PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ONLINE
Ensaio Crítico sobre Os Superficiais de Nicholas Carr Céptico, Utópico ou simplesmente Lúcido? Nathalie Ferret 22 de Julho de 2013
O presente ensaio crítico constitui o trabalho final resultante das aprendizagens realizadas na Unidade Curricular- Psicologia da Comunicação Online sobre o livro de Nicholas Carr “Os Superficiais, o que a Internet está a fazer aos nossos cérebros”, no âmbito do 1º ano curricular do Mestrado em Pedagogia do ELearning 2012-2014, pela Universidade Aberta.
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Introdução Ao longo de 321 páginas, cinco capítulos e dez secções, Nicholas Carr, autor finalista do prémio Pulitzer, leva-nos a fazer, no silêncio da leitura profunda do seu livro impresso, uma viagem repleta de referências científicas, sociais e históricas, metáforas, citações, discursos, descobertas e estudos, para dentro dos meandros da plasticidade sináptica dos nossos cérebros e seguindo a evolução das tecnologias. Fálo, utilizando, alternadamente, um tom “narrativo-pessoal” (que nos leva a uma identificação empática) e “descritivo-impessoal” e infiltrando no seu discurso ideias, pensamentos e histórias referentes, sobretudo, às áreas da neurologia, psicologia, antropologia, sociologia e filosofia. Com uma linha argumentativa pretensamente imparcial (“Diga-se em seu abono que Carr é tão imparcial quanto possível”1 ) que ensaia, entre outras, através da contraposição de pontos de vistas entre “fãs” e “céticos ou acérrimos opositores” da Rede das redes, Nicholas Carr, ao discorrer sobre os efeitos das tecnologias designadas “intelectuais” – a escrita, o mapa, o relógio mecânico, o livro impresso,…, a internet,…- no funcionamento do cérebro humano, acaba por nos orientar para o sentido do título da sua obra “Os Superficiais”, para as inquietantes irreversíveis mudanças da nossa mente por influência da internet. Com este ensaio sugere-se uma tentativa de abordagem, que parece- perante pesquisas feitas até ao momento- diferente da maioritária, sobre Os Superficiais (lançado na sequência do artigo controverso “Is Google making us Stupid”, publicado em 2008) e que tem colocado Nicholas Carr enquanto claro crítico da Internet ou com uma nítida visão pessimista sobre os efeitos desta sobre a nossa capacidade cognitiva. Pretende-se refletir e interrogar sobre se, com o seu livro, o autor não fará antes prova, para além de um óbvio cepticismo, de lucidez ou ainda de pensamento utópico, defendendo-se a mitigação de todas estas posturas ao longo da sua obra da
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Apreciação da Literary Review inclusa na contracapa do livro.
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qual sobressai, contudo, uma latente e final perspectiva utópica e uma nota convergente com um dos seus principais críticos, Howard Rhreingold2. Como recursos de fundamentação argumentativa utilizar-se-ão, para além de passagens do livro, alguns trechos de outros autores (retirados de diversas fontes) que ora servem para ilustrar pontos de vista contrários de Carr, ora ideias concordantes com este, sobre as consequências da Internet nos nossos cérebros. Com este intento, o texto desenvolver-se-á em torno de três tópicos: I. Revelando Lucidez; II. Uma postura céptica III. Uma mensagem utópica.
