Informativo da Associação Brasileira de Energia Nuclear Ano 27 • Número 52 • Julho 2021
Águas mais limpas Irradiação trata efluentes industriais
Energia para crescer Retomada do crescimento exige mais energia
Sumário Entrevista George Coura Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear Capa Energia para crescer – crescimento econômico demanda aumento da oferta de energia Capa Os desafios do planejamento energético Capa Consumo elétrico e qualidade de vida Planejamento se baseia em situações médias Indústria Retomada de Angra 3 no horizonte de curto prazo Indústria Entrevistas com representantes da Rosatom, EDF, Framatome e Holtec Indústria UAS já armazena combustível irradiado Tecnologia Águas mais limpas – Irradiação trata, in situ, efluentes industriais e evita poluição em córregos, rios e águas subterrâneas
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Aplicação Tecnologia nuclear avança na exploração do espaço
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Átomos Nova ANSN desmembra competências da Cnen Energia nuclear integra o American Jobs Plan
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Presidente da Aben Carlos Henrique C. Mariz Conselho Editorial Alexandre Gromman – Aben Cláudio Almeida – Aben Edson Kuramoto – Aben Francisco Rondinelli – Cnen Márcia Flores – Aben
Editora Vera Dantas Colaborador Bernardo Barata Produção Editorial Inventhar Comunicação Edição de Arte IG+ Comunicação Integrada
Brasil Nuclear é uma publicação da Associação Brasileira de Energia Nuclear - Aben Rua Candelária, 65 • 14º andar • Centro Rio de Janeiro • RJ • CEP: 20091-906 Tel: (55 21) 2266 0480 • 2588 7000 Ramal 4721 aben@aben.com.br www.aben.com.br
Editorial
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“Nuclear Já” na retomada do crescimento Com a missão de honrar Rogério Arcuri Filho, que encabeçava a Diretoria da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) no biênio 2020-2022, e faleceu dia 11 de maio em consequência de complicações da Covid-19, comprometi-me, como novo Presidente da Associação, a cumprir o programa de trabalho planejado. Um dos itens desse programa é desenvolver a campanha “Nuclear Já” – uma série de ações que promovam o setor e o coloque como prioritário no cenário sócio econômico brasileiro, com a conclusao Angra 3 e o desenvolvimento de novas centrais nucleares no país. Com esse espírito, o papel que a revista Brasil Nuclear vem desempenhando há 27 anos com a divulgação de projetos e realizações, é fundamental. Como na edição anterior, a produção e publicação deste número conviveu e convive com a pandemia que contamina o planeta. Mas, apesar da imensa estagnação econômica e operacional, a área nuclear – fundamental no dia a dia contemporâneo – continuou encarando seus desafios promovendo pesquisas, avanços tecnológicos e exercendo suas competências diante da perspectiva de um reaquecimento econômico na pós-pandemia. A matéria de capa desta edição aborda a questão da retomada do crescimento econômico e da necessidade de investimento em energia para sustentar esse crescimento. Buscamos fazer uma apresentação abrangente, abordando, por exemplo, a necessidade do país gerar o dobro da eletricidade atual para alcançar um nível de desenvolvimento econômico e social que eleve a qualidade de vida de sua sociedade. E, também, como é elaborado o planejamento energético. A retomada do crescimento exige mais energia, no horizonte de curto e longo prazo. E, nos dois cenários, a energia nuclear estará presente. A previsão da capacidade nuclear instalada em 2030 é de 3,4 GW – um aumento de 1,4 GW, devido à entrada em operação de Angra 3, o que contribuirá para dar maior segurança energética ao sistema elétrico brasileiro. Uma das premissas adotadas é a modernização do modelo de contratação e precificação da energia a ser gerada pela Usina Angra 3, com inauguração prevista para
2026, como mostra a reportagem “Retomada de Angra 3 no horizonte de curto prazo”, na página 14. Já o Plano Nacional de Energia-2050 (PNE-2050), aprovado em dezembro de 2020, sinaliza a construção de novas centrais nucleares no país. Isto é: mais 8 ou 10 GWs de potência no sistema. Para que esse cenário se torne realidade é necessário que os estudos de novos locais de instalação dessas usinas sejam concluídos em 2021 e 2022. Por falar em expansão do parque nuclear brasileiro e finalização de Angra 3, Brasil Nuclear traz a opinião de quatro executivos que estão acompanhando a evolução desses temas. São eles: Ivan Dybov, presidente da Rosatom para a América Latina; Vakisasai Ramany, vice-presidente sênior de Novos Desenvolvimentos Nucleares da EDF; Rick Springman, diretor da Holtec do Brasil; e André Salgado, diretor para a América Latina da Framatome. Leia na página 18. Ainda na seção Indústria, acompanhamos o processo de conclusão das obras da Unidade de Armazenamento de Combustível Irradiado (UAS), na Eletronuclear. Trata-se de um marco importante para o pleno funcionamento das usinas Angra 1 e Angra 2. Página 24. A Brasil Nuclear, que acompanha de perto os avanços da medicina nuclear, comemora mais uma vitória dessa especialidade: o reconhecimento global do tratamento com PSMA Lutécio-177 para aumentar a sobrevida de pacientes com câncer de próstata. Veja na entrevista com o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, George Coura, na seção Entrevista. Mais uma contribuição da energia nuclear está prestes a ser entregue à sociedade pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Trata-se do projeto da Unidade Móvel de Irradiação, voltada para o tratamento de efluentes industriais dentro da própria indústria, evitando que esses efluentes sejam despejado em córregos e rios, com prejuízo para o meio ambiente e para a saúde. Conheça esse projeto inovador na matéria da página 27. Boa leitura a todos
Apesar da imensa estagnação econômica e operacional, a área nuclear continuou encarando seus desafios, promovendo pesquisas, avanços tecnológicos e exercendo suas competências diante da perspectiva de um reaquecimento econômico pós-pandemia BRASIL NUCLEAR
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Entrevista
Deixamos de ser coadjuvantes, agora somos protagonistas
