Brazil-Amsterdam Historische Banden Boek (Brazilians)

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La莽os hist贸ricos

BRASILAMSTERDAM

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Ficha Técnica Esta é uma publicação do Stadsarchief Amsterdam (Arquivo da Cidade de Amsterdam) em colaboração com a amsterdam inbusiness e a Amsterdam Marketing. Texto Mariëlle Hageman Edição de imagem Charles Wijnen Gonzales Edição final Inez Weyermans Tradução Marcella Wisbrun Design Amsterdam Marketing, Zlatka Siljdedic Capa: Frans Post “Vista de Olinda”, 1662. Coleção Rijksmuseum Amsterdam. Agradecimentos: Jacqueline Dersjant, Dutch Cycling Embassy, Rita Molenkamp-Scuzs.

Conquista de São Salvador no Brasil por almirante Jacob Willekes, 1624, Claes Jansz. Visscher.

02 Coleção Rijksmuseum Amsterdam.


Index Prefácio

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A embarcação ‘de Gulden Werelt’

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Amazônia

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Companhia Holandesa das Índias Ocidentais

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Salvador

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Nova Holanda

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Rua dos Judeus

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Mauritsstad

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Cientistas

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Pintores

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Diamantes

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Café

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Reparos

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Investimentos

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A bebida holandesa ‘Jenever’

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Holambra

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Holanda-Brasil

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Restauração

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Brasil Festival Amsterdam

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Bicicletas

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Negócios

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Prefácio Existe, há séculos, um laço de relações amistosas entre o Brasil e a Holanda. Nos últimos anos esse laço tem crescido e se intensificado. Em 2011 tive a honra de fazer uma longa visita à São Paulo e expressei minha vontade de intensificar os intercâmbios mútuos entre o Brasil e Amsterdam. E para realçar este laço especial fizemos o livro Laços históricos Brasil – Amsterdam. Os primeiros holandeses de Amsterdam já velejavam na segunda metade do século dezesseis em direção à costa brasileira, naquela época fortemente domínio português. Surgiram então em Amsterdam diversos livros relatando as visitas ao Brasil. Principalmente a editora Cornelis Claeszoon publicou, naquele período, uma série completa de relatórios sensacionais de expedições estrangeiras para o Brasil

que resultaram numa verdadeira ´febre do ouro´. Os retornos dos navios holandeses do Brasil foram registrados inclusive em pinturas. Em 1624, Piet Hein, um dos mais famosos heróis navais da Holanda, liderou a conquista sobre os portugueses na cidade brasileira de Salvador. Em 1630 os holandeses conquistaram dos portugueses a capital de Pernambuco, Olinda. Estabeleceram-se em Recife e nomearam sua colônia de Nova Holanda. Logo em seguida o jovem Johan Maurits van Nassau Siegen, primo do governador holandês, foi instalado como governador da Nova Holanda. Ele tornou-se um líder carismático e amado que soube conciliar com muita diplomacia, introspeção e uma grande tolerância, as diferenças entre a população profundamente dividida do

Palácio Vrijburg em Mauritsstad. Aproximadamente 1642-1679, autor desconhecido. Coleção Rijksmuseum Amsterdam.


Brasil holandês formada principalmente por holandeses, portugueses, índios e africanos. Muitos judeus de Amsterdam também emigraram para o Brasil, onde se estabeleceram principalmente em Recife. Isaac Aboab da Fonseca, de Amsterdam, foi em 1642 o primeiro rabino no novo mundo. Tornou-se depois rabino-Chefe da comunidade Sefardi em Amsterdam e foi ele quem mandou construir a hoje famosa sinagoga portuguesa. Cientistas holandeses logo vieram estudar os diferentes povos que viviam no Brasil e em 1648 foi publicado em Amsterdam o primeiro estudo científico completo do Brasil, o Historia naturalis Brasiliae. Era uma obra padrão que

até o século dezenove foi a mais oficial publicação cientifica sobre o Brasil. Até hoje os municípios da área metropolitana de Amsterdam gostam de trabalhar juntos com seus parceiros brasileiros. Amsterdam faz questão de apoiar empresas brasileiras, direcionálas onde for necessário, e dar aos brasileiros uma recepção calorosa. Este pequeno livro oferece uma concisa seleção da rica historia de Amsterdam com o Brasil: uma história compartilhada que não somente forma a base dos positivos laços atuais, mas que promete também um belo futuro em conjunto.

Sr. E.E. van der Laan Prefeito de Amsterdam

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A embarcação ‘de Gulden Werelt’ Os primeiros holandeses velejaram à costa brasileira, colônia portuguesa, na segunda metade do século dezesseis. Portugal era um importante parceiro de comércio para os holandeses e regularmente tripulações holandesas velejavam junto com navios portugueses, ou velejavam os navios holandeses – frequentemente sob a bandeira portuguesa – à América do Sul, atraídos pelos grandes lucros que obtinham, por exemplo, com o comércio de açúcar. Em 1568 os holandeses entraram em guerra com os espanhóis e quando em 1580 Portugal passou a fazer parte do Império Espanhol, esta guerra tornou-se guerra dos portugueses também. Apesar da guerra, o comércio continuou normalmente por um bom tempo. As colônias portuguesas

dependiam dos comerciantes holandeses para diversos tipos de mercadoria, como alimento, roupa e ferramentas. E os holandeses traziam o açúcar do Brasil para a Europa, às vezes em tão grandes quantidades que o preço do açúcar em Amsterdam era mais baixo que em Lisboa. Porém, em 1598, o rei da Espanha declarou um embargo: holandeses não podiam mais velejar ao Brasil sem penalidade. Entretanto, surgiram em Amsterdam diversos livros sobre o Brasil e sobre as riquezas que na América do Sul podiam ser encontradas. Principalmente a editora Cornelis Claeszoon publicou, naquele período, uma série completa de relatórios sensacionais de expedições estrangeiras para o Brasil que resultaram

Imagem do livro Hendrik Ottsen, Iovrnael oft daghelijcx-register van de voyagie na Rio de Plata, ghedaen met het schip ghenoemt de Silveren Werelt. Amsterdam 1603.

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numa verdadeira ´febre do ouro´. Em 1596, inclusive, surgiu o Itinerário de Jan Huyghen van Linschoten, que trabalhou anos a serviço dos portugueses, com até um capítulo inteiro sobre o Brasil. Com cada vez mais frequência os holandeses tentavam violar o monopólio PortuguêsEspanhol sob o oceano Atlântico e aventuravam-se, apesar do embargo, à uma viagem ao Brasil. Com esta mesma mentalidade o almirante Laurens Bicker, de Amsterdam, velejou rumo à América do Sul com dois navios e uma tripulação de mais de cem homens no dia 1 de setembro de 1598. Os dois navios perderamse um do outro no trajeto. Bicker acabou chegando com o navio ´de Gulden Werelt´em São Vicente, não muito longe da atual cidade de São Paulo. Lá o navio foi dominado pelos portugueses, que mataram dez membros da tripulação e prenderam o restante, com Bicker, em seu próprio navio e nele os transportaram à Baía de Todosos-Santos, na Bahia. Por coincidência, lá deram de cara com uma esquadra policial holandesa, liderada pelo Broer

Janszoon de Medemblik, que, sem muito esforço, soube reconquistar o navio dos portugueses e liberar Bicker e os outros holandeses sobreviventes. Laurens Bicker voltou à Amsterdam são e salvo, mas sem as riquezas desejadas. O segundo navio – denominado ´de Silveren Werelt´ – após uma viagem muito difícil, chegou também à Baía de Todos-osSantos, na importante cidade portuária de Salvador, onde os cinco tripulantes sobreviventes, inclusive o barqueiro Hendrik Ottsen, foram presos. Da janela de sua prisão, Ottsen pode ver como a frota holandesa de Broer Janszoon, em janeiro de 1600, assaltou alguns navios portugueses e destruiu diversas igrejas e engenhos de açúcar nas redondezas. Mas Broer Janszoon não tinha mão de obra o suficiente para atacar Salvador diretamente. Somente um ano depois Hendrik Ottsen conseguiu retornar à Amsterdam. Lá ele escreveu um livro sobre sua aventura, que foi publicada em 1603, também pela editora Cornelis Claeszoon. Apesar de todas as carências e contrariedades o Brasil continuou a fascinar os holandeses.

A página de título do Itinerario de Jan Huyghen van Linschotens que surgiu em Amsterdam em 1596.

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Hendrik Vroom, o Quatro Mastros “de Hollandse Tuyn” de Amsterdam e outros navios retornando do Brasil. 1605-1640. Coleção Rijksmuseum Amsterdam.