I. Revelando Lucidez Em Hal e eu, Carr assume que desde que começou a recorrer à Web deixou de pensar do mesmo modo que costumava pensar e reconhece que “ao longo dos últimos anos tenho tido a desconfortável sensação que alguém, ou algo, tem estado a remexer no meu cérebro, a modificar o meu circuito neuronal, a reprogramar a minha memória.” (p.17) Esta constatação, assim como a de que algo mudou na sua capacidade de concentração e memória, reencontrar-se-ão subjacentes em todos os capítulos, podendo vislumbrar-se nelas a indução do fio condutor do raciocínio do autor. Parece difícil querer, ou sequer poder, contrariar-se esta perceção e a ideia defendida em Caminhos Vitais “Nós mudamos através do modo como vivemos – e, como afirma Nietzsche, através das ferramentas que usamos.” (p. 48) Estudos revelam que, independentemente dos efeitos da internet nos nossos cérebros (à semelhança de todas as outras tecnologias) serem nefastos ou positivos, esta provoca alterações no nosso comportamento e cognição. Em iBrain: Surviving the technological alteration of the modern lifei, o neurocientista Garry Small, defende que “Today’s frenetic progress in technology, communications, and lifestyles is evolving the way young brains develop, function, and process information – creating new neural pathways and altering brain activity at a biochemical level”. Também Eric Jaffeii relembra, num artigo intitulado Reconectados – A Cognição na era digital, que já em 2
Crítico, professor e escritor norte-americano é reconhecido pela sua especialização nas implicações culturais, sociais e políticas dos modernos meios de comunicação, assim como a internet, a telefonia móvel e as comunidades virtuais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Howard_Rheingold
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1890, em The Principles of Psychology, William James “reconheceu que o nosso tecido nervoso possuía um «extraordinário grau de plasticidade» – ou seja, os estímulos externos podem alterar a própria estrutura do cérebro. Quando «agentes externos» inundam as nossas vias sensoriais e atingem o cérebro, eles deixam «caminhos que não desaparecem facilmente», escreveu James. […] Em linha com o prognóstico de James, estudos recentes têm mostrado que o perfil cognitivo dos usuários de computador difere do perfil dos que não são usuários”. Mesmo o escritor Howard Rhreingold, um dos maiores críticos de Carr, reconhece em Mind Amplifier que “[…] life experience allows the brain to rewire its neural pathways and synapses. Because our brains are self-reprogrammable [«neuroplastic»] and we can use language to pass our knowledge to others, mind-tools can boost our individual thinking power. “(p.6) Tem sido comummente aceite como um facto que os instrumentos tecnológicos se tornam nossas extensões e que as experiências imersivas que destes retiramos nos modificam em quase todos os sentidos. “Como McLuham sugeriu, os media não são apenas canais de informação. Fornecem algo para pensar, mas também modificam o processo de pensar”. (p.19) “Em um sentido mcluhiano fundamental, essas coisas são partes de nós mesmos. Como ocorre em todas as formas de discurso, sua existência nos conforma. Uma vez que elas são linguagens, é difícil ver o que elas fazem, pois o que fazem é estruturar a própria visão. Elas agem nos sistemas -sociais, culturais, neurológicos- através dos quais nós produzimos sentido. Suas mensagens implícitas nos modificam [SANTAELLA, 2003, p. 125].” iii É natural que este “colar” de lucidez a Nicholas Carr seja pressentido- tendo em conta as diferenças de vivências e experiências relativamente ao mesmo fenómeno de forma diversa pelos, não somente, apelidados (como o faz Garry Small) de “digital natives” e de “digital immigrant” como eu própria. No entanto, assumindo-se uma perspectiva retrospectivo-comparativa ou de exercício reflexivo - de distanciamento ou abstracto -, não se poderá discernir na condução deste livro, Os superficiais, uma parte da realidade sobre a qual também se deverá prestar atenção? Não parece estar a fazer a internet “desbastar a minha
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capacidade de concentração e contemplação”? (p.19) Não poderá surgir como verdade que a efemeridade do hipertexto esteja a diminuir a vontade de criar, o imediatismo a elegância da retórica ou o excesso de estímulos cognitivos a provocar distração? “Investigações psicológicas provaram, há muito, o que muitos de nós sabemos por experiência: interrupções frequentes dispersam os nossos pensamentos, enfraquecem a nossa memória e tornam-nos tensos e ansiosos.” (p.165) Em conclusão, não estará Carr a ser lúcido quando nos interpela e nos apresenta diferentes visões e argumentos – a dos fãs e a dos cépticos – sobre algumas das consequências possíveis da Internet nas nossas mentes? Sem se querer ser indubitável defende-se, neste ensaio, que sim: Nicholas Carr demonstra, para além de tudo, lucidez, quer no propósito, quer nos argumentos, apresentados no seu livro. Carr não é um ludita, um reacionário. Sabe que voltar ao império da cultura livresca em que vivemos por séculos, com a sua leitura linear e sua concentração numa tarefa mental de cada vez, é impossível. Tanto quanto teria sido, para os contemporâneos de Gutenberg, desinventar a imprensa.iv
II. Uma postura céptica Colocado em oposição ao entusiástico otimismo notório, por exemplo, em Mind Amplifier de H. Rheingold : “It is time to design our digital tools more mindfully. They are and can be incredible problem solvers. And, as such, incredible changes await […] Metacognition, abstraction, augmented social cognition, collective intelligence, and stigmergic collaboration — all big ideas, and all are offered as likely entrances to mindextension design.” (Rhreingold, 2012:42), nem face a determinadas incompreensões "there is an understandable apprehension that an addictive dependency on these same devices, which often provide so much, can also numb our minds and emotions, making people and culture shallow.”(Rhreingold, 2012: p.4), não parece descabido qualquer classificação que atribua a Nicholas Carr o rótulo de pessimista. “Instead of asking whether the Web and the various devices connected to it are making us stupid, what if we could mindfully design and use digital media to make
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us smarter? What if humans could build electronic tools that leverage our ability to think, communicate, and cooperate? I think we can.”