Um tratamento de Medicina Nuclear que contribui para aumentar a sobrevida de pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração acaba de ganhar o reconhecimento da comunidade mundial de Oncologia. O estudo “Vision de Fase III” com PSMA-Lutécio177 foi apresentado no American Society of Clinical Oncology (Asco), considerado o mais importante encontro mundial de Oncologia Clínica, realizado no período de 4 a 8 de junho. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), o médico nuclear George Coura Filho, o momento é histórico para a especialidade. “Saímos de uma posição de coadjuvantes, apesar do largo uso e comprovada eficácia da Medicina Nuclear, para a de protagonistas ao ter um trabalho científico da especialidade no Asco 2021”, celebra. “Estamos falando de um tratamento que já está em uso, com resultados preliminares muito positivos e que agora ganha a chancela da comunidade global sobre os benefícios da Medicina Nuclear”, informa o representante da entidade. “No passado, quando médico oncologista se deparava com o câncer de próstata avançado, o mais indicado seria o tratamento paliativo. Há mais de uma década, surgiram diversos tratamentos que vêm mostrando benefício na sobrevivência dessa população e a molécula radioativa PSMA-Lutécio177 entra como possibilidade terapêutica de grande peso nesse cenário. Já estamos oferecendo este tratamento nos pacientes brasileiros. Oncologistas clínicos estão tão entusiasmados quanto os médicos nucleares”, revela o presidente da SBMN. Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e com doutorado em Ciências pela mesma instituição, o dr. George Coura Filho atua no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e no centro de diagnóstico médico por imagem Dimen Medicina Nuclear. Nessa entrevista a Vera Dantas, da Brasil Nuclear, ele fala sobre os desafios da Medicina Nuclear no país e as medidas que considera indispensáveis para a sua expansão, dentre as quais destaca a atualização da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), sem reajuste há 12 anos, e a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
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Foto: Acervo pessoal
George Coura Filho
O tratamento com PSMA Lutécio-177, que já está em uso, agora ganha a chancela da comunidade global sobre os benefícios da Medicina Nuclear Georga Coura Filho
O que é a terapia com PSMA-Lutécio 177? A terapia com PSMA-Lutécio177 combina um peptídeo que se liga a marcadores expressos por tumores e um isótopo radioativo, causando danos ao DNA, o que inibe o crescimento e a replicação do tumor. Esta abordagem terapêutica permite a distribuição direcionada de radiação ao tumor, enquanto limita os danos ao tecido normal circundante. O câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre a população masculina, representando 29% dos diagnósticos da doença no Brasil. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para 65.840 novos casos de câncer de próstata em 2021.
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Onde essas pesquisas foram realizadas? Vários centros no mundo estavam fazendo pesquisas com o Lutécio PSMA. Mas eram estudos retrospectivos, que mostravam algum benefício mas não o que científicamente se categoriza como a melhor evidência científica, como os estudos randomizados, prospectivos, preferencialmente duplo cegos. Recentemente, a empresa farmacêutica Novartis patrocinou um estudo randomizado, prospectivo, que contou com a contribuição de vários centros de pesquisa em todo o mundo. Esse estudo, que demonstrou o melhor nível de evidência do benefício do tratamento com o PSMA-Lutécio 177, foi apresentado na plenária do maior Congresso de oncologia do mundo, que é o Congresso da Asco. O PSMA-Lutécio 177 utilizado no Brasil é importado? Sim, tanto o PSMA como o Lutécio. Aqui é feita a rádiomarcação, atualmente, realizada pela empresa RPH, porém, com resultados tão positivos, espera-se novas empresas também entrando neste mercado. Existem pesquisas no Brasil? Eu tenho informação que vários centros universitários e de formação médica estão participando de um projeto junto com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Qual a sobrevida do paciente? Isso vai depender muito de qual fase de tratamento esse paciente foi incluído. Se o Lutécio PSMA é aplicado precocemente, a sobrevida pode ser de alguns anos; já se a medicação é usada mais posteriormente, a sobrevida vai ser de alguns meses a mais do que quem não tomou. Já para o Lutécio 177, segundo dados divulgados, a sobrevida global de 15.3 meses para tratamento versus 11.3 meses para o grupo controle. Em relação a sobrevida livre de progressão é de 8.7 meses para tratamento versus 3.4 meses para o grupo controle.
radioativos de uso médico para distribuição no território brasileiro, deixando muitos pacientes desassistidos. Outro ponto crítico é que a maioria desses itens são dolarizados. Com isso, houve um aumento de custos significativo, sem o acompanhamento da reposição na tabela SUS, que está sem nenhum reajuste desde 2009, há 12 anos! Já os reajustes do sistema suplementar de saúde ocorrem anualmente, mas, em contrapartida, enfrentamos um aumento considerável do dólar, que quase atingiu 6 reais. Mesmo com essas adversidades a Medicina Nuclear no Brasil tem avançado. A comunidade médica nuclear no Brasil é muito aguerrida. Ela se esforça para conseguir disponibilizar tudo o que o paciente tanto precisa. Quais as últimas novidades na área de medicina nuclear? Podemos citar, nos últimos anos, o uso da tomografia por emissão de pósitrons, o PET-CT, assim como a chegada de demais rádiofármacos para terapia, como o dicloreto de rádio 223. Em 2020, a Anvisa fez uma revisão das normas que regem o registro de radiofármacos, o que fez com que tenhamos uma legislação mais moderna que eu acredito que vai permitir a chegada e o registro de novos radiofármacos de uma forma muito mais ágil. Por exemplo, se antes só tinhamos o PSMA com gálio 68, temos agora o primeiro registro de Fluor 18 PSMA para câncer de próstata, que pode ser produzido em cíclotron e ser distribuído para qualquer parte do território nacional. O sr. poderia citar outro radiofármaco que deve chegar ao mercado? Esperamos que no horizonte dos próximos dois anos possamos ter marcadores específicos para doença de Alzheimer, avaliando a formação de amilóides cerebrais. E quais as novas áreas terapêuticas beneficiadas, tanto para diagnóstico como para tratamento?
Quando a doença do paciente é resistente à castração, a sobrevida é bastante encurtada e ele vai acabar precisando de sequenciamento de diversas medicações. Mas acho que o Lutécio 177 pode ter um papel muito importante, talvez se tornando uma das drogas protagonistas no câncer de próstata.
O leque de aplicações está se abrindo. Por muito tempo, a Medicina Nuclear esteve restrita a tratamentos de câncer de tireóide, hipertireoidismo, a alguns tumores neuroendócrinos como os do trato gastroenteropancreatico, mas começamos a entrar em tumores ainda mais frequentes como o câncer de próstata.
Qual é o cenário da Medicina Nuclear no país?
E no câncer de mama, houve avanço?