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Amazônia No começo do século dezessete os holandeses fundaram algumas pequenas colônias no território brasileiro da Amazônia. Seus motivos não eram somente econômicos e políticos; acreditava-se que no´novo mundo´seria possível estabelecer também uma sociedade melhor – e que fosse protestante. A idéia não era fazer dinheiro com a exploração de escravos nas plantações de açúcar, mas com o comércio de troca e colaboração. Na margem direita do Rio Xingu, afluente do Amazonas, os holandeses construíram duas fortificações, nomeados de Forte de Nassau e Forte de Orange, e em 1616 uma grande expedição, sob direção de Pieter Adriaenszoon Ita, partiu da cidade de Vlissingen no sul da Holanda, na província de Zeeland, em direção à região amazônica. Durante decênios Vlissingen havia sido ocupada pelas tropas inglesas e, portanto, havia muitos ingleses a bordo. Construíram um forte na margem do Rio Jenipapo. Por volta de 1620 esta região havia se transformado em uma florescente colônia holandesa. Além dos fortes necessários, havia nesta região também dois pequenos engenhos de açúcar e terra onde tabaco e algodão eram cultivados. Os holandeses criaram laços de amizade com a população local e aprenderam a falar a língua. Os índios nos arredores viam os holandeses como bons aliados militares contra tribos inimigas e contra

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os espanhóis e portugueses, traficantes de escravos da região. A amizade com os índios logo se provou a maior força da colônia holandesa. Com prazer os índios estavam dispostos a fazer negócios com os holandeses que traziam materiais importantes como ferro e tecidos. Por sua vez, os índios os ajudavam, por exemplo, com a plantação de tabaco, para qual muita mão de obra era necessária. Os portugueses acompanhavam as ações dos colonizadores holandeses com enorme suspeita e, no começo da década de 1620, ficaram sabendo, através de um francês, que cerca de trezentos holandeses e zelandeses já estavam morando na região amazônica e também que novas fortificações estavam sendo construídas, a 150 milhas do estabelecimento português Nossa Senhora, com matéria prima sendo transportadas nas canoas dos índios. Finalmente os portugueses deram um fim à aventura holandesa na Amazônia. Eles subiram o Rio Pará, um afluente no canal sul do Rio Amazonas, onde encontraram uma embarcação tripulada por holandeses, ingleses e franceses e um grande número de índios. Os portugueses souberam dominar a tripulação e depois destruíram os Fortes de Orange e Nassau. Também atacaram o navio do Pieter Adriaenszoon Ita, e ele foi obrigado a tacar fogo em seu próprio navio, para impedir que este caísse nas mãos do inimigo. Do outro lado de


onde tinha sido a colônia holandesa, os portugueses construíram seu próprio forte, o Forte de Mariocai, que durante setenta anos foi seu mais importante posto de defesa na Amazônia. Navios holandeses eventualmente vieram salvar

os holandeses de sua difícil situação. Em 1623 os colonizadores sobreviventes voltaram à Holanda em dois navios – estes carregados de madeira e tabaco que renderam aos holandeses por volta de sessenta mil libras.

Planta sumaria da cidade e o forte Grand Para, aproximadamente 1624. Arquivo Nacional.

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Companhia Holandesa das Índias Ocidentais A melhor maneira de enfrentar os espanhóis e portugueses e também ganhar muito dinheiro era atingi-los em sua riqueza colonial. Tais planos já existiam em Amsterdam no começo do século dezessete, mas só poderiam ser executados após a Trégua dos Doze Anos, que teve seu início em 1609, ter expirado. Em 1621 fundaram então a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (em holandês: West-Indische Compagnie ou WIC). A empresa conseguiu o monopólio sob o comércio na América do Norte e Sul e uma parte da costa oeste da África, e conseguiu enfraquecer o inimigo com uma série de fortes ataques tanto no mar quanto nas colônias. Uma importante fonte de renda virou então a guerra de corso. Há anos já os holandeses saqueavam navios espanhóis e portugue-

ses em alto mar e esta forma legalizada de pirataria passou então a fazer parte da tática da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais oficialmente. A WIC obteve também o direito de criar convênios com príncipes e povos desconhecidos, e pode fundar colônias e construir um exército. A companhia tinha cinco escritórios nos Países Baixos, sendo que a sede de Amsterdam era a mais importante. O Brasil foi o primeiro território alvo da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Um dos diretores da WIC, Johannes de Laet, explicou suas razões para este fato em sua obra histórica sobre o começo da companhia. Os holandeses tinham menos medo dos portugueses no Brasil do que dos espanhóis; acreditavam que seria

Gravura do pátio da prisão “Rasphuis”, 1665. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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mais fácil seduzi-los a uma amizade – ou até força-los. Além disso, os índios brasileiros, que eram muito explorados pelos portugueses, talvez tivessem interesse em formar uma aliança com os holandeses. Mas acima de tudo, o comércio do açúcar e madeira brasileira significaria um grande impulso para a economia holandesa. O açúcar tornara-se um produto de luxo com uma grande demanda e Amsterdam estava se transformando em um importante centro de produção de açúcar no século dezessete. A cidade contava, na metade do século, com quase cinquenta refinarias de açúcar para o tratamento de açúcar bruto. A maior parte das plantações e dos engenhos de açúcar encontrava-se no estado brasileiro de Pernambuco e nas províncias adjacentes de Itamaracá e Paraíba. Além de açúcar, Pernambuco também produzia tabaco, algodão e pau-brasil. Na

prisão de Amsterdam, ´het Rasphuis´, os criminosos raspavam o pau-brasil, conhecido localmente também como pau-de-pernambuco, e o pó vermelho, oriundo da madeira, era misturado nas fábricas de tinta com água, depois oxidada e cozida, transformando-se em um pigmento utilizado principalmente como tinta para tecido. Açúcar, madeira e tabaco tornaram-se então os produtos mais importantes para a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Após uma breve hesitação, a WIC começou inclusive, a partir de 1635, a traficar escravos africanos, que eram necessários para a exploração das plantações de açúcar em território brasileiro, e depois a companhia passou a negociar também o café do Brasil. Dos índios Tapuia no Brasil, a WIC também comprava peles de animais. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais continuou a existir até 1791.

Gravura do armazém da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais em Amsterdam. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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Salvador Parte do plano ‘Groot Desseyn’ da nova Companhia Holandesa das Índias Ocidentais – um plano para tirar o poder sobre o mar dos espanhóis e portugueses – era conquistar uma das mais importantes cidades portuárias do Brasil – Salvador na Baía de Todos-os-Santos, a capital do Brasil português. Segundo Johannes de Laet, diretor da WIC de Amsterdam, era bastante fácil de se chegar a Salvador, o maior porto de açúcar do Brasil, e daí, os holandeses poderiam fazer “assaltos imprevistos” a outras partes da América e ilhas do Caribe. A expedição que partiu em dezembro de 1623, rumo à Baía de Todos-os-Santos, veio sob a direção do almirante Jacob Willekens, um antigo vendedor de arenque na Nieuwedijk em Amsterdam. Mais tarde Willekens passou a fazer parte da Câmera Municipal da prefeitura de Amsterdam. O vicealmirante da frota era o famoso herói naval Piet Hein. Em total foram 26 navios holandeses com 3.300 homens e 450 peças de artilharia que

velejaram rumo ao Brasil. Eles chegaram no dia 8 de maio de 1624 na Baía de Todosos-Santos, onde, com bastante facilidade, dominaram os navios portugueses. Ao ver a frota holandesa os portugueses fugiram em massa de Salvador. Em 10 de maio de 1624 Piet Hein liderou o assalto à cidade. O governador português, Diogo de Mendonça Furtado se rendeu e os holandeses puderam ocupar Salvador sem muita dificuldade, para logo em seguida iniciar a pilhagem. O saque foi enorme: 3.900 caixões de açúcar, tabaco, óleo de baleia, sal, pão, vinho, linho, lã e tecidos de seda além de muita artilharia. Quando a cidade estava firmemente dominada, os holandeses instalaram uma guarnição e a frota de Willekens e Hein partiu novamente. Quatro navios velejaram rumo aos Países Baixos, aonde chegaram em agosto com o saque de açúcar, tabaco e peles de animais e, inclusive, o governador português Mendonça e seu filho a bordo. Eles foram presos em Amsterdam em uma moradia. A notícia da conquista

Conquista de São Salvador no Brasil por almirante Jacob Willekes, 1624, Claes Jansz. Visscher. Coleção Rijksmuseum Amsterdam.

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de Salvador foi celebrada com exuberância nos Países Baixos e comemorada em gravuras e panfletos. A organização das tropas auxiliares que seriam necessárias para manter a posse de Salvador, por outro lado, ocorreu com menos rapidez. Somente após cinco meses do retorno de Willekens e Hein foi que uma nova frota partiu rumo ao Brasil. Enquanto isso, os holandeses no Brasil aumentaram as defesas ao redor de Salvador. Os escravos dos portugueses se juntaram à guarnição holandesa em troca de sua liberdade e da promessa de receber um pedaço de terra. Havia agora cerca de 2.500 homens para defender a cidade. Os portugueses e índios continuaram, todavia, atacando os holandeses por meio de luta

de guerrilha, encurralando-os no interior do país. Em 1625, na véspera de Páscoa, surgiu na Baía de Todos-os-Santos uma frota portuguesa com 52 navios e mais de 1.200 homens. Os portugueses sitiaram a cidade, enquanto os holandeses ainda estavam à espera de ajuda. Quando após algumas semanas ainda não havia sinal de frota holandesa avista, os holandeses se renderam em 30 de abril de 1625. Os diretores da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais estavam furiosos com a perda de Salvador, justo quando a ajuda estava a caminho. Os holandeses voltaram inúmeras vezes nos anos seguintes para a costa brasileira para atacar navios mercantes portugueses, mas nunca mais conseguiram retomar a importante Salvador.

