ANTONIO
ANASTASIA
UM NOVO LÍDER
A SERVIÇO DE MINAS
ANTONIO
ANASTASIA
UM NOVO LÍDER
A SERVIÇO DE MINAS
apresentação
A
Antonio Augusto Junho Anastasia se elegeu governador de Minas Gerais em outubro de 2010. Foram 6.275.520 votos (62,72% dos válidos), numa virada espetacular sobre seu adversário. Esta vitória consagrou, mais uma vez, o comando e o propósito maior do estadista Aécio Neves, hoje senador, bem como o trabalho insone das lideranças do PSDB, prefeitos e partidos aliados que se uniram em torno de um projeto não só eleitoral, mas, principalmente, de modernização da máquina pública e da prática política. O governador Anastasia desponta como novo líder político de Minas Gerais, aplaudido por seus pares e ungido pelos eleitores, que, graças à dinâmica sincera e bem-sucedida da campanha, puderam reconhecer e afiançar sua biografia e suas realizações. Este livro é dedicado a iluminar a trajetória exemplar do governador do PSDB mais bem votado do Brasil no pleito passado. As páginas que se seguem homenageiam o servidor público na mais pura e elevada acepção do termo, advogado e professor, cujas qualidades se fixaram na reputação de melhor gestor da administração pública brasileira e de hábil negociador político. O primeiro capítulo trata de registrar os movimentos da campanha da reeleição de 2010, desde a gênese das articulações partidárias até a apuração das urnas. A aliança de profunda lealdade com o governador Aécio Neves é o
tema da segunda parte, abordando a delegação recebida por Anastasia como principal executivo dos oito anos de governo, sua escolha como vicegovernador, em 2006, e a troca de comando em 2010, com a assunção do cargo de governador. O terceiro capítulo percorre os passos do moço inclinado para a advocacia e o Direito Administrativo, seguindo a trilha do estudante laureado desde o ingresso no serviço público, na Fundação João Pinheiro, sua prestigiosa atuação em Brasília, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, em um arco de 20 anos. No final do livro quem sobressai é a persona do Professor Anastasia, cuja competência, alegre devoção ao trabalho e permanente disposição para ensinar exorbita da sala de aula para as repartições, cativa comandados e conquista a admiração de quem com ele conviva: servidores, empresários ou amigos. O capítulo IV também trata de suas origens familiares e características pessoais. Os produtores desta obra agradecem às autoridades, amigos e empresários que se dispuseram a conversar com a e equipe de reportagem e a contribuir para sua realização. Também agradecem, em especial, à iniciativa do presidente do PSDB (2009-2011) e secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Narcio Rodrigues, sem a qual o livro não teria se concretizado.
Amor e respeito por Minas Aécio Neves
Em 2002 eu acabara de deixar a presidência da Câmara Federal e atendia à convocação de grande parte das forças políticas do Estado para disputar o Palácio da Liberdade, com o compromisso de oferecer à nossa gente uma proposta capaz de vencer problemas estruturais graves e preparar Minas para o futuro. Este jamais fora, no entanto, um projeto que se esgotava no emblemático consenso das forças políticas do nosso campo e na sincera e decisiva solidariedade do então governador Itamar Franco, mas ganhava dimensão ainda mais desafiadora pela conjuntura econômica adversa e pelo acúmulo e agravamento de continuados deficit do Estado, que já duravam mais de uma década e meia e impediam o avanço do processo de desenvolvimento regional. Para nós, combater e superar a crise com medidas de fundo, estruturais e transformadoras da realidade não era apenas condição básica para recuperar
a governabilidade plena e a capacidade de investimentos do Executivo estadual. A crise representava, antes de tudo, naquele momento histórico, uma oportunidade única de reformar o Estado e ousar instituir um novo modelo de gestão pública no País que pudesse garantir a melhoria dos serviços prestados à população. Tinha convicção de que precisaríamos mais do que um simples programa de governo, como tantos tradicionais, que funcionam como peças decorativas nas vitrines das campanhas políticas. Precisávamos construir uma ampla e substantiva plataforma de trabalho, capaz de suportar as ideias e as inovações do que, mais adiante, viriam compor o que hoje conhecemos como Choque de Gestão, a âncora central do nosso primeiro plano de governo para Minas Gerais. Foi nesse contexto que reencontrei e me aproximei do governador Antonio Anastasia. Se já guardava comigo inúmeras referências sobre a qualidade do trabalho
e do talento de Anastasia como gestor público, foi nas nossas primeiras conversas que tive convicção da sua capacidade e sensibilidade para coordenar um conjunto extenso e ousado de novas ideias, em um denso programa de gestão governamental, factível e transformador. Assim o fizemos. Se há mérito diferenciado na nossa gestão, este é um deles: poucos governos puderam contar com programas governamentais tão avançados, continuados e focalizados nos grandes desafios de médio prazo, como Minas Gerais. O Choque de Gestão mineiro alcança, hoje, a sua terceira geração, reconhecido como modelo por instituições internacionais de fomento e replicado, em seus princípios fundamentais, em boa parte dos estados brasileiros. No curso desse processo, passamos por momentos difíceis juntos. Se no começo contei com o seu brilhantismo, ao final desse período de governança sei que contava também com a sua amizade, confiança e lealdade. E ele
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010
também contava com a minha. Sempre digo que Anastasia é um homem simples, mas que impressiona pela vocação pública. Não apenas porque é muito preparado; ou porque carrega a densa experiência de quem entregou toda a sua vida profissional às causas do estado e do povo brasileiro, mas principalmente porque está na sua gênese pensar primeiro nas pessoas e nas suas vidas, o que significa priorizar, com generosidade, o interesse coletivo, o bem comum. E ele o faz com incomparável capacidade de trabalho e um obsessivo compromisso com os resultados. Não se contenta com respostas triviais aos grandes problemas, com mais do mesmo. Busca sempre o novo e, do novo, o transformador. À competência técnica ele somou, durante todos esse anos, rigor e responsabilidade, sensibilidade social e visão de futuro. E eu acredito que são esses os compromissos que a sociedade espera desta nova geração de políticos e administradores
públicos que está mudando o Brasil. Durante a campanha eleitoral, por diversas vezes fui perguntado por que eu o havia escolhido como nosso candidato à minha sucessão. E eu sempre respondi: porque apoiar um nome com sua honestidade pessoal, com o seu rigor ético, com o seu comprometimento social é a forma mais completa que eu tenho para manifestar o meu amor e o meu respeito por Minas e pelos mineiros. Tenho absoluta confiança de que os próximos anos vão demonstrar o grande acerto da escolha que nós, mineiros, fizemos em 2010 fazendo de Antonio Anastasia o nosso governador. Aécio Neves é senador pelo PSDB, ex-governador de Minas Gerais por dois mandatos e ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Fazer política; escrever a história Narcio Rodrigues
012
Pimenta da Veiga – que é uma espécie de “pai político” de toda a geração de tucanos que atua hoje em Minas Gerais, de Eduardo Azeredo a Rodrigo de Castro, de Carlos Mosconi a Adriano Faria – costuma dizer que o que faz a diferença na história de uma localidade, de uma região, de um estado ou de um país é a atuação dos seus líderes. Na sua teoria, um líder que conduz bem o seu povo pode mudar os rumos da história. E foi exatamente isso que aconteceu com Minas Gerais nos últimos anos. Desde que o povo mineiro escolheu para si, como seu líder principal, o hoje senador Aécio Neves, nunca mais Minas foi a mesma. Em pouco tempo, com um governo só comparado em arrojo, inovação e criatividade aos tempos de JK, Aécio devolveu o trem de Minas ao trilho do desenvolvimento, recuperou o prestígio político do estado, reergueu a autoestima dos mineiros e restabeleceu a confiança de Minas no seu futuro. Com ambiente político novo e uma gestão eficiente, Aécio foi reeleito – como já havia
sido eleito – em primeiro turno e armou, em 2010, a estratégia que levou o PSDB a obter a sua maior vitória na história de Minas, elegendo as principais bancadas da Assembleia Legislativa e da Câmara dos Deputados, conquistando as duas vagas de Senado (com o próprio Aécio e com Itamar Franco) e reelegendo, com votação consagradora (63%), o seu sucessor, governador Antonio Anastasia. Aécio – que foi exitoso na articulação política, na concepção estratégica e na gestão administrativa – criou uma nova escola de política, inspirando novas práticas sustentadas no compromisso ético e na eficiência administrativa e fazendo despertar novos quadros políticos. Este documento reverencia o surgimento de um novo líder entre os tucanos mineiros. Reconhecido tecnicamente como um ou o maior gestor público em atividade no País no momento, o Professor Antonio Anastasia vai se impondo aos mineiros também pelo talento político e pela capacidade
de governar, resgatando o melhor das tradições mineiras. Esta publicação mostra que Pimenta da Veiga tinha razão: Minas mudou a partir da eleição de um grande líder, que está fazendo surgir novos líderes no estado. Com Aécio Neves, Minas reencontrou seu destino, de ser grande para poder servir ainda melhor ao Brasil. Minas nunca esteve tão forte, com Anastasia no Palácio Tiradentes e Aécio a caminho do Palácio do Planalto. Esse sentimento enche de orgulho os mineiros, mas ainda mais particularmente os tucanos, que ajudaram, com seus aliados, a construir esse projeto e que têm, como eu tenho, o mesmo sentimento: com Aécio Neves nos liderando, nós começamos em 2002 a fazer política – mas ninguém mais tem dúvidas de que, a essa altura, por tudo que construímos, estamos escrevendo a história. Aliás, um dos mais ricos capítulos da história política deste País. Narcio Rodrigues é deputado federal, atual secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais e ex-presidente do PSDB-MG (2009-2011).
Anastasia, um homem público exemplar Marcus Pestana
A ação política e a administração pública são as mais poderosas ferramentas para a transformação da realidade na direção de conquistarmos progressivamente os nossos sonhos. Muitos são os ingredientes que concorrem para o sucesso ou o fracasso da ação política e da gestão pública. Capacidade de financiamento das políticas públicas, consistência na organização das ideias e do planejamento estratégico, estruturas institucionais adequadas, processos eficientes, apoio social e político, alinhamento à ordem jurídica e constitucional. Mas tudo isto gira em torno de um elemento central, as pessoas. São os homens e as mulheres da política e da administração pública que podem desencadear a ação transformadora a partir das políticas de governo em favor da melhoria da vida de todos, principalmente dos mais pobres.
Em todo esse processo um elemento se destaca: a liderança. Sem capacidade de liderança tudo vai por água abaixo. Já ocupei muitos cargos em Juiz de Fora, Belo Horizonte e Brasília. Em toda esta trajetória não conheci gestor público mais competente, mais criativo, mais preparado, mais correto, mais produtivo do que o Professor Antonio Anastasia. Na vida, cada um tem um talento. Anastasia reúne uma rara combinação de qualidades: pensa com inteligência, formula com criatividade, planeja com competência, executa com eficiência e, principalmente, faz da gestão pública um instrumento de transformação da vida. Essa é uma combinação rara de se encontrar em uma única pessoa, e ele tem essa capacidade de formulação estratégica, de visualizar o futuro, de erguer metas e liderar equipes na transformação dos planos em realidade concreta. E alia isso a um vasto conhecimento da história, das coisas de Minas Gerais e dos meandros da administração pública. Anastasia, digo sem medo de errar, é o maior
administrador público de minha geração no Brasil. O governador Aécio Neves, o maior líder político e o mais qualificado estadista nascido no Brasil nas últimas décadas, resgatou as melhores tradições da Minas de JK, Tancredo, Milton Campos e tantos outros. Colocou Minas no centro da vida nacional, resgatou nossa autoestima e fez um governo que marcará a história da administração pública mineira. Agora que enfrenta novos desafios no plano nacional, deixa o governo nas mãos de Antonio Anastasia. Felizes somos nós mineiros de termos a nos liderar uma dupla como Aécio Neves e Antonio Anastasia. O Governo de Minas está em ótimas mãos. Marcus Pestana é deputado federal e atual presidente do PSDB-MG (2011-2013); ex-secretário de Estado de Saúde nas gestões de Aécio Neves.
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índice cronológico capítulo III
Servidor Público pág.158
Nascimento Governo Hélio Garcia
UFMG
1983 1961
1979
1989 1984
Governo FHC
1993 1991
1995
Constituinte
Formatura capítulo IV
Professor
pág.190
capítulo I
capítulo II
Governador de Minas
A Parceria com Áecio
pág.24
pág.102
Combate à criminalidade
2003 2002
2007 2005
Choque de Gestão
2011 2010
Vice-governador
Posse
Relação de entrevistados, em ordem alfabética Ademir Lucas – Presidente da Copasa Águas Minerais de Minas Adriano Faria – Presidente da Juventude do PSDB mineiro Aécio Neves da Cunha – Senador pelo PSDB Alberto Pinto Coelho – Vice-governador do Estado de Minas Gerais Ana Lúcia Almeida Gazzola – Secretária de Estado de Educação de Minas Gerais Ana Maria Resende – Deputada estadual pelo PSDB Antonio Augusto Junho Anastasia – Governador do Estado de Minas Gerais Bonifácio Andrada – Deputado federal pelo PSDB Bonifácio Mourão – Deputado estadual pelo PSDB Bruno Falci – Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte – CDL/BH Carla Maria Junho Anastasia – Historiadora, professora de pós-graduação em História da Unimontes Carlaile Pedrosa – Deputado federal pelo PSDB Carlos Melles – Secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais Carlos Mosconi – Deputado estadual pelo PSDB e secretário-geral do PSDB em Minas Célia Pimenta Barroso Pitchon – Advogada Célio Moreira – Deputado estadual pelo PSDB Charles Lotfi – Ex-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMINAS Claudio Chaves Beato Filho – Sociólogo e coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública – Crisp/UFMG Cledorvino Belini – Diretor-presidente da Fiat Custódio Mattos – Prefeito de Juiz de Fora Dalmo Ribeiro – Deputado estadual pelo PSDB Danilo de Castro – Secretário de Estado de Governo de Minas Gerais Dinis Pinheiro – Deputado estadual pelo PSDB Dilzon Melo – Deputado estadual pelo PTB Domingos Sávio – Deputado federal pelo PSDB Dorothéa Werneck – Secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais Eduardo Azeredo – Deputado federal pelo PSDB Eduardo Barbosa – Deputado federal pelo PSDB Eliana Piola – Presidente do PSDB Mulher de Minas Gerais Fuad Jorge Noman Filho – Diretor-presidente da Companhia de Gás de Minas Gerais – Gasmig Gabriel Azevedo – Subsecretário de Estado da Juventude de Minas Gerais Helena Mourão – Diretora do Museu das Minas e do Metal Hélio dos Santos Junior – Ex-comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais Itamar Franco – Senador pelo PPS
João Leite – Deputado estadual pelo PSDB José Frederico Álvares – Presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – Indi Lafayette Andrada – Secretário de Estado de Defesa Social de Minas Gerais Leonardo Moreira – Deputado estadual pelo PSDB Luis Aureliano Gama de Andrade – Cientista político Luiz Henrique – Deputado estadual pelo PSDB Luiz Humberto Carneiro – Deputado estadual pelo PSDB Marcus Pestana – Deputado federal pelo PSDB Maria Coeli Simões Pires – Secretária de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais de Minas Gerais Marilena Chaves – Presidente da Fundação João Pinheiro – FJP Matheus Cotta de Carvalho – Presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG Mauri Torres – Deputado estadual pelo PSDB Narcio Rodrigues – Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais e presidente do PSDB-MG Odelmo Leão – Prefeito de Uberlândia Olavo Machado Júnior – Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg Osvaldo Alves de Castro Filho – Professor e advogado Oswaldo Borges da Costa Filho – Diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig Otto Teixeira Filho – Secretário Municipal de Defesa Social e Meio Ambiente de Matozinhos Paulo Abi-Ackel – Deputado federal pelo PSDB Paulo Camillo Penna – Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram Paulo Paiva – Presidente do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG Paulo Vasconcelos – Presidente da Vitória CI Rafael Guerra – Diretor de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Raul Borelli – Advogado Renata Vilhena – Secretária de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais Ricardo Drummond Rocha – Advogado Rodrigo de Castro – Deputado federal pelo PSDB Rômulo Antônio Viegas – Deputado estadual pelo PSDB Sandra Meira Starling – Professora universitária e advogada Tadeu Barreto Guimarães – Diretor-presidente do Escritório de Prioridades Estratégicas do Governo de Minas Gerais Tilden Santiago – Segundo suplente de Aécio Neves no Senado Vicente de Paula Mendes – Advogado e ex-professor de Direito Administrativo da UFMG Wilson Nélio Brumer – Diretor-presidente da Usiminas Zé Maia – Deputado estadual pelo PSDB
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O livro “Antonio Anastasia – Um Novo Líder a Serviço de Minas” é uma iniciativa do PSDB-MG que celebra a reeleição do governador em 2010 e tem por objetivo documentar a esplêndida trajetória de um servidor público que desponta como uma nova liderança para todos mineiros.
Este documento foi produzido pelo Diretório Estadual do PSDB-MG, durante a gestão de Narcio Rodrigues, e distribuído durante a gestão de Marcus Pestana.
PSDB MINAS GERAIS
PSDB MINAS GERAIS
Presidente: Deputado Federal Narcio Rodrigues
Presidente: Deputado Federal Marcus Pestana
Comissão Executiva do PSDB-MG (2009-2011) Presidente: Deputado Federal Narcio Rodrigues 1º vice-presidente: Deputado Federal Paulo Abi-Ackel 2º vice-presidente: Deputada Estadual Ana Maria Resende Secretário-geral: Deputado Estadual Lafayette Andrada Secretário: Deputado Estadual Ademir Lucas Tesoureiro: Deputado Estadual Carlos Mosconi Tesoureiro adjunto: Álvaro Brandão de Azeredo
Comissão Executiva do PSDB-MG (2011-2013) Presidente: Deputado Federal Marcus Pestana 1º vice-presidente: Deputado Federal Domingos Sávio 2º vice-presidente: Deputado Estadual Zé Maia Secretário-geral: Deputado Estadual Carlos Mosconi Secretária: Valéria Cordeiro Tesoureiro: Deputado Federal Carlaile Pedrosa Tesoureiro adjunto: Paulo Bregunci
Vogais Valéria Cordeiro Reis, Deputado Estadual Domingos Sávio, Deputado Estadual Célio Moreira, Anderson Bernardes de Oliveira, Deputado Estadual Fahim Sawan
Vogais Deputado Federal Narcio Rodrigues, Álvaro Brandão de Azeredo, Deputada Estadual Ana Maria Resende, Elbe Brandão, Deputado Federal Paulo Abi-Ackel.
Suplentes Nadab Estanislau Abelin, Paulo César Bregunci, André Pagy, Aristides José Vieira, Luigi D’Angelo dos Santos
Suplentes Nadab Estanislau Abelin, Adriano Faria, Eliana da Glória e Silva, Deputado Estadual Célio Moreira, Vereador Leonardo Silveira de Castro Pires
Diretório Estadual do Partido da Social Democracia Brasileira
Líder da Bancada Deputado Estadual Luiz Humberto Carneiro Conselho de Ética Presidente: Antônio Aureliano Sanches de Mendonça Membros efetivos: Carlaile Pedrosa, Ermano Batista, Rômulo Antônio Viegas, Fuad Noman Suplentes: Alexandre Paiva, Bonifácio Mourão, Maria Olívia Castro e Oliveira, Olinto Godinho, Mateus Simões Instituto Teotônio Vilela-MG Presidente: Marcus Vinícius Caetano Pestana da Silva PSDB Mulher Presidente: Eliana Piola PSDB Jovem Presidente: Adriano Faria
Diretório Estadual do Partido da Social Democracia Brasileira
Líder da Bancada Deputado Estadual Luiz Humberto Carneiro Conselho de Ética Presidente: Antônio Aureliano Sanches de Mendonça Membros efetivos: Deputado Estadual Rômulo Viegas, Deputado Estadual Dalmo Ribeiro Silva, Fuad Noman, Deputado Estadual João Leite Suplentes: Alexandre Paiva, Deputado Estadual Bonifácio Mourão, Maria Olívia de Castro Oliveira, Ademir Lucas, Mateus Simões de Almeida Instituto Teotônio Vilela-MG Presidente: Deputado Federal Eduardo Barbosa PSDB Mulher Presidente: Lenita Noman PSDB Jovem Presidente: Caio Narcio Rodrigues
ENDEREÇO Diretório Estadual do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB-MG) Rua Alvarenga Peixoto, 974 - 2º andar Bairro de Lourdes - CEP 30180-120 - Belo Horizonte - MG Fone: 55 (31) 2125 4545 Fax: 55 (31) 2125 4524
capĂtulo I
governador de minas uma candidatura natural campanha avassaladora aĂŠcio, estrategista e avalista horizontes
governador de minas
E 026
Eram 19h30 de domingo, 3 de outubro de 2010, quando portais da internet anunciavam que a eleição para o Governo de Minas Gerais estava decidida: com 70% das urnas apuradas, Antonio Augusto Junho Anastasia, 49 anos, advogado e servidor público de carreira, era reeleito para se tornar o governador do Estado. Ao final da apuração, Antonio Anastasia contabilizava a maior votação proporcional entre todos os candidatos ao governo pelo PSDB no Brasil. Os 6,3 milhões de votos dos mineiros – 62,77% dos válidos – o transformavam em um fenômeno das urnas e protagonista da cena política mineira – uma nova liderança que emergia com a missão de dar continuidade ao exitoso governo de Aécio Neves, manter a coesão da aliança política que o elegeu e retribuir a confiança do povo de Minas na forma de novas realizações e na vocalização de seus anseios políticos. A eleição de Anastasia é marcada fundamentalmente por três fatores. É o resultado de um projeto político amplo e forte, conduzido por Aécio Neves, que atraiu e reuniu uma coligação de nada menos que 11 partidos políticos, além do PSDB (DEM, PDT, PMN, PP, PPS, PSB, PSC, PSDC, PSL, PR e PTB). É o reconhecimento da população às conquistas dos últimos oito anos, com Aé-
cio e Anastasia no governo. É uma demonstração de força das lideranças políticas – deputados, prefeitos e vereadores – do PSDB e seus aliados, que trabalharam incansavelmente para levar seu nome a todos os cantos do estado. O resultado geral da eleição demonstra cabalmente o alcance da estratégia traçada por Aécio Neves. O PSDB elegeu ao mesmo tempo o senador mais votado do Estado – o próprio Aécio, com 7,6 milhões de votos –, bem como as maiores bancadas da Câmara dos Deputados (oito parlamentares) e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (13 parlamentares). Em uma vitória que revela uma construção política tão ampla quanto minuciosa, a aliança que se articula em torno de Aécio fez também o segundo senador por Minas, o ex-presidente Itamar Franco – que viria a se juntar ao senador Eliseu Resende, eleito em 2006 pelo mesmo grupo, e falecido neste ano de 2011. E o grupo conquistou, ainda, ampla maioria na Assembleia Legislativa, garantindo a sustentação do Governo Anastasia no Parlamento mineiro. O tamanho desta vitória pode ser medido na repercussão da mídia nacional no dia seguinte à eleição. A Folha de S.Paulo, em texto intitulado “Vitória no 1º turno de Anastasia dá força a Aécio
governador de minas
no País”, publicou: “O governador tucano Antonio Anastasia, 49, foi reeleito ontem em Minas Gerais. A vitória fortalece a posição política do Estado na cena nacional, sob a batuta do principal personagem da disputa, o agora senador eleito Aécio Neves (PSDB), 50”. Em O Estado de S. Paulo, na reportagem “Aécio se consagra com vitória tripla”, ampliava-se o sentido da eleição: (...) “Anastasia, de 49 anos, venceu a disputa contra o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), e praticamente dizimou a cúpula do PT mineiro que disputou as eleições, além de impor uma derrota pessoal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já Aécio chega ao Senado como força hegemônica no segundo maior colégio eleitoral do País e maior estrela da oposição no Congresso”. E em O Globo, sob o título “Aécio faz ‘barba, cabelo e bigode’ em MG”, lia-se: “Após ter sido preterido pelo PSDB na disputa pela vaga de candidato à sucessão presidencial, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves acabou assegurando à oposição uma das maiores vitórias na eleição deste ano”. Se as eleições de 2010 demonstraram a força política de Aécio Neves e o projetaram definitivamente no cenário nacional como maior liderança da oposição, representaram também o coroamento da brilhante trajetória de Antonio
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governador de minas
Resultados finais das eleições 2010 Anastasia conquista o governo com larga margem CANDIDATO
PARTIDO
VOTOS
PORCENTAGEM
CANDIDATO
PARTIDO
VOTOS
PORCENTAGEM
Antonio Anastasia
PSDB
6.275.520
62,72%
Aécio Neves
PSDB
7.565.377
39,47%
Itamar Franco
PPS
5.125.455
26,74%
Fernando Pimentel
PT
4.595.351
23,98%
Zito Vieira
PCdoB
1.486.787
7,76%
Miguel Martini
PHS
274.215
1,43%
Marilda Ribeiro
PSOL
53.663
0,28%
Rafael Pimenta
PCB
21.432
0,11%
Mineirinho
PSOL
16.958
0,09%
Efraim Moura
PSTU
13.339
0,07%
José João da Silva
PSTU
6.794
0,04%
Vera Zatti
PCO
6.679
0,03%
Helio Costa
028
Aécio e Itamar, dobradinha para o Senado
PMDB
3.419.622
34,18%
Zé Fernando Aparecido
PV
234.125
2,34%
Professor Luiz Carlos
PSOL
32.734
0,33%
Vanessa Portugal
PSTU
29.836
0,30%
Fabinho
PCB
6.763
0,07%
Edilson Nascimento Adilson Rosa
PTdoB
PCO
4.639
2.788
0,05%
0,03%
governador de minas
PSDB conquista a maior bancada da Assembleia
PSDB faz a maior bancada da Câmara dos Deputados
Veja o desempenho do partido e os deputados estaduais eleitos
Veja o desempenho do partido e os deputados federais eleitos
1.598.300 VOTOS
15,43%
1.369.791 VOTOS NOMINAIS
13
VAGAS
1.606.882 VOTOS
15,63%
1.279.994 VOTOS NOMINAIS
8
VAGAS
CANDIDATO
VOTOS
PORCENTAGEM
CANDIDATO
VOTOS
PORCENTAGEM
Dinis Pinheiro
159.422
1,54
Rodrigo de Castro
271.306
2,62
Mauri Torres
106.519
1,03
Dalmo Ribeiro
90.538
0,87
Marcus Pestana
161.892
1,56
Luiz Humberto Carneiro
88.963
0,86
João Leite
84.316
0,81
Domingos Sávio
143.113
1,38
Carlos Mosconi
79.705
0,77
Carlaile Pedrosa
128.304
1,24
Lafayette Andrada
78.302
0,76
Luiz Henrique
77.740
0,75
Eduardo Azeredo
123.649
1,19
Zé Maia
72.336
0,70
Bonifácio Mourão
68.323
0,66
Eduardo Barbosa
120.769
1,17
Célio Moreira
62.582
0,60
Paulo Abi-Ackel
105.422
1,02
Rômulo Viegas
57.691
0,56
Leonardo Moreira
56.945
0,55
Nárcio Rodrigues
101.090
0,98
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governador de minas
Anastasia na administração pública. Desde 1984, quando começou a trabalhar na Fundação João Pinheiro – FJP, apenas um hiato de dois anos o separou do serviço público, tendo se destacado em absolutamente todos os momentos de sua carreira, seja na elaboração da Constituição de Minas Gerais, nos Ministérios do Trabalho e da Justiça ou nos governos de Hélio Garcia e Aécio Neves, como se verá ao longo deste relato. Nos diversos degraus de sua vida pública, Anastasia se destacou não só por sua decantada capacidade técnica de gestão, mas também por uma enorme habilidade política. Quem o imaginava um técnico, no sentido reducionista da expressão, haveria de se surpreender com o enorme traquejo político que ele desenvolveu e demonstrou ao longo de sua carreira. E nem poderia ser diferente, pois o homem que negociou e viabilizou temas tão espinhosos quanto a flexibilização da legislação trabalhista, os cortes de despesas no início do primeiro mandato de Aécio Neves e a integração das forças de segurança do estado dificilmente faria tudo isso se lhe faltassem capacidade de convencimento, apreço pelo consenso e sensibilidade para ouvir, tão típicos do exercício da política. É ponto pacífico entre os que o conhecem de perto que Anastasia é um político nato que se desenvolveu como gestor público de primeiríssima linha, e que o foco sobre sua atuação sempre
esteve muito mais voltado para a organização e modernização da máquina pública, ou seja, sobre o seu trabalho, do que sobre ele próprio. E que seu talento natural se desenvolveu pela convivência diária com Aécio Neves, um inquestionável mestre na arte de mexer as peças do tabuleiro de xadrez da política. Faltava-lhe, portanto, apenas o teste das urnas para que fosse reconhecido na plenitude de suas capacidades. Quando esse teste lhe foi apresentado, encarou-o com a dedicação e a disciplina que lhe são peculiares para lograr uma vitória maiúscula. Durante todo o tempo em que trabalhou como gestor público, Anastasia jamais imaginou que um dia seria governador de Minas Gerais. Não que lhe faltassem competência e vocação para tanto, mas, sim, porque a disputa de cargos eletivos nunca esteve em seus planos. Ocorre que sua dedicação e experiência o conduziram naturalmente por essa trilha, de maneira que, ao se deparar com o desafio das urnas, ele estava pronto: profundo conhecedor de Minas Gerais e dos meandros da administração pública, gestor inovador, artesão dos detalhes de um governo de sucesso e detentor da irrestrita confiança de Aécio Neves, bastava a Anastasia ser apresentado ao povo mineiro para ser saudado como a nova liderança do estado.
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governador de minas
Uma candidatura natural
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O eleitor que dá seu voto no dia da festa cívica das eleições, sobretudo àqueles que ocuparão a chefia do Poder Executivo, é o mesmo que praticamente o toma de volta no cotidiano da administração por meio da crítica implacável ao trabalho de seu governante, expressa, geralmente, nas pesquisas de opinião pública. Um deslize, um momento ruim da economia com impacto no dia a dia do cidadão costuma ser suficiente para transformar o ótimo candidato em péssimo gestor. Aécio Neves experimentou um caminho diverso, raro de se ver na política brasileira: ao longo dos oito anos de seus dois mandatos, ele viu a aprovação popular de sua gestão crescer de forma contínua, até se estabilizar em um patamar estratosférico, acima da casa dos 90%. Por três vezes, entre 2007 e 2009, ele apareceu como o governador mais bem avaliado do País em ranking produzido pelo jornal Folha de S.Paulo a partir de pesquisas do Instituto Datafolha. Era o reconhecimento do povo de Minas a um governante que soube resistir à tentação das soluções fáceis e usou seu capital político, sob grande risco, para adotar medidas duras, porém corretas, que possibilitaram a Minas Gerais retomar o seu posto de destaque no cenário político e econômico do Brasil, tornando-se também um modelo para ou-
tros estados e mesmo para organismos internacionais. O sucesso do Governo Aécio trouxe consigo o reconhecimento, é fato, mas também uma enorme responsabilidade: as realizações, os avanços duramente conquistados, não poderiam se bastar em si mesmos. Não fosse Aécio um político com visão de estadista, estariam de bom tamanho os oito anos de transformações que o projetaram ainda mais na cena política. Poderia, quem sabe, seguir em frente e repousar sobre os louros da glória. Mas não era isso que se passava pela cabeça do atual senador, de seu grupo político e, mais importante, da população mineira. A pergunta que estava no ar, em tom de orfandade precoce, era “o que virá depois?”. Era necessário, portanto, encontrar um sucessor à altura do que havia sido realizado. É nesse contexto que se dá a escolha de Antonio Anastasia para ser o candidato do PSDB e das forças políticas que construíram um dos governos mais bem-sucedidos da história de Minas. Em momento algum a escolha se confundiu com o apadrinhamento político, como conta Aécio: “Minha grande responsabilidade, pelo apoio que tinha de grande parte dos mineiros, era não permitir que na minha sucessão houvesse uma rup-
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tura daquilo que estávamos fazendo. Era fundamental que eu buscasse alguém para consolidar medidas que ainda estavam em andamento e que me desse a garantia de que não haveria retrocesso”. A visão de Aécio era plenamente compartilhada pelas lideranças dos partidos aliados, uma vez que o que estaria em jogo era um projeto político de longo alcance – não um simples projeto de poder –, cuja construção foi comandada pelo ex-governador, mas realizada em conjunto com as forças políticas que o apoiavam. O vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP), que, como deputado estadual, foi líder do Governo Aécio Neves na Assembleia Legislativa e presidiu a Casa por dois mandatos, ressalta a disposição para negociar e o respeito ao Legislativo desde a primeira hora. “A proposta foi construída com o Parlamento como um todo e esses projetos foram votados pela unanimidade daqueles que estavam presentes no plenário no momento da apreciação” – diz, referindo-se aos 19 projetos de lei e uma emenda à Constituição que formaram o arcabouço legal do Choque de Gestão. “Coloco esse panorama para demonstrar com muita clareza e profundidade que esses oito anos [de Governo Aécio] foram construídos sempre nessa tônica, buscando esse princípio da construção coletiva, da convivência plural, da dialética permanente. Isso foi a tônica do governo”.
O nome de Anastasia como sucessor de Aécio ganhou força justamente no quadro de acomodação e satisfação das forças políticas, que se sentiam partícipes de um novo momento da política mineira e nacional, bem como da necessidade de fazer jus às aspirações da sociedade. “Quando fui candidato a vice-governador, calculava que o governador Aécio se desincompatibilizaria nos últimos nove meses, porque ele não iria encerrar sua carreira como governador. Então, imaginava que eu assumiria o governo, o que seria uma grande honra para um funcionário público de carreira ser o governador de Minas Gerais”, rememora Anastasia, revelando também que os caminhos da política sempre surpreendem: “Mas não imaginava que seria candidato à minha própria reeleição. Foram as circunstâncias políticas que acabaram levando a isso, coisa que nem nunca passou pela minha cabeça ter sido vice-governador e nem me tornar governador”. A disputa de cargos eletivos, claro está, não era um projeto pessoal de Anastasia. Talvez seja justamente por isso que a palavra-chave para entender sua candidatura, tanto no respaldo que obteve quanto na aceitação do eleitorado, seja, exatamente, “naturalidade”. Ele não foi instado a lutar por apoio, tampouco se viu envolvido em disputas partidárias. Anastasia, simplesmente, era o homem certo para a missão de suceder Aécio. “Costumo dizer que eu sempre acredito nas coi-
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As circunstâncias levaram a que meu nome fosse um aglutinador dos partidos que compunham a base política que era do Aécio e é minha hoje. Antonio Anastasia Governador de Minas Gerais
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sas naturais da política”, pontua Aécio, citando umas das máximas aprendidas com o avô Tancredo Neves. Ele explica: “O governador Anastasia, então vice-governador do Estado, representava mais do que ninguém os avanços do nosso projeto de governo. Ele era a identificação maior que a população tinha com a ousadia de imprimir ao setor público de Minas Gerais mecanismos de controle que o setor privado há muito já vinha executando. Então, quando eu lancei seu nome houve, com muita naturalidade, adesão não apenas do PSDB, mas de outras forças políticas e da sociedade que não queriam ver interrompido em Minas Gerais o mais audacioso programa de transformação do setor público em execução no País”. “A presença marcante naquilo que podemos chamar de núcleo duro do governo”, aduz o vicegovernador Alberto Pinto Coelho, “já o credenciou para compor uma chapa puro-sangue como vice-governador [em 2006] – e eu diria que esse é um processo crescente de convencimento da sociedade – e vejo com naturalidade o lançamento de sua candidatura, por todo esse trabalho, pela consciência da sociedade de que esse trabalho não poderia ser interrompido, da consciência de que Minas Gerais precisava continuar a ter um governo de vanguarda”. Narcio Rodrigues, secretário de Ciência e Tecnologia do Governo de Minas e presidente do
PSDB-MG, vai mais além. Para ele, não havia qualquer dúvida sobre a naturalidade e a adequação da candidatura de Anastasia, muito menos sobre suas qualidades. “Dependia mais dele do que de nós”, resume. A questão era saber se ele, cuja carreira se desenvolveu nos gabinetes, estaria disposto a enfrentar a maratona de uma campanha eleitoral, “se teria encanto em correr atrás de voto”, nas palavras de Narcio. “É uma questão de foro íntimo. Você pode ter o trato político extraordinário, mas pode não ter a menor vocação para ir atrás de voto. E, em uma eleição, você precisa, naturalmente, que o candidato saiba pedir voto. É a essência disso”, ele explica. A análise é compartilhada pelo deputado federal Marcus Pestana, um dos coordenadores políticos da campanha. “Inicialmente ele refutava, não se imaginava disputando votos, mas ele superou isso”, conta, atribuindo as dúvidas iniciais a traços de personalidade. “O embate direto é muito difícil para a pessoa, é penoso, tem um custo pessoal alto. Ele é uma pessoa educadíssima, fina, cordata e o embate eleitoral às vezes tem a polemização, o nível é muito baixo, e ele é sempre clássico”, acrescenta o também presidente da seção mineira do Instituto Teotônio Vilela. Se cabia ao indivíduo Anastasia decidir se queria ou não enfrentar a busca de votos, ele mais uma vez honrou a tônica de sua trajetória e não se esquivou diante do desafio. Pelo contrário, o fez
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com “lhaneza e com muita coragem”, como ele próprio define. “Eu já era o governador mesmo e, sendo o candidato à reeleição dentro de um perfil que as pessoas estavam necessitando, um perfil de conhecimento das matérias, de dedicação, o próprio senador Aécio, que era nosso líder e continua sendo, achou que meu nome tinha essas qualidades”, relata. “Os partidos políticos ouvidos concordaram, naturalmente eu também concordei, num momento impensado, talvez” – continua, aos risos –, “mas sempre muito orgulho disso; então, aceitei a candidatura, que, graças a Deus, foi muito bem-sucedida eleitoralmente, sabendo que essa candidatura era dificílima, dadas as condições que eram favoráveis à oposição”. A despeito disso, Anastasia revela que assumiu a missão de disputar o pleito “com muita serenidade, com a consciência tranquila”. Afinal, não havia nada que o desabonasse e nem o que o fizesse temer. “Sempre fui servidor, trabalhador, com a vida muito correta, muito simples. Então, eu iria me apresentar – como me falaram, e é verdade – como eu mesmo, sem nenhum recurso.” Outra dificuldade que se apresenta aos políticos estreantes, falar para as multidões, nem de longe amedrontava o professor que, aos 22 anos, se acostumara a falar para duas, três mil pessoas em palestras e conferências.
