A Lavoura 725

Page 1

Ano 123 Nยบ 725 R$ 20,00

especial

A expansรฃo da biotecnologia no agro



A LAVOURA

Ano 123 . Nº 725

ESPECIAL

•8

A hora e a vez da Biotecnologia no agro

AGRICULTURA 22 • CELULAR Os novos alimentos

BIOTECNOLOGIA

• 44

Parece, mas não é

32

Indicação geográfica

MARA ROSA O ‘Ouro do Cerrado Goiano´

PANORAMA 06

ORGANICSNET 62

ALIMENTAÇÃO & NUTRIÇÃO

36

EMPRESAS

63

AGRO INTELIGÊNCIA

58

SNA 122 Anos

64

PET & CIA

61 A Lavoura - Nº 725

3


Academia Nacional de Agricultura Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Osaná Sócrates de Araújo Almeida Tito Bruno Bandeira Ryff Maurílio Biagi Filho Helio Guedes Sirimarco Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso Leonardo Baran de Mello Alvarenga Rony Rodrigues de Oliveira Sérgio Gomes Malta Thomás Tosta de Sá

Fundador e Patrono:

Presidente vice-presidente vice-presidente vice-presidente vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor

comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Elcio Marques Batista Ney Roberto Ottoni de Brito Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio de Araújo Freitas Júnior Chequer Jabour Chequer Claudio Contador Francisco Basílio Freitas de Souza Frederico Price Grechi Jorge de Paula Costa Ávila José Augusto Castro José Milton Dallari Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida Marcos Fava Neves Maria Cecília Ladeira de Almeida Maria Helena Martins Furtado Paulo M. Protásio Roberto Penteado de Camargo Ticoulat Ruy Barreto Filho Sylvia Wachsner Túlio Arvelo Durán

Octavio Mello Alvarenga

Presidente:

Luíz Carlos Corrêa Carvalho

Cadeira Patrono Titular 1 Ennes de Souza Roberto Ferreira da Silva Pinto 2 Moura Brasil 3 Campos da Paz Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira 4 Barão de Capanema João Martins da Silva Júnior 5 Antonino Fialho Maurício Antonio Lopes 6 Wencesláo Bello Ronaldo de Albuquerque 7 Sylvio Rangel Tito Bruno Bandeira Ryff 8 Pacheco Leão Lindolpho de Carvalho Dias 9 Lauro Muller Flávio Miragaia Perri 10 Miguel Calmon Paulo Manoel Lenz Cesar Protásio 11 Lyra Castro Marcus Vinícius Pratini de Moraes 12 Augusto Ramos Roberto Paulo Cezar de Andrade 13 Simões Lopes Rubens Ricúpero 14 Eduardo Cotrim Pierre Landolt 15 Pedro Osório Luíz Carlos Corrêa Carvalho 16 Trajano de Medeiros Israel Klabin 17 Paulino Fernandes José Milton Dallari Soares 18 Fernando Costa João de Almeida Sampaio Filho 19 Sérgio de Cavalho Sylvia Wachsner 20 Gustavo Dutra Antônio Delfim Netto 21 José Augusto Trindade Roberto Paraíso Rocha 22 Ignácio Tosta João Carlos Faveret Porto 23 José Saturnino Brito Sérgio Franklin Quintella 24 José Bonifácio Kátia Abreu 25 Luiz de Queiroz Antônio Cabrera Mano Filho 26 Carlos Moreira Jório Dauster 27 Alberto Sampaio Elizabeth Maria Mercier Querido Farina 28 Epaminondas de Souza Antonio Melo Alvarenga Neto 29 Alberto Torres Arnaldo Jardim 30 Carlos Pereira de Sá Fortes John Richard Lewis Thompson 31 Theodoro Peckolt Evaristo Eduardo de Miranda 32 Ricardo de Carvalho Afonso Arinos de Mello Franco 33 Barbosa Rodrigues Roberto Rodrigues 34 Gonzaga de Campos João Carlos de Souza Meirelles 35 Américo Braga Fábio de Salles Meirelles 36 Navarro de Andrade Jacyr Costa Filho 37 Mello Leitão Alysson Paolinelli 38 Aristides Caire Osaná Sócrates de Araújo Almeida 39 Vital Brasil Denise Frossard 40 Getúlio Vargas Luís Carlos Guedes Pinto 41 Edgard Teixeira Leite Erling Lorentzen 42 Elvo Santoro Gustavo Diniz Junqueira 43 Antônio Ernesto Werna de Salvo Eliseu Alves 44 Walmick Mendes Bezerra Walter Yukio Horita 45 Octavio Mello Alvarenga Ronald Levinsohn 46 Nestor Jost Francisco Turra 47 Edmundo Barbosa da Silva Maurílio Biagi Filho 48 Ibsen de Gusmão Câmara Izabella Mônica Vieira Teixeira 49 Antonio Ermírio de Moraes João Guilherme Ometto 50 Joel Naegele Alberto Werneck de Figueiredo 51 Luiz Marcus Suplicy Hafers Cesário Ramalho da Silva 52 FRANCELINO PEREIRA CLÁUDIO PEREIRA

ISSN 0023-9135

Nossa capa: Foto: Depositphotos É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos sem prévia autorização do editor. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura.

4

A Lavoura - Nº 725

Diretor Responsável Antonio Mello Alvarenga

Assinaturas assinealavoura@sna.agr.br

Editora Cristina Baran editoria@sna.agr.br

Publicidade alavoura@sna.agr.br / cultural@sna.agr.br Tel: (21) 3231-6398

Reportagem e entrevista Marjorie Avelar CNPJ: 20.867.316/0001-92 marjorie.avelar@gmail.com

Secretaria Sílvia Marinho de Oliveira alavoura@sna.agr.br

Coordenação CI Orgânicos/OrganicsNet Sylvia Wachsner sna@sna.agr.br

Editoração e Arte ig+ comunicação integrada Tel: (21) 2213-0794 igmais@igmais.com.br

Impressão Walprint Gráfica e Editora Tel: (21) 2209-1717 www.walprint.com.br Colaboradores desta edição Alessandra Nuglio Annie Bello Carlos Alberto Carvalho Evaristo de Miranda Luís Alexandre Louzada Marjorie Avelar Osvaldo Tadatomo Oshiro Paulo Roberto Rodrigues Martinho

Endereço: Av. General Justo, 171 • 7º andar • CEP 20021-130 • Rio de Janeiro • RJ • Tel.: (21) 3231-6398 / 3231-6350 • Fax: (21) 2240-4189 Endereço eletrônico: www.sna.agr.br • e-mail: alavoura@sna.agr.br • redacao.alavoura@sna.agr.br


CARTA DA SNA

Amazônia, onde a riqueza contrasta com a miséria O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta e a Amazônia se destaca como um de seus biomas mais privilegiados, tanto em extensão territorial quanto em variedade biológica. Trata-se de um patrimônio extraordinário. Apesar de toda sua riqueza natural, a maioria da população daquela região vive em estado de extrema pobreza, grande parte abaixo da dignidade humana. Na Amazônia, a riqueza contrasta com a miséria. Defender a preservação da região amazônica como um santuário intocável é uma postura de extrema crueldade com seu povo, além de ser de uma burrice incomensurável em termos de desenvolvimento econômico e social do País. Está na hora de deixar de lado o "mimimi" das ONGs e dos pseudo ambientalistas que, por ignorância ou má fé, propagam uma visão distorcida da Amazônia. Não estamos defendendo a destruição da floresta. Estamos apenas preconizando sua utilização de forma racional e sustentável, com base em tecnologias que venham a ser desenvolvidas por meio de pesquisas científicas. Elevar o nível sócio-cultural da população amazônica é a forma mais eficiente de preservar a região. A miséria é a maior inimiga do meio ambiente. Não há floresta que resista à falta de educação e conhecimento de seus habitantes. Há cerca de 40 anos, a partir de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, o produtor rural brasileiro, com sua extraordinária capacidade empreendedora, incorporou o Cerrado ao processo produtivo. E transformou a região em um dos mais prósperos celeiros do mundo. Algumas das cidades do Centro-Oeste e da região denominada de Matopiba, proporcionam aos seus habitantes uma renda per capita e qualidade de vida de fazer inveja

aos habitantes dos grandes centros urbanos do país. Lá não tem miséria. Há emprego, saúde, educação e infraestrutura urbana. Nessas áreas de Cerrado, outrora consideradas terras praticamente inaproveitáveis, nossos produtores praticam hoje uma agricultura moderna, de precisão, com robustos ganhos de produtividade, dentre os mais elevados do mundo. Graças à produção de nosso Cerrado que conquistamos posição invejável no mercado global de produtos de origem agropecuária, exportando para mais de 200 países e gerando uma receita de US$ 100 bilhões por ano. Agora, está na hora de direcionar os esforços de nossas instituições de pesquisa para estudar e conhecer melhor a Amazônia, a fim de que possamos explorá-la economicamente, de forma racional e sustentável. Temos de agregar à riqueza da região o que há de melhor em pesquisa científica aplicada e a inequívoca capacidade empreendedora do produtor rural brasileiro. O Brasil não deve nada ao mundo em termos de preservação ambiental. Pelo contrário, temos a legislação ambiental mais avançada do planeta. 62% de nosso território é composto por vegetação nativa, incluindo reservas legais, unidades de conservação e territórios indígenas. No caso da Amazônia, 86% da área é coberta por florestas e rios. A Amazônia precisa ser o próximo desafio de nosso agro.

Boa leitura! Antonio

Alvarenga

Antonio Mello Alvarenga Neto

A Lavoura - Nº 725

5


Divulgação CNPEM

Panorama Bioproduto Segundo a doutora em Biotecnologia, a meta é desenvolver um bioproduto que possa ser aplicado no solo em forma sólida (como pó) ou líquida, a princípio em culturas como cana-deaçúcar, milho e arroz. Tecnologias semelhantes já são usadas para a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

Juliana Velasco: é possível diminuir o uso de fertilizantes químicos em cultivos agrícolas

Biofertilizante: zero impacto no meio ambiente

A bióloga destaca que, em boa parte da lavoura de soja brasileira, por exemplo, produtos bacterianos são usados como substitutos aos adubos nitrogenados. Ainda salienta que o uso em excesso desses fertilizantes é conhecido por causar contaminação do solo e dos ecossistemas aquáticos, além de aumentar a emissão de óxido nitroso, que agrava a emissão de gases de efeito estufa.

A parceria

Pesquisadores brasileiros estudam bactérias que promovem o crescimento das plantas e que devem servir para produção de aditivos biológicos para solos

A Fapesp e a Agilent Technologies lançaram três chamadas de propostas conjuntas, com seleção e apoio a seis projetos de pesquisa.

B

“Essa parceria tem trazido oportunidades muito interessantes para pesquisadores associados a universidades e institutos de pesquisa, no Estado de São Paulo”, ressalta Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.

actérias que promovem o crescimento das plantas, quando isoladas do solo, podem ter o potencial de serem usadas como biofertilizantes, sem causar a poluição das águas e promover alterações prejudiciais à terra, assim como ocorrem com a aplicação de fertilizantes químicos. Realizado dentro do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) – organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) –, esse estudo é coordenado pela pesquisadora Juliana Velasco e financiado após um acordo de cooperação entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Agilent Technologies. Depois de isolar bactérias do solo, a equipe de Juliana – que é bióloga e doutora em Biotecnologia – começou a identificar os chamados compostos orgânicos voláteis (COVs), produtos decorrentes do metabolismo das bactérias que favorecem o crescimento das plantas. “O objetivo, agora, é investigar e entender como o metabolismo da planta se altera por conta dessas moléculas sinalizadoras”, diz a especialista à Agência Fapesp.

Primeira fase Na primeira fase do trabalho, foram usadas duas espécies de plantas modelos: a Arabidopsis thaliana e a Setaria viridis. Na ocasião, os cientistas selecionaram cepas bacterianas que mais contribuíram para o desenvolvimento dessas plantas. No momento, elas também estão sendo testadas em arroz, ainda em laboratório. “A princípio, a substituição total de fertilizantes químicos é impossível, mas com certeza, podemos diminuir consideravelmente o uso deles, quando utilizamos produtos biológicos”, ressalta Juliana. 6

A Lavoura - Nº 725

Diretor sênior de tecnologia da Agilent, Jim Hollenhorst conta que algo em torno de 8% do faturamento da empresa é investido, anualmente, em pesquisa e desenvolvimento, sendo a maioria realizada no que a empresa chama de “P&D Orgânicos”, dentro da própria companhia. “Uma parte dos nossos laboratórios de pesquisa é focada em inovação de longo prazo, que tem risco maior, mas potencial muito alto de retorno. Não achamos que todas as boas ideias estejam em nossa empresa e essa é a principal razão pela qual estamos atuando em parcerias como essa, aqui [com a Fapesp] e ao redor do mundo”, diz Hollenhorst, afirmando que o Brasil tem bastante potencial para novas parcerias com a empresa. Fonte: Agência Fapesp


Sem sementes resistentes, lavouras correm riscos

A

Esse lucro adicional seria composto por R$ 70,5 bilhões vindos do aumento de produtividade esperado e R$ 15,8 bilhões em função da queda no custo de produção. Os dados compõem o estudo “Impactos econômicos e socioambientais da tecnologia de plantas resistentes a insetos no Brasil: análise histórica, perspectivas e desafios futuros”, divulgado em janeiro deste ano. Conforme o levantamento, entre os anos de 2005 e 2018, as sementes resistentes dessas três importantes commodities agrícolas do Brasil propiciaram ganhos adicionais em torno de R$ 21,5 bilhões para os produtores brasileiros. Conduzido pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), em parceria com a Agroconsult, o estudo avaliou lavouras de algodão, milho e soja resistentes a insetos e as comparou com aquelas que não contam com a proteção oferecida pelas variedades transgênicas.

Meio ambiente Ainda segundo o estudo, o meio ambiente também é beneficiado em virtude da proteção adicional que as sementes transgênicas oferecem, considerando que foi possível oferecer uma otimização no uso de insumos agrícolas. Entre 2005 e 2018, o cultivo de plantas Bt contribuiu para reduzir em 122 mil toneladas o volume de inseticidas aplicados no campo ou, praticamente, 50 mil toneladas de ingrediente ativo. Com essa economia, de acordo com o CIB, menos maquinário foi utilizado e não foram usados 144 milhões de litros de combustível ou o equivalente à retirada de 96 milhões de carros das ruas por um ano.

Amplos benefícios As vantagens da tecnologia Bt não se restringem ao campo. A economia brasileira também foi favorecida pela adoção de culturas transgênicas resistentes a insetos. No período de 2005 a 2018, houve um aumento de R$ 2,8 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do País, R$ 45,3 bilhões em riquezas foram gerados e R$ 2,2 bilhões foram pagos em salários. Esses números, até 2028, serão R$ 4,6 bilhões de incremento no PIB, R$ 128,4 milhões de riquezas geradas e R$ 6,6 bilhões pagos em salários. Diretora-executiva do CIB, a bióloga Adriana Brondani ressalta que o Brasil é um dos países mais beneficiados pelas sementes transgênicas resistentes a insetos.“Produzir grãos e fibras em clima tropical é uma tarefa difícil, uma vez que há insetos em abundância. E é exatamente por isso que a tecnologia Bt deu tanto resultado em nosso País.”

Números no Brasil Um relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA), divulgado em agosto deste ano, mostra que o Brasil cultivou 51,3 milhões de hectares com culturas transgênicas em 2018, um crescimento de 2% em relação ao ano anterior ou o equivalente a 1,1 milhão de hectares.

Divulgação

tecnologia de resistência a insetos, especialmente inserida nas sementes de algodão, milho e soja por meio da transgenia, se perder sua eficiência, pode fazer com que os agricultores brasileiros deixem de lucrar R$ 86 bilhões na próxima década.

Broca-da-cana causa prejuízos de até R$ 5 milhões por ano

Ao analisar os benefícios sociais, ambientais e econômicos da adoção global da biotecnologia na agricultura, o estudo aponta que aproximadamente 17 milhões de agricultores, entre pequenos, médios e grandes, foram beneficiados em todo o planeta. Os 51,3 milhões de hectares em território brasileiro representam 27% de todo o cultivo global de transgênicos e estão divididos em lavouras de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar (que começou a ser plantada pela primeira vez em 2018). “A novidade merece destaque, pois a cana geneticamente modificada é resistente a insetos e representa uma solução tecnológica para o controle da praga mais devastadora da cultura – a brocada-cana, causadora de prejuízos de até R$ 5 bilhões por ano”, ressalta a diretora -executiva do CIB, Adriana Brondani. Segundo o estudo, a taxa de adoção de transgênicos no Brasil é de 93%, considerando as quatro culturas para as quais essa inovação está disponível (soja, milho, algodão e cana-de-açúcar).

20 anos de transgênicos O levantamento do ISAAA corrobora com os achados do estudo “20 anos de transgênicos: benefícios ambientais, econômicos e sociais no Brasil” (conteudo.cib.org.br/estudo-20-anosde-transgenicos), conduzido pelo CIB, em parceria com a consultoria Agroconsult, e publicado no ano passado. Fonte: Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) A Lavoura - Nº 725

7


ESPECIAL

A hora e a vez da

biotecnologia no agro

8

โ ข

A Lavoura - Nยบ 725


Depositphotos

Na agricultura, a junção da biologia com a tecnologia leva à compreensão das relações entre solos, plantas, clima e demais variáveis que impactam a produção de alimentos no Brasil e no mundo

A Lavoura - Nº 725

9


ESPECIAL

U

tilizar seres vivos ou parte deles para o desenvolvimento de experimentos científicos e produtos dos mais variados tipos, incluindo os chamados “novos alimentos”, que cumpram funções socioeconômicas, é a principal definição de biotecnologia. Basicamente, ela se refere à junção entre a biologia e a tecnologia. E esse conjunto de técnicas envolve diversas áreas do conhecimento e, consequentemente, vários profissionais, até por ser considerada uma ciência de natureza multidisciplinar. “A biotecnologia, no sentido amplo da palavra, começou a ser usada no Brasil e no mundo desde os primórdios da agricultura, com a domesticação das plantas e dos animais. O termo foi utilizado pela primeira vez no início do século passado. Embora seja novo, seu princípio é muito antigo”, conta o engenheiro agrônomo Fábio Gelape Faleiro, pesquisador da Unidade Cerrados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A biotecnologia permeia por áreas diversas de atuação, propiciando o desenvolvimento de diversas técnicas biotecnológicas e trazendo, consequentemente, benefícios para a sociedade, tanto nas áreas rurais quanto urbanas.

