Ensaio: A consciência industrializada

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A consciência industrializada Ensaio para uma teoria crítica dos meios e modos de construção da comunicação.



Inspirado no livro de Hans Magnus Enzensberger: “Elementos para uma teoria dos meios de comunicação”, 1970. Israel Dias – maio 2012

Para se entender o contexto, é necessário aplicar um outro sentido às palavras: Aparelho = Qualquer artefato fabricado. Comum = Banal, costumeiro. Consciência = Algo intangível, pertence ao imaginário. Criação de realidade = Resultado de aparelhos. Enquadramento = Recorte ou meio final da imagem. Funcionário = Aquele que opera aparelhos. Homem-Deus = Sentimento de quem usa aparelho. Imagem = Construção de realidade ou enquadramento escolhido. Meio = Por onde é transmitida a informação. Modos = Como se constrói a comunicação. Manipulação = Tudo que é tocado. Práxis = Ação de aplicar a prática. Programa = Criado para funcionar em um sistema. Recorte = Menor fragmento da realidade.

Transparência = Sem segredos.

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Sistema = Onde se desenvolve modos com uso de aparelhos.

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Revolucionário = Rótulo.


― Parte 1 ― Industrialize a consciência, e a percepção do que é bem e pacífico será substituído por algo construído e distorcido. Se assim for consolidada essa nova indústria, será operada através de modos delineados. Modos delineados são regras, leis ou dogma. Ser revolucionário. Pode se criar revolução através de modens, interfaces e conexões de banda larga, mas é preciso uma permissão. Ela é escrita em folhas de papéis com valores impressos pela casa da moeda, sem essa permissão não é possível. Toda a realidade é construída através do consenso da sociedade, que usa imagens para decodificar mensagens. O inicio, o fim e os meios são construídos. Logo, a história é contada através dos que constituem maior relevância social, assim, igual a um site no Google que coloca na primeira página os que atingirem o maior pagerank possível. Pagerank se consegue com relevância. Relevância pelo que é fantástico. O que era para ser revolucionário ficou nas mãos de roteiristas que escrevem fantasiosas percepções

emancipação.

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encobre os olhos dos setores que antes gritavam por

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sociais que acentua o fator merchandising. Essa sombra


― Parte 2 ―

Nivelamento. Os que estão no topo do mundo e nas primeiras páginas são cobiçados, não por seu caráter e contribuição cultural e popular, mas pelos índices de prosperidade e propriedade capital. O algoritmo-vida é a forma matemática que os meios de comunicação encontraram para traduzir em modos a consciência ideal, que supra as necessidades de qualquer sistema socioeconômico. Isso se aplica a qualquer sociedade, até mesmo nas mais industrialmente avançadas. A vida se tornou um programa, onde aparelhos são necessários para se viver, e com eles, as pessoas funcionam, logo são funcionários. Não se subverte o aparelho, isso implica ruptura. Ciclicidade é a forma mais segura de se forjar rupturas, uma fórmula antiga volta como algo novo, que é colocado como nova consciência. Se foi bom, o será no presente, e também para as novas gerações. Uma narrativa novelística se torna práxis comum. Sem

atual. Isso ajuda no entendimento da realidade.

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em forma de novela é uma linguagem aceitável pela sociedade

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ela não é possível entender os fatos, logo, imagens narradas


― Parte 3 ―

A internet mobiliza. A primavera Árabe aconteceu, os jovens indignados ocuparam diversos cantos do mundo em um mesmo dia. Manifestações de múltiplas origens se organizam através dessa rede binária. A emancipação veio, qualquer um pode ser um emissor e produzir cultura. Mas não há contradição, pois a subversão que esta consciência cria só funciona com a ajuda de aparelhos operados por funcionários dentro de um sistema. Homem-Deus, criador de realidades e funcionário, não quer se tornar humano, quer continuar construindo realidades. Não há mais limites e barreiras para quem vive na sociedade industrializada, livre e emancipada pela media. Existe uma determinada transparência propagada através desta rede mundializada, ela é moeda de troca. O mais transparente também se torna o mais confiável. Nesta construção da consciência, modos e meios é que se encontra inserido o ser humano.

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― FIM ―


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