aguarda que o escolhido se encontre com suas promessas a partir do dia 1º de janeiro. O eleito tem demonstrado garra, energia, entusiasmo e sinceridade em suas manifestações e em seus projetos. Ele possui uma obsessão, um foco quase exclusivo de governo, que é a privatização. Devagar com a louça, governador! A privatização não é vara de condão, e já provou, por vezes, que traz defeitos em sua geração, alta corrupção em seu andamento e, o pior, ineficiência na prestação do serviço. É importante ao governador prevenir-se quanto ao anúncio de intenções privatizantes. Interesse público não se privatiza. Esta opção é permitida a toda atividade exercida pelo Estado quando concorre diretamente com uma organização particular, como os bancos, que a prestam com eficiência, embora operando a custos altíssimos. Em momento que o interesse público se esgota pode-se, no máximo (a juízo crítico do autor), eliminar o seu protagonista, como fez o Estado, em
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Governador Romeu Zema
ato inteiramente desastrado, equívoco e atentatório à necessidade de seu cliente cativo e ao próprio interesse público ao extinguir a centenária Imprensa Oficial, então guardiã indormida da tradição e dos valores de Minas. É imperioso (para quem não experimentou um encargo administrativo) perceber uma diferença pouco sutil entre o público e o privado, que o governador eleito resiste em não assimilar. Para administrar o público não se exige matrícula no privado. Para administrar o público, no entanto, é preciso, senão experiência, algo como familiaridade. Ilustra-se melhor ao acentuar-se que o interesse público é o esteio da administração estatal, sob o qual repousam os aparelhos que lhe garantem o papel institucional. O exigível na administração será sempre o interesse público, que se alteia, aquilo que consulta ao nunca esconso de necessidade, objetivo ou vontade do povo, que pode se manifestar desde o voluntarismo assistencial ao desempenho de um órgão público poderoso, por vezes (inutilmente) tentacular. Por isto, o interesse público admite formas de melhor a ele responder, como as fusões, incorporações ou anexações. Anuncia agora nosso governador a tendência de privatizar o BDMG. Sobradas razões irritam os mineiros pela caminhada trôpega daquela instituição. Sempre existiu para acomodar derrotados e acolher nomes da simpatia do governador. Não, o que o banco aguarda é um enxugamento rigoroso (preservando os servidores) e revalorização de seu objeto social. É instrumento poderosíssimo para o desenvolvimento, síntese da proposta para o quatriênio. E a COHAB, também ameaçada, pode agregar-se ao banco como órgão atuante em programas sociais de moradia. São indelegáveis as atribuições destes órgãos. JOSÉ MARIA COUTO MOREIRA ADVOGADO
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