“Podemos citar como exemplos as fermentações industriais na produção de vinhos, cervejas, pães, queijos e vinagres; a produção de fármacos, vacinas, antibióticos e vitaminas; a utilização de biofungicidas no controle biológico de pragas e doenças; o uso de microrganismos visando à biodegradação de lixo e esgoto”, cita Faleiro. Ele ainda acrescenta “o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos para a melhoria de produtividade das plantas; o desenvolvimento de plantas e animais melhorados, utilizando técnicas convencionais de melhoramento genético; e também a transformação genética”. Mestre em Genética e Melhoramento, doutor em Genética e Melhoramento e pós-doutor em Genética e Biotecnologia, Fábio Faleiro é um dos 36 autores do livro digital “Biotecnologia: estado da arte e aplicações na

...e também na elaboração do pão com uso do fermento natural

Depositphotos

Alex Duarte - Padoca do Alex

Divulgação

Depositphotos

Há 7.000 anos a.C., a levedura já era usada na fermentação da uva (foto menor) para a produção de vinho...

Áreas de atuação

10

A Lavoura - Nº 725


Pinterest

Divulgação

A biotecnologia atua na indústria alimentícia produzindo desde cervejas (fotos abaixo)...

... a diversos tipos...

Depositphotos

Depositphotos

... de queijos

agropecuária”, disponível para download gratuito pelo link (encurtado): ow.ly/8ZfQ30p8IIs.

Milhares de anos atrás Segundo Faleiro, estima-se que há 8.000 anos a.C., na Mesopotâmia – o berço da civilização da humanidade –, os povos já selecionavam as melhores sementes das plantas que se mostravam superiores, para aumentar a colheita. “Outro exemplo histórico da biotecnologia é a utilização da levedura na fermentação da uva e do trigo para produção de vinho e pão, o que já ocorria por volta de 7.000 anos a.C. No caso da biotecnologia moderna, podemos dizer que as bases científicas iniciaram com a descoberta da estrutura do DNA (ácido desoxirribonucleico molécula responsável pela informação genética de cada ser vivo), por James Watson e Francis Crick, em 1953”, relata o pesquisador. De acordo com ele, a partir da descoberta do DNA e do código genético, “houve uma revolução incrível” na área

A

Engenharia química Genética e Melhoramento

BIOTECNOLOGIA

Biomedicina Fitopatologia

B

Microbiologia agrícola

Produção de fármacos Fermentações industriais Melhoramento genético

BIOTECNOLOGIA

Produção de vacinas Controle biológico

C

Bioquímica

Antibióticos e vitaminas

Plantas e animais melhorados geneticamente Vacinas para o homem e animais domésticos Biofungicidas

Uso de microrganismos na agricultura Vinhos, cerveja, pães, queijos, iogurtes, vinagres

BIOTECNOLOGIA

Biologia Celular Biologia Molecular Genética Molecular Engenharia Genética Cultura de tecidos e células Clonagem Análise do DNA Transformação genética

Biodegradação Multiplicação de recursos genéticos Testes de paternidade

Bactérias fixadoras de Obtenção de OGMs nitrogênio e fungos micorrízicos

da genética e biologia molecular, a partir do surgimento da manipulação controlada e intencional do DNA, por meio das técnicas de engenharia genética. “Além dos produtos tecnológicos, a biotecnologia moderna tem possibilitado o desenvolvimento de diferentes tipos de marcadores moleculares e técnicas de anáA Lavoura - Nº 725

11


Breno Lobato - Embrapa

Divulgação Embrapa

ESPECIAL

Pesquisador Fábio Faleiro: "Biotecnologia no Brasil e no mundo teve início com a agricultura, a partir da domesticação das plantas e animais”

lises genômicas e proteômicas, as quais têm permitido várias aplicações práticas na pesquisa e desenvolvimento da agropecuária”, informa o engenheiro agrônomo. No caso do setor agropecuário, continua Faleiro, “ações de pesquisa e desenvolvimento na área biotecnológica são fundamentais para o desenvolvimento de sistemas mais produtivos e sustentáveis”.

Bioinformática Para sua evolução até os dias atuais, esse setor também contou com o avanço da informática. “A biotecnologia se une à bioinformática de maneira sólida, na década de 1990, com o grande avanço da ciência da computação. Essa união ocorreu devido à necessidade de processamento de grandes bases de dados biológicos, obtidos a partir de tecnologias de análises genômicas, proteômicas e metabolômicas”, relata o cientista. Em uma definição abrangente, acrescenta Faleiro, “a bioinformática é tida como o estudo e a aplicação de técnicas computacionais e matemáticas à geração

Livro digital da Embrapa está disponível para download gratuito

e ao gerenciamento de informações biológicas, em especial, da biologia e genética molecular”. “De maneira geral, a bioinformática pode combinar informações da química, física, biologia, ciência da computação e matemática/estatística para processar dados biológicos.” Apesar do grande avanço obtido até os dias de hoje, o pesquisador explica que“ a rapidez com que surgem novas técnicas da biologia molecular e o gigantesco volume de dados e informações produzidos pelos projetos, nessa área, exigem que a bioinformática esteja em constante evolução”.

Divulgação

Com a descoberta do DNA, houve uma revolução na área da genética e biologia molecular

12

A Lavoura - Nº 725


iStock

A bioinformática combina informações da química, física, biologia, ciências da computação e matemática para processar dados biológicos

Conservação de bens naturais As técnicas de biotecnologia também são usadas na restauração/recuperação e conservação de bens naturais, como água e solo. Conforme ressalta a bióloga Solange Rocha Monteiro de Andrade, também pesquisadora da Embrapa Cerrados e uma das autoras do e-book “Biotecnologia: estado da arte e aplicações na agropecuária”, dentro do conceito amplo dessa área, “podemos considerar o uso de microrganismos para Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) como uma das aplicações mais bem sucedidas para a manutenção do equilíbrio biológico do solo”.

bioindicadores avaliam a biomassa, a atividade e a diversidade microbiana que estejam relacionadas à decomposição de resíduos orgânicos, ciclagem de nutrientes e formação de matéria orgânica”, informa a cientista. Mestre em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal), doutora em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) e pós-doutora em Fisiologia Vegetal, ela cita outro exemplo: a futura utilização da biotecnologia que tende a levar à descoberta de bactérias que “comem” plástico. “Tais bactérias são mais eficientes para digerir e reutilizar as milhares de garrafas PET geradas no planeta. A aplicação dessa ferramenta deve chegar, em breve, a todos os lugares”, acredita Solange.

IAPAR

De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados, “a união da biotecnologia com a bioinformática também favorece a agropecuária, por meio do desenvolvimento de ferramentas para organização de bancos de dados, respectivas análises e modelagem, além do desenvolvimento de protocolos para apoio a programas de conservação, caracterização e uso de recursos genéticos e de melhoramento genético de plantas e animais, por meio de métodos clássicos e também pela engenharia genética”.

“Uma recente aplicação da biotecnologia envolve o uso de bioindicadores para avaliação da saúde do solo. Esses

Divulgação

A união da biotecnologia com a bioinformática favorece a agropecuária por meio do desenvolvimento de ferramentas, entre elas, o melhoramento genético de animais (foto abaixo) e de plantas, como o feijão (foto ao lado)

A Lavoura - Nº 725

13


Fotos: Divulgação

ESPECIAL

Para a agricultura, tem sido importante usar técnicas sustentáveis no campo, como é o caso da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) Biorremediação A cientista ainda menciona pesquisas que visam minimizar a contaminação por metais e pesticidas em solos e água, conhecidas como biorremediação ou fitorremediação. “Os estudos avançam na seleção e melhoramento de plantas e microrganismos capazes de absorver, decompor ou acumular os metais e pesticidas.” De acordo com a pesquisadora, já foram identificados organismos potenciais para essa função: “Porém, a aplicação dessas tecnologias depende do aumento da sua eficiência para uso em larga escala. Isso, em geral, envolve o uso de ferramentas modernas de biotecnologia, como o desenvolvimento de meios de culturas específicos, transformação genética e avaliações de segurança humana e ambiental”.

Técnicas sustentáveis

A fitorremediação ou biorremediação usa plantas e microrganismos capazes de absorver, decompor ou acumular os metais e pesticidas, minimizando a contaminação por metais e pesticidas em solos (primeira foto) e água (acima)

Nos dias atuais, o pesquisador Fabio Faleiro afirma que tem sido de suma importância trabalhar com técnicas sustentáveis no campo, como é o caso da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), para a conservação de bens naturais.

Depositphotos

O que é biorremediação? É o processo de técnicas de tratamento na recuperação de áreas afetadas e contaminadas, que consiste em utilizar os microrganismos vivos como as bactérias, os fungos ou as leveduras para remediação, degradação ou redução dos poluentes orgânicos ou inorgânicos, presentes no ambiente (solo, águas superficiais e subterrâneas, aterros ou efluentes industriais), a fim de transformá-los em substâncias menos ou não tóxicas. Esse processo é capaz de regenerar o equilíbrio do ecossistema original, promovendo um tratamento adequado ao meio.

14

A Lavoura - Nº 725


A expectativa dos cientistas é que a Biotecnologia leve à descoberta de bactérias que "comam" plástico, digerindo as milhares de garrafas PET que poluem praias e mares (foto acima), prejudicando diretamente diversas espécies de animais marinhos, entre peixes, mamíferos, aves, tartarugas etc Fotos: Divulgação

“Consideramos que a Fixação Biológica de Nitrogênio é uma revolução na agricultura devido ao seu enorme benefício para a economia e sustentabilidade dos sistemas produtivos”, diz. Na técnica de FBN, explica o cientista, o gás atmosférico N2 é convertido em amônia (NH3) por microrganismos conhecidos como diazotróficos. “O nitrogênio fixado na forma de amônia é disponibilizado para as plantas em simbiose ou associação com esses microrganismos. As bactérias chamadas de rizóbios são os microrganismos diazotróficos mais conhecidos.” Como a utilização de N fertilizante apresenta altos custos e pode estar associada a problemas ambientais,o engenheiro agrônomo destaca que “a FBN vem se tornando cada vez mais importante nos sistemas de produção”. “Dentro desse contexto, produtos inoculantes contendo bactérias diazotróficas selecionadas pela pesquisa, eficientes em fixar o N2 atmosférico, assumem papel de destaque. O uso apropriado de inoculantes gera ganhos econômicos, oriundos do aumento da produtividade das culturas e/ou da redução da aplicação de fertilizantes nitrogenados.” No Brasil, informa o especialista, “apenas na cultura da soja, o uso da FBN – em substituição à adubação nitrogenada – traz uma economia que supera 13 bilhões de dólares ao ano, quando considerada a área plantada, o rendimento de grãos, o índice de colheita de N e a eficiência da adubação com fertilizantes sintéticos”.

Gases poluidores Quanto à questão da sustentabilidade do meio ambiente, o uso da FBN, no lugar de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja,“permite que cerca de 100 milhões de toneladas de gases equivalentes de gás carbônico (CO2) deixem de ser emitidas, anualmente”. Conforme Faleiro, esse número tem como base o fato de que a produção e a aplicação desses fertilizantes emitem grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEEs), que são poluidores e agridem a atmosfera.

“Em média, a cada quilo de N fertilizante utilizado, cerca de quatro quilos de gases equivalentes de CO2 são emitidos ainda antes de sua aplicação e, aproximadamente, mais seisquilos na lavoura, sendo grande parte pela emissão de N2O gerado no processo de desnitrificação.” O cientista acrescenta que, “ao se utilizar bactérias diazotróficas, praticamente é eliminada a emissão de gases fora da fazenda e muito menos é emitido na lavoura”.

Microrganismos naturais Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) também são outros microrganismos encontrados na natureza e fundaA Lavoura - Nº 725

15


Divulgação

Divulgação Embrapa

ESPECIAL

Fabiano Bastos - Embrapa

No cultivo agricola de soja, por exemplo...

... as micorrizas auxiliam, naturalmente, no desenvolvimento e produtividade das plantas

mentais aliados dos sistemas produtivos. “Esses fungos ocorrem naturalmente nos solos e formam uma associação simbiótica com as plantas, denominada micorriza”, explica Faleiro. As micorrizas podem contribuir significativamente para o crescimento e produtividade das plantas. “Na micorriza, as hifas do fungo atuam como extensão do sistema radicular, possibilitando a absorção de nutrientes e água em um volume de solo muito maior do que o alcançado por raízes não colonizadas. Essa característica é particularmente importante na absorção de nutrientes com baixa mobilidade no solo, como o fósforo (P).” O engenheiro agrônomo relata que, além de maior eficiência no uso da água e nutrientes do solo, as micorrizas também podem atuar no controle de doenças de plantas. Isso porque as “alterações morfológicas nas raízes colonizadas por fungos micorrízicos podem diminuir os sítios de infecção para os patógenos”. 16

A Lavoura - Nº 725

Solange Andrade: “o uso de microrganismos para Fixação Biológica de Nitrogênio – FBN (fotos ao lado), na cultura da soja, é uma das aplicações da biotecnologia mais bem sucedidas para a manutenção do equilíbrio biológico do solo"

O que é FBN? Ao lado da fotossíntese, a Fixação Biológica de Nitrogênio é um dos processos naturais mais importantes do planeta. O nitrogênio é um nutriente essencial e exigido em grande quantidade pelas plantas. Na FBN, estando presente no ar (N2), ele é transformado em formas que podem ser utilizadas pelas plantas.

“Os fungos micorrízicos também podem contribuir para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, armazenando carbono no solo, por meio da produção da gomalina, uma glicoproteína componente da matéria orgânica.”

Manejo das lavouras Como a inoculação com fungos micorrízicos ainda não é uma prática comum, o aumento da densidade desses microrganismos nos solos e


Divulgação

Fungos micorrízicos atuam como promotor de crescimento das plantas, estendem o sistema radicular, solubilizam o fósforo, entre outros benefícios sua eficiência nas plantas dependem de um bom manejo das lavouras e das culturas utilizadas nos sistemas de produção.

Divulgação NovaTero

Além de maior eficiência no uso de água e nutrientes do solo, os fungos micorrízicos também atuam no controle de doenças de plantas

“Nesses sistemas de manejo devem ser priorizados, por exemplo, os sistemas de plantio sem revolvimento do solo, a rotação de culturas e a utilização de plantas de cobertura e adubos verdes.” Atualmente existe no Brasil, somente um inoculante composto natural e biologicamente por fungos micorrízicos arbusculares, devidamente autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para comercialização e uso nas lavouras do País. Trata-se do Rootella BR, da startup nacional NovaTero BioAg. “Os fungos micorrízicos auxiliam uma grande quantidade de espécies de plantas, incluindo diversas culturas agrícolas. Eles atuam como promotores de crescimento das plantas, estendem o sistema radicular, solubilizam o fósforo e outros nutrientes, além de captar água e promover o aumento da resistência das plantas e na estrutura do solo”, explica Yuri Maggi, diretor operacional e um dos sócios da empresa. Leia a matéria sobre os benefícios do Rootella BR, publicada na revista impressa A Lavoura nº 722, páginas 6 e 7 (acesse gratuitamente em ow.ly/wRFS30pmk4E) ou na versão online (alavoura.com.br/?p=2465).

As micorrizas contribuem para obtenção de raízes mais vigorosas das plantas

Engenharia de alimentos A biotecnologia também traz desenvolvimento para a indústria de alimentos no Brasil e no mundo. “A biotecnologia favorece a engenharia de alimentos por A Lavoura - Nº 725

17


ESPECIAL

O pesquisador da Embrapa Fabio Faleiro, em entrevista à revista A Lavoura, cita um exemplo clássico da biotecnologia que envolve a engenharia genética: o arroz dourado, que possui quantidade de betacaroteno (β-caroteno) – pigmento natural e o mais abundante do grupo dos carotenoides, presente nos alimentos. Lançado recentemente em Bangladesh após muitas críticas, especialmente da parte de ativistas do Green Peace, o arroz dourado – que já conta com a aprovação do Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA) – é um feito da biotecnologia, tendo sido geneticamente modificado para fornecer mais betacaroteno (pró-vitamina A) em relação a outras variedades de arroz. Conforme um estudo publicado no Journal of Agriculture and Food Chemistry, a produção do “novo arroz” será uma importante ferramenta na garantir da segurança alimentar e no combate à fome.

O arroz dourado é visto como um dos precursores nesse tipo de alimentação, que procura elevar a produção do cereal mais consumido no mundo e ainda oferecer, à mesa do consumidor, um produto mais nutritivo. (Fonte: Agrolink)

Divulgação Wikimedia Commons

Arroz dourado: aliado no combate à fome

Depositphotos

Exemplo clássico da engenharia genética, o arroz dourado (fotos ao lado e abaixo) é mais nutritivo que outros arrozes

18

A Lavoura - Nº 725


meio da tecnologia da fermentação, que utiliza processos biológicos em escala industrial, fazendo a ligação entre a biologia, microbiologia e engenharias químicas e de alimentos”, destaca o pesquisador e engenheiro agrônomo Fabio Faleiro.

ção reduzida de fatores antinutricionais, como o fitato (myo-inositol hexa-kisfosfato).”

Segundo o especialista, o uso da microbiologia para produção de alimentos é feita desde os primórdios da agricultura, “quando pensamos na produção do pão, vinho e outras bebidas alcóolicas, leite fermentado, queijos, entre outros alimentos”. “Entretanto, há poucas décadas, raros produtos – como as bebidas alcóolicas – eram produzidos em escala industrial.”

Cientificamente conhecido como ácido fítico, o fitato – que se apresenta em forma de sal – é usado pelas plantas para armazenamento de fósforo. No entanto, ele não é fonte de fósforo para humanos e para animais não ruminantes.

Ele acrescenta que, “dessa forma, a biotecnologia aplicada à produção de alimentos tem papel importante na segurança alimentar nos dias de hoje e daqui a algumas décadas, com a produção em alta escala de bebidas alcóolicas, produtos lácteos e demais alimentos, rações, proteínas, enzimas, vitaminas, hormônios, solventes orgânicos, ácidos, polímeros, soros, vacinas comestíveis, entre outros”. Na visão de Faleiro, com a evolução da ciência dos alimentos, a biotecnologia vai avançar também na otimização de processos industriais de produção alimentícia, com alta eficiência e sustentabilidade.

Do ponto de vista nutricional, o fitato é um composto que está naturalmente presente em leguminosas – feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico, entre outras –, em algumas nozes e também em cereais – como arroz, trigo, milho, aveia, centeio e seus farelos.

Ciência dos alimentos

Ao ingerir alimentos compostos por fitato, esse composto se liga a sais minerais – como: zinco, ferro e cálcio – no intestino humano, impedindo que o organismo aproveite esses nutrientes da melhor maneira possível.