Não é de hoje que enfrentamos dificuldades para a obtenção de rádiofármacos, mas com a pandemia alguns problemas foram exacerbados. Um deles é a nossa grande dependência da importação de insumos ativos para uso médico. Com a redução do número de vôos vindo para o Brasil, muitas vezes ficamos sem algumas semanas sem receber esses isótopos
Os avanços ocorreram em diagnóstico, não só pelo uso do FDG, mas também através de um novo radiofármaco para PET-CT, o fluroestradiol (18FES). Trata-se de um radiofármaco com afinidade por receptores de estrógeno. A ideia é sempre através de alterações moleculares a gente fazer o diagnóstico mais precocemente antes de ter uma alteração anatômica BRASIL NUCLEAR
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Precisamos começar a ter mais acesso aos congressos das outras especialidades para divulgar a Medicina Nuclear para o oncologista, o cardiologista, o neurologista, porque só assim os pacientes desses especialistas terão acesso a seus benefícios
associada, porque sabemos que quanto mais precoce o tratamento do câncer, mais efetivo será o resultado. O fluroestradiol já está disponível para o público? Aqui no Brasil, ainda não. Mas eu acredito que a perspectiva também seja similar à dos marcadores de placa amilóide para Alzheimer, ou seja, dentro de um a dois anos tenhamos esse diagnóstico disponível. No exterior ele está disponível? Sim, principalmente na Europa. Também no Uruguai e, possivelmente, no Chile Em sua opinião, qual o cenário desejável para a Medicina Nuclear brasileira? E o que o sr. acredita que vai ser o possível? Eu acho que, entre os fatores desejáveis para que a Medicina Nuclear brasileira possa caminhar daqui para a frente está, em primeiro lugar, o Reator Multipropósito Brasileiro. O RMB é importante porque dará autonomia para que o país vá além da produção em cíclotron e não fique mais refém da produção internacional. Além de atender a demanda brasileira de radiofármacos, podemos pensar até mesmo em exportar para a América Latina. Então, eu acho que para diversos isótopos e principalmente para os isótopos de tratamento, onde se inclui o Lutécio 177, é muito importante o RMB. Outra coisa necessária é reequilibrar os custos e os recebíveis pelas fontes pagadoras para os procedimentos de Medicina Nuclear. Quero frisar novamente que a tabela SUS seja recomposta, que possa sofrer um reajuste capaz de recompor porque o que pode acontecer não vai tendo reajuste, os insumos vão ficando mais caros e chega uma hora que os serviços de medicina nuclear não aguentam e
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acabam fechando. Isso seria muito ruim. Eu tenho uma expectativa muito grande de que o Ministério da Saúde consiga entender, num curto espaço de tempo, que 2009 para cá é muito tempo para que não se faça nenhum reajuste. Por último, é importante termos drogas protagonistas para as mais diversas doenças. Quando os médicos conhecem mais e melhor os métodos da Medicina Nuclear, mais eles irão solicitar o que podemos fazer na expansão do atendimento dos pacientes. Muitas vezes, o médico não prescreve por não saber que está disponível. Há muitos anos eu digo que não adianta nos limitarmos a dar aula para médico nuclear. Precisamos começar a ter mais acesso aos congressos das outras especialidades para divulgar a Medicina Nuclear para o oncologista, o cardiologista, o neurologista, porque só assim que os pacientes desses especialistas terão acesso a seus benefícios. Já está havendo uma maior visibilidade? Eu acredito que sim, principalmente em algumas áreas como Oncologia e Neurologia. Mas precisamos aproveitar o momento de holofote proporcionado pela disponibilidade dessas drogas tão especiais para divulgar a importância dos exames e tratamentos da Medicina Nuclear para a melhoria da saúde de milhares de pessoas. E o possível? O possível é não medirmos esforços para concretizar o desejável. Acho que devemos continuar insistindo junto aos órgãos governamentais sobre a importância de que o projeto do RMB saia do papel e fazer a nossa parte de solicitar o reajuste da tabela e ampliações no acesso à medicina para os pacientes do SUS, que são cerca de 70% da população brasileira.
Desafio Energético
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Mais energia para crescer Perspectiva de reaquecimento econômico demanda o aumento da oferta de energia
Vera Dantas
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Após uma forte queda, a atividade econômica mundial já recuperou os níves pré-pandemia, principalmente nos países mais avançados na vacinação contra a Covid-19 – a previsão é que EUA e China, as duas maiores economias mundiais, cresçam entre 6% e 7% em 2021. A recuperação beneficia países como o Brasil, exportadores de produtos primários como minério de ferro, soja e petróleo, que tiveram grande valorização nos últimos 12 meses – o minério de ferro, por exemplo, teve um aumento de 47% este ano no mercado chinês. No início de maio, o saldo da balança comercial brasileira era 50% superior ao do mesmo período do ano passado. Segundo o jornal Valor Econômico, “todo esse ganho deverá se refletir no valor das ações das empresas exportadoras por aqui e atrair investimento”1, com reflexos positivos em outros setores da economia. Enquanto o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta em 4,8% o crescimento do PIB em 2021, o Indicador Diário de Atividade (Idat) mostra que a atividade econômica no país já voltou ao nível pré-pandemia de Covid-192. O indicador, criado pelo Banco Itaú, registrou uma média móvel de 100 pontos nos primeiros dias de maio, o mesmo nível de março de 2020, quando foi lançado. O Idat cruza dados de consumo de energia pelas empresas e transações de gastos com cartão de crédito nos setores de bens e serviços. “Espera-se que a economia brasileira apresente uma retomada mais significativa, com a dinamização das exportações de commodities e retomada nos investimentos em infraestrutura, resultando em um crescimento da economia de 3% em 2021, conforme estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) na Primeira Revisão Quadrimestral da Carga. A expectativa é que, a partir de 2022, o ambiente econômico com menor nível de incerteza permita uma elevação da confiança dos agentes, recuperação mais significativa do mercado e da demanda doméstica”, afirma o diretor do departamento de Informações e Estudos Energéticos do Ministério de Minas e Energia, André Osório. No entanto, a perspectiva de retomada da atividade econômica no país pode esbarrar em grande obstáculo: a necessidade de um forte aumento da oferta de energia elétrica. Hoje, mesmo com a recessão econômica provocada pela pandemia, o quadro é de escassez. O país vive a maior estiagem em 91 anos. A falta de chuvas nos últimos meses fez com que a capacidade dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, subsistema responsável por cerca de 70% da capacidade de armazenamento das hidrelétricas brasileiras, atingisse patamares próximos aos verificados em 2001, quando houve racionamento de energia. A geração hidráulica responde por cerca de 65% da matriz elétrica brasileira. Conjuntura global deve abrir outro ‘superciclo de commodities’ que pode beneficiar o Brasil. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 11.04.2021. 2 https://oglobo.globo.com/economia/atividade-economica-no-pais-ja-voltou-ao-nivel-pre-pandemia-diz-itau-25014145 1
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“Desde 2011, por exemplo, o Brasil passa por regimes de chuvas muito baixos. De 2011 a 2014, o mais crítico, o fator de capacidade (FC) da geração hídrica teve de recuar de 60% para 49%, enquanto que o FC da geração térmica passou de 32% para 58%. De 2014 para 2019, com a demanda em baixa, o FC térmico passou a 42%, e o hídrico a 43%”, informa André Osório Com o comprometimento da capacidade dos reservatorios antes mesmo do período oficial de estiagem (abril a outubro), o país passou a importar eletricidade do Uruguai e da Argentina e antecipou em alguns meses o acionamento das usinas termelétricas a óleo diesel, originalmente construídas para atuar apenas emergencialmente devido ao seu alto custo. Ativadas a partir de 2012, as termelétricas a combustíveis fósseis vêm funcionando também fora dos períodos de estiagem, e hoje já respondem por quase 30% da energia elétrica no país. Além de terem um custo de quase três vezes superior ao das termelétricas a gás, aumentam a emissão de poluentes. “O combustível fóssil é a principal fonte de energia térmica. No entanto, no contexto da mudança climática, seu uso está na contramão da política de descarbonização da economia”, afirma o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães (ver Consumo elétrico e qualidade de vida).