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Político completo Hoje não há dúvida, Anastasia não é apenas o grande profissional e técnico, mas um grande político, um homem habilidoso, paciente, que procura construir entendimento, fazer o convencimento, mas dentro da linha da boa fundamentação, sem abrir mão dos valores éticos e da coerência. Domingos Sávio Deputado federal pelo PSDB
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Fui de consciência tranquila, sabendo que, a despeito da dificuldade da campanha, o máximo que podia acontecer era perder a eleição. E não havia nenhum demérito nisso, porque numa democracia uns ganham e outros perdem. Antonio Anastasia Governador de Minas Gerais
Falsos dilemas da candidatura Ao citar “condições favoráveis à oposição”, Anastasia se refere às pesquisas de opinião que davam ampla margem aos então pré-candidatos da oposição, particularmente ao ex-ministro das Comunicações Hélio Costa. No final de 2009 e início de 2010, os melhores cenários conferiam a Anastasia 10% das intenções de voto, quando confrontado com dois dos três pré-candidatos oposicionistas (Datafolha, 14 a 18/12/2009), ou 17%, se o adversário fosse o ex-ministro Patrus Ananias (Vox Populi, 14 a 17/01/2010). Nesta última pesquisa, Anastasia tinha menos da metade das intenções dos outros dois pré-candidatos (Costa e o ex-prefeito Fernando Pimentel). Logo nas primeiras menções a Anastasia como o candidato à sucessão de Aécio, analistas trataram de servir à mídia duas linhas de interpretação baseadas em uma visão genérica para o momento. Uma era a identificação da imagem de Anastasia como o “técnico”, em oposição ao perfil “político” de outros pré-candidatos. A outra – discutida também nos bastidores da articulação da candidatura – questionava até que ponto haveria o risco de Anastasia ser percebido apenas como uma “sombra” de Aécio. Tais ilações, apesar de respaldadas em experiências anteriores da política brasileira, cometiam equívocos de princípio, por ignorar a verdadeira natureza de Anastasia
ou por considerá-lo um mero apadrinhado, um personagem inventado por Aécio – o que era um rematado engano. Subsistia, entretanto, um fator que realmente pesava e deveria ser encarado como maior desafio da campanha: o desconhecimento. A despeito de toda sua capacidade, do reconhecimento de seu papel fundamental na implementação do Choque de Gestão e da habilidade política já posta à prova em inúmeras ocasiões, é fato que Anastasia jamais havia disputado um mandato eletivo e ainda era relativamente desconhecido da população. Sua única experiência eleitoral havia sido a candidatura a vice-governador, mas a tradição brasileira confere apenas ao titular da chapa os holofotes da mídia e o escrutínio da população. Diante de tais questões, Aécio assevera que a leitura das intenções de voto era o que menos importava na definição da candidatura. “Jamais me preocupei com indicadores de pesquisas. Eu me preocupei com o perfil do candidato. Independente dos números das pesquisas, houve uma grande aliança em torno de um projeto. Ele, mais do que uma candidatura pessoal, significava o avanço das conquistas que eram não apenas do PSDB ou dos nossos aliados, mas de todo o povo mineiro.” Assim, Aécio não hesita em afirmar que tinha a mais absoluta convicção da vitória
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nas eleições, a partir do momento em que os mineiros compreendessem que Anastasia, personagem que esteve “na concepção e na alma” das medidas que deram forma e sucesso ao governo, era a garantia de continuidade e aprofundamento dos avanços. A oposição entre perfis “técnico” e “político” já estava superada pelas lideranças dos partidos aliados. Afinal, durante pelo menos os oito anos de governo, todos puderam conviver com Anastasia e testemunhar, pessoalmente, o quanto de político havia no DNA do gestor. O próprio candidato refuta essa falsa dicotomia. “Isso não existe, é totalmente artificial”, sentencia. “Há um certo diálogo de surdo e mudo nesta divisão de político e técnico no setor público, isso é uma falsa questão”, concorda o deputado Marcus Pestana. No caso de Anastasia, a distinção se revelava ainda mais excêntrica. “Uma coisa é ter mandato e disputar votos, mas quem ocupou postos de poder, como ele, mexeu com arbitragem de interesses o tempo todo, isso é política”, prossegue Pestana. O senador Itamar Franco, até por experiência própria – após ser prefeito de Juiz de Fora, ao se candidatar pela primeira vez ao Senado costumava ouvir: como quer ir para o Senado se não tem embasamento político? – é outro que refuta a tese. “Eu nunca vi o Anastasia como homem técnico. Ao contrário, ele tem talento
político.” Para o senador, aliás, tanto o governador quanto Aécio representam, na verdade, uma renovação da política mineira e brasileira, uma geração tão capaz da costura de aliança, da construção de consensos, quanto da gestão moderna, eficaz e responsável. O publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pelo marketing da campanha, também não vê sentido no debate. “Ninguém vira secretáriogeral de ministério, ministro interino por duas, três vezes, um homem que inspira confiança no presidente da República, sem habilidade política. Ninguém se sobressai num Governo Hélio Garcia, que era um ninho de políticos tradicionais, se não for político.” Para Vasconcelos, faltava a Anastasia o voto, o que é algo bastante diferente. Nesse mesmo diapasão, o deputado federal Domingos Sávio aponta Anastasia como “o político da modernidade”, o oposto de uma certa tradição de promessas fáceis e descompromisso com os resultados. “Anastasia é o tipo de político que a atualidade precisa, que representa o coletivo, olhando tudo sem prescindir dos valores éticos e competência. Nós não podemos mais voltar à política do tapinha nas costas, daquele que diz uma coisa aqui e faz o oposto ali. Ele não faz essa linha. Isso é a política do passado”, compara. O deputado Eduardo Azeredo vai mais longe e defende que o estilo de Anastasia, ao contrário de ser um limitador, é algo a ser copiado. O modelo
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político e administrativo implantado por Aécio e ele seria um farol para a política brasileira. “A importância para a política nacional é exatamente mostrar que a administração pública pode e deve ser moderna, pode compatibilizar a participação da iniciativa privada com fatores em que é fundamental a presença do serviço público”, observa Azeredo, que vê, inclusive, semelhanças entre a trajetória de Anastasia e a dele própria. “Não existe um momento de passagem entre o técnico e o político. Não se é uma coisa ou outra. É um processo permanente de aprimoramento. Minha origem também é técnica, com sangue político, e também acabei entrando para a política”, analisa. Essa realidade é igualmente familiar ao vicegovernador Alberto Pinto Coelho. Ele próprio passou pela “condenação” desta falsa dicotomia quando o então deputado Raul Belém, em uma reunião, dirigiu-se a ele e ao hoje secretário Narcio Rodrigues e sentenciou: “Vocês são excelentes técnicos, mas não são políticos”. Mas nem é essa comparação que pesa na certeza de Pinto Coelho sobre os predicados políticos de seu companheiro de chapa. “Aquele político ao estilo antigo, descompromissado, tende cada vez mais a sair da cena política e ser substituído por aqueles que geram credibilidade e conquistam a confiança do cidadão”, constata. “Nas minhas visitas ao interior, hoje percebo, o fato novidadeiro não somos nós que levamos, nós somos é alimenta-
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Parceria fértil É certo que desde os tempos da Vetusta, como carinhosamente chamamos a Faculdade de Direito, Anastasia deixava transparecer sua virtude política. Penso, todavia, que sua definitiva opção advém da convivência com o ex-governador Aécio Neves na seara da gestão e da política. O entusiasmo do governador Aécio é algo contagiante e terá influenciado uma vocação, certamente berçada no seio familiar. Maria Coeli Simões Pires Secretária de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais
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Nunca analisamos o fato de ele estar abaixo nas pesquisas. Sabíamos que tínhamos que acreditar na candidatura-chefe, aquela ao Governo 046 do Estado Itamar Franco Senador pelo PPS
dos de um volume de informações muito grande. Este é o eleitor e quem estiver desavisado deste processo vai ficar no meio do caminho muito mais cedo”, acrescenta. Como líder do governo e presidente da Assembleia Legislativa, ele pôde acompanhar de perto a condução que Anastasia, junto com o secretário de Governo, Danilo de Castro, deu às negociações com os parlamentares. Fosse em projetos do Executivo, do próprio Legislativo ou do Judiciário, a tônica era o intercâmbio democrático. “Isso implicava um processo de negociação muito intenso e a busca de uma mesma visão, de um mesmo entendimento a respeito dessas propostas” – formula o vice-governador, ao recordar aquela vivência. “A partir daí, minha admiração foi a cada dia se ampliando em função da sua capacidade de buscar caminhos diante dos impasses, da sua visão muito consciente da importância do Poder Legislativo, do respeito ao princípio democrático da convivência com a oposição. E tudo isso, naturalmente, com a imprescindível orientação maior do então governador Aécio Neves.” O ponto final na falsa dicotomia é colocado pela avaliação daquele que é reconhecido como um dos mais habilidosos políticos brasileiros da atualidade. “Anastasia é uma rara simbiose entre este agudo e profundo conhecimento das questões inerentes à gestão pública com a enorme sensibilidade para ouvir as pessoas e estabelecer
as prioridades”, avaliza Aécio Neves. E vai além: “Acho que o governador Anastasia, além de ser uma grande liderança, já reconhecida, representa o que há de melhor na renovação da política brasileira. Quem dera outros estados pudessem ter avançado tanto quanto nós avançamos na renovação como ela deve ocorrer: uma renovação que valorize a capacidade técnica, mas que em nenhum momento subestime a sensibilidade política.” No seio da aliança, portanto, não havia espaço para incertezas. Reconhecia-se o desafio de tornar Anastasia mais conhecido da população, mas, pela naturalidade da candidatura, pelo perfil e capacidade do candidato, pela coesão e força da aliança que se formou e, evidentemente, pelos enormes índices de aprovação do Governo Aécio e Anastasia, a convicção de todos era a mesma manifestada pelo ex-governador: havia muito trabalho pela frente, mas a vitória viria quando o candidato fosse apresentado aos mineiros. Assim, no dia 27 de junho de 2010, a convenção do PSDB realizada no plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com a participação de aliados, sacramentou a chapa majoritária que concorreria às eleições com Antonio Anastasia e Alberto Pinto Coelho (PP) disputando o governo, enquanto Aécio Neves e Itamar Franco (PPS) buscariam as duas vagas na disputa ao Senado Federal.
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Campanha avassaladora Decidida a candidatura de Antonio Anastasia, formada a chapa majoritária e costuradas as coligações internas à aliança para as eleições proporcionais, era a hora de pôr a mão na massa. Minas assistiria, a partir, dali, a uma campanha avassaladora, desenvolvida em alto nível, sem erros e com energia contagiante. O PSDB e seus aliados marcharam unidos, propagando em uníssono os predicados de seu candidato e seu projeto de governo. A missão de todos era explicitar que Anastasia era, por tudo que seu nome incorporava, o melhor candidato, o único capaz de manter Minas nos trilhos abertos por Aécio Neves em seus oito anos de gestão. Alguns desafios se impunham à coordenação política e aos estrategistas de comunicação e marketing. O primeiro deles era superar o desconhecimento da população a respeito de Anastasia, ou seja, levar aos eleitores e às lideranças regionais ou locais as informações e a confiança que já existiam entre aqueles que lideravam a aliança. O conhecimento e a vinculação genuína de Anastasia ao governo de Aécio eram fundamentais para superar a distância que o separava do postulante da oposição nas pesquisas de intenção de voto. Se os números não pesaram contra a indicação de Anastasia, também não poderiam ser menospre-
zados, como se a virada pudesse se dar por passe de mágica. Outro desafio era evitar que a figura agigantada de Aécio Neves fizesse sombra ao candidato, coisa que o próprio Aécio tratou de evitar. (Leia mais em “Aécio, estrategista e avalista”, na página 72.) Embora Aécio fosse um avalista poderoso, experiências anteriores indicavam que a presença excessiva do fiador da candidatura poderia enfraquecer a figura do candidato diante da população. Afinal, depois de devidamente apresentado ao candidato, o eleitor quer saber mais sobre este, não sobre quem o afiança. Por fim, a campanha exigiria de Anastasia adequações e esforços que se impõem aos estreantes no embate eleitoral. Sua capacitação, conteúdo e desempenho na vida pública estavam acima de qualquer suspeita, mas lhe faltavam traquejo no contato direto com o eleitor e desenvoltura nos palanques. A coordenação política e a comunicação podiam – e o fizeram – fornecer ferramentas que lhe facilitassem a missão, porém cabia exclusivamente a Anastasia encontrar dentro de si o tom e a postura de candidato de uma maneira que isso expressasse uma verdade pessoal, sem qualquer sombra do artificialismo dos estreantes que se agarram a fórmulas prontas.
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Anastasia foi sempre muito gentil e atencioso durante a campanha, ele é uma pessoa de fácil acesso, procurava cumprimentar a todos. Danilo de Castro Secretário de Estado de Governo
O cenário da largada era pouco auspicioso. Se em janeiro, quando ainda se articulavam as candidaturas, a diferença em favor do oposicionista Hélio Costa girava em torno dos 17 pontos, no início de julho, com as candidaturas já registradas, a distância ia dos 18 aos 26 pontos, dependendo do instituto de pesquisa que se consultasse. Ao observador apressado, parecia impossível uma virada histórica como a que se verificou ao final do pleito. Vários fatores contribuíram para isso, a começar do acerto no enfrentamento dos desafios citados acima, passando pela adequação da postura de Anastasia e seu desempenho acachapante nos debates. (Veja os gráficos de evolução das pesquisas na página 56.) No início da campanha, se havia confiança na escolha e nos predicados do candidato, havia também uma tensão natural diante do desafio de superar a folgada liderança do adversário nas pesquisas e o alto nível de desconhecimento de Anastasia. Era importante que os números se mexessem de maneira positiva, de forma a assegurar às lideranças locais e regionais que a candidatura seria vitoriosa, para que elas não se deixassem levar pelo assédio da candidatura oposicionista. E isso, evidentemente, dentro de um prazo dado, pois a eleição tem data marcada e de nada adiantaria uma reação tardia. Nessa primeira fase da corrida eleitoral, analisa Andrea Neves, coordenadora de comunicação e
de articulação com movimentos sociais da campanha, foi absolutamente fundamental o trabalho do senador Aécio Neves. Ainda não havia começado a propaganda de rádio e TV para tornar o candidato conhecido e, a bem dizer, a candidatura mal tinha ido “para a rua”. Coube a Aécio afiançar a firme perspectiva de vitória e manter a coesão tanto do núcleo da coordenação política quanto do grupo como um todo. “Nas nossas reuniões, ele dizia: Vocês me conhecem? Vocês confiam em mim? Confiam no trabalho que realizamos? Então, escrevam o que estou falando, nós vamos ganhar essa eleição”, relembra Andrea. Em outra vertente, Aécio tratou, pessoalmente, de convocar e aglutinar as lideranças do interior em torno de Anastasia. “Ele não só viajou a pontos-chave do estado, como trouxe as lideranças a Belo Horizonte e se apresentou como o fiador da nossa candidatura. Ele evitou que aqueles que se deixam influenciar por números de pesquisa aderissem precocemente ao outro candidato, que naquele momento tinha uma situação muito confortável nas pesquisas”, testemunha Andrea. Para ela, não fosse a força pessoal de Aécio no convencimento de lideranças do interior, poderia ter havido, no início da campanha, antes dos programas de rádio e TV, o risco de uma migração de apoios à oposição. “Foi no fio do bigode”, completa. No que coube ao seu papel como candidato,
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Anastasia se atirou na campanha de corpo e alma. Da mesma forma que em outros momentos de sua trajetória os atributos disposição, dedicação, disciplina e empenho aparecem na boca daqueles que descrevem a forma como ele se apresentou ao embate eleitoral. Antes mesmo da intensificação da campanha, Anastasia já vinha demonstrando esforço para adequar sua postura e se portar como candidato. O secretário Narcio Rodrigues, um dos coordenadores da campanha, conta um caso exemplar que mostra seu aprendizado ainda antes da definição da candidatura. Em uma visita de ambos a Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, para uma solenidade formal, o então prefeito do município, Públio Chaves, fez a deferência de convidá-los para ir à casa dele. Ao abordar Anastasia, Narcio ouviu: “Não, nós temos uma agenda aqui. Vamos cumprir a agenda”. Ainda assim, insistiu: “A agenda oficial está cumprida. Agora, a de candidato a governador, nós podemos trabalhá-la depois do expediente aqui. Acho que vale uma visitinha ao prefeito”. Anastasia aquiesceu, mas avisou que ficaria só por 15 minutos. “Foi e ficou por uma hora e meia. Pensei comigo, ‘panhô’ gosto”, conta Narcio, divertido com o mineirismo da expressão. “Ele comeu doce, bateu papo, não bebeu nada, como sempre, mas não deixou de colocar o ingrediente do bom humor, da conversa, do bom papo. A esposa do prefeito ficou
totalmente encantada por ele, dizendo que era uma figura cativante.” Cativar, aliás, é uma marca de Anastasia. O fenômeno se repetiu em Tupaciguara, no Triângulo, e novamente ao lado de Narcio. “O prefeito de lá, Alexandre Berquó, era Hélio Costa e nós fomos à casa dele. A primeira-dama, Ana Cristina, chegou a ser presidente do PMDB. E ele foi lá, conversou com ela. Dois ou três dias depois, o prefeito me liga e diz assim: Você tomou a minha mulher. Ela agora é Anastasia. O Hélio Costa já veio tantas vezes aqui e não a cativou. E ela ficou encantada com o Anastasia.” Para Narcio, naquele momento ele já tinha consciência do que viria pela frente e estava querendo “fazer o dever de casa”. O deputado federal Marcus Pestana também testemunhou o “nascimento do candidato”, por assim dizer. Ele se lembra de uma ocasião, ainda no início de 2010, quando os dois participaram juntos de uma solenidade e o então vice-governador fez um discurso de improviso de cerca de 30 minutos. Ao final, Pestana brincou: “Anastasia, você tem de ser mais candidato. Você faz um discurso de meia hora sem cometer um único erro de concordância”. E ele respondeu, com o proverbial bom humor: “Para ganhar eleição tem que cometer algum erro? Se precisar, eu cometo!” Obviamente, não precisou de tanto. Anastasia encontrou seu tom de candidato sem precisar
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recorrer a estratagemas falaciosos e tolos, como mascarar seu conhecimento ou cometer um erro de concordância. Fazer isso, aliás, seria um duplo desrespeito aos eleitores: por considerá-los ignorantes e por sonegar a eles a perfeição da oratória que lhe é essencial. A mudança na postura, na verdade, foi mais sutil, como testemunhou o presidente da Gasmig, Fuad Noman Filho, ele próprio um amigo que se preocupava com o formalismo dos discursos de Anastasia. Ainda como secretário de Transportes e Obras Públicas de Aécio – Fuad ocupou também a pasta da Fazenda no primeiro mandato –, ele esteve com Anastasia em uma inauguração no interior. “Lá, ouvi um discurso dele que começou assim: Viva os prefeitos de Minas Gerais; viva ‘não sei o quê’! Então, pensei, que maravilha, como ele mudou o discurso assim tão rápido. Era uma fala que levava emoção sem perder a qualidade, a informação, mas o povo delirava. Ali eu falei: ganhamos a eleição!”, ele conta. Carlos Melles, atual secretário de Transportes e Obras Públicas, ressalta que o ajuste do discurso não exigia uma transformação radical. “Na maioria das vezes, não é o discurso da empolgação, mas o racional, que as pessoas gostam de ouvir e acreditam. Você não precisa ser um eloquente orador, mas sendo alguém que fale a verdade, que transmita seriedade, que transmita confiança, o resultado é esse que nós vimos: um primei-
ro turno esmagador”, analisa. De fato, Anastasia soube dosar a inclusão da emoção, sem perder o conteúdo, o conhecimento das coisas de Minas, e sem nunca, por princípio, apelar para as promessas fáceis e dirigidas exclusivamente à emoção dos eleitores. Se o discurso ganhou ares de palanque bem cedo, havia ainda dúvidas sobre como Anastasia se comportaria no contato direto com o eleitor, no popular corpo a corpo. O temor se mostrou, outra vez mais, injustificado. Ainda que desacostumado ao papel de protagonista – não disputava o posto central nas caminhonetes das carreatas, por exemplo, e era sempre lembrado de ocupálo – ele não tinha qualquer problema no contato com as pessoas. Pelo contrário, apesar da rotina desgastante, ele o considerava “muito prazeroso”. “Acho que todo candidato deve fazer a campanha num bom astral”, ensina o governador. “Ainda que se vá ganhar ou perder, você conversa com as pessoas e elas depositam em você sua esperança, você recebe ideias – recebi muitas como vice-governador, e como governador também – na conversa com as pessoas, com os segmentos, com a liderança. Então, acho que isso foi muito proativo”, acrescenta. Com dois ingredientes fundamentais – a conversa cativante e a disponibilidade para ouvir – Anastasia foi granjeando admiração por onde passasse. Narcio comenta que o contato pessoal
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acontecia de forma muito simples, sem obstáculos à aproximação das pessoas e um tratamento sempre muito agradável. E ele adicionou aí dois elementos muito apreciados: a espontaneidade e “uma memória impressionante”, no dizer de Narcio. O presidente do PSDB conta que é comum entre os políticos, ao chegar ao interior, recorrer à assessoria ou ao cabo eleitoral para saber o nome do prefeito e seus familiares, de lideranças locais. “Com o Anastasia, não. Sabe, é aquela coisa: a gente fala vou te apresentar aqui... e ele, de pronto, se adianta, vai me apresentar o Ernani, de São Francisco de Sales? Como vai dona Madalena, a nossa professora, vereadora mais votada? É um negócio impressionante, não é uma coisa forjada, alimentada, a memória viva que ele tem.” Esse tipo de reconhecimento da parte de uma autoridade, de um candidato, é muito prezado no interior. Ainda mais quando, segundo Narcio, isso se dá de uma forma absolutamente espontânea. “Não é artificial”, assegura. “Há eventos no interior em que ele encontra pessoas de outras partes de Minas e as identifica do mesmo jeito.” “Ele se saiu muito bem”, certifica Marcus Pestana. “Ao contrário do que os adversários pensavam, que Anastasia era um intelectual de fala difícil e que só viveu na cúpula do poder, quando ele caiu nos braços do povo ele se deu muito bem. As pessoas falavam do que é autêntico nele, de como ele é autêntico e dá atenção a todos”, observa. “A despeito de todo o preparo intelectual e acadêmico, Anastasia é uma pessoa simples, humilde e disciplinada”, define o deputado. Por fim, o governador demonstrou ter espírito de grupo e
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Mãe apaixonada A gente tinha um entendimento de que, quando as pessoas tivessem conhecimento de quem era o candidato, as pessoas se apaixonariam. Eu vi isso com a minha mãe. Ela se apaixonou por ele, servidor como ela, tão comprometido, um homem que deu a vida no serviço público. João Leite Deputado estadual pelo PSDB
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Uma virada espetacular Confira a evolução da candidatura de Anastasia segundo os institutos de pesquisa 50 40
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O Instituto Vox Populi não divulgou pesquisa na reta final da campanha
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A discrepância nos números se deve às diferenças de metodologia, campo e período de realização da pesquisa dos institutos
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tenacidade para cumprir suas missões. “Ele faz o que é preciso fazer para atingir os objetivos dele e do grupo, do coletivo. O que ele acha importante, mesmo que não tenha extremo gosto, ele faz por disciplina.” Melles concorda: “Ele deu uma demonstração de adaptabilidade e de responsabilidade. Ele morreria no esforço de ser candidato, pela obrigação política e cívica de ser candidato. Por outro lado, o prazer parecia caminhar ao lado da disciplina. “Ao longo da campanha, eu até brincava dizendo que ele estava gostando do ‘brinquedinho’, e ele dizia, como sempre, que não, que era só uma vez, vocês não me pegam mais”, relata. “Tem uma coisa interessante na personalidade do Anastasia”, pontua Andrea Neves. “Ele é absolutamente comprometido com tudo o que ele faz, ele é minucioso, dedicado ao extremo. Ele não faz nada pela metade, não se contenta em fazer menos do que pode fazer”, elogia. E essas características se manifestaram plenamente durante a campanha. “Ele sabia que era um universo diferente, que estava diante de um desafio que nunca havia enfrentado antes. E o enfrentou por absoluto comprometimento com o trabalho que estava sendo feito em Minas, com o grupo, com Aécio, com o projeto que está sendo construído.” No que dizia respeito ao esforço pessoal, portanto, Anastasia revelou na campanha um talento insuspeito, não importando se foi por discipli-
na ou por gosto, logrando êxito na tarefa de se apresentar à população, conquistar o eleitor e convencer os apoiadores recalcitrantes. Disso foi testemunha o companheiro de chapa, Itamar Franco. “Ele sempre foi bem recebido pelos prefeitos, mas eu percebia um pequeno alinhamento, porque não o conheciam”, lembra o senador. À medida que o candidato foi se tornando conhecido, pela presença ou pela TV, Itamar observou um comportamento do eleitorado que sua experiência de várias campanhas lhe permitiu identificar como indício da virada antes de qualquer pesquisa. Ele conta: “O mineiro tem um aspecto muito interessante. A princípio, quando o Anastasia caminhava comigo, Aécio e tantos outros, a gente notava que ele ainda não tinha aquele conhecimento – e acolhimento – do povo mineiro. À medida que a campanha foi se desenvolvendo, eu percebi que quando o eleitor mineiro começa a bater no ombro do candidato, começa a olhá-lo de forma mais atenta, e quando este vai ao palanque e se solta mais, claramente a imagem dele já estava ‘contaminando’ o povo mineiro”.
De “desconhecido” a recordista de votos Coube à área de comunicação a definição da estratégia e da forma mais eficiente de levar Anastasia a ser conhecido e receber a atenção de que
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falou Itamar. Vencer o alto índice de desconhecimento, que se opunha frontalmente à qualidade do candidato e ao projeto que ele defendia, era tarefa delicada. Não por se mostrar uma missão impossível ou por exigir tintas exageradas para “produzir” o candidato, mas porque um erro poderia pôr a perder uma construção de anos, tanto no campo político quando no administrativo. Por essas peculiaridades, a estratégia teve que contemplar também a busca por diferenciais na apresentação da candidatura. Como em toda campanha, foi montado um comitê responsável pela articulação com os diversos setores da sociedade. Porém, a necessidade de tornar Anastasia conhecido o mais rápido possível fez com que, conforme conta Andrea Neves, isso fosse feito com um nível de profundidade inédito. “Nós sempre tivemos um núcleo para dialogar com diversos setores da sociedade. Dessa vez, nós avançamos dois degraus e fizemos recortes por núcleos muito mais específicos dessas categorias”, revela a coordenadora. E o êxito dessas interlocuções de deve também à equipe que se somou à campanha. “O que tínhamos a nosso favor, e que era o fundamental, era a qualidade do candidato. Vencida essa etapa do desconhecimento, nós tínhamos certeza que as pessoas perceberiam nitidamente que ele incorporava um projeto político vitorioso, com alta qualidade do ponto de vista profis-
sional e ético que encantaria as pessoas”, assegura Andrea. O publicitário Paulo Vasconcelos, um dos responsáveis pela estratégia de marketing e veterano das campanhas de Aécio, conta que foram adotadas, em primeiro lugar, medidas para preparar Anastasia e proporcionar a ele um ambiente que favorecesse ao máximo seu desempenho diante das câmeras. Os programas e comerciais de TV, como sói ocorrer nas campanhas, seria o principal canal para levar o rosto e as mensagens do candidato ao conhecimento das pessoas. Paulo percebeu, ainda na gravação de comerciais do PSDB no primeiro semestre de 2010, que Anastasia falava muito bem, mas tinha pouca intimidade com as lentes. Forcejou-se para lhe extrair uma postura de ator que não ofereceu bons resultados. “Nós exigimos dele algo que ele ainda não podia entregar, portanto o erro era nosso, 100% nosso.” Para quem acha que esse desempenho é uma exceção no mundo político, o publicitário garante que é o contrário. São poucos os que se soltam diante das câmeras, caso, por exemplo, de Aécio, que se enquadra na categoria “bom de TV”. A primeira providência de Paulo foi defender e conseguir a contratação de uma dupla de diretores “muito diferenciados”, Pablo Nobel – que dirigiu o ex-presidente Lula em 2002, e Sérgio Mastrocolla. A ideia era usar profissionais bem
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experimentados, que conseguissem extrair o melhor desempenho possível de Anastasia. Outra decisão foi chamar o também publicitário Rui Rodrigues, parceiro de Paulo em outras caminhadas, e dividir a coordenação das campanhas de Anastasia e Aécio. “Começamos o trabalho e foi muito interessante a humildade dele, que disse: olha, eu não entendo disso, e o que vocês disserem para eu fazer, eu vou fazer, portanto a responsabilidade de vocês é dobrada. E era mesmo”, lembra Paulo. Cuidou-se então de se criar um ambiente leve e acolhedor no estúdio para que, pelo menos ali, ele se visse livre das tensões de campanha e pudesse exercitar sua conhecida dedicação apenas às gravações. Faltava definir o mood, o tom, o lado de Anastasia que seria explorado nas peças de televisão. E essa definição veio de uma conversa “exploratória” com o candidato, na qual ele revelou sua admiração pelo apresentador Sílvio Santos. “Ele falando, o auditório, aquilo me lembra muito eu dando aula”, Anastasia teria dito ao publicitário. Isso determinou a decisão de se apostar em seu talento de professor, colocando-o em um estúdio em formato de arena para responder as perguntas das pessoas. A ideia conferiu naturalidade à expressão do próprio candidato e de suas propostas, já que ele não tinha que desempenhar um papel. Podia ser ele mesmo, com seu talento de professor, expondo seu conhecimento e tirando
dúvidas. “Ele recebia as pessoas, os convidados, conversava, brincava com todo mundo. E todos ficavam relaxados, encantados, naquela de oh, não sabia que ele é assim. Saíam todos votando nele. Você podia chamar até o comitê do Hélio Costa. Ele estava leve. Aquilo, para ele, não tinha uma carga, uma responsabilidade maior do que falar a verdade”, descreve Paulo. E os convidados podiam levar suas próprias perguntas, o que traduzia a plena confiança no conhecimento e na capacidade de Anastasia para respondê-las. O conteúdo e a estratégia, por sua vez, foram definidos em uma imersão de toda a equipe em um hotel sossegado da região metropolitana, e apresentados à coordenação da campanha no início de julho. Estavam ali pontos importantes, como a ideia de usar o tempo dos deputados federais e estaduais – de maneira legítima e legal, ressalte-se – para reforçar a veiculação da imagem de Anastasia. Ele aparecia pedindo voto para os candidatos da coligação, não para si, mas sua figura ia se tornando mais conhecida. Também naquele documento estavam o dimensionamento e a forma da participação de Aécio na apresentação do candidato. Optou-se pela estratégia de colocá-lo para reforçar as ideias e propostas apresentadas pelo candidato. “Ele não dizia assim: Vote Anastasia. Era Anastasia está certo, tem mesmo que fazer isso, ampliar aquilo,
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este programa é muito bom. Anastasia é um político sério, correto. Nós trouxemos o aval do Aécio para um plano pessoal, onde ele teria uma relação muito mais de cumplicidade do que de um mero padrinho político”, recupera. E um terceiro ponto importante foi Aécio ter entregue “a chave do governo” a Anastasia. “Por causa disso eu consegui fazer comerciais de 15 segundos, aí sim usando o status do governador, para dizer Eu sei que você não sabia, mas o governo Aécio também era Anastasia”, conta o publicitário. “Era um negócio bem-humorado, com muita alegria, que passava a mensagem de uma forma diferenciada.” Ele compara: “Era curioso. Um candidato tinha 16 pontos e outro, 46. O que tinha 16 fazia uma campanha pra cima, positiva; o de 46, uma coisa tensa, dura, sem posicionamento de líder”. A estratégia foi bem-sucedida, claro, já que a candidatura de Anastasia decolou a partir do início dos programas de televisão. Paulo Vasconcelos, porém, atribui a maior parcela do sucesso à postura do candidato. “Ele é o grande barato dessa eleição, o grande vitorioso. Ele conseguiu atomizar, ser o ímã, o sol dessa eleição”, avalia. “Ele percebia as dificuldades, as tensões, os limites que ele tinha de ultrapassar e nosso desejo de vê-lo fazendo isso. Nunca, em momento algum, resistiu a acelerar ou mudar o compasso. Ele se entregava com confiança absoluta”, revela.
No último dia de gravação, relembra, ocorreu um fato que marcou bem quem é Anastasia, seu caráter e comprometimento. A equipe se reuniu toda no estúdio e puxou uma salva de palmas – “daquelas que não têm hora para acabar”. Paulo completa esta narrativa: “Ele se emocionou, todo mundo desabou em lágrimas, foi um negócio de emoção pura. Aí, o que aconteceu? Ele agradeceu, singelo, disse que iria honrar a confiança de todos, que tudo o que ele havia dito ali era verdade, que nunca disse nada que não acreditasse ou que não se sentisse capaz de cumprir. Era isso que a gente precisava escutar. Levar para casa a imagem de ter feito a campanha de um cara desses, perdendo ou ganhando, é o máximo para qualquer um de nós”. Anastasia, então, tratou de, ao longo da campanha, derrubar as dúvidas e temores sobre seu desempenho no embate eleitoral. E também confirmou sua superioridade naquele que todos consideravam seu ponto forte, a participação em debates. Foi a todos. Em escolas e universidades, aos encontros organizados por entidades empresariais e movimentos sociais. Esteve nas sabatinas dos jornais Folha de S.Paulo, O Tempo e Hoje em Dia. Compareceu às entrevistas exclusivas nas TVs e do jornal Estado de Minas, realizadas com todos os candidatos. E, claro, a todos os debates das emissoras de TV mineiras – Globo, Alterosa, RedeTV e Band.
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Destaco a seriedade da fala de Anastasia. Era o que o eleitor queria ouvir, questões sérias, nada subjetivas. O eleitor quer confiar no candidato. Dalmo Ribeiro Deputado estadual pelo PSDB
O resultado é que ele “estapeava os adversários”, na avaliação de Paulo Vasconcelos. “Nós sabíamos que o Anastasia iria tirar de letra os debates. Ele fala muito bem, conhece os assuntos e tem conteúdo”, concorda Marcus Pestana. “Eu sempre apostei que nos debates nós íamos dar show”, reforça Narcio, e o secretário continua: “A facilidade de falar, reunir e comparar dados, mostrar trajetórias, isso faria a diferença. E também o fato de ele não ser um político tradicional, de não prometer e apresentar soluções fáceis. Isso passa seriedade. Nós estamos num processo histórico, ninguém constrói isso na mágica. Já chegamos até aqui e podemos chegar a muito mais”. Além do dom da oratória, Anastasia demonstrou nos debates o seu profundo conhecimento do setor público, particularmente das peculiaridades e demandas do governo e do estado de Minas Gerais. Suas respostas foram ricas em conteúdo e sua postura, de absoluta elegância. Apesar de alvo de todos os adversários, ele jamais perdeu a calma e nem demonstrou irritação ou insegurança. Foi firme e agressivo quando necessário, mas o fez apenas na ênfase com que fazia seu discurso, não pela elevação do tom de voz. Diante de um adversário que domina a televisão, ex-apresentador e repórter da maior rede de TV do Brasil, foi Anastasia quem dominou a cena e deu seu recado. Dentro desse conjunto de fatores, do corpo a
corpo aos debates, passando pelos programas de televisão e rádio, a característica que ficou definitivamente marcada na percepção de todos foi a da credibilidade, algo fundamental – e um pouco em falta – no exercício da política.