Ainda conforme o cientista, “existem vários estudos em andamento para o desenvolvimento de alimentos com concentração aumentada de fatores nutricionais – como as vitaminas, óleos e aminoácidos essenciais – e concentra-

Por essa razão, ele é considerado um “antinutriente”. Sendo assim, a ciência dos alimentos pode auxiliar no

Tratando da qualidade dos alimentos, o pesquisador cita a aplicação da engenharia genética para o desenvolvimento de plantas transgênicas, com maior qualidade nutricional e funcional.

A Lavoura - Nº 725

19

Depositphotos

A biotecnologia aplicada à agricultura desenvolve plantas com alta eficiência e sustentabilidade


Cleverson Beje

Divulgação CIB

ESPECIAL

Adriana Brondam (foto menor): "Embora ainda polêmicos, são exemplos de biotecnologia aplicada à agricultura o desenvolvimento de cultivares de milho (foto ao lado) e soja transgênicos

desenvolvimento de produtos alimentícios, tornando o fitatoinativo.

Conhecimento científico Doutora em Ciências Biológicas e diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a pesquisadora Adriana Brondani ressalta a importância do conhecimento científico, em seu modo mais amplo, como ferramenta fundamental para todas as áreas produtivas. “Na saúde, por exemplo, a biotecnologia é responsável pelo desenvolvimento de medicamentos, vacinas, diagnósticos e tratamentos. No abastecimento energético, a ciência transforma, por meio da física e da química, matéria-prima em energia.” Na agricultura, continua a especialista, a ciência “leva à compreensão da relação entre solos, plantas, clima e demais variáveis que impactam a produção de alimentos, no Brasil e no mundo”. Para o setor agrícola, ela destaca que “a relevância da ciência é inquestionável”. “Sementes com alta tecnologia agregada, máquinas que facilitam o manejo, fertilização que corrige o solo, técnicas de irrigação que permitem o plantio, insumos que protegem as plantas e melhoramentos genéticos que garantem novas variedades são apenas algumas das inovações que já revolucionaram essa área”, aponta Adriana. “Se olharmos de maneira aprofundada para a ciência na biotecnologia agrícola, veremos que elas são tão ligadas que até se confundem.” 20

A Lavoura - Nº 725

Transgênicos Embora ainda carreguem bastante polêmica, a bióloga cita como exemplo de biotecnologia na agricultura o desenvolvimento de cultivares de milho e soja transgênicos. Ambas fazem parte do processo produtivo agrícola há uma e duas décadas, respectivamente, e “isso não é por acaso”. “Ao longo dos anos, esses alimentos se tornaram os principais produtos da exportação brasileira, rendendo 16,7 milhões de toneladas a mais de grãos na balança comercial e R$ 45 bilhões adicionais em riquezas para o País”, informa a pesquisadora. Ela também indica o algodão e a cana-de-açúcar, que contam com variedades geneticamente modificadas, e trazem muitos benefícios ao setor. “Os membros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela avaliação da biossegurança dos transgênicos no Brasil, especialistas em biologia molecular e áreas afins, ao se aterem rigorosamente aos critérios científicos, prestaram um inestimável serviço ao País.”

A história do melhoramento genético de PLANTAS

10.000 Final dos Décadas ANOS anos de 1940 Década Década ATRÁS 1800 e 1950 de 1980 de 1990

Começamos a domesticar plantas por meio da seleção de variedades com características de interesse

Cientistas buscam meios para introduzir novos genes nas plantas.

Agricultores e cientistas começam a fazer cruzamentos entre espécies.

1995

As primeiras plantas transgênicas são introduzidas no mercado.

Pesquisadores transferem um gene responsável por uma característica desejada de uma planta para outra. O resultado é um organismo geneticamente modificado ou transgênico.

1996

1997

Algodão e milho transgênicos são liberados comercialmente nos EUA.

Nos EUA, a abóbora e a soja transgênicas são disponibilizadas comercialmente.

1998

1999

Soja transgênica é aprovada no Brasil.

Mamão transgênico é liberado comercialmente nos EUA.

2005

Algodão transgênico é aprovado no Brasil.

Canola transgênica é liberada comercialmente nos EUA.

2006

2007

2011

Milho transgênico é aprovado no Brasil.

Nos EUA, alfafa e beterraba transgênicas são liberadas comercialmente.

2015

Eucalipto transgênico é aprovado no Brasil.

Feijão transgênico é aprovado no Brasil.

2016

2017

Cana-de-açúcar transgênica é aprovada no Brasil.

Batata transgênica é liberada comercialmente nos EUA.

Pesquisas com melhoramento clássico e biotecnológico de outras culturas avançam em todo o mundo.


Fotolia

A aplicação da engenharia genética desenvolveu plantas transgênicas com maior qualidade nutricional e funcional

Dados mais recentes de um relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA) mostram que o Brasil cultivou 51,3 milhões de hectares com culturas transgênicas, em 2018 – um crescimento de 2% em relação ao ano anterior ou o equivalente a 1,1 milhão de hectares.

Tecnologia de plantas Conduzido pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) em parceria com a Agroconsult, o estudo “Impactos econômicos e socioambientais da tecnologia de plantas resistentes a insetos no Brasil: análise histórica, perspectivas e desafios futuros” mostra que a tecnologia de resistência a insetos – inserida nas sementes de algodão, milho e soja por meio da transgenia –, em caso de perda de eficiência, pode fazer com que os agricultores brasileiros deixem de lucrar R$ 86 bilhões na próxima década. Segundo o CIB, esse lucro adicional seria composto por R$ 70,5 bilhões, vindos do aumento de produtividade esperado, e R$ 15,8 bilhões, em função da queda no custo de produção. Ainda conforme o levantamento, de 2005 a 2018, as sementes de algodão, milho e soja resistentes a insetos geraram um lucro adicional de R$ 21,5 bilhões para os produtores rurais do País. Os resultados apresentados pelo estudo também mostram que, entre 2005 e 2018, por conta da tecnologia de resistência a insetos (também conhecida como Bt), foram produzidas 55,4 milhões de toneladas a mais de algodão, soja e milho. Esse montante poderá ser acrescido de 107,1 milhões de toneladas de grãos e fibras na próxima década. Mais informações sobre o estudo do CIB/Agroconsult, acesse https://cib.org.br/impactos-do-bt.

Desenvolvimento sustentável Na visão da diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Adriana Brondani, o esforço de pesquisadores brasileiros, no desenvolvimento de novas tecnologias para a agricultura, transformou a história do agro nacional. “Em aproximadamente quatro décadas, saímos da posição de importadores de grãos para sermos um dos maiores exportadores globais.” Para ela, “o acúmulo de saberes [envolvendo a ciência da biotecnologia], que possibilitou esse desempenho, continua ocorrendo”. “Hoje, ferramentas de agricultura digital se somam ao íntimo conhecimento que adquirimos sobre a relação entre o vegetal, a terra, o clima e as ameaças à produção, auxiliando pequenos, médios e grandes produtores rurais a aumentarem seus rendimentos, mas preservando o meio ambiente”, relata a bióloga. Na opinião de Adriana, “é precisamente isso que nos moverá no sentido do desenvolvimento sustentável”. “Se quisermos chegar a esse futuro desejável, não poderemos abrir mão de nenhuma contribuição da ciência, nem na agricultura, nem de nenhuma outra área”. “A ciência deve ser reconhecida como essencial e não ser colocada na categoria de ‘acessório’ ou se submeter a lógicas de conveniência. Mesmo tendo entregado tantos benefícios e confirmado sua confiabilidade tantas vezes, seu mérito ainda é erroneamente questionado”, critica.

Fontes: Embrapa Cerrados e Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) A Lavoura - Nº 725

21


AGRICULTURA CELULAR

Os novos

alimentos Biotecnologia ajudará a desenvolver novos alimentos no Brasil e no mundo para os próximos anos, como uma das soluções para o combate à fome e à desnutrição, podendo garantir a segurança alimentar da população

22

A Lavoura - Nº 725


Depositphotos

A Lavoura - Nยบ 725

โ ข

23


AGRICULTURA CELULAR ell-based, plant-based, carne de laboratório – ou carne limpa –, além de ovos que não vêm da galinha, são algumas das mais recentes novidades do mercado envolvendo a área de biotecnologia para o setor alimentício. Apontados por especialistas como os “novos alimentos” produzidos pela chamada “agricultura celular”, esses produtos são vistos como fortes aliados da alimentação e nutrição humana, podendo garantir, em um futuro bem próximo, a segurança alimentar de populações que ainda sofrem com a fome e a desnutrição. Em resumo, a agricultura celular é uma técnica científica de tecnologia avançada, pela qual são cultivadas células de carne em laboratório, sem origem animal. A princípio, essas propostas inovadoras envolvem alimentos desenvolvidos a partir de plantas, que podem substituir diretamente outros, de origem animal – como carnes, frutos do mar, ovos e laticínios –, conforme explica Felipe Krelling, coordenador de Inovação da The Good Food Institute (GFI), a instituição internacional que também atua no Brasil.

Como alternativa a produtos de origem animal, o executivo explica que os alimentos plant-based são concebidos a partir de vegetais: “Um leite plant-­ based, por exemplo, poderia ser um leite de amêndoas ou de soja”. Na área de plant-based e cell-based, segundo Krelling, os norte-americanos estão bem à frente do Brasil, considerando que apenas recentemente foram feitos lançamentos de alimentos Divulgação

C

Pesquisa Encomendados pelo GFI e pela Plant-based Foods Association, dados recentes mostram que o mercado de varejo de comida à base de vegetais nos Estados Unidos, por exemplo, chega à marca de 4,5 bilhões de dólares – um crescimento cinco vezes mais rápido em comparação às vendas totais de outros tipos de alimentos, em território norte-americano, só no ano passado. E o Brasil, está preparado para essa revolução da agricultura celular?

Felipe Krelling: “Produzir alimentos de origem animal causa mais impacto ao meio ambiente”

Shutterstock

“Analisando todo o contexto da cadeia da nossa indústria de alimentos, aferimos que a produção e o consumo de produtos de origem animal convencionais causam grande impacto ambiental, despendendo recursos naturais, devastando muito e produzindo pouco”, avalia Krelling.

24

A Lavoura - Nº 725

Leite plant-based pode ser feito de amêndoas, côco, soja etc


Hambúrguer plant-based (fotos acima e foto menor) da empresa norte-americana Impossible Food possui menos gordura saturada Fotos: Divulgação Impossible Food

do gênero, a exemplo dos hambúrgueres sem origem animal do Burguer King e da Fazenda do Futuro. “Nos EUA, já existem hambúrgueres plant-based elaborados pelas empresas Beyond Meat e Impossible Foods, que possuem textura, sabor, suculência e aroma que o consumidor não sabe dizer se é de planta ou se os ingredientes vieram de um animal”, relata o coordenador do GFI. Em sua visão, apesar de envolver muita tecnologia, “o produto final é totalmente escalável e fica com preço competitivo aos convencionais”. “De modo geral, alimentos plant-based podem ser muito mais saudáveis, pois não possuem colesterol, que é o único oriundo de produtos de origem animal. Também tendem a ter menos gorduras saturadas e calorias com teores maiores de vitaminas e nutrientes benéficos para nossa saúde.”

Flexitarianismo Assessor de política (policy advisor) do GFI Brazil, Alexandre Cabral ressalta que a instituição sugere a adoção de alimentos substitutos mais sustentáveis para a carne, leite e ovos. "Adiantamos que não queremos criar uma cadeia que irá substituir o agronegócio, mas promover um perfil de pessoas ‘flexitarianas’ saudáveis.” Expressão que ainda não existe no dicionário português, o flexitarianismo é derivado de flexitarian – palavra formada pela junção, em inglês, de “flexível” e “vegetarianismo” – e que faz referência a pessoas que estão reduzindo o consumo de carne, sem excluí-la totalmente do cardápio. O flexitariano, portanto, é aquele indivíduo que segue uma dieta vegetariana na maior parte de seu tempo, no entanto, de vez em quando, consome algum tipo de proteína animal.

Números Antes de tratar da relevância da biotecnologia na produção dos chamados “novos alimentos”, é necessário citar

alguns dados. Números de 2018 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em pesquisa encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), por exemplo, indicam que os vegetarianos e/ou veganos representem algo em torno de 29,2 milhões de pessoas, ou seja, quase 14% da população brasileira. A pesquisa também mostra que, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro, o percentual de vegetarianos é de 16%. Isso representa um crescimento de 75% em relação a 2012, quando o mesmo levantamento indicou que a proporção da população nessas regiões, que se declarava vegetariana e/ou vegana, era de 8%. Ainda conforme o estudo, quase 30 milhões de brasileiros se declararam adeptos a esse tipo de dieta alimentar – um número superior ao de populações de toda a Austrália e Nova Zelândia, juntas. A Lavoura - Nº 725

25


AGRICULTURA CELULAR

Divulgação

O desperdício de alimento precisa ser reduzido pela metade

Dietas mais saudáveis Um estudo publicado em 2017, pela revista Nature, mostra que as mudanças globais em torno das dietas mais saudáveis ​​e baseadas em vegetais – associadas à redução pela metade das perdas e desperdícios de alimentos e melhores tecnologias e práticas agrícolas – serão necessárias para alimentar dez bilhões de pessoas de forma mais sustentável, até 2050. Financiado pela EAT como parte da Comissão EAT-Lancet para Alimentos, Planeta e Saúde e pela parceria “Nosso Planeta, Nossa Saúde” da Wellcome sobre Pecuária Ambiente e Pessoas, o estudo combinou contas ambientais detalhadas com um modelo do sistema global de alimentos, que rastreia a produção e o consumo de alimentos em todo o mundo. Por esse modelo, os pesquisadores, que analisaram várias opções que poderiam manter o sistema alimentar dentro dos limites ambientais, descobriram que: As alterações climáticas não serão suficientemente mitigadas sem mudanças na dieta para dietas mais baseadas em vegetais. Adotar dietas mais “flexitárias”, baseadas em vegetais em todo o mundo, poderia reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em mais da metade e também reduzir outros impactos ambientais, como a aplicação de fertilizantes e o uso de terras cultiváveis e ​​ água doce, entre um décimo e um quarto.

Também é necessário melhorar as tecnologias e práticas de manejo na agricultura para limitar as pressões sobre terras agrícolas, extração de água doce e utilização de fertilizantes. Aumentar a produtividade dessas terras, equilibrar a aplicação e a reciclagem de fertilizantes e ainda melhorar a gestão da água poderiam, em conjunto com outras medidas, diminuir esses impactos em cerca de metade. É necessário reduzir pela metade a perda de alimentos e o desperdício para manter o sistema alimentar dentro dos limites ambientais. Isso poderia, se alcançada globalmente, diminuir os impactos ambientais em até um sexto (16%). Alexandre Cabral (abaixo), defende a quebra de preconceitos na produção de alimentos como a “carne de laboratório”, ou “carne limpa”

26

A Lavoura - Nº 725


1ZOOM ME

Flexitarianismo é um tipo de dieta mais flexível que o vegetarianismo, com foco na redução do consumo de carne e não em sua total exclusão

Diferença entre vegetarianismo e veganismo O vegetarianismo, conforme define a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), é um regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes, sendo dividido da seguinte forma: ovolactovegetarianismo, que consome ovos, leite e laticínios; lactovegetarianismo, que utiliza leite e laticínios na alimentação; ovovegetarianismo, que usa ovos em sua dieta; e vegetarianismo estrito (tipo de consumo defendido pela instituição), que não come nenhum produto de origem animal. Já o veganismo, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver (ou poderia chamar apenas de “escolha”) que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais – seja na alimentação, no vestuário ou em outras esferas do consumo. (Fonte: SVB)

A SVB ainda destaca que a pesquisa do Ibope não separou, entre os entrevistados, quem se declarava vegetariano e/ou vegano.

planeta terá 2,2 bilhões a mais de pessoas em relação aos números de hoje. E para combater a fome, garantindo a nutrição e ainda a segurança alimentar, é necessário desenvolver “outro tipo de agricultura”.

Como alimentar o mundo?

“Precisamos incentivar a educação e a informação para a educação, de forma a quebrar paradigmas e preconceitos, a partir da construção, em cenário global, da produção de alimentos [também] a partir da ‘agricultura celular’, que consiste na multiplicação científica de células, a exemplo da ‘carne de laboratório’ ou da chamada ‘carne limpa’”, diz o assessor de política do GFI no Brasil, Alexandre Cabral.

Pesquisadores do mundo e do Brasil – que atuam no The Good Food Institute, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Centro de Inteligência em Biotecnologia (CIB), entre outras instituições – vêm defendendo o uso da biotecnologia na produção de alimentos, principalmente porque será necessário produzir mais em campo, sem aumentar a área agrícola, considerando que diversos países não dispõem de grandes extensões territoriais para esse fim.

Novos conceitos

Uma estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostra que, até 2050, o

O The Good Food Institute – tanto aqui quanto no exterior – trabalha com novos conceitos de alimentação, como o A Lavoura - Nº 725

27


AGRICULTURA CELULAR

Depositphotos

Para a produção dos novos alimentos, desenvolvidos em laboratório, o uso da biotecnologia é fundamental para a agricultura celular

28

A Lavoura - Nº 725


flexitarianismo (tipo de dieta mais flexível que o vegetarianismo, com foco na redução do consumo de carne e não em sua total exclusão).

Coordenador de Inovação do GFI, Felipe Krelling afirma que essas novas tecnologias, que envolvem a agricultura celular, satisfazem o consumidor final tão bem quanto os produtos convencionais, sem trazer as consequências negativas da produção e escalabilidade como a pecuária convencional.

Pinterest

Também atua com o conceito de plant-based – alimento feito à base de vegetal/planta que pode substituir, nutricionalmente, o de origem animal; e cell-based – outra proteína alternativa produzida a partir de células desenvolvidas por cientistas, a exemplo da carne limpa ou carne de laboratório.

“É muito mais que possível alimentar todas as pessoas do mundo com comida saborosa, convencional e preços competitivos, por meio da inovação e novas tecnologias”, garante o executivo.

Um recente estudo da Universidade de Harvard (EUA) – intitulado “90 razões para considerar a agricultura celular” (https://dash.harvard.edu/handle/1/38573490), foi feito para mostrar as vantagens relacionadas ao investimento e desenvolvimento de carnes à base de células (cell-based meat), conforme publicou a Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda), em abril deste ano.

Divulgação

Cell-based meat

Segundo o GFI, o consumo do iogurte vegetal cresceu 39% no ano passado...