Cenários e ações Para atender ao crescimento da demanda, será preciso investir R$ 2,3 trilhões no setor de energia para os próximos dez anos, sendo R$ 2 trilhões relacionados a petróleo, gás natural e biocombustíveis, e R$ 365 bilhões, a geração centralizada, geração distribuída e transmissão de energia elétrica, indica o Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 (PDE 2030). “Tais perspectivas estão alinhadas a aprimoramentos oriundos de diversas políticas setoriais conduzidas pelo MME. Com relação a esse último tema, a Medida Provisória - MP 998/2020, recentemente aprovada no Congresso Nacional, materializa algumas das premissas adotadas na elaboração
O PDE 2030 indica que será preciso investir R$ 2,3 trilhões em energia nos próximos 10 anos, sendo R$ 2 trilhões em petróleo, gás natural e biocombustíveis, e R$ 365 bilhões na geração centralizada, geração distribuídae transmissão de energia elétrica
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do PDE, abrindo caminho para a desoneração de tarifas de consumidores de energia elétrica de todo o Brasil, a modernização do modelo de contratação e precificação da energia elétrica a ser gerada pela usina nuclear Angra 3, e a ampliação do mercado livre de energia”, explica André Osório.
Para os próximos dez anos, além das fontes tradicionais, o cenário de expansão contou, pela primeira vez, com as seguintes opções de tecnologias: fotovoltaica flutuante, resíduos sólidos urbanos, ampliação de hidrelétricas e resposta da demanda.
Devido às incertezas impostas ao planejamento pela recessão, o PDE 2030 levantou possíveis cenários e ações futuras. Essas trajetórias podem ir desde uma crise de curta duração e com rápida recuperação, que poderá ser resolvida com ações de cunho estrutural ao setor, até uma crise de maior duração, com uma redução acentuada na demanda que chegue a ponto de ameaçar a viabilidade dos empreendimentos dos setores de petróleo e gás e energia elétrica.
Um dos grandes desafios apontados pelo PDE é o envelhecimento do sistema de transmissão brasileiro, uma situação que tende a se tornar mais crítica nos próximos anos. De acordo com o documento, “há que assegurar a substituição da infraestrutura do sistema elétrico em fim de vida útil de modo que a malha de transmissão possa operar com os níveis de confiabilidade e qualidade exigidos pela sociedade”.
Nesse sentido, estima-se que para 2021 a capacidade seja de 186 GW e alcance 236 GW em 2030. Está prevista uma maior diversificação da matriz elétrica brasileira ao longo desse período, com a redução na participação de hidrelétricas e a expansão da capacidade instalada a gás natural e das fontes eólica e solar. Osório aponta como principais vantagens das termelétricas a gás natural sobre as termelétricas a combustíveis fósseis a maior rapidez no acionamento e despacho.
Em relação à energia nuclear, o PDE 2030 prevê apenas o acréscimo da energia a ser gerada por Angra 3, que está em construção e deve entrar em operação no final de 2026. O documento apresenta um box com algumas medidas necessárias para viabilizar o mecanismo competitivo e garantir o interesse dos investidores para a construção das próximas usinas nucleares brasileiras.
Previsão da capacidade instalada em 2030 e a respectiva situação em 2020, quando o PDE foi lançado:
FONTE
2030
2020
106,4 GW
101,9 GW
Eólica
32,2 GW
15,9 GW
Geração Distribuída
24,4 GW
4,2 GW
22 GW
14,1 GW
15,1 GW
13,9 GW
PCH
8,9 GW
6,6 GW
Solar
8,4 GW
3,1 GW
Nuclear
3,4 GW
2,0 GW
Carvão
0,7 GW
3 GW
Diesel e Óleo
0,3 GW
4,4 GW
Hidrelétrica
Gás Natural Biomassa
Longo prazo O planejamento de longo prazo, objeto do Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), indica que os sistemas energéticos devem seguir um processo de redução da intensidade de carbono. Nesses estudos estão definidas, além das tecnologias tradicionais e já em franca expansão no país, “aquelas tecnologias capazes de alterar significativamente o mercado de energia, mas para o qual temos poucos elementos para antever sua inserção na matriz energética e os desdobramentos decorrentes”, explica André Osório. Foram trabalhados no PNE 2050 dois cenários: o primeiro, chamado Desafio da Expansão, que reflete requisitos de expansão do setor de energia para atender a um crescimento mais expressivo da demanda de energia; já no cenário Estagnação, em que o consumo de energia per capita mantém-se inalterado ao longo de todo o período, a questão da expansão da produção é menos premente, segundo Osório, “embora ainda reste a necessidade de se desenhar a política energética mais adequada para atender ao crescimento vegetativo da demanda”.
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No cenário Desafio da Expansão, o consumo potencial de energia elétrica (calculado antes dos ganhos de eficiência energética) cresce 3,3 vezes, em comparação com o ano-base 2015, passando de 73 GW médios para 241 GW médios em 2050.
reservas mundiais de urânio e detém a tecnologia do ciclo do combustível. A energia nuclear é muito importante para o desenvolvimento tecnológico do país como um todo. O Programa Nuclear Brasileiro é um projeto de estado, assim como a construção do submarino nuclear e a aquisição dos aviões caças da FAB”, afirma.