Gravura de um retrato de Piet Hein de 1629. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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Nova Holanda Depois que, em 1628, o herói naval Piet Hein conquistou, em Cuba, a frota espanhola ricamente carregada de prata, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais tinha dinheiro o suficiente para uma nova tentativa de conquistar um pedaçinho do Brasil. Os diretores escolheram então Pernambuco, uma região do nordeste brasileiro onde mais havia açúcar e pau-brasil a serem retirados. Uma enorme frota de 67 navios seguiu em direção ao Brasil e soube, em 16 de fevereiro de 1630, conquistar a capital de Pernambuco, Olinda, para em seguida partir para outras conquistas pelo resto do Brasil. Os colonizadores portugueses logo em seguida começaram, juntamente com alguns índios, uma luta de guerrilha contra os holandeses, atacando-os do interior do país. Os holandeses, portanto, optaram por não se instalarem na vulnerável Olinda, mas em Recife, um defensável istmo. Nomearam sua colônia de Nova Holanda onde vieram morar holandeses a serviço da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais – soldados, funcionários, pastores – e ´cidadãos livres´, como comerciantes, artesões e donos de café. Foram construídas igrejas e nomeados ministros, sob o controle da Igreja Reformada Holandesa de Amsterdam. Parte da administração ainda se encontra hoje no Arquivo da Cidade de Amsterdam. Índios e escravos fugitivos das plantações juntaram-se aos holandeses.

Em 1636 a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais nomeou o jovem Johan Maurits van Nassau Siegen (Maurício de Nassau), um primo do governador holandês, como Governador, Almirante e Capitão-General da Nova Holanda. Johan Maurits havia alcançado, nos anos anteriores, muitos sucessos militares e foi chamado então para colocar as coisas em ordem na colônia. No dia 26 de janeiro de 1637 o novo governador chegou a Recife. Menos de um mês depois ele havia conquistado Porto Calvo, uma fortaleza portuguesa mais ao sul, e depois, no mesmo ano, juntou à área holandesa, entre outras, as províncias de Sergipe e Ceará. Os holandeses tinham então em mãos metade das províncias do antigo Brasil e passaram a ser `os senhores` do Oceano Atlântico. Johan Maurits tornou-se um líder carismático e amado que soube conciliar com muita diplomacia, introspeção e uma grande tolerância, as diferenças entre a população profundamente dividida do Brasil holandês. Ele fez, por exemplo, uma aliança com os índios Tapuia e instituiu reuniões locais onde holandeses e colonizadores portugueses pudessem, juntos, influenciar o governo: o primeiro parlamento do novo mundo. A produção de açúcar também aumentou acentuadamente sob o governo do Johan Maurits. Em 1637 Pernambuco exportou cerca de mil toneladas, em 1641 já quase sete mil toneladas. Os

Mapa de Pernambuco e Itamaracá de um atlas de Joan Blaue sr., 1662.

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custos altos das campanhas, os projetos urbanos e as despesas pessoais de Johan Maurits, eram, porém, uma aberração para a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, e além do que, ele era muito teimoso com relação às ordens que recebia da Holanda. Em 1644, portanto, os diretores chamaram o governador de volta. Após a partida de Johan Maurits, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais perdeu o controle sobre a colônia brasileira. Colonizadores portugueses e índios rebelaram-se contra o regime holandês e em 1654 os holandeses foram definitivamente expulsos. Os colonizadores tinham que deixar tudo e frequentemente voltavam

sem dinheiro para os Países Baixos. No arquivo dos prefeitos de Amsterdam, conservados pelo Arquivo da Cidade de Amsterdam, encontram-se uma série de pedidos de cidadãos que foram atingidos pela perda do Brasil. O comerciante judeu Abraham Gama, por exemplo, perdeu tudo. Ele voltou com sua esposa e seis filhos para Amsterdam e lá fez o seu melhor para ganhar algum dinheiro, e pediu, portanto, ao prefeito permissão para trabalhar em Amsterdam como corretor. Um tratado de paz determinou em 1661 que Portugal havia de pagar aos Países Baixos 63 toneladas de ouro como recompensa pelas regiões brasileiras. As negociações sobre o pagamento durou ate o século dezoito, e o valor nunca foi inteiramente pago.

Bartholomeus Eggers (cópia moderna), Busto do governador Johan Maurits van Nassau-Siegen (Coleção Mauritshuis, Haia).

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Rua dos Judeus Existia liberdade de religião para todos os moradores na colônia holandesa no Brasil, pois assim foi determinado na assembleia holandesa em 1634. Esta foi uma das maiores razões para vários judeus de Amsterdam emigrarem para o Brasil. Lá já moravam judeus espanhóis e portugueses, que foram obrigados a converter-se ao catolicismo à força. Em 1635 chegou ao Brasil o primeiro grupo destes judeus de Amsterdam. Os judeus viraram um elo indispensável no comércio entre a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e os proprietários portugueses das plantações de cana. Eles dominavam tanto a língua holandesa quanto a portuguesa e tinham uma rede de comércio vasta. Os judeus faziam também excelentes negócios no Brasil. Forneciam capital, bens e escravos em troca de açúcar bruto. Alguns comerciantes judeus compravam até suas próprias plantações e engenhos.

judeus, que hoje é a Rua do Bom Jesus. Lá os judeus holandeses construíram em 1636 a primeira sinagoga da América, nomeada de Kahal Hadosh Zur Israel (rocha de Israel). Alguns anos depois a cidade adjacente, Mauritsstad, também ganhou uma sinagoga. Isaac Aboab da Fonseca, de Amsterdam, foi em 1642 o primeiro rabino do novo mundo. Ele conseguiu converter os judeus cristãos no Brasil de volta ao judaísmo. Aboab da Fonseca virou depois rabino-Chefe da comunidade Sefardi em Amsterdam e foi ele quem mandou construir a hoje famosa sinagoga portuguesa. No Brasil, aliás, os judeus continuaram ligados aos judeus em Amsterdam. A comunidade Talmud Tora de Amsterdam cuidava dos conflitos entre os judeus da colônia, por exemplo.

Recife ganhou sua própria rua dos Após a partida do governador Johan Maurits em 1644 a situação dos judeus holandeses no Brasil piorou em passo acelerado. Os colonizadores portugueses cultivaram uma forte aversão aos holandeses e aos não católicos. Após a reconquista de Portugal sobre o Brasil em 1654, muitos judeus voltaram à Amsterdam. Outros, porem, foram para outras colônias holandesas na América, como 1) A placa de rua também foi adaptada. 2) O Museu Synagoga Kahal zu Israel, construída no local onde ficava a sinagoga em Recife.

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as Antilhas e o Suriname. Um pequeno grupo de 23 judeus estabeleceu-se em Nova Amsterdam, hoje conhecida como Nova Iorque, e lá fundou a primeira comunidade judaica, mas um grande número de pessoas também voltou à mais tolerante Amsterdam. Hoje em dia moram em Recife cerca de quatrocentas famílias judaicas. A antiga sinagoga de Recife, a Zur Israel, não existe mais, mas graças a um estudo arqueológico foi possível encontrar o local onde ela se localizava. Durante as escavações arqueólogos encontraram um poço que havia sido,

no século dezessete, o poço d’água de mikvá – uma banheira para fins de purificação. O próprio mikvá estava quase completamente desaparecido, mas em torno do lugar descobriram um pavimento, e algumas peças de cerâmica e canos. A federação judaica do Brasil e o ministério da cultura construíram um museu no local, incluindo uma reconstrução da antiga sinagoga, que foi oficialmente aberta com a presença do presidente do Brasil, rabinos da América Latina, e representantes de Israel. Hoje em dia há, ao lado da plaqueta da Rua do Bom Jesus, também uma plaqueta que diz Rua dos Judeus.

Retrato de Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro rabino no Brasil. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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Mauritsstad O arquiteto Pieter Post desenhou, a pedido do governador Johan Maurits, um ambicioso plano de expansão da cidade de Recife. A nova cidade foi denominada Mauritsstad, nome do seu governador, e cresceu rapidamente, na ilha Antônio Vaz. Ganhou canais e estradas pavimentadas, e Johan Maurits mandou construir também escolas, um hospital e um orfanato. A ilha Antônio Vaz foi conectada à terra firme com duas pontes. A ponte entre a ilha e Recife é reconhecida como a primeira ponte da América Latina. Esta ponte até hoje se chama Ponte Mauricio de Nassau. Vieram morar em Mauritsstad os comerciantes bem-sucedidos, principalmente. Artesãos e trabalhadores, marinheiros e soldados e outros empregados da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais moravam nas ruas sinuosas de Recife, onde também se localizavam os escritórios e os armazéns. O impressionante palácio do governador, Vrijburg, estava localizado na parte mais central de Mauritsstad. O prédio tinha formato em ‘U’, com a lateral aberta do ‘U’ voltada para a água.

Em uma das torres do palácio havia um farol e, em outra, um observatório de estrelas – o primeiro da América. Em volta do palácio havia um parque cheio de coqueiros e mamão papaia, que era de livre acesso para todos. Lá havia também um jardim zoológico, um museu com trezentos macacos empalhados, cada um de uma espécie diferente e inúmeras borboletas. Johan Maurits também construiu uma pequena propriedade, chamando-a "Boa Vista", ao longo do rio Capibaribe. Johan Maurits voltou à Holanda no dia 22 de maio de 1644. Havia ficado somente sete anos no Brasil. Mas em Recife a memória de ‘Mauricio, o brasileiro’ – símbolo de liberdade e tolerância – ainda vive até hoje. Seus palácios e grande parte de Mauritsstad foram destruídos durante a revolta portuguesa após sua partida, mas ainda há traços de fortes e outros prédios da época de Johan Maurits. Desde 2000 a Holanda e o Brasil trabalham juntos para manter esse patrimônio cultural. O primeiro projeto foi uma pesquisa arqueológica no Forte de Orange, na

Palácio Vrijburg em Mauritsstad. Aproximadamente 1642-1679, autor desconhecido. Coleção Rijksmuseum Amsterdam.

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Ilha de Itamaracá, construída pelos holandeses, donde Johan Maurits conquistou a região ao norte de Recife. Pesquisadores das universidades de Pernambuco e Amsterdam – trabalhando em colaboração com a fundação ‘Monuments of the West India Company’ (MoWIC) – encontraram restos do forte original, como as paredes do paiol holandês e uma parte do poço d’água. Estas descobertas formam a base para a restauração do forte. Foi iniciado também, por exemplo, um projeto para a conservação de quase mil tijolinhos holandeses do século dezessete, localizados no pátio do Convento Franciscano de Santo

Antônio em Recife, que provavelmente são derivados do palácio Vrijburg. E especialistas em patrimônio de Recife e Amsterdam estão analisando como preservar para o futuro a ilha Antônio Vaz, com relação ao crescimento urbano de Recife. Johan Maurits também trouxe um pedacinho do Brasil para a Holanda. Foi acompanhado de algumas índias brasileiras em sua viagem de volta e decorou sua nova e imponente casa na Haia – ‘het Suykerhuys’, hoje o museu Mauritshuis – com pinturas de cenas brasileiras e os objetos de valor e raridades que ele trouxe do Brasil.

A antiga “Suykerhuys”, hoje em dia o museu Mauritshuis na Haia. Foto Hans Griep.

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Cientistas Em 1638 um grupo de cientistas e intelectos veio a pedido de Johan Maurits da Holanda para o Brasil para estudar o país e os diferentes povos que ali viviam. Entre eles estavam o jovem médico Willem Piso, que se tornou o médico da corte de Johan Maurits e o cientista versátil Georg Marcgrav, um famoso astrônomo, biólogo, médico e matemático, que inclusive passou a auxiliar o governador como engenheiro militar. Ele criou também o primeiro observatório astronômico da America do Sul, de onde pôde observar um eclipse solar. Piso e Marcgrav viajaram nos anos 1639-1640 para diversas regiões do Brasil holandês, para estudar a natureza, a geografia e acumular dados para um mapa do país. A pesquisa dos dois resultou no primeiro estudo científico completo

do Brasil, o Historia naturalis Brasiliae, que surgiu em Amsterdam em 1648. Era uma obra padrão que até o século dezenove foi a mais oficial publicação cientifica sobre o Brasil. As ilustrações foram feitas pelos artistas plásticos holandeses Frans Post e Albert Eckhout, também convidados para o Brasil pelo Johan Maurits. Quatro livros do Historia naturalis Brasiliae vieram das mãos de Willem Piso. Estes livros, com o titulo De medicina Brasiliense, contém descrições de diversas doenças tropicais e do funcionamento das plantas medicinais do Brasil. Com isso Willem Piso é considerado o fundador da medicina tropical. Ele descreveu, entre outros, como a disenteria pode ser curada, e quais as consequências de uma dieta carente. Muitos colonizadores holandeses

Da Historia naturalis Brasiliae, 1648. Imagem de um dos livros de Georg Marcgrav.

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sofriam de doenças oculares, sendo que a população local, que vivia principalmente de peixe e legumes frescos, raramente sofria disso. Willem Piso também logo percebeu que laranjas e limões, principalmente o limão-galego, podiam evitar o temido escorbuto. Algumas das plantas que Willem Piso descreveu são utilizadas na medicina ainda hoje; a raiz de ipecacuanha e as folhas do jaborandi, por exemplo. Georg Marcgrav descreveu em oito livros do Historia naturalis Brasiliae plantas, peixes, pássaros, quadrúpedes, cobras e insetos do Brasil e encerrou com uma descrição geográfica, etnológica e meteorológica do país. Após sua temporada no Brasil, Marcgrav foi fazer pesquisa na África, onde morreu inesperadamente, mas Willem Piso, ao voltar à Holanda, passou a ser um

dos mais importantes membros da comunidade acadêmica de Amsterdam. Os mapas que Georg Marcgrav fez formaram a base do mapa do Brasil holandês que o famoso cartógrafo de Amsterdam Joan Blaeu desenhou. Era, até então, o mapa com a mais detalhada descrição da costa brasileira e oitenta quilômetros terra a dentro. Os mapas de Marcgrav foram, inclusive, incluídos no detalhado trabalho histórico que o professor de Amsterdam Caspar Barleaus escreveu sobre o Brasil sob o governo de Johan Maurits, o Rerum per octennium in Brasilia. Além de muitos mapas o livro também tinha gravuras de Frans Post, entre outros. Os mapas e as gravuras com paisagens, cidades e fortes do nordeste do Brasil determinaram por mais de um século e meio a imagem que os europeus tinham da região brasileira. Página de título de Historia naturalis Brasiliae, 1648.

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Pintores O Governador Johan Maurits trouxe também alguns artistas para o Brasil holandês. O pintor de paisagens Frans Post, de Haarlem e Albert Eckhout, pintor de retratos natureza morta de Groningen. Eles foram os primeiros europeus a retratar as paisagens e o povo do Brasil. Frans Post era irmão de Pieter Post, arquiteto e especialista em urbanização e desenhista do plano urbanístico de Mauritsstad. Durante sua estadia no Brasil, Frans Post fez vários esboços do país e terminou seis pinturas. Post pintou lugares específicos e reconhecíveis do Brasil holandês, como o Rio São Francisco e a região de Porto Calvo, com árvores e plantas brasileiras e às vezes pássaros e outros animais pequenos no plano frontal de suas pinturas. Os céus são cinza e as pinturas despertam uma impressão um pouco sombria. Sua composição, estilo e técnica, lembram as paisagens de outros pintores holandeses da época. Em 1679 Johan Maurits presenteou estes quadros de Frans Post ao rei francês, Rei Luís XIV. Hoje eles se encontram no Louvre. Frans Post voltou à Haarlem em 1644. Lá ele continuou pintando paisagens brasileiras, para o resto de sua vida. No total ele pintou cerca de 140 quadros brasileiros, com vista de rios, plantações e engenhos, e também desenhou gravuras baseadas nos esboços que fez no Brasil. Johan

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Maurits encomendou também a Post pinturas de algumas cenas típicas brasileiras nas paredes em sua casa nova na Haia, o atual museu ‘Mauritshuis’. Estas pinturas foram destruídas em um incêndio no começo do século dezoito. Os quadros que Frans Post pintou na Holanda mostram uma imagem ideal do Brasil dos holandeses e difere, portanto, de seu trabalho bastante realista feito durante seus anos no Brasil. Cada vez mais Post deixava sua imaginação fluir livremente e ele adicionava diversos elementos exóticos. As paisagens tornavamse mais rica em cor: as plantas mais verdes, os céus mais azuis, o horizonte mais claro, e havia mais pessoas sendo retratadas, muitas vezes escravos dançando ou trabalhando. Hoje em dia as obras de Frans Post pertencem às mais pedidas e mais caras pinturas do nordeste do Brasil. Enquanto Frans Post registrava a paisagem brasileira, Albert Eckhout documentava as pessoas, os animais e as plantas. Ele foi o primeiro a dar uma imagem realista aos índios brasileiros, das tribos Tupi e Tapuia. Eckhout pintou oito retratos etnográficos em tamanho real de índios – os índios Tapuia quase nus, escravos africanos e uma mulata, e em uma tela grande ele retratou um grupo de índios dançando. Eckhout também pintou uma série de doze naturezas mortas com frutas e


vegetais brasileiras e animais exóticos e fez centenas de estudos zoológicos e botânicos e rapidamente esboçou alguns retratos dos moradores do novo mundo, provavelmente também durante expedições para o interior. Em 1654 Johan Maurits presenteou uma

grande parte das obras de Eckhout para seu primo, o rei dinamarquês Frederico III, em troca de uma alta distinção. Dizem que se arrependeu deste ato depois. As obras brasileiras de Eckhout hoje estão no Museu Nacional em Copenhague.

Frans Post, paisagem no Brasil, 1652. Coleção Rijksmuseum Amsterdam.

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Albert Eckhout, 8 retratos etnogrĂĄficos de Ă­ndios, aproximadamente 1641.

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Diamantes Amsterdam tem séculos de tradição em polir e comercializar diamantes. A indústria de diamantes surgiu na cidade no final do século dezesseis e no século dezessete Amsterdam já era o principal centro para a adaptação e comércio de diamantes. A partir do século dezoito Amsterdam era conhecida como uma verdadeira cidade de diamantes. Os diamantes vinham, inicialmente, só da Índia e, justamente, quando as minas de diamante da Índia começaram a esgotar-se, uma expedição descobriu, por acaso em 1725, quando estava à procura de ouro, grandes quantidades de diamantes em leitos e margens de rios no leste do Brasil, perto da atual Diamantina no estado de Minas Gerais. Estas minas foram imediatamente postas sob supervisão do Estado pelo rei português. Em primeira instância os diamantes brasileiros não eram tão popular quanto os diamantes da Índia. Diziam que sua qualidade era menor. Os portugueses mandavam, portanto, os diamantes brasileiros primeiro para Goa, a cidade portuguesa na Índia, para dali vendê-los, no mercado europeu, como diamantes originários da Índia. Comerciantes holandeses ficaram sabendo dessa manobra e o cônsul holandês em Portugal determinou que os diamantes

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brasileiros poderiam ser vendidos somente aos comerciantes holandeses, conseguindo assim fechar o lucrativo negócio dos portugueses. Os diamantes passaram a vir diretamente do Rio de Janeiro e Salvador da Bahia para Amsterdam e durante muito tempo os holandeses tinham o monopólio sobre os diamantes brutos do Brasil. A firma Jacobus & Johannes van de Wall, com escritório na rua Kalverstraat em Amsterdam, mandava navios com mercadorias importantes para diversas partes no mundo, sendo Brasil o principal destino, com o intuito de trazer diamantes na viagem de volta. A demanda para diamantes era grande entre os reis e nobres europeus na metade do século dezoito e a indústria de diamantes em Amsterdam pôde crescer significativamente. Posteriormente os diamantes brasileiros também foram para Londres, e em seguida Paris. A partir do século dezenove a quantidade de diamantes vindos do Brasil para Amsterdam diminuiu bastante. Isto causou sérios problemas para a indústria de lapidação e comércio de diamantes de Amsterdam, que só voltou a florescer quando em 1871 grandes quantidades de diamante bruto puderam ser importadas da África do Sul.


Gravura de Jan Luyken, o lapidador de diamantes, aproximadamente 1694.

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Café O Brasil é, atualmente, o maior produtor de café do mundo. O café cultivado no Brasil teve sua origem no século dezoito – por meio de um desvio – vindo de Amsterdam. Na Europa, no século anterior, café passou a ser cada vez mais popular. O comércio do café começou cedo em Amsterdam e na segunda metade do século dezessete cerca de três quartos dos lares possuíam um jogo de café. Havia também inúmeras cafeterias na cidade. O café chegava na Holanda oriundo do Oriente Médio, onde a planta era importada da Etiópia. Os árabes tinham de fato um monopólio sobre o comércio de café e, portanto, pediam preços altos. Porém, no final do século dezessete, os holandeses conseguiram transportar plantas do café árabe cultivado na cidade de Mocha, no Iêmen, para sua colônia na Indonésia, a ilha de Java. Lá plantaram cafeeiros em grandes quantidades. O primeiro partido de grãos de café cultivado em Java chegou a Amsterdam em 1706. Depois disso Amsterdam passou a ser o centro mundial do comercio do café. O erudito prefeito de Amsterdam,

Nicolaes Witsen, doou na época duas preciosas plantinhas de café ao Jardim Botânico da cidade, onde foram cultivados na estufa como raridade. Em 1714, Amsterdam doou uma jovem planta de café do Jardim Botânico ao rei francês Luís XIV, para o jardim botânico imperial em Paris. Bilhões de cafeeiros no mundo inteiro descendem desta plantinha de Amsterdam. Os franceses cultivaram algumas mudas da planta holandesa e levaram-nas para suas colônias na América do Sul e o Caribe. O café finalmente chegou ao Brasil em 1727, oriundo da Guiana Francesa. No entanto, o Brasil realmente só começou a se desenvolver como produtor de café no começo do século dezenove. Isto ocorreu porque, em função da queda dos preços de açúcar no mercado europeu, a atenção dos brasileiros passou a ser voltada para o cultivo do café, em primeira instancia no Vale do Paraíba, perto do Rio de Janeiro e depois também nos estados de Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espirito Santo. Alguns holandeses experimentaram a sorte na produção de café, às vezes conduzidos pelo idealismo. O conde

O armazém de café da Koninklijke Hollandsche Lloyd na rua Oostelijke Handelskade em Amsterdam. Foto de R.H. Derwig, ano desconhecido.

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holandês Dirk van Hogendorp partiu para o Brasil em 1817, onde comprou uma plantação de café perto do Rio. Como todas as plantações de café, esta também dependia da exploração de escravos. Dirk van Hogendorp ofereceu aos escravos, que vieram juntos com a compra da terra e, portanto passaram a pertencer a ele, sua liberdade, na esperança de que optariam por continuar a trabalhar para ele como pessoas livres. Os escravos afastaram-se, todavia, um após o outro. Van Hogendorp não conseguiu manter a plantação funcionando e faleceu empobrecido no Brasil. O interesse pelo café do Brasil cresceu

em Amsterdam depois que, em 1878, as plantações em Java foram afetadas pela temida doença foliar. A Holanda tornouse então um importante cliente do café brasileiro, que vinha principalmente da cidade portuária de Santos para os portos em Amsterdam e Rotterdam. O café brasileiro seguia seu caminho pela Europa inteira a partir desses portos holandeses. Um dos armazéns de café de Amsterdam, pertencente à ‘Koninklijke Hollandse Lloyd’ de 1915, tinha o nome de “Brazilië”. Em 1998 transformaram o armazém de duzentos metros de comprimento na rua ‘Oostelijke Handelskade’ em um shopping que também se chama “Brazilië”.

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Reparos A partir de 1808 os portos brasileiros passaram a receber navios de todos os países e não mais somente aqueles com a bandeira portuguesa. Neste mesmo ano a família real portuguesa emigrou para o Brasil, fugindo do exército do Napoleão. A capital do império português "além-mar" era o Rio de Janeiro até que, em 1822, a cidade passou a ser capital do Brasil, como império independente de

Portugal. O rei holandês, Guilherme I, que fundou em 1824 a Companhia de Comércio Holandês, estava muito

interessado no comércio com o novo império Brasil. Mesmo assim, o contato comercial entre os dois países só começou a progredir bem na segunda metade do século dezenove. Apesar disso, navios de Amsterdam velejavam regularmente para o Brasil, a serviço de firmas estrangeiras, para embarcar açúcar e café, por exemplo. Diversos navios de Amsterdam, que na verdade tinham outro destino, passavam também pelo Rio de Janeiro, como porto de emergência. Relatórios destas visitas, às vezes incluindo até recibos do Rio de Janeiro do século dezenove, foram guardados no Arquivo da Cidade de Amsterdam. O navio ´Susanna Christina’, do capitão Corbière de Amsterdam, por exemplo, carregado de diversas mercadorias e a caminho da Batávia, atual Jacarta - na ilha de Java, ficou severamente danificado durante uma série de tempestades em alto mar (vazamento no teto e gurupés solto), entrou no porto do Rio de Janeiro para reparos no dia 28 de setembro de 1839. No arquivo da Companhia de Seguros para Embarcações Marítimas encontra-se um relatório dos danos e reparos que foram necessários. O navio ´de Kersbergen’, da companhia marítima Meursing, de Amsterdam partiu de Cardiff em 14 de abril de 1888 carregando carvão para Surubaia, em Java. Após alguns dias o navio começou a produzir muita água.

A Companhia de Seguros para Embarcações Marítimas tinha um relatório dos danos ocorridos e reparos que foram necessários aos navios. Arquivo da empresa Meursing, Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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Parecia ter tido um vazamento na proa. O tempo estava ruim, o mar bravo, a água tinha que ser extraída continuamente e, mesmo assim, continuavam a velejar. Após algumas semanas a tripulação pediu ao capitão Klasen, comandante da embarcação, para parar em um porto de emergência e assim poderem realizar os reparos necessários. Somente em 22 de maio o capitão achou que a situação estava tão preocupante que ele decidiu velejar rumo ao Rio de Janeiro, que era naquele momento o porto de emergência mais próximo. A caminho do Rio

de Janeiro o ´de Kersbergen´ sofreu mais danos durante outra tempestade, inclusive às velas. Em 31 de maio o navio chegou ao Rio e foi puxado ao ancoradouro por um rebocador. No dia seguinte o capitão pediu ajuda ao cônsul holandês, que apontou dois especialistas para registrar os danos do navio. Os danos eram significantes e o navio só poderia ser reparado se a carga fosse descarregada e com isso o ´de Kersbergen´ ficou mais de um mês e meio no Rio. Um relatório da viagem e dos danos, com notas das despesas, encontra-se no arquivo da Meursing, que hoje é mantida no Arquivo da Cidade de Amsterdam. Tem contas de empresas brasileiras e artesãos que fizeram diversos reparos, contas pelo armazenamento das quatrocentas toneladas de carvão e também, por exemplo, notinhas de telegramas enviados, para um tradutor de inglês para o português, de todos os tipos de taxas portuárias e também de produtos necessários para a continuação da viagem como, por exemplo pão, repolho, cerveja, batatas, cebolas e petróleo.

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Investimentos Amsterdam já era, desde o século 18, um centro financeiro importante, uma cidade de banqueiros que forneciam empréstimos a príncipes e estados estrangeiros. Depois que o Brasil se tornou uma república em 1889, os empréstimos do exterior, ao governo federal e aos estados brasileiros, fizeram com que o país pudesse modernizar-se. Diversas empresas de Amsterdam faziam parte de consórcios os quais financiavam empréstimos através de títulos de crédito. Assim foi que, em 1898, o famoso escritório de banqueiros Wertheim en Gompertsz participou com dez mil libras – a juros de cinco por cento – do grande empréstimo nacional ao Brasil, iniciado pela Rothschild & Sons de Londres. Wertheim en Gompertsz também participou de consórcios para empréstimos aos estados do Amazonas Minas Gerais e São Paulo. A Alsberg, Goldberg & Co., firma de Amsterdam, emitia regularmente títulos de crédito para empréstimos brasileiros no mercado. Assim ocorreu, por exemplo, um empréstimo a juros de cinco por cento ao estado do Rio de Janeiro em 1905 e novamente em 1912. A renomada Hope & Co., uma das mais importantes instituições bancárias para empréstimos à estrangeiros de Amsterdam, comprou títulos de crédito sobre empréstimos ao Brasil e participou, por exemplo, em 1912 com dez mil libras de um empréstimo de três milhões ao estado do Rio de Janeiro. O governo brasileiro precisava dos empréstimos para pagar dívidas que

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eram, em grande parte, consequência da construção de ferrovias – o maior símbolo da idade moderna. Essas obras começaram na segunda metade do século dezenove e contribuíram para que o Brasil fosse considerado, por volta de 1900, como uma das economias em mais rápido crescimento do mundo. Muitas firmas estrangeiras investiram nas ferrovias brasileiras e os escritórios de Amsterdam também aproveitaram essa oportunidade. A Wertheim en Gompertsz participou em 1897, com um capital de quinze mil libras, de um empréstimo à empresa brasileira Central Railway. A Hope & Co. comprou títulos de crédito em 1905, no montante de seis mil libras, em um empréstimo à uma ferrovia em São Paulo. Ambas as firmas participavam do consórcio para a Sorocaba Railway Co. Os títulos de crédito para este consórcio foram emitidos em novembro de 1911 em Amsterdam pelos irmãos Teixeira de Mattos, que tinham então um escritório famoso de Amsterdam. O montante total implicou em uma emissão mundial de dois milhões de libras de títulos de crédito, a juros de 4,5 por cento, foi parte de um empréstimo total de quatro milhões. A Sorocaba Railway Company foi fundada em 1907 para ampliar a linha entre Sorocaba e São Paulo, que foi construída em 1875. O escritório holandês Handelsinlichtingen (Informações de Comércio) recebeu do Brasil correspondência contendo os


projetos e justificativas sobre os benefícios da ampliação da ferrovia de Sorocaba. Através desta nova ferrovia, que teria entre 850 e 900 quilômetros, a distancia da Europa ao interior do Brasil, Paraguai e Bolívia, através de Santos, tornou-se muito mais rápida. A Wertheim en Gompertsz comprou títulos de crédito por quatro mil libras, a Hope & Co. comprou-os por até 12.500 libras. A Hope & Co. participou também, em 1905, com um montante de 25.000 dólares

do consórcio que financiava a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co., uma empresa particular com base em Toronto, que investiu no total, cerca de cinquenta milhões de dólares para fundar diversas empresas utilitárias no Rio de Janeiro. A empresa, também conhecida simplesmente como ´Light´, comprava empresas de gás e telefonia e com isso o direito de fornecer eletricidade à cidade, forneceu também ao Rio uma rede de bondes elétricos.

Mapa da ferrovia Sorocabana do arquivo dos banqueiros e corretores Wertheim en Gompertsz, Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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A bebida holandesa ‘Jenever’ Desde 1679 a antiga destilaria Wijnand Fockink localiza-se na rua Pijlsteeg, no centro de Amsterdam. Passou a exportar bebida para o Brasil a partir de 1901. Nos anos trinta até construíram uma fábrica no Rio de Janeiro: Bebidas Wijnand Fockink do Brasil Ltda. Lá eram produzidas jenever – uma bebida destilada holandesa, parecida com o gin – e gin seco à base de um concentrado de Amsterdam. Licores continuavam a ser importados da Holanda. Emile Dekkers, um dos diretores da Wijnand Fockink, veio ao Brasil no outono de 1946 e no Arquivo da Cidade de Amsterdam encontra-se um relatório de sua viagem. Dekkers viajou com um dos primeiros voos da KLM em direção à América do Sul. Um lindo, porém cansativo voo, como escreveu Dekkers. A viagem foi de Amsterdam à Lisboa e no dia 19 de outubro de Dakar à Natal, onde havia um dia de descanso, e de lá, à meia-noite, continuaram rumo ao Rio de Janeiro, onde pousaram às dez horas da manhã, mas “as formalidades a serem cumpridas eram tantas, que só pudemos entrar no mundo livre depois das três da tarde”. Em seguida Dekkers viajou uma hora de barco, do

aeroporto no Rio de Janeiro até seu hotel, o Hotel Central. Emile Dekkers permaneceu no Brasil durante um mês e meio. Ele inspecionou a fábrica no Rio de Janeiro e lá conheceu os jovens parceiros de negócios, como os corretores Santos Suares & Co., que esperavam vender naquele ano cerca de duas mil caixas de jenever e gin seco da Wijnand Fockink. Os corretores insistiram que

Dekkers visitasse pessoalmente todos os compradores importantes de jenever da cidade, ocupando assim quase todos os dias de sua visita. Mas funcionou, ele admitiu. Os brasileiros acharam “muito lindo” que havia vindo alguém da Holanda. Dekkers viajou também para São Paulo – de avião, com direito à despedida no aeroporto de

1) Interior Wijnand Focking em Amsterdam. Foto: Sabela Moscoso. 2) Papel de carta brasileiro da firma Focking. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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quase todos os empregados da firma Santos Soares – onde encontrou com mais clientes. A maioria dos clientes estava muito contente com o jenever que a Wijnand Fockink produzia no Brasil, apesar de alguns ainda preferirem importar o jenever de Amsterdam. Dekkers utilizava a mediação de diversas instâncias holandesas no Brasil. Alguém da KLM, por exemplo, fazia com que os assuntos na polícia de estrangeiros se resolvessem em “uma hora brasileira”. Para as finanças da empresa havia a Hollandsche BankUnie, que foi estabelecida em 1914 como a Hollandsche Bank

voor Zuid-Amerika (Banco Holandês para a America Latina) e que hoje faz parte do banco ABN-AMRO. Dekkers estava menos impressionado com a embaixada holandesa no Rio. O delegado diplomático da embaixada era aparentemente um socialite que constantemente reclamava da “vida muito monótona na colônia holandesa no Rio”. Dekkers constatou que provavelmente não precisaria dele para fazer negócios no Brasil. Em 5 de dezembro de 1946 Emile Dekkers iniciou sua viagem aérea de volta à Amsterdam. Ele trouxe a bordo jenever e gin da Wijnand Fockink, pois na ida serviram apenas bebida da grande concorrente – a Bols. Em 1954 a Wijnand Fockink foi comprada pela Bols, que já existia desde 1575, sendo assim a destilaria mais antiga do mundo. Bols tem até hoje um estabelecimento no Brasil.

Vitral da Wijnand Focking em Amsterdam. Foto: Roel Wijnants.

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Holambra Desde a metade do século dezenove agentes tentavam recrutar holandeses para vir trabalhar no Brasil. Após a proibição de importação de escravos – e evidentemente com a abolição de escravidão em 1888 – surgiu uma premente escassez de trabalhadores de lavoura no Brasil. O país necessitava de trabalhadores principalmente para o trabalho em plantações de café e na construção das ferrovias. Os primeiros holandeses estabeleceram-se, por volta de 1860, no estado de Espírito Santo. Lá ainda há hoje um povoado chamado Holanda. Em 1908 o Brasil iniciou um novo recrutamento de trabalhadores. Mais de dois mil holandeses – principalmente agricultores – foram para o Brasil, a maioria embarcada nos navios da Koninklijke Hollandsche Lloyd que fazia o trajeto entre Amsterdam e América do Sul. A colonização holandesa mais famosa foi 'Gonçalves Júnior' no estado de Paraná. Os colonizadores eram muito pobres e mal sabiam lidar com as dificuldades e com o trabalho nesta região inculta e isolada. Muitos faleceram de doenças, subnutrição e exaustão. Outros Holambra.

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voltaram para a Holanda. Mas algumas famílias holandesas de Gonçalves Júnior unidas a novos colonos oriundos da região de Haarlemmermeer, perto Amsterdam, iniciaram em 1911 uma 'cooperativa' de empresas agricultoras nas terras que haviam recebidas da Brasil Railway Company. Apesar dos primeiros anos difíceis, os holandeses souberam transformar Carambeí em uma próspera colônia. Após a II Guerra Mundial os fazendeiros holandeses estavam novamente passando por muita dificuldade. O governo brasileiro e holandês então uniram forças para ajudar emigrantes holandeses a se estabelecer no Brasil. Os holandeses chegaram na sua terra nova em grupos, onde juntos formaram colônias e cooperativas de empresas agricultoras. Em 1948 um grupo de fazendeiros católicos do sul da Holanda iniciou uma colônia no estado de São Paulo. Esta aldeia hoje se chama Holambra I – uma junção de Holanda, América e Brasil. Holambra I é hoje o maior centro de produção de flores e plantas da América Latina e é responsável


por quarenta por cento da produção de flores no Brasil e oitenta por cento da exportação. Holambra é conhecida no Brasil como ‘a cidade das flores’ e é reconhecida pelo governo como “estância turística”. Visitantes podem familiarizar-se com diversos aspectos da cultura holandesa – arquitetura, música, dança, comida – e desde 1981 ocorre todo ano em setembro a maior exposição de flores da América Latina, o Expoflora, que atrai mais de duzentas mil pessoas. Em 1960 foi fundada a Holambra II – uma iniciativa de expansão da Holambra I. Um grupo de fazendeiros reformados do norte da Holanda seguiu em 1951 o exemplo dos colonizadores de Holambra

e fundaram um estabelecimento não muito longe da colônia holandesa Carambeí: Castrolanda. Em 1960 Carambeí e Castrolanda juntas fundaram mais uma colônia, em Arapotí, para garantir, principalmente, um futuro para as crianças dos primeiros colonizadores. Famílias de Carambeí e Castrolanda iniciaram uma cooperativa e a esta iniciativa juntaram-se também novos imigrantes da Holanda. Alguns brasileiros também se associaram à cooperativa. Destas primeiras colônias, desde então, fazendeiros holandeses se estabeleceram também em outros lugares do Brasil. E assim há hoje várias povoações holandesas espalhadas pelo país.

Pôster da Koninklijke Hollandse Lloyd com as bandeiras dos países sul-americanos com quem faziam negócios. Aproximadamente 1936. Arquivo da Cidade de Amsterdam.

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Holanda-Brasil No dia 2 de maio de 1963, quinta-feira a noite, o time de futebol holandês e o time brasileiro encontraram-se para um jogo amistoso no Olympisch Stadion (estádio olímpico) de Amsterdam. O time brasileiro estava fazendo uma turnê aquele mês, durante a qual jogou contra diversos times nacionais em território europeu. O grupo de 34 pessoas chegou no aeroporto Schiphol na segunda-feira e hospedou-se no Hilton Hotel em Amsterdam. O Brasil tinha recebido o segundo título de campeão mundial no ano anterior. No último confronto entre Brasil e Holanda, durante as olimpíadas de 1952 na Finlandia, Holanda havia perdido de 5 a 1.

Cerca de cinquenta mil espectadores vieram ao Olympisch Stadion para ver o time-maravilha brasileiro em ação e principalmente o famoso jogador de 22 anos, Edson Arantes do Nascimento, melhor conhecido como Pelé. Pelé realmente surpreendeu o publico de Amsterdam com suas corridas rápidas e a facilidade com que lidava com a bola. Mas após meia hora ele olhou algumas vezes interrogativamente para a lateral, foi trocado e sumiu em direção ao vestiário, seguido por uma longa sessão de vaias da tribuna. O time brasileiro continuou jogando – ágil e gracioso, segundo um repórter – mas estava difícil atingir os holandeses. Um

Ambos os times estão prontos para jogar. Foto de 1963, coleção Anefo, Hugo van Gelderen. Arquivo Nacional.

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repórter perguntou se talvez tivessem se assustado com o gato preto que havia atravessado o campo no começo do jogo. O time holandês, por sua vez, estava jogando cada vez mais forte e conseguiu ate mirar no gol algumas vezes. No último minuto o jogador da lateral esquerda, Peter Petersen, do Ajax, fez o único gol do jogo. Dezenas de torcedores correram para o campo para erguêlo nos ombros. Para a surpresa de todos a Holanda tinha batido o Brasil. Nove repórteres brasileiros que vieram junto com o time fizeram a cobertura do jogo direto do Olympisch Stadion e o resultado causou reações aborrecidas na imprensa brasileira. Enquanto isso, a Holanda e o Brasil já tiveram que jogar doze jogos um contra o outro. O Brasil ganhou quatro vezes, Holanda três vezes; cinco vezes o jogo terminou empatado. O futebol brasileiro fascina os holandeses até hoje. No 'Arena' em Amsterdam, estádio do Ajax, foi aberto em 2012 – antecedendo a copa do mundo de 2014 no Brasil – um 'Brazilian Football Café Sky Lounge'. Lá os

visitantes podem conhecer um pouco mais os diversos aspectos da cultura brasileira tendo como 'pano de fundo' a historia do futebol penta campeão brasileiro. Há fotos de jogadores brasileiros famosos, uma réplica da taça de 1994 e uma camisa do time que foi campeão em 1970, assinado pelo capitão Carlos Alberto Torres, que também estava presente na abertura do Lounge. As dozes cidades onde ocorrerão os jogos da copa do mundo de 2014 também recebem a atenção. O projetista Pedro Paula Luna escolheu uma decoração em cores brasileiras e materiais brasileiros duráveis. Enquanto isso o futebol de Amsterdam também já chegou ao Brasil. Em 2012 o antigo jogador do Ajax, Clarence Seedorf, assinou um contrato de dois anos com o Botafogo, no Rio de Janeiro. Segundo o presidente do Botafogo, Mauricio Assunção, Seedorf é o melhor jogador estrangeiro que já jogou para um clube brasileiro. Durante a primeira temporada de Seedorf no Botafogo o clube se tornou campeão estadual.

Foto do jornal ‘de Leeuwarder Courant’, um dia antes do jogo.

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Restauração Há anos um grupo de jovens arquitetos e planejadores urbanos trabalha no projeto de embelezamento e segurança das favelas no Brasil. A entidade que os representa chama-se Elos. O método que escolheram para tornar bairros desfavorecidos mais habitáveis é simples, porém surpreendentemente eficaz. Fazem contato com os moradores, perguntam quais são os desejos e sonhos para o bairro e juntos com a comunidade põem mãos à obra e fazem intervenções que ajudem a tornar esses desejos e sonhos realidade. Ao invés de esperar pela ajuda do governo os moradores produzem essas intervenções em seus bairros atuando com os materiais disponíveis. Os moradores de favelas, sob a direção da Elos, transformam por exemplo, ruínas em um parque infantil, um prédio sujo e abandonado que estava sendo usado principalmente por viciados, em um lindo teatro do bairro. Esse método, segundo a Elos, pode ser útil não só no Brasil mas no

mundo inteiro. A organização desenvolveu treinamentos para voluntários no exterior. Na Holanda a fórmula foi apanhada pela Fairground, uma organização que inicia e apoia projetos sociais em países em desenvolvimento. O brasileiro Rodrigo Alonso, um dos arquitetos da Elos, veio para a Holanda

em junho de 2010 para trabalhar com um grupo de trabalhadores brasileiros e voluntários holandeses na melhoria de um bairro desfavorecido de Amsterdam, segundo o método brasileiro. Em Nieuwendam, na região norte de Amsterdam, eles trabalharam em um bairro de ruas movimentadas e prédios altos; atuaram junto aos moradores, indivíduos de diferentes nacionali-

Trabalhadores brasileiros e voluntários holandeses, engajados no desenvolvimento, põem as mãos à obra na região norte de Amsterdam em 2010. Fotos Jaqueline Dersjant.

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dades que raramente tinham contato um com o outro e regularmente se sentiam inseguros. Primeiro os voluntários conversaram com os moradores, para descobrir como eles gostariam de ver seu bairro. As crianças desejavam principalmente um lugar para brincar e os adultos um lugar para fazer churrasco ao ar livre. Vinte voluntários trabalharam durante uma semana com

cerca de trinta crianças e dez adultos da vizinhança na restauração do bairro. Dessa forma os moradores também entraram em contato uns com os outros. Pois mesmo considerando que neste bairro de Amsterdam havia mais prosperidade do que nas favelas brasileiras, assim disse o arquiteto Alonso, “o calor humano, o prazer de trabalhar juntos e às vezes simplesmente

dar um abraço, isso os holandeses podem aprender da gente.” Duas meninas pintaram uma passagem escura entre a rua e a galeria de prédios com flores e plantas coloridas. As paredes de uma lanchonete que estavam inteiramente cobertas de grafite foram pintadas com bandeiras de todas as diferentes nacionalidades das pessoas do bairro. Vários meninos construíram um parque infantil com diversos objetos velhos, com direito à balança e campinho de futebol com balizas. As pessoas se esforçaram para tornar um jardim abandonado de uma mesquita em um lugar agradável. E quando todo o trabalho estava feito, era hora de uma grande festa do bairro, seguindo a tradição brasileira. Enquanto Rodrigo Alonso tocava o violão, os moradores do bairro cantavam e dançavam na rua. Depois da região norte de Amsterdam, foram restaurados vários outros bairros desta forma brasileira.