Segundo a Anda, o estudo norte-americano descreve que esse segmento da biotecnologia dos alimentos “tem o potencial de influenciar nos problemas da saúde pública, do meio ambiente e dos direitos humanos/animais em uma escala notável, colocando a descoberta em uma classe sem precedentes e, verdadeiramente, capaz de revolucionar o mundo”.

... o queijo à base de plantas aumentou a procura em 19%...

Ainda leva em conta os benefícios para a saúde oferecidos pela carne cultivada em laboratório, tais como: eliminar a necessidade de antibióticos, reduzir o risco de contaminação e possibilidade de alergias no organismo humano, além de fornecer proteínas para a população mundial, que permanece em crescente aumento.

Meio ambiente

As razões citadas no estudo, segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais, também consideram as vantagens financeiras para a indústria da agricultura celular, levando em conta que uma produção mais controlada economiza dinheiro, reduz

Pexels

Conforme a Anda, o estudo de Harvard também indica as vantagens da agricultura celular para o meio ambiente, considerando que utiliza, significativamente, menos terra e água, emite uma fração mínima de gases de efeito estufa e diminui a poluição, quando comparada à agricultura tradicional. ... e o sorvete à base de vegetais teve crescimento de demanda de 27%

A Lavoura - Nº 725

29


Divulgação

Caroline Bushnell (GFI) diz que...

o desperdício, fornece uma qualidade consistente do produto e ainda evita os impostos sobre o carbono, diante do menor impacto ambiental.

Novos alimentos Para a produção desses novos alimentos, desenvolvidos em laboratórios, o uso da biotecnologia é fundamental para a agricultura celular. “A ‘carne limpa’, por exemplo, é resultado de pesquisas de biotecnologia. Ao invés precisarmos de todo um processo para engordar animais, para abatê-los e depois obtermos a carne, é possível conseguir o produto sem essas fases e com muito mais rapidez”, afirma Felipe Krelling. Segundo ele, “o custo para escalar soluções mais sustentáveis era muito maior, antigamente, porque não havia demanda nem conscientização suficientes dos governos e das indústrias para que tais mudanças aconteçam imediatamente”. “A biotecnologia está na base do desenvolvimento de novos produtos que substituem e oferecem, cada vez mais, oportunidades para quem já está na indústria de alimentos”. De acordo com Krelling, “a entrada desse tipo de comida no mercado está cada vez mais fácil, considerando que o número de consumidores conscientes – aqueles que buscam saber a origem e o processo dos produtos finais na indústria – está muito maior, tendendo a crescer ainda mais”. 30

A Lavoura - Nº 725

..."Os varejistas têm posicionado a carne à base de vegetais na seção de refrigerados, ao lado da carne convencional de animais, aumentando em 37% seu consumo no ano passado, nos EUA”

Cenário varejista Na opinião de Caroline Bushnell, diretora associada de Engajamento do The Good Food Institute (conforme publicado pelo GFI, em seu site oficial: www.gfi.org.br), “já estamos vendo o impacto que o espaço estratégico de prateleira pode ter”. Isso porque, de acordo com a executiva, o varejo total de carne à base de vegetais vale, atualmente, 800 milhões de dólares, representando 2% das vendas de carne embalada do mercado de varejo dos EUA. Segundo Caroline, estrategicamente falando, "se antes esses produtos ficavam meio escondidos nas prateleiras dos supermercados, agora os varejistas têm posicionado a carne à base de vegetais na seção do refrigerador, ao lado da carne convencional de animais". Ou seja, isso facilita o acesso dos consumidores a esses alimentos ao colocarem em um local mais visível nas gôndolas. Por conta desse posicionamento físico, consequentemente, as vendas de carne refrigerada feita de vegetais aumentaram 37% no ano passado, em território norte-americano. Para a executiva, o Brasil deve seguir essa mesma tendência. “É apenas o começo de um período de grande crescimento para os alimentos vegetais. O apetite dos consumidores por alimentos dessa natureza (cell-based e/ou plant-based) se potencializa, conforme os consumidores vão mudando, progressivamente, para alimentos que combinem valores e desejos por opções mais sustentáveis”, comenta Caroline.

Nomes mais acessíveis Na visão do coordenador de Inovação do GFI Brazil, Felipe Krelling, a biotecnologia tem favorecido a produção da “carne limpa”, cell-based e plant-based. No entanto, algumas nomenclaturas – ainda em inglês – devem ser “abrasileiradas”


para que tenham mais apelo junto aos consumidores daqui. Inclusive, ele acredita que a “carne de laboratório” deva ganhar outro nome, que seja mais atrativo.

Laticínios Dentro das técnicas da biotecnologia dos alimentos, segundo o The Good Food Institute, o leite à base de plantas continua definindo a curva para as vendas no varejo de alimentos de origem vegetal, representando 13% das vendas totais de leite no varejo, atualmente. De acordo com o GFI, o crescimento foi de 6%, em 2018, contra uma queda nas vendas de leite de vaca em torno de 3%, que também tiveram o mesmo percentual de redução no ano anterior. Nesse sentido, a instituição indica novas categorias de laticínios feitos de vegetais (ou seja, que não levam leite), como iogurtes, queijos e sorvetes. A busca por esses produtos está crescendo ainda mais rápido, conforme mais famílias vêm descobrindo tais opções à base de plantas. O The Good Food Institute destaca números que corroboram para o crescimento no consumo de alimentos cell-based e plant-based: •

O iogurte vegetal cresceu 39% no ano passado (o iogurte convencional caiu 3%);

O queijo à base de plantas aumentou a procura em 19% (o queijo convencional permaneceu plano);

O sorvete à base de vegetais teve crescimento de demanda de 27% (o convencional teve alta de 1%).

O coordenador de Inovação do GFI Brazil também comenta a possibilidade de produzir ovos (que não vêm da galinha) e similares aos lacticínios (sem leite): “Cientistas usam micróbios – a levedura é um exemplo comum – para produzir leite puro, ovos e proteínas de colágeno, em uma instalação limpa. Esse processo é o mesmo já usado, há décadas, para obter remédios como a insulina e enzimas.

Alimentos elaborados com proteínas vegetais abrem espaço para produtos mais saudáveis e sustentáveis

Depositphotos

“Esses alimentos serão produzidos em escala e em fábricas limpas, similares às da cerveja.Todas as comidas começam em um laboratório de alimentos, mas nem por isso chamamos salgadinhos de ‘salgadinhos de laboratório’. Veremos esforços e teremos pesquisas de consumidores para definir e encontrar palavras melhores (do que cell-based e plant-based, por exemplo) e que façam mais sentido em português.”

“Não defendemos, necessariamente, mudanças de hábitos, mas um movimento de inovação que entregue maior quantidade de alimentos mais sustentáveis, saborosos e acessíveis a todos. Produtos inovadores, como carnes limpas e proteínas vegetais, são oportunidades que permitem, à sociedade, manter seus hábitos alimentares ao mesmo tempo em que passam a comprar e consumir produtos mais saudáveis e sustentáveis.” No entendimento do executivo, “essas novas tecnologias não apenas permitem que a indústria consiga alimentar mais de dez bilhões de pessoas, até 2050, mas também oferecem as mesmas características dos produtos já consumidos em nossas casas e restaurantes, sem precisar de mudanças relevantes no dia a dia de qualquer pessoa”. Ele destaca, mais uma vez, que o GFI – tanto aqui quanto no exterior – “propõe que os alimentos preferidos dos consumidores sejam produzidos com outras tecnologias, fazendo com que não se desperdicem tanta terra, água e recursos naturais”. “Grande parte das plantações é utilizada para alimentar animais. Há relatórios que mostram que entre 50% e 60% dos grãos plantados, mundialmente, sejam usados para alimentar animais de fazenda. Em calorias, nós produzimos aproximadamente dez calorias de vegetais para ter apenas uma caloria de carne de vaca.” Krelling acrescenta que, “ao utilizar essas terras e recursos naturais, para produzir alimentos exclusivamente para as pessoas, e retirar os animais dessa equação, teremos muito mais espaço, recursos e oportunidades para produzirmos comida de formas mais eficientes”. Para mais informações, acesse https://gfi.org.br.

Mudanças de hábitos Embora os alimentos plant-based e cell-based ainda sejam desconhecidos, Felipe Krelling acredita que “a proposta mais viável é entregar os produtos que as pessoas estejam acostumadas, mas com novas tecnologias de alimentos”.

Por Marjorie Avelar Especial para revista A Lavoura Fontes: The Good Food Institute, Anda, Ciclo Vivo, Grupo Mantiqueira e Sociedade Vegetariana Brasileira A Lavoura - Nº 725

31


Mara Rosa

O "Ouro do

Cerrado goianO" Também conhecido como cúrcuma, o açafrãoda-terra é um condimento usado tanto na gastronomia quanto na indústria farmacêutica. O “Ouro do Cerrado Goiano”, típico da região de Mara Rosa, em Goiás, recebeu a certificação de IG em fevereiro de 2016 32

A Lavoura - Nº 725


Depositphotos

O

município de Mara Rosa, a cerca de 300 quilômetros de Goiânia, capital de Goiás, foi o primeiro do Estado a obter a Indicação Geográfica (IG), no início de 2016, para um produto típico daquela região: o açafrão. Com o apoio da Superintendência Federal de Agricultura de Goiás (SFA/GO), a Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão) obteve o registro de IG, na modalidade de Indicação de Procedência (IP), para o açafrão do tipo Cúrcuma Longa. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o açafrão goiano é o primeiro do País a conseguir o selo, que é conferido a produtos ou serviços característicos do seu local de origem, atribuindo valor intrínseco, identidade própria, renome e tornando-os mais competitivos no mercado. “A expectativa é que o selo venha a agregar valor ao nosso açafrão”, disse o então presidente da Cooperaçafrão, Arlindo Simão Vaz, ao se referir ao registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), há mais de três anos.

Dez anos de trabalho O desafio, após a certificação, vem sendo fechar parcerias para formar uma rede de distribuição capaz de levar o produto a supermercados e outros estabelecimentos comerciais. A IG para o açafrão – planta usada como condimento tanto na gastronomia quanto na indústria farmacêutica – é fruto de dez anos de trabalho entre o Mapa, Cooperaçafrão, Empresa de Assistência Técnica Rural (Emater-GO), Universidade Federal de Goiás (UFG), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do governo de Goiás.

A espécie O açafrão da região de Mara Rosa pertence à espécie Cúrcuma Longa (ou açafrão-da-terra), originária da Ásia. Sua produção é usada na indústria de alimentos como temperos, mostarda, condimentos, massas, molhos, margarinas, entre outros. Também conhecida como turmérico, raiz-de-sol, açafrão-da-índia, açafroa e gengibre amarelo, a Cúrcuma Longa é uma planta herbácea da família do gengibre (Zingiberaceae), originária da Índia e Indonésia. De acordo com informações técnicas do Sebrae, o produto ainda possui substâncias antioxidantes, antimicrobianas e corantes com aplicabilidade nas indústrias cosméticas, têxtil e farmacológica. Sua raiz tem sido utilizada há mais de quatro mil anos no Oriente Médio e na Ásia, tanto na medicina ayurvedica como na medicina tradicional chinesa, por ser um potente fitoterápico.

A produção A produção anual da raiz é de aproximadamente cinco mil toneladas, em cerca de 250 hectares de área plantada. Segundo a Cooperaçafrão, estima-se que 200 agri-

A Lavoura - Nº 725

33


Mara Rosa cultores – mais ou menos 300 famílias – vivam da cultura, atualmente, sendo gerados por volta de 800 empregos diretos. A região também é responsável por quase 90% da produção goiana, representando 26% da produção nacional de açafrão.

‘Capital do Açafrão’ Criada em 2003, a Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa possibilitou a articulação e a organização dos produtores, com o objetivo social de congregar os agricultores na sua área de ação, no interesse ena defesa econômica em benefício deles.

Fotos Cooperaçafrão

Conforme o Sebrae, o desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local

Flor originária (foto menor) e lavoura de açafrão-da-terra em Mara Rosa - GO

34

A Lavoura - Nº 725

(APL) do açafrão, com o intuito de alavancar o trabalho nessa região de Goiás, de forma econômica e viável, socialmente justa e ambientalmente correta, demonstra a consolidação e o potencial de Mara Rosa, a “Capital do Açafrão”. Uma vez reconhecida, a Indicação Geográfica do açafrão só pode ser utilizada pelos produtores daquela localidade delimitada, seguindo as normas estabelecidas no regulamento de uso (normas técnicas de produção/beneficiamento). De modo geral, o produto que possui o selo de IG – que é dividido nas categorias Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (D.O.) – passa a ter um fator diferenciado entre os demais disponíveis no mercado, tornando-o mais competitivo e confiável.

Um pouco de história Falando um pouco da história do açafrão no Brasil, lá no início do século 16, relatos divulgados pelo Sebrae indicam que os bandeirantes usavam esse condimento para demarcar as trilhas das minas e temperar os alimentos. Foi assim que eles chegaram a Goiás, mais especificamente a Mara Rosa, trazendo as primeiras sementes e mudas da especiaria, que foi incorporada à vegetação nativa. Hoje, o açafrão de Mara Rosa é chamado de “Ouro do Cerrado Goiano”. Desde sua colonização no século 18, as cidades de Mara Rosa, Amaralina, Formoso e Estrela do Norte são conhecidas como o “Sertão do Amaro Leite”, em alusão ao nome de um dos seus desbravadores, que adentrou as terras goianas em busca do “eldorado”.


Procedência Número: BR402013000006-6 Indicação Geográfica: Mara Rosa, Goiás Requerente: Cooperativa de Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão) Produto: açafrão Data do registro: 2 de fevereiro de 2016

Fotos: Cooperaçafrão

Delimitação: a área geográfica abrange os municípios de Mara Rosa, Amaralina, Formoso e Estrela do Norte, com um perímetro de aproximadamente 4.250 quilômetros quadrados.

Conforme o Sebrae descreve, nas origens dessa ocupação em Goiás, a atividade preponderante era a mineração e, paralelamente, era desenvolvida uma agricultura de subsistência. Naquela época, os garimpeiros e os escravos introduziram o açafrão e o cúrcuma, sendo que o primeiro servia para marcar as lavras e o segundo, como tempero. A planta adaptou-se muito bem ao solo e ao clima, tal como a nativa, nas margens dos córregos e rios da região de Mara Rosa.

Primeiras plantações De acordo com o Sebrae, no final do século 19, com a exaustão das minas, os arraiais goianos dedicavam-se à exploração agropecuária. No entanto, com as populações mais reduzidas, ladrões de gado e resistência dos índios, a região acabou se esvaziando.

Açafrão-da-terra colocado ao sol para secagem e produtos derivados (foto menor)

Território A área delimitada da produção dessa especiaria de Mara Rosa também inclui outras cidades da região Norte de Goiás: Estrela do Norte, Amaralina e Formoso. Todas elas fazem parte da microrregião de Porangatu, sendo cortadas no sentido Norte-Sul pela rodovia Belém-Brasília (BR-153) e intermediada por duas bacias hidrográficas – o Rio Araguaia e Rio Tocantins. Segundo descreve o Sebrae, a localidade possui as condições ideais para o cultivo do açafrão por ter um clima tropical úmido, apresentando duas estações bem definidas: uma chuvosa, entre meados de outubro e meados de abril – o que permite o bom desenvolvimento da planta –; e outra seca, que vai do final de abril a final de outubro, permitindo uma boa secagem do produto a temperaturas que variam de 20°C a 35°C.

No ano de 1948, com a construção da estrada transbrasiliana, rompeu-se o isolamento e as terras foram ocupadas. Por volta da década de 60, surgiram as primeiras plantações comerciais de açafrão.

A tradição da exploração da cultura do açafrão é favorecida pela disponibilidade da mão de obra na época da colheita, entre os meses de maio e novembro, na entressafra de outras culturas agrícolas.

Por meio da interligação rodoviária, novas demandas pelo produto despertaram o interesse das indústrias alimentícias. Foi aí que Mara Rosa ganhou fama, como a “Capital do Açafrão”.

Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa – Cooperaçafrão Endereço: Avenida Joaquim Gonçalves - Cidade: Mara Rosa - CEP: 57070-440 Telefone: 62 3366-2045 - E-mail: cooperacafrao@gmail.com

Contato

Fontes: Sebrae, Ministério da Agricultura

A Lavoura - Nº 725

35


36

โ ข

A Lavoura - Nยบ 725


Dieta Plant-based

vai além do modismo

Depositphotos

Semelhante ao veganismo, dieta à base de vegetais – também chamada de plantbased food – exclui qualquer tipo de alimento de origem animal, a exemplo ovos, mel, leite e seus derivados

Feijões, grão-de-bico, lentilhas, soja entre outros, integram a dieta que prioriza vegetais na alimentação

A Lavoura - Nº 725

37


Se faz bem ou não à saúde do corpo humano não consumir nenhum tipo de carne animal é um caso à parte, que parece não convencer mais, especialmente, os adeptos do veganismo. Fato é que a plant-based diet ou plant­based food chegou para ficar e vem sendo defendida como a forma mais saudável e sustentável de se alimentar. Traduzindo ao pé da letra, plantbased diet ou food significa “dieta à base de plantas”. Semelhante ao veganismo, ela exclui qualquer tipo de alimento de origem animal, incluindo ovos, mel, leite e seus derivados, tendo os vegetais como principal fonte da dieta.

A diferença é que, nesse caso, o foco é exclusivo na saúde e alimentação, enquanto que a premissa dos veganos gira em torno de um novo estilo de vida, que inclui outras motivações, como a ética animal e ambiental – ou seja, vai além daquilo que se come.

Comfort food A dieta plant-based tem como base energética e nutritiva alimentos ricos em fibras e amidos. “São alimentos considerados comfort food, que a maioria de nós sempre ama, mas que há tempos são vistos como meros acompanhamentos nas principais refeições”, ressalta a nutricionista clínica Alessandra Luglio, do Núcleo de Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). “São esses, contudo, os principais alimentos que fizeram com que os seres humanos prosperassem por gerações, comendo tubérculos como a batata inglesa e batata doce; grãos integrais como arroz integral, milheto, quinoa e trigo; milho e ervilhas; leguminosas como grão-de-bico, feijões, lentilhas e a soja. Tudo isso acompa-

nhado de frutas frescas, verduras e legumes sempre diversos e coloridos”, indica a profissional. Especialista em Gastronomia Saudável e Funcional, além de expert em alimentação vegetariana natural – também conhecida como Whole Food PlantBased Diet –, Alessandra garante que todos esses alimentos colaboram para o fornecimento de nutrientes essenciais. “Combinando-os ao longo do dia nas refeições, nós alcançamos o equilíbrio sinérgico nutricional que garante a saúde, sem excessos e sem carências nutricionais.”

