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CENTRO UNIVERSITÁRIO - FIAM-FAAM
TEORIA POLÍTICA NA OBRA DE KARL MARX
São Paulo Março de 2012
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CENTRO UNIVERSITÁRIO - FIAM-FAAM
Débora Vasconcelos Emanuelle Herrera Israel Dias Maria Gabriela Fernandes
TEORIA POLÍTICA NA OBRA DE KARL MARX
Texto para apresentação do seminário de Teoria Política. Complemento avaliativo do quarto semestre Curso de graduação em Jornalismo Solicitado pelo prof. Ms. Cláudio Sá
São Paulo Março de 2012
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5 Introdução Quando Karl Marx escreveu suas críticas ao sistema capitalista não imaginava que fosse dividir espaço com livros de Adam Smith e Maquiavel na cabeceira de homens de negócios de Wall Street. Ao vislumbrar no progresso típico do século 19 as marcas das crises que destruiria periodicamente o modo de produção capitalista, predizendo a possibilidade de seu fim, Marx ganhou ares de profeta. E como faz a burguesia para vencer essas crises? Por um lado, reforça a destruição da massa de forças produtivas; por outro lado, tenta conquistar novos mercados e busca uma exploração mais completa dos antigos. Ou seja, pavimentando o caminho para crises mais extensas e mais destrutivas e diminuindo os meios pelos quais previnem-se crises. (MARX&ENGELS, 1998: 19) A história do capitalismo pode ser dividida em períodos, marcados por certa coerência na ordem estabelecida e intercalados por crises, estas já previstas por Marx. Para o geógrafo brasileiro Milton Santos, o tempo histórico atual constitui uma verdadeira superposição entre período e crise, representado pela característica antagônica e complementar que o capitalismo adquiriu de desenvolvimento e destruição. Santos aponta que o processo da crise é permanente e estrutural, ou seja, a busca por soluções não estruturais resultam na geração de mais crises que passam a ser sucessivas e devido a revolução técnico-científicoinformacional, globais. A atual crise econômica mundial, que se prolonga desde 2006 com a quebra das instituições de crédito nos Estados Unidos, recolocou em debate a necessidade de interpretação crítica da sociedade capitalista contemporânea. O mesmo sistema ideológico que justifica o processo de globalização, ajudando a considerá-lo o único caminho histórico, acaba, também, por impor uma certa visão da crise e a aceitação dos remédios sugeridos. (...) Na verdade, porém, a única crise que os responsáveis desejam afastar é a crise financeira e não qualquer outra. Aí está, na verdade, uma causa para mais aprofundamento da crise real econômica, social, política, moral – que caracteriza o nosso tempo. (SANTOS, 2011: 36)
6 A morte da política Em O Manifesto Comunista, Marx e Engels dizem que cada luta de classe é uma luta política. Assim, a organização dos proletários em uma classe e, consequentemente, em um partido político força o reconhecimento dos interesses dos trabalhadores através de um meio burguês. Ressaltam ainda a característica local dessa luta de classes. (...) a luta do proletariado contra a burguesia é antes de tudo uma luta nacional. O proletariado de cada país precisa, claro, primeiro de tudo acertar seus assuntos com sua própria burguesia. (MARX&ENGELS, 1998: 28) Certamente, não imaginavam o mundo globalizado. A globalização é o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista fundamentado pela existência de um sistema de técnicas e processos políticos que se apropriam dessas técnicas em função de um interesse particular. A política, por definição, é sempre ampla e supõe uma visão de conjunto (SANTOS, 2011:67), mas deixa de existir quando ela passa a atuar no mercado e com lógicas de mercado.
Existe uma teoria política marxista? Essa questão é uma provocação que marxistas e não-marxistas discutem até hoje. Não é de se estranhar que tal questão seja complicada de se entender, pois, de acordo com os estudos sobre as obras de Marx, ele não teria elaborado uma teoria política. Norberto Bobbio acreditava que Marx deixou esta lacuna em seus estudos, não esclarecendo qual que seria a política dentro da sua filosofia de uma sociedade sem classes. Para Bobbio, Marx ou qualquer marxista conseguiu elaborar uma teoria digna do nome política. Por outro lado, Atilio Borón aponta um equivoco por parte de Bobbio, que analisa somente um ponto, referente à política econômica e social, sem entender que, como um todo, Marx explica com se dá a política nesta nova sociedade que surgiria com o colapso do capitalismo (Borón, 2007: 2).
7 Porque para o marxismo nenhum aspecto ou dimensão da realidade
social
pode
teorizar-se
à
margem
–ou
com
independência– da totalidade na qual aquele se constitui. É impossível teorizar sobre “a política”, como o fazem a ciência política e o saber convencional das ciências sociais, assumindo que aquela existe em uma espécie de limbo posto a salvo das prosaicas realidades da vida econômica. (Borón, 2007: 10)
Bobbio e Borón discordam consideravelmente sobre a existência de uma teoria política em Marx, e acabam por concordar que ela não exista. Não propriamente como Bobbio desejava que fosse: explícita. Mas de uma forma total e ampla, como aponta Borón, a começar com o estudo sobre o materialismo, a mais valia, a luta de classes, e finalmente, no proposto por Marx como um novo sistema social. Segundo Borón, a análise realizada acerca da filosofia política do marxismo ainda não se aprofundou a ponto de convergir em algo mais rudimentar e deixar à mostra as intenções de Marx em suas obras. Mas que isso não descarta a possibilidade de existência dela. É neste ponto que Bobbio está incorreto em sua afirmação, afirma Borón, pois não se pode achar um tópico no marxismo que aborde precisamente este tema. Frente a uma realidade como esta, a expressão teoria “política” marxista não faria outra coisa que convalidar, a partir da tradição do materialismo histórico, o frustrado empenho por construir teorias fragmentadas e saberes disciplinares que desde seu unilateralismo deformam a “realidade” que pretendem explicar. Não há, nem pode haver, uma “teoria econômica” do mercado ou do capitalismo em Marx; tampouco há, nem pode haver, uma “teoria sociológica” da sociedade burguesa. (Borón, 2007: 11)
Borón esclarece que, quando Marx aponta para uma sociedade sem classes, isso não preconiza o “fim da política”, mas o florescimento de uma
8 sociedade sem “amarras”, que impedem a exista uma sociedade próspera e sem diferenças étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. Isso demonstra a preocupação política na sociedade a que a obra marxista se aprofunda, em amplitude maior que um tópico de estudo somente para teorizar a política. Conforme afirma Borón, não há e nem pode haver um teoria “política” marxista como a tratada nas ciências sociais e pela ciência política do saber convencional, assumindo que ele esteja em um limbo, posto a salvo das prosaicas realidades da vida econômica. Entender o materialismo a que a sociedade foi mergulhada diante de uma mais-valia do capital que prende o pensamente filosófico e teórico atual não permite discorrer sobre a forma verdadeira a que Marx propõe em suas obras.
Referência
BORÓN, ATILIO A. Teoria política marxista ou teoria marxista da política. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/campus/marxispt/cap.6.doc > Acesso em 26 de mar. 2012. MARX, KARL & ENGELS,FRIEDRICH. A Ideologia Alemã.São Paulo: Martin Claret,2005. ______________. Manifesto do Partido Comunista.Rio de Janeiro:Paz e Terra,1998. SANTOS, MILTON. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.Rio de Janeiro: Record, 2011