n º 0 ano 1 mARÇO/ABRIL 2005 R$ 3,00
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edição de março / 2005 04 06 07 08 10 14 17 18
HISTÓRIA Grêmio Recreativo Carlos Augusto Lajota ARTIGO Artes do Fazer SITE Impublicáveis MÚSICA Solana: Uma banda feita de esperança ENSAIO A sua culpa ESPECIAL Entrevista Quase AGENDA Março e Abril 2005 FOTONOVELA Mirabólica
E X P E D I E N T E
e d i t o r i a l
Editor: Rafael Mattedi Colnago Conselho editorial: Juliana Dadalto e Rafael Colnago Jornalista responsável: Graça Rossetto MTB 1593/ES Projeto gráfico: Hugo Cristo e Janaina França Gráfica: Gráfica e Editora Jep ltda. Distribuição:
Dizer que alguma coisa era importada, antes de se tornar uma fala quase que sem sentido prático, já significou qualidade. Mais recentemente, uma lógica igualmente limitada de ter que gostar disso ou daquilo “porque é capixaba”, só serviu para vender alguns CDs e refrigerantes, antes de se tornar motivo de piada. Entre a cruz do congo e a espada da Quase, procuramos uma linguagem para falar de produção cultural, que seja simplesmente honesta, criativa e interessante. Vamos ver no que vai dar!
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Rafael Colnago Envie seus comentários para a redação pelo email: revista.couche@gmail.com Envie também sugestões de pauta, releases e a sua própria produção. Dúvidas: 9943-2208. Couché Avec Moi não admite publicidade redacional. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Couché Avec Moi. Internet: www.fotolog.net/couche
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História
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Grêmio Recreativo Carlos Augusto Lajota
— Posso te chamar de Lajota? — Claro! — E qual o nome daqui? — Olha, eu venho nesse bar há mais de 20 anos mas... Tonico vem cá! — Pois não. — Qual o nome daqui mesmo? — É Bar do Clay. — Anota aê, B-a-r-d-o-C-l-a-y. — Vocês vão querer tomar alguma coisa? — Rapaz, por enquanto vamos de café mesmo, em respeito à segunda-feira. QUEM DIRIA QUE UM DOS MAIORES SAMBISTAS do Espírito Santo iria contrariar o estereótipo e pedir café em pleno Bar do Clay, berço e QG da Velha Guarda capixaba. Quem diria que, em 2005, a voz cheia do mais antigo puxador de samba-enredo do estado não seria ouvida na noite de gala do Sambão do Povo. Quem diria que um sujeito nascido na Praia do Canto e chamado Carlos Augusto Vieira iria virar um sambista de 17 sambas, 51 carnavais e um codinome: Lajota. O apelido nasceu na boca da molecada do Morro da Gurigica, onde Lajota cresceu espiando os ba-ti-cun-duns no fundo dos quintais. Mais tarde, em 1968, o garoto da Gurigica esticou seus ouvidos até o Rio de Janeiro para beber de outros quintais. Foi nessa viajem que Lajota conheceu o lendário Cartola. Aliás, é só falar de Cartola que o papo engata e... — Tonico! Tonico! — Sim. — Vê uma cerveja por favor. E acende um cigarro. Lajota foi um dos fundadores do Grupo Espírito Samba, que nasceu em 1975 e acabou sendo a novidade dos Festivais de Música do Ginásio Dom Bosco no começo
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dos anos 80. “Foi um frisson quando chegamos no palco. Antes da gente o Festival só tinha MPB”, lembra com a mesma nostalgia com que recorda os antigos carnavais que desfilavam pela Avenida Princesa Isabel. — Sinto falta do carnaval de antigamente. Hoje o sambista perdeu lugar para os destaques. Só para se ter uma idéia, um intérprete ganha da prefeitura mil reais pela gravação do CD das Escolas e nos ensaios e no dia do desfile não recebe nada dos ingressos vendidos. Depois de bebericar rapidamente a cerveja sem colarinho, como quem avisa que vai continuar o assunto, Lajota demora 3 segundos para lembrar a letra do samba O Visual Virou Quisito, que é da autoria de João Nogueira, e também um pouco dele. Afinal, não é só o João que acha que o carnaval mudou e deixou o povo do lado de fora. Canta Lajota! — Depois que o visual virou quisito/ na concepção desses sambeiros/ o samba perdeu a sua pungência/ e o pesar das circunstâncias/ foi imposto pelo dinheiro/ E o samba que nasceu menino pobre/ agora se veste de nobre no