Depositphotos

Um novo conceito de alimentação vem promovendo mudanças significativas nas prateleiras, cozinhas e mesas dos consumidores, causando debates e até certas polêmicas entre especialistas em nutrição, principalmente no que diz respeito à total exclusão de proteínas de origem animal da dieta. Alguns são contra, outros a favor.

Depositphotos

O arroz integral faz parte da dieta vegetariana

Recomendações Por ser um tipo de dieta mais natural, a plant-based diet vem sendo recomendada por várias diretrizes como um tipo de alimentação capaz de promover saúde e qualidade de vida, segundo relata a nutricionista Annie Bello, especialista em Nutrição Clínica, doutora em Fisiopatologia e professora adjunta da mesma área na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O milho é um dos grãos que colabora com o fornecimento de nutrientes essenciais à dieta plant-based

38

A Lavoura - Nº 725

Também pesquisadora do Instituto Nacional de Cardiologia, ela destaca um consenso internacional em torno desse tipo de dieta, especialmente em casos de pessoas portadoras de diabetes mellitus tipo 2, conforme publicação de 2019 da American Association of Clinical Endocrinologists, em conjunto com o American College of Endocrinology.


Ela explica que, em relação à obesidade e ao sobrepeso, as dietas somente à base de vegetais “se mostram muito eficazes não só na perda de peso como também na manutenção do peso” eliminado, “o que pode ser observado tanto em estudos observacionais quanto em ensaios clínicos randomizados”. De acordo com a nutricionista, além de colaborar com o controle ou a perda de peso, esse tipo de alimentação contribui para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. “Devemos lembrar que todas as diretrizes e recomendações sobre excesso de peso pregam que o melhor padrão dietético para perdê-lo é aquele que o paciente consegue aderir, ou seja, cada paciente vai se adaptar melhor a um tipo de dieta diferente.”

Como adotar A especialista afirma que, de fato, a plant-based diet vem conquistando alta adesão, portanto, “é uma escolha que deve ser priorizada”. “Mas como adotar no dia a dia? É bem simples: basta priorizar alimentos de origem vegetal na forma mais próxima possível do encontrado na natureza, ou seja, integrais e não processados”, orienta. “É importante não confundir plant-based com dietas vegetarianas ou veganas. Quem adota plant-based pode ou não ingerir proteína animal e, se ingerir, optar por peixes, aves, laticínios e ovos. Por outro lado, uma pessoa vegetariana ou vegana pode ter a alimentação rica em batata frita, doces veganos, macarrão, junk food sem proteína animal, entre outras”, explica a doutora em Fisiopatologia. Junk Food é, coloquialmente, conhecido como “porcaria” ou “besteira” – uma expressão pejorativa para designar os alimentos com alto teor calórico e níveis reduzidos de nutrientes.

Depositphotos

Esse trabalho norte-americano preconiza que todos os pacientes com diabetes tipo 2 devam seguir a plant-based diet. “Segundo o consenso, esse padrão alimentar é o mais adequado para atingir e manter o peso ideal para cada um, o que favorece o controle da glicemia e evita complicações micro e macrovasculares”, informa Annie.

O que comer na plant-based diet A nutricionista Alessandra Luglio, da Sociedade Brasileira Vegetariana (SVB), indica alguns alimentos para uma dieta à base de vegetais e atitudes que podem ser incluídas na alimentação: Alimentos naturais Cereais integrais: arroz, quinoa, aveia, couscous, milho, cevada, painço, triguilho, entre outros; Cogumelos comestíveis em geral; Frutas, verduras e legumes; Leguminosas: lentilha, feijão, ervilha, soja, grão de bico etc.; Oleaginosas: castanhas, amêndoas, nozes, pistache, entre outras; Sementes: de abóbora, girassol, gergelim etc. Alimentos das indústrias Leite vegetal: leite de castanha, arroz, amêndoas, soja, aveia, coco. São utilizados em substituição ao leite de vaca para beber, cremes para passar em pães\torradas\tapioca (exemplo: creme de tofu ou tofu grelhado, pasta de grão de bico) ou adicionados a preparações culinárias; Barras de cereais; Mix de nuts (castanhas). Atitudes

Ligação com o ecossistema Para a nutricionista Alessandra Luglio, “a natureza é perfeita, se compararmos a alimentação plant-based ao ecossistema (sistema composto pelos seres vivos e o local onde eles vivem, seres “não vivos” – minerais, pedras, o clima, a própria luz solar e etc.) e todas as relações deles com o meio e entre si”. “Entendemos que o micro reflete o macro, ou seja, a sinergia entre nutrientes e energia que garante o equilíbrio do nos-

Aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes (no mínimo, cinco porções diárias); Ingerir alimentos integrais e evitar os refinados; Dar preferência, sempre que possível, a produtos orgânicos; Montar um prato colorido com variedade de alimentos; Compor metade do prato, nas grandes refeições, com verduras e legumes.

A Lavoura - Nº 725

39


Leguminosas de vários tipos devem ser inseridas na alimentação saudável

so corpo é similar à interrelação entre os seres e o meio, que mantêm os sistemas naturais como as florestas, o Cerrado, os oceanos, mangues, entre tantos outros.” Na visão da especialista, a plant-­based diet “é o modelo alimentar que mais nos aproxima da natureza, com harmonia e respeito; afinal, somos parte dela”.

Lugar da ciência Segundo Alessandra, a “alimentação humana moderna é reflexo da nossa herança cultural, moldada por hábitos e vícios que, por sua vez, foram moldados basicamente pelo conforto, prazer e influência fria da ciência”. A ciência, “muitas vezes, foi – e ainda é – interpretada de forma fria e não correlacionada, desmerecendo a identidade sinérgica das nossas necessidades fisiológicas, emocionais e a influência real do meio ambiente em nossa saúde e equilíbrio”, acrescenta. “Hoje, comemos com o objetivo de nos suprir de nutrientes específicos, desprezando todos os outros nutrientes presentes no ‘pacote nutritivo’, que cada alimento nos provém. Comer de forma unilateral e focada em nutrientes específicos é desmerecer todo o aprendizado que a natureza nos trouxe, até então.” Para Alessandra, “quanto mais simples, menos processada, menos focada em nutrientes isolados em si e menos alimentos de origem animal, mais nutritiva será a alimentação e maior será o equilíbrio sinérgico entre você e o planeta”.

Depositphotos

Motivações

40

A Lavoura - Nº 725

Uma das motivações para o surgimento do conceito de plant-based food foi o aumento da preocupação da população com a saúde, tendo iniciado por meio de trabalhos e estudos que indicam a correlação entre a ingestão excessiva da proteína animal e o desenvolvimento de doenças crônicas. “As refeições são baseadas em uma oferta abundante e variada de cereais,


Além das leguminosas, frutas frescas, verduras e legumes diversos fizeram com que os seres humanos prosperassem por gerações

leguminosas, raízes, frutas, verduras, legumes, sementes, castanhas e outros alimentos vegetais, menos manipulados o possível, preservando, assim, sua densidade nutricional”, cita Alessandra, em entrevista à revista A Lavoura. Ela também sugere que, ao evitar o consumo de proteínas animais, farináceos refinados, gorduras em excesso e açúcares, a alimentação torna-se menos calórica e mais rica em fibras, vitaminas, minerais e compostos bioativos, sendo eficaz na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, tais como diabetes, hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes e até câncer.

Diferenças de dietas Para quem ainda desconhece esse amplo e novo universo da alimentação à base de vegetais, a nutricionista clínica explica algumas diferenças: “A alimentação vegetariana é aquela que elimina as carnes do cardápio e, normalmente, faz uso de leite e seus derivados, ovos e mel”. “Na alimentação vegetariana estrita – também conhecida como vegana –, todos os alimentos e ingredientes de origem animal são eliminados, sendo uma alimentação à base de vegetais que pode, ou não, seguir a linha plantbased”, acrescenta Alessandra. Conforme a especialista, se a alimentação vegetariana estrita é baseada em alimentos os mais naturais possíveis, mais integrais e menos processados, ela pode ser considerada plant-based.

Opção de vida Cem por cento vegetariana desde os 40 anos de idade, Alessandra diz

Depositphotos

“Já uma dieta vegetariana estrita – baseada em alimentos processados e refinados – é simplesmente vegana, pois não inclui nada de origem animal. No entanto, ela não apresenta os benefícios para a saúde que uma dieta mais rica e nutritiva como a plant-based oferece.”

A Lavoura - Nº 725

41


que, “de modo geral, uma alimentação vegetariana variada e equilibrada é capaz de suprir a demanda de todos os nutrientes necessários para organismo”. “Minha maior atenção [como profissional da área] fica por conta do aporte de ferro para as mulheres e de vitamina B12 para os vegetarianos estritos.” Sua opção pelo vegetarianismo foi motivada, principalmente, pelo amor incondicional que nutre pelos animais. “Mas nos últimos anos, estudando sobre os impactos ambientais dos nossos hábitos alimentares, entendi a gravidade da situação e tenho trabalhado muito nisso”. “Sendo nutricionista, vejo muitos benefícios na dieta vegetariana, porém, pensando de modo menos ‘egoísta’, o vegetariano cuida da saúde, da vida dos animais e do equilíbrio do planeta. Ou seja, as três causas são muito nobres.”

Demanda da biotecnologia Avaliando sob o ponto de vista da biotecnologia em torno do setor alimentício, Alessandra afirma que há, de fato, um aumento na “demanda por alimentos vegetais que tenham sabor e textura indulgentes”, considerando que recentes informações científicas têm revelado “os pontos negativos do consumo de proteínas animais excessivas, gorduras saturadas e colesterol, além da emergência ambiental e climática que estamos vivendo”. “Tudo isso tem despertado nas pessoas a consciência da necessidade de redução de consumo desses alimentos, mesmo a carne, leite e ovos sendo ali-

mentos culturalmente tradicionais nas refeições da maioria da população”, diz a nutricionista. “Com base nisso, a biotecnologia é uma aliada da indústria de alimentos em aplicações de novas proteínas vegetais, de forma a criar alimentos que possuam sabor, aroma e textura similares à carne, leite e ovos, e que possam servir de ‘ferramenta’ para auxiliar as pessoas nessa transição para dietas de menor impacto ambiental e, claro, mais saudáveis”, analisa.

Desafios da indústria As mudanças nos hábitos de consumo do ser humano também afetam o cenário da produção alimentícia nas indústrias do Brasil e do mundo. Para o engenheiro de alimentos da Vida Veg, Álvaro Gazolla, diante dessa tendência, o grande desafio é movimentar e apostar nos produtos plantbased, entregando ao consumidor um alimento nutritivo, saboroso e com preços mais acessíveis. Na opinião do especialista, a grande dificuldade – tanto para os consumidores quanto para as empresas –, é consumir ou “fazer um produto que consiga conciliar uma nutrição adequada com bom preço e sabor”. “Primeiro, o paladar geral do brasileiro sempre foi vinculado a um paladar voltado para produtos de origem animal. Quando vai para um segmento vegetal, você tem um desafio tecnológico muito grande e não tem muita literatura e pesquisa desenvolvida nesse setor”, diz Gazolla, em entrevista à revista A Lavoura. Ao contrário do cenário de carnes, leites e derivados de origem animal, “você tem um histórico muito grande de pesquisa e desenvolvimento, consequentemente, há muita literatura para pesquisar e buscar fontes nessa área”.

Divulgação

A biotecnologia é uma aliada da indústria de alimentos em aplicações de novas proteínas vegetais, criando produtos com sabor, aroma e textura simulares aos da carne, como os burgers

42

A Lavoura - Nº 725


Fotos: Depositphotos

As proteínas de ervilha e de arroz (fotos acima e abaixo) são importadas e de custo elevado, o que traz problemas para o crescimento do mercado plant-based no Brasil

com falta de conhecimento ou irresponsabilidades nutricionais”. “Quando você recomenda para uma criança trocar o leite de origem animal por um leite de origem vegetal, que tem zero proteína, você pode acabar afetando o desenvolvimento dessa criança”, alerta Gazolla.

Custo e preço Para o especialista, pelo fato de a plant-based diet (ou food) ser um conceito muito recente, não existem tantos produtos de referência. “Portanto, o desafio da engenharia dos alimentos e da indústria, em si, é muito maior, porque você está querendo consumir produtos em um ambiente que não tem muito o que pesquisar”. “São muitas tentativas e informações de nutrientes, além de um desafio para esse mercado que sempre estará vinculado a entregar um produto gostoso, que consiga conciliar uma nutrição adequada a um preço acessível ao consumidor final”, salienta o engenheiro de alimentos.

Entraves Gazolla também menciona um importante entrave para o crescimento desse mercado de alimentos plant-­ based no Brasil, citando as proteínas de ervilha e a própria proteína de arroz. “A maioria delas é importada (exceto a de soja, que é comum no País). Por causa disso, você tem um custo muito elevado quando toma a decisão de enriquecer seu produto com proteína de

Conforme o especialista, “para que a pessoa possa substituir certos alimentos e, consequentemente, ter um produto mais nutritivo, com mais proteína, não deve simplesmente seguir a moda, mas saber escolher um produto verdadeiro, que ajude o organismo a se desenvolver bem e saudável”. origem vegetal” e isso acaba encarecendo – e muito – o produto final. Fora isso, segundo o especialista, a palatabilidade e a questão sensorial dessas proteínas são diferentes em relação às de origem animal, como a caseína e o whey protein.

De olho no rótulo Ao consumidor, o engenheiro de alimentos dá uma dica importante: “Sempre se atente à rotulagem desses novos produtos, porque muitas indústrias e empresas gostam de ir ‘na onda’ para não perder o modismo, às vezes,

Ele, portanto, orienta o consumidor a sempre “avaliar os aspectos nutricionais do produto e não, simplesmente, achar que só por ser vegetal, ele é automaticamente mais saudável”. “Às vezes, essa troca é injusta, pois você paga mais caro por um produto que, nutricionalmente, é pior que um produto de origem animal”, alerta. * Nutricionista Alessandra Nuglio - Sociedade Vegetariana Brasileira (www.svb.org.br) * Nutricionista Annie Bello (www. anniebello.com) * VidaVeg (www.vidaveg.com)

A Lavoura - Nº 725

43


biotecnologia

44

โ ข

A Lavoura - Nยบ 725


Depositphotos

Parece,

mas não é! Carne sem ser de origem animal, carne sintética feita de células-tronco de bovinos e até ovo que não vem da galinha ditam novos rumos do mercado vegano e vegetariano, no Brasil e no mundo

A Lavoura - Nº 725

45


BIOTECNOLOGIA

A

Dados de mercado

roma, visual e textura de carne, mas não é carne. Assim os hambúrgueres feitos de vegetais têm ganhado espaço no mercado brasileiro, após recentes investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de empresas que enxergam o potencial no mercado de consumidores que não se alimentam de proteína animal, sejam eles veganos, vegetarianos ou flexitarianos.

Alternativas vegetais às proteínas de origem animal já são uma realidade planeta afora, de acordo com o coordenador de Inovação do The Good Food Institute (GFI) no Brasil, Felipe Krelling. Segundo o executivo, países como os Estados Unidos possuem um mercado de proteínas alternativas bem estruturado, “contabilizando mais de três bilhões de dólares por ano”.

Lançada em setembro no Brasil, uma das novidades vem da rede de fast-food Burguer King, que colocou em seu cardápio um hambúrguer feito somente de vegetais, sem adição de carne bovina, suína ou de frango, a exemplo de outros sanduíches da marca.

Alimentos plant-based foram eleitos como a maior tendência alimentar de 2018, pelos consultores da Baum & ­Whiteman, e pesquisas preveem que esse mercado global deve chegar a valer 6,4 bilhões de dólares, até 2023.

“O Brasil é um dos mercados mais importantes para o Burger King, no mundo. Em pesquisas conduzidas com consumidores, percebemos que o interesse e a disposição por comprar produtos à base de plantas, no Brasil, chegam a ser maiores do que em outros países como China, Estados Unidos e Inglaterra”, avalia Ariel Grunkraut, diretor de Marketing e Vendas do Burger King nacional.

De acordo com a instituição, o Brasil não deve ficar atrás nesse cenário, levando em conta que ocupa o quinto lugar no mercado mundial de alimentos e bebidas saudáveis, com um crescimento de 20% ao ano, enquanto a média global é de 8%.

Cenário em Israel e EUA

Desenvolvido em parceria com a Marfrig – uma das maiores produtoras de carne bovina do planeta e a maior fabricante global de hambúrgueres –, o novo hambúrguer é resultado de um acordo firmado com a norte-americana Archer Daniels Midland Company (ADM), uma das maiores fornecedoras mundiais de ingredientes alimentícios.

O coordenador de Inovação do GFI, cita a empresa israelense Aleph Farms, que produziu a primeira “carne vegetal” em formato de um bife tradicional, já disponível no Brasil, um pouco parecido com o coxão mole. “O desafio atual (de produzir alimentos plant-based e cell-based) se difere em cada país. Nos EUA, por exemplo, é necessário terminar o marco regulatório para que esses produtos cheguem, o quanto antes, nas prateleiras do varejo”, diz o executivo.

Presidente da ADM Nutrition na América Latina, Roberto Ciciliano ressalta que a empresa possui “uma avançada estrutura de P&D e soluções tecnológicas para fornecer a melhor combinação de ingredientes e sabores do hambúrguer 100% vegetal, disponível nas lojas do Burger King”.

Ele ressalta que o GFI está acompanhando e contribuindo para que essas pontes sejam feitas o mais rápido possível. “No caso dos EUA, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em português) já está trabalhando com o FDA (Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA) para que isso se torne realidade”, adianta.

O hambúrguer possui uma receita exclusiva à base de plantas, além de tomates frescos fatiados, alface fresca, maionese, queijo, ketchup, picles e cebolas fatiadas em um pão de gergelim. No lançamento do hambúrguer feito somente de vegetais no Brasil pela Burguer King... Fotos: Divulgação Burger King

...Filas de consumidores formaram-se nas lojas da rede de fast food

46

A Lavoura - Nº 725/2019 725


7%

87%

6%

Não sabe

Divulgação Aleph Farms

Você se considera vegetariano ou vegano?

Não

Sim

Você reduz ou quer reduzir o consumo de produtos de origem animal (carne, peixe, leite, ovos etc?)