Virada histórica, vitória elástica Conforme as previsões iniciais de Aécio e de todo o comando da campanha, à medida que Anastasia foi se tornando mais conhecido e o eleitor estabeleceu o vínculo dele com o governo que findava, sua candidatura começou a crescer de forma consistente. Pouco depois do início dos programas de TV, seu desempenho nas pesquisas começou a melhorar e, entre a última semana de agosto e a primeira de setembro, já era possível perceber a inversão das curvas: ascensão para Anastasia, inflexão para Hélio Costa. Esse movimento, porém, não se desenhou apenas pela força da exposição na mídia da imagem do candidato. A conquista foi, principalmente, fruto de um enorme esforço das forças aliadas e do acerto das estratégias políticas e de embate com os adversários. Não se pode esquecer que do outro lado havia uma chapa com lideranças importantes do estado, como ressalta Aécio. Eram dois ex-ministros de Luiz Inácio Lula da Silva – o presidente mais bem avaliado da história brasileira –, Hélio Costa e Patrus Ananias,
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e um admirado ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Eles representavam uma aliança de dois partidos fortes, PT e PMDB, sob as bênçãos de Lula e sua candidata que liderava as pesquisas para a sucessão nacional, a presidente Dilma Rousseff. Todas essas forças se mostraram juntas, por diversas vezes, nos palanques de Minas. O presidente empenhou seu prestígio no estado para, como esperado, tentar eleger seus candidatos. E o fez, por vezes, de forma radical e agressiva. O antídoto à presença e ao discurso de Lula foi administrado de modo eminentemente político. Imediatamente após os discursos mais agressivos, que de certa forma impunham a eleição do candidato oposicionista como forma de garantir a parceria com o Governo Federal, Aécio e todas as lideranças lançaram e repercutiram um discurso unívoco que funcionou como um chamamento às tradições libertárias do estado. Quem manda em Minas, quem decide seu futuro, são os mineiros. E o fazem historicamente sem interferências externas, sem temor e sem se submeter a pressões de qualquer natureza. Foi o que bastou para amortecer a presença de Lula, como relembra Aécio: “Não obstante a presença permanente em Minas Gerais, até em determinados momentos excessivamente agressiva, do ex-presidente Lula, que gozava de uma grande popularidade, ao lado de
sua candidata e de importantes lideranças do estado, os mineiros compreenderam que o que estava em jogo era o seu futuro e deram ao Brasil uma bela lição”, rememora Aécio. “Eles disseram que reconheciam e respeitavam a liderança daqueles que nos visitavam, mas que, na hora de escolher o seu destino, eram os mineiros que tomavam suas decisões”. Para Aécio, a eleição de Anastasia foi “a eleição do sentimento de Minas, dos valores e dos princípios de Minas e, obviamente, também da competência dos mineiros de conduzir seu próprio destino”. O senador Itamar Franco, que se ressente da forma como foi feita essa investida de Lula em Minas, atribui a vitória à união demonstrada na campanha conjunta com Aécio e Anastasia. “Nunca, durante a campanha, tivemos qualquer atrito. Brincávamos que éramos como os Três Mosqueteiros: um por todos e todos por um”, revela. Essa identificação com a mineiridade também foi construída ao longo do tempo, alicerçada em uma relação natural da candidatura com a sociedade. “Nós percebíamos nas pesquisas de avaliação do governo do Aécio, desde o início, que ele conseguiu uma identificação muito forte com Minas Gerais. As pessoas de todos os cantos do estado encontraram nele valores importantes à construção da história de Minas”, explica Andrea Neves. “Não era uma questão de respeitar ou ad-
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mirar o governador, era uma questão de afeto, de gostar dele e daquilo que ele significa para Minas, do resgate de valores políticos que são importantes para os mineiros.” Percebeu-se, de imediato, que esse era um importante patrimônio a ser transferido a Anastasia, que, afinal, participara de toda a construção do governo que resgatou a autoestima dos mineiros. “Uma das formas que encontramos, ainda que de maneira não claramente perceptível para todo mundo, foi quando a equipe responsável pelo programa de TV escolheu a música da campanha. Elas foram cantadas por diversos artistas mineiros que apoiavam a candidatura, pessoas de várias gerações e escolas musicais diferentes e que tinham profunda relação com Minas. Com isso, as pessoas começaram a perceber que se tratava de uma candidatura que estava nascendo dentro do estado, que estava atendendo a uma lógica de expectativas de Minas Gerais”, pontua Andrea Neves. Esse momento em que se começou a sedimentar o “sentimento de Minas”, de mineiridade, possibilitou que o tema pudesse ser trabalhado com mais intensidade mais à frente, quando a candidatura adversária tomou a postura mais agressiva citada por Aécio e Itamar. Com todos esses ingredientes de superação, dedicação união, Anastasia chegou à vitória em 3 de outubro de maneira avassaladora. “Confesso
que a margem foi ainda além das nossas melhores expectativas”, confidencia Aécio. Quando o candidato iniciou seu crescimento nas pesquisas, essa dinâmica foi irreversível. Durante a campanha, ele visitou mais de 110 municípios de todas as regiões de Minas, percorreu mais de 30 mil quilômetros, reuniu-se e conquistou o apoio das mais diversas entidades de representação dos segmentos da sociedade civil – de empresários a catadores de recicláveis, de centrais sindicais a trabalhadores rurais, artistas, profissionais da moda, enfim, de uma miríade de setores que manifestaram com vigor sua opção por continuar e aprofundar uma gestão que havia se iniciado oito anos antes. Os testemunhos sobre a virada convergem para a percepção do momento em que Anastasia superou o desconhecimento dos eleitores e, junto com isso, foi identificado como o sucessor legítimo de Aécio. O vice-governador Alberto Pinto Coelho, por exemplo, viu o entusiasmo se espalhar pelo interior a partir dos primeiros sinais de crescimento. Antes, lembra, as lideranças regionais esperavam o quadro avançar antes de tomar uma posição pública. Depois, embarcaram confiantes na candidatura de Anastasia. Pinto Coelho ressalta também o papel do arco de alianças que embasou a candidatura e levou a uma mobilização maciça de deputados estaduais e federais, que trataram de marcar presença nas comunida-
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des para levar a mensagem de Anastasia. Mas ninguém melhor que o próprio candidato para descrever o processo da própria eleição: “Contra mim havia um fator muito grave em política, que era o desconhecimento, ninguém sabia nem que eu era o governador do Estado. Então, no momento em que a campanha começou a me expor, na televisão, no rádio, as pessoas, que estavam desinteressadas, começaram a me conhecer e a se interessar, e a coisa foi num crescendo”. “Sabia que a eleição era difícil, nunca imaginei ganhar com tanta margem como nós ganhamos, mas sabia que eu tinha boas possibilidades, porque, do contrário, não existe entrar numa eleição sabendo que se vai perder. Sabia que o desconhecimento ia ser superado no momento certo, tanto que, a 45 dias da eleição, no dia que começou a campanha de televisão, eu estava a 30 pontos atrás, e um editorialista pôs: ‘Só um milagre’ (risos). Trinta, 45 dias depois, no dia da eleição, eu tive 30 pontos na frente porque foi, exatamente, efeito do conhecimento, de mostrar como era.” “Com uma campanha política bem construída, com bom apoio político dos nossos deputados, com bom apoio dos prefeitos, com os partidos que nos deram um apoio maior, foi tudo construído com muito cuidado, na costura sempre genial do senador Aécio, que lá atrás planejou este espaço, dizendo que uma campanha é isto: primeiro a composição partidária, depois as lideranças políticas, depois a campanha em si. Tudo ao seu tempo, porque ninguém entra na campanha já vitorioso ou derrotado, com dois meses de antecedência, é um processo.”
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A vitória de Antonio Anastasia na eleição para o Governo de Minas é indissociável da figura do senador e ex-governador Aécio Neves. E isto não se deve meramente ao “apadrinhamento” da candidatura, ao empréstimo de prestígio e popularidade na corrida pelos votos. O papel de Aécio é muito maior que a eleição de Anastasia e que a conquista das duas vagas no Senado, das maiores bancadas na Câmara e na Assembleia Legislativa pelo PSDB e da maioria das cadeiras do Parlamento estadual pela aliança de 12 partidos que sustentou a candidatura majoritária. Aécio é a locomotiva de um projeto político que promete mudar o Brasil, que entusiasma quem dele participa e que já se tornou maior até mesmo que ele próprio. Na discussão da candidatura e durante a campanha, Aécio demonstrou em larga escala as características que lhe proporcionaram, ao longo dos últimos oito anos, uma ascensão em escala geométrica na política nacional: liderança, carisma, coragem para tomar o rumo certo – ainda que pelo caminho mais difícil – espírito de grupo, abertura política, desprendimento e visão de estadista. O talento que ele já mostrara como deputado federal, tanto na capacidade de “construir pontes”
– como gosta de dizer – quanto na administração da coisa pública, na condição de presidente da Câmara dos Deputados, se revelou amadurecido e em sua plenitude. A vitória extraordinária demonstrou que ele conquistou Minas não pelo provincianismo ou pela herança política, mas por ter sido reconhecido como líder e realizador, uma novidade bem-vinda na política brasileira. Aécio mesmo disse que lançou o nome de Anastasia para sucedê-lo por ver nele o perfil ideal para prosseguir na transformação de Minas. Sua escolha – bem como a opção por disputar uma vaga no Senado – criou desafios e riscos para si próprio, já que, depois de se colocar como précandidato à Presidência da República, os olhos do Brasil estavam postos sobre seu desempenho nas eleições. Sua estratégia, a costura de um arco amplo de alianças e o aval incondicional a Anastasia não deixaram margem para dúvidas. Aécio demonstrou desprendimento ao colocar Anastasia como protagonista na disputa eleitoral. Ao fazer isto, retirou do candidato a pecha equívoca de “afilhado” político, elevando-o à condição de liderança dos mineiros, um igual. Não lhe fez sombra, não estabeleceu uma hierarquia, não se portou como dono das candidaturas e do projeto. Tratou de levar o nome de Anastasia ao
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povo de Minas como quem apresenta um amigo, demonstrou sua confiança na pessoa – não apenas no candidato – e permitiu que ele ocupasse a frente do palco e mostrasse à plateia sua capacidade e seu preparo para assumir o governo. Tal postura engrandeceu ainda mais a figura de Aécio como liderança política. “De forma extraordinária, tanto o Aécio soube sair do palco e se apresentar como um holofote, jogando luz sobre o Anastasia, quanto este soube se apresentar com personalidade própria, com estilo próprio que o coloca num patamar de igualdade com o Aécio. Ambos são líderes, formam um conjunto. Eles são complementares”, analisa Narcio Rodrigues. “A maioria dos políticos não tem essa postura”, aduz o deputado federal Marcus Pestana, que concorda com a imagem do holofote. “É preciso ter grandeza, generosidade e compreensão política. E o Aécio é um craque, ele sabia o que precisava ser feito, que não se pode ter ciúme e é preciso deixar o outro brilhar. É a metáfora que o Narcio usou, que não é tão simples e trivial; essas relações são complicadas.” Itamar Franco testemunhou isso em sua terra natal, Juiz de Fora, onde um líder local perdeu a eleição por querer aparecer mais que seu candidato. Aécio, ao contrário, “teve a dignidade de estar presente, mas nunca tentar ofuscar o candidato Anastasia”, observa o senador.
Embora Aécio detivesse grande capacidade de transferência de votos, o fato é que esse processo não se dá por osmose, não é automático. Depende da identificação genuína entre as duas partes – candidato e avalista – da abertura e aceitação do eleitorado. Se a população reconhece o “ponto de saída” da transferência, mas não aceita o “ponto de chegada”, o processo não se concretiza. E uma das formas de se romper essa barreira é dosar a presença do avalista até o momento em o que o eleitor quer é conhecer melhor seu candidato. E isso tanto Aécio quanto Anastasia fizeram com maestria. Um não fez sombra ao outro, e este revelou desembaraço quando teve que mostrar a que veio. “Aécio teve uma noção de timing político precisa e, ao mesmo tempo, um desprendimento muito grande, que é uma coisa difícil. Ao final, ele saía de cena nos encontros e o Anastasia conduzia os eventos, justamente para mostrar às pessoas que ali havia um candidato que existia por ele mesmo, que tinha consistência e brilho próprio”, avalia Andrea Neves. Os méritos de Aécio devem ser buscados e reconhecidos na origem, e são anteriores a esta eleição. Um deles – e dos principais – foi ter estruturado e cativado a aliança que o elegeu pela primeira vez, em 2002, e o acompanha desde então de forma cada vez mais convicta. O segredo para manter a coesão do grupo passa
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Fomos privilegiados de ter tido o governador Aécio e ele, a sensibilidade de enxergar o potencial de Anastasia. Renata Vilhena Secretária de Planejamento e Gestão do Governo de Minas
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longe de arranjos fisiológicos – como o escambo de cargos e favores – tão comuns na política brasileira. O fenômeno está no estilo imposto por Aécio, e também por Anastasia, na condução do Governo de Minas e nas relações com aliados, Poderes constituídos e mesmo a oposição. A senha é uma palavra: construção. Ao longo de seus oito anos de mandato, Aécio apresentou um estilo no qual se trocava o mandonismo pelo convencimento, a imposição pelo diálogo, o sectarismo por uma visão republicana, o impasse pelo consenso e o passadismo pela modernidade. E neste caminho encontrou em Anastasia o parceiro ideal, uma vez que este, por onde tenha passado em sua carreira, se notabilizou justamente pela capacidade de ouvir, pela abertura à negociação e pela busca de soluções que acomodassem as pressões legítimas de grupos políticos e setores da sociedade – sem abrir mão de prioridades e da responsabilidade na gestão da coisa pública. Há quem veja nessa postura um artificialismo por camuflar o embate político mais virulento. É o contrário: dessa forma, permite-se livre trânsito de todas as manifestações, de todas as demandas, transformando-se o embate em possibilidade concreta de se construir algo. E, obviamente, não significa aquiescer ou se dobrar a pressões. Quando o não é necessário, o não é dado; se a demanda é abusiva, a autoridade se manifesta.
“Eu diria, numa visão lato sensu, que o governo se alicerçou de uma maneira muito clara na relação com o Legislativo, na valorização do Parlamento e do parlamentar e dos Poderes constituídos”, afirma Alberto Pinto Coelho. “Houve essa interlocução sempre respeitosa e, tanto quanto possível, construtiva” – prossegue o vicegovernador –, “aquele olhar que o governador teve de não se encastelar, porque a solução dos problemas nem sempre esteve dentro do Estado”. Pinto Coelho ressalta ainda o conceito do Estado indutor. “Acho que há uma definição muito boa do governador Aécio e do Anastasia de que não é um Estado mínimo e nem máximo, é o Estado ideal, aberto à parceria com os segmentos da sociedade para a solução dos problemas que se colocam, na sensibilidade de acolhê-los. Tem um discurso que até ficou famoso, ‘que a mesa tem um lado só, para não ter só dois lados’. É uma visão de sempre estar disponível para se colocar na posição do seu interlocutor e entender que ele tem alguma razão para tê-lo procurado.” O vice-governador ressalta a disponibilidade de Aécio e Anastasia para negociar com a base e também com a oposição, apesar de o governo contar com maioria ampla na Assembleia Legislativa. “Todos os projetos de lei de iniciativa do governo, todos, invariavelmente, que foram para o Legislativo, foram enriquecidos num processo com a contribuição da base do governo e da
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oposição. Nenhuma proposta que saiu do Executivo se transformou em projeto de lei e em lei sem essa contribuição”, observa. “Quando a gente vê na mídia o discurso de que em Minas não há oposição, esse quadro, na verdade, vem em boa medida pelo amortecimento que se tem de um processo de construção” – constata Pinto Coelho. “A oposição se sente contributiva, participativa. Muitas vezes a mídia diz isso por entender que oposição é retórica, é contestação, é fiscalização. Ela é tudo isso, mas é também efetividade, porque ela leva a uma construção coletiva.” Esse processo produz resultados efetivos, sem eliminar, em momento algum, o papel de antagonista da oposição. O vice-governador cita um dado interessante para exemplificar seu raciocínio: a produção per capita das iniciativas de leis dos parlamentares da oposição foi maior do que a da base aliada no período. Isso ocorreu porque essas iniciativas eram colocadas para negociação, de forma que a oposição também se sentia distinguida com a aprovação de suas iniciativas. Da mesma forma, em postura republicana que se tornou marcante ao longo
do governo, Aécio eliminou qualquer possibilidade de discriminação a municípios cujos prefeitos ou líderes políticos fossem de partidos oposicionistas. O tratamento às demandas, implantação de programas e liberação de verbas foi absolutamente igualitário, não importando a coloração partidária. “Quem está na atividade pública está acostumado com o executivo que tem o tom autoritário, de eu mando e você faz. O grande diferencial do Aécio e do Anastasia, a meu ver, é o tom amigável com que eles governam, sem abrir mão da autoridade, sem impor sua vontade, no convencimento”, pontua Narcio Rodrigues. “É tipo vamos fazer do jeito que eu acredito que é melhor ou você me convence de que existe um jeito melhor. Essa natureza de ouvir, de mudar decisões quando se percebe estar no caminho errado, sem nenhuma preocupação de rever uma posição e isso representar enfraquecimento, é a construção do diálogo”, resume o presidente do PSDB. É de se ressaltar que a forma como se deu esse relacionamento com as forças da sociedade foi adotada por convicção, não por uma “esperteza” comezinha da política. Com isso, Aécio e Anastasia
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A filiação Quando meu filho [deputado federal Rodrigo de Castro] e eu decidimos pela filiação do Anastasia ao PSDB, já o víamos como um futuro vice. Cerca de um mês depois comuniquei ao Aécio que ele havia se filiado, porque via no Aécio esta vontade de fazê-lo candidato em uma sucessão futura. Eu via com muita normalidade, porque o processo foi muito bem feito. Foram duas coisas decisivas: a liderança inconteste de Aécio e o bom trânsito de Anastasia junto a todas as esferas políticas. Danilo de Castro Secretário de Estado de Governo de Minas Gerais
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Todo o trabalho de Anastasia, toda sua trajetória profissional o credenciava a voos mais altos. E mais uma vez Aécio Neves mostrou que tem uma visão de estadista, que enxerga mais à frente. Rodrigo de Castro Deputado federal pelo PSDB
granjearam respeito e admiração, componentes do capital político que se transformou em vitória grandiloquente nas eleições de 2010. Foi esse capital que possibilitou a Anastasia receber o apoio de 600 prefeitos – inclusive da oposição – e ter um verdadeiro exército de parlamentares levando seu nome a todos os cantos de Minas. Enfim, uma estratégia muito bem-sucedida, engendrada ao longo de oito anos e calcada, sobretudo, na força da verdade pessoal e na ação efetiva do estrategista Aécio Neves e de seu sucessor natural, Antonio Anastasia.
Uma tacada de mestre A candidatura de Anastasia é, sim, o resultado natural desse processo que se desenrolou durante os últimos anos, alicerçado em uma trajetória pessoal riquíssima de experiências e realizações. E, ao lado de toda a concertação promovida por Aécio, é fruto, também, de movimentos precisos que este realizou no xadrez da política de Minas e do Brasil. Um exemplo claro disto vem do ano de 2006, quando o então governador indicou Anastasia para o posto de vice. Um movimento aparentemente secundário serviu, na realidade, para abrir – e cobrir – um amplo leque de possibilidades políticas no futuro. Numa visão mais pragmática, essa estratégia garantia a Aécio, quando se desincompatibilizasse
em 2010, ser substituído por um vice absolutamente leal a ele e, mais do que isso, plenamente capacitado para manter o planejamento e a execução dos programas nos trilhos. Ou seja, ele poderia se dedicar a outros voos sem o risco de ver a obra a que se dedicou por oito anos se danificar ou ruir em questão de meses por inépcia de seu substituto. O grande quadro, porém, mostra mais do que isso. A escolha serviu para dar mais relevo à figura de Anastasia e firmar sua posição como o principal executor das políticas públicas de Aécio. A vice-governadoria conferiu-lhe maior exposição tanto dentro quanto fora do governo, e essa exposição foi encorpada com um exercício mais evidente de tarefas políticas por excelência. Como vice-governador, Anastasia foi colocado na trilha da disputa eleitoral, ainda que não houvesse absolutamente nada definido quanto a uma eventual candidatura. Tudo dependeria do que o futuro reservasse a Aécio e da acomodação de forças que se registrasse nos quatro anos seguintes. “Foi uma tacada de mestre”, reconhece Marcus Pestana. “Aécio é um político que não antecipa o calendário, que sabe usar o tempo a seu favor. Tancredo dizia que era preciso deixar a onda bater várias vezes na praia antes de apurar o que tem na espuma, e há uma frase dele que o Aécio gosta muito, ‘uma decisão certa no tempo errado
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é uma decisão errada’.” Aécio teria, então, contrariado os ensinamentos do avô? Não exatamente. “Foi uma tacada de mestre” – repete Pestana –, “ali ele abriu o leque (de opções), não estava nada decidido, mas ele se preparou e mexeu as peças. Ninguém tinha dúvidas de que ele não colocou o Anastasia à toa ali. Ele fez um lance que não era definitivo, mas agressivo. Quatro anos antes, essa alternativa já estava na cabeça do Aécio, e ele sinalizou claramente o grau de afinidade, confiança e o papel que queria para o Anastasia.” “O Aécio não inventou o Anastasia, ele já estava ali”, concorda Andrea Neves. “O que aconteceu, creio, é que o Aécio viu antes de todos nós, nas qualidades dele, reveladas na convivência próxima, o perfil e densidade necessários para suportar um desafio desse tamanho.” Os desdobramentos poderiam ser diferentes, caso Aécio fosse o candidato à Presidência, como interpreta o cientista político Luis Aureliano Gama de Andrade. Poderia haver uma composição diferente para acomodar a aliança política necessária à sustentação de uma candidatura desta magnitude. Pestana concorda, mas lembra que não existe “se” na política, ainda mais relacionado ao passado. O fato é que, ao se definir pelo Senado, Aécio tinha ao seu lado muito mais que um pupilo. Anastasia não era um “poste”, no jargão usual, com um padrinho poderoso. Depois de oito anos de trabalho, quatro deles em
posição política de destaque, ele tivera a oportunidade de empregar toda sua inigualável capacidade de gestor em um governo bem-sucedido e de desenvolver suas habilidades políticas ao lado de um mestre com quem tem enorme afinidade. E Aécio tivera um executivo de absoluta confiança, da mais extrema lealdade, que havia colocado em marcha tudo aquilo que sonhara para Minas. Nárcio Rodrigues define a relação entre os dois como uma simbiose, uma “construção coletiva”. É difícil dizer quem construiu quem, diz, mas resume bem o resultado: “Acho que com o Anastasia o Aécio ficou mais técnico; e, com Aécio, o Anastasia ficou mais político”. Sem surpresas, portanto, que Anastasia chegasse a 2010 em um novo patamar. “No primeiro governo, na escolha dele (para vice-governador), ali já estava plantada a semente.” A surpresa, aponta Nárcio, foi outra: “A desenvoltura com que ele se apresentou e a disposição de assumir esta responsabilidade (de disputar e governar Minas) fizeram a diferença.”
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Horizontes
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Antonio Anastasia foi empossado governador de Minas Gerais na tarde de 1º de janeiro de 2011. Iniciava-se ali uma nova etapa de sua trajetória de servidor público que, embora em seu ponto mais elevado, parece longe de se encerrar ou de atingir seu ápice. Anastasia tem agora a missão de continuar o trabalho de modernização e renovação iniciado por Aécio Neves, bem como de imprimir sua marca pessoal como governante de todos os mineiros. Modesto, ele não antevê novos voos no futuro. Concentra-se na tarefa atual e define sua missão como governador, em primeiro lugar, pelo compromisso com o povo de Minas: “Antes de qualquer tipo de privilégio, honraria, minha função é de responsabilidade. Há 27 milhões de mineiros para quem eu tenho a responsabilidade de tomar decisões corretas, sábias e sérias para melhorar a vida deles”, define. E reitera: “A primeira palavra é responsabilidade e eu a tenho, graças a Deus. E espero ter nos quatro anos a consciência tranquila de trabalhar aqui, diariamente, para responder à confiança de todos os mineiros”. Consciente do desafio de suceder Aécio Neves – “um governador extremamente aplaudido e reconhecido” –, refuta qualquer equiparação e
declara que seu foco é manter a autoestima dos mineiros como a recebeu do antecessor, com “as pessoas animadas, trabalhando, gerando emprego, gerando riqueza”. Para tanto, dedica-se a “manter a locomotiva na mesma velocidade, no mesmo trilho, dando continuidade ao que foi feito e adaptando-a às necessidades” de agora e dos próximos três anos. E este é seu limite, hoje: “Já fui reeleito, meu horizonte é 31 de dezembro de 2014. Nesse meio tempo, tenho uma Copa do Mundo, que é uma grande oportunidade, vitrine e também muito trabalho. Como disse no meu discurso de posse, é uma grande honra um funcionário público de carreira, de uma família de funcionários, governar Minas e sair reconhecido como uma pessoa que trabalhou seriamente para o estado. Esta é a missão”, sintetiza. Aécio não tem dúvidas de que a missão será cumprida e vislumbra um futuro alvissareiro para o sucessor no Palácio Tiradentes. “Basta caminhar um pouco pelo Brasil, especialmente em Brasília – sou testemunha permanente disso – para compreendermos a dimensão política que já tem hoje o governador Anastasia. Ele é visto por alguns com enorme respeito e admiração, e por outros que ainda não o conhecem com uma
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grande curiosidade”, atesta o senador, que ainda prevê: “Ele, portanto, não fará apenas um belíssimo governo em Minas. A consequência natural, sem dúvida alguma, é a afirmação da sua liderança no plano nacional. Eu tenho muito orgulho de ter, de alguma forma, impulsionado a trajetória desta extraordinária liderança que, a partir de agora, caminha com suas próprias pernas para o bem de Minas e para o bem do Brasil”. Anastasia talvez tenha aprendido com Aécio a “não antecipar o calendário”, como cita o deputado Marcus Pestana. Não há por que especular sobre futuro se há um enorme trabalho a ser feito neste horizonte que ele próprio estabeleceu. Mas é inevitável que, por sua trajetória, pela forma como foi eleito e pela irrestrita confiança de seu antecessor maior, ele assuma agora a liderança política de Minas Gerais, mantendo também este trem nos trilhos e garantindo a base para a liderança de Aécio no plano nacional. Anastasia pode tratar seu horizonte como 31 de dezembro de 2014, mas o fato é que, elevado à nova posição, seu futuro está aberto. É geral o sentimento de que ele pode – e está capacitado – a ser o que quiser quando deixar o governo. Narcio Rodrigues não tem dúvidas disto. “Ele agora é a nova liderança de Minas”, declara. Neste papel, avalia o presidente do PSDB-MG, Anastasia se insere de forma decisiva no projeto que
o grupo político hegemônico em Minas desenha para o Brasil. “Ele dá folga ao Aécio para o projeto nacional, dá garantia de um governo que não perca o gás na capacidade de inovar e empreender, e tem uma formação que o capacita a liderar o grupo de Aécio em Minas. Isso é um dado preciosíssimo, porque, se o Aécio não se preocupar com Minas, ele poderá fazer uma grande concertação nacional.” O projeto, claro, é chegar à Presidência da República, um desejo expresso abertamente pelo grupo e que condiciona o futuro de todos. “Todos nós estamos, hoje, engajados neste projeto. O nosso futuro depende do que o Aécio vai querer ser, de como ele vai se conduzir. Nós queremos chegar à Presidência da República para que nossa geração possa fazer no Brasil o que foi feito em Minas Gerais. Este é o grande sonho de todos nós” – assume Narcio. E a coesão do grupo fica também demonstrada: “Eu diria que nós somos um time à disposição do nosso técnico maior, que é o Aécio, e nós vamos ficar na posição que for boa para ele chegar ao objetivo maior. E o Anastasia, tenho certeza, estará na liderança deste jogo”. Essa disposição revela, inclusive, que a aliança estadual em 2002 pode até ter sido em torno de um projeto eleitoral, de poder, mas que, hoje, ela se articula em torno de metas bem mais ambiciosas, embalada pelo anseio de levar a experiência mineira ao Brasil.
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Anastasia sempre colocará seu nome para o estado e para o Brasil. Seremos soldados e estaremos ao seu lado na batalha. Célio Moreira Deputado estadual pelo PSDB
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Razão e habilidade
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O governador Anastasia tem este perfil de uma pessoa que primeiro procura a razão para depois usar a habilidade para argumentar em favor desta razão. Acredito que essa é o caminho. O Brasil não pode ter uma política ultrapassada como a do populista Hugo Chávez. Precisamos de uma política realista, que se baseie em fatos e dados. Eduardo Azeredo Deputado federal pelo PSDB
À parte esse compromisso, respaldado na lealdade e na crença genuína na capacidade de Aécio transformar também o Brasil, o fato é que não há quem veja limites para Anastasia ou que acredite que ele deixará de disputar cargos eletivos. “Ele será o que quiser daqui para frente, senador, vice-presidente, presidente da República. É muito novo, tem uma enorme trajetória pela frente e tem hoje o reconhecimento nacional. Ele é um homem qualificado para qualquer cargo que surgir”, avalia Narcio. A secretária de Planejamento e Gestão do Governo de Minas, Renata Vilhena, é taxativa: “Agora não tem mais como ele sair da vida política, pela votação expressiva que ele teve, pela importância de Minas Gerais no cenário político, pelo que se espera dele e de Minas”, afirma. Renata, que o conhece desde os tempos do Governo Hélio Garcia, não dá crédito às promessas de deixar a disputa eleitoral. “Eu me lembro, quando ele era candidato a vice, quando uma vez ele disse, nunca mais participo de nada que é político, foi a primeira e última vez. E está aí, virou governador. E a gente falava que, agora que entrou, não tem como sair.” Brincadeiras à parte, ela acredita que a missão de Anastasia não se esgota mesmo neste governo. “O Estado precisa dele, a população precisa e o Brasil precisa. A gente sabe da responsabilidade dos atos que assume e tenho certeza que ele sabe disso também. Eu acredito que não dá mais para
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ele sair e que ele tem noção disso”, comenta a secretária. “Isso depende dele, mas eu acho que ele não para mais”, concorda o deputado estadual Célio Moreira. Para ele, Anastasia se “encaixa perfeitamente” no Senado ou pode ser um superministro em um eventual governo de Aécio Neves ou mesmo um deputado federal ou estadual. “Ele tem capacidade e conhecimento para isso. Na Assembleia, pelo trato com os deputados tanto da situação quanto da oposição, vejo um trânsito muito bom. Todos reconhecem sua capacidade. Ele desponta como uma grande liderança do nosso estado”, testemunha o tucano. O respeito entre os parlamentares do estado, inclusive os da oposição, é confirmado pelo deputado João Leite. Ele vê nisso um dos pilares que garantirão a Anastasia a base necessária para a realização de uma boa gestão. “Ele já planejou e plantou para que este seja um governo de sucesso e será. Ele é apoiado pela população e tem uma ampla base de apoio também na Assembleia, uma base que o respeita.” Carlos Melles, secretário de Transportes e Obras Públicas do Governo de Minas, acha muito difícil que se largue o poder depois de experimentálo, mesmo para um homem desprovido de vaidades – todos a têm em alguma medida, ressalva – como o governador Anastasia. Mas isso, segundo ele, se deve à possibilidade que o poder ofe-
rece de se exercer convicções, realizar mudanças e colocar ideias em marcha. Para ele, Minas e o Brasil não deixam mais que Anastasia se afaste de cargos de maior ressonância. “Nós lançamos uma vocação majoritária”, assegura o deputado federal Marcus Pestana. “Pode ser que ele não queira ser candidato ao Senado em 2014, será uma opção dele, mas certamente ele poderá vir a ser, de novo, candidato a governador no futuro, senador, vice-presidente da República. Pode ser tanta coisa... Política só tem a porta de entrada, não tem a de saída.” Pestana tem certeza de que as reticências em relação ao embate eleitoral direto, fruto de um viés “da alma antiga” de Anastasia, de quando ele não se via neste papel, não significa que ele sairá da vida pública. O “sangue de servidor” não permitirá.
Identidade própria, porta-voz de Minas Ainda que Anastasia não pretenda se equiparar a Aécio, correligionários e aliados estão certos que de ele saberá impor uma marca própria e será bem-sucedido em sua gestão. A confiança advém do profundo conhecimento que ele detém do funcionamento da máquina pública e da qualificação reunida ao longo de sua trajetória. “Não tem jeito de o desempenho dele ser ruim”,
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Anastasia dará muita alegria ao povo mineiro. Ele representa a renovação de que Minas precisa e será um grande governador.
Itamar Franco Senador da República pelo PPS
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Anastasia governa pela segunda vez e pode ser o que quiser, porque terá laços, história, trajetória, serviços prestados. Isso é ótimo para Minas. Carlos Mosconi Deputado estadual e secretário-geral do PSDB em Minas Gerais
assevera o deputado Pestana. “Com a experiência acumulada que ele tem, são 12 anos em posição central no Governo de Minas, ele conhece como ninguém e faz com gosto, se diverte trabalhando, tem prazer, é o coroamento de uma vida”, observa. O deputado estadual Mauri Torres também aposta na experiência acumulada como a chave para o sucesso na gestão. “Ele já parte na frente porque tem conhecimento técnico e profundo de todos os problemas do estado de Minas Gerais, inclusive da estrutura administrativa, que é muito grande.” Aliado a isso, Torres vê vantagens comparativas também no fato de Anastasia ser “um político habilidoso, aberto ao diálogo”, que “mostrou uma enorme habilidade política para construir este governo”. Luis Aureliano aponta que o próprio slogan de continuação, de continuidade, representa um desafio, mas não pelo peso de repetir o sucesso de Aécio. “Você tem que ter continuidade das boas práticas, da postura diante do setor público, mas tem que ser inovador. Não pode acreditar que já se chegou ao fim, que não há nada a fazer. Ao contrário, há tudo a fazer”, analisa. O cientista político, porém, não pensa que Anastasia vá parar nas vitórias alcançadas. Até pela personalidade irrequieta e perfeccionista do governador, o estudioso percebe que há a busca por uma marca diferente, pela correção dos erros que existem até
mesmo em um governo tão exitoso quanto o que realizou ao lado de Aécio. Em seus dois pronunciamentos no dia da posse – em cerimônias na Assembleia Legislativa e no Palácio da Liberdade –, Anastasia reafirmou compromissos de gestão e de princípios, tanto os pessoais quanto aqueles mais caros à alma de Minas. Assegurou aos mineiros que se manterá nos caminho da boa governança, sempre em busca de inovações e avanços com metas cada vez mais ousadas, exercitando suas responsabilidades com “os princípios éticos e os valores do servidor público” que o sustentam há quase 30 anos. Ratificou os pilares do modelo de administração pública implantado na gestão de Aécio. Falou direto ao espírito da mineiridade ao se comprometer a jamais transigir na defesa da democracia, da liberdade e da autonomia, fazendo com que a voz de Minas seja ouvida nos desígnios sobre o futuro do Brasil. A percepção de que esses compromissos não se esgotam no discurso é sustentada pelo que Anastasia realizou como gestor do Estado e nos nove meses em que exerceu o cargo de governador, após a desincompatibilização em 31 de março de 2010. A certeza de que o trem permanece firme nos trilhos advém das primeiras medidas anunciadas e dos resultados que já se colhem. Como marca da evolução constante da revolução iniciada em 2003, Anastasia determinou a inte-
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gração de todas as estruturas de governo ligadas ao desenvolvimento e assistência social, de forma a atingir as metas expressas em seu plano de governo. Quanto aos resultados, os indicadores sociais e econômicos de Minas permanecem em evolução, com destaque para o crescimento de 10,9% no PIB estadual em 2010, índice muito superior à média nacional (7,5%) e equiparado ao ritmo de expansão da China. A certeza, ao fim, é de que Minas está em excelentes mãos e que Anastasia não vai descansar à sombra da vitória eleitoral ou do reconhecimento obtido na gestão conjunta com Aécio. O futuro está aberto e sabe-se que ele enfrentará os desafios que se seguirem com a mesma “lhaneza e coragem” que demonstrou ao aceitar concorrer ao Governo de Minas.
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Coisas que fazem a vida valer a pena Andrea Neves
Sou dos que acreditam que nada na vida se dá totalmente por acaso, e que a coincidência é a forma com que o destino atua sobre a nossa vida. Cada um de nós, ao olhar para trás, é capaz de perceber, em pequenos e fortuitos acontecimentos, consequências que, muitas vezes, têm grande impacto sobre as nossas vidas. Um encontro casual, uma decisão tomada de forma despretensiosa, muitas vezes traz desdobramentos determinantes para o nosso futuro. Penso nisso quando me lembro de quando conheci Antonio Anastasia no então Governo Hélio Garcia. Eu era secretáriaadjunta de Cultura e ele já exercia, naquela época, um papel estratégico e determinante na organização do governo. E já impressionava pela eficiência e afabilidade.
A sua inteligência sempre foi generosa. Voltei a encontrá-lo em 2002, quando o então candidato Aécio Neves o convidou para coordenar o seu plano de governo, numa demonstração clara da seriedade com que seriam tratadas as questões do Estado. De lá para cá, a vida nos ofereceu a oportunidade de vivermos juntos algumas experiências que, tenho certeza, nos acompanharão para sempre na memória. E, de lá para cá, pude testemunhar cotidianamente as suas diversas faces. A da competência é por demais conhecida e reconhecida. Mas há outras igualmente importantes. A do comprometimento com as causas a que tem dedicado a sua vida. A da lealdade. A da amizade e solidariedade. A da sua profunda humanidade que se manifesta no seu sincero interesse e preocupação com as pessoas.
Pessoas. Pessoas como Anastasia são difíceis de encontrar na realidade porque, apesar de tudo e depois de tudo, continuam a colocar o interesse do outro antes do seu. São incansáveis. E não fazem concessões quanto a valores éticos. Nos últimos anos trabalhamos, enfrentamos e superamos muitos desafios juntos. E, com afeto, sonhamos muito. Afeto e sonho. Não é disso que, em grande parte, é feita a vida? Afeto e sonho. Não é isso que, em grande parte, faz tudo valer a pena? Andrea Neves é presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas). Foi coordenadora de comunicação e de articulação com movimentos sociais nas campanhas de Aécio Neves e Antonio Anastasia.
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Convivência plural e construção coletiva Alberto Pinto Coelho
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Antes mesmo do Governo Aécio Neves, já acompanhava a trajetória do jovem Antonio Anastasia, que sempre desempenhou, de maneira muito destacada, as missões que recebia. Em 2004, tive a grata satisfação, ao assumir a liderança de governo, de iniciar, de maneira direta, a convivência e as tratativas na construção dos projetos de lei de interesse do governo com o então secretário de Planejamento e Gestão. Era de responsabilidade direta dele, enquanto secretário e depois como vice-governador, sempre ao lado da Secretaria de Governo, promover junto ao Parlamento a construção consensual de propostas importantes para o desenvolvimento de Minas Gerais. Através dessa convivência, minha admiração foi a cada dia se ampliando em função da sua capacidade de buscar alternativas e de construir caminhos, com sua visão muito consciente
da importância do papel do Poder Legislativo, do respeito ao princípio democrático e da convivência com a oposição. E foi a partir dessa visão, dessa postura, seguindo, naturalmente, a orientação maior do então governador Aécio Neves, que iniciamos conquistas inéditas nos avanços das políticas públicas do Estado. No sistema democrático de governo, os formuladores das políticas públicas exercem aquilo que chamamos de ‘polis’, mediante a interlocução permanente entre os agentes do Estado e os representantes da sociedade. Antonio Anastasia, já renomado como um grande gestor, se não o maior gestor público do país, demonstrou nesse período de governo, de forma inquestionável, sua capacidade de alcançar soluções de relevante interesse público no desafiador exercício da engenharia política.
Algo que ficou marcado, e traduz muito bem o homem público e político Antonio Anastasia, diz respeito à votação dos Projetos de Lei que instituíram a espinha dorsal do Choque de Gestão. Depois de um processo de entendimentos comandado por ele, de construção coletiva, em que a oposição compartilhou contribuições, as propostas foram votadas por unanimidade. Este panorama retrospectivo aponta com muita clareza e profundidade que os oito anos de Governo Aécio-Anastasia foram marcados pela convivência plural, pela dialética permanente na construção de consensos democráticos na gestão pública. É, por conseguinte, essa mesma visão, com a mesma postura republicana, que Antonio Anastasia imprime ao seu governo. Alberto Pinto Coelho é vice-governador do Estado de Minas Gerais, ex-deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
DEPOIMENTOS
Consolidar ganhos Todos nós sabíamos que não bastava só a reeleição [de Aécio]. Era preciso que houvesse um período ainda maior, com o mesmo grupo, a mesma filosofia, para que se consolidassem aqueles ganhos e que se mantivesse uma política continuada. Carlos Melles Secretário de Transportes e Obras Públicas do Governo de Minas e presidente do DEM-MG
Motivo de alegria
Um camaleão
Foi uma surpresa muito agradável quando fui convidado pelo governador Anastasia para ser o seu líder na Assembleia. Isso me envaideceu muito. Até porque a forma do governador encarar a coisa pública é buscando resultados, buscando um governo sério. Quando ele me incluiu no seu quadro para ser um representante do governo no Parlamento, para mim, foi motivo de muita alegria.