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Brasil Festival Amsterdam A comunicação cultural entre a Holanda e o Brasil aumentou muito esses últimos anos. Há bastante troca já entre holandeses e brasileiros nos setores criativos, como arquitetura, design, dança e também jogos de videogame, por exemplo. A fundação holandesa ‘Nederlandse Stichting Internationale Culturele Activiteiten’ (SICA) – que promove atividades culturais internacionais – iniciou em 2009 um projeto incentivado pelo governo holandês e fez uma análise completa da cultura brasileira, para poder entender melhor onde que a colaboração cultural entre os dois países poderia ser maior e mais forte. A plataforma digital Cultural Exchange Brazil – The Netherlands é o resultado desta pesquisa, onde foram agregadas informações sobre todos os aspectos da cultura brasileira e holandesa, para assim estimular um intercâmbio cultural. O Brasil Festival Amsterdam, que ocorreu em Amsterdam no outono de 2011, colocou a cultura brasileira no centro das atenções. A abertura oficial, com desfile de carnaval na rua Van Baerlestraat, com direito à bateria, capoeira, carros alegóricos, fantasias e efeitos especiais, ocorreu no dia 3 de outubro. Durante dois meses o público de Amsterdam pôde desfrutar e conhecer um pouco mais dos diferentes aspectos da cultura brasileira: música, artes plásticas, cinema, dança, teatro, arquitetura,

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literatura e a culinária inclusive. Assim puderam descobrir o quão diversificada é a vida cultural no Brasil – uma alegre mistura de diferentes culturas e estilos -, onde tradição e vanguarda funcionam muito bem juntas, e onde cultura não é somente para a elite, mas para todos. No Brasil há séculos que as influências europeias, indígenas e africanas são misturadas para formar um conjunto único, e os grandes artistas inclusive também se deixam inspirar pela cultura do povo. “Pureza é um mito,” diz o famoso cantor brasileiro Caetano Veloso. Esta miscelânea estava bastante evidente na programação musical do Brasil Festival: de bossa nova e samba à pop e jazz, música de compositores clássicos como Villa-Lobos, barroco brasileiro e música contemporânea à música afrobrasileira (maracatu) e música indígena. A mundialmente famosa Amsterdamse Concertgebouworkest (orquestra da sala sinfônica de Amsterdam) apresentouse ao lado do pianista brasileiro Nelson Freire. As artes plásticas foram representadas com exposições de artistas brasileiros, e as obras de Frans Post, o primeiro pintor a retratar o Brasil, também foram expostas; havia também uma exposição de fotos de Bas Losekoot, fotógrafo de Amsterdam que fotografou as ruas de São Paulo. As ruas de Amsterdam também levaram um toque brasileiro. Artistas de rua fizeram pinturas enormes em nove


painéis espalhados pelos diferentes bairros de Amsterdam – um projeto da ‘ Reflexo on Urban Art’ (R.U.A.), que é uma iniciativa da Caramundo, organização que cria chances para jovens em regiões urbanas pobres da América Latina, principalmente pela arte e pelo esporte. Participaram do projeto tanto artistas renomados quanto novos talentos. Em novembro, durante a Museumnacht (noite do museu) de Amsterdam, o artista de rua Gais pintou um bloco de concreto

na agua à frente do Architectuurcentrum Amsterdam (centro de arquitetura de Amsterdam – ARCAM), em uma só noite, na frente do publico. Do lado de dentro do centro a Caramundo fez uma apresentação sobre a importância do grafite no desenvolvimento de projetos urbanos no Brasil. R.U.A. fez um sucesso tão grande que em 2012 artistas de rua brasileiros voltaram à Amsterdam novamente, desta vez para pintar sete prédios na cidade.

Todas as atividades durante o Brasil Festival 2011 em Amsterdam podiam ser encontradas no programa especial.

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Bicicletas A Holanda e o Brasil contribuem, cada um de forma diferente, com a melhoria do clima no planeta. O Brasil deseja ter um futuro mais verde e durável e as empresas e instituições holandesas podem ajudar para que isso aconteça. O Rio de Janeiro, por exemplo, pediu ajuda à Holanda para desenvolver um plano para o uso de bicicletas na cidade. O Rio está se esforçando para diminuir a quantidade de emissão de CO2 e isto quer dizer: menos carros e mais pessoas locomovendo-se de bicicleta e utilizando transporte público. A Holanda, sendo o ‘país das bicicletas’, tem eminentemente especialidade nesta área. É impossível imaginar o trânsito em Amsterdam sem bicicletas. Portanto, o ciclismo como meio de transporte é seguro e atraente para todos. Há ciclovias espalhadas pela cidade inteira e vários bicicletários para estacionar a bicicleta. Amsterdam é uma cidade saudável, com qualidade de vida, e um centro bastante accessível, devido à grande quantidade de ciclistas que tem. A Dutch Cycling Embassy – uma cooperação entre instituições, governo, empresas e fabricantes, todos especializados em bicicletas - ajuda o Rio de Janeiro a fazer com que as pessoas andem mais de bicicleta ou façam mais uso do transporte público, ou uma combinação de ambas. A Dutch Cycling Embassy pesquisou qual seria o efeito de construir mais ciclovias, por exemplo. Hoje o Rio tem cerca de 270 quilômetros

em ciclovia e há planos para aumentar o número de ciclovias para 400 quilômetros até 2015. Serão disponibilizadas também cerca de cinco mil bicicletas públicas ate lá. A Rio 20+, conferência das Nações Unidas (ONU) sobre durabilidade, ocorreu no Rio de Janeiro em junho de 2012. Em antecipação a esta conferência foi organizado no dia 8 de junho em Nova Iorque – por iniciativa holandesa –, um grande passeio de bicicleta. Ban Khi-Moon, Secretario-geral das Nações Unidas, deu o sinal de partida. Representantes da ONU, bancos de desenvolvimento e outras organizações internacionais, todos pedalaram juntos. Durante a conferência, em 20 de junho, o secretario estadual holandês de transporte e meio-ambiente, Joop Atsma, encontrou-se com o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Muniz, e ofereceu a ele um relatório da Dutch Cycling Embassy que dizia qual seria o impacto das medidas a serem tomadas para estimular o uso da bicicleta. Se o Rio implementar estas ideias para tornar o ciclismo mais atraente, a quantidade de quilômetros pedalados por pessoa irá aumentar em sessenta por cento. Isto farácom que o congestionamento diminua e a emissão de CO2 reduza em até oito por cento. Segundo os pesquisadores, as medidas a serem tomadas precisam ser muito bem

O Rio de Janeiro já construiu algumas ciclovias. Foto: Dutch Cycling Embassy.

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sintonizadas umas com as outras, para garantir o melhor resultado possível. O vereador Muniz ficou muito contente com os resultados da pesquisa e pediu ajuda

aos holandeses para tornar o transporte da cidade mais durável e criar um melhor equilíbrio entre carros, transporte público e bicicletas.

O Rio de Janeiro faz campanhas para o uso das bicicletas. Foto: Dutch Cycling Embassy. Bicicletas para uso comum no Rio de Janeiro. Foto: Dutch Cycling Embassy.

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Negócios Holanda e Brasil são bons parceiros de negócios. Os governos de ambos os países trabalham juntos na área econômica e empresas holandesas e brasileiras, tanto as grandes quanto as empresas de tamanho médio e pequeno, fazem negócios juntas com cada vez mais frequência. A Holanda é um dos maiores investidores no Brasil. Além disso, o Brasil é um importante país exportador para a Holanda. A Holanda exporta para o Brasil óleo diesel, fertilizantes artificiais, produtos agrícolas como laticínios, sementes de verduras, batatas, papel de impressão, aparelhos e máquinas médicas, entre outros. Quase todas as grandes empresas holandesas têm um escritório no Brasil, localizados principalmente em São Paulo - a empresa química AkzoNobel e a Arcadis, empresa de consultaria e engenharia, por exemplo, ambas com sede em Amsterdam, e a fabricante de eletrônicos Philips, mas também a marca de roupas C&A, e ainda empresas como a DSM, Océ (fundida com a Canon em 2012) e Unilever. A Shell se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1913. Diversos bancos holandeses, como o ING Bank e o Rabobank, também se encontram no Brasil. E o Amsterdam ArenA está envolvido no desenvolvimento de diversos estádios de futebol no Brasil. Além disso há dezenas de empresas sendo representadas por agentes ou distribuidores no Brasil.

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A Holanda também é um país importante para a exportação de produtos brasileiros. É o quarto maior cliente do Brasil no mundo e o primeiro maior da Europa. Os principais produtos exportados do Brasil para a Holanda são matérias-primas como sementes, minério de metal e minério de ferro, produtos químicos, máquinas, produtos de soja, café e fruta. A Holanda também é de grande importância para o Brasil, pois é o porto de entrada da Europa. Rotterdam é o maior porto de desembarque de produtos brasileiros da Europa. Há um grande número de empresas brasileiras que se estabeleceram em Rotterdam. Mas Amsterdam também está emergindo e é atraente para empresas brasileiras, com sua excelente infraestrutura, porto e o aeroporto Schiphol, a boa qualidade de vida e as comodidades para empresas estrangeiras e seus empregados. Portanto, nos últimos anos diversas empresas brasileiras se estabeleceram na região metropolitana de Amsterdam. Os escritórios europeus de duas grandes empresas brasileiras de mineração se encontram em Amsterdam. Samarco Iron Ore Europe BV é uma subsidiária da empresa de mineração Samarco Mineração S.A., que tem um escritório europeu em Amsterdam desde 2000. A empresa está localizada no World Trade Center de Amsterdam. A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração – uma empresa de mineração


e produtora de produtos à base de nióbio, utilizada entre outros na produção de aço inoxidável – tem um escritório em Amsterdam desde 2010: a CBMM Europe. A fabricante brasileira de aviões Embraer também faz bons negócios no aeroporto Schiphol. A companhia aérea holandesa KLM é cliente da Embraer. A Probiotica Sport Nutrition, uma empresa de suplementos nutricionais, também para esporte, encontra-se no Schiphol desde 2008 – ela é uma subsidiária da brasileira

Probiotica Laboratórios Ltda. Amstelveen, uma cidade ao sul de Amsterdam, também é um lugar onde empresas estrangeiras gostam de se estabelecer e onde os expatriados gostam de morar. A Seara Meets, atacado de carne, está localizada lá desde 1992. Desde 2009 esta empresa passou a fazer parte da Marfrig Alimentos S.A., a maior produtora de carne bovina do mundo e uma grande empresa de processamento de alimentos com sede em São Paulo.

Algumas das empresas brasileiras na área metropolitana de Amsterdam estabeleceram-se na região empresarial Zuid-As. Foto: Edwin van Eis.

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