Bife de carne vegetal produzida pela empresa israelense Aleph Farms

Consumo no Brasil Para compreender o potencial desses novos produtos no Brasil, o The Good Food Institute, em parceria com a Snapcart, realizou uma pesquisa para entender melhor os hábitos de consumo dos brasileiros em relação aos alimentos de origem vegetal. Durante o estudo, que também buscou entender quais as motivações das pessoas que adotam dietas sem produtos de origem animal, foram entrevistadas mais de nove mil pessoas de todas as regiões brasileiras, que consomem ou não esses tipos de produtos. Os resultados mostraram uma tendência de redução no consumo de carne, ovos e derivados do leite por parte dos brasileiros.

71%

29%

Não

Sim

Qual é sua opinião sobre pessoas que reduzem o consumo de produtos de origem animal?

Quando perguntados sobre o que achavam da ideia de reduzir produtos de origem animal, a grande maioria dos entrevistados que os consomem enxergava essa mudança de hábito de maneira positiva, com 29% das pessoas já colocando isso em prática. Para o GFI, diante de um mercado expressivo como o do Brasil, essa é a prova de que um número considerável de pessoas se sente familiarizado com os benefícios de um consumo menor de produtos de origem animal e tem interesse pelo assunto. Mostra também que mesmo aqueles, que não consideram cortar completamente esse tipo de alimento de origem animal da dieta, podem estar abertos a repensar seus hábitos alimentares.

Avaliação Segundo análise do The Good Food Institute, o mercado de proteínas vegetais no Brasil vem se desenvolvendo rapidamente, com grande potencial de expansão em diversas áreas a serem exploradas.

76%

É uma atitude positiva

3%

É uma atitude negativa

Fontes: GFI e Snapcart

21%

É uma atitude neutra

A pesquisa é pioneira no mercado nacional de plant-based, sendo a primeira a analisar informações específicas desse segmento no País. O principal objetivo foi entender as necessidades do setor de alimentos à base de vegetais e identificar suas potencialidades. Por meio desse primeiro mapeamento do GFI, já foi possível estabelecer uma perspectiva sólida, capaz de oferecer informações relevantes para o desenvolvimento de novos produtos, abrindo portas para quem busca entrar nesse mercado, que tende a continuar crescendo no Brasil. A Lavoura - Nº 725

47


Fotos: Divulgação Fazenda do Futuro

BIOTECNOLOGIA

Marcos Leta, fundador e CEO da foodtech Fazenda do Futuro garante que o burguer feito à base de plantas, (fotos acima e ao lado), produzido pela empresa, a tem o mesmo sabor, textura e cheiro da carne bovina

Além do nicho

Primeira footech

A pesquisa também aponta que o mercado de proteínas alternativas é abrangente e possui muito mais alcance do que apenas nichos específicos.

Lançada em abril de 2019, de olho no mercado vegetariano e vegano, a Fazenda Futuro é a primeira foodtech brasileira voltada à produção de carne à base de plantas, sem origem animal, apresentando-se com um grande diferencial: a empresa garante que a carne vegetal tem o mesmo sabor, textura e cheiro da bovina.

A maior parte das nove mil pessoas entrevistadas considera a redução do consumo de produtos de origem animal como algo positivo e o número de quem já pratica essa redução é expressivo. A saúde foi apontada como maior motivador dos consumidores em direção às dietas alternativas vegetais. Também foi comprovado que fatores básicos como sabor, preço e conveniência movem essas pessoas, portanto, proteínas vegetais saborosas, distribuídas em lugares acessíveis e a preços convenientes combinariam, segundo o The Good Food Institute, todos esses fatores e conquistariam o mercado de vez. Para acessar a pesquisa completa, acesse o link (encurtado): ow.ly/JpYu30pwOY2. 48

A Lavoura - Nº 725

“O Futuro Burger, produto de estreia da Fazenda Futuro, usa como base ingredientes vegetais, a exemplo da proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão de bico, além de beterraba para imitar a cor e o sangue da carne. Tudo sem glúten, sem transgênicos e, claro, sem boi”, relata o fundador e CEO da empresa, Marcos Leta, em entrevista à revista A Lavoura. Segundo o executivo, a ideia de criar a Fazenda Futuro veio a partir da análise de dados da produção e do mercado consumidor de carne animal no País. “O consumo de carne, hoje, gera um impacto ao planeta fazendo com que, cada vez mais, as pessoas tomem cons-


Elisa Sidrim

ciência desses fatos e optem por mudanças na alimentação. E é para essas pessoas, que querem ter uma vida mais equilibrada, mas não querem abdicar do que amam comer, que a Fazenda Futuro foi criada”, conta Leta.

Onde encontrar Na visão do empresário, opções para consumir o Futuro Burger, carro-chefe da Fazenda Futuro, não faltam: “Quem quiser experimentar receitas exclusivas e especiais pode conferir a novidade no cardápio de casas como T.T. Burger – do premiado chef Thomas Troisgros –, Lanchonete da Cidade, Balada Mix, B de Burger, Bibi Sucos, Delírio Tropical, Red Burger, The Black Beef, entre outros”. “No varejo, o produto pode ser encontrado, nacionalmente, no Pão de Açúcar, Extra, Carrefour e Makro, além dos varejistas regionais como o Supermercado Zona Sul, St. Marche, Zaffari, Casa Santa Luzia, Mercadinho São Luis, Hirota, Muffato e La Fruteria, que já contam com a novidade em suas gôndolas.” Ainda segundo Leta, “se a preguiça bater, o consumidor ainda pode pedir pelos e-commerces de congelados como Liv up, Beleaf, Vya, Bio Point, Natue e VegIn”.

“Minha meta é simples: evoluir com novas gerações e versões da nossa carne e chegar a um volume de carne de vegetais que se torne mais barato do que a carne de origem animal.”

Fibra de caju

Fotos: Sottile Foods

Segundo o executivo, “ao desenvolvermos tecnologias capazes de criar alimentos sem origem animal, idênticos em sabor, textura e cheiro de carne, queremos mostrar que é possível revolucionar a indústria alimentícia, sem causar um impacto negativo ao meio ambiente”.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também vem desenvolvendo produtos alimentícios sem ser de origem animal. Hambúrgueres, coxinhas, nuggets, caftas e bolinhos à base de vegetais fazem parte de um trabalho de pesquisa da Unidade Agroindústria de Alimentos (RJ) da estatal, em parceria com a Sottile Alimentos, empresa de Niterói (RJ). Batizado de New Burguer, o segredo do novo hambúrguer, além da adição da fibra de caju, está no uso de ingredientes que proporcionam características muito próximas às de produtos elaborados com carne bovina. Entre os lançamentos também está o Siriju, bolinho similar ao produzido com siri, no entanto, é feito só com vegetais. A fibra de caju é proveniente do Estado do Ceará, onde a Embrapa Agroindústria Tropical (CE) desenvolveu estudos que possibilitam sua utilização como ingrediente. Atualmente pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro, a engenheira de alimentos Ja-

De cima para baixo, hambúrguer de caju, da Embrapa Agroindústria Tropical, almôndegas de quinoa e bolinhos de feijoada e a última foto, o "siriju", da fibra de caju, elaborados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos em parceria com a Sottile Foods, empresa sediada em Niterói-RJ, já estão sendo comercializados

A Lavoura - Nº 725

49


BIOTECNOLOGIA

Pinterest

tura e vai consumir um produto que é vegetariano e rico em fibras”, afirma a engenheira de alimentos.

Sustentável e saudável Seu parceiro na pesquisa, André Dutra explica que o uso da fibra de caju – oriunda da fruta nativa com grandes extensões de plantio e produção na região Nordeste do País – promove uma solução sustentável ao descarte das indústrias de sucos. Números de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil produziu aproximadamente 60 mil toneladas de caju, sendo que 75% correspondem à fibra, após o aproveitamento do suco e da castanha.

O primeiro hambúrguer “in vitro” nasceu de pesquisas do fisiologista Mark Post (foto abaixo), responsável científico da empresa Mosa Meat que se prepara para vender “carne de laboratório”, em 2021

“A finalidade dos testes também foi trabalhar a fibra para ter menos gosto de caju e para ficar com uma textura mais agradável ao consumo”, relembra a engenheira de alimentos que, na época, trabalhava na Embrapa Agroindústria Tropical.

nice Ribeiro Lima conta que a ideia inicial era evitar o desperdício do bagaço do caju gerado pela indústria do suco, que é usado na alimentação animal.

Valor nutricional Os cientistas brasileiros envolvidos nesse trabalho notaram que muitas pessoas, no Ceará, já aproveitavam a fibra de caju para a produção de hambúrguer, no entanto, ele se apresentava com baixo teor de proteína. Por isso, de acordo com Janice – que também é mestre e doutora em Tecnologia dos Alimentos –, foram feitos testes com a adição de outras fontes de proteína, como a texturizada de soja. 50

A Lavoura - Nº 725

O analista ressalta que esses produtos agregam valor à cadeia do caju e são diferenciados também pelo seu apelo saudável. “Eles são ricos em fibra, componente importante na alimentação humana, que ainda proporciona a redução do valor calórico aos produtos desenvolvidos”, diz o engenheiro agrônomo.

Janice se dedica ao desenvolvimento de produtos com a empresa parceira Sottile, ao lado do analista e também pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos André Dutra, que é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos.

Textura, cor e sabor Com as informações sobre como tratar a fibra de caju, eles chegaram aos ingredientes que poderiam melhorar as características sensoriais de sabor, aparência e textura dos produtos. “O hambúrguer, por exemplo, com base de soja e fibra de caju, é muito semelhante em termos de textura, cor e sabor ao similar de carne bovina”, garante Janice. Para quem está acostumado a consumir o hambúrguer bovino, “não sentirá tanta diferença no sabor e na tex-

Produtos vegetais agregam valor à cadeia brasileira do caju, se diferenciando dos demais, por conta do apelo por uma dieta mais saudável


Fotos: Beyond Burger

A parceira Parceira da Embrapa Agroindústria de Alimentos nesse trabalho de pesquisa com a fibra de caju, a Sottile Alimentos – que funciona em Niterói (RJ) – surgiu como empresa de produtos vegetarianos, no ano passado. Um dos sócios da companhia, Thiago Rosolem lembra que ele e o irmão, Bruno Rosolem, estavam procurando algo semelhante à jaca, para utilizar na fabricação de seus produtos. Foi quando souberam do estudo da Embrapa com a fibra de caju e seus benefícios. “Desde 2018, estamos trabalhando nesse projeto com a Embrapa para desenvolvimento de produtos alimentícios com a fibra de caju. O objetivo é expandir cada vez mais o número de produtos”, diz Thiago. Bruno ressalta que a perspectiva é atender ao mercado nacional e, quem sabe, exportar: "Temos o produto mais sustentável do mercado, pois damos uma destinação nobre à fibra de caju, que antes era descartada. Nossa ideia é ter o New Burguer, nos próximos meses, em prateleiras de supermercados, além de atender food services como hamburguerias, restaurantes e afins”. O New Burguer foi lançado no fim de junho de 2019, em uma hamburgueria de Niterói, e já está chegando a outras lanchonetes do Rio de Janeiro. “A coxinha e o ‘bolinho de siri’ (o Siriju, feito de caju) também já estão sendo comercializados no Rio e estamos trabalhando com distribuidores no Brasil para, em breve, chegarem aos supermercados de todas as regiões”, adianta Thiago.

Hambúrguer in vitro Outro trabalho científico envolve a produção de “carne de laboratório": um hambúrguer in vitro produzido a partir de células-tronco de bovinos. Também chamada de cell-based meat (carne feita de células), a carne sintética não é simplesmente algo parecido com a carne bovina, é a própria

Primeira empresa a ter seu hambúrguer à base de plantas vendido em redes de supermercados nos EUA, a Beyond Burger também vende salsicha e carne moída de vegetais

A saúde é o maior motivador dos consumidores em direção às dietas alternativas vegetais (foto abaixo)

carne, segundo publicação veiculada no site Pesquisa Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (leia em: ow.ly/yKmd30pDQAS). Cientificamente, o primeiro hambúrguer in vitro nasceu na Universidade de Maastricht, na Holanda, a partir das pesquisas do fisiologista Mark Post, que começaram em 2008. Os resultados da “nova carne”, feita de células de músculo de vacas criadas em seu laboratório, foram apresentados cinco anos mais tarde, em Londres (Inglaterra). Em 2013, no entanto, três pessoas que provaram o hambúrguer – o próprio Post e dois especialistas em gastronomia – concordaram que a carne estava um pouco seca e pobre em sabor, devido à falta de gordura em sua composição, conforme publicou o jornal The New York Times (EUA), naquela ocasião.

Clean meat Visto internacionalmente como “a cara da clean meat” (carne limpa), Post é diretor do Departamento de Fisiologia da instituição holandesa de ensino superior e responsável científico da empresa Mosa Meat, que se prepara para vender “carne de laboratório”, em 2021. A Mosa Meat também é parcei-

ra mundial do The Good Food Institute, tanto no Brasil quanto lá fora. Em entrevista veiculada ao site Público (de Portugal), publicada em janeiro deste ano, o cientista declarou sua motivação para criar a carne limpa: “Produzir em escala, de forma a tornar o processo economicamente viável e obter aprovação legal para lançar os produtos no mercado. Todas as pessoas envolvidas acreditam que, em 2021, já estaremos produzindo para o mercado”. “Há ainda a questão do meio de cultura necessário para a reprodução das células, que ainda está limitado à indústria farmacêutica e biomédica, que é relativamente pequena em relação às necessidades de uma indústria viável de carne de cultura. Será um neA Lavoura - Nº 725

51


BIOTECNOLOGIA

gócio paralelo que se irá desenvolver”, conta Post. Leia a matéria completa acessando o link: ow.ly/gBWL30pDQoT.

Cientistas pelo mundo vêm produzindo carne em laboratório com textura, cor e sabor semelhantes à carne bovina

Custos e parcerias O processo desenvolvido por Post parte da extração de células-tronco bovinas de um fragmento de tecido muscular do animal. Essas células indiferenciadas se multiplicam em um meio de cultura contendo nutrientes e fatores de crescimento, transformando-se em fibras musculares.

Em julho de 2018, para continuar o desenvolvimento do produto e iniciar sua comercialização, a startup captou 7,5 milhões de euros do Bell Food Group, líder no mercado de carnes na Suíça, e da holandesa M Ventures.

Pioneirismo lá fora

Cerca de 20 mil finas tiras de tecido muscular foi combinada para formar um hambúrguer de aproximadamente 140 gramas. A produção em escala industrial será feita em um biorreator.

Ainda considerada uma novidade no Brasil, o hambúrguer vegetal que imita carne bovina existe há três anos, nos Estados Unidos. De acordo com o site Pesquisa Fapesp, a Beyond Burger foi a primeira empresa a ter seu hambúrguer à base de plantas vendido em redes de supermercados naquele país.

Conforme publicação do site Pesquisa Fapesp, o hambúrguer holandês custou 250 mil euros (algo em torno de R$ 1,1 milhão), financiados, principalmente, pelo cofundador do Google, Sergey Brin. Com o objetivo de colocar o produto no mercado, Post criou a empresa Mosa Meat, nascida como uma spin-off da Universidade de Maastricht.

Em 2019, tornou-se a primeira fabricante de carne vegetal com ações na bolsa norte-americana Nasdaq. Além de hambúrguer, a companhia vende carne moída e salsicha preparadas mediante uma combinação de fontes proteicas vegetais. Já a startup Californiana Impossible Foods vai além, ao produzir um hambúrguer de cor vermelha, conseguida a partir de uma proteína similar à hemoglobina e produzida por engenharia genética. Os pesquisadores da empresa usam um componente da hemoglobina – o grupo heme –, que confere a cor vermelha de carne crua e o cheiro característico exalado durante o cozimento.

Fotos: Impossible Foods

A startup californiana Impossible Foods produziu hambúrguer de cor vermelha (foto abaixo à esquerda), a partir de proteína similar à hemoglobina, produzida por meio da engenharia genética

52

A Lavoura - Nº 725


Fotos: Divulgação Aleph Farms

Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da carne de laboratório e o primeiro bife (foto à direita) criado pela israelense Aleph Farms

Poder das raízes Raízes de plantas leguminosas têm o grupo heme em uma proteína de estrutura e função muito semelhantes à hemoglobina: a leg-hemoglobina. Com base nesse conhecimento, os cientistas da Impossible Foods criaram um método de produção em alta escala do grupo heme, extraindo-o de raízes da soja. Por meio da engenharia genética, eles modificaram a levedura Pichia pastoris para que ela produzisse leg-hemoglobina de soja e a cultivaram em fermentadores para multiplicar a proteína.

Bife de laboratório Ainda conforme publicação do site Pesquisa Fapesp, no final do ano passado foi a vez da israelense Aleph Farms anunciar a criação do primeiro bife cultivado em laboratório. CEO da empresa, Didier Toubia contou, na ocasião, que a ideia de pesquisar carne cultivada a partir de células animais surgiu em 2016. O projeto se concretizou na Faculdade de Engenharia Biomédica do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion). O custo do protótipo – uma pequena tira de bife de algumas dezenas de gramas – foi de 50 dólares, valor ainda bastante alto quando comparado ao da carne vendida em açougues. No entanto, ele apresentou um avanço em relação ao despendido para a produção do hambúrguer da Universidade Maastricht, na Holanda. A novidade deve chegar ao mercado em até cinco anos.

De acordo com a Fapesp, o processo de produção de um bife in vitro é mais complexo e requer que as células se organizem de forma tridimensional (3D), ganhando volume e, consequentemente, espessura. Para isso, é necessário colocá-las em uma estrutura que serve como suporte – denominado scaffold (andaime) – que, normalmente, é produzida a partir de colágeno, de origem animal. Para fabricar "carne limpa", no entanto, é importante que não existam insumos animais nem procedimentos vinculados a eles. Esses pré-requisitos têm estimulado o surgimento de empresas que apresentem novas tecnologias, segundo a Fapesp.

Caso brasileiro Uma startup criada para fornecer scaffolds à base de plantas, a esse tipo de indústria, é a brasileira Biomimetic Solutions, uma spin-off nascida no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). “Criamos um nanomaterial à base de plantas contendo moléculas naturais bioativas. Somos uma das primeiras empresas no mundo especializada na produção de scaffolds com foco na produção de carne limpa”, garante Lorena Viana, mestre em Ino-

vação Tecnológica e Propriedade Intelectual, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sócia-fundadora da Biomimetic Solutions, ao lado das engenheiras de materiais Ana Elisa Antunes e Alana Benz, além de outras duas pesquisadoras do Cefet-MG, Aline Bruna da Silva e Roberta Viana, Lorena explica terem decidido por esse novo negócio, que envolve o mercado de carne in vitro, por causa da pouca concorrência no Brasil, bem como a possibilidade de atuar em um mercado altamente disruptivo e com perspectiva global. Também diretora comercial do negócio, ela cita que a Mosa Meat e a Aleph Farms já desenvolvem seus próprios scaffolds.