Anastasia é um camaleão. Ele sai de uma área técnica, depois se transforma em secretário e político. Acho que uma personalidade como o Anastasia, em um país pobre de pessoas como o nosso, sempre vai ser procurado. Mas ele é um homem de personalidade e as coisas vão depender dele. Bonifácio Andrada Deputado federal pelo PSDB
Luiz Henrique Carneiro Deputado estadual pelo PSDB
Missão a cumprir Conjunção Aécio chegou ao Governo de Minas como o maior articulador do País. E se revelou como um grande gestor técnico. Anastasia chegou reconhecido como um grande gestor e, não tenho dúvida, se revelou um grande político. Zé Maia Deputado estadual pelo PSDB
Minas Gerais precisava continuar o brilhante trabalho do hoje senador Aécio Neves. E ninguém melhor do que Antonio Anastasia para cumprir esta função. Bruno Falci Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte – CDL/BH
Já um patrimônio
Força para o jovem
Candidato antenado
Acho acho que o País precisa de excelentes quadros e ele [Anastasia] é um excelente quadro. Eu acredito que ele será bemsucedido em tudo o que fizer. Eu acredito que, no caminho dele e nas opções que ele tenha, ele dará grandes contribuições. Eu acredito que ele exercerá outros cargos, porque será reconhecido pelo que já é: um patrimônio do estado e do País.
O governador tem uma visão futurista da política. Enxerga a política de uma forma muito visionária e sempre afirma que é preciso dar espaço para o jovem, que é preciso haver renovação no governo. É uma coisa que ele sempre pregou e vem executando. Este é um governo bem jovem, com várias pessoas na faixa de até 30 anos trabalhando em pastas importantes. Ele dá espaço para o jovem atuar de verdade, não de uma maneira simbólica. Mas é muito exigente, o jovem precisa ter qualificação e potencial, e ele valoriza quem tem.
O Professor Anastasia brindou Minas Gerais com uma verdadeira aula sobre o uso da internet numa campanha eleitoral. Soube interagir no Twitter, participou de um videochat online interligado ao programa de TV e contou com irreverentes e inovadoras formas de sites, blogs e mídias sociais. A juventude pode contar com um candidato que participou de inúmeros debates em escolas e faculdades, todos eles transmitidos ao vivo na web pela primeira vez no Brasil.
Ana Lúcia Gazzola Secretária de Desenvolvimento Social do Governo de Minas Gerais
Presença Anastasia realmente é uma pessoa habilidosa, que sabe o tom das palavras, sabe articular. Ele tem presença e conhece o que está a sua volta, sabe identificar o que é importante dentro de uma decisão política. Eduardo Barbosa Deputado federal pelo PSDB
Adriano Henrique Fontoura de Faria Presidente da Juventude do PSDB
Gabriel Azevedo Subsecretário da Juventude do Governo do Estado de Minas Gerais
capítulo II
a parceria com aécio convocação e missão choque na ineficiência desafio da segurança vice-governador para resultados
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O ano de 2002 foi um marco na carreira de Antonio Anastasia e na história política de Minas Gerais. Ali germinou o que seria sua frutífera parceria com Aécio Neves, e levantaram-se as bandeiras que iriam sinalizar ao Brasil a criação de um novo modelo de governo. O PSDB havia lançado a candidatura do neto de Tancredo Neves ao Governo de Minas e ele não pretendia investir na disputa apenas o lastro do sobrenome famoso. Aécio ansiava por dividir com os mineiros o sonho de uma gestão pública ousada e inovadora, que transformasse a vida dos cidadãos e permitisse ao estado retomar sua influência nacional. Anastasia vivia, então, sua primeira – e única – pausa na carreira de servidor público iniciada em 1984. Havia pouco mais de um ano e meio que ele encerrara uma passagem de seis anos por Brasília (Leia mais no capítulo “Servidor público”, página 158)] e retornara a Belo Horizonte. Na capital mineira, voltara a advogar e dar aulas na Faculdade de Direito da UFMG. O interregno foi interrompido por Aécio, que o convidou para coordenar a elaboração de seu plano de governo. Aceito o convite, foi deflagrado o processo que levaria Anastasia de volta à administração pública, mas em um novo patamar e com consequências insuspeitas naquele momento. Do plano de
governo ele foi chamado a coordenar a equipe de transição e, em seguida, convocado para assumir a Secretaria de Planejamento da gestão que se iniciaria no ano seguinte. Aécio e Anastasia encontraram a casa por arrumar. Havia um deficit orçamentário da ordem de R$ 2,3 bilhões previsto para 2003 e a máquina pública se achava praticamente paralisada. Encarava-se o resultado de um processo que se desenrolara por uma década e, até então, se revelava imune a todas as tentativas empregadas para se recuperar a solvência das contas públicas. Problemas complexos costumam exigir soluções radicais. Aécio e Anastasia não se furtaram a enfrentá-los com medidas amargas – porém necessárias. Chamaram para si a responsabilidade de recusar a solução mais fácil e usual nesses momentos, que consiste em alardear “heranças malditas” e lançar medidas paliativas de coabitação com a crise. Aécio, como dito, desejava ousar e inovar na administração pública. Com os desafios que encontrou, viu-se compelido a aprofundar as mudanças. Nascia ali o Choque de Gestão, um conjunto de medidas que revolucionou a estrutura do Estado em todos os sentidos: conceitos, práticas, filosofias de trabalho, programas, políticas
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públicas, tudo foi alterado. Havia nesse conjunto ações muito duras e impopulares, que viriam pôr à prova a capacidade de gestores e servidores. Mas nele estava expresso também um enorme potencial de acerto e transformação Coube a Aécio e Anastasia parcela generosa de enfrentamentos e desgastes. O governador assumiria o pesado ônus político de adotar medidas impopulares e restritivas que adiavam o atendimento a desejos e demandas da sociedade civil e das forças políticas. Seu secretário de Planejamento estava incumbido de coordenar a implantação dessas ações e negociá-las com o Parlamento e os diversos atores que tocavam o cotidiano do governo. E ambos trataram de se cercar dos melhores quadros disponíveis para encarar a dificílima missão que defrontavam. O foco inicial recaiu sobre o maior problema, o deficit gigantesco nas contas públicas. Sem resolvê-lo, toda a máquina permaneceria inerte e todo o programa de governo seria letra morta. O Estado não dispunha de recursos e nem capacidade de contrair mais endividamento, restando a opção de cortar custos, contingenciar verbas e conter despesas. Foi emblemática a supressão de cerca de 3.000 cargos em comissão, que poderiam ser ocupados sem concurso público. Isso significava que Aécio
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abrira mão de assinar três milhares de nomeações em diversos escalões, frustrando expectativas de aliados e se obrigando a operar com quadros de pessoal mais enxutos. O ônus, porém, tornou-se bônus muito antes do que se esperava. Em menos de dois anos, a redução de custos e o aumento de receita delinearam curvas convergentes que foram desaguar no Deficit Zero. Em outras palavras, o nó fiscal que imobilizava o Estado foi desatado e Aécio podia, enfim, vislumbrar um futuro de realizações inéditas em Minas Gerais. Dali para frente, os programas foram colocados em ordem de marcha, mas sempre sob o signo da austeridade e da responsabilidade fiscal, sem o que o esforço dos dois primeiros anos seria desperdiçado. O Choque de Gestão continuou a balizar as ações do governo e sua segunda geração, o Estado para Resultados, foi apresentada aos mineiros na campanha de reeleição de Aécio, em 2006. O sucesso do Choque de Gestão permitiu que o estado se reerguesse, voltasse a crescer e abriu o horizonte para um repertório de avanços sociais. Aécio reconduziu Minas Gerais ao protagonismo que lhe era devido e se projetou como liderança nacional, agregando o perfil de gestor moderno e renovador à perspectiva do estadista.
Anastasia, por sua vez, conduziu-se por caminhos inauditos. Teve, pela primeira vez, a oportunidade de exercitar plenamente sua capacidade de gestor público e negociador. O talento que se manifestara em sua carreira de servidor floresceu e ganhou novos contornos advindos da convivência com Aécio. Ao aceitar aquele convite para coordenador do plano de governo, ele certamente não imaginava que adentrava, ali, a trilha que o levaria a ser governador de Minas Gerais. Mas não antes de se ver duramente testado à frente de mais uma secretaria – a de Defesa Social – com um trabalho monumental a ser feito. Bem-sucedido, credencia-se, perante o governador, a galgar um degrau superior na condução dos negócios do Estado.
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Convocação e missão Junho de 2002 era o 18º mês de uma nova vida para Antonio Anastasia. Depois de seis anos morando em Brasília, exposto ao clima seco e à torrente de demandas e pressões que convergiam para os dois ministérios aos quais emprestou sua competência, ele retornara a Belo Horizonte. Pela primeira vez desde que começara a trabalhar, estava fora do serviço público e se dedicava a seu recém-montado escritório de advocacia. Voltara também a lecionar Direito Administrativo na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. “Ao final de 2000, eu tive um problema de saúde um pouco grave e teria que fazer uma cirurgia. Já exaurido com Brasília, falei: vou voltar para Belo Horizonte”, rememora Anastasia. Os anos de dedicação ao serviço público não lhe renderam muitos recursos – “nem casa própria eu tinha”– e seus planos incluíam cuidar da saúde e adquirir um apartamento. “Voltei a Belo Horizonte no réveillon daquele ano. Fui operado no dia 7 ou 8 de janeiro e, em seguida, voltei à faculdade, montei um escritório e comecei a advogar. Tinha já um certo nome, porque ocupei cargos, fui professor a vida inteira, então tive, felizmente, uma boa clientela, sempre de consultoria. Nunca advoguei no tribunal”, conta o governador. Numa sexta-feira à noite de junho o telefone to-
cou. Era Andrea Neves, irmã de Aécio, amiga próxima desde que os dois foram secretáriosadjuntos do Governo Hélio Garcia, ela da Cultura, ele do Planejamento. Ao lado dela estava o publicitário Paulo Vasconcelos, que lembra bem daquele momento: “Eu havia sido convidado para estruturar a campanha do Aécio e estávamos num restaurante na rua Paraíba com Getúlio Vargas (endereço no bairro Savassi, em Belo Horizonte). Lá, a Andrea me pede para ligar para o Anastasia, porque ela não tinha o número naquele momento”, relata. Naqueles dias, o PSDB havia avançado nas articulações para a composição da chapa majoritária e Aécio estava praticamente confirmado como candidato a governador. Ao atender o telefonema, Anastasia abria a porta para uma nova guinada na vida. “Andrea me convidou para conversar com o então presidente da Câmara, Aécio Neves, para ver se eu tinha interesse em coordenar o programa de governo de sua eventual candidatura a governador de Minas”, revela o professor. Aquela ligação reacendeu a chama na alma do servidor público, que, na verdade, nunca se apagara. A explicação para isso é sincera e cristalina: “Aí que é a chamada vocação, né? Estava bem na
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A parceria entre Aécio e Anastasia foi muito feliz, uma dádiva do céu. Eles projetaram Minas como o estado mais bem governado da 110 Federação. Charles Lotfi Presidente da Associação Comercial de Minas – ACMINAS
advocacia, satisfeito, mas a vocação do serviço público, da família, da minha história, o gosto pelo serviço público me despertou, e aceitei o convite do deputado Aécio Neves”, lembra o governador. Em seguida, foi marcado um almoço para a formalização do convite. Paulo Vasconcelos, mais uma vez presente, revela os bastidores: “Estávamos lá, eu discutindo minhas coisas de marketing político, ele sendo convidado para elaborar o plano de governo. Ali ele recebe um telefonema do Aécio, que diz ao Anastasia que, se ganhasse a eleição, gostaria que ele fizesse mais do que o plano de governo”. Naquele momento o advogado Antonio Anastasia já podia antever que o chamamento a sua vocação iria além do previsto e, segundo Vasconcelos, reagiu com o bom humor habitual. “Ele disse mais ou menos assim”, relata o publicitário, puxa vida, tem um ano e meio que eu estou fora do ambiente público e consegui comprar um carro e um apartamento. Já vi que vou me dar mal de novo, já estou vendo tudo”, brincou. Além do chamamento à vocação, o presidente do PSDB-MG e secretário de Estado de Ciência e Tecnologia adiciona outro ingrediente que ajuda a e entender a aceitação do convite. “Eu acho que foi um ato de sedução”, concebe Narcio Rodrigues. “O Aécio exerce um fascínio incrível.
Ele nos traz a possibilidade de participar de um processo, mais do que político, histórico. Nós nos sentimos seduzidos em estar próximo dele por esse pensamento de que, ao fazer isso, nós seremos agentes da história”, explica. “Acho que o Anastasia também percebeu isso com clareza, que o Aécio era a semente de um futuro que Minas almejava há muito tempo e que poderia brotar a partir da incorporação a um grupo que desse materialidade a esse sonho”, prossegue Narcio, se estendendo sobre o que a conjuntura desenhava: “Quando vi o Aécio pescar o Anastasia para a estratégia efetiva de governo, já que a política ele sabia fazer, pensei que ele estava escolhendo o caminho da modernidade na forma de governar. Era uma escolha muito sedutora, porque representava dar forma às intenções políticas de fazer um grande governo, e acho que foi isso que o Anastasia vislumbrou”. De fato, Aécio conta que, ao se decidir pela candidatura, em 2002, sabia que precisava fazer algo inovador. Para isso, tinha que encontrar alguém que coubesse em suas expectativas. “Foi aí que me lembrei daquele jovem de origem mineira e que poderia se encaixar no perfil que eu buscava: capacidade de conciliação, conhecimento profundo do setor público e, sobretudo, capacidade de ousar e de enfrentar desafios”, conta o senador.
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É bem provável que o convite de Aécio tenha, realmente, se mostrado irresistível pela possibilidade aberta de se fazer mais, de se ir além dos limites da burocracia. “Anastasia é um servidor público e todo servidor se sente provocado pela oportunidade”, aduz Narcio. E é verdade que, ainda como candidato, o neto de Tancredo já defendia uma máquina pública mais eficiente e voltada para o cidadão, o que soava como música aos ouvidos de um funcionário de carreira dedicado e eficaz como Anastasia. “Aécio sempre partiu do princípio de que nós não podíamos imaginar que o setor público fosse sempre sinônimo de ineficiência, mas o contrário. No Brasil sempre tivemos eficientes ilhas no serviço público, só que por exceção. Nós tínhamos que transformar exceção em regra”, comenta o governador. Anastasia vislumbrava, por certo, um governo de cara nova. “Essa era nossa proposta”, ele conta. “O Estado atravessava um problema delicado, que não era privativo de Minas. Então, já percebíamos que deveríamos fazer processos inovadores. Levei ao Aécio a possibilidade de inovarmos e ele foi muito receptivo e empreendedor. Imediatamente, nos deu todo o estímulo e assumiu a bandeira de ser o grande líder desse processo”, agrega. Ali, o candidato revelava total confiança em seu
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Mérito e competência Nós tínhamos, por princípio, que a questão de gestão não era relevante num processo político. A gestão pública nunca havia entrado na agenda dos políticos. A presença do Professor Anastasia é uma quebra de paradigma. Mostra que hoje a questão do mérito, da gestão e da competência tem que estar presente. A partir do governo de Aécio, Minas oferece ao Brasil um novo modelo. Eliana Piola Presidente do PSDB Mulher em Minas Gerais
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O Brasil precisa de servidores públicos como Anastasia. Poucas pessoas conhecem tanto de gestão pública. Vejo uma grande liderança nacional. Zé Maia Deputado estadual pelo PSDB
formulador, como afiança o secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro: “A coisa que me chamou a atenção à época foi o decisivo apoio do governador, que acreditou desde a primeira hora no projeto dele. Aécio acompanhou muito de perto todas as ações, mas deu total liberdade a ele para conduzir o plano, teve muita confiança no que foi exposto pelo Anastasia”.
Missão cumprida, nova missão Da primeira tarefa, coordenar a elaboração do plano de governo do candidato Aécio Neves, resultou um livro de 172 páginas, dividido em cinco capítulos e intitulado Prosperidade – a face humana do desenvolvimento. Na apresentação, publicada nas orelhas da obra, o coordenador expõe os critérios que nortearam seu trabalho: “Foi com grande orgulho que recebi o convite do deputado Aécio Neves para coordenar a elaboração de seu plano de governo. (...) Uma vez aceito o convite, que muito me honrou, o nosso candidato ao Governo de Minas Gerais transmitiu-me a concepção do programa que gostaria de implementar no Estado: uma política firme de desenvolvimento, que permita a valorização do homem e a geração de empregos de qualidade para os mineiros, inaugurando um tempo de esperança e otimismo no Estado. A esta visão
somou-se a compreensão de que Minas tem de ser líder nos temas da agenda nacional, e de que o Estado atravessa um momento de dificuldades, a ensejar um programa de qualidade para o setor público, inovador e vigoroso, sob a ideia de um choque de gestão”. O que mais chama a atenção é que desse volume já constavam programas e metas que se tornaram realidade. O programa de governo não foi apenas uma peça publicitária, como costumam ser muitos programas, mas uma carta de compromissos entregue ao eleitor e cumprida durante o mandato. Estavam traçadas ali as linhas e metas dos programas de recuperação e manutenção das rodovias estaduais, a integração das forças de segurança, o ensino fundamental com nove anos de duração, entre tantos outros. “O programa de governo da campanha era para valer. Não era só um livrinho para mostrar no debate da TV e engavetar depois”, concorda o deputado estadual Marcus Pestana. Como secretário da Saúde de Aécio, os programas que desenvolveu em sua pasta eram previstos no “livrinho” da campanha. “Estava lá que o Estado faria um programa de combate à mortalidade infantil e materna, e o Viva Vida é uma realidade”, exemplifica Pestana. Mais importante, o plano de governo já trazia a concepção da profunda reforma administrativa
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que seria feita sob as primeiras luzes do governo. Sem ela, talvez, aí sim, o “livrinho” pudesse ser engavetado, e o Estado se limitasse a administrar a escassez. O cientista político Luis Aureliano Gama de Andrade, que trabalhou com Anastasia na elaboração do programa, ressalta que ele tinha absoluta clareza dessa necessidade, numa visão compartilhada com os demais técnicos. “Em todos os anos de inflação, anos de política anterior, nada se avançou para modernizar as estruturas do Estado”, observa Aureliano. “Com a queda da inflação, aquilo criou um quadro novo que tornava muito visível a ineficiência. Precisava haver uma reforma do Estado, precisava haver uma mudança. A ideia de que era preciso recuperar as finanças e, ao mesmo tempo, recuperar a máquina pública e retomar o planejamento já estava delineada lá (no plano)”, aponta. Cumprida a missão inicial de diagnosticar problemas e programas que os solucionassem, Anastasia recebeu e aceitou novo convite, dessa vez para coordenar a comissão de transição, responsável por coletar dados, aprofundar o conhecimento sobre a estrutura e situação do Estado,
bem como negociar questões jurídicas e administrativas necessárias ao início do novo governo. Tão logo se confirmou a eleição de Aécio Neves, Anastasia se debruçou sobre a questão da reforma. “A eleição foi em outubro e, em novembro, eu liguei para o professor [Vicente] Falconi [especialista em gestão], conversamos e o levamos ao Aécio e ele deu algumas ideias. Aí se iniciou o processo de modernização do Estado, de reforma. Criou-se um governo muito inovador, introduzindo uma nova cultura gerencial da administração pública, vocacionada a resultados e a levar melhorias de maneira objetiva às pessoas”, conta Anastasia, que nesse processo foi convocado – e se apresentou – para ser o secretário de Planejamento e Gestão do novo governo e coordenar a implantação das ideias do plano que tinha elaborado. Nascia, assim, o Choque de Gestão, filho dileto da vontade política, da liderança e da visão de estadista de Aécio, com a capacidade gerencial, o dinamismo e o profundo conhecimento de Anastasia sobre o setor público.
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O Aécio deu oportunidade ao Anastasia e vice-versa. Ambos deram uma oportunidade a Minas Gerais.
Luiz Henrique Deputado estadual pelo PSDB
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Choque na ineficiência
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Antonio Anastasia assumia pela primeira vez papel central em um governo ao se tornar secretário de Planejamento e responsável pela implantação do Choque de Gestão. Depositário da confiança do governador Aécio Neves, recebia naquele momento a delegação que representava a maior oportunidade de sua carreira e também a maior responsabilidade. A ousadia da reforma que se anunciava era tamanha e comprometia de tal forma a administração que começava, que a margem para erros era praticamente nula. O encolhimento da máquina, o impacto inicial das medidas sobre os servidores e a renúncia às realizações, em favor de uma aposta na arrumação da casa, representariam um custo político insuportável para o governador caso algo desse errado. Por outro lado, o deficit orçamentário de R$ 2,3 bilhões previsto para o ano seguinte – um rombo que só tendia a se aprofundar – não poderia ser resolvido apenas com palavras e boas intenções. O Estado se encontrava em situação de insolvência, não tinha acesso a linhas de crédito nacionais ou internacionais, devia aos fornecedores e mal dava conta de honrar o custeio da máquina. Investimentos, então, nem pensar. Aécio poderia optar por administrar a escassez ou atacar o
problema com todas as armas. E foi esta opção escolhida. “Nós não tínhamos muita alternativa”, resume o governador Anastasia, ao recompor o quadro que se contemplava: “Foi um momento de choque de gestão, da redução dos gastos do Estado, da inovação da receita, das negociações internacionais. Então, de fato, se deu espaço ali à criatividade. O governador Aécio, com grande articulação política e grande reconhecimento e confiança da população, foi o líder imprescindível para que o processo avançasse. Toda uma grande equipe se constituiu no campo político e no campo técnico para dar o suporte para que esse processo acontecesse. Todas as votações na Assembleia, toda a reforma da Constituição mineira, as modificações nos processos, a criação de paradigmas de remuneração variável, que até então era espécie de um tabu e um dogma no serviço público – ninguém podia receber diferente – tudo isso foi quebrado naquele momento”. O conceito que norteou toda a concepção da gestão de Aécio foi “gastar menos com a máquina pública e mais com o cidadão”. E o objetivo, “transformar Minas Gerais no melhor estado para se viver e investir”. Para tornar estes slogans
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realidade, era preciso mexer profundamente nas estruturas do governo, principalmente em três pilares. A reorganização do Estado trataria de promover o enxugamento da máquina – com consequente redução de custos – e estabelecer um ordenamento matricial para a tomada de decisões, acompanhamento e avaliação das ações. A recuperação da capacidade de planejamento conferiria organicidade aos programas e estabeleceria metas. Por fim, a adoção da meritocracia, dos acordos de resultados e de benefícios por avaliação de desempenho seria responsável por envolver e mobilizar os servidores em torno das mudanças, além de dar consistência às metas. O Choque de Gestão era o arcabouço, a ideiaforça sob a qual se abrigariam todas as medidas administrativas, de reordenamento do Estado, programas e projetos. Tudo o que veio depois também se abriga sob este guarda-chuva, como explica o governador Anastasia: “Choque de Gestão é o nome completo de todo o grande movimento de gerenciamento moderno da administração. Na sua primeira fase, foi o Choque de Gestão stricto sensu, pôr a casa em ordem. Na segunda fase, o Estado para Resultados”. Então era fundamental – e ainda hoje é – dis-
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A competência de Anastasia nos dois governos de Aécio mostra que ele é uma das maiores lideranças em Minas e das melhores cabeças pensantes do Brasil. Dilzon Melo Deputado estadual pelo PTB
seminar a percepção de que toda a ação do governo estava inter-relacionada, era concatenada e representava o início de um processo, não um fim em si mesma. Os órgãos públicos seriam instados pelo modelo de planejamento a promover uma gestão compartilhada, com diversas metas e programas em comum. Uma operação estanque, com competências isoladas das diversas secretarias, seria trocada por uma organização sistêmica, com integração das competências. Em resumo, todos teriam que trabalhar em conjunto pelo cumprimento dos objetivos maiores. A implantação de todos esses mecanismos e conceitos deveria ser iniciada logo após a posse, com o desafio extra de fazê-lo em um momento de apatia no governo, com servidores desestimulados por anos de impossibilidades e esforços constantes, porém frustrados, de superar o desequilíbrio fiscal e retomar a indução do desenvolvimento econômico e social de Minas. Em grandes pinceladas, sem os inúmeros detalhes que permeavam essas mudanças, esse era o desafio que esperava por Anastasia. As respostas vieram em alto e bom tom para não permitir qualquer margem de dúvida sobre a natureza da mudança. Além da já citada extinção de 3.000 cargos em comissão, Aécio mostrou que o exemplo viria de cima e cortou o próprio salário em 45%, e reduziu também os vencimen-
tos dos secretários. As dívidas com os fornecedores foram renegociadas e pagas dentro do que era possível. O número de Secretarias de Estado foi reduzido de 21 para 15, mediante a fusão das pastas. A folha de pagamentos foi colocada sob responsabilidade da Secretaria de Planejamento e Gestão, como forma de se garantir maior controle e evitar fraudes. Foram criadas auditorias setoriais para estabelecer controle dos gastos e dar transparência às ações, enquanto um decreto impunha rigoroso controle das despesas. A primeira providência a ser tomada era assegurar o arcabouço jurídico que sustentaria a reforma administrativa. Já aí, no alvorecer do novo governo, o talento de Anastasia sobressaiu em dois aspectos cruciais. Optou-se por sistematizar as medidas necessárias à reforma em um conjunto de leis de autoria do Executivo. Portanto, era necessário negociar com a Assembleia Legislativa a delegação para tal empreendimento, prazos e limites, além de preparar toda a legislação cabível. Tudo isso foi feito por Anastasia e sua equipe, em tempo recorde. “Fomos montar praticamente na véspera a estrutura que teria a nossa administração”, conta Renata Vilhena, então secretária-adjunta de Anastasia. Essa estrutura previa mudanças como a fusão da Secretaria de Recursos Humanos e Administração com a Secretaria de Planejamen-
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to – gênese da atual Secretaria de Planejamento e Gestão – alterações de competências e no regime dos servidores. “Nós nos sentamos e, aí, houve uma criação coletiva. Quando eu olho para trás, não consigo acreditar que conseguimos fazer tudo em tão pouco tempo, em um mês fazer toda a reforma administrativa e as leis delegadas”, confessa a titular da Seplag em 2011. Orientado pelo governador Aécio Neves, Anastasia fez questão de que tudo fosse bem discutido com sindicatos e o Parlamento. O vice-governador Alberto Pinto Coelho, então deputado estadual, ressalta a disposição que o secretário demonstrou à época para ouvir e negociar, de maneira que o Legislativo participasse de fato da construção dos projetos. Isto fez com que a legislação fosse aprovada sempre pela unanimidade dos deputados presentes ao plenário, havendo apenas uma dissensão por razões ideológicas. Nesse processo, Anastasia se dispôs a ir à Assembleia quantas vezes fosse necessário. O deputado estadual Dalmo Ribeiro, então presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia, fez um desses convites ao secretário. “Ele fez essa apresentação [da reforma que se propunha] e não foi uma vez só. Lembro-me de que essa audiência foi tão importante que outras comissões também tiveram a mesma iniciativa de trazê-lo à Casa”, conta. “Então, ele esteve aqui
mais duas, três vezes, demonstrando seu conhecimento. E todas as vezes em que ele voltava, participava aos parlamentares de que aquele era o melhor sistema, o melhor programa”, relembra. O processo foi testemunhado também pelo deputado federal Domingos Sávio, à época presidente da Comissão de Administração Pública do Parlamento estadual. Na votação da reforma administrativa e depois, na discussão de medidas complementares do Choque de Gestão, ele participou de diversos debates e audiências públicas e se lembra de que as discussões eram muito intensas, inclusive com tentativas da oposição de desqualificar o projeto e o programa de governo. Nesses debates, conta o parlamentar tucano, já se percebia a proverbial capacidade de convencimento de Anastasia: “O professor, sempre com calma e respeito, respondia a todas as perguntas e, mais que isso, convencia, literalmente. Só não convencia aqueles que não queriam ouvir”. Eram “exposições com muita clareza e didática”, confirma o deputado estadual Zé Maia. Superada essa fase, era hora de iniciar as transformações. Boa parte das novidades, incluindo avaliação de desempenho e prêmio de produtividade, já existia conceitualmente na Constituição Federal e no Plano Diretor da Reforma do Estado. “O que nós fizemos aqui foi implementar o que o Governo Federal não fez. Precisaria de
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uma liderança muito forte, como a tivemos aqui com o governador Aécio e Anastasia, para conduzir tudo aquilo”, explica Renata Vilhena. Liderança é palavra-chave para se compreender o êxito do Choque de Gestão. Aécio ergueu a bandeira da modernização do Estado e a sustentou no alto, com tenacidade. Dizia então – segundo cita Tadeu Barreto, diretor-presidente do Escritório de Prioridades Estratégicas do atual governo – que não havia deixado de ser líder no Congresso Nacional para se tornar “um governador qualquer”. A ambição de conduzir uma gestão marcante não se bastou no discurso. E ele assumiu por completo a missão de comandar um processo de transformação com óbvios riscos para sua carreira. Entre todos os aspectos dessa liderança, dois estão presentes na maioria dos depoimentos daqueles que viveram aqueles dias. Um é a composição da equipe e a confiança em seus auxiliares. Aécio buscou os melhores quadros disponíveis para ocupar posições-chave, distribuiu metas, deu a eles autonomia e cobrou os resultados. Delegou a cada um a tarefa de sua competência e deixou claro que o governo seria construído em conjunto. “Aécio é um extraordinário garimpeiro de talentos, que sabe colocar as pessoas na hora certa, no lugar certo e dizer, olha, essa pessoa vai
se revelar”, atesta Narcio Rodrigues. O outro aspecto citado, talvez mais importante, é que o governador assegurou o respaldo político ao trabalho de sua equipe. Não havia um discurso para fora e outro para dentro, as prioridades não variavam ao sabor das pressões. “O Aécio deixou bem claro, naquela época, que ele não hesitaria em tomar medidas impopulares, mas necessárias, para sanear as finanças do Estado. Isso foi um grande elemento”, aponta Luis Aureliano. “Políticos são avaliados eleitoralmente, governam e são penalizados pelo que fazem ou deixam de fazer. Tomar medidas impopulares em favor de políticas que vão dar frutos a médio e longo prazos é um mérito, um grande mérito”, completa o cientista político. E isso foi feito sem deixar de ouvir as forças privadas e públicas da sociedade, negociar e construir caminhos. Havia a flexibilidade necessária à política, mas não se flexibilizavam princípios. Com esse respaldo, coube a Anastasia liderar o processo. Ele participou da montagem da equipe junto com Aécio. Foi ele, por exemplo, quem indicou Fuad Jorge Noman Filho, hoje presidente da Gasmig, para a Secretaria da Fazenda. “Encontrei-o no aeroporto e ele me contou que estava trabalhando na equipe de transição”, relembra Noman:
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“Na segunda quinzena de dezembro de 2002, ele me liga e diz que o governador queria me conhecer. Perguntei quando e ele disse: Hoje. Eu estava no Rio, em um evento da minha empresa, cancelei alguns compromissos e cheguei a Belo Horizonte de tardinha. Fomos à casa do Aécio, conversamos alguns minutos e ele me disse: Você vai vir como secretário da Fazenda. Ele já tinha muita informação sobre mim e, depois, me confidenciou que havia sido uma indicação do Anastasia”. A despeito da participação na formação da equipe, o papel principal de Anastasia foi mesmo coordená-la, em um sentido amplo da palavra. Internamente, era ele quem discutia o planejamento e cuidava da interação entre secretarias e órgãos que desenvolviam programas em comum, tinham metas com algum tipo de transversalidade ou uma dependência mútua para a consecução de seus objetivos. Numa metáfora simples, era como se o governador cuidasse do público e empenhasse suas convicções aos mineiros, enquanto seu secretário preparava o espetáculo, atuando por detrás das cortinas. Anastasia demonstrou capacidade de mobilização e de convencimento para cuidar dessa concertação interna, no que foi apoiado pela disposição da equipe de realizar o projeto. “Ele era uma pessoa que tinha toda a credibilidade e todas as condições de levar adiante aquilo que estava fa-
lando”, avalia Fuad Noman. “Tínhamos tantas dificuldades que, se nós não estivéssemos ali de mãos dadas, com certeza não conseguiríamos fazer. Não fosse essa cooperação, essa integração que nós tínhamos, tenho certeza de que não conseguiríamos viabilizar o que foi feito. Era o governador Aécio com aquela maestria de liderança e nós, com muito trabalho, caminhando”, repõe. O presidente da Usiminas, Wilson Brumer, que assumira a pasta do Desenvolvimento Econômico, revela que, nas duas primeiras reuniões com Anastasia, o deficit público era assunto único. Ele se lembra de ter perguntado aos secretários Agostinho Patrus (Transportes e Obras Públicas) e José Carlos de Carvalho (Meio Ambiente) se eles queriam discutir deficit por quatro anos, se aquilo era bom para a pasta que ocupavam e para a carreira deles. As respostas, claro, foram negativas. “Eu tomei a palavra e disse que aquilo de deficit não era problema deles – de Anastasia e Fuad – mas que tinha que ser encarado por todos nós que compúnhamos a equipe e que trabalhássemos para que o objetivo comum fosse alcançado, que era acabar com aquele problema”, relata o executivo. “Houve por parte do Anastasia e do Fuad uma enorme compreensão de que o trabalho de equipe é que levaria à solução”, assegura Brumer, que
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se estende na definição do perfil do governador: “E isso é uma clara demonstração de que o Anastasia não é do tipo que quer deter o poder pelo poder, mas que sabe trabalhar em grupo e motivar a equipe, sem perder a característica de ser a pessoa que coordena e que chama a atenção para os pontos que devem ser melhorados”. Nesse período, a disponibilidade de Anastasia para conversar e objetividade para encontrar soluções e dar respostas já chamava a atenção da equipe. “Quando tinha alguma dúvida, não tinha nenhum constrangimento em procurá-lo, e as respostas e as sugestões dele nos davam muita segurança para tomar as decisões dentro das normas e da legalidade”, testemunha Brumer. “Foi um momento muito atribulado e recorríamos sempre a ele, que nunca deixou de dar um retorno, atender uma ligação, dar orientações naquele momento. Ele foi muito presente e sempre com respostas imediatas às questões administrativas sérias que vivíamos”, comenta o deputado estadual João Leite, que era secretário de Desenvolvimento Social na época. À parte o cotidiano do início da administração, o “estica e puxa” de fazer o governo funcionar e combater o deficit, Anastasia cuidou da elaboração do planejamento estratégico de forma a realizar o que estava previsto no programa de
governo, em sintonia com Aécio e toda a equipe do secretariado. Adotou-se o duplo planejamento – grosso modo, planejar para o presente (como funcionar hoje) ao mesmo tempo em que se definem estratégias para atingir uma visão de futuro – e foram definidos os mecanismos de acompanhamento e os critérios de premiação da meritocracia implantada no governo. Esse processo foi conduzido com objetividade e velocidade ímpares. Dentro de sua secretaria, Anastasia repetia o mesmo método: mobilizava a equipe, ouvia, colocava e cobrava metas. As respostas, como sempre, eram rápidas. “Ele me perguntou: Tadeu, o que você precisa para começar o planejamento? Eu respondi que precisava de uma sala, quatro computadores, umas duas reuniões por ano com o governador, e uma reunião dali a uma semana para começar”, conta Tadeu Barreto, à época subsecretário da pasta e responsável por sugerir – e aprovar – a adoção do duplo planejamento. A sala e os computadores foram conseguidos com a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais – Codemig. “A situação do Tesouro era tão ruim que [os equipamentos] tinham que ser emprestados”, comenta Barreto. “Aí, ele voltou de uma reunião com o governador Aécio, marcando nosso encontro para o dia 18 de fevereiro
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O Choque de Gestão foi uma decisão de risco. Dependia muito dos resultados, e eles vieram não só em finanças, mas na forma de administrar.
Rafael Guerra Diretor de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
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[de 2003], houve a conversa e começou o planejamento, com a gente na correria. Começamos a rodar o planejamento e ele, com muita confiança, mas cobrando ao mesmo tempo”, relembra Barreto. Ele continua: “A reunião da Seplag era toda segunda-feira, às 9 horas da manhã. Sentávamos eu, a Renata Vilhena, o Rodrigo (de Castro, chefe de Gabinete), umas cinco pessoas. Despachávamos as questões da semana e ele rodava essas questões sistematicamente, puxando ponto por ponto. Ele sempre gostou de gestão, na verdade”. Desse trabalho nasceu a grande peça de planejamento do Governo Aécio. Os programas e ações foram agrupados dentro dos chamados projetos estruturadores. Cada um deles tinha seu escopo, competências, metas e gestor identificados. Estava traçado também o caminho a ser seguido para a consecução das metas, bem como a definição dos órgãos que participavam de cada projeto. A gama de projetos estruturadores elevava o planejamento do Estado a um novo patamar, mais transparente, sistêmico e esclarecedor. Foram desenvolvidos também o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI e o Plano Plurianual de Ação Governamental – PPAG, conforme previsto na Constituição do Estado. O primeiro é um instrumento que enceta um planejamento de longo prazo, com horizonte de 20 anos, e expressa o conceito “Tornar Minas Gerais
o melhor estado para se viver”. O PPAG é derivado do PMDI e traz um planejamento de médio prazo, com horizonte de quatro anos. Ambos os instrumentos devem ser aprovados pelo Legislativo e asseguram o acompanhamento do planejamento e sua execução. Os dois primeiros anos de implantação do Choque de Gestão foram uma época de se dizer muito não e de obter muito sim. Era preciso fechar a torneira, negar qualquer demanda que representasse aumento de custo ou desvios com relação aos objetivos. E, ao mesmo tempo, era importante que os diversos atores da sociedade compreendessem e avalizassem o que estava sendo feito. Dos servidores públicos, por sua vez, esperava-se o envolvimento com o processo, sem o que não seria possível atingir a necessária capilaridade de conceitos e metas. Isso deveria ser feito pelo convencimento. Pela imposição, não daria certo. “Nós tínhamos clareza estratégica, um programa de governo, mas digo que nos dois primeiros anos eu gastava mesmo era saliva”, conta o deputado Marcus Pestana, então secretário de Saúde. Com recursos apenas para manter o sistema em funcionamento, projetos novos e demandas por investimentos eram tratados na conversa. “O que eu podia fazer era mobilizar as vontades, socializar o diagnóstico e as propostas para criar solidariedade com essas metas”, agrega o parlamentar.
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A maior parte das negativas, porém, não caíam nos ombros apenas dos secretários. Além da “parede” formada por Aécio, um dos mecanismos de gestão implantados por Anastasia foi a constituição da Câmara de Planejamento, Gestão e Finanças, na qual se reuniam os secretários da Fazenda, Planejamento e Governo, além dos titulares da Advocacia Geral e da Auditoria Geral do Estado. Anastasia estava ali na condição de condutor do Choque de Gestão, mas o poder era compartilhado, juntamente com os problemas. E, com isso, essa câmara acabou por se tornar o principal ponto de amortecimento das pressões. Em última análise, o órgão era a “autoridade” que dizia não para as demandas por investimentos, os pedidos de verbas, de liberação de emendas. Se a pressão subia, bastava se dizer “quem decide é a Câmara” ou “a Câmara não deixa”. Era um não “institucional”, como define Tadeu Barreto. Nessa fase difícil, mas muito profícua, lançaram-se as bases para o sucesso do Choque de Gestão. As razões para a superação das dificuldades iniciais e para o êxito posterior são bem descritas por Tadeu Barreto, em uma lista de quatro fatores: “Em primeiro lugar, a liderança do governador Aécio. Depois, a composição do grupo (equipe) com pessoas que conhecem o ofício. Aí entra a própria crise. Estávamos quebrados e isso ajudou o processo de mudança, porque o sapo pula é por precisão, não por boniteza. Por fim, a liderança e o conhecimento do Professor Anastasia”.
“
Aula apaziguadora Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia, fiz a Anastasia um convite para debater as ações do Choque de Gestão. Ele veio até esta Casa e nos deu uma verdadeira aula sobre o que viria a ser esse novo momento administrativo do Governo de Minas. Muitos questionamentos foram feitos, mas ele, com sabedoria ímpar, profundo conhecedor da matéria, nos deu uma tranquilidade imensa. Dalmo Ribeiro Deputado estadual pelo PSDB
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Choque de Gestão em números
Evolução de ind
SAÚDE
R$ 470 milhões 17% 130 para modernização hospitalar
Queda de
na mortalidade infantil entre 2003 e 2008
Cesta de remédios gratuitos passou de 43 para
itens
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EDUCAÇÃO
SEGURANÇA
1º
estado a adotar ensino fundamental de 9 anos
73% 100%
Alunos lendo e escrevendo aos 8 anos saltou de 49% para
entre 2006 e 2009
Aquisição de mobiliário para
das escolas
36% 23% 50 mil 84% Redução de
na criminalidade violenta
Aumento de
no efetivo de segurança
jovens de 18 a 24 anos atendidos pelo Fica Vivo
mais viaturas
a parceria com aécio
icadores do Governo Aécio e Anastasia entre 2003 e 2010 DESENVOLVIMENTO SOCIAL
21.586 91,8 mil 30 mil
moradias para famílias de baixa renda famílias beneficiadas por programa de geração de renda
alunos do ensino médio beneficiados pelo Poupança Jovem
Qualificação profissional de
23 mil
trabalhadores
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
5.453 km 13.600 km
de estradas vicinais pavimentadas pelo Proacesso
Recuperação de
MEIO AMBIENTE
Construção da
138 R$ 55 milhões 72,9% Criação de
Redução de
de rodovias estaduais
Linha Verde
em todo
Telefonia Celular o estado
Cobertura de
unidades de conservação para estudos de águas no Hidroex
no desmatamento da Mata Atlântica
Fonte: Aécio – os anos que mudaram Minas. Veja mais informações em www.aecio-neves-2003-2010.com.br
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Da impossibilidade à realização
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O esforço contínuo, o trabalho integrado, a liderança e a firmeza de promover toda essa transformação trouxeram a recompensa mais cedo do que se imaginava. Em 2004, menos de dois anos depois de implantado o Choque de Gestão, o governador Aécio Neves se dirigia aos mineiros para anunciar o Deficit Zero. As contas públicas estavam saneadas e, a partir dali, Minas passaria a viver uma era inédita de investimentos e realizações. Aécio, cujo sacrifício político viabilizou todo o processo, seria reconhecido como um estadista genuíno. O atual senador reparte os méritos e analisa o feito com o viés legado pela história: “Antonio Anastasia teve um papel extremamente estratégico em toda nossa ação de governo. Na concepção, na atração de quadros que nos ajudaram a implantar o Choque de Gestão. A sua presença foi absolutamente vital, sobretudo na concepção do ousado projeto e na coordenação das ações que levaram a sua implantação. A partir daí, foram evoluções que se seguiram. O Estado para Resultados só existe, na verdade, porque houve o Choque de Gestão e, a partir daí, o equilíbrio das contas públicas. Portanto, o Anastasia teve também a capacidade de agregar em torno da Secretaria de Planejamento, no início do go-
verno, quadros excepcionais que possibilitam a Minas ser hoje o benchmark, uma referência no que diz respeito à gestão pública no Brasil”. Os anúncios de crescimento econômico, avanços e conquistas sociais passaram a ser exercício rotineiro no Estado. Vários projetos foram postos em execução acelerada e, com os métodos de planejamento e controle instituídos por Anastasia, apresentaram resultados rapidamente. A forma como o processo foi conduzido e suas consequências acabaram por gerar um clima de confiança altamente positivo em Minas, facilitando tanto as negociações políticas quanto a atração de investimentos e o desenvolvimento econômico. “A primeira coisa que o governo de Aécio e Anastasia conseguiu colocar de novo no estado foi a confiança no governo. Onde há confiança, há desenvolvimento”, afirma Olavo Machado, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg. “[O Choque de Gestão] era o que todos nós empresários esperávamos. É saber o que fazer e como fazer. É ter coragem de fazer aquilo que é necessário. É saber que muitas vezes ele não será compreendido naquele primeiro momento, mas será valorizado num segundo. Foi isso que, tanto o governador Aécio, quanto o Anastasia tiveram a visão e a coragem de fazer”, elogia.
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Para os servidores do Estado, o Choque de Gestão foi impactante em vários aspectos, mas recompensador. Os salários, cujo pagamento obedecia a uma escala – com constantes atrasos – passaram a ser depositados no quinto dia útil de cada mês. Foi regularizado também o pagamento do 13º salário. Seriam meras obrigações não fosse o fato de o Estado, até pouco tempo antes, estar virtualmente insolvente. Junto com os servidores, também os fornecedores tiveram seus créditos regularizados. Ao passo que as conquistas iniciais eram comemoradas, havia ainda muito trabalho a ser feito. Anastasia mantinha um rigoroso acompanhamento das ações planejadas e da execução orçamentária. Não há exagero em dizer que ele sabia absolutamente tudo o que estava sendo feito, os cronogramas que estavam sendo cumpridos e onde havia atrasos, os projetos que deveriam ser alterados e ações que ainda deveriam ser tomadas. Ana Lúcia Gazolla, atual secretária de Educação e amiga de longa data, foi testemunha disso. Como reitora da UFMG, ela foi visitá-lo e se lembra de ter visto na parede um painel com todos os projetos da época. “Com amizade que já tínhamos, disse que não acreditava que ele soubesse aqui-
lo tudo. Então, de costas para o quadro, ele me mandou escolher algum”, conta. Assim ela fez, e se surpreendeu com o resultado: “Escolhi um deles, e ele sabia tudo que estava escrito, falando que o responsável era este, que o ponto de estrangulamento era tal, que as medidas que deveriam ser tomadas eram aquelas, que as metas eram estas. Aí eu falei que era sorte dele, que eu tinha escolhido um projeto que ele dominava”. Ana Lúcia repetiu o teste aleatório três, quatro vezes, e o resultado se repetiu. A atual secretária reteve o significado daquele instante. “O fato é que ele tinha na cabeça o mapa do que importava, o mapa do que era estratégico. E também o mapa de rota, ou seja, o mapa no sentido da descrição, mas também o script que seria necessário seguir para conseguir avançar. E isso me impressionou muito, pois foi essa capacidade de, em um emaranhado de propostas, com a complexidade e a heterogeneidade de Minas Gerais, com a profundidade e grandeza do que seriam os problemas, conhecer o que importava”, avalia. A integração entre os diversos órgãos, outra mudança implementada por Anastasia, também se mostrou acertada. Os projetos andaram com mais celeridade e ideias que sequer saíam do pa-
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O que Anastasia quer hoje, diferentemente de muitos, é o bem do povo, trazer qualidade de vida ao mineiro. Carlaile Pedrosa Deputado federal pelo PSDB
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Estado próspero
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Quando da sua condição de secretário do governador Aécio Neves, tive oportunidade de presenciar e vivenciar, de forma próxima, muito límpida e cristalina, seu espírito público admirável, seu patriotismo e suas ações. Essas ações sempre foram pautadas pela eficiência, pelo zelo com a coisa pública, pelo cuidado especial com a missão de servir e construir um estado cada dia mais próspero. Dinis Pinheiro Deputado estadual pelo PSDB e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
pel quando as ações eram isoladas, passaram a se viabilizar plenamente. O motivo é simples: no modelo anterior, se uma secretaria quisesse fazer algo, dependia exclusivamente de seus próprios recursos, ou seja, precisaria de dinheiro em caixa ou de bater na porta do Tesouro e justificar o projeto. Com a ação integrada e os projetos estruturadores, ideias que atendessem aos objetivos macros ganhavam prioridade e os recursos poderiam sair de mais de um órgão do governo. João Leite passou por isso enquanto era secretário de Desenvolvimento Social. “Todos nós tínhamos uma mesma visão dos cenários nos quais o governo operava. A partir desses cenários, começamos a trabalhar também com os projetos estruturadores”, rememora o deputado tucano. Ele prossegue: “Então, me chamou a atenção esse planejamento permanente, as reuniões que tínhamos em câmaras de desenvolvimento social e a possibilidade de termos uma transversalidade por causa do contato com os outros secretários, poder pensar nos projetos conjuntamente”. O Choque de Gestão foi tão bem-sucedido que se tornou exemplo para o Brasil e o mundo. Governadores e técnicos de outros estados vieram a Minas conhecer tanto o modelo, de maneira mais ampla, quanto detalhes de projetos que já apresentavam resultados. Como o desequilíbrio fiscal não era privilégio de Minas em 2003, mas,
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ao contrário, era problema da maioria dos estados e municípios, a romaria começou tão logo foi anunciado o Deficit Zero e nunca mais parou. O modelo foi reconhecido também por organismos internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial. Ambos reabriram suas linhas de financiamento para o Governo de Minas, demonstrando confiança na correta aplicação dos recursos, na geração de benefícios concretos para a população e, obviamente, que o governo seria capaz de honrar seus compromissos tanto na colocação de contrapartidas quando na quitação dos débitos. Se o sucesso da reforma da máquina administrativa e do novo planejamento foi capaz de recuperar a confiança da população, empresários, instituições financeiras, servidores e políticos, contribuiu também para que os laços entre Aécio Neves e Antonio Anastasia se fortalecessem ainda mais. No começo, o governador confiava na capacidade de seu secretário, enquanto este se fiava no idealismo do líder. A partir do momento em que firmaram a parceria e caminharam juntos, a confiança ganhou o reforço inestimável do trabalho realizado, dos compromissos mutuamente cumpridos, da certeza que ambos passaram a ter de que poderiam contar com o outro, sem ressalvas. Não é à toa que Narcio Rodrigues usa o termo
simbiose para descrever o relacionamento entre os dois. A complementaridade dos perfis, um político e outro técnico, transformou-se num amálgama de características em que ambos ganharam novos talentos e capacidades. Como o que é bom sempre pode ser melhorado, ambos trataram de avançar com novas ferramentas, novos métodos e novos sonhos – que trataram de realizar. Anastasia continuava a planejar incessantemente e viria a seguir o Estado para Resultados, uma nova rodada de inovação e ousadia para mais quatro anos de transformação da administração pública. Aécio seguia tecendo o futuro e, dali a um tempo, transformaria seu secretário em vicegovernador e governador de Minas Gerais. Entre uma coisa e outra, houve um desafio de grandes proporções: Anastasia acumulou as pastas de Planejamento e Defesa Social, onde fez decolar a tão falada e nunca concretizada integração das Polícias Civil e Militar.
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Desafio da segurança
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Em meio a toda a transformação promovida pelo Choque de Gestão, com grandes doses de trabalho e responsabilidade envolvidas, Antonio Anastasia recebeu o desafio de reestruturar um novo front da administração, que passava por um momento de profunda crise. Demonstrando confiança em seu principal executivo, o governador Aécio Neves o nomeou, em 2005, secretário de Defesa Social. Anastasia, que já ocupava uma pasta central, assumiria também a condução da segurança pública, uma das áreas mais sensíveis de qualquer governo, e particularmente difícil naquela quadra da história de Minas. Os índices de criminalidade estavam em alta, havia insatisfação nas forças de segurança e os esforços envidados até então produziam ideias, mas sem avanços. Como em outras ocasiões de sua carreira de servidor público, ele encarou com destemor a nova missão e, uma vez mais, produziu grandes resultados. Sua primeira providência foi chamar o sociólogo Cláudio Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública – Crisp, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Beato já colaborava com o Governo de Minas em análises sobre os índices crescentes de
criminalidade, e o programa Fica Vivo, voltado para jovens em áreas de risco social, também se originara na instituição que coordenava. “Eu chamei o professor Cláudio Beato e perguntei a ele, Cláudio, se você fosse secretário, qual seria o primeiro projeto que você implantaria?”, relata Anastasia. O sociólogo se lembra bem daquele encontro, e da resposta que deu ao chefe: “Eu já estava mais ou menos preparado. Disse que o problema daquele momento era o da integração das polícias. Não havia mecanismo de colaboração e interação entre elas. Então eu propus o programa de Integração e Gestão em Segurança Pública, o Igesp. Apresentei todas as ideias, ele escutou, ficou encantado e imediatamente já convocou os comandantes para implantar o projeto”. Quando sociólogo diz “imediatamente”, não é força de expressão. Na semana seguinte, Beato já participava da reunião com o colegiado da integração, instituído por Anastasia e composto exclusivamente pela cúpula das forças de segurança e Defensoria Pública. Até então, o assunto era discutido por grupos temáticos mistos, mas sem poder de decisão. O projeto foi apresentado, definiram-se atribuições e, duas semanas após o primeiro encontro entre o secretário e Beato, o
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Os dois pilares da Polícia Militar nós encontramos no secretário Anastasia: disciplina e hierarquia. Coronel Hélio dos Santos Júnior Ex-comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG
processo de integração já andava. “Fiz uma coisa muito participativa, mas objetiva”, resume o atual governador. Essa objetividade inscreveu as reuniões do colegiado na memória dos comandantes das polícias. Tanto o coronel Hélio dos Santos Júnior, então comandante-geral da Polícia Militar, quanto o delegado Otto Teixeira Filho, que era o chefe da Polícia Civil, ficaram impressionados com a forma como os encontros eram conduzidos, e com a alta a produtividade que se alcançava em cerca de uma hora de conversa. Sem abrir mão dos princípios gerenciais que regiam o Governo Aécio Neves, Anastasia instituiu metas e sistemas de controle, delegou responsabilidades e adotou uma agenda proativa. No seu melhor estilo, ele tirava da pauta temas secundários e questões que não poderiam ser resolvidas naquele momento. O colegiado debatia apenas os itens fulcrais para promover a integração, verificava o cumprimento das metas dentro dos respectivos prazos e estabelecia novos objetivos. A integração entre as forças de segurança estava prevista na Constituição Estadual de 1989, mas nunca havia entrado de fato na pauta das gestões anteriores. As poucas tentativas nesse rumo foram tímidas e esbarraram no antagonismo histórico entre policiais civis e militares. Seria fácil compreender, portanto, se um personagem re-
cém-chegado e alheio à história das corporações, como Anastasia, também fracassasse na missão. O que se viu, porém, é que em um tempo muito curto as coisas começaram a andar de maneira concreta. A primeira iniciativa, lembra Otto Teixeira, foi reunir a inteligência das duas forças. “Era uma coisa inacreditável. A Polícia Civil tinha um banco de dados, a PM tinha outro, e eles não se comunicavam entre si. O primeiro passo ocorreu quando nós fundimos esses bancos e todos os policiais passaram a ter acesso a todas as informações”, relata. “A meu ver, depois de discutido o projeto, essa foi uma medida definitiva para mostrar que nós havíamos mudado de rumo”, acrescenta o delegado, que atualmente exerce o cargo de secretário de Defesa Social e Meio Ambiente do município de Matozinhos. “Com a chegada do Professor Anastasia, nós realmente sentimos a mão do Governo do Estado e, principalmente, a verbalização da vontade de se estabelecer uma política pública de segurança”, reforça o coronel Hélio. Outras medidas práticas se seguiram, inclusive em questões que não estavam diretamente relacionadas à integração, mas que estavam na pauta permanente da Secretaria e, de certa maneira, representavam um entrave aos avanços. É o caso, por exemplo, da negociação de verbas. Havia um
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orçamento geral da pasta e a chefia de cada força tinha que apresentar suas demandas e negociar a liberação de verbas. O assunto foi discutido no colegiado e decidiu-se de comum acordo que, dos recursos disponíveis, 60% seriam da PM e 40%, da Polícia Civil. “Eu e o comandante da Polícia Militar tínhamos nossas prioridades e acabou-se a discussão por verbas”, diz Teixeira. Curiosamente, sem a discussão aumentou a integração: sempre que possível, as duas forças faziam compras conjuntas para obter uma melhor negociação. Os membros do colegiado tinham influência sobre a pauta das reuniões e total liberdade para apresentar propostas e reivindicações. O que era aprovado se realizava rapidamente, mediante compromissos com resultados. Se determinada coisa era solicitada e aprovada sob o argumento de que resolveria um problema, ela tinha que ter efetividade. Várias demandas antigas, verdadeiros esqueletos, foram resolvidas assim. O coronel Hélio dá um exemplo. Havia um problema sério referente aos uniformes da PM. Uma lei que determinava o fornecimento de fardas para cabos e soldados era um faz de conta: “Dissemos ao Anastasia que tinha policial que recebia uma caixa enorme de Sedex e lá dentro tinha uma meia para o sujeito que ficava três anos sem receber uma blusa, uma calça”. Ouvido o proble-
ma, segundo o coronel, o secretário perguntou qual era a ideia para solucioná-lo. “Falamos de um projeto para criar um abono para a PM e ele, de pronto: Então faz a proposta”. No debate, chegou-se à conclusão de que o abono deveria ser estendido a todas as forças e assim foi montado o projeto, que foi levado ao governador e aprovado. “A partir de uma ideia nossa, ele a encampou para todo o sistema. Antes, o Estado dava o dinheiro para licitar e contratar uma empresa para fornecer, e os Correios para enviar. Enfim, nada funcionava”, relembra o coronel da PM. Uma das mudanças de maior impacto foi a retirada da Polícia Civil da função de guarda de presos, transferida aos agentes carcerários. Isso representava um desvio de propósitos e comprometia a eficiência da força onde ela era mais necessária – a investigação e detenção de criminosos. “Nossas delegacias estavam lotadas de presos, os policiais designados para a investigação estavam deslocados para a guarda e a polícia não funcionava”, sintetiza Teixeira. “Eu achei que não conseguiríamos, houve extrema dificuldade.” Sob as ordens de Anastasia, o delegado iniciou a condução do processo sob desconfiança dos próprios comandados, que imaginavam perder poder por considerar a função importante. Obviamente, um problema dessa magnitude não poderia ser resolvido de imediato, mas a solução
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foi posta em prática e continuou ao longo do segundo mandato de Aécio. Um dado interessante desse projeto é que ele mostra também a transversalidade proposta por Anastasia no Choque de Gestão. Para que as delegacias fossem desocupadas e os policiais liberados, era necessário que os presos fossem transferidos para locais de guarda provisória e penitenciárias. Na outra ponta, então, criou-se a Subsecretaria de Administração Prisional e deu-se início a um vigoroso programa de criação de vagas por meio da construção de presídios e centros de remanejamento de presos. Outros avanços se seguiram na direção da integração, como o compartilhamento das redes de comunicação e a instalação de salas de comando unificadas. O processo foi também se difundindo para o interior do estado. Anastasia tratou de enfrentar também as resistências dos comandados e a coibir os casos de conflito entre as duas polícias. Nesse caso, segundo o coronel Hélio, exigiu que os episódios fossem tratados com mão de ferro. Os comandantes não poderiam absorver a indisciplina de seus comandados. “Não dá mesmo para aceitar o Estado fazendo vexame em praça pública porque seus integrantes não se entendem”, admite o coronel reforma-
do. Para o delegado Otto Teixeira, esse problema hoje é residual, enquanto há uma mudança cultural já bem avançada em curso. Da mesma forma, as forças de segurança enfrentavam um problema crônico com a manutenção de veículos. Mesmo que a frota fosse renovada, o uso intensivo ia paulatinamente desfalcando delegacias e batalhões. Uma unidade da PM responsável pelo policiamento dos bairros Centro e Santa Tereza, em Belo Horizonte, tinha 70% da frota parada, quando Anastasia assumiu a pasta, e essa era uma situação típica. A solução encontrada foi a terceirização da frota. Viaturas novas foram adquiridas e manutenção foi licitada, com exigência de reposição imediata quando algum veículo necessitasse de conserto. “Os órgãos de segurança se digladiavam, cada um puxando para o seu lado, cada um mostrando mais força e poder ou simplesmente se ignoravam. O sistema prisional não falava com o sistema de defesa social. Enfim, onde não há organização, como você quer que impere a ordem?”, pergunta-se Hélio dos Santos.
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Percepção aguda Impressiona a aguda percepção que ele tem para fazer um diagnóstico, separar o essencial do acessório e cobrar resultados. Isso fez com que a equipe toda se amoldasse a uma nova forma de fazer administração pública, baseada em planejamento, estabelecimento de metas e seu fiel cumprimento. Custódio Mattos Prefeito de Juiz de Fora
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Nos rumos da boa gestão
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A indagação do ex-comandante-geral da PM toca no ponto nevrálgico da situação das forças de segurança quando da chegada de Anastasia. “Os problemas da segurança eram de gestão”, sentencia Cláudio Beato. Daí ter aplaudido a decisão do governador Aécio de nomear seu braço direito para gerir a área. “Todo mundo estava se perguntando, sem entender muito bem [a decisão]. Eu disse que foi a melhor coisa que o governador fez. Por quê? Porque ele colocou seu melhor executivo na área mais complicada naquele momento”, justifica o sociólogo. Para ele, esse dado, por si, ilumina a escolha de uma pessoa que não era originária do setor. “Embora ele não tivesse conhecimento específico da área, tinha pessoas muito boas lá, como o Luiz Flávio Sapori e o Genilson Dempsen”, avalia Beato. “Por isso, naquele momento, recebi o nome do Anastasia com muito entusiasmo, porque sempre achei que a segurança não precisava de policiais ou de especialistas, mas de um bom gestor”, acrescenta. Anastasia foi muito bem recebido pela cúpula das policiais, e isso se deu pelas virtudes de seu estilo, de sua capacidade de convencimento e de ouvir as partes. Otto Teixeira reconhece o estranhamento com a indicação, mas apenas no
princípio. “Não havia imposição, ele nos convencia de que determinada ação era boa. Então, nos envolvemos logo com isso, tanto que não houve nenhuma reação contrária a ele. Também, não há de se negar, ele é um homem de firme posição. Ele estabelece a meta e a busca firmemente”, declara o delegado. “O respeito das pessoas por ele é muito grande. Elas procuram cumprir aquilo que está sendo determinado”, apõe Beato. O coronel Hélio inclui o empoderamento dos comandos no rol de benefícios da passagem de Anastasia pela Defesa Social. E isso se deu de uma forma colateral, como efeito das mudanças práticas que começaram a acontecer. “[A participação nas decisões] melhorou nossa autoestima e nos fortaleceu dentro das corporações”, revela o comandante da PM. “As pessoas da minha corporação entendiam assim: o comandante é forte, as soluções acontecem, ele traz coisa boa para nós. O Anastasia fortaleceu todo mundo.” “As polícias melhoraram com a integração e de fato foi um período muito bom”, concorda Anastasia, revelando um outro tipo de vínculo com as forças de segurança: “Eu sempre tive um respeito, uma vinculação muito forte com a Polícia Civil e a Militar. Da PM, inclusive, fui professor de muitos deles pela Fundação João Pinheiro, nos idos de 1990. Vários coronéis tinham sido meus alunos. Da mesma forma, na Polícia Civil,
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muitos colegas meus [de faculdade] se tornaram delegados. Então, eu tinha um bom ambiente”. Enquanto as coisas se desenrolavam na Defesa Social, no Planejamento a primeira reação foi de surpresa e certo temor, logo substituído por uma admiração fortalecida e pela certeza de que o secretário daria conta das duas pastas, como conta Renata Vilhena: “Quando ele me falou [que acumularia as pastas], eu disse que ele era capaz de tudo e que seria capaz disso também”. Tadeu Barreto teve sua primeira reação “contaminada” pela forma como Anastasia constrói relações de confiança. Ele disse a Bernardo Tavares, seu braço direito na Seplag: “O bicho vai pegar com Planejamento e Defesa. E aí, Bernardo, como a gente vai ajudar?”, conta, demonstrando a forte integração da equipe com seu líder. “A capacidade dele é tão grande que, sinceramente, não foi difícil lidar com isso”, reforça a titular da Seplag. No final das contas, a passagem de Anastasia pela Defesa foi vista por seus comandados como oportunidade de ouro. “Para a gente, que era do planejamento e precisava ver os indicadores e o processo de gestão da Defesa acontecendo, foi o céu quando ele foi para lá”, afirma a secretária. Isto porque houve uma aproximação maior com as forças de segurança, bem como a compreensão do que era o modelo de gestão que estava sendo adotado.
Ela afirma ter certeza de que foi a passagem de Anastasia que conseguiu mudar a cultura fechada e arraigada da área de segurança. O uso de mecanismos de controle, por exemplo, tornouse comum tanto para avaliar resultados, como na definição de quais áreas seriam prioritárias. Os comandantes das duas polícias, por exemplo, citam que a redução do número de homicídios foi a primeira meta definida no objetivo geral da redução da criminalidade violenta e isso se deu a partir das estatísticas e dos sistemas de controle. Barreto testemunhou pessoalmente a forma como a autoridade de Anastasia foi se impondo dentro de uma estrutura com uma cultura muito fechada e arraigada. Lá ocorreu a primeira experiência com os comitês de resultado que viriam a ser implantados no segundo mandato de Aécio. As reuniões eram nas segundas-feiras, às 9 horas da manhã, e o secretário chamava todo o colegiado para participar. Os indicadores eram expostos – depois de uma noite mal dormida e de correrias na manhã de segunda para aprontar tudo – e discutidos. “Está lá o problema que a delegacia tal não estava implantando algo, porque o delegado estava resistente. Ele só virava para o Otto [Teixeira] e falava: Otto, você vai falar com ele [o delegado] ou quer que eu tire?”. Teixeira confirma que havia a cobrança, mas, como diz o coronel Hélio, o fa-
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zia com “elegância, fineza e muito vigor”. Por outro lado, ressalta o delegado, nunca se estabeleceu uma meta impossível: “Eram todas difíceis, porque era como água e óleo, não se misturava Polícia Civil e Militar”. O exemplo de Anastasia acabou servindo para fazer com que água e óleo se misturassem de alguma forma. Tanto o coronel quanto o delegado reconhecem que usaram as mesmas ferramentas de convencimento e negociação para transmitir os novos conceitos e determinar aos comandados o cumprimento das ações pactuadas. “Não dava para fazer por imposição”, reconhece Teixeira. “Os dois pilares da PM nós encontramos nele: disciplina e hierarquia. Eles foram fundamentais no processo”, conclui o comandante da PM. O resultado mais importante do ponto de vista do planejamento do governo, porém, não era a integração em si. Esse era o primeiro passo de organização interna: colocar o sistema para funcionar. O fundamental, que era a melhoria do serviço prestado à população, veio em seguida com a queda dos índices de criminalidade. Depois de uma piora nesses indicadores logo no início do governo, os números recuaram de modo forte e contínuo pelo restante do Governo Aécio. Além de produzir resultados desejados e ne-
cessários para a gestão de Aécio, o período à frente da Defesa é visto também como um teste de fogo a que o governador submeteu seu secretário, já com um vislumbre político. Lá, Anastasia teve que exercitar fortemente suas habilidades de negociador e sua capacidade de comando, além de ficar mais exposto aos meios de comunicação e ao escrutínio da população. “O Aécio fez ali dois movimentos importantíssimos”, avalia Narcio Rodrigues. “Ele disse, em primeiro lugar, segurança pública é prioridade do meu governo e, em segundo lugar, estou colocando aqui o homem da minha maior confiança na gestão para tomar conta desse espaço”, enumera. Narcio acredita que o governador estava seguro de que Anastasia se desincumbiria bem da missão, mas que era preciso ele passar pelo teste para se credenciar para outras funções. Quais? “Acho que naquela hora o Aécio já estava sinalizando que Minas poderia ter no Anastasia um substituto à altura para o Governo do Estado”, responde o presidente do PSDB.
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Aécio sempre reconhecia isso nas reuniões de balanço: quem teve os melhores resultados foi a Defesa Social. Cláudio Beato Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública – Crisp/UFMG
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Vice-governador para resultados É final de setembro de 2005. Antonio Anastasia, em seu gabinete no prédio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG, assina um documento. Diante dele, Rodrigo de Castro, chefe de Gabinete da Seplag e atualmente deputado federal, brinca: “Eu estou fazendo história agora”. O documento era a ficha de filiação ao PSDB, que Rodrigo e seu pai, o secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro, haviam decidido levar a ele já perto do prazo final para inclusão de novos quadros no partido. Quem não se filiasse até 1º de outubro não poderia disputar as eleições marcadas para dali a um ano. Rodrigo de Castro tinha razão em sua brincadeira. Aquele ato incluía Anastasia formalmente na vida partidária, da qual ele permaneceu à parte durante toda a carreira como servidor público. É certo que a filiação não o obrigava a uma candidatura, mas abria as portas para que o governador convocasse o auxiliar e amigo para mais uma missão naquela verdadeira revolução que vinham empreendendo juntos. Anastasia galgava os degraus da política e seria confirmado como candidato a vice-governador na chapa de Aécio nas eleições de 2006. “Foi uma coisa simples, mas que precisava ser feita. Todo o trabalho dele, toda a trajetória pro-
fissional o credenciava a voos mais altos”, diz Rodrigo de Castro sobre a filiação, que acabou por facultar ao governador a possibilidade de construir e viabilizar uma chapa puro-sangue. “Aécio sabia que havia um grande número de quadros que poderiam e mereciam ser convidados para vice, mas ele soube escolher aquele que estava mais preparado para Minas Gerais”, avalia o deputado. Seja como for, a articulação para compor a chapa com Anastasia foi bem recebida e ele teria a primeira oportunidade de participar de uma campanha eleitoral como candidato. E a composição com os aliados foi facilitada pela naturalidade de sua indicação. “O cargo precisa das pessoas por seus méritos. Eu tenho convicção de que o Anastasia jamais chegou perto do Aécio e pediu para ser secretário, vice ou governador. Ele sempre foi convocado”, assegura o deputado estadual Bonifácio Mourão. Empossado em 1º de janeiro de 2007, Anastasia assumiu o cargo com muito mais atribuições e exposição do que um vice costuma ter. Ele permaneceu como o principal executivo do governo, à frente do planejamento e da gestão, agregando atividades de cunho mais político. Passou a atender parlamentares e prefeitos com mais frequên-
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O governador sempre foi transparente, sincero e leal em suas posições junto aos empresários. Bruno Falci Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte – CDL/BH
cia. Isto lhe abriu a possibilidade de travar contato com lideranças regionais e municipais, que passaram a conhecer seu estilo limpo e direto de negociação. Eleito em 2006 para seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa, Lafayette Andrada, atual secretário de Estado de Defesa Social, é um dos que só conheceram Anastasia pessoalmente quando ele se tornou vice-governador. Logo pôde perceber os motivos do prestígio de que ele gozava na Casa. “Era uma relação extremamente respeitosa com o Parlamento. Sempre que necessário, quando demandava informações, ele abria seu gabinete para mostrar o que estava sendo feito”, relata. Andrada se impressionou também com a sensibilidade do vice para identificar problemas e encaminhar soluções, bem como com a capacidade de formular políticas públicas. Custódio Mattos, prefeito de Juiz de Fora, teve uma rara oportunidade de observar a trajetória de Anastasia sob três ângulos diferentes: primeiro, como deputado federal, entre 2002 e 2006, acompanhou a implantação do Choque de Gestão e seus desdobramentos no que dizia respeito à bancada no Congresso; depois, no relacionamento direto com o gestor do governo, na condição de secretário de Desenvolvimento Social de Aécio, entre 2007 e 2008; por fim, eleito em 2008 para administrar Juiz de Fora, passou a tratar de
projetos, convênios e investimentos. De toda essa experiência, Mattos considera que Anastasia é uma figura pioneira de um fenômeno que ocorre em escala mundial: “É uma política em que a retórica e a representação têm menos importância do que o conteúdo, os resultados, a capacidade de gerar produtos de interesse público. Ele representa a contemporaneidade, a modernização da política brasileira, em um fenômeno que reflete a política mundial”. As transformações iniciadas em 2003 estavam longe de terminar e caberia a Anastasia sistematizar e implantar a nova rodada de inovações e avanços que se esperava da sequência de um governo tão bem-sucedido como o deles. Uma vez mais, coube a ele coordenar a elaboração do plano de governo e articular o arcabouço jurídico que sustentaria a nova fase de reformas, nascendo aí o Estado para Resultados, planejamento também conhecido como a segunda geração do Choque de Gestão. A peça gerava expectativas positivas depois de ter promovido uma modernização administrativa de caráter inédito no primeiro mandato. Como sustenta o secretário Danilo de Castro, “nunca houve em uma administração no Brasil, seja federal ou estadual, um planejamento tão forte e seguido à risca como o que foi organizado e implantado por ele no Governo de Minas”.
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Aécio colocou Anastasia na vitrine de uma vicegovernadoria ativa, com notórias atribuições políticas, mas também ampliou seu papel como técnico e administrador público. “O governador Aécio não queria que eu fosse um vice-governador simbólico, mas que eu tivesse uma função administrativa importante, então eu coordenei o Estado para Resultados. Concebemos um programa novo, todo baseado em metas e comitês, que eu presidia”, explica Anastasia. Era a ele que os secretários e gestores deveriam se reportar para a execução e o acompanhamento das metas. Esse movimento teve um simbolismo forte, pois o governador delegou a seu vice a gestão do Estado, em posição de comando sobre os demais colaboradores. O Estado para Resultados foi lançado pelo governador Aécio Neves em 9 de janeiro de 2007. O novo planejamento comprovava o dinamismo e a capacidade de formulação de Anastasia. Ele e sua equipe haviam aprendido com a experiência da primeira fase e foram buscar em diversas fontes o que poderia ser feito para avançar e se manter na vanguarda da gestão pública no País. “O modelo que está sendo implementado no estado é único no Brasil. Ele fará de Minas Gerais, mais uma vez, um estado de gestão absolutamente diferenciada, em que o próprio cidadão terá condições de perceber o andamento de cada um dos programas conduzidos pelo governo”, afirmou o
governador Aécio Neves em entrevista concedida naquela data. No mesmo dia, em reunião com o secretariado, ele entregou aos auxiliares o Caderno de Desafios e Prioridades e de Compromissos. Sobre o documento, ele explicou: “Entregamos a cada um dos secretários de Estado, hoje, o seu caderno específico de encargo, de metas a serem alcançadas e também um documento das metas gerais de governo. Cada Secretaria de Estado tem o seu cronograma para que essas metas não atrasem durante o processo de execução”. Em outras palavras, não havia tempo a perder. Depois de receber o caderno, os secretários teriam até o final daquele mês de janeiro para debater suas metas com o coordenador do programa, o vice-governador, e negociar eventuais alterações. Janeiro se encerraria com todos os objetivos pactuados e assinados pelos titulares das pastas, determinando a assunção do compromisso de cumprir o que estava ali acordado. Os projetos estruturadores, num total de 50 – chegando a 57 ao final do mandato – foram agrupados em 11 áreas prioritárias, chamadas “áreas de resultados”, e estavam focados na redução das diferenças regionais e promoção do desenvolvimento econômico e social de Minas. Cada área dessas possuía um tema e uma meta prioritária, que expressava a visão macro do governo para melhorias nos quatro anos seguintes.