desfile principal/ onde o mercenarismo impõe a sua gana/ e o sambista sem grana/ não brinca mais o carnaval. Lajota é daqueles caras que acreditam ter o poder de promover uma mesa de bar a bateria. É justamente com essa cadência improvisada que ele coloca música entre as suas frases. Entre elas, figura como novidade o seu último samba chamado Homenagem à Velha Guarda da Unidos da Piedade, que vai fazer parte do CD da Velha Guarda Capixaba, que será lançado em maio. “Sempre componho no estilo colcha de retalhos, colocando uma frase de cada vez. É difícil olhar pra uma composição e dizer que tá pronta”, afirma. Disfarçado de Carlos Augusto, Lajota trabalha há 21 anos na prefeitura de Vitória. “Nunca deu para viver de música, por isso é preciso ter o pé no chão. Mas, já que o Cartola só aconteceu depois dos sessenta e eu estou chegando lá, quem sabe um dia”, sonha e pede: — Tonico, vê a saideira que Dona Ângela já deve estar preocupada comigo. TEXTO & FOTOS Flávio Borgneth
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A R T I G O
Artes do Fazer
LEMBRO-ME DA PRIMEIRA VEZ que tive contato com uma obra de Hermann Hesse. Tratava-se de “A arte dos Ociosos”, escrito em 1973. Lembro-me também que, embora o autor fosse há muito consagrado e respeitado, só peguei o livro em minhas mãos porque o título me era, por demais, atrativo. Entretanto, por mais paradoxal que isso possa parecer, este foi um dos poucos livros que me tirou o descanso. De cara, Hesse me afirmava que quanto mais o trabalho intelectual se deixasse envolver pela atividade industrial, mais entraria em decadência e em descrédito a arte do lazer. E eu nunca mais parei de pensar nisso. Três anos depois, a frase do autor cai como uma luva quando tento pensar a cena da produção cultural de hoje. Quando frequento as peças teatrais, os shows das bandas capixabas, quando converso com amigos que trabalham na cena cultural do Estado, chego a uma constatação: os artistas estão cansados demais. Cansados de esperar pelo reconhecimento que nunca chega – a não ser em caso de morte, como foi o caso do maestro Jaceguay Lins cansados de “passar o pires” em busca dos recursos que nunca chegam, cansados de carregar em seus próprios veículos cenários inteiros de espetáculos ou instrumentos de bandas, cansados de tentar provar para todos que a produção cultural é importante, cansados de entrar na burocracia para verem seus projetos aprovados nas leis de incentivo, cansados, cansados, cansados. E de tão cansados, os artistas que deveriam primar pela criação, se rendem à exaustão. Eu não vou aqui cair na desnecessária discussão de que existe uma “Arte” ou uma determinada “Produção Cultural” que deve ser valorizada e outra que não merece tanta atenção. Não vou cair nas armadilhas das posturas binárias e nas infindáveis discussões frankfurtianas sobre alta cultura e baixa cultura. Tentarei também não cometer o deslize de valorizar apenas o que alcança projeção midiática e de esquecer a cultura que se manifesta nos “entre-lugares” não autorizados por esta
06 mídia que advoga para si a tutela dos valores. Também não vou tentar entrar na discussão sobre que tipo de produção cultural deve ou não ser valorizada neste Estado. Aliás, sobre a questão do valor, Marx, Ricardo, Smith, entre outros, já se debruçaram antes de mim e, até por isso eu não vou discutir isso aqui. Seria bom que pudéssemos pensar e falar da cultura e da produção cultural como algo que é indispensável a todos sem que, para isso, a maioria das pessoas tivesse de se render ao critério de poucos. Gostaria mesmo de falar da questão da cultura, entendendo esta cultura como uma instância capaz de construir significados e de veicular valores de uma sociedade que, ao invés de estar nos gabinetes dos burocratas, resiste assistindo uma peça no decadente Carmélia, que não está nos modismos das colunas sociais, mas que está nas platéias do ‘Cine Falcatrua’, na Ufes, que não se rende frente à inércia, mas que se assenta no lugar do “respeitável público”.