Sociedade da Agricultura Celular Com o intuito de estimular ainda mais a agricultura celular – campo em que se insere o desenvolvimento de carne cultivada em laboratório –, foi criada a Sociedade de Agricultura Celular (CAS, na sigla em inglês), em 2016, nos Estados Unidos. “Em todo o mundo, apenas a América Latina ainda não desenvolveu projetos de carne in vitro”, ressalta Matheus Saueressig, aluno de Ciências da A Lavoura - Nº 725

53


BIOTECNOLOGIA Computação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretor de Comunicações da CAS na América do Sul. Ele alerta para o fato de que “o Brasil é o maior processador de proteína animal do mundo e corre o risco de perder esse novo mercado”.

Outras startups De acordo com publicação do site Pesquisa Fapesp, startups dedicadas à pesquisa e fabricação de "carne limpa", conforme relata Saueressig, vêm recebendo investimentos de empresas de capital de risco; de empresários bilionários como Richard Branson e Bill Gates (fundador da Microsoft), que têm participação na Memphis Meat, com sede na Califórnia; e de multinacionais do setor alimentício, entre elas a Cargill, Bell Food Group e Tyson Foods. Para ele, ao apoiar os novos fabricantes de "carne limpa", os grandes processadores de carne bovina, querem colocar um pé nesse mercado para não ficarem de fora, caso o negócio dê certo. Por enquanto, as alternativas vegetais dominam o promissor mercado de possibilidades à carne bovina. Um estudo da consultoria Nielsen revelou que os norteamericanos gastaram 670 milhões de dólares em produtos de origem vegetal similares à carne bovina, apenas no primeiro semestre de 2018. Veganos e vegetarianos representam somente 5% da população daquele país. Negócios dedicados à produção de carnes baseadas em células-tronco miram um mercado bem maior. A carne bovina deverá ser responsável por uma receita de 2,1 trilhões de dólares em todo o mundo, até 2020, conforme aponta a consultoria Grand View Research (EUA).

Polêmicas e desafios Apesar das boas perspectivas desse mercado de alimentos cell-based e plant-based, já existem reações que polemizam a “nova onda vegana”. A Fapesp ressalta que o termo “carne limpa”, por exemplo, vem sendo contestado tanto por veganos quanto por pecuaristas. Os primeiros são contra o uso do adjetivo “limpa”, quando há qualquer tipo de uso de células extraídas de animais, enquanto a indústria de proteínas animais se opõe ao emprego da palavra “carne”, por temer a concorrência. Ao Departamento de Agricultura norte-americano, a Associação de Pecuaristas dos Estados Unidos pleiteou que produtos não derivados de animais criados ou abatidos sejam impedidos de serem descritos como bife ou carne. Com isso, a instituição quer diferenciar o alimento que a pecuária tradicional produz dessa "novidade vegana", que está entrando no mercado. De acordo com a Fapesp, um dos maiores desafios das novas empresas não é comercial, mas científico, levando em conta que elas precisam garantir que o processo de produção não faça uso de nenhum componente de origem animal.

Substitutos No primeiro hambúrguer in vitro do mundo, o fisiologista holandês Mark Post – precursor da "carne de laboratório" – usou soro bovino fetal para nutrir as células-tronco. Hoje, as empresas Mosa Meat e Aleph Farms garantem que não utilizam mais ingredientes derivados de animal. Para o médico veterinário Flávio Vieira Meirelles, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), no entanto, é muito di-

A produção de carne em laboratório pretende modificar o status quo da indústria de alimentos. Neste sentido, os scaffolds são fundamentais para produção de bife com textura e espessura em escala

54

A Lavoura - Nº 725

Divulgação Biomimetic

Aline Silva (E) e Ana Elisa Antunes, da Biomimetic Solutions criaram um nanomaterial à base de plantas contendo moléculas naturais bioativas


Divulgação Memphs Meats

Foodtechs, como as norte americanas Just que comercializa maionese vegetal (foto abaixo) e Memphis Meats (foto acima), que faz pesquisa de carnes em laboratório como frango e pato, estão investindo pesado para produzir carne em laboratório sem fazer nenhuma biópsia animal

fícil substituir aminoácidos, proteínas, açúcares, vitaminas e fatores de crescimento encontrados no sangue animal por substâncias isoladas de plantas. “Existem alternativas ao soro fetal, mas também têm origem animal. E há várias outras substâncias retiradas de animais envolvidas nas diferentes etapas do processo”, avalia Meirelles. Em sua opinião, “deve levar tempo até que se consiga fazer o cultivo celular em escala industrial, com um custo viável que seja completamente livre de produtos de animais”.

Carne de frango e pato Algumas foodtechs – como as norte-americanas Just e Memphis Meats – estão investindo pesado para produzir carne em laboratório, sem fazer sequer uma simples biópsia no animal. Essas empresas, segundo publicação do site Pesquisa Fapesp, utilizam células-tronco coletadas de penas do animal para produzir carne de frango.

“O que mais me impressionou foi a textura. Quando você morde fibras musculares, percebe uma elasticidade própria e a carne baseada em células, que comi, tinha a mesma qualidade”, conta Liz, lembrando que “a carne estava empanada e tinha um molho”. “Por isso, foi um pouco difícil avaliar o sabor dela em si, mas a textura era inconfundível.”

A Just comercializa alimentos vegetais alternativos aos de origem animal, como a maionese. A Memphis Meats, por sua vez, dedica-se à pesquisa de diversos tipos de carne em laboratório, incluindo frango e pato.

Consumo é seguro?

Diretora associada de Ciência e Tecnologia do The Good Food Institute (GFI) nos Estados Unidos, Liz Specht provou, em 2017, a carne de pato feita a partir de células-tronco, da Memphis Meats.

Outro desafio dos fabricantes de carne in vitro é provar que o produto é seguro ao consumo humano. “Eles terão de identificar claramente quais as substâncias são empregadas no processo de diferenciação celular, comprovando a seguA Lavoura - Nº 725

55


Fotos: Grupo Mantiqueira

BIOTECNOLOGIA

N.ovo, que pode substituir receitas que levam ovo de galinha...

Amanda Pinto, do Grupo Mantiqueira: "Desenvolver versões veganas de alimentos tradicionais já é uma tendência do mercado"

rança e a qualidade nutricional”, pondera a bioquímica Viviane Abreu Nunes Cerqueira Dantas, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisadora vê com desconfiança a alegação, comum entre as startups do setor, de que a carne de laboratório, ao contrário do produto oriundo de abate, dispensa o uso de antibióticos. “Em um primeiro momento, a produção de carne in vitro, em grande escala, não poderá prescindir do uso de antibióticos para o cultivo das células. Desconheço, entretanto, quais outras substâncias estariam sendo usadas com esse mesmo efeito no contexto da produção da carne de laboratório”, avalia Viviane. ... é feito de amido e proteína de ervilha, linhaça dourada integral e moída...

Para a bioquímica, os produtos cárneos – particularmente aqueles que passam por maior manipulação – constituem um excelente meio de cultura de microrganismos, devido à elevada umidade, ao pH próximo da neutralidade e à composição rica em nutrientes. Coordenador de Inovação do GFI Brazil, Felipe Krelling informa que antibióticos podem ser utilizados por um período curto, como forma de minimizar riscos de contaminação, ao separar uma linha celular de uma biópsia, caso ela esteja contaminada por alguma bactéria. “Não há nenhuma necessidade de se utilizar antibióticos em qualquer outro processo de produção. Já existe tecnologia na indústria de bioprocessos que pode ser adotada por empresas cell-based, para se obter um ambiente livre de antibiótico para a proliferação de células”, garante Krelling.

‘Ovo’ que não vem da galinha O mercado de plant-based e cell-based tem ido além da produção da carne de laboratório. Veganos, por exemplo, não consomem nenhum produto que venha de animais – e isso inclui tanto as carnes em geral quanto ovos, mel, leite e seus derivados –, além de roupas e calçados que representem esse mesmo estilo de vida.

... além de um mix de fermentos

56

A Lavoura - Nº 725

Para atender a um público tão específico e cada vez mais crescente, as empresas vêm investindo em outras novidades, como é o caso do N.ovo, lançado neste ano pelo Grupo Mantiqueira, maior distribuidor de ovos vindos da galinha em todo o País. Produzido no formato em pó, segundo a empresa, o N.ovo é capaz de substituir os ovos em diversas receitas como tortas, bolos, salgados e ou-


tras massas. Por ser um alimento exclusivamente à base de vegetais, ele atende tanto ao público vegetariano e vegano quanto aos alérgicos, além de ser uma opção para quem deseja reduzir o consumo de colesterol. O The Good Food Institute participou desse projeto desde seus estágios iniciais, com o objetivo de expandir a oferta de produtos a partir de vegetais. Para o GFI, esse novo produto também serve de exemplo para que outras empresas de proteínas convencionais vislumbrem a oportunidade de fazer parte dessa revolução na indústria de alimentos.

Destaque na América Latina Desde o lançamento, a Mantiqueira passou a ser considerada pioneira nesse tipo de biotecnologia, que envolve a produção de novos alimentos em toda a América Latina, sendo a primeira grande companhia privada a oferecer substitutos vegetais para ovos. Gestora de Novos Projetos do grupo, Amanda Pinto salienta a importância de sempre atender à necessidade de diferentes públicos. “Desenvolver versões veganas de alimentos tradicionais já é uma tendência do mercado, e nós decidimos apostar nesse novo produto. Boa parte da demanda vem de pessoas não veganas, que associam o veganismo com saudabilidade ou que decidem fazer uma opção mais sustentável de consumo, ocasionalmente, além dos intolerantes e alérgicos ao alimento”, ressalta Amanda, relatando que foram necessários dois anos para encontrar ingredientes substitutos e chegar à formulação ideal do N.ovo. Feito com poucos e selecionados ingredientes em sua fórmula, o produto da Mantiqueira tem como base o amido de ervilha, a proteína de ervilha, linhaça dourada integral e moída, além de um mix de fermentos. “A ervilha é uma fonte riquíssima de proteína de origem vegetal. É uma ótima opção para quem é vegano ou possui algum tipo de intolerância ou alergia à proteína presente no ovo”, reforça a gestora. Segundo ela, “essa leguminosa, usada no N.ovo, passa por um procedimento complexo, feito em laboratório, que isola a proteína dos demais nutrientes”. “O produto não é ovo em pó, mas sim um substituto à base de plantas.”

Preparos De acordo com Amanda, o N.ovo não substitui os ovos no preparo de omeletes ou ovos mexidos e também não possui as mesmas propriedades do ovo em casca, ou seja, não possui o mesmo valor nutricional. “Uma característica se destaca, no entanto: além de ser inodoro, enquanto o ovo in natura tem a validade aproximada de 28 dias, o N.ovo dura dez meses, após a fabricação.”

O mercado de plant-based e cell-based vai além da produção da carne de laboratório

A gestora também informa a proporção do uso do produto em receitas de bolos, tortas e afins: um ovo de 50 gramas equivale a 11 gramas de N.ovo mais 39 mililitros de água. “Conseguimos chegar a uma concentração proteica de até 80%, o que garante que a fórmula funcione e tenha a aplicação que precisamos. Um pacote do N.ovo equivale a 12 ovos tradicionais”, informa Amanda.

Onde comprar No varejo, o preço sugerido para comercialização do N.ovo é de R$ 19,90. Conforme a executiva, ele já está presente em mais de 700 pontos de vendas em seis Estados brasileiros, como grandes redes de supermercados – Uno, Prezunic, Mundial, Zona Sul, Verdemar e Pão de Açúcar – e também em lojas de conveniência, como o Organomix e La Fruteria. “A meta é chegar a mais de dois mil (unidades de N.ovo) até o final do ano. Já estamos conversando com clientes de países como Nova Zelândia, Dubai e Chile. Então, provavelmente, estaremos nesses países, em breve. Nosso produto é indicado tanto para estabelecimentos comerciais, como restaurantes e padarias, quanto para uso caseiro.” Amanda adianta que, no momento, o setor de Inovação, Pesquisa & Desenvolvimento do Grupo Mantiqueira está em fase de desenvolvimento de um substituto para o ovo de mesa, que poderá ser usado no preparo de omeletes e ovos mexidos, com textura e sabor igual ao ovo. Fontes: Burguer King, Embrapa, Público (site de Portugal), Pesquisa Fapesp e The Good Food Institute - Brasil

A Lavoura - Nº 725

57


Divulgação

Agro Inteligência

Dificilmente o agricultor do bioma Amazônia consegue receber autorização de desmatar para plantar mandioca

NA AMAZÔNIA, A DIVERSIDADE AGROPECUÁRIA O

s pequenos produtores são a espécie mais ameaçada de extinção na Amazônia. São como pecadores, abandonados pelo poder público, vítimas das iniciativas de “desantropização” de certos ambientalistas, tratados em campanhas de parte do agronegócio como grileiros, enquanto o Código Florestal favorece a grande empresa rural na Amazônia, em detrimento da agricultura familiar. Mais de cinco milhões de pessoas, há décadas, produzem e preservam em meio às florestas equatoriais, enfrentam todos os desafios da bioadversidade amazônica e se perguntam: Unde veniet auxilium meum? (De onde virá o meu socorro?)

Quantos produtores rurais vivem hoje no bioma Amazônia? Produtores rurais não são o equivalente a imóveis rurais, nem a estabelecimentos agropecuários. O mundo rural amazônico é antigo e complexo. Ele compreende atividades sem base na 58

A Lavoura - Nº 725

terra (apicultores, pescadores); diversos tipos de extrativismos vegetais e animais; pessoas, etnias, comunidades e unidades dedicadas à produção vegetal e animal. A diversidade de tecnologias usadas na agropecuária vão desde práticas próximas do Neolítico até as de vanguarda para a produção de grãos e algodão. Uma análise geocodificada inédita dos dados de 534.261 imóveis rurais do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e das coordenadas geográficas de cada um dos 677.596 estabelecimentos agropecuários, levantados pelo Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017, permitiu aos pesquisadores da Embrapa Territorial uma nova aproximação para essa complexa pergunta.


Em destaque, a área do bioma Amazônia com 4,2 milhões de quilômetros quadrados, o que significa quase metade do território nacional

Um imóvel rural do CAR pode conter vários estabelecimentos agropecuários, segundo os critérios do IBGE. Por outro lado, um grande estabelecimento agropecuário pode abranger diversos imóveis rurais (CCIRs). Existe cerca de um milhão de produtores e unidades de produção nas áreas rurais do bioma Amazônia. Conjunções e disjunções desse universo seguem pesquisadas.

Quanto do bioma Amazônia está ocupado pela vegetação nativa? Hoje, 84,1% do bioma Amazônia está recoberto por vegetação nativa (353.156.844 hectares), incluindo vegetações florestais, formações não florestais e mistas. As grandes superfícies hídricas (8.818.423 hectares) representam 2,1% desse mesmo bioma. Os ambientes predominantemente naturais, vegetação nativa e grandes superfícies hídricas somam 86,2% do bioma Amazônia.

Quanto do bioma Amazônia está ocupado pela agropecuária? Algo em torno de 12,8%. Pastagens nativas, plantadas e manejadas alcançam 10,5% do bioma Amazônia (44.092.115 hectares). Lavouras anuais, semiperenes e perenes somam 2,3% (9.658.273 hectares). As infraestruturas viárias, urbanas, energético-mineradores e outras são estimadas em 1% do bioma. Um resumo gráfico dos resultados numéricos das áreas de vegetação nativa, das áreas exploradas (pastagens, lavouras, infraestruturas e outras) e com grandes superfícies hídricas no bioma Amazônia é apresentado na Figura 1.

Qual a relevância da agricultura no bioma Amazônia? A produção vegetal é irrelevante para as exportações e ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Somam apenas 0,5% da produção nacional de cana-de-açúcar, menos de 2% do algodão e da laranja, e 4% do café produzidos no País estão nesse bioma. Milho e soja representam 7,6% e 9,8% da produção nacional.

Não há necessidade, nem razão, para ampliar essas áreas, mas sua produção vegetal é fundamental para abastecer a população de 500 cidades amazônicas com frutas, leite e derivados, ovos, grãos, hortaliças e outros produtos. Quando trazidos de outras regiões do Brasil, seu custo é altíssimo. Apenas a produção de carne bovina na região é relevante ao abastecimento nacional e às exportações (29% do rebanho brasileiro). A produção de suínos e aves – 5% e 3%, respectivamente, do plantel nacional – visa essencialmente ao abastecimento do mercado local e regional.

Quantos produtores rurais desmatam no bioma Amazônia? Atualmente são bem poucos. Mais de 97% dos produtores e unidades de produção não estão envolvidos com esse processo. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2018, ocorreram, nas áreas rurais do bioma, aproximadamente 29 mil registros de desmatamentos, de tamanhos variáveis. Eles contribuíram para o total de 7.094 quilômetros quadrados desmatados. Mesmo em uma hipótese maximalista, em que cada A Lavoura - Nº 725

59


Agro Inteligência públicas buscam reduzir a informalidade de prestadores de serviço, facilitando os impostos, a criação de microempresas etc. No campo, alguns – face aos recentes tumultos amazônicos – os tratam de ilegais, os equiparam a grileiros e defendem – talvez, por ignorância – que o rigor da lei deveria incidir sobre eles.

Assistência ou cadeia?

Figura 1. Áreas de vegetação nativa, áreas exploradas, água e outros no bioma Amazônia.

desmatamento fosse realizado por um produtor ou unidade de produção diferente, esse dado envolveria somente algo em torno de 3% dos agricultores, pecuaristas, extrativistas em diversas unidades de produção. E isso não significa que estariam cometendo uma ilegalidade, já que o Código Florestal brasileiro autoriza o uso, para atividades agrícolas, de até 20% da área dos imóveis rurais. E muitos agricultores sequer atingiram esse valor.

Quantos agricultores praticam queimadas no bioma Amazônia? Mais de 80%. Os povoadores europeus aprenderam essa técnica na era neolítica com os indígenas. Nada houve de excepcional na Amazônia, em 2019. Os agricultores usaram o fogo para renovar pastagens, combater carrapatos, eliminar restos culturais, abrir capoeiras, fertilizar solos com as cinzas etc. Tecnologias para substituir o uso do fogo custam caro: mecanização, adubos químicos, pesticidas, entre outras práticas. Onde são adotadas, o uso do fogo regride. Alguém no planeta se propõe a financiar o acesso a essas alternativas para os pequenos produtores rurais amazônicos?