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Se existe esta nova Minas Gerais, muito se deve a Anastasia. Basta lembrar como Minas estava e como está agora. Odelmo Leão Prefeito de Uberlândia
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Inovação permanente
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Em comparação com a primeira fase, a segunda geração do Choque de Gestão mexia menos na estrutura da máquina do governo, enquanto aprofundava as exigências de cogestão entre os órgãos públicos, alterava o direcionamento das metas para benefícios concretos mensuráveis para os cidadãos e aperfeiçoava os mecanismos de controle. De acordo com a secretária de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, que ocupava o mesmo posto no segundo mandato de Aécio, a evolução para a segunda fase começou a ser gestada a partir da aproximação com o Banco Mundial. “Eles ficaram encantados com o que estávamos fazendo e começaram a nos colocar em contato com outras experiências fora do País”, relata. “Nós vimos que tínhamos de migrar de uma administração meritocrática para um regime de acompanhamento de resultados.” Renata exemplifica o significado disso com a experiência do projeto estruturador Viva Vida, cujo objetivo era, no primeiro mandato, fazer o acompanhamento de mães desde o período prénatal até o nascimento e os primeiros anos da criança. Esta meta foi estabelecida porque havia um diagnóstico de que a mortalidade infantil era impactada pela falta de assistência às mães no
período pré-natal. De início, a meta era mensurada pelo número de mães que eram atendidas pelo Viva Vida. A aproximação com o Banco Mundial mostrou que havia um equívoco na mensuração. “Eles nos disseram: mas o que vocês querem alcançar com isso? Se querem diminuir a mortalidade infantil, então é preciso ver se ela está sendo atingida com esse projeto e se há uma relação de causa e efeito entre o projeto e os indicadores finalísticos. Então, a gente começou a migrar para o Estado para Resultados, para transformar todas as nossas ações e a integração entre plano e orçamento”, diz Renata. A mudança não quer dizer que o que havia sido feito foi um equívoco, mas que se podia evoluir mais. “O Choque de Gestão [na primeira fase] fez um bom trabalho, tinha planejamento, orçamento que funcionava, pagamento dos servidores em dia, definiam-se prioridades e cobravam-se metas. Mas um governo também deve ser avaliado pelo que produz de concreto. Então [no Estado para Resultados], avaliamos, sobretudo, quanto produzimos de melhora para os estudantes; não é quanto se gasta em saúde, mas o quanto estamos melhorando a taxa de infecção hospitalar”, retrata Tadeu Barreto.
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A Cidade Administrativa é uma sinalização concreta do compromisso que o governo tinha e tem com o funcionalismo. Matheus Cotta de Carvalho Presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG
Nessa concepção, desenvolvida por Anastasia e sua equipe no plano de governo e, depois, nos projetos estruturadores reunidos no Caderno de Desafios e Prioridades e de Compromissos, a mensuração foi modificada. O plano passou a ter metas físicas – aumento do número de alunos com proficiência em matemática, por exemplo –, enquanto o orçamento tinha indicadores finalísticos, que buscam mensurar o alcance dos objetivos estratégicos do governo. Com essa evolução constante e a busca obstinada por resultados concretos para a população, o governo de Aécio e Anastasia conseguiu, ao longo de oito anos, produzir uma invejável coleção de benefícios para os mineiros. Dos mais importantes – e talvez menos visível – foi a mudança cultural na administração pública. Hoje, os quadros são mais preparados e compromissados com a prestação de um serviço de qualidade ao cidadão. A máquina tem mecanismos de planejamento e controle modernos. Objetivos genéricos, como “melhorar a qualidade da educação”, já não fazem mais parte do repertório do governo. Tabus foram derrubados, como as parcerias com a iniciativa privada e a adoção de mecanismos empresariais de gestão. Avaliação de desempenho e remuneração pelo alcance de metas já não soam como desrespeito ao servi-
a parceria com aécio
dor, tampouco o compromisso de gerar resultados parece exigência excessiva. Se alguns desses avanços não são visíveis, certamente são perceptíveis e começam a fazer a parte do espírito da sociedade mineira. O trabalho de Aécio e Anastasia transformou não só o governo, mas a visão que os cidadãos têm a respeito dele. Talvez por isso a mensagem do atual governador tenha sido tão bem recebida quando ele se candidatou ao cargo. Basta lembrar que todos os municípios mineiros têm hoje sinal de telefonia celular, fruto de um projeto compartilhado entre o poder público e as operadoras, o Minas Comunica. Basta pensar que milhares de pessoas que viviam virtualmente isoladas ganharam o direito à mobilidade com o asfaltamento de estradas vicinais pelo Proacesso, que a educação pública é destaque em indicadores nacionais de eficiência, que a criminalidade violenta regrediu, que há hospitais equipados para procedimentos mais complexos nas cidades-polos. Basta saber que vida dos mineiros melhorou. Tudo isso começou quando Aécio Neves decidiu que não iria conviver com um Estado obsoleto e ineficiente. Começou com um plano, uma sequência de convites. No começo, Aécio encomendou ideias. Ao fim, Anastasia entregou resultados. A trajetória de vida do governador e sua personalidade só podem ser mais bem compreendidas se recuarmos no histórico de sua formação e origens familiares, se olharmos com cuidado para o ambiente no qual pode definir seu caráter e desenvolver suas vocações de professor e servidor do Estado. Tal é o objetivo ao qual se dedicam os dois capítulos seguintes.
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Em busca do caminho da transformação Danilo de Castro
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Conheci Antonio Anastasia no início dos anos 90, quando assumiu o primeiro cargo na administração do Executivo estadual, como secretário-adjunto de Planejamento e Coordenação Geral do então governador Hélio Garcia. Tive com ele diversos contatos, quando exerceu o cargo de secretário-executivo no Ministério do Trabalho e da Justiça, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e estreitei esse relacionamento no momento em que ele foi escolhido, pelo então candidato ao Governo de Minas, Aécio Neves, para elaborar o programa de governo, dando vida a um novo modelo de gestão pública, baseado na inovação, na eficiência e na conquista de resultados. Tivemos convivência muito próxima desde a formação do primeiro governo de Aécio Neves, quando passei a ver de perto o que, hoje, o Brasil inteiro sabe sobre ele: pessoa de irrepreensível formação moral e ética, com enorme determinação e inteligência excepcional, de grande espírito público e detentor de uma memória privilegiada, que
o permite não apenas se lembrar da história, como também das características de cada pessoa que o cerca. Anastasia teve uma sólida formação familiar. Do avô paterno Agnelo – imigrante italiano que para aqui veio e venceu – herdou a coragem para enfrentar os desafios impostos pelo destino. Importante ressaltar esta vitoriosa trajetória que nos anima sob a perspectiva das variadas possibilidades que tem o povo brasileiro: o avô, imigrante desamparado em terra desconhecida, tem hoje, em seu neto, a maior autoridade constituída no estado. Do avô materno Augusto Junho, não herdou apenas o nome, herdou também o carisma e o gosto pela história e pela política. Do pai Dante, recebeu os paradigmas de bom filho e o gosto pelo esporte, que o fez um torcedor apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro. Ao falar sobre Anastasia, é preciso enaltecer a participação de sua mãe, Dona Ilka, mulher notável, professora dedicada, extremosa e que soube sempre agir com coragem e firmeza nos momentos em que a vida assim exigiu.
Anastasia é uma figura espirituosa e de prosa agradável. Seu extraordinário conhecimento, tão diverso, o credencia a tratar de qualquer assunto, com domínio ímpar. Não podemos deixar de mencionar, ainda, que Antonio Anastasia sempre foi o primeiro aluno da classe e que o coroamento dessa trajetória veio com o prêmio Barão do Rio Branco, conquistado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Sua carreira profissional como servidor público, ou como jovem professor concursado, de Direito Administrativo da sua querida UFMG, foi sempre exitosa e se caracteriza pela erudição e pela capacidade de coordenação, em prol do bem comum. Participar desse governo é a certeza de que estamos em busca do caminho da transformação. É a convicção de que todos os esforços convergirão para a justa distribuição do desenvolvimento. Como secretário de Governo, tenho sido testemunha privilegiada de seus cuidados, de sua vigilância atenta, de seu zelo e dedicação à causa pública. Danilo de Castro é secretário de governo do estado de Minas Gerais e ex-deputado federal pelo PSDB.
Pessoa humana e capaz Dinis Pinheiro
A pessoa humana dotada de capacidades diversas que são evidenciadas em diferentes ambientes e tempo de vida merece reflexão sobre esses requisitos como forma de evidenciarem um pouco da grandeza que representam. Sou devedor da convivência amiga e sincera do governador Antonio Anastasia, cuja competência é amplamente reconhecida e transcende partido e posicionamentos políticos. Se há uma frase para tentar sintetizar a pessoa, ressaltaríamos que é FIEL À SUA CRENÇA. O cidadão Antonio Anastasia reúne condições e qualidades indispensáveis ao “homem politico” moderno e coloca a
finalidade da “comunidade” como objetivo de ações. Acredita piamente que é possível atender ao interesse público e assim projeta e direciona suas ações. A pessoa humana Antonio Augusto tem no seu tempo e no seu viver a determinação da CRENÇA, o caráter que reúne valores indispensáveis à tratativa com o semelhante e com o meio ambiente. É um determinado ao bem servir. De convívio fácil e agradável, sabe ouvir e compartilhar, é solidário. Assim externar, para registro, o nosso olhar sobre esse grande homem e grande mineiro é reconhecer a nossa incapacidade de apontar na plenitude as qualidades que se acham presentes e postas a serviço dos desafios maiores de Minas e dos mineiros. O governador Antonio Anastasia é servidor fiel e exemplar. Homem público na exata expressão e no compromisso.
Dinis Pinheiro é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
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Respeito ao Legislativo
Sabedoria
Para o governador Anastasia, o Legislativo tem que ser respeitado. Ele nunca vai querer passar com o trator sobre nós. É tudo discutido conosco. Além do que ele tem uma concepção de que aquilo que não pode ser feito não deve ser feito e não será feito.
Aparecem em Anastasia características do político tradicional mineiro, sabe até onde podem e devem ir as suas palavras, colhe dados. Sobretudo, vem revelando uma capacidade de conhecer e compreender as pessoas que o rodeiam.
DEPOIMENTOS
Ana Maria Resende Deputada estadual pelo PSDB
Minas como modelo
Preocupação com a crise
Anastasia já é reconhecido como um grande político, mas um político moderno, que busca em sua competência e seus resultados os argumentos para neutralizar a oposição. Mais do que isso, para colocar Minas em destaque nacional, como modelo para o Brasil e outros países.
O Governo de Minas, naquele momento (crise de 2008), teve uma preocupação efetiva, dentro dos instrumentos disponíveis, no sentido de reduzir o impacto da crise junto à atividade produtiva.
Luiz Humberto Carneiro Deputado estadual pelo PSDB e líder do Governo na Assembleia Legislativa
Paulo Camilo Penna Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram
Ciência política Eu vejo Anastasia diante de inúmeras obras apresentadas em parceria com o Aécio, mas sua marca é trazer o conceito de uma administração formatada dentro de um contexto de ciência política, com seriedade e comprometimento com o dinheiro público. Rômulo Viegas Deputado estadual pelo PSDB
Bonifácio Andrada Deputado federal pelo PSDB
Construção contínua Aécio teve a percepção clara de que ali estava uma pessoa com capacidade para levar à frente o projeto que ele construiu no primeiro mandato. O Anastasia foi o elemento principal da construção desse governo. Eduardo Barbosa Deputado federal pelo PSDB
Confiança O Choque de Gestão, a implementação de todos esses processos de melhoria da governança do Estado, se traduz em uma palavra para o investidor: confiança. Frederico Álvares Presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – Indi
Metas e resultados
Minas na disputa
Ancoradouro de soluções
Por sua capacidade gerencial e liderança política, o governador Antonio Augusto Anastasia conta com o respeito e a admiração do setor empresarial de Minas. O ambiente de negócios é favoravelmente impactado por isso, já que na administração do Estado o governador Anastasia estabelece metas e cobra resultados eficientes, como deve ser na gestão empresarial.
Ele é coautor do Choque de Gestão, que permitiu a Aécio [fazer] grandes transformações em Minas. Graças a Aécio e Anastasia, Minas Gerais estará em condições de disputar com São Paulo, estado mais desenvolvido do Brasil, os investimentos externos que vierem a ser feitos no País.
Chamou minha atenção a sua cabeça pensante, que raciocinava o Estado como um todo – nas diversas secretarias que se aglutinavam sob sua jurisdição. E a habilidade de sua articulação para conduzir os assuntos que deveriam ser técnicos, mas de maneira política, como um ancoradouro de soluções. Tinha nele [quando secretário de Desenvolvimento Regional e Política Urbana no Governo Aécio Neves] uma confiança extrema. Ele manifestava sua consideração, seu apreço a cada secretário quando outorgava a eles a solução dos problemas.
Cledorvino Belini Superintendente da Fiat Automóveis
Paulo Abi-Ackel Deputado federal pelo PSDB
O resgate de Minas Vice de resultados Sabíamos que o Aécio, nosso líder, tinha na retaguarda uma pessoa qualificada na administração estadual, o mais importante executivo público do Estado, e podia fazer a boa política. Sabíamos que vários programas foram criados através da sua inteligência privilegiada. Anastasia sempre foi um vice presente, a quem o governador Aécio dedicou tarefas importantes, e ele deu cabo dessas boas tarefas, quer dizer, foi um vice-governador de resultados positivos. Ademir Lucas Presidente da Copasa Águas Minerais de Minas
Com a equipe montada por Anastasia, e por meio de seus estudos, as metas do Choque de Gestão foram atingidas. O governador Aécio Neves teve a felicidade de tê-lo ao seu lado e, juntos, recuperaram o espaço político que é devido a Minas na política nacional, e recuperaram o estado no cenário econômico internacional. Leonardo Moreira Deputado estadual pelo PSDB
Dilzon Melo Deputado estadual pelo PTB
capítulo III
servidor público aluno nota 10 primeiros passos do bacharel a postos no bonde da história “menino, como você sabe tanto?” novos voos sob o céu de brasília
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Do último ano da década 1970 ao início dos anos 90, Antonio Anastasia deu passos sempre determinados nas carreiras que abraçou – o magistério e o serviço público. Atendeu ao apelo do Direito, ao ingressar na Universidade Federal de Minas Gerais, e logo se identificou com o Direito Administrativo, especialidade que se confunde com o interesse público e o conhecimento das estruturas do Estado. Nesse ramo da ciência jurídica alicerçou sua vocação para a política. Em sentido puro, como ensinou Aristóteles, política é a busca do bem-estar coletivo dos seres humanos na pólis, e essa busca liga-se de maneira inextricável ao exercício da ética. Conforme o filósofo grego, o homem é um animal político porquanto se realiza em plenitude no âmbito da “sociedade política”. Tal compreensão do mundo vai guiar a trajetória de Antonio Anastasia. Sua biografia desdobra-se por um caminho demarcado por padrões em que se inscrevem práticas e valores tais como responsabilidade e integridade, que formam seu capital mais precioso, a credibilidade pública. E com esse patrimônio ele se credenciou ao exercício do cargo de governador de Minas Gerais. A vocação para a administração pública se cumpre de modo próprio e peculiar. O Direito Admi-
nistrativo poderia ter conduzido o jovem Anastasia à carreira diplomática ou à de juiz de direito, que chegaram a seduzi-lo, mas ele não demorou a definir seu rumo. Foram, sim, os interesses da coletividade que o convocaram. Ainda são poucos no País os intelectuais e acadêmicos que conseguiram se sentir à vontade e se mostrar produtivos na seara da política, como sucedeu com o governador de Minas. Cedo, o moço bacharel em Direito viu no magistério e no serviço público as duas trilhas claras que lhe abririam os horizontes mais promissores para os talentos e convicções que alimentava. De maneira sempre determinada, acumulou experiências que o conduziram, em um percurso de 20 anos, à oportunidade de estabelecer uma aliança com Aécio Neves – e, depois de participar como seu braço direito em dois mandatos de grande aceitação popular, à responsabilidade de continuar e aperfeiçoar o projeto vitorioso, à frente do Estado mineiro. A par da atividade como advogado e professor, a entrada na Fundação João Pinheiro, ao término do período acadêmico, lhe dá a chance de aprofundar seu conhecimento técnico em Direito Administrativo e o entendimento das engrenagens da máquina pública. Por meio dessa instituição,
da qual chegaria à presidência menos de uma década mais tarde, vai ter acesso à construção nuclear do Estado Democrático de Direito, ao atuar como um dos principais assessores do relator da Assembleia Constituinte mineira. Seu desempenho notável na elaboração da Carta Mineira o leva ao secretariado do governador Hélio Garcia, e esta experiência acumulada, aos postos de secretário-executivo dos Ministérios do Trabalho e da Justiça, nos Governos Fernando Henrique Cardoso, em um processo tão rico quanto célere de enriquecimento técnico e pessoal. O servidor público que trabalhava dia e noite, dividindo-se entre a repartição e o magistério, começará, então, a enxergar sua atividade com olhos de estadista, e esta visão lhe será estimulada pelo amigo Aécio Neves.
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Estudioso desde a infância, a História, em primeiro lugar, o encantava, como divertimento. Preferia as disciplinas ligadas às ciências sociais e à escrita, como Geografia e Português. A mãe, dona Ilka, deu aulas. As irmãs mais velhas se tornavam professoras, uma delas de História. O avô paterno (leia-se mais sobre a família e as origens do governador no capítulo IV), Agnello Anastasia, igualmente apreciava a disciplina. Respirava-se conhecimento no ambiente familiar em Belo Horizonte, no terceiro andar do prédio da Rua Odilon Braga, esquina com Francisco Deslandes, no Anchieta, construído pelo avô e onde dona Ilka ainda reside. O rapaz acostumou-se a conviver com as grandes fontes do saber da época, livros da Barsa, Mirador, Delta Junior, Tesouro da Juventude e outras coleções que lhe eram presenteadas pelo pai, Dante Anastasia. “Eu lia demais enciclopédias, biografias, livros de história. Sempre gostei das ciências humanas, nunca cogitei fazer nada de ciências exatas nem de ciências biológicas”, conta o governador Antonio Anastasia em seu gabinete no Palácio Tiradentes. Quando começou a frequentar as salas de aula da Faculdade de Direito da UFMG, na Praça Afonso Arinos, o estudante Antonio Augusto Junho
Anastasia se sentiu em casa. Ali, entre março 1979 e dezembro de 1983, viveria um período de chamamento do saber e rígida afirmação pessoal. Sua rapidez de raciocínio e a facilidade de comunicação logo foram notadas pelos colegas. “Ele tinha características peculiares que faziam com que todos nós concluíssemos que era uma pessoa de uma inteligência invulgar, alguém diferenciado”, recorda a advogada Célia Barroso Pimenta Pitchon, sua colega de curso e amiga desde então. A opinião é compartilhada por um ex-professor de quem se tornaria muito próximo. “A gente sempre o chamava de Antonio Augusto. Ele se assentava na primeira carteira e era aquele que participava das aulas, das discussões, o que respondia as perguntas. Era o que fazia boas provas”, lembra Vicente de Paula Mendes, que ainda retém a imagem da sua “letrinha miúda”. Célia Barroso guarda dos anos de formação na UFMG um retrato nítido e uma certeza sobre o que a vida reservaria ao moço Anastasia. “Imaginava sim que ele chegaria longe, porque isso foi algo muito evidente nele” – ela conta, pensando numa imagem apropriada. “Da mesma forma que se observa uma criança cujo talento para a música é evidente, ao tocar uma música de ma-
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neira extraordinária, já observava que havia ali algo de muito forte, uma clara vocação, e que esse caminho seria natural na vida dele.” Outro contemporâneo, colega de classe, o advogado Ricardo Drummond da Rocha traz à memória a figura de um aluno que emplacava as melhores notas – “tinha um boletim espetacular” – e um camarada espirituoso, divertido, que gostava de ir ao cinema e a pizzarias com os amigos. “Antonio Augusto é um ser brilhante, uma das pessoas mais brilhantes e de maior responsabilidade que eu conheci”, se admira. Drummond o caracteriza como o líder natural, capaz de planejar e orientar decisões, e que atuava de uma maneira discreta, nos bastidores. Recorda que foram dele as linhas gerais do discurso de formatura, assim como o arremate, mas ele mesmo não fez a apresentação. “Ele era muito respeitado por todos, pela esquerda e pela direita, e ao reencontrar as pessoas vejo que elas mantiveram o mesmo respeito”, observa. Boa-praça na faculdade, porém caxias, cultivava a fama de não facilitar a vida dos colegas menos preparados, na hora dos exames. “Eu não era da sala dele, mas me lembro bem disso. Ele não dava cola de jeito nenhum. Desde o início, para ele, certo é certo, errado é errado, amizades à parte”, conta Célia Barroso.
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Algo muito próprio a ele é ser ordeiro. Talvez ele tenha vislumbrado no Direito Administrativo essa característica de planejar, organizar e executar. Célia Barroso Advogada
Célia e Antonio Anastasia se conheceram ao integrar o mesmo grupo acadêmico, a “Chapa Cores Novas”, que disputou e venceu, em 1982, as eleições para o Caap, o Centro Acadêmico Afonso Pena da Faculdade de Direito – uma das mais antigas e combativas entidades estudantis do Brasil. Anastasia era representante dos alunos perante o colegiado da faculdade. Deu-se ali, de alguma forma, seu primeiro treinamento para a atuação política. Exerceu uma intensa atividade no Diretório Acadêmico. O período de redemocratização favorecia o debate acalorado, porém cauteloso, pois o regime autoritário ainda vigorava. “Estávamos ávidos e eufóricos para participar daquele processo político de liberdade” – pontua Célia Barroso – “mas sempre com muito cuidado, porque éramos estudantes de Direito e nossa formação sempre foi muito rígida, muito sólida em relação ao respeito, ao direito de todos.” A amiga é afirmativa sobre uma firme inclinação para o Direito Administrativo. “Ele nunca teve dúvida em relação a isso, era uma marca registrada dele, e sua atenção sempre foi voltada para o interesse público” – ela assevera, ao se lembrar de ouvi-lo dizer, determinado: “Eu gosto de Direito Administrativo e vou trabalhar com Direito Administrativo”.
E foi justamente neste ramo, na vertente do Direito Público, que disciplina o funcionamento do aparelho do Estado, da máquina administrativa, que ele enveredou. Célia destaca qualidades no amigo que combinavam com vocação. “Algo muito próprio a ele é ser ordeiro. Sempre foi assim. Talvez ele tenha vislumbrado no Direito Administrativo a possibilidade de exercer essa característica de planejar, organizar e executar. Isso era muito claro.” Ricardo Drummond acredita que, de algum modo, era evidente que a inclinação poderia lhe descortinar o horizonte da política. O Direito Administrativo é uma disciplina técnica e concreta. Seus mestres são tratadistas, de natureza distinta dos filósofos pensadores da Teoria Geral do Estado, a exemplo de um Emanuel Kant. Os autores do ramo escrevem manuais de emprego cotidiano. Antonio Anastasia foi um dos mais destacados pupilos de Paulo Neves de Carvalho (1919-2004), um nome que se confunde com o ensino da especialidade em Minas Gerais. O governador reconhece a autoridade do professor que lhe deu aulas na graduação e o orientou no mestrado sobre o Regime Jurídico Único dos servidores da administração pública (leia-se mais sobre o assunto no capítulo IV). “Este mestre foi um ícone, uma
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pessoa espiritualmente muito evoluída, de muita bondade, que formou gerações e gerações de professores e advogados”, reverencia o governador. Entre os discípulos de Paulo Neves figuravam o próprio professor Vicente de Paula Mendes, ele mesmo professor de Direito Administrativo, que desempenhou um papel decisivo na formação e na carreira de Antonio Anastasia. Impressionado com a inteligência e a dedicação do aluno, ele vai convidá-lo para trabalhar na Fundação João Pinheiro, logo depois de ser formar. Paula Mendes tem em conta o aluno que se sentia à vontade para falar a plateias e expor os trabalhos feitos em grupo – e lembra-se de um deles, em especial, sobre a destinação republicana das terras devolutas, originárias das capitanias hereditárias. A apresentação marcou época na Faculdade de Direito. O grupo liderado por Antonio Anastasia encenou com grande sucesso uma peça teatral que explorava todas as circunstâncias históricas do tema. Encantado, Paula Mendes levou sua turma a reapresentá-la na pós-graduação. “Nunca tinha visto aquilo, era a primeira vez, e me lembro do destaque do Antonio na apresentação”, recorda o mestre, que se aposentou em 2010 e hoje pratica advocacia. Encerrados os dois anos de mandato no Caap, Anastasia trabalhou no Departamento de Assistência Judiciária – DAJ, que prestava atendi-
mento advocatício a pessoas carentes, e ali permaneceu até o final da graduação. O diretor da faculdade era então o professor Lourival Vilela Viana, também de grata memória para o governador. “Mantinha com ele um relacionamento fraternal, como se fosse filho dele, praticamente”, rememora. Bacharelado como o melhor acadêmico dentre todos os formandos do curso de Direito da UFMG, estabelecendo o padrão que manteria ao longo da vida, Antonio Junho Augusto Anastasia é condecorado com a Medalha Barão do Rio Branco, em dezembro de 1983. O brilho do jovem formando também lhe valeu o convite para trabalhar com a professora Lucia Massara na Assessoria Jurídica da UFMG, como procurador da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa – Fundep. Em meados dos anos 80, a atual secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, já atuava na administração superior da UFMG, instituição da qual seria futuramente reitora. Na Fundep, travou contato com o jovem advogado e notou que ele possuía características compatíveis com o perfil do gestor. “Ele me impressionou desde aquele momento como uma pessoa que articulava visão estratégica e capacidade executiva”, relata. Também observou sua competência no campo do Direito Administrativo e a grande clareza ao formular e expressar ideias.
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Os primeiros passos do bacharel As portas da Fundação João Pinheiro – FJP se abriam para o moço advogado, em 1984, pelas mãos de Vicente de Paula Mendes. O professor se recorda das circunstâncias: “Achei o Antonio tão diferenciado que o chamei, quando precisei de um substituto. Eu trabalhava na Fundação e fui nomeado diretor do Centro de Desenvolvimento e Administração Pública – CDA, que funcionava na Pampulha e dava vários cursos, inclusive o curso para a Escola de Administração Pública, que hoje se chama Escola de Governo. Naquele momento, tive que me afastar da docência e me lembrei do Antonio. Ele até ficou surpreso, mas eu lhe disse: Você tem condições, não estou lhe fazendo favor nenhum.” Escola superior de governo e ninho de talentos da administração pública do Governo de Minas Gerais, a Fundação João Pinheiro constituiu uma página definitiva na vida de Antonio Anatasia. Lá, tomou gosto pelo trabalho matricial. A instituição opera com equipes multidisciplinares, distintamente da formação do advogado, mais acostumado a lidar com processos direcionados e de maneira isolada. No Centro de Desenvolvimento e Administração Pública, ele trabalha com arquitetos, economistas, adminis-
tradores e sociólogos nos projetos de políticas públicas. “Foi muito bom, porque abriu minha cabeça, permitindo exatamente que eu visse outras formações, estudasse outras dinâmicas e aprendesse a trabalhar em grupo. Devo muito à Fundação por conta disso”, reconhece o governador. Paralelamente, ele dava aulas nos cursos de pós-graduação da casa. Em pouco tempo, se tornou um membro prestigiado da instituição. “Ele era muito respeitado, muito especial, considerado um menino com uma capacidade singular”, recorda o cientista político Luis Aureliano Gama de Andrade, que integrava os quadros de direção da FJP naqueles anos. “Apesar da pouca idade, já era reconhecido pela capacidade intelectual, opiniões e posições que assumia. Aparecia como prodígio. Todos reconheciam que ele tinha uma rara habilidade e que era um técnico diferenciado”, acrescenta. No começo dos anos 90, no Governo Hélio Garcia, Luis Aureliano ia suceder o próprio Antonio Anastasia na presidência da Fundação. O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado, também é testemunha do seu desempenho na Fundação. Na
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segunda metade dos anos 80, ele comandava a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – Cetec, quando procurou a consultoria da FJP visando à criação de um plano de cargos e salários, a ser submetido à aprovação da Assembleia Legislativa. Sucedeu de o esboço do plano entregue por Machado ser reprovado na íntegra por certo técnico da Fundação ao qual fora submetido. No dia seguinte a um almoço com a direção da FJP e o jovem advogado, e de breve negociação, o presidente do Cetec tinha nas mãos um plano pronto e acabado, logo aprovado pelos parlamentares estaduais e sancionado pelo governador Newton Cardoso. A competência do funcionário da FJP causou-lhe ótima impressão. “Ele já demonstrava naquela época uma preocupação muito grande com a carreira do funcionário público e em lhes proporcionar o melhor salário possível. Ali, comecei a saber quem era o doutor Anastasia”, conta Olavo Machado.
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É uma pessoa que pode ser considerada a maior enciclopédia de Direito Administrativo do País. Rômulo Viegas Deputado Federal
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A Carta Magna de 1988 determinava que os estados revissem suas constituições à luz das mudanças institucionais e conquistas que emanavam da lei maior. Era uma época de transformações, já que a redemocratização em curso no Brasil abrira as comportas de mais de duas décadas de demandas reprimidas, oriundas dos mais diversos setores da sociedade. Vivia-se um momento particularmente rico da história brasileira, mas também de tensões e debates que exigiam talento na negociação política e descortino para se promover um estado e um futuro melhores. Trabalhar na Constituinte estadual atraía o jovem advogado, técnico e professor da Fundação João Pinheiro. Significava para ele uma oportunidade ímpar de olhar a história se fazer e participar dessa fatura. Como funcionário do Estado, Antonio Anastasia poderia ser colocado à disposição da casa legislativa, entre 1988 e 1989. Sabendo disso, e certa de que ele se achava talhado para exercer a função, a colega do Direito na UFMG Célia Barroso o recomendou ao primo, deputado Bonifácio Mourão, justamente quando o relator da Constituinte mineira procurava mais um técnico especializado para assessorá-lo. “Essa foi a única indicação que o Anastasia teve na vida, porque ninguém o conhecia ainda na
área política. Dali para a frente, a desenvoltura dele foi tal que ninguém precisou indicá-lo mais. Ele foi convocado”, assevera o deputado estadual do PSDB. Eleito em 2010 para seu quinto mandato parlamentar, Mourão reteve bem aquela passagem no ocaso dos anos 80. Ele pediu que Célia Barroso levasse o colega à Assembleia, desejava conhecêlo logo, já sabendo de sua condição de servidor público. “Percebi, então, seu talento e inteligência e solicitei ao presidente da Assembleia, deputado Kemil Kumaira, para requisitá-lo. O deputado o requisitou, e ele veio trabalhar conosco”, conta Mourão, que não viria a ter nenhum motivo de arrependimento. “Efetivamente, ele trabalhou por cerca de um ano, em uma média de 12 horas diárias, em total dedicação. Não tenho dúvida de que a participação dele enriqueceu sobremaneira o texto da Constituição do Estado de Minas Gerais”, afiança o tucano. Anastasia se integrou à gabaritada equipe técnica da Assembleia Legislativa e assumiu um posto na Mesa, ao lado da secretária-geral Maria Coeli Simões, ela também discípula de Paulo Neves e colega de mestrado na UFMG. Hoje secretária da Casa Civil e Relações Institu-
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cionais do Governo de Minas, Maria Coeli observa que aquele momento rico, de auge da história do Parlamento mineiro, teve o dom de catalisar a preparação do servidor público para a gestão das altas esferas de governo. “Quiçá, o governador Anastasia tenha sido o mais impactado por aquela experiência, que lhe serviu como uma espécie de vestibular para a vida pública”, comenta. Na Assembleia Constituinte, no papel de assessor, pôde ouvir e acolher demandas dos mais diversos segmentos da sociedade. “Era como se ali fosse um grande caldeirão de efervescências, vontades, correntes e opiniões. E todas se dirigiam para lá”, compara o governador. “A Constituinte, ainda mais naquela época, no final do regime autoritário, acabou sendo um grande depositário de esperanças. Nem tudo podia ser acolhido na Constituição, mas as pessoas tinham muitas vezes a ilusão de que tudo podia”, acrescenta. Por ter participado da refundação da consciência democrática no País, o governador interpreta o alcance da iniciativa com uma visão panorâmica sobre aquele trabalho. “A Assembleia Constituinte representava o estado, no sentido pleno da expressão, no seu caleidoscópio. Todas as forças se manifestavam ali. Já haviam se manifestado ao nível federal e se reproduziam no estado”, explica.
O governador avalia a importância daquela oportunidade, a qual soube aproveitar, como uma abertura de perspectiva para o gestor público que se formava. “Foi uma experiência riquíssima, que me deu uma visão muito grande do estado como um todo. Porque eu já havia tido a felicidade, a sorte de trabalhar na Fundação João Pinheiro, que me dava uma visão muito ampla. Então, a Constituinte me deu uma visão ainda mais ampla. Isso me ajudou muito”, dimensiona. O trabalho como assessor especial do relator lhe permitiu acompanhar de perto discussões entre os deputados e sentir o processo legislativo. “Isso também me formou, no sentido da valorização do Parlamento, da importância do Parlamento como local de discussão e, mais importante, de decisão” – revela o governador. “Porque havia lá três, quatro, sete correntes discutindo o mesmo assunto, e quem ia arbitrar? Debate-se, debatese, mas chega um momento em que há de haver uma decisão, então, é a força do Parlamento e do voto que se manifesta, a maioria votando e decidindo as questões mais importantes.” Junto com Maria Coeli e outros assessores, elaborava pareceres para as emendas de maior complexidade, entre as cerca de 5.000 que desaguaram na Constituinte. “Além de oferecer ideias
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Tanto contribuiu que ninguém mais o deixou em paz depois. O espelho dele foi, sem dúvida, a Constituição do Estado de Minas Gerais.
Bonifácio Mourão Deputado estadual pelo PSDB
luminosas, ele nos ajudava muito nos pareceres. Milhares de emendas que eram propostas e que caíam para o relator sozinho dar parecer. Ai de mim se eu ficasse sozinho”, reconhece o deputado Bonifácio. Mas – é sabido – sua atuação extrapolou o caráter estritamente técnico do trabalho como assessor parlamentar. Anastasia tinha perfeita compreensão das questões políticas envolvidas, das discussões e negociações que se travavam, conforme observadores que lidaram com ele no período. Integram suas contribuições pessoais cristalizadas no texto constitucional os capítulos sobre servidores públicos, planejamento regional e uma proposta alternativa de vinculação de receita para a saúde. A Constituição Federal vetava a destinação de um percentual da arrecadação para a área da saúde, recorda Mourão. Então, com a participação do seu assessor, foi concebido um artigo que contornava o impedimento, ao se estabelecer que o Estado não poderia aplicar na saúde menos do que destinava ao transporte e ao sistema viário. “Anatasia resolvia questões de viés político a partir de soluções técnicas, como profundo conhecedor da Constituição”, atesta. Seu discernimento e iniciativa também foram importantes na viabilização da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – Fapemig, instituição que havia sido criada em 1985 – e, consequentemente, do sistema de ciência e tecnologia
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de Minas Gerais. Cabia nas constituições estaduais, por meio de um dispositivo incorporado à federal, a vinculação de recursos para o setor. A comunidade acadêmica de Minas se mobilizou e escolheu Paulo Paiva, professor de Economia da UFMG e à época diretor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais – Cedeplar, para coordenar um comitê que se formou para dialogar com os parlamentares mineiros. Paiva se tornou interlocutor dos cientistas e pesquisadores junto à Assembleia Constituinte. Lá, entrou em contato com a deputada Sandra Starling, à frente da comissão de Ciência e Tecnologia da Constituinte, e com o assessor do relator. O empenho demonstrado por aquele jovem advogado sensibilizou o professor. “Fiquei espantado com a capacidade que ele tinha de formular saídas legais para os problemas. Nesse período, tivemos vários contatos, pude conhecê-lo e conhecer sua competência na maneira de tratar os temas constitucionais. Seu papel foi fundamental”, reconhece Paiva. A Constituição Estadual estabeleceu que uma porcentagem da receita corrente fosse destinada à ciência e tecnologia, e a Fapemig foi viabilizada. O encontro entre Paulo Paiva e Antonio Anastasia revelou-se promissor. Na década seguinte, a carreira de Anastasia estará ligada ao reconhecimento da sua aptidão nos trabalhos da Assembleia. Paiva vai assumir postos proeminentes em Minas e no Governo Federal, e neles contará com a colaboração do jovem advogado e professor.
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O governador Anastasia foi capaz de dialogar tanto com as equipes técnicas da ALMG quanto com as forças políticas que palpitavam no seio da Constituinte. Maria Coeli Simões Secretária de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais de Minas Gerais
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“Menino, como você sabe tanto?”
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Em maio de 1990, o professor Paulo Paiva foi convidado pelo candidato Hélio Garcia para coordenar a elaboração do seu programa de governo. Os dois se encontraram e conversaram sobre a Constituição Estadual, promulgada no ano anterior e que nortearia a implantação do próximo Governo de Minas. O nome de Anatasia surgiu desse encontro. “A primeira coisa que fiz foi ligar para o Antonio Anatasia e dizer: professor, estou com este convite, se você topar me acompanhar, eu aceito, se não topar, não aceito. Ele topou, constituímos um grupo e trabalhamos na elaboração da campanha”, lembra Paiva. A escolha agradou muito o governador, conta o ex-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG. “Na primeira reunião com Hélio Garcia, Anatasia foi solicitado a fazer uma exposição sobre a nova Constituição Estadual. Quando terminou sua preleção, Hélio lhe disse: Menino, como tão novo você sabe tanto?”, lembra. “Ele tem uma lógica, uma capacidade de explicar as coisas que é muito convincente”, observa. Eleito governador, Hélio Garcia mantém Paulo Paiva na equipe para coordenar a Comissão de Transição. “Novamente, a primeira pessoa que
eu chamei foi Anastasia”, rememora. Organizada a transição, Paiva torna-se secretário de Planejamento e o indica para a Secretaria-Adjunta. Havia trabalho duro pela frente e um cenário de muitos desafios, recorda o governador Anastasia. “A Comissão de Transição era uma figura da nova Constituição mineira. Como secretárioadjunto de Planejamento, nós fizemos a implantação dos dispositivos da Constituição, o planejamento institucional e o estratégico” – ele explica, para situar a conjuntura nebulosa da época. “Não era um momento positivo para o estado. Foi o tempo do presidente Collor, que caiu, depois veio o presidente Itamar, quer dizer, era um momento de transição.” Logo de início, o secretário-adjunto foi responsável por criar normas para um dispositivo da Constituição que estabelecia a cooperação entre Executivo, Legislativo, Judiciário e Tribunal de Contas para monitorar o orçamento. “Esse dispositivo foi normatizado e teve papel fundamental na negociação com os poderes, porque precisávamos ajustar o orçamento e também a política social do Estado”, conta Paiva. “A questão orçamentária era gravíssima com a inflação muito alta. Criamos um comitê gestor no governo, e Anastasia foi de fato a pessoa fundamental em
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várias daquelas ações”, acrescenta. A economista Marilena Chaves, hoje na presidência da Fundação João Pinheiro, é testemunha daquele começo de governo, ela recém-nomeada assessora da Secretaria do Planejamento. “Quando a equipe assumiu, o Plano Collor fazia água, com crise política nacional. As circunstâncias da época em Minas também eram muito difíceis”, comenta, ao recordar o desempenho do secretário-adjunto, que contava 28 anos: “Ele soube lidar com questões muito complexas e conseguiu se sair muito bem. Tinha uma metodologia clara e trabalhar com ele era um desafio. No entanto, para quem se enquadrava, era relativamente simples, porque ele era muito rápido no processo decisório. Ele nos confiava alguma missão, dava instruções básicas e estabelecia um prazo para que nós as executássemos”. Hoje secretária de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena começava a carreira de servidora do Estado na
mesma época e se viu sob o comando do secretário-adjunto na extensa tarefa de tocar a reordenação do Estado com a qual o órgão se defrontava. “Apesar de nos dar muita autonomia, pois descentralizava muito, ele exercia controle sobre tudo que acontecia. Sempre soube coordenar e comandar uma equipe”, observa. A secretária ocupava uma salinha próxima do gabinete do secretário, exercendo uma superintendência indicada por ele, e logo se envolveu com a remodelação da Secretaria e com o mencionado planejamento institucional. Esta e outras tarefas atendiam aos ditames da nova Constituição. “O primeiro desafio que ele nos colocou foi fazer toda a reorganização das fundações e autarquias do Estado, que passavam a ser regidas pelo direito público”, lembra Renata. Em seguida, esteve em Brasília desempenhando a missão de implantar o Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira) no Governo Estadual.