VANESSA MAIA Professora do curso de Comunicação Social FAESA, Mestre em Comunicação, Imagem e Informação UFF/RJ, Especialista em Políticas de Comunicação Organizacional UFES/ES.
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Impublicáveis
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A IDÉIA DE CRIAR O SITE “IMPUBLICÁVEIS” surgiu no cotidiano da redação. Todos os dias, produzimos centenas de imagens que não são publicadas. E isso é normal. Porém, algumas delas, que nós gostaríamos que fossem mostradas ao público, são vetadas. Ou por causa da diagramação antecipada das páginas, que pede uma foto vertical ou horizontal mesmo sem saber qual será a melhor foto. Ou por falta de sensibilidade fotográfica dos editores. Ou mesmo por que não se encaixam com o perfil da matéria. A não publicação desse material, que consideramos melhor do que o que vai para as ruas, provocava um certo desestímulo em nós, que sempre buscamos produzir imagens diferentes do senso comum. Pensando nisso, nós resolvemos criar uma forma de tirar da gaveta esse material e divulgar para o público o que é produzido no dia-adia do jornal, e não chega até o leitor. O Blog é apenas um estágio inicial do que pretendemos. Em breve, vamos criar um site para não só publicar nossas fotos, mas também abrir espaço para discutir a produção fotográfica e o mercado fotográfico capixaba.
Impublicáveis www.impublicavel.zip.net
Gabriel Lordêllo www.fotolog.net/gabriellordello A Gazeta e Notícia Agora
Bruno Miranda www.brunomiranda.com.br A Gazeta e Notícia Agora
Bruno Zorzal A Tribuna
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M ú s i c a
08 UMA HORA DE CONVERSA NA CASA ALTA, uma mistura de quartel general, refúgio e estúdio. Entre uns quatro cigarros de Dante e alguns telefonemas atendidos por Bento, é que nasce o bate-papo com os dois, para o que seria uma entrevista bate-bola com esses dois. Mas, impossibilitada pelo rumo de uma conversa descontraída e cheia de personalidade, surge o que lhes apresento com o título acima, palavras dos próprios artistas. Direto de Noites Tropicais, livro de Nelson Motta, surge o nome da banda que deu seus primeiros passos a partir de um grupo de literatura em Ecoporanga com Dante e Juliano. A formação atual deu-se por encontros ao acaso com Murilo e Bento, e com testes de audição para a escolha do guitarrista Rafael. O início curioso talvez justifique a qualidade lírica e a poesia do grupo, com a proposta de uma música de qualidade que eles convidam a ouvir por ser “original, autêntica e honesta”. Solana significa “a abstração extraída do laranja, provocada pelo choque do sol contra leves nuvens”. Entendeu? Mas nem é preciso. Agora, o que também não dá pra entender, é por que depois de três anos para produzirem seu primeiro álbum, lançado em 2003 eles acabaram sumindo do cenário musical capixaba mesmo tendo a banda como prioridade. - Então, por que o sumiço? “Um pouco de desilusão e insatisfação. Não temos muito pra onde correr. Podíamos tocar todas as semanas, mas preferimos não cair na super exposição para manter o que há de raro no show”. A banda, quarta colocada no Festival da Revista Oi e já vencedora do Rock por essas Bandas – que, aliás, nunca recebeu o tal troféu – não faz colagens musicais. Apesar de apresentar letras essencialmente rurais e regionais, opta pela não inserção de ritmos como o Congo. - Aliás, Dante, que história é essa da camiseta “Congo é o caralho”, no show realizado no berço do Congo? “A frase é do Gauche e foi parar na camiseta da Revista Quase. A gente perde os amigos, mas não perde a piada (rs). Depois quase todo mundo entendeu a brincadeira”. – Mas,
Solana: Uma banda feita de esperança
Congo é o caralho? “No espírito da piada sim. É uma manifestação contra a massificação do que se fez da cultura capixaba, uma reação contra a apropriação indébita do Congo. O capixabismo é uma coisa muito pejorativa”. Influenciados por todos os tipos de ritmos, o que mais inspira as composições são as aflições pessoais de Dante. Enquanto para Chico Buarque uma música é feita com cigarros e whisky, para Dante e Bento uma música se faz com angústia, um violão e silêncio, ademais de outros sentimentos que não a alegria. Dante ainda poetiza a idéia e revela que a música é a sua “satisfação com aquilo que não me satisfaz”. - Mas qual é o estilo musical de vocês? Respondem: rock demais para o pop e pop demais para o rock. Não gostam de rótulos e simplesmente fazem um som, que de acordo com a poesia do cantor e compositor Dante Ixo, nasce junto com as palavras. Os meninos falam também das dificuldades para entrar no mercado. O álbum, produzido por Sérgio Benevenuto, não conseguiu emplacar nas rádios porque o Solana optou por não aderir à política do conhecido “jabá”. No estado, de acordo com os músicos, não se coloca uma música no rádio sem pagar por isso (salvo a Rádio Universitária). - E há planos para um próximo CD? “Na verdade repertório não falta, mas para esse ano o disco continua o Quanto mais pressa, mais devagar”. Sem pressa. A intenção dos meninos é sair do estado.“Vitória está muito aquém do que se pretende para o Solana, falta oportunidade”, conta Dante. - E como vocês se vêem daqui a 10 anos? “Não sei, vamos morrer antes!” (muitos rs). Nesse caso, depois do silêncio, Bento arrisca dizer que não se vê tocando numa banda, mas certamente trabalhando com música. No entanto, “tudo muda muito, tem chances”, ressalta. Já Dante, depois de um silêncio mais longo e uma expressão enigmática se limita a brincar com o óbvio: “Se a banda não acabar, ainda vai existir”. TEXTO Graça Rossetto FOTO Caroline Vargas
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A sua culpa
Ficha Técnica FOTO Gibran Chequer / Pix Fotografia ILUMINAÇÃO Lucas Aboudib / Pix Fotografia PRODUÇÃO Naná Matos MAQUIAGEM Marcos Madeira
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Os modelos Cecília Nitz e Hugo Mainardi vestem: Foto 1, Cecília: Calça e Moletom Disritmia, Hugo: Blazer Marcelo Sommer. Foto 2, Colar Disritmia, Blusa Marcelo Sommer. Foto 3, Hugo: Camisa Marcelo Sommer, Cecília: Casaco Drosófila e Saia Disritmia. Foto 4, Hugo: Camisa Marcelo Sommer. Peças do Show Room Claudia Pinheiro Contato (27) 3317 3759
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Entrevista Quase
DE FÉRIAS E PRESTES A COMPLETAR DOIS ANOS de existência, a revista de humor em quadrinhos Quase, abre mão de duas preciosas horas de sua folga, num claro exemplo de corporativismo, para conversar com os repórteres da Couché. Dois dos cinco editores da publicação, Klausberg (Keka) e Gabriel Labanca, (os outros são Daniel Furlan, Juliano Enrico e Fábio Turbay) falaram, entre outras coisas, sobre: cultura capixaba, empresários capixabas, Lei Rubem Braga, luta livre, processos e o possível fim da revista no final do ano. “A Quase está fadada a um fim”, diz categoricamente o quadrinista Keka. Brincadeira ou não, gostando ou não, a verdade é que a revista Quase já é um marco na história do humor capixaba. Piadas agressivas, ataques a ícones culturais locais, camisetas com dizeres polêmicos e festas inusitadas, fazem da revista alvo tanto de críticas contundentes como de elogios rasgados. E eles prometem rechear nossas bancas por, pelo menos, mais um ano. Ano passado vocês fizeram uma festa no mínimo surpreendente, a festa da “Luta Livre”, e estão pensando em repetir a dose no lançamento da próxima edição. Como, onde e quando vai ser essa festa? E quais serão as novidades? KEKA - Não sabemos ainda. Para a luta livre agora a gente mudou praticamente todos os personagens. Só o Homem Galinha que se manteve e provavelmente o Guilhermo Nunes (personagem do Raul), que é um personagem que tem uma piroca e é engraçado. LABANCA - É um personagem carismático, né. (Risos) K - Pois é, a festa vai ter mais lutas, mais personagens, mais tempo... L - Vai ser a continuação da luta, a revanche do Homem Galinha, apesar dele ter ganhado. K - Mas na verdade a Quase está de férias e não fizemos porra nenhuma ainda. Ainda no ano passado vocês fizeram a “Festa do processo”. Muita gente achou que fosse mais uma brincadeira da Quase. Vocês realmente foram processados?
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L - Nós não fomos processados, isso é uma inverdade. K - A história foi a seguinte, uma amiga da mãe do amigo do Daniel (um dos editores da revista), falou que entrou com um processo no Ministério Público por causa da matéria sobre os pomeranos que (enfático) Gabriel da Costa Labanca que fez. L - (Risos e insultos) K - (Apenas insultos) L - A matéria instigava a população capixaba a se proteger dos pomeranos, que estavam descendo as montanhas para evitar a miscigenação, e a revista Quase é completamente a favor da mestiçagem. Essa senhora não gostou, achou isso discriminação e falou para a mãe do amigo do Daniel que estava entrando com um processo. Mas a gente não recebeu nada ainda. Não estamos muito preocupados com isso porque acreditamos muito que o nosso Ministério Público nunca irá se prostrar a tamanha falta de bom senso. K - Até porque eles tem mais coisas pra fazer. Tem aí os ônibus queimados... L - Tem o Gratz, tem tanta coisa pra fazer que eles não vão ficar se preocupando com um monte de jovenzinhos sem noção, que fazem uma revistinha qualquer. Então, a
gente decidiu se promover fazendo a festa do primeiro processo da revista. Mudando de assunto, a revista Quase teve o seu projeto aprovado pela Lei Rubem Braga. Qual é o teor desse projeto e como vocês pretendem utilizar os recursos? K - A idéia surgiu quando nossa ex-assessora de imprensa, Raquel Paternostro, não queria trabalhar e falou pra gente mandar um projeto para a Rubem Braga. Aí, um ano depois, fizemos o projeto e começamos a colocar as falcatruas lá. Falamos que trazemos incentivos para o ES, que promovemos a cultura local, que Luiz Paulo é lindo... Quando estava praticamente pronto, a gente levou pro cara que recebe os projetos e ele falou: “Faz assim, assim e assim” e pronto, colocamos exatamente o que eles queriam. Não foi mérito nenhum nosso. Eles queriam dar o dinheiro pra gente. Eu até tentei evitar que eles dessem, mostrando a revista e tal, mas não funcionou. Sinal de que aquilo vale por quem é mais bonito e obviamente a gente ganhou. A gente tem que fazer seis revistas, festas, promover e tal. Já está atrasadaço, um mês de atraso no calendário. Depois disso a gente vai lavar o dinheiro, comprar um carro e cada um vai pra Cancun. (Risos).
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Qual é a visão de vocês sobre a cena cultural capixaba? K - (Risos) Na parte cinematográfica, eu tenho uma posição duvidosa. Muita coisa que aparece acho uma merda. O pessoal da Ufes produz muito pouco. Lá tem duas galerias para os estudantes sem talento de artes fazerem alguma coisa, mas é difícil. De vez em quando aparece um negócio maneiro, por exemplo, a exposição de fotos das panorâmicas de Vitória do David Protti foi foda. L - Uma coisa que a gente sempre fala em entrevista é que a galera fica muito na falação, na militância, que o governo não dá apoio. Mas, bicho, o pessoal não corre atrás. A gente nem corre tanto atrás como deveria e tá aí, há dois anos lançando uma revista periódica que consegue se sustentar. Mas neguinho fica falando, iludido, que ele é o grande artista e que ninguém apóia, pensando que um dia Deus vai chegar e dar dinheiro pra ele fazer a arte dele. K - Não existe mais mecenato, esse negócio não existe. L - E ficam só falando, não criam. Se der dinheiro pra esse bando de merdas, eles não vão fazer porra nenhuma. Por isso que a Prefeitura Municipal de Vitória deu dinheiro pra gente. K - E quando faz alguma coisa é pra exibir filme dos outros. Quando o Falcatrua exibe os filmes é maneiro e tal, mas quando quer colocar uma ideologia na parada, fode tudo. Quais são as dificuldades de se produzir cultura no ES? L - Acho que o empresariado capixaba é muito da roça ainda. Eles não vêem o porquê de anunciar em uma revista para o público jovem. K - Cara, se eu fosse dono de uma marca jovem que tivesse grana, sei lá, Lei Básica, por exemplo, eu bancava a revista toda, porque é muito barato pra eles. Uma revista inteira fica por R $ 2.500 mais ou menos. Aí, colocava um monte de anuncio da Lei Básica dentro da linguagem
da revista e pronto. Vai atingir o público dele com certeza. A Simples, por exemplo (publicação paulista), porra, é uma revista comprada. É a Simples de um lado e a Motorola do outro. L - Outra coisa que dificulta pra gente é a moral cristã da família capixaba. Nem todo empresário gostaria de ver seu produto associado à revista Quase, uma revista que apela para o humor negro, pra baixaria... Então eles não gostam. Mas, por exemplo, a Playboy é mulher pelada mostrando a boceta e quem anuncia? Mercedes Benz, Johnny Walker, Jontex (se bem que Jontex tem a ver). Só anunciante foda. Ninguém gosta de associar seu produto a uma revista de putaria, mas ninguém bebe uísque pensando nisso. A marca está ali, é um produto à parte. E quais são os projetos para 2005? L - Esse ano vai ter o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), onde nós vamos fazer uma luta livre espontânea pra tentar ser expulso de vez do Hall dos quadrinistas brasileiros... Sei lá, a gente está de férias... Muitas brigas internas. Está parecendo banda de reggae capixaba. K - E nós temos uma meta. Vamos terminar o acordo com a Rubem Braga, ou seja, lançar seis revistas, fazer nossas festas, divulgar, coisa e tal. Depois a gente vai conversar, se entender, cada um deve seguir seu caminho. Labanca vai virar produtor musical. L - Juliano vai aprender a pegar ônibus. K - Fábio finalmente vai procurar um profissional de assuntos psicológicos. Daniel vai voltar a beber, ninguém sabe o que vai acontecer. E eu vou provavelmente continuar com minha vida acadêmica, vou lecionar para os seus filhos, virar reitor da Ufes. A Quase está fadada a um fim. TEXTO Rafael Coelho FOTOS Caroline Vargas/Roger Lombardine
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A G E N D A
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12/03
ELASTRONICA — SHOW COM TAMMY E DJ DESSA, MAIS DJS GLOBS E LADY MONSTER
17/03
SHOW COM CLAUDINHO VIANA E BANDA ESTADO MAIOR — MPB E MÚSICA POP
18/03
ESCOLA DE ROCK — DISCOTECAGEM COM TAYLOR, MANCHA E RIKE
19/03
SHOW COM A BANDA TRÍADE — MPB E MÚSICA POP
20/03
SHOW COM AS BANDAS KRISION, SAVANT E A BANDA LOCAL SICRIST
24/03
GROOVES — SHOW DO BLACK ALIEN
25/03
CLAUDINHO VIANA — MPB E MÚSICA POP
26/03
BANDA TRÍADE — MPB E MÚSICA POP
27/03
SHOWS COM AS BANDAS OS PEDRERO (ES), THEE BUTCHERS ORQUESTRA (SP) E MOTOSIERRA (URUGUAI)
31/03
ÚLTIMO DIA DA EXPOSIÇÃO “IMPERMANÊNCIA E TRANSITORIEDADE” — ARTISTAS BRÍGIDA BALTAR, CARLITO CARVALHOSA, DAVID CAETANO, JOSÉ DAMASCENO, MAREPE, RIVANE NEUENSCHWANDER E SANDRA CINTO
Local: Too Much — Realização: Antimofo (3311-5216)
Local: Barroco Café (3260 -1509)
Local: Clube Centenário — Realização: Antimofo (3311-5216)
Local: Barroco Café (3260-1509)
Local: Tartarugão, em Vila Velha — Organização: Noise Produções (3319-1530)
Local: Clube Centenário — Realização: Antimofo (3311-5216)
Local: Barroco Café (3260 -1509)
Local: Barroco Café (3260 -1509)
Local: Clube Centenário — Realização: Antimofo (3311-5216)
Curadoria de Franklin Espath Pedroso — Local: Maes (3132-8356)
14/ 04 14/04
EXPOSIÇÃO “PASSAGENS” — A ARTE CAPIXABA COM OBRAS DE DOIS ARTISTAS ACADÊMICOS E UM ARTISTA CONTEMPORÂNEO Curadoria de Ronaldo Barbosa e Almerinda da Silva Lopes — Local: Museu Vale do Rio Doce (3246-1443)
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