Os desmatamentos são legítimos ou ilegais? O tema é complexo e as regras legais do desmatamento mudaram diversas vezes na região. Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em cerca de 50 anos, governos sucessivos estabeleceram 2.405 assentamentos agrários no bioma Amazônia e ali se instalaram aproximadamente 521 mil famílias. A maioria segue sem título de propriedade de seu pequeno lote. Como obter financiamento sem regularização fundiária? Como solicitar autorização de desmatar para plantar mandioca? Mesmo quem consegue solicitar, respeitando as exigências do Código Florestal, dificilmente a recebe. Muitos produtores foram multados e perderam acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Estão no fundo do poço. E no mundo urbano há quem exija que eles saiam desse buraco sozinhos e de forma “sustentável”.

Os pequenos são criminosos ou informais? Nas cidades, os pequenos agricultores fariam parte da economia informal, como salões de beleza, quituteiras, entregadores etc. Há décadas, políticas 60

A Lavoura - Nº 725

Os agricultores familiares da Amazônia não são empresários ou investidores rurais, modelos de sustentabilidade pelo capital e marketing (greenwash). Os pequenos precisam de assistência técnica, extensão rural, associações e cooperativas, acesso à informação, novas tecnologias e circuitos de comercialização. Devem ser apoiados – e não criminalizados – por um discurso simplista. Hoje, os pequenos agricultores na Amazônia não têm direitos, nem lugar. Órfãos de pai e mãe, não há quem os defenda. Nem na terra, ou nos céus. Padecem de uma invisibilidade social. Enquanto o leitor percorre este artigo, famílias rurais cuidam de plantações, bezerros, armazenagem do feijão e reparos de cercas, do Acre ao Amapá, de Roraima a Rondônia, do Amazonas ao Pará. Graças ao dinamismo de suas pequenas unidades de produção, o Vietnã socialista se tornou o segundo produtor mundial de café, à frente da Colômbia. Resilientes, os pequenos produtores sobreviveram ao leninismo, estalinismo, maoísmo, capitalismo e outros “ismos”. Na Amazônia, eles são exemplos humildes de resistência, (re)existência, apesar da demonização Urbi et Orbi de seus meios de sobrevida. Produzem o que comem. Não serão extintos. Evaristo de Miranda

Doutor em Ecologia, pesquisador da Embrapa.

Carlos Alberto de Carvalho, Paulo Roberto Rodrigues Martinho, Osvaldo Tadatomo Oshiro Analistas da Embrapa


Pet & Cia

Cuidado com

a anemia A

Como identificar a doença nos cães, as causas, sintomas e tratamento para essa afecção

anemia em cães é um problema de saúde que deixa o cão quieto, sem energia e, se não for cuidado, pode levar a um quadro mais grave.

mento –, que também podem levar à perda de sangue.

“Ao fazer o diagnóstico dessa enfermidade, deve-se descobrir o que a desencadeou, pois trata-se de uma doença secundária, que aparece como consequência de outro problema”, explica o médico veterinário da Total Alimentos, Marcello Machado.

Anemia hemolítica: esse problema ocorre quando o próprio organismo do cão destrói as hemácias, provocando uma queda na imunidade. Esse tipo de anemia pode ser consequência de alguma doença, disfunção do sistema imunológico, ataque parasitário ou intoxicação.

Sintomas de anemia em cães O cachorro com anemia apresenta palidez nas mucosas, falta de disposição, perda de apetite, diminuição do peso, urina escura e podem existir casos em que ele apresente um quadro de depressão. Muitas vezes, o primeiro sinal é a mudança no comportamento canino. Por isso, é preciso ter muita precaução a qualquer tipo de atitude incomum do cão, diz Machado. Caso o tutor note esse conjunto de sintomas no animal de estimação, ele deve levá-lo para uma avaliação veterinária. “Um dos métodos mais eficientes para identificação da doença é o exame de sangue, em que é feita a contagem de glóbulos vermelhos. O cão com anemia possui baixa quantidade eritrócitos no sangue, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio para os órgãos”, explica o médico veterinário.

Causas da anemia em cães De acordo com o especialista, ao diagnosticar as causas da anemia em cães, também é possível saber qual o tipo da doença, que são três tipos de anemia: medular, hemorrágica e hemolítica. Anemia medular: desenvolvida em consequência de uma deficiência na produção de células vermelhas, que pode ser causada por uma doença autoimune. Anemia hemorrágica: ocorre quando o animal sofre algum trauma e perde muito sangue. Existem algumas doenças – como cânceres e casos de envenena-

Tratamento O tratamento adequado para a anemia canina deve ser indicado pelo veterinário. Em geral, orienta-se o uso de medicamentos e, em casos mais graves, podem ser necessárias a transfusão de sangue e até cirurgia. “Uma nutrição de qualidade faz toda a diferença na recuperação do cachorro. Por isso, tenha sempre o cuidado de oferecer rações ou alimentos frescos ricos em proteínas de fontes nobres, de alta digestibilidade, alto valor energético e que proporcionem elevado índice de aproveitamento nutricional”, orienta Machado. Fonte: Total Alimentos A Lavoura - Nº 725

61


Produtor pode gerenciar próprio negócio online Sistema B2B, a plataforma digital Nutrir Orgânicos auxilia o agricultor familiar e orgânico no reconhecimento de mercado, formação de preços, cobranças e planejamento de safra, entre outras informações

O

Brasil se consolida cada vez mais como um grande produtor e exportador de alimentos orgânicos, com mais de 15 mil propriedades certificadas e outras em processo de transição, sendo 75% delas formadas por agricultores e agricultoras familiares. Diante de um crescimento exponencial, torna-se cada vez mais necessário que o produtor aprenda a gerenciar o próprio negócio. Foi pensando nisso que os sócios Denis Corazza e Renan Ordonhesse uniram, com base nas experiências profissionais de cada um, para desenvolver a plataforma digital Nutrir Orgânicos. A empresa, de mesmo nome, faz parte da Rede Organicsnet, que é vinculada ao Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), ambos mantidos pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). De acordo com Corazza, o programa online – que também pode ser utilizado em smartphones e tablets – é de fácil acesso: “Ele auxilia no reconhecimento de mercado, formação de preços, cobranças e planejamento de safra, entre outras informações, que servirão de base para tomadas de decisões”. “Investimos constantemente no aprimoramento da plataforma, automação e eficiência de processos. Atualmente, operamos com todos os levantamentos de dados e controles na nuvem, auxiliando as entidades produtivas a levantarem históricos e, com isso, preverem suas necessidades”, informa o empresário.

A plataforma O executivo explica que o sistema Nutrir Orgânicos envolve uma plataforma B2B de compra e venda, além da gestão para produtores rurais, utilizando uma arquitetura web de primeira qualidade. “Nosso objetivo é automatizar os processos internos e ampliar a operação da Nutrir Orgânicos, por meio de uma plataforma web que fará toda a gestão de

Baga Defente

Produção de orgânicos em estufa da Orgânicos Direto da Serra

62

A Lavoura - Nº 725

compras dos clientes (compradores) e produtores (fornecedores). Por esse sistema, os agricultores fazem seus controles de estoques, recebimentos de pedidos, controles logísticos, emissões de cobranças (com recebimentos automáticos) e controles de descartes de produtos.” A loja da Nutrir Orgânicos também exibe a disposição dos agricultores de fazerem suas entregas por semana. “Diariamente, nossos produtores parceiros atualizam suas disponibilidades e datas de entrega. Já o cliente pode filtrar sua compra por localização e produtor de sua escolha”, conta o empresário.

Apoio ao produtor Ao produtor/distribuidor, como é o caso da propriedade Orgânicos Direto da Serra – uma das fornecedoras e compradoras de alimentos orgânicos da Nutrir, localizada no Parque Estadual da Serra do Mar, a menos de 90 quilômetros da capital paulista e de centros importantes como o ABCD e Vale do Paraíba –, “oferecemos a possibilidade de estar integrado ao mercado e realizar as tratativas comerciais, sem a necessidade de um serviço de representação comercial, aumentando, assim, sua capacidade de negociação”. A plataforma gera análises de dados para apoio, as sazonalidades de safra e uma gestão diferenciada do back-office do negócio. “Por meio da experiência adquirida, também fornecemos um eficiente e completo plano de produção, otimizando a capacidade produtiva e propondo novas oportunidades sazonais de entressafra para novas culturas, guiando o produtor com informações de plantio e o capacitando o para este novo manejo”, descreve Corazza. Fonte: Nutrir Orgânicos www.nutrir.agr.br


USE JEITÔ

EMPRESAS Vida Veg oferece mix de produtos veganos

À

Jeitô: produtos com matérias-primas vegetais e não testados em animais

Cosméticos ‘amigos da diversidade’

S

eguindo os passos da mãe, Iva Carvalho, com quem trabalhou por alguns anos na indústria de cosméticos, a jovem empresária Gabriela Carvalho lançou, recentemente, a própria marca unissex, de olho no mercado vegano e cruelty free (livre de crueldade com animais). A Jeitô possui uma linha de 35 produtos que utilizam matérias-primas de origem vegetal, composta por xampus, máscaras capilares, cremes hidratantes, tratamentos faciais, perfumes, entre outros. Toda linha de cosméticos da empresa não é testada em animais. As embalagens de todos os produtos da Jeitô têm o selo "I'm Green". São elaboradas com polietileno verde, produzidas a partir da cana-de-açúcar e 100% recicláveis. As embalagens usadas são recolhidas para reciclagem na loja física, recentemente inaugurada, que fica em Ipanema, bairro nobre da capital do Rio de Janeiro. A Jeitô também faz vendas pela internet. O serviço de e-commerce é outra opção para quem deseja comprar produtos “amigos da biodiversidade e do meio ambiente”. Agora, Gabriela estuda um modelo de franquias para ser colocado em prática daqui dois anos.

Conceito da marca Segundo a empresária, a ideia de desenvolver a marca unissex de cosméticos veio quando percebeu que cada pessoa tem uma visão própria de vida e que a beleza não tem – ou, ao menos, não deveria ter – um padrão definido. Por essa razão, fora o conceito que envolve a produção dos cosméticos da Jeitô, sua campanha de divulgação exalta a diversidade e as diferenças étnicas, estéticas e de beleza das pessoas do Brasil. Cada ingrediente é estudado e avaliado, respeitando os inúmeros biotipos e tipos de pele.

medida em que as pessoas se informam sobre a influência da alimentação em suas vidas, uma nova postura é adotada e uma crescente onda de movimentos corroboram com esse cenário, a exemplo do vegetarianismo e do veganismo, que são pautados, respectivamente, na alimentação e na consciência ética. Atenta à essa tendência, a Vida Veg – uma das principais empresas voltadas para o veganismo – oferece uma linha de alimentos 100% vegetais, completamente livres de hormônios, antibióticos, esteroides e, principalmente, de sofrimento animal. Trazendo itens variados – como leite, requeijão, queijos, shakes proteicos, iogurtes e sorbets –, seus produtos também são livres de lactose, saudáveis, “amigos do meio ambiente”, nutritivos e extremamente saborosos.

Investimento no Brasil Apostando alto no Brasil, a Vida Veg irá inaugurar a maior e mais moderna fábrica de substitutos lácteos do País, o que deve causar um grande impacto no segmento de produtos veganos, nos próximos anos. O portfólio de produtos 100% vegetal oferece aos consumidores iogurtes, shakes, queijos e a nova linha de leites vegetais frescos nos sabores de coco, amêndoas e castanha de caju. Conforme o diretor executivo da Vida Veg, Anderson Rodrigues, os lácteos de origem vegetal produzem menor impacto ambiental relação aos produtos de origem animal. “A produção de cada litro de leite de amêndoas ou de coco demanda 70% menos água em comparação ao leite de vaca, além de não precisar explorar nenhum animal”, explica Rodrigues. www.vidaveg.com.br

Vida Veg: produtos 100% vegetal

Vida Veg

Na visão de Gabriela, "o veganismo é um nicho que cresce exponencialmente e a demanda ainda é maior que a oferta". "Com isso, as oportunidades de empreendimentos nessa área são muito promissoras e devem crescer ainda mais." https://usejeito.com.br.

A Lavoura - Nº 725

63


Fotos: SNA

SNA 122 anos

Os novos acadêmicos Angela Costa, presidente da ACRJ, e Ruy Barreto, empresário.

Leonardo Alvarenga, diretor executivo da SNA; Antonio Alvarenga, presidente da instituição, e Cristina Baran, acadêmica e editora da revista A Lavoura.

SNA elege diretoria para novo mandato Para a diretoria técnica, foram eleitos como novos integrantes: o professor da USP Marcos Fava Neves, o economista Cláudio Contador, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro; o assessor especial do

Ministério da Agricultura, Francisco Basílio; o empresário Roberto Ticoulat; a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos, Sylvia Wachsner, e o engenheiro agrônomo Élcio Marques Batista.

Já o economista e engenheiro Ney Ottoni Brito foi eleito para integrar a Comissão Fiscal.

Academia Nacional de Agricultura

A assembleia também definiu os novos nomes que passarão a fazer parte da Academia Nacional de Agricultura: a presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Angela Costa; a editora da revista A Lavoura, Cristina Baran; o presidente do sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), Márcio Lopes de Freitas; o presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, Milton Thiago de Mello; o empresário e ex-presidente da ACRJ, Ruy Barreto; o economista Roberto Fendt e o empresário Leontino Balbo.

SNA apresenta propostas para alavancar a agricultura no RJ

SNA

Antonio Alvarenga foi reeleito, por aclamação, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), durante assembleia geral ordinária. A diretoria executiva da SNA, eleita para o quadriênio 2019-2023, incorporou o economista Leonardo de Mello Alvarenga.

O novo secretário de Agricultura do Rio, Marcelo Queiroz, foi homenageado com um almoço promovido pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Na ocasião, diretores da entidade e representantes de outras instituições apresentaram propostas para impulsionar a agricultura do estado. Na abertura do encontro, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, disse que o novo secretário “terá a árdua tarefa de alavancar a agricultura no Rio, que precisa ser fortalecida”. Receptivo às propostas, Queiroz afirmou que seu papel inicial será o de “escutar todos os entes da agricultura” e trabalhar para que seja criado “um ambiente de negócios” no setor, com melhorias em infraestrutura, legislação, produtividade, transportes, exportações, entre outros.

64

A Lavoura - Nº 725

Marcelo Queiroz, secretário de Agricultura do Rio, e Antonio Alvarenga, presidente da SNA.


SNA

Presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco; presidente da SNA, Antonio Alvarenga; secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo e Carlos Thadeu de Freitas Gomes (presidente do Conselho do BNDES).

Secretário analisa a retomada do crescimento econômico no Brasil

O Brasil começa a vencer alguns desafios para retomar seu crescimento econômico. Na visão do secretário especial de Comércio Exterior e Relações Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, um dos sinais dessa retomada é a proximidade entre as políticas econômica e comercial, que pode ser observada no acordo Mercosul– União Europeia. “É o maior acordo celebrado na história do capitalismo, um marco importante. Significa que estamos acionando o comando ‘reiniciar’ nas economias do País”.

Presidente do BB, Rubem Novaes, coordena as reuniões do Conselho de Economia

O secretário participou de recente reunião do Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), coordenada pelo presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e por Antônio Alvarenga, presidente da SNA.

Rio Info debate conectividade e inteligência no campo Instituições representativas do agronegócio participaram, pela primeira vez, do Rio Info 2019. Na ocasião, entidades e empresas mostraram suas ideias inovadoras com um objetivo em comum: oferecer melhorias ao agro.

A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), com o apoio do Ministério da Agricultura e da Embrapa, promoveu quatro paineis abordando os temas ‘Caminhos para inovação no agro’,’Revolução das agtechs’, ‘Desafios são oportunidades no campo’ e ‘Agricultura 4.0 em busca de parceiros’.

Cristina Baran

Felipe Abreu Cáceres, subsecretário de Indústria, Comércio, Serviços e Ambiente de Negócios do Estado do Rio; Adriano Lopes, subsecretário Adjunto de Agricultura Familiar da Secretaria de Agricultura do Rio; Jorge Ávila, diretor da SNA; José Carlos Polidoro, chefe geral da Embrapa Solos; Luiz Cláudio de França, diretor do Departamento de Apoio à Inovação para a Agropecuária do Mapa e Alexandre Dal Forno, chefe de Produtos B2B e Soluções IoT da Tim Brasil

A Lavoura - Nº 725

65


SNA 122 anos

SNA

SNA presta homenagem ao presidente do TRE-RJ

A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) realizou um almoço de confraternização em homenagem ao desembargador Carlos Santos de Oliveira, que tomou posse na presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE/RJ) para o mandato de 2019/2020.

Procurador geral da Justiça, José Eduardo Gussem; Carlos Santos de Oliveira, presidente do TRE-RJ; Antonio Alvarenga, presidente da SNA e Frederico Grechi, diretor Jurídico da instituição

Durante o encontro, Oliveira destacou o trabalho desenvolvido pela SNA, principalmente na área educacional, e falou sobre a necessidade do cadastramento de eleitores pelo sistema de biometria.

Seminário avalia as oportunidades da relação Brasil-China no agro

Divulgar as exportações dos produtos agropecuários brasileiros, identificar as oportunidades de negócio com a China e fortalecer o comércio entre os dois países. Estes foram alguns dos objetivos do 1º Seminário Sino-Brasileiro de Alimentação e Pecuária, realizado no auditório da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Participaram do encontro, entre outros, autoridades do governo brasileiro e da China, além de representantes chineses das áreas de comércio, agricultura, cooperação e investimentos.

Morreu em 22 de outubro, no Rio de Janeiro, aos 91 anos, Jaime Rotstein, diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Formado em Engenharia, foi sócio-fundador da empresa Sondotécnica e era membro da Academia Nacional de Agricultura. Em sua trajetória, teve destacada atuação na defesa do uso intensivo do álcool combustível, recebendo em 1983 o título de Pioneiro do Álcool Carburante, conferido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo. Foi autor de diversos livros e artigos e participou de dezenas de conferências, mesas-redondas e programas de TV no Brasil e no exterior. SNA

Consulado da China/RJ

Xu Yuansheng, cônsul do setor econômico e comercial do Consulado Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro; Li Yang, cônsul-geral do Consulado da China no Rio; Hélio Sirimarco, vice-presidente da SNA; Rong Weidong, vice-presidente da Câmara de Comércio da Importação & Exportação de Gêneros Alimentícios da China.

Morre Jaime Rotstein, empresário e diretor da SNA

66

A Lavoura - Nº 725


InteligĂŞncia em AgronegĂłcio desde 1897


VENDA

CASADA É ILEGAL


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.