No entanto, por um lado, N. Carr não parece querer atribuir exclusivamente à Web a diminuição do pensamento profundo, como o ilustra com o exemplo do diálogo em Fedro de Platão em Ferramentas da Mente “Ao substituir as memórias internas por símbolos exteriores, a escrita ameaça transformar-nos em pensadores superficiais, diz ele, impedindo-nos de alcançar a profundidade intelectual […]” (76) e subjaz em Um Meio de Natureza Muito Geral “ A evolução da internet como meio de comunicação é uma repetição, à imagem de um filme acelerado, da história completa dos meios de comunicação modernos” (p. 108), como, por outro, não apresenta como un fait accompli que o uso da internet nos esteja a moldar em seres mais estúpidos ou pouco inteligentes, nem que não exista escolha, embora paradoxalmente defenda que “tomámos o partido do malabarista” (p.144), sobre o modo como utilizamos os nossos computadores: a multitarefa proporcionada pela internet “aponta para, como diz Lévy, «um conflito entre dois modos diferentes de trabalhar e duas perspectivas diferentes sobre o modo como a tecnologia deve ser utilizada para apoiar esse trabalho». Não nos podemos abstrair da positividade implícita no raciocínio, e palavras, de H. Rheingold e renegarmos, total ou mesmo parcialmente, a ideia de que as tecnologias intelectuais podem ser boas ferramentas, propiciadoras de aprendizagens e conhecimentos mais complexos e/ou colaborativos que nos encaminham para aquilo que Pierre Lévy, mas também Douglas Hofstadter (1979), Peter Russel (1993), Howard Bloom (1995) e Douglas Engelbart (2003), entre outros, preconizaram de “inteligência colectiva”3. Não é isso que N. Carr aparenta querer fazer em Os Superficiais. A procura de imparcialidade pela diversidade de argumentos apresentados, o recurso à História – expressivo da evolução do pensamento humano -, que o autor trilha e nos patenteia no seu livro, não são peremptórios quanto às consequências negativas da internet e das novas tecnologias, ou sobre o poder da “Igreja Google”, antes revelando uma atitude de cautela – logo de cepticismo e não de nítido pessimismo- quanto a ela e aos seus efeitos, expondo e contrapondo pontos de vista e
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_coletiva
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argumentos (a maior parte das vezes opostos), interrogando-se, e fazendo-nos interrogar, sobre as duas faces da “moeda” e sobre a necessidade de encontrarmos o equilíbrio. “O desenvolvimento de uma mente equilibrada exige tanto a capacidade para encontrar e rapidamente analisar uma vasta gama de informação como a capacidade para reflexão ilimitada. É necessário que exista tempo para uma eficiente recolha de dados e tempo para contemplação ineficiente, tempo para operar a máquina e tempo para sentar ociosamente no jardim. […] O problema hoje é que estamos a perder a nossa capacidade de estabelecer um equilíbrio entre estes dois estados da mente muito diferentes. Mentalmente, estamos em perpétuo movimento.” (pp. 209-210)
III. Uma mensagem utópica Embora deixe, no seu epílogo, uma “mensagem” que pode ser pressentida otimista: “Mas eu continuo a manter a esperança que nós não nos deixaremos arrastar facilmente para o futuro cujo guião os nossos engenheiros informáticos e programadores de software estão a escrever para nós”, esta, perante o fluxo de observações, de argumentações, contra-argumentações e de alertas mantidos ao longo do livro (tais como as abaixo transcritas), revela-se frágil e denuncia alguma ingenuidade. “A mente linear, calma, focada, atenta, está a ser afastada por um novo tipo de mente que quer e precisa de receber e distribuir informação em pequenos soluços descoordenados e muitas vezes sobrepostos-quanto mais rápido, melhor.” (p.23) “Quando estamos online, entramos num ambiente que promove a leitura negligente, o pensamento apressado e distraído e a aprendizagem superficial” (p.146) “Aquilo por que estamos a passar é, num sentido metafórico, o inverso da trajetória inicial da civilização: estamos a evoluir de cultivadores do conhecimento pessoal a caçadores e colectores numa floresta de dados electrónicos.” (p.174)
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Não denunciará o autor, paradoxalmente, uma certa ideia utópica do presente e do futuro quando o que apresenta ao longo do seu livro são exemplos e argumentos que evidenciam uma realidade contra à qual somos impotentes: a internet está a mudar a nossa maneira de raciocinar, de apreender e interpretar a realidade, de estar, de sentir e de fazer. É certo que afirma, numa entrevista ao site VEJA, que o que pretende é “discutir os perigos do uso intenso da internet e incentivar uma visão mais cética sobre a tecnologia”. Mas, como poderá crer Nicholas Carr que possamos contrariar ou combater, depois dos computadores e da internet terem invadido todas as esferas da nossa vida quotidiana e criado novos estímulos na nossa mente, esta dependência quase obsessiva que temos em relação a eles? Não será antes utópico (de tanta ingenuidade que manifesta) pensarmos que podemos reescrever a história que outros nos estão a conseguir impor ou resistir à força da internet que, como o próprio afirma, nos oferece “um prato após outro, cada um mais suculento que o anterior, quase sem um momento para retomar fôlego entre cada garfada” e “É tão bom como nosso servo que pareceria indelicado sublinhar que é também nosso amo” (14-15)? Não se reencontrarão neste limbo algo ilusório, N. Carr e H. Rheingold? O primeiro mantendo a esperança no livre arbítrio e o segundo concentrando-se na aposta no conhecimento colectivo e no carácter cooperativo de todo o ser humano?
Conclusão Sem dúvida polémico, o livro de Nicholas Carr, apesar deste não querer demonizar ou deificar a Google – “A Google não é Deus nem Satanás, e se há sombras no Googleplex elas não são mais do que ilusões de grandeza “ (p.220) -, parece tentar-nos, numa primeira leitura (quiçá superficial) do livro, a tomar posições: contra ou a favor a internet. A obrigar os leitores a tomarem partido sobre o uso e efeitos da internet nos nossos cérebros.
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Todos nós nos revemos, de uma forma ou de outra, nas suas inquietações, ora na sua lucidez, ora no seu cepticismo ou na sua esperança em conseguirmos contrariar o que de prejudicial possa advir das tecnologias. Mas, como diz Jonathan Safran Foer na contracapa da obra, “Nicholas Carr não é um fanático nem abomina a tecnologia…” Finalmente, para além de tudo o que foi exposto e tentado argumentar neste ensaio, (reforçando-se ainda mais a interpretação de Carr como um pensador lúcido) retém-se a ideia de que coerente com a sua experiência, o autor não se distancia de uma mesma e central indagação lançada também por H. Rheingold em Mind Amplifier: “Putting together what is known now about humans, computers, and media, where would we want mind-extension to go next, if we had any say in it?” (2012:26)
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Small, G., Vorgan, G. (2009, c2008). iBrain: Surviving the technological alteration of modern mind. New York: Harper. ii
Jaffe,E.( 2013-10-06) Reconectados – A Cognição na era digital.[Blog: Cultivando o Equilíbrio]. Disponível em: http://equilibrando.me/2013/06/10/reconectados-a-cognicao-na-era-digital/ iii
Lara, B., Laignier. P. A separação hiper-consumada: comunidades virtuais sobre a política no
Orkut. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Natal, RN nº 2 a 6 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1527-1.pdf iv
_____ (2012-03-30). Nicholas Carr, um escritor contra a internet e as redes sociais. [site VEJA]. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/resenha/a-internet-e-uma-maquina-de-fazeridiotas/
Principais referências bibliográficas: Carr, N. (2011). Os Superficiais: o que a internet está a fazer aos nossos cérebros. Tradução de Da Costa, L. A. Lisboa. Gradiva publicações, Lda. Rhreingold. H. (2012). Mind Amplifier: Can Our Digital Tools Make Us Smarter?. Ted Conferences.
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