O PNE 2050 contempla a expansão do parque gerador termonuclear, com a inclusão de até 10 GW ao sistema elétrico nos próximos 30 anos. “A energia nuclear permite a geração confiável de uma energia ambientalmente limpa, que não contribui para o efeito estufa, e não é afetada pelas variações climáticas. Por essas características, a fonte nuclear é uma importante opção na transição energética, desempenhando um papel de destaque para manter a proporção extremamente alta na composição de uma matriz energética brasileira limpa ou não emissora”, afirma Osório.
André Osório aponta algumas medidas que considera necessárias para a viabilização de futuras plantas nucleares. “Julgo primordial se implantar estratégias para viabilização do desenvolvimento da indústria nuclear, visando os aperfeiçoamentos institucionais, legais e regulatórios; estruturação de modelos de financiamento e de negócios; políticas de segurança e contingência, C&TI e capacitação e um plano de comunicação e envolvimento de stakeholders”.
Para o professor Nivalde de Castro, diretor do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), a ampliação do parque termonuclear prevista pelo PNE 2050 ajudará a dar mais flexibilidade para a matriz elétrica, “já que as nucleares operarem na base, 11 meses por ano”. Ele ressalta que, além garantir a segurança de suprimento, a energia nuclear apresenta o diferencial estratégico de desenvolver um setor com alta densidade tecnológica, em que o Brasil domina toda a cadeia produtiva. “O país possui uma das maiores
Ele vê a necessidade de se definir programas que embasem a redução de custos da indústria nuclear, a exemplo dos EUA e do Reino Unido, entre outros países, que definiram políticas de P&D para redução dos custos e políticas públicas para novos negócios e receitas (inclusive mercados de carbono). E, ainda, “obter informações suficientes que permitam embasar externalidades positivas de outros negócios fora do setor energético que possam ampliar o pool de receitas e compartilhar os custos da cadeia da indústria nuclear”. (V.D.)
Expansão termonuclear Simulações realizadas pelo PNE 2050 com a entrada de 8 GW e 10 GW unidades termonucleares (UTN). A configuração da matriz elétrica em 2050 é praticamente igual nos dois casos, diferindo apenas quando ocorre uma retração de 6 GW na expansão de Solar PV. Nesse cenário, a expansão de UTN (adicional ao complexo de Angra) alcança 10 GW ao invés de 8 GW. 600 500 400
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31 70 141
31 64 140
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128
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8 GW
10 GW
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Nuclear
Gás natural
UFV
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Hidro
Demais
Capacidade Instalada em 2050 considerando expansão de UTN via Política Nuclear Brasileira no caso em que não há expansão de UHEs em áreas de interferência
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Os desafios do planejamento energético O planejamento energético é uma ferramenta primordial para projetar a oferta de energia necessária para o desenvolvimento econômico. Nesse processo, são analisadas variáveis de ordem comportamental, econômica e técnica. “Com base nessas variáveis e considerando o crescimento de demanda e as fontes disponíveis, são realizadas simulações, modelagens e estudos que indicam como a matriz deve avançar para garantir a demanda”, explica a pesquisadora do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Lorrane Câmara. O processo de modernização que vem ocorrendo no setor elétrico é um dos grandes desafios para o planejamento energético, uma vez que traz mudanças importantes como a introdução da geração distribuída, que representa “uma quebra de paradigma”, segundo Lorrane. Hoje, além de garantir o atendimento da demanda, há que se considerar também a flexibilidade dessa demanda. “Se o paradigma anterior era a geração segue a carga, agora, a demanda pode acompanhar mudanças do lado da geração, do lado da oferta”, diz a especialista. Segundo ela, isso acontece devido ao forte aumento da variabilidade da oferta e à intermitência das novas fontes variáveis, como eólica e solar, além da descentralização. No cenário atual, a amplitude do planejamento vai além da expansão de plantas de grande porte (hidrelétricas, usinas térmicas convencionais ou nucleares), englobando uma série de recursos pulverizados que se conectam à rede de distribuição. “Isso impacta diretamente e impõe desafios para a rede de distribuição convencional, que foi planejada para operar em um contexto de fluxo unidirecional. A eletricidade era gerada, passava pela rede de distribuição e transmissão, e chegava ao consumidor. Agora, a rede de distribuição atua em fluxo bidirecional, no sentido rede-consumidor e consumidor-rede”. Segundo Lorrane, grande parte dessa mudança está acontecendo do lado do consumidor. “Trabalhávamos com o paradigma da geração centralizada em plantas de grande porte, com economia de escala – quanto maior a planta, diminui o custo fixo e aumenta a economicidade – e afastada do centro de carga. Agora, um painel fotovoltáico pode operar no telhado de uma casa, uma planta eólica pode
estar muito mais próxima do centro de carga. A modularidade da geração fotovoltaica, que corresponde a 98% da capacidade de geração distribuída do Brasil, também representa por si uma mudança de paradigma. Com a expansão dessas fontes na matriz, a tendência é ter a geração muito mais próxima da carga”. Um dos desafios trazidos pela expansão de fontes variáveis como fotovoltáica e eólica é a intermitência do fornecimento. Para atender a demanda quando não há sol ou vento, é necessário aumentar a flexibilidade do parque gerador. Uma das alternativas para garantir essa flexibilidade é ampliar a participação das fontes fixas e controláveis na matriz, que sustentarão a rede durante as oscilações das fontes solar e eólica. Devido às restrições ambientais que impedem a construção de usinas hidrelétricas com grandes reservatórios em áreas ainda não aproveitadas, a expansão da energia de base será através de novas termelétricas a gás e nucleares, como previsto pelo PNE 2050. O alto custo e a emissão de poluentes são obstáculos para as termelétricas a óleo ou carvão. Outra alternativa para garantir a flexibilidade do sistema é aumentar a sua capacidade de armazenamento. A opção mais difundida é a hidrelétrica reversível – 90% da capacidade global de armazenamento se dá através do bombeamento hidráulico. Uma planta reversível tem a capacidade tanto de atuar de forma tradicional, jogando a água para as turbinas, como de funcionar no sentido contrário, bombeando água para o reservatório acima (a montante), em períodos de menor demanda. De forma resumida, durante o dia, a usina funciona normalmente, com a água movimentando as turbinas e gerando energia; à noite, as usinas eólicas assumem o atendimento total da demanda, o que permite acionar os motores da hidrelétrica para bombear água para o reservatório. A operação do processo ficará a cargo do Operador Nacional do Sistema (ONS). O diretor do Gesel, Nivalde de Castro, considera a hidrelétrica reversível uma solução viável, mesmo demandando um investimento relativamente alto. Seu principal obstáculo é a falta de regulamentação. “Ninguém vai ganhar dinheiro construindo uma reversível. Quem ganha é o sistema elétrico. Isso exige uma contratação diferente da atual, uma nova regulamentação”, explica. Para ele, “seria ótimo se o Brasil já pudesse dispor desse recurso”. (V.D.)