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Jovem no cargo Ele era uma pessoa absolutamente fora do padrão, ainda muito jovem, mas com um nível de comportamento, inteligência e desenvoltura completamente diferente das pessoas da mesma faixa etária. Não era muito comum de se ver uma pessoa tão nova em um cargo de tamanha relevância como o de secretário-adjunto de Planejamento, uma vez que, já naquela época, as Secretarias de Planejamento e de Fazenda eram Secretarias nucleares do governo. Marilena Chaves Presidente da Fundação João Pinheiro
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O perfil do administrador já se antecipava em outras características, acrescenta a economista Marilena Chaves. “Levávamos a ele sugestões, sem muito rodeio. Diferentemente de um advogado, que usualmente parece que gosta mais do processo que do resultado, Antonio Augusto não. A ideia de um Estado eficaz e eficiente já era muito clara na própria postura dele. Ele já trazia isso em sua bagagem”, comenta a presidente da FJP, identificando um traço hoje marcante na forma como Anastasia concebe e conduz a gestão pública.
Secretário de Estado O governador tem em ótima conta a experiência de três anos na Secretária-Adjunta do Planejamento, e espelha a consideração que o ex-ministro manifesta por ele. “O Paulo era extremamente hábil, muito correto, me dando muita liberdade. Ele tinha sido orientado pelo governador Hélio Garcia para inovar, chamando gente nova para trabalhar com ele, e assim foi feito”, relembra. No período, o sistema de planejamento do Estado foi revigorado e se alcançaram grandes sucessos em Minas, como a duplicação da Rodovia Fernão Dias, o Programa de Saneamento Ambiental Metropolitano de Belo Horizonte – Prosam, e o Programa de Saneamento Ambiental,
Organização e Modernização dos Municípios – Somma. O secretário-adjunto passou a colaborar diretamente com o núcleo decisório da administração, conta Matheus Cotta de Carvalho, que também o conheceu no período. “O Governo Hélio Garcia tinha a característica de ser centralizado em torno de alguns secretários” – observa o presidente da Diretoria Executiva do BDMG. “Próximo desse grupo, ele passou a ter um papel importante no governo. Como trabalhava muito, sendo muito inteligente e de confiança, era lançado na direção dos problemas que iam surgindo.” O deputado Bonifácio Mourão conta que o governador Hélio Garcia, geralmente, antes de assinar um documento, perguntava se o “menino” já o tinha visto. “Ele passou a ter uma confiança admirável no Anastasia”, afirma o deputado. Em 1994, no último ano daquele governo, com as mudanças promovidas pela desincompatibilização determinada pela legislação eleitoral, Antonio Anastasia foi nomeado pelo governador secretário de Estado de Recursos Humanos e de Administração e, também, da Cultura. Nesses postos, encerrou sua participação no Governo Hélio Garcia, com o mesmo brilho e eficiência que sempre caracterizaram sua atuação.
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Novos voos sob os céus de Brasília
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Havia dois anos ele se tornara professor de Direito Administrativo na UFMG, depois de ser aprovado em concurso na primeira colocação. Já era chamado carinhosamente de Professor Anastasia mesmo fora do ambiente acadêmico. Nessa altura, primeiro ano do presidente Fernando Henrique Cardoso no governo, o administrador público amadurecido e cada vez mais prestigiado recebe nova convocação. O governador refaz aquele instante: “O professor Paulo Paiva foi convidado para ser ministro do Trabalho, e eu tinha com ele uma relação de muita confiança, lealdade e amizade recíprocas. E, ele sendo economista e eu advogado, e o Ministério tendo assuntos econômicos e jurídicos, ele me fez o gentil convite para ser o secretárioexecutivo, que é o secretário-geral, o segundo cargo do Ministério. E lá fui eu para o desafio de Brasília, um pouco reticente, porque teria que largar a faculdade, e gostava de dar aulas”. Foi para a capital federal, em 1995, e lá permaneceu por cinco anos. Entre suas mais importantes contribuições no Ministério do Trabalho, sob coordenação do ministro Paulo Paiva, está o início da modernização da legislação trabalhista no País. Os projetos da pasta foram centrados no prestígio da chamada via negocial, visando ao fortale-
cimento dos sindicatos e, ao mesmo tempo, um processo vigoroso de descentralização dos recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), bem como de qualificação do corpo técnico do Ministério e dos fiscais do trabalho por todo o Brasil. “Nesse período” – comenta o governador – “nós lançamos sementes de assuntos que até hoje estão fervilhando, e o Brasil caminhará neste sentido do fortalecimento da negociação coletiva. Temos ainda uma legislação muito impositiva na área trabalhista. E conseguimos criar naquele momento o Grupo Móvel de Fiscalização do Trabalho, em atuação ainda hoje, especialmente no combate ao trabalho escravo.” O Ministério do Trabalho também lançava na época um conjunto de propostas de reforma da legislação trabalhista. “O País estava carente de emprego e propus alteração na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) para tornar mais flexível a legislação. Negociamos então com as centrais sindicais o contrato de trabalho por tempo determinado, a criação de bancos de horas e outros mecanismos” – explica o ex-ministro, que relaciona sua atuação com a do secretário-adjunto. “Quem formalizava, dava corpo e viabilizava isso era o Anastasia. Eu era o arquiteto, e ele o engenheiro.”
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A habilidade de negociador e o feeling político do secretário-executivo também mostraram bons serviços, como afiança o ex-ministro. “Ele ajudou a montar um Conselho de Relações do Trabalho e conseguiu, sem romper diálogos, estabelecer uma coisa difícil como a desindexação dos salários. Pergunte ao Luiz Marinho e ao Vicentinho”, declarou Paiva ao jornal Valor Econômico, com referências aos políticos petistas de São Paulo que à época comandavam o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a Central Única dos Trabalhadores. A desindexação salarial era defendida pelo ministro do Trabalho junto à equipe econômica. “Fizemos um fading out na indexação da economia brasileira, e foi o Anastasia o formulador da medida provisória”, esclarece. Tais esforços deram grande visibilidade e prestígio ao Ministério do Trabalho naquele primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. “O ministro Paulo Paiva tinha uma inserção muito grande com a equipe econômica, com o ministro Pedro Malan, com o ministro José Serra, depois com o Andrea Calabi” (ex-presidente do BNDES e do Banco do Brasil), observa o governador, ao se lembrar dos frutos que pôde colher do trabalho naqueles anos. “Também me
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Figura despachada
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Em meu segundo mandato parlamentar, no Governo Fernando Henrique Cardoso, iniciamos um projeto para a valorização da raça negra, o Ceneg – Centro Nacional de Cidadania Negra. Foi o Aécio que sugeriu que eu o procurasse no Ministério do Trabalho, e havia muita referência sobre a atuação dele lá, mas fazia uma imagem de uma pessoa muito técnica. E encontrei uma figura despachada. O que mais me impressionou foi a objetividade com que tratou das questões e deu conteúdo à nossa conversa do ponto de vista programático. Narcio Rodrigues Deputado federal
dei muito bem lá e fiz boas amizades.” Uma dessas amizades foi travada com o então secretário-executivo da Casa Civil, Fuad Jorge Noman Filho. No primeiro ano de FHC, o Governo Federal havia se organizado em câmaras ministeriais e comitês, estes formados pelos secretários-executivos, que eram, por sua vez, coordenados por Fuad. Hoje na presidência da Gasmig, ele se lembra do apoio que recebeu da sua contraparte no Ministério do Trabalho. “Para mim foi muito importante a participação do Professor Anastasia, porque ele cooperava muito, enquanto havia restrições em algumas áreas. Tivemos uma parceria importante na tarefa de planejar e organizar o governo.” A expertise em Direito Administrativo e sua habilidade de negociador, sem falar na fineza de tratamento e na ampla cultura, tornaram-no respeitado em torno do governo. Sabe-se que auxiliou diretamente Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração e Reforma do Estado, na reestruturação da máquina governamental. “Ele fez muito sucesso em Brasília. Logo foi reconhecido como talento e chamado para ocupar outras funções”, lembra Matheus Cotta de Carvalho, que também trabalhava no Ministério do Trabalho. Paulo Paiva cita, além de Bresser Pereira, os exministros Pedro Malan, Clovis Carvalho e Pedro Parente entre o círculo de admiradores de Anastasia, que também incluía o presidente. “Quan-
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do o presidente Fernando Henrique me convidou para ir para o Ministério do Planejamento, ele me chamou e disse o seguinte: Agora, quero te pedir uma coisa, o Anastasia não vai com você, deixa ele lá, porque vou precisar dele no Ministério do Trabalho. Isso dá uma ideia do peso que ele tinha”, revela o ex-ministro. E assim é feito. Paiva assume o Ministério do Planejamento e Antonio Anastasia permanece na Secretaria-Executiva do Trabalho até o final de 1988, com o ministro Edward Amadeo, que é sucedido por Francisco Dorneles. “O ministro Dorneles me pediu para permanecer, mas eu tinha um convite para ir para o Ministério da Justiça”, conta o governador, referindo-se ao segundo período do Governo Fernando Henrique Cardoso. Depois de apenas dois meses à frente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, o novo ministro, José Carlos Dias, o convida para assumir, novamente, a Secretaria-Executiva da pasta. Depois, é substituído pelo ministro José Gregori. Nessa fase, o secretário participa da elaboração do I Plano Nacional de Segurança Pública, iniciativa pioneira para combater a criminalidade no Brasil, em particular o tráfico de drogas. Matheus Cotta avalia que a experiência na capital federal equivale à passagem por uma escola. “Houve um amadurecimento pela exposição em Brasília, ao aprender a lidar com as pressões, com as composições que usualmente existem nos go-
vernos federais e com a imprensa”, observa. Anastasia remanesce dois anos no cargo, antes de retornar a Minas, em 2001. Ele deixa o Governo Federal e retorna a Belo Horizonte para reassumir suas funções de professor na Faculdade de Direito e o exercício da advocacia. O intervalo longe do setor público revelou-se, entretanto, menor do que ele havia planejado. O deputado federal Marcus Pestana, presidente do Instituto Teotônio Vilela – ITV em Minas, conta um episódio antecipatório sobre o que viria. Corre o final do ano de 2000 e alguns amigos mineiros se cotizaram para promover um jantar de despedida na casa do deputado, no Lago Norte, em Brasília. Não havia entre os presentes ninguém que imaginasse o que estava por acontecer no Estado. “Na hora do brinde, ergui a taça e falei: Nos encontramos no Governo de Minas, daqui a dois anos” – lembra Pestana. “E ele disse: Não, vou retomar minha vida acadêmica, minha trajetória jurídica como advogado.” Em meados de 2002, os dois participavam da equipe que iniciava a preparação da campanha de Aécio Neves ao Governo de Minas.
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Um cidadão dedicado a Minas Renata Vilhena
“Minas é a nossa causa.” Assim sintetizou o governador Anastasia, em seu discurso de posse, a motivação, o norte a ser perseguido por todos os que com ele vierem a caminhar em sua atuação no comando da administração pública de Minas Gerais. Felizmente, e coloco dessa forma pelo contentamento que a circunstância me confere, sou mais uma a com ele dividir esse compromisso de trabalhar incessantemente pelo desenvolvimento de nosso estado. Não obstante a afirmação ter ocorrido em tempo recente, ao longo dos cerca de 20 anos em que tenho tido a honra de conviver e aprender com o governador Anastasia, não presenciei uma só ação, um simples direcionamento por ele definido que não tivesse como alicerce essa terra e os homens e mulheres que nela vivem. O governador, de fato, enxerga o serviço público no sentido literal do termo e nos faz trabalhar de forma intensa na busca da excelência no que fazemos, isto é, na realização de projetos e iniciativas que
mudem para melhor a vida das pessoas, que reduzam as desigualdades e tragam prosperidade e oportunidade a todos. Para alcançar esse objetivo, e com base em seus 30 anos de experiência como servidor e gestor público, o governador Anastasia entendeu que, para que pudéssemos ser, de fato, capazes de transformar a sociedade, precisaríamos antes mudar nós mesmos. Assim, nasceu o Choque de Gestão, que, pelo seu engenho e sob a liderança do então governador Aécio Neves, tornou a administração mineira exemplo de gestão pública, de eficiência no uso dos recursos, de organização que trabalha com foco em resultados voltados à sustentabilidade do desenvolvimento social, ambiental e econômico do estado. Ao aceitar o convite para atuar em sua equipe na Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, em 2003, tive o privilégio de participar de forma ativa desse processo, e sou grata ao governador Anastasia pelo enorme aprendizado e crescimento profissional que esse trabalho me proporcionou. Talvez seja um pouco simplista da minha parte eleger um único item para simbolizar esse aprendizado e a admiração que nutro pelo governador. Porém, além de sua ética
no trato da coisa pública, de sua objetividade e assertividade na resolução de temas complexos e do amplo conhecimento que possui sobre a realidade de tudo que está por entre nossas montanhas e vales, creio que sua mais notável característica é a obsessão por resultados, pelo alcance de metas que tenham impacto positivo na vida dos mineiros. Isto porque Minas não é a causa deste governo apenas, mas é, principalmente, a causa do cidadão Antonio Anastasia, como servidor público que é, como filho dessa terra à qual se dedica sem ressalvas. Ter total convicção sobre a veracidade dessa afirmativa é o que faz com que eu e todos que com ele hoje trabalham em prol do crescimento sustentável do nosso estado o façamos com absoluta certeza de que seu futuro está em excelentes mãos. Renata Vilhena é secretária de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
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Um mineiro de fato Eduardo Azeredo
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Simplicidade é uma das características mais marcantes do governador Antonio Anastasia. Também a permanente disposição de ouvir, a atenção que sempre dá às pessoas, desde o mais simples até o mais graduado, e a grande capacidade pessoal de analisar os fatos e buscar a origem do problema compõem o seu perfil de homem público. Conheci Anastasia na época do Governo Hélio Garcia. Ele trabalhava com o secretário de Planejamento, Paulo Paiva. Eu era prefeito de Belo Horizonte. Foi nesta época o nosso primeiro contato na área pública. Ele deixou uma impressão inicial muito boa, principalmente pela sua competência. Lembro que o governador Hélio Garcia já dizia: “Este menino sabe muito”. Quando governei Minas Gerais, Antonio Anastasia foi secretário-executivo do
Ministério do Trabalho no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. No segundo Governo FHC, Anastasia foi secretário-executivo do Ministério da Justiça. E desempenhou estas funções com muita competência e reconhecimento, sempre dando atenção especial a Minas Gerais. No primeiro Governo Aécio Neves, ele coordenou, com sucesso, a implantação do Choque de Gestão, o programa que reestruturou administrativamente o Estado. Nesse período, Anastasia se impôs, seu trabalho apareceu mais e o governo mineiro conseguiu equilibrar suas contas. No segundo Governo Aécio Neves, ele foi o vice-governador do Estado. Foi um vice que assumiu funções administrativas, hábil, muito presente, e aos poucos mostrou o lado político que todo mineiro tem. Depois assumiu o governo e saiu-se muito bem. Foi
um teste muito bom para que, em seguida, saísse candidato ao Governo Estadual. Com sua argumentação mais racional se sobrepôs ao seu adversário. Conseguiu uma grande virada nas eleições em Minas, chegando à vitória no primeiro turno, o que o colocou com uma responsabilidade muito grande, já que, eleitoralmente, Minas é o segundo estado do País. Além de ser uma pessoa muito bem preparada, é um mineiro de fato: é discreto, simples e sempre buscando resultados. Entendo que estamos muito bem representados com um governador disposto e determinado como Anastasia. Um professor brilhante, com uma formação profissional de administrador competente e capacitado. Eduardo Azeredo é deputado federal pelo PSDB, ex-senador e ex-governador de Minas Gerais.
DEPOIMENTOS
Interesse público Fisiologismo, casuísmo não tiveram lugar no texto aprovado [Constituição do Estado]. E ele contribui fundamentalmente para firmar esse ponto de vista. Em resumo: homem extremamente inteligente, com vocação comunitária muito grande, interesse público notável. Tudo isso fez com que ele se destacasse sobremaneira em seu trabalho e fosse percebido pelo Governo do Estado. Bonifácio Mourão Deputado estadual pelo PSDB
Funcionário do público
Exemplo
O governador Antonio Anastasia é o grande exemplo para ser dado a todos os funcionários que trabalham para um governo. Não gosto nem de dizer o termo funcionário público, mas sim funcionário do público, porque mostra que é possível que, com seriedade e dedicação, as pessoas também subam na carreira. E nada melhor como exemplo do que uma pessoa que sempre foi um funcionário do público chegar ao cargo máximo do governo, que é o de ser governador do Estado. O Anastasia é o melhor funcionário do público.
O governador Anastasia tem a exata dimensão do poder pela responsabilidade e pelo bem servir. Tem autoridade porque é o primeiro a servir bem, o primeiro a ser o cumpridor dos compromissos. Se o servidor maior dá este exemplo e exala respeito e dignidade, faz com que as pessoas sintam que precisam ter um mínimo de compromisso para segui-lo nesse modelo que impõe. Os que convivem com ele veem a fortaleza que é o governador, o que ele já demonstrava como vice e servidor público.
Wilson Brumer Presidente da Usiminas e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais
Vocação Não se sabia naquela época [do curso de Direito da UFMG] exatamente em qual seara ele utilizaria o Direito Administrativo, se na diplomacia ou até na magistratura. Quando você é jovem, não tem a exata definição daquilo que vai seguir. Talvez não fosse tão claro que seria em um processo político, partidário e eleitoral, mas era claro que seria dentro do Direito Administrativo. Célia Pimenta Advogada, ex-colega da Faculdade de Direito da UFMG
Carlos Melles Secretário de Transportes e Obras Públicas do Governo de Minas
Influência com FHC O Professor Anastasia era reconhecido como uma pessoa absolutamente relevante dentro do processo de modernização e mudanças empreendido no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. José Frederico Álvares Presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – Indi
O bom aluno O bom aluno é bom em tudo. O desempenho melhor resulta da maior dedicação que ele tem pelos estudos. Pode não ter às vezes um pendor para o Direito Penal, para o Direito Civil e ter mais, no caso dele, para o Direito Administrativo. Mas ele tem notas melhores em todas as disciplinas. Então, eu diria que ele sempre foi uma unanimidade na faculdade, um aluno destacado no conceito de todos os seus professores. Vicente de Paula Mendes Advogado e professor da UFMG aposentado
No centro decisório No Governo Hélio Garcia, ele, muito jovem, era sempre convocado para ajudar a resolver as questões. Sempre foi muito criativo, com imensa capacidade de dar soluções para os problemas, como conhecedor da legislação e do Direito Administrativo. Diante de todos os dilemas que a administração enfrenta, ele era uma pessoa para encontrar caminhos e soluções. Então, tendo em vista essa característica, ele rapidamente se tornou parte do centro decisório do Governo Hélio Garcia. Matheus Cotta de Carvalho Presidente do BDMG
Economistas e advogados Os economistas às vezes acham que sabem fazer as coisas todas, que resolvem os negócios todos, mas eu sempre entendi que, nesta questão de governo, você tem de cominar seu conhecimento de economia, de gestão fiscal, essas coisas todas com o conhecimento institucional, sempre achei que era fundamental você ter ao seu lado um advogado, então o Anastasia foi o primeiro a ser convidado [para o cargo de secretário-adjunto de Planejamento no Governo Hélio Garcia]. Paulo Paiva Ex-ministro do Trabalho
Intelectual na política Vi muitos intelectuais fazerem política e tentarem administrar, mas nem sempre com o mesmo brilhantismo que demonstravam na vida acadêmica. O governador Anastasia fez essa aliança com muita naturalidade e simplicidade, a simplicidade que ele tem ao se relacionar. Tilden Santiago Segundo suplente do senador Aécio Neves
Ambiente inflacionário O ambiente era totalmente diferente, porque inflacionário. O orçamento era uma peça de ficção diante de uma inflação de 20-25% ao mês, não era como hoje, quando é possível projetar com alguma credibilidade, alguma confiabilidade, receitas e despesas. Os mecanismos de gestão de caixa é que mandavam. Ele atuou na Secretaria do Planejamento nesse momento, em que vivíamos um processo quase às portas da hiperinflação. Isso teve um impacto grande na gestão pública. Mas, ali, o Anastasia já era uma pessoa absolutamente central na equipe do Hélio Garcia e começou a ter sua trajetória destacada. Marcus Pestana Deputado federal pelo PSDB
capĂtulo IV
professor
ao mestre com carinho e o professor faz escola um retrato se ilumina sem tempo a perder lição de amor ao trabalho
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O professor convive no gestor público, considerado o melhor do Brasil, e convive no governador de Estado. Nele, a vocação se aliou ao trabalho, e este ao rigor e à disciplina. Essa conjunção forjou o Professor Anastasia, persona cativante que em sua trajetória inspirou alunos e fez escola nas repartições públicas onde atuou. A profunda identificação do professor com o que faz emula estudantes e servidores públicos. A vida não é fácil para as equipes que ele forma, dada a firmeza com que cobra resultados, mas costuma ser premiada, pois se aprende muito, afiança quem com ele lidou e lida. Suas convicções quanto à ética, à responsabilidade social na vida pública e à nobreza desse ofício vão fazendo história. Os traços da personalidade são bem conhecidos. A reputação da inteligência pragmática e da memória excepcional o precede. A serenidade, o bom humor, a oratória sedutora, o dom para ensinar e se fazer entender, assim como o de saber ouvir, agregam e o tornam admirado aonde vá. A obstinação pela pontualidade causa espécie em uma cultura impontual. Ser uma pessoa acessível, que “dá retorno” religiosamente a seus interlocutores – e isso há muito tempo e conforme a tecnologia disponível, seja
bilhete, fax, telefone, e-mail ou SMS –, também o caracteriza. E a simplicidade o distingue como figura pública, ainda que essa qualidade possa ser matizada. “O que mais me impressiona no professor é a máxima sofisticação em uma pessoa extremamente simples e gentil”, conta seu ex-aluno Osvaldo de Castro Filho, hoje professor e doutorando em Teoria Geral e Filosofia do Direito na Universidade de São Paulo – USP. “Ele é homem de modos sofisticados e polidos e de cultura vasta e mesmo enciclopédica. Mantém uma salutar curiosidade pelas coisas do mundo e interesse ardente pelo humanismo”, define Maria Coeli Simões, secretária da Casa Civil e de Relações Institucionais do Governo de Minas. Se o espírito do professor sobressaiu em gabinetes executivos e, mais recentemente, nos palanques em praça pública e no palanque eletrônico, sobressai agora, da mesma forma, na nova liderança que surgiu em Minas. Quem o conhece há mais tempo diz que o professor se preparou para assumir seu mandato popular, e que sua atuação se dará na exata medida de seus preceitos. É o que pensa Matheus Cotta, presidente da Diretoria Executiva do BDMG: “O que permanece são os valores do professor. Aquilo que existe de mais pessoal e que nos dá sustentação enquanto seres humanos, que são nossos valores, nossos princípios, a base sobre a qual nos desenvolvemos. Eu consigo reconhecê-lo hoje, na posição que ocupa como governador de Estado, com esse mesmo conjunto de princípios e valores que ele tinha há 25 anos”.
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Ao mestre com carinho
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A arte de administrar o tempo, a fim de aproveitá-lo bem, pode explicar o apego à pontualidade. Só quem domina essa arte com maestria conseguiria o feito de tocar duas Secretarias de Estado centrais na máquina pública – Planejamento e Defesa Social, e ainda comparecer, à noite, diante de seus alunos da Faculdade de Direito da UFMG. O Professor Anastasia cumpriu tal rotina – melhor dizer, ideal – até quando a Constituição Estadual lhe permitiu, ao se candidatar a vice-governador. Ana Lúcia Gazzola, secretária de Educação e reitora da UFMG na época, custou a acreditar quando o titular da Seplag, que acabara de acumular a Defesa Social, lhe telefonou para renegociar seu contrato de trabalho com a Universidade. Ciente de suas atribulações no Governo Aécio Neves, se ofereceu para ir até seu gabinete de trabalho, o que ele agradeceu, mas recusou. “Não, vou tratar de uma questão minha como professor. Sou eu que devo ir a você”, ela ouviu. Eles se encontram na UFMG, e lá ela tenta dissuadi-lo, em vão. Lúcia Gazzola lembra-se de terem mantido mais ou menos o seguinte diálogo: “Mas por que você vai fazer isso? Você tem direito, como secretário de Estado, a licença sem vencimento”, ela argumentou.
“Mas eu não quero abandonar meus alunos”, ele respondeu. “Você enlouqueceu? É secretário do Planejamento e agora assumiu a Defesa Social, a área mais difícil do governo, e vai trabalhar com objetivos que ninguém acredita que vai realizar”, ela insistiu. “Não, vou trocar. Vou dar aula só à noite. Não vou deixar meus alunos”, ele rebateu. E a conversa terminou ali. Até o ano seguinte àquele encontro, o professor compareceu à Faculdade de Direito, todas as semanas, à noite, e cumpriu sua obrigação. “Para mim, é a maior prova do professor que ele é. Sempre tive carinho e admiração por ele”, honralhe Ana Lúcia Gazzola. O gosto por ensinar, ele pegou em casa. “Sempre gostei de dar aulas” – declara o governador, ao explicar a gênese da inclinação para o magistério. “Na minha família, a minha avó era professora, minha mãe foi professora, minhas duas irmãs são professoras, então, criou-se desde cedo um ambiente próprio para dar aulas, para gostar de aulas e dar aulas. Porque só quem gosta de receber aulas gosta de dar aulas.” A prática no professorado é ensaiada na graduação da UFMG, durante a exposição de traba-
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lhos em grupos, na frente da sala. Toma corpo a partir de 1984, na Fundação João Pinheiro, aos 22 anos, já professor de Direito Administrativo contratado que começa a lecionar para alunos de pós-graduação, e também dá aulas para turmas da Faculdade Milton Campos. O mestrado foi iniciado entre 1984 e 1985, e a dissertação, sobre o Regime Jurídico Único, na área dos servidores públicos, só pôde ser defendida em 1990, pois se aguardava o projeto Constituinte, que afetaria o objeto da pesquisa. Vicente de Paula Mendes, seu professor de Direito Administrativo na UFMG, lembra-se de que o tema escolhido para a dissertação se destacou muito ainda na seleção, que era e é disputadíssima. “A relação do empregado público comum com o empregador é uma relação econômica” – explica o mestre, ao falar da relevância dos estudos na área. “O servidor público é diferente, ele tem uma relação com o Estado na qual encarna o Estado. Tem que ser mais responsável e mais dedicado, e, também, ter obrigações e direitos diferenciados do trabalhador comum. E o Antonio, para minha satisfação, escolheu justamente esse tema.” A meta pessoal de se tornar professor de Direito Administrativo da UFMG teve de ser adia-
da até 1993, quando a Universidade, depois de muito tempo, abriu uma janela de concurso para professor com dedicação de 20 horas. Antes, contratavam-se apenas docentes com dedicação exclusiva, o que era incompatível com seu cargo na Fundação João Pinheiro. Na aula obrigatória dada à banca examinadora instituída no concurso, o tema escolhido foi relacionado à lei do serviço público. “Ele deu um show”, garante o professor Paula Mendes, e se destacou perante seus concorrentes. Aprovado em primeiro lugar, foi nomeado, começou a dar aula e logo surgiu o tratamento Professor Anastasia, na referência carinhosa dos seus alunos. A atividade na UFMG será interrompida com sua ida para Brasília, em 1995, para trabalhar em dois ministérios. Em Brasília, o magistério continua a ser exercido em ritmo irregular, em aulas proferidas em instituições como a Escola Nacional de Administração Pública – Enap. Quando voltou para Belo Horizonte, chegou a cumprir os créditos do doutorado, não pôde, no entanto, defender a tese, pois, logo em seguida, veio o Governo Aécio Neves. Ao regressar a Belo Horizonte, no ano de 2001, as aulas na Faculdade de Direito foram retomadas. Osvaldo de Castro Filho, seu aluno já no período
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pós-Brasília, descreve-lhe a figura. “Pontual e assíduo, desde sua primeira aula, arrebatou a todos com seu carisma, cultura, bom humor, didática e sua impressionante e astuta sabedoria”, relembra. O professor comparecia sempre trajando ternos bem cortados, gravatas elegantes e sapatos impecáveis. “Ele era conhecido, entre muitos de seus alunos, como o Professor. Não se referiam a ele como professor Anastasia, mas simplesmente como o Professor. No segundo horário, é aula do Professor, dizíamos”, conta. A memória proverbial se revelava na sala de aula com o costume de se reportar aos alunos por nome, sobrenome, cidade onde a pessoa havia nascido e, muitas vezes, seguia-se disso a narrativa de episódios do Direito Administrativo transcorridos naquele município. Colega de turma de Osvaldo, o advogado Raul Borelli revela o mesmo carinho quando se recorda daquelas aulas. “Ele tinha verve, no sentido de capacidade para discursar, uma maneira de conduzir a aula e demonstrar muito conhecimento. Era como se estivesse discursando sem ler”, o descreve, acrescentando que essa era uma característica impactante para a maioria dos colegas. Borelli também se lembra da facilidade do professor para guardar referências pessoais dos alunos e associar as pequenas cidades do interior onde haviam nascido – Cabo Verde, Muzambi-
nho, onde fosse – com cases do Direito Administrativo, e isso ajudava a prender a atenção da classe. “Ele ia criando vínculos pessoais com os alunos, como meio de aproximar os alunos da disciplina.” Especializado em Direito Administrativo e plenamente identificado com sua formação, Borelli não hesita em apontar a influência do mestre. “Alguns professores têm o condão de trazer o aluno para aquele ramo do Direito que professa. Eu e vários colegas nos aproximamos do Direito Público e do Direito Administrativo em função dele” – conta, acrescentando que a matéria, tal qual ensinada pelo Professor Anastasia – “muito mais que uma operação do dia a dia do Direito, podia lidar com grandes temas de interesse público”. Também observa que a carreira do professor em si era o melhor exemplo que podiam ter. “Ele próprio, como figura pública, e transmitindo essa impressão para a gente, nos influenciava dessa forma.” Perguntado se as salas ficavam cheias, Borelli não hesita em exclamar: “Se quisesse, o professor não precisaria fazer chamada”. “As aulas estavam sempre cheias, e os alunos gostavam de comparecer até como forma de retribuição”, agrega. Também não faltava bom humor, intercalado às aulas, sempre bastante interativas e vivazes. Osvaldo se recorda do questionário de conhecimento geral a que o professor submetia os alunos, um
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pouco para compensar a aridez do Direito Administrativo: “Lembro-me dele ensinando que, caso alguma das meninas tivesse uma audiência com o Papa, deveria cobrir-se com véu negro diante do Sumo Pontífice. E aí ele perguntava: à exceção de quem? De quem? Dificilmente alguém sabia a resposta. Então, ele respondia: das rainhas e da duquesa de Alba. Depois, explicava a razão das exceções: as rainhas e a duquesa de Alba deveriam vestir véu branco, ao visitar o Pontífice. Ou, então, saía-se com esta: Onde está o penacho de Moctezuma?, indagou-me certa vez. Pensei que estaria no México, dado que Moctezuma foi um imperador asteca. Mas ele logo esclarecia, sorrindo: está em Viena, na Áustria”. Borelli ri até hoje ao recordar outra história engraçada do professor, que tinha fama de apreciar um bom manjar. “Uma vez, durante a aula, ele parou e me perguntou: Raul, você gosta daquela torta, floresta negra? Não me lembro bem do contexto em que saiu a pergunta, mas respondi, olha professor, não sou muito chegado a doces. Aí ele falou: Ah, coração de pedra!”
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E o Professor faz escola
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O Professor Anastasia deixou uma impressão marcante em sua convivência na administração pública. Hoje, para muitos que vão ter com ele no Palácio Tiradentes, o tratamento obrigatório governador embute a consideração ao professor, mas há quem não resista a trocar. “Olhar para ele é olhar para um professor que tem dentro da alma a função nobre de educar, tanto que continuo o chamando de Professor Anastasia”, confessa Helena Mourão, diretora da Associação Mantenedora do Museu das Minas e do Metal. Helena nunca se esqueceu de um despacho com o então vice-governador sobre o andamento das obras de transformação do prédio da Secretaria da Educação no museu que dirige. Ela fez uma explanação sobre o projeto técnico e usou alguns jargões da engenharia, como a palavra embasamento. Nesta altura, o vice-governador interrompeu a reunião para perguntar o que significava “embasamento”. A naturalidade com que fez a indagação surpreendeu a muitos ali presentes. “Só uma pessoa que conhece bem o processo de ensinar não tem medo de colocar uma dúvida em público”, observa Helena. Nos cargos que exerceu de secretário de Estado no Governo Aécio Neves, a maneira de abordar os assuntos com os subordinados, planejar, co-
ordenar e acompanhar os resultados, com a qual definiu seu estilo de gestão, fixou a imagem do professor na mente dos funcionários. Para Tadeu Barreto Guimarães, diretor-presidente do Escritório de Prioridades Estratégicas deste governo, essa imagem se constrói desde a implantação do Choque de Gestão, em 2003. Quando ocorriam as reuniões da Seplag, havia quem falasse nos corredores da repartição, em semitom pejorativo, rememora Tadeu, “agora vai começar a escolinha do Professor Anastasia”. E não é que a “escolinha fez escola, em toda a dimensão do que uma escola representa?” – ele comenta. “Então, o professor, que é professor na sala de aula, respeitava o conhecimento aqui também.” Aluna orgulhosa da mesma escola, Renata Vilhena – titular da Seplag desde o último Governo Aécio Neves – define como “amor à primeira vista, da minha parte em relação a ele”, o encontro com o então secretário-adjunto de Planejamento no Governo Hélio Garcia. Funcionária pública de carreira, quando começou a integrar sua equipe de trabalho, no ano de 1991, ela se entusiasmou com a possibilidade de aprender com alguém que demonstrava, naturalmente, conhecimento profundo da administração pública e uma incrí-
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vel capacidade de coordenação e comando. Renata também foi cativada pelas qualidades do professor presentes no estilo do gestor. “Uma coisa que sempre chamou muito a atenção nele, que encanta todo mundo, é a oratória. Ele raramente usa Power Point. Sempre fala de improviso, e a fala dele te prende. Se ele falar 40 minutos ou duas horas, você vai prestar atenção”, admira. A razão disso, para a secretária, é a capacidade de explicar e interagir com os servidores como quem ensina. Quem o ouve se anima diante do conhecimento transmitido e compartilhado. “Ele é extremamente didático. A facilidade para falar sempre chamou atenção. Até então, tudo era muito técnico”, conta. Observações do gênero ecoam dentro e fora do Governo de Minas. “O Anastasia tem uma característica surpreendente: ele abre a boca, começa a falar, e as pessoas param e escutam. É impressionante a capacidade que ele tem não só de improviso, mas de convencimento”, impressiona-se Dorothea Werneck, secretária de Desenvolvimento Econômico. “Ele tem sempre um bom exemplo e sabe colocar a resposta no entendimento do público para o qual está falando”, agrega Olavo Machado, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg, referindo-se a um almoço do qual
participou em São Paulo, oferecido pelo jornalista João Doria Junior, em 2010. “Ele encantou todo mundo com a maneira firme e simples de abordar os temas. Com ele não tem pergunta sem resposta”, observa. O dom para se comunicar, que confere carisma ao professor, manifesta-se no raciocínio organizado e cristalino. “Certamente ele é muito metódico. Sua capacidade lógica é impressionante. Só conheci duas pessoas assim, Francisco Iglésias, que era professor de História Econômica na UFMG, e Antonio Augusto Anastasia” – concorda o exministro Paulo Paiva, que acrescenta ao comentário outro traço essencial: o domínio do idioma. “Quando faz uma palestra e é chamado a falar de improviso, o que ele diz pode ser gravado e mandado para a gráfica, porque não há uma vírgula fora de lugar, não há palavra mal colocada.” Dominar o discurso é um talento cujo valor permeia a história até a modernidade, nota o cientista político Luis Aureliano Gama de Andrade. “Ele tem o dom de se expressar muito bem e de concatenar as ideias com muita clareza”, observa. “Consegue ser muito persuasivo e impressiona positivamente quando fala. É um recurso importante para a política, mesmo nos tempos da televisão, da internet, do Twitter, o que seja. Falar
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bem é um recurso extraordinário”, acrescenta. Paulo Paiva conta, divertido, que o brilho da oratória do professor não escapava ao chefe. “Certa vez, em 2006, no Palácio da Liberdade, o governador Aécio Neves me confidenciou o seguinte: Muitas vezes pessoas me convidam para eu fazer uma palestra, mas torcendo para eu não aceitar e indicar o Anastasia.” A intimidade com palavras e palestras comumente é associada ao conhecimento da História. “Ele fala bem. Tem um vasto conhecimento da História de Minas e da História universal”, afiança o senador Itamar Franco. E o secretário de Governo Danilo de Castro corrobora: “Ele é um profundo conhecedor de História e a utiliza frequentemente. Talvez seja uma das coisas mais evidentes nele, o uso desse conhecimento nas diversas oportunidades, quer em discursos e reuniões, quer em conversas amistosas ou até mesmo em alguns embates políticos”. Para Renata Vilhena, que tem 20 anos de vivência com o governador, há sempre o que se aprender com ele. “Desconheço uma pessoa que saiba tanto quanto ele, principalmente de História e lugares. Com ele sempre tive encontros e conversas agradáveis”, comenta. A disposição de dividir sua cultura histórica ainda alicerçada numa memória fabulosa muito tem alegrado os amigos. “Não é à toa que sempre o chamamos de professor, porque ele sempre compartilhou seu conhecimento. Sempre pedíamos que ele nos falasse de fatos históricos” – revela Matheus Cotta. “Pedíamos a ele: Professor, nos fale um pouco da Revolução Francesa, e ele nos dava uma aula. Ou: fale sobre a Inglaterra medieval refletida na obra de Shakespeare, e ele nos falava tudo sobre o assunto.”
Não conheci nenhum gestor tão completo. O Anastasia é o melhor que conheço no Brasil, não só em Minas. Marcus Pestana Deputado federal pelo PSDB
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Ele tem o DNA da política no sentido mais puro, que é o da capacidade de negociar e construir soluções, tem isso na origem dele. Paulo Paiva Ex-presidente do BDMG
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Um retrato se ilumina
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A carreira de um professor que entra para o serviço público com competência técnica incomum em Direito Administrativo, se projeta dentro e fora do País como gestor e se realiza na política ainda é um tanto singular no Brasil. Dessa singularidade decorre certa dificuldade em compreendê-la. Mas, vistas em perspectiva, as partes compõem um todo, e um retrato se ilumina. “Ele tem uma combinação ímpar de três atributos” – raciocina o ex-ministro Paulo Paiva, que o conhece há 22 anos, desde a Constituinte mineira. “Primeiro, uma sólida formação acadêmica e profissional, uma base intelectual e técnica na área do Direito Administrativo que é invejável e que possivelmente poucas pessoas no Brasil têm. Segundo, uma enorme capacidade de gestão – e de oferecer soluções de inovações. Em terceiro lugar, uma capacidade incrível de negociar e construir consensos.” A capacidade de encontrar soluções de uma maneira criativa, responsável e segura, conforme Paiva, desvela uma quebra de cultura em relação à imagem assentada do advogado público como um especialista em apor obstáculos e impedimentos contra iniciativas inovadoras. Em concordância, Luis Aureliano Gama de Andrade acrescenta que o governador se posiciona
no sentido oposto do conhecido vício nacional de “procurar dar um jeitinho”. Ao contrário, sua atitude é por hábito positiva e afirmativa, típica em uma personalidade assertiva. Para Luis Aureliano, deve-se voltar a luz para a natureza do momento histórico. “Ele tem talento político, isso lhe é nato, que não é o do político populista de massa” – interpreta o cientista político –, “e possui qualidades extremamente importantes para o meio político que cada vez são mais apreciadas, mais valiosas. Uma delas é honrar compromissos, ser claro e transparente na tomada de decisão.” Tal aptidão política constrói resultados, é indissociável deles, prossegue. “Como principal colaborador do Governo Aécio, ele tinha uma característica que era de levar soluções – não levava problemas para o governador. Nunca foi o sujeito que leva o problema para quem está num grau superior, leva opções, cada uma delas com o custo político definido”, ele observa. Pelo veio do raciocínio, o perfil que se desenha é o de um administrador envolvido com os dias atuais. “O governador Anastasia é uma pessoa capaz não só de entender os problemas, mas tem necessidade de ter clareza sobre as coisas, de desvendar a natureza dos problemas e não se intimi-
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dar com as dificuldades, mas enfrentá-las”, analisa Luis Aureliano. O ex-ministro se alinha com a visão do governador como um homem afeito à renovação. “Ele tem o DNA da política no sentido mais puro, que é o da capacidade de negociar e construir soluções – tem isso na origem dele”, sentencia Paiva. “É o tipo de liderança moderna, não o tipo populista que sobe em carroceria de caminhão. Isso ficou no passado. Mas a liderança de quem tem uma percepção clara de captar as principais tendências e dar uma resposta racional com transparência, segurança e ética”, complementa. Neste ponto, o retrato vai se definindo como uma síntese “do técnico e do político numa química inovadora pela moderna governança” – nas palavras de Maria Coeli Simões Pires, secretária da Casa Civil e Relações Institucionais. “O governador Anastasia é a grande novidade da política atual, ao lado do governador Aécio Neves. Juntos, inauguram uma política de articulação de consensos sob as luzes da modernidade, da inovação, suportada por um denso amparo democrático.” Colocado de outra forma, quem o acompanha realça a conjunção bem resolvida da erudição com a capacidade de construir programas e fazê-los acontecer, ou seja, do pensador com o executor e o gestor.
Não assisti a nenhum momento no qual o professor Anastasia tenha sido grosseiro, deselegante. Vigoroso, sim, mas sempre respeitoso, dando um tratamento digno às pessoas. Hélio dos Santos Júnior Comandante geral da PM
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Seu nível de inteligência é fenomenal. Ele sempre soube muito bem aonde queria chegar, com metas muito bem definidas. Marilena Chaves Presidente da Fundação João Pinheiro
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Os grandes gestores, aqueles que são líderes e quando se tornam figuras governamentais, são os verdadeiros estadistas. Pensam em política de Estado e não de governo. 206
Ana Lúcia Gazzola
Ele está aberto às novas ideias na medida em que se faça o arroz com feijão bem feito. Tadeu Barreto Guimarães
“O governador Anastasia tem uma combinação rara que é difícil se ter em uma só pessoa, que é a capacidade de formulação estratégica, de fazer diagnóstico prospectivo, visualizar o futuro, erguer metas e liderar uma equipe com senso de autoridade. Ele fez o ciclo completo”, avalia o deputado federal Marcus Pestana. O presidente da Gasmig acrescenta a perspectiva do sonho. Sonho que se deve entender como ideal para o estadista. “Ele é uma pessoa que sonha muito, planeja muito, mas é um grande executivo”, define Fuad Jorge Noman Filho, ao se reportar à implantação do Choque de Gestão no Governo Aécio Neves. “Há um aprendizado ao se conviver com quem é capaz de pensar as ações, planejar essas ações e ser também o condutor da sua execução”, comenta. A intuição privilegiada dos gestores que concebem políticas de Estado e não apenas de governo – outra chave na compreensão do homem que exerce o cargo de governador de Minas – é sugerida por Ana Lúcia Gazzola, secretária de Educação. Ela se refere à capacidade do estadista para identificar, na complexidade de uma conjuntura, quais são as variáveis com maior possibilidade de transformar a sociedade, e torná-las viáveis. “Quem escuta o Professor Anastasia sabe que ele trabalha com uma bagagem de conhecimento – e é por isso que neste momento eu o chamo de professor – gerado no passado, nas experiências, na
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literatura, nas experiências administrativas, nos modelos de gestão”, considera a secretária. “Ele é capaz de construir possibilidades como políticas de Estado. Essa é uma característica dele, ser capaz de impulsionar transformações e, ao mesmo tempo, compreendê-las como patamares subsequentes”, observa. O deputado estadual Mauri Torres indica o conjunto da obra do realizador que ultrapassou as Alterosas, e descortina o retrato que ganhou fama. “Todo mundo sabe – é público e notório – que hoje ele é considerado o maior gestor público não só de Minas, como do Brasil”, comenta o parlamentar tucano. “E aliada ao seu conhecimento da gestão pública está simpatia, compreensão e paciência. Ele é uma pessoa que veio como técnico para a vida pública, mas se tornou um grande político”, complementa. O deputado Pestana reforça o registro do seu correligionário: “Não conheci nenhum gestor tão completo, é um dos melhores. Convivi com Pedro Parente, Clóvis Carvalho, Bresser Pereira” – alinha, referindo-se aos ex-ministros do presidente Fernando Henrique Cardoso –, “mas Anastasia é o melhor que conheço no Brasil, não só em Minas”. No plano dos valores ligados à ética, a imagem do governador Anastasia é inseparável do conceito de integridade na administração pública. “Ele é exemplo de honestidade, do trato correto com as
coisas públicas. Ele passa a ser efetivamente um exemplo e abre um novo filão de políticos que certamente o terão como benchmarking”, assevera Olavo Machado, presidente da Fiemg. “Avalio a trajetória política dele pelo fato de todo trabalho que ele realizou ao longo dos últimos 20 anos ter o selo da ética”, ecoa Charles Lotfi, expresidente da ACMinas. “O homem é um político ético por excelência, que a mim impressiona pelo senso de responsabilidade que tem. Como gestor, como professor de Direito, como político, por onde passa ele deixa sua marca de genialidade”, admira-se.
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Sem tempo a perder
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O governador Antonio Anastasia, sabe-se, não gosta de perder tempo. Se tempo é dinheiro, para ele também é resultado no serviço público. O reconhecimento das qualidades do gestor se deve muito à organização e ao método, bem como ao trato amistoso. Prezar a pontualidade e as reuniões breves em que apareçam soluções, ouvir com atenção seus interlocutores, dar a eles respostas convincentes e ser rigoroso com a eficiência são princípios do estilo gerencial. Ele é uma pessoa objetiva. E é assim não é de hoje. O governador conta que logo ao chegar a Brasília, em 1995, agendou-se no Ministério do Trabalho reunião do Conselho Curador do Fundo de Garantia, que ele, como secretário-executivo da pasta, deveria presidir. Então, perguntou à secretária da entidade quanto tempo duraria a discussão da pauta, composta de 12 itens. “Dois dias”, ela respondeu. “O quê? Comigo não!”, reagiu. “São duas horas! E pá! Em duas horas, estava terminado. “Porque não adianta” – ele explica, pensando nas reuniões que nunca acabam – “é perda de tempo”. “Uma das características fortes dele é o dinamismo” – afiança o coronel reformado da Polícia Militar Hélio dos Santos Júnior, que trabalhou com o então secretário de Defesa no primeiro Governo
Aécio Neves na implantação do projeto Integração e Gestão em Segurança Pública – Igesp. “Não ficávamos repisando temas em pauta. Reunião não podia passar de uma hora. E todos os temas eram solucionados. Antes, tínhamos reuniões homéricas, de quatro, cinco horas. Não com ele.” Aquilo que não tem como resolver agora pode ser discutido depois, ou, como diz o ditado, o que não tem remédio remediado está. Eis um bom princípio para não jogar conversa fora. “Ele firma uma posição: se um problema não tem solução, então pronto, acabou, não se vai ficar tentando dar murro em ponta de faca e gastando energia com alguma coisa que não tem sentido”, descreve-lhe Luis Aureliano, que o conheceu ainda nos anos 80, como técnico e professor da Fundação João Pinheiro. “O mais interessante é que se percebe que não é um despacho para ficar livre do problema. É um despacho para encaminhar uma solução”, apõe Narcio Rodrigues, secretário de Ciência e Tecnologia e presidente do PSDB-MG (2009-2011). “Essa é uma visão que faz com que ele tenha uma capacidade de despachar os assuntos, que, para mim, o distingue de quase todos os demais.” A razão da distinção, para Narcio, é que se trata de uma postura que deve ser entendida além do
ponto de vista gerencial. “Ele e o Aécio são hors concours nesta questão de perceber os assuntos e dar a eles uma vazão que não é meramente técnica, é de construção política mesmo. A solução é técnica, mas passa por uma construção política. Quase sempre essa não é uma visão que se pratica na atividade pública. Ou você encontra o ‘não, não’ ou o ‘sim, sim’ irresponsável. Com ele, há o equilíbrio”, elabora. Quando diz não, o governador Anastasia justifica sua negativa e, com isso, valoriza a interlocução. “E dá conteúdo à discussão” – prossegue o secretário, que em 2010 se elegeu para o quinto mandato de deputado federal pelo PSDB – “você sai convencido de que houve o possível. Este é um sentimento que poucos homens públicos passam: olha, isso não é possível fazer, e nós não vamos fazer. Foge ao nosso padrão ético, foge à nossa conduta, foge à nossa prioridade. Ele fala isso com uma propriedade que te deixa convencido. Essa é uma marca dele”. Conforme Luis Aureliano, a persuasão ocorre por meio de argumentos bem articulados, indicando exatamente o que é possível, o que não é e o porquê de não ser – e assim se estabelecem boas relações com as pessoas. “Ele consegue ser ao mesmo tempo duro, mas sem ser mal-educado ou ríspido, ou seja, ele é capaz de dizer não e as pessoas saírem tranquilamente, satisfeitas com o não, porque não se trata de uma posição pessoal.”
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Planejamento permanente Talvez a marca mais forte do governador Anastasia seja a procura permanente pelo planejamento. Não temos isso em outros líderes políticos que geralmente são levados pelo momento, pela tentação da propaganda. Ele, ao contrário, planeja permanentemente. Outra é a marca do gestor que dá respostas imediatas e que não deixa ninguém sem retorno. Isso é novidade também, porque nós políticos temos muita dificuldade em dar retorno; nossa demanda é algo monumental. E as pessoas comentam, ouço isso o tempo todo de deputados e prefeitos: Como o governador consegue dar retorno para todos nós? João Leite Deputado estadual pelo PSDB
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Ser capaz de agregar valor à discussão também implica sensível disposição para ouvir com atenção o que se tem a lhe dizer. Objetividade, assim, não se confunde com pressa. “Essa natureza de ouvir, de mudar decisões quando percebe que está no caminho errado, sem nenhuma preocupação em rever uma posição e que isso vá representar enfraquecimento – aliás, só o fortalece – é a construção do diálogo. É preciso convencer de que o que estamos fazendo é bom, e o resultado vai ser bom para todos nós”, define Narcio. “O grande diferencial do Aécio e do Anastasia, a meu ver – complementa o secretário – é o tom amigável com que eles governam, sem abrir mão da autoridade, sem impor sua vontade, mas no convencimento. É algo como: vamos fazer do jeito que acredito que é melhor, ou então você me convence de que existe outro jeito melhor.” Hélio dos Santos Júnior comenta que essa característica ficava evidente nas tratativas da Secretaria de Defesa Social. “Mesmo discordando ou desagradando um ou outro, as decisões eram deliberativas, mas com uma característica fundamental que lhe é nata, a virtude de saber ouvir” – recorda o comandante da PM. “Quando as decisões eram tomadas, nos assenhoreávamos delas porque tínhamos participado da construção dessas decisões.” Há uma nuança na maneira de conduzir as ações que impressiona quem trabalha com ele, um ce-
ticismo inicial com as propostas de inovação. “Primeiro, ele quer que se faça bem feito o que tem que ser feito, ao mesmo tempo está aberto a ideias novas e gosta de ser surpreendido, mas à medida que se faça o arroz com feijão”, comenta Tadeu Barreto Guimarães, diretor-presidente do Escritório de Prioridades Estratégicas. O estilo de gestão do governador também é célebre por facilitar o acesso de quem tem algo a lhe dizer, bem como pela confiança que transmite às pessoas com o hábito de retornar suas mensagens, quando não pode atendê-las de pronto. “Era a coisa mais simples falar com o Professor Anastasia” – afiança Santos Júnior, referindo-se àquele mesmo contexto de 2005. “Era um homem que, se não atendida o celular até o terceiro toque, a gente sabia, era porque estava em reunião. E na primeira oportunidade ele mesmo retornava a ligação, sem secretária. Era um homem com quem se podia conversar por e-mail, que ele respondia no mesmo dia. Era um acesso franco, tranquilo e livre.” A par da conhecida pontualidade, da objetividade para tratar qualquer assunto e da memória, considerada infalível, a secretária Renata Vilhena aponta-lhe essa mesma qualidade, que o cargo de governador de Estado não alterou, ainda que a tenha, por óbvio, dificultado. “Ele retorna todas as ligações sem exceções. E isso é difícil para uma pessoa que tem o volume de trabalho que ele
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tem. Às vezes, utilizo o e-mail, mando SMS por celular, e ele responde tudo”, garante. Dorothea Werneck conta que, depois de receber o convite do governador, como ainda não havia trabalhado com ele, na primeira oportunidade que surgiu ela quis saber como seriam as relações de governo entre os dois. “A resposta dele foi excepcional: Dorothea, eu atendo o celular. Então, qualquer dúvida ou sugestão que eu tenha, ligo, e ele atende na hora”, comenta a secretária de Desenvolvimento Social. Também fora do governo, entre empresários como o presidente da Fiemg, a reputação se mantém. “Se você manda um e-mail para ele, rapidamente terá uma resposta”, atesta Olavo Machado. “Ele é capaz de falar sim e falar não, também, quer dizer, não deixa uma questão sem resposta. Isso me impressiona muito. Ele vai sempre te responder com muita atenção, com muita educação e com muita objetividade”, acrescenta. O método também se aplica ao estilo gerencial no rigor para acompanhar os resultados acordados. O conjun-
to de programas e ações do governo tem metas quantitativamente identificadas, e o desempenho do secretariado é avaliado por uma espécie de boletins em que aparecem notas em três cores. “O verdinho quando as metas foram atingidas, o amarelo quando estão próximas, e o vermelho quando realmente não andaram. Então, a meta só ganha notinha verde se foi 100% atingida”, explica Lafayette Andrada, titular da Defesa Social. Mas, conforme Renata Vilhena, “o governador brinca que o verde ele pula, que não é mais que nossa obrigação”. Também não hesita na hora de pegar o telefone e cobrar o compromisso não atendido, mas o faz dentro da normalidade. “O governador Anastasia mantém uma relação de autoridade com seus secretários, sem que isso implique cerceamento da criatividade”, define a secretária Maria Coeli. “É homem de trato ameno, o que torna ainda mais palatável e branda essa relação, sem lhe subtrair o rigor, tampouco o vigor”, agrega.
É um gênio na matéria administrativa e na gestão da coisa pública. Ele viveu como técnico grande parte de sua história, e se transformar neste grande político em que se tornou é algo próprio. É uma coisa dele. Mauri Torres Deputado estadual
Ele me conquistou com esse jeito de ser, educado, firme, claro, positivo e muito ético. Charles Lotfi Ex-presidente da ACMinas
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Lição de amor ao trabalho “Ele se coloca quase sempre como um aprendiz de tudo, como forma de, na verdade, ser o professor de todos.” Narcio Rodrigues Secretário de Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSDB-MG (2009-2011)
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Os sentimentos que inspira em amigos e colaboradores expõem a natureza da pessoa. Indagada se existia algum tipo de tensão nas relações de governo, Ana Lúcia Gazzola deu esta resposta: “Eu o tenho na mais alta conta. Portanto, quero estar à altura da dimensão em que ele está. Isso é uma tensão”. O governador Anastasia tem uma credibilidade natural que faz com que as pessoas se sintam tocadas. “Ele fala uma coisa que você sabe que é verdadeira”, na expressão singela de Fuad Noman. A devoção ao trabalho e o sucesso do realizador na administração pública formaram o tesouro que é compartilhado com quem navega no mesmo barco. “O Anastasia é totalmente voltado para o trabalho. Vê-lo sentir felicidade por fazer o que gosta e a alegria que manifesta é contagiante”, comenta o deputado estadual tucano Luiz Henrique.
“Gosto muito de trabalhar com ele” – ecoa Narcio Rodrigues, ao retratar as qualidades do governador, que conheceu no começo dos anos 90, em Brasília, durante seu segundo mandato de deputado federal. “Destaco-lhe o bom humor, a rapidez de raciocínio, a facilidade de despachar, a vocação pública e a percepção do todo. São qualidades extraordinárias. É muito bom conviver com ele e compartilhar decisões.” Também se atribui confiança à personalidade a um tempo discreta e desprendida, altiva e acessível, fruto de uma inteligência aguda e uma mente cartesiana. Se pode lembrar às vezes a figura de um gentleman, pela elegância das maneiras, nota Renata Vilhena, também será visto como um homem de gostos simples e trato amigável com funcionários de todas as graduações. “A simplicidade o aproxima muito das pessoas e cria uma credibilidade”, observa.
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Muitos que o conhecem afirmam que o autocontrole é um de seus atributos mais essenciais. “Um dos traços mais importantes de sua personalidade é a serenidade e o senso de justiça”, ajuíza Ana Lúcia Gazzola, resumindo uma percepção comum. A irmã, a historiadora Carla Maria Junho Anastasia, aduz a tenacidade. Temperança e tenacidade que se revelam ainda mais nos momentos difíceis, diante dos obstáculos. “Cuida-se de sua capacidade de encapsular crises” – chama atenção Maria Coeli. “O governador Anastasia é capaz de construir camadas ou estratos impermeáveis no seu íntimo, na sua consciência e na sua inteligência, de modo que eventuais sobressaltos, dissabores ou percalços em determinadas searas não logrem contaminar outras tantas. Ele nunca perde a serenidade”, define. Um gosto muito próprio pela ironia tempera suas conversas, facilita o trabalho e conquista a admiração das pessoas. “Ele tem um senso de humor aprimorado, muito educado, muito fino”, nota Paulo Paiva. Para Tadeu Barreto, o senso de humor é permeado pela erudição e matizado na cultura de salão
ibero-americana. “Ao mesmo tempo em que é sofisticado, ele agregou um pouco a coisa do engenheiro, de querer ver a entrega, a obra pronta, então ele diz: Eu quero ver bater a picareta!”, observa. Danilo de Castro nota que o mesmo humor refinado que congraça também pode denotar sinal amarelo, se necessário, para mandar sutilmente um recado. “Ele faz isso com muita naturalidade, às vezes para chamar a atenção de alguma pessoa, às vezes até no confronto.” Os colaboradores do governador sabem que uma das poucas coisas capazes de tirar seu o bom humor é a impontualidade, e para isso cinco minutos de atraso não é pouco. Não é muito recomendável tentar quebrar sua agenda, pacientemente bem organizada. E a prolixidade improdutiva ou a informalidade fora de hora também não agradam. Entretanto, os momentos de irritação são raros em uma natureza amena, espirituosa e bem-humorada, de alguém que cultiva hábitos simples – como tomar café com a mãe, dona Ilka, nas manhãs de sábado – e um interesse universal pela cultura.
O que o deixa nervoso é a incompetência e a burrice; o que o deixa feliz é o cumprimento das metas que ele determina. Lafayette Andrada Secretário de Estado de Defesa Social de Minas Gerais
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Livros, viagens e filmes cults
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O cidadão Antonio Augusto Junho Anastasia é um ser humano leal e dedicado às amizades, que procura manter ao longo da vida. Não conceberia a vida sem a leitura. Entretémse com biografias e novelas policiais – os livros de Agatha Christie têm lugar cativo em sua biblioteca desde a adolescência –, além do apego permanente às obras de história. Na TV, elege os filmes clássicos, melhor se estão passando os da era de ouro hollywoodiana, como revela no questionário que respondeu especialmente para esta publicação (confira na página 218). Aprecia muito viajar e conversar sobre viagens. Em entrevista concedida ao jornal Estado de Minas, durante a campanha de 2010, elegeu a Tunísia com um dos lugares mais interessantes que já visitou. Nunca foi de cozinhar, e até assumir o cargo de governador fazia ele mesmo suas compras no supermercado e frequentava shoppings e salas cinemas. Gosta muito de comer em restaurantes, sobretudo pelo prazer de compartilhar algum tempo com os amigos. Prefere sempre Coca-Cola a qualquer bebida alcoólica, e lhe apetece a comida tradicional, mormente aquela de raiz mineira e colonial. Como é conhecido, torce pelo Galo, mas ganhou o apoio de cruzeirenses e americanos para se eleger em 2010.
Origens O governador Antonio Anastasia, nascido a 9 de maio de 1961, em Belo Horizonte, traz no sangue, como principais influências, a Itália – a do norte e do sul – e o berço da terra brasileira no matiz sul-mineiro. Filho de Dante Anastasia e Ilka Junho Anastasia, é proveniente de uma família de servidores públicos – a mãe é funcionária aposentada da Secretaria de Educação, a avó materna foi professora, o avô materno, fiscal de Rendas do Estado, e as irmãs são, como ele, professoras universitárias. Dona Ilka graduou-se em Matemática e Letras e deu aulas de Matemática. O avô paterno, o italiano Agnello Anastasia, empresário dono da Liquigás, chegou a Minas Gerais no final do Século 19, estabelecendo-se primeiro em Itapecerica, depois em Belo Horizonte, sendo um dos primeiros imigrantes a criar raízes na capital. Teve 11 filhos com Francisca dos Santos Anastasia, entre eles Dante, que se tornou comerciante. A família de dona Ilka também tem origem no país mediterrâneo, da parte do avô do governador, Augusto Maria Junho, que era neto de italiano. Junho, na verdade, é uma forma aportuguesada de June. June, na Itália nortenha, é um sobrenome bastante comum, já o meridional Anastasia, mais raro. Augusto casou-se com Ana Isabel Brandão Junho, de uma família arraigada
à política do Sul de Minas, e proveio do mesmo tronco donde derivam os ramos de Silviano Brandão e Bueno Brandão – ambos ex-governadores de Minas Gerais. No Sul do Estado se localiza São Gonçalo do Sapucaí, de onde a família materna é nativa. Lá, viveram seus avós e sua mãe nasceu. Depois de se formar, ela conheceu o marido. Dante e Ilka casaram-se no Rio Grande do Sul, onde era funcionário posicionado pelo Banco do Brasil. Viveram em várias cidades até se fixarem em Belo Horizonte. Instalados na capital, o casal criou seu filho, Antonio Anastasia, e suas duas filhas, Carla e Fátima Anastasia. Ambas são doutoras nos campos da História e das Ciências Políticas. O menino Antonio Augusto conviveu muito com o avô, que era um homem culto, a despeito de não ter estudado, e dele apanhou o gosto pela história. Contava 20 anos quando seu Agnello faleceu. Passou mais tempo com o avô materno, Junho, que viveu até os 98 anos. Junho era muito ligado à política e pertencera aos quadros do PSD. Avô e neto travaram muitas conversas sobre política. “Meu avô contava para o governador as histórias da política mineira, tendo tido uma grande influência sobre ele”, conta a irmã, a historiadora Carla Maria Junho Anastasia.
perfil
O governador Antonio Anastasia responde a um pequeno questionário sobre algumas de suas preferências em arte e cultura. Comente seu gosto pela história, particularmente pela história de Minas Gerais, e aponte um autor que o senhor tenha como referência maior. Entender a história é muito importante, porque ela permite que se compreenda o presente e imagine o futuro. A história, portanto, deve ser conhecida por todos. E a história de Minas é muito rica, muito bela. Todos nós devemos estudá-la e conhecer os grandes feitos do passado. O que foi feito aqui e que, portanto, balizou o que nós somos hoje e o que nós seremos amanhã. Gostaria de citar, como autor de história em geral, Stefan Zweig, e, em Minas, o grande historiador Paulo Pinheiro Chagas.
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Numa palavra ou frase, o que mais o Brasil deve a Minas Gerais? Liberdade. O sentimento de liberdade.
Uma atriz. Beth Davis. Um compositor clássico. Tchaikovsky. Um compositor popular. Milton Nascimento. O escultor cuja obra mais admira. Eu queria citar nosso mineiro Aleijadinho, mas também lembrar a beleza universal de Rodin. O prato perfeito? Lombo assado.
Consta que o senhor seja um leitor de histórias policiais. Qual é seu autor preferido no gênero e o melhor título desse autor? Agatha Christie e “O Assassinato de Roger Ackroyd”.
O deputado Marcus Pestana disse que o senhor não gosta, nas palavras dele, de muita “presepada culinária”. É verdade? É verdade. Gosto de uma comida simples: arroz, feijão, farofa, batata frita, carne de porco, frango, frango frito, doces mineiros, uma comida mais simples e típica da nossa gente.
Um poeta. Carlos Drummond de Andrade.
Esporte preferido. Futebol.
Um filme. “Casablanca”.
Assiste aos jogos do Atlético? Sim. Muitas vezes sofro, e fico alegre muitas vezes.
Um ator. Humphrey Bogart.
O que mais gosta de ver na TV? Filmes antigos.
Um romance. “A Casa dos Espíritos”, de Isabel Allende.
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A história, portanto, deve ser conhecida por todos. E a história de Minas é muito rica, muito bela. Todos nós devemos estudá-la e conhecer os grandes feitos do passado. O que foi feito aqui e que, portanto, balizou o que nós somos hoje e o que nós seremos amanhã. Antonio Anastasia
Memória sempre foi prodigiosa Fátima Anastasia
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Nos dias de hoje, ele seria, sem dúvida, um nerd. Devorador de livros, dicionários e enciclopédias, sempre se interessou pelos assuntos da política, sobre o que gastava horas conversando com nosso avô materno, Augusto, quadro do antigo PSD e, à época, memória viva dos principais fatos da política brasileira, como a Revolução de 30, o suicídio do Getúlio, o Golpe de 1964. Antonio Augusto, o Du, como nós da família o chamamos, filho mais novo de Dante e Ilka Anastasia, é o irmão caçula que, desde cedo, ajudava as irmãs mais velhas nos deveres escolares, pois sua curiosidade intelectual era tamanha que ele não aceitava deixar perguntas sem respostas. Sua memória sempre foi prodigiosa! Lia
uma página, fechava o livro, repetia tudo, igualzinho, e ficava chateado quando lhe escapava uma palavra ou expressão. Metódico, colecionava protótipos de carros, cavalos, tudo sempre muito bem organizado, contrastando com a bagunça instalada no quarto das irmãs. Nos esportes, aventurou-se pela equitação, quebrou a perna duas vezes, desistiu. Eu o conduzia ao Pitágoras, de muletas, e o buscava, todos os dias, e era um deus nos acuda para subirmos os muitos lances de escada que levavam ao nosso apartamento, no Anchieta. Desde cedo, sempre foi muito responsável, estudioso, centrado. Falava em seguir carreira diplomática, e foi com essa intenção que entrou para a Faculdade de Direito da UFMG. Na
escola, interessou-se logo pelo Direito Administrativo, o que se consolidou na Fundação João Pinheiro, onde iniciou sua carreira. Ainda muito jovem, participou, como assessor jurídico, da elaboração da Constituição mineira de 1989 e, penso eu, foi a partir daí que a política o conquistou de vez! Tenho muito orgulho de ser sua irmã e acompanho com carinho sua trajetória. Dele, posso afirmar que é um homem íntegro, dotado de espírito público e comprometido em realizar um bom governo. Fátima Anastasia é professora do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e sócia da Política Consultoria Ltda.
DEPOIMENTOS
Sem angústia O Anastasia é um homem de Estado. Ele tem uma carreira, uma personalidade e um pendor claro para as atividades públicas. Consegue aliar coisas muito raras em um homem público: o domínio do Direito Administrativo, essencial para quem lida com o setor, a uma grande capacidade executiva. Consegue compreender rapidamente o problema e tomar as decisões sem angústia. Luiz Aureliano Cientista político
Conquista
Visita de surpresa
Ele me cativou logo no início. E o que mais me impressionou foi a maneira como ele tratava as pessoas, de uma forma muito educada. Ele respondia sobre aquilo que estava acontecendo de fato, ou sobre o que ele poderia fazer. E ele era claro: isto não faço, isto posso fazer. Ele me conquistou com esse jeito de ser, educado, firme, claro, positivo e muito ético.
Gostava muito de conversar com ele, sempre uma pessoa muito séria, até as brincadeiras eram de uma forma séria, mas ele mexia com a gente para nos deixar mais relaxados, à vontade. E cuidava dos seus subordinados. Não fazia o tipo: eu sou o chefe e você está sob meu comando. Faça o que mando. Achava muito bonito quando ele vinha a meu prédio na Praça da Liberdade e dizia à Cornélia, minha secretária: Vim visitar o doutor Otto, e entrava. Aí não sabia bem o que dizer, mas, secretário, eu não..., e ele, não se preocupe, vim apenas comer um pão de queijo. E na saída ainda brincava: Cornélia, está tomando conta direito do chefe? Admirava nele esta simplicidade.
Charles Lotfi Ex-presidente da ACMinas
Fora de série Desde a primeira hora pude observar que se tratava do um grande talento administrativo. Ele é uma pessoa que tem uma inteligência e um preparo fora do normal, fora do comum, tem uma habilidade muito grande. Ele agregou a faceta política com muita facilidade e a prova disso, o maior teste que um mineiro pode fazer na política, a disputa do Governo de Minas, ele ganhou de primeira. Danilo de Castro Secretário do Governo de Minas Gerais
Otto Teixeira Filho Secretário de Defesa Social e Meio Ambiente de Matozinhos e ex-chefe da Polícia Civil de Minas Gerais
Simplicidade e carisma Ele é muito carismático, muito simples. Conversa com todo mundo, vai a qualquer lugar. Trata pobre e rico da mesma maneira. Sua simplicidade, inteligência e responsabilidade cativaram. Todos que tiveram oportunidade de conversar com ele sentiram que estavam conversando com uma pessoa responsável, uma pessoa de trato. Célio Moreira Deputado estadual pelo PSDB
Sacrifício Ele, inclusive, sacrificou todos os seus interesses particulares. Se não fosse hoje um homem público, um governador, eu não tenho a menor dúvida de que ele seria uma estrela verdadeira no mundo jurídico. Uma verdadeira estrela por sua capacidade, por sua dedicação. Quem ganhou foi o Estado de Minas Gerais e futuramente o Brasil vai ganhar mais ainda pelo fato de termos descoberto Anastasia para a vida pública. Bonifácio Mourão Deputado estadual pelo PSDB
Memória e resposta Às vezes, comento com ele algum fato durante uma viagem e acho que o professor vai acabar esquecendo, mas ele guarda aquilo, e no outro dia, ou no mesmo dia, vai te dar uma resposta. Se você busca falar com o governador, o retorno é imediato, porque ele sempre está atento, sabe e conhece a importância da reivindicação para cada um. Luiz Humberto Carneiro Deputado estadual pelo PSDB, líder do governo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Botando o povo para andar na hora
Continuidade de Milton Campos
As pessoas tiveram que se acostumar com o cumprimento de horário da parte dele. Em alguns eventos, se o convite para o público é para 19h, mas, para o governador Anastasia, é 19h30, ele chega no horário, e não importa se está chovendo ou não. Estive com ele em algumas reuniões na Cidade Administrativa, em 2010, e era uma preocupação. Se ele marca às 15h, vai estar lá. Digo que vou sair com antecedência. Melhor chegar 15 minutos antes do que depois. É uma rotina que ele adotou, e está botando o povo para andar na hora. Outro dia, na reunião do secretariado, ele chegou seis minutos antes e ficou conversando. Depois, olhou no relógio e disse: agora acabou o papo, vamos começar a reunião. Mas também não começou antes.
O atual governador de Minas é extremamente educado e fino no trato com as pessoas, sem abrir mão um milímetro da autoridade na qual é investido nos cargos que ocupa. Sou sobrinho-neto do ex-governador Milton Campos, que talvez seja o maior exemplo de elegância no trato da coisa pública, e vejo no Anastasia uma continuidade destes traços que também representam a cultura mineira: a elegância, a inteligência, mas também a firmeza no desempenho da função pública.
Rafael Guerra Diretor de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas
Gentileza e solidariedade Ele é capaz de gestos de consideração pessoal, de atenção pessoal, que são comoventes mesmo para quem tem experiência política e muitas vezes desenvolve certas proteções. Ele não deixa nunca o poder ultrapassar a gentileza humana, a solidariedade. Custódio Mattos Prefeito de Juiz de Fora
Paulo Camilo Penna Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram
créditos fotográficos Capa Foto principal: Leo Drumond/Nitro Mosaico: NITRO - Emmanuel Pinheiro, Victor Schwarner, Rodrigo Lima, Marcus Desimoni, Leo Drumond, Leandro Couri. Leozado, Bruno Magalhães e Nidin Sanchez. Omar Freire/Imprensa MG
Capítulo III Páginas 158/159: Marcus Desimoni/Nitro Página 161: Bruno Magalhães/Nitro Páginas 163, 181: Álbum de família Páginas 166: Rodrigo Lima/Nitro Página 169: Nidin Sanches/Nitro Páginas: 172/173: Leozado/Nitro Página 178: Emmanuel Pinheiro/Nitro
Abertura Páginas, 16/17 e 19: Leo Drumond/Nitro Página 11: Rodrigo Lima/Nitro Página 18: Álbum de família, álbum de família, álbum de família, Marcus Desimoni/Nitro Página 19: Omar Freire/Imprensa MG, Leo Drumond/Nitro e Eugênio Sávio
Capítulo IV Páginas 190/191, 193: Marcus Desimoni/Nitro Páginas 195, 209, 210: Emmanuel Pinheiro/Nitro Páginas 196, 202: Rodrigo Lima/Nitro Páginas 216/217: Álbum de família Página 219: Leozado/Nitro Páginas 224/225: Leo Drumond/Nitro
Capítulo I Páginas 24/25, 94/95: Leo Drumond/Nitro Páginas 27, 40, 43, 52, 60, 64, 73, 81, 82, 90, 93: Marcus Desimoni/Nitro Páginas 30, 57: Leandro Couri/Nitro Páginas: 32/33, 39, 47, 67, 74, 86: Emmanuel Pinheiro/Nitro Páginas 35, 36, 48, 51, 63, 68, 78, 85: Victor Schwaner/Nitro Páginas 59, 77, 89: Rodrigo Lima/Nitro
Depoimentos Página 8 - Aécio Neves: Leo Drumond/Nitro Página 13 - Narcio Rodrigues: Renata Pimenta Página 14 - Marcus Pestana: Wendel Lopes Página 96 - Andrea Neves: Gabriel Rosa Zaro Página 99 - Alberto Pinto Coelho: Paulo Laborne Página 153 - Danilo de Castro: Gil Leonardi/Imprensa MG Página 154 - Dinis Pinheiro: Ricardo Bandeira Página 184 - Renata Vilhena: Lúcia Sebe/Imprensa MG Página 187 - Eduardo Azeredo: J. Freitas/Agência Senado Página 221 - Fátima Anastasia: Álbum de família
Capítulo II Páginas 102/103, 117, 121, 142, 145: Marcus Desimoni/Nitro Páginas 105: Omar Freire/Imprensa MG Páginas 107, 139: Rodrigo Lima/Nitro Páginas 108, 136, 149: Victor Schwaner/Nitro Páginas 113: Nidin Sanches/Nitro Páginas 114, 146: Emmanuel Pinheiro/Nitro Página 133: Eugênio Sávio Páginas 150/151: Leo Drumond/Nitro