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Consumo elétrico e qualidade de vida O Brasil precisa gerar o dobro da eletricidade atual para alcançar um nível de desenvolvimento econômico e social que eleve a qualidade de vida de sua sociedade. A afirmação é do presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, ao analisar o consumo energético brasileiro. Para tanto, ele toma como base um indicador que qualifica como seguro, sólido e representativo do desenvolvimento econômico e social de uma sociedade: o consumo per capita de eletricidade. “A qualidade de vida de uma sociedade está diretamente ligada ao seu consumo de eletricidade per capita, o que pode ser comprovado através da correlação deste último indicador com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, afirma. Para o executivo, o Brasil está longe de atingir esse patamar, uma vez que seu consumo de eletricidade per capita, 2.300 Kw/h habitante/ano, é muito baixo – metade do consumo per capita de Portugal e um terço do verificado na Espanha, por exemplo. Para alcançar o índice de consumo de Portugal, o país precisaria gerar o dobro de eletricidade atual. Ele explica que, no entanto, isso não significa que seja necessário dobrar a potência instalada, mas sim aumentar o fator de capacidade (FC), ou seja, a relação entre a energia efetivamente gerada dividida pela energia que teoricamente poderia ser gerada se a instalação estivesse funcionando 100% de tempo. “Quanto maior for o fator de capacidade média de um sistema, menor é a necessidade de potência instalada. É preciso, portanto, ter unidades com alto fator de capacidade”, afirma. Segundo Guimarães, o aumento significativo da capacidade de gera-
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ção de energia deve resultar de uma combinação inteligente entre as diferentes fontes energéticas disponíveis, sendo indispensável contar com fontes de alto fator de capacidade, de forma a garantir a estabilidade de um sistema interligado e de dimensões continentais, como é o sistema elétrico brasileiro. As hidrelétricas apresentam o maior fator de capacidade entre as fontes renováveis. No entanto, esse desempenho é comprometido pelo regime hídrico dos rios das regiões onde ainda é possível construir novos empreendimentos, como é o caso da bacia amazônica. “De uma maneira geral, o fator de capacidade do parque hidrelétrico atual é de 55%. Mas, em empreendimentos mais recentes como Belo Monte e as usinas do Rio Madeira, esse índice cai a 40%. O parque de energia eólica apresenta um fator de capacidade entre 35% a 40%, enquanto na energia solar há uma queda substancial, para cerca de 20%”, explica Guimarães. Já a energia térmica (usinas térmicas convencionais e nucleares) ostenta o melhor desempenho, com um fator de capacidade de 80% a 90%”, informa. Ele afirma que, devido ao seu alto fator de capacidade, a fonte nuclear tem um papel importante a desempenhar. “A geração nuclear reforça a segurança de abastecimento do sistema elétrico em qualquer lugar do mundo, sem contribuir para a emissão dos gases do efeito estufa. Ou seja, está alinhada à descarbonização”, garante.
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Como uma usina nuclear é um empreendimento de longo prazo – dez anos é o prazo médio entre o projeto e a entrada em funcionamento –, Leonam Guimarães ressalta a necessidade de que as decisões referentes à ampliação do parque nuclear sejam iniciadas. Para ele, o primeiro passo nesse sentido é a conclusão de Angra 3. “Só construindo Angra 3 é que conseguiremos fazer as próximas usinas”, afirma. Entre as decisões a serem tomadas, destacam-se as relacionadas à tecnologia das próximas usinas. Para o final da década de 2020, o presidente da Eletronuclear defende a adoção dos reatores a água pressurizada (PWR), tecnologia já consolidada, com mais de 70% das usinas nucleares em operação no mundo. Para a década de 2030, ele considera a possibilidade de utilização dos reatores PWR de pequeno porte (SMR, na sigla em inglês), equipamentos em estágio avançado de desenvolvimento. Já para a década de 2040, Leonam antecipa a disponibilidade de produtos baseados em conceitos mais avançados. “Nesse caso, há um leque muito grande de pesquisa e desenvolvimento. Até lá, alguma das opções em estudo deverá ter alcançado um estágio tecnológico suficiente para ser desenvolvida em escala industrial”, prevê. (V.D.)
Planejamento se baseia em situações médias O professor Nivalde de Castro considera possível haver racionamento de energia no segundo semestre. Mas, caso isso aconteça, o cenário será diferente daquele vivido pelo país há 20 anos. “Não vamos repetir 2001”, afirma. Ele ressalta que o sistema elétrico brasileiro está mais robusto, devido a iniciativas realizadas nos últimos dez anos, tais como o planejamento energético e os leilões para contratação de novas usinas e de novas linhas de transmissão. Outro fator importante foi a diversificação da matriz elétrica. “As novas usinas que ingressaram no sistema são, predominantemente, eólicas, solares e termoelétricas; já o número de hidrelétricas com reservatórios não foi ampliado, devido às restrições da legislação ambiental”. Já em relação ao aumento da demanda de eletricidade decorrente do crescimento do PIB, ele diz que isso dependerá de quais setores irão puxar esse crescimento, uma vez que cada setor tem uma elasticidade da demanda de energia elétrica. Cita como exemplo a agricultura, cuja demanda é inferior à dos setores eletrointensivos. “Os impactos negativos vão depender do nível de descasamento entre demanda e oferta, e este descasamento será somente no horário de pico, no entorno do anoitecer”, prevê. Segundo Castro, para atender a esse aumento de consumo, torna-se imprescindível a realização de alguns ajustes. Entre as medidas necessárias, ele aponta: colocar em funcionamento todas as termelétricas; adiar todas paradas de manutenção de usinas; alterar o turno de trabalho dos setores mais eletrointensivos, “para evitar que as máquinas fiquem ligadas em horários de grande pico de demanda”, compensando via isenção tributária; controle absoluto sobre os reservatórios, restringindo a navegação fluvial e a irrigação. De acordo com o especialista, o planejamento energético se baseia em situações médias. “Não podemos orientar a política energética e as decisões de investimento na ampliação da capacidade instalada por cenário crítico. Nenhum planejamento do mundo faz isso”, garante. “Caso contrário, teríamos que ampliar fortemente a capacidade instalada de usinas eólicas, solares e termelétricas, que ficariam ociosam durante dez anos até o próximo regime hídrico abaixo da média histórica”, completa. (V.D.)
Não podemos orientar a política energética e as decisões de investimento por cenário crítico
Foto: Acervo pessoal
Embora correspondam a somente 1,7% da capacidade instalada do país, com 2 GW instalados, as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 são responsáveis por quase 3% da energia gerada. Com a entrada em operação de Angra 3, a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto passará para 3,5 GW. O PNE 2050 prevê um acréscimo de 8 GW a 10 GW na matriz elétrica, o que significa, a longo prazo, uma expansão do parque nuclear para 10,5 GW a 13,5 GW de capacidade. Com isso, a fonte nuclear passaria a representar cerca de 5% da matriz.
Nivalde de Castro
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Fotos: Eletronuclear
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Retomada de Angra 3 no horizonte de curto prazo Bernardo Mendes Barata Em meio ao risco hidrológico pelo qual o Brasil atravessa, uma vez que passamos por um regime de baixa fluência pluviométrica que acarreta enormes prejuízos aos reservatórios de água de nossas usinas hidrelétricas, tornam-se ainda mais importantes mecanismos que garantam confiabilidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O acionamento de plantas térmicas é uma possível saída, mas o uso de combustíveis caros e que emitem gases de efeito estufa é um entrave. Desse modo, fica evidente a competitividade da fonte nuclear sob os aspectos de modicidade tarifária e de abastecimento de energia firme na base do sistema. Nesse contexto, o setor elétrico pode celebrar as recentes medidas ocorridas em prol da retomada da construção de Angra 3, localizada no sítio das “irmãs” Angra 1 e Angra
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2, na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). Dentre elas, destaca-se a sanção, no último dia 1º de março, da Lei 14.120/2021, oriunda da Medida Provisória (MP) 998 aprovada no Senado Federal em fevereiro passado, a qual fixa diretrizes que permitem a estruturação financeira e comercial para a conclusão de Angra 3, como a revisão do preço de contratação da energia a ser gerada pela unidade. Uma das questões mais importantes previstas nessa lei é a rescisão do contrato de energia de reserva existente e a pactuação de um novo contrato, com preço da energia que ainda será calculado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o qual já vem trabalhando na reestruturação financeira e contratual do projeto. A instituição levará em consideração, em seu cálculo, a manutenção da viabilidade econômico-financeira do empreendimento, a contratação de um financiamento nas
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condições de mercado e o respeito à razoabilidade e à modicidade tarifária. O prazo de suprimento será de 40 anos, a partir do início da operação comercial. Em 29 de junho, o BNDES contratou o consórcio Angra Eurobras NES, vencedor da concorrência para a estruturação do projeto de retomada e conclusão das obras de Angra 3. Formado pelas empresas Tractebel Engineering Ltda. (líder), Tractebel Engineering S.A. e Empresários Agrupados Internacional, o consórcio terá a atribuição de definir a projeção dos investimentos necessários à implementação do projeto, o cronograma detalhado da obra e a especificação de como se dará a contratação de uma ou mais empresas para concluir Angra 3. Isso se dará por meio de um contrato de EPC, que, na tradução do inglês, significa engenharia, gestão de compras e construção. De acordo com o diretor Técnico da Eletrobras Eletronuclear, Ricardo Luis Pereira dos Santos, o valor para a conclusão da planta está na ordem de R$ 17 bilhões, em função da variação cambial ocorrida recentemente (o investimento total feito até agora, de R$ 7,8 bilhões, resultou em um progresso físico global de 65%). Em sua visão, é importante observar que a Lei 14.120 traz maior segurança jurídica para Angra 3 com relação a uma nova definição do modelo de comercialização de energia e assegura rentabilidade ao empreendimento. A mesma lei determina que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) será responsável por autorizar a celebração de novo contrato de energia e a outorga da usina em nome da Eletronuclear. A unidade terá autorização para operar por prazo de 50 anos, prorrogável por mais 20 anos. O CNPE também acompanhará a construção da planta, enquanto a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) observará o cumprimento de sua data de entrada em operação comercial, prevista para novembro de 2026.
A mobilização em prol do reinício da construção de Angra 3, no entanto, começou anteriormente. Em maio de 2020, por exemplo, o Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) decidiu pela contratação de uma empresa epecista para concluir a usina, mesmo tendo oferecido à Eletronuclear a escolha estratégica da entrada de um sócio minoritário para concluir o empreendimento – a Constituição Federal determina que a exploração da energia nuclear no Brasil é monopólio da União. O modelo aprovado pelo Conselho do PPI, que é o que vem sendo efetivamente trabalhado, prevê a segregação de riscos entre um agente financiador e um parceiro epecista. Os principais atores internacionais da área nuclear demonstraram interesse em participar da conclusão de Angra 3. Quase todos já visitaram o sítio da usina e assinaram Memorandos de Entendimento (MOU, na sigla em inglês) com a Eletronuclear para troca de informações sobre o empreendimento. O grupo é composto por Westinghouse (EUA), EDF (França), Rosatom (Rússia) e CNNC e SNPTC (China). Essas companhias também participaram, em 2019, de uma consulta ao mercado realizada pela Eletronuclear – conhecida como market sounding – sobre a construção da unidade.. “Inicialmente, imaginávamos que concluiríamos Angra 3 por meio de um player do mercado internacional que entraria como sócio da Eletronuclear. E há um timing até viabilizar isso. A entrada do parceiro seria no horizonte de 2022 e, enquanto isso, atacaríamos a linha crítica para ter a usina com condição mais estruturada, para poder dar andamento à construção e à montagem. Essa é a lógica por trás do plano de aceleração do caminho crítico. O BNDES entendeu que o melhor modelo seria não ter a participação de um sócio, mas sim que contratássemos separadamente um epecista e um apoio financeiro para concluir o projeto”, explicou Ricardo Luis Pereira dos Santos.
O BNDES entendeu que o melhor modelo seria que contratássemos separadamente um epecista e um apoio financeiro para tocar o projeto Ricardo Luis Pereira dos Santos
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Já em junho do ano passado, a Eletrobras aprovou a conversão de contratos de Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (Afac) em novas ações da Eletronuclear, no valor total de R$ 850 milhões. A holding também autorizou a capitalização de contratos de financiamento nos quais ela é credora de sua subsidiária Eletronuclear, no montante de quase R$ 1,036 bilhão. Esses passos foram importantes para sanar as dívidas da Eletronuclear com a Eletrobras. A estatal de energia nuclear ainda vem negociando suas dívidas com o BNDES e a Caixa Econômica Federal (CEF) por conta do financiamento de Angra 3, que totalizam R$ 6,6 bilhões. Com isso, a empresa vem pagando, mensalmente, R$ 30,1 milhões ao BNDES e R$ 24,7 milhões à Caixa. Dentro do escopo do Plano de Aceleração do Caminho Crítico de Angra 3, a Eletrobras aprovou, no fim de janeiro deste ano, o descontingenciamento dos recursos necessários para a Eletronuclear publicar o edital de contratação da empresa que retomará a obra civil da usina e realizará parte da montagem eletromecânica – o documento foi divulgado no último dia 25 de fevereiro. O objetivo é adiantar algumas atividades de construção da unidade antes mesmo de a Eletronuclear contratar a empresa que irá concluir a construção e a montagem de Angra 3. Tais recursos são provenientes do Afac aprovado pela Eletrobras no ano passado – a empresa liberou R$ 1,052 bilhão para a Eletronuclear em 2020 e prevê R$ 2,447 bilhões em 2021. O valor total do Afac consta no Plano Diretor de Negócios e Gestão (PDNG) 2021-2025 da holding. “Os trabalhos de engenharia e de suprimento de equipamentos importados de Angra 3 nunca foram paralisados. Mas, em 2020, obtivemos a autorização para alavancar a obra civil com um aporte considerável de recursos da Eletrobras. Pudemos atacar alguns marcos importantes, alguns já cumpridos e outros em andamento. Cabe destacar a publicação do edital da obra civil, a contração da conclusão do projeto eletromecânico da usina e dos serviços de apoio à engenharia do proprietário. Existe uma estratégia que suporta a aceleração do empreendimento”, declarou o diretor Técnico da Eletronuclear. Segundo ele, mais de 20 empresas visitaram o canteiro de obras para obter informações detalhadas e poder participar da licitação no âmbito do edital publicado em 25 de fevereiro. “Após a abertura das propostas, creio que em até dois meses o contrato será assinado. A Eletronuclear adotou como critério o menor preço,
mas, obviamente, existem critérios de qualificação técnica da empresa. Pretendemos lançar o primeiro concreto em outubro de 2021”, afirmou. De acordo com Santos, estão sendo feitos todos os preparativos para receber a empresa no canteiro de obras da melhor maneira possível. Ele afirmou que o canteiro não está totalmente paralisado desde 2015, quando a obra de construção de Angra 3 foi interrompida. Isso porque a Eletronuclear preserva todos os equipamentos, realiza testes e a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS) da central nuclear movimenta grande parte do canteiro.
Pequeno atraso A expectativa inicial de abertura das propostas da licitação para as obras civis e a montagem eletromecânica no âmbito do Plano de Aceleração do Caminho Crítico de Angra 3 era na segunda quinzena de maio. Contudo, houve adiamento para o dia 29 de junho. A postergação atendeu à solicitação de diversas empresas interessadas no certame, que alegaram necessitar de mais tempo para a elaboração de suas propostas. Além disso, o prazo também permitiu à Eletronuclear incorporar ao edital melhorias identificadas durante o processo e fazer uma reavaliação do orçamento, tendo em vista o aumento real dos preços dos insumos para a construção civil, ocasionado, em parte, pela pandemia de Covid-19. Duas companhias e cinco consórcios participaram da sessão de abertura das propostas, em 29 de junho. No dia 23 de julho, a Eletronuclear declarou o consórcio formado por Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz vencedor da licitação, após a documentação do licitante ter sido avaliada e aprovada. O lance vencedor foi de R$ 292 milhões, o que representa um deságio de aproximadamente 16% em relação ao valor de referência estabelecido pela Eletronuclear.
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Aceleração do caminho crítico Entre as principais medidas que constam no Plano de Aceleração do Caminho Crítico está a conclusão da superestrutura de concreto do edifício do reator de Angra 3. Além disso, será feita uma parte importante da montagem eletromecânica, prevista na fase inicial do cronograma de retomada da obra, que inclui o fechamento da esfera de aço da contenção e a instalação da piscina de combustíveis usados, da ponte polar e do guindaste do semipórtico. Para começar, precisa ser feita a contratação da companhia que finalizará os projetos de engenharia e da empreiteira responsável pelas obras civis e pela montagem no âmbito do plano. É necessário ainda contratar as empresas de apoio e fiscalização da fabricação de componentes e das obras civis. Por fim, há que se fazer a preparação do edital para a seleção da epecista que será responsável pela finalização das obras civis e da montagem eletromecânica da usina. Essa tarefa será feita pelo consórcio contratado pelo BNDES, que também fará uma avaliação independente da situação da obra, da preservação dos equipamentos, do orçamento e do cronograma do empreendimento. Após a assinatura do contrato das obras civis que serão realizadas no âmbito do plano, haverá, possivelmente no segundo semestre de 2022, a contratação da empresa epecista que dará sequência à obra. O principal objetivo do
Plano de Aceleração é preservar a data de entrada em operação da usina, prevista para novembro de 2026. “Essa data está sendo arduamente perseguida. Ao longo do processo conduzido pelo BNDES no sentido de contratação de um epecista, a adequação do nosso cronograma de novembro de 2026 vai ser objeto de avaliações independentes, como diversas que já ocorreram no empreendimento. Chamamos de due dilligence essa verificação independente. Em função de novas tecnologias e novos recursos utilizados internacionalmente, o prazo poderá até ser reduzido. Mas, no momento, estamos mantendo o cronograma de fim de novembro de 2026”, salientou Ricardo Santos.
O principal objetivo do Plano de Aceleração é preservar a data de entrada em operação da usina, prevista para novembro de 2026. Eventualmente, em função de novas tecnologias e novos recursos utilizados internacionalmente, o prazo poderá até ser reduzido
O RETORNO DE ANGRA 3 PARA A SOCIEDADE Segurança de abastecimento para o sistema elétrico, a substituição da energia mais cara e poluente das termelétricas fósseis e a geração de grande número de empregos estão entre os benefícios a serem gerados com a operação da nova usina De acordo com a Eletronuclear, a geração de Angra 3, cuja potência elétrica instalada será de 1.405 megawatts (MW), suprirá a demanda de 4,5 milhões de pessoas. Com a entrada da unidade em operação, a energia gerada pela central nuclear de Angra será equivalente a, aproximadamente, 60% do consumo do Estado do Rio de Janeiro. Além de garantir segurança de abastecimento para o sistema elétrico brasileiro, Angra 3 substituirá a energia mais cara gerada por usinas térmicas movidas por combustíveis fósseis, que são frequentemente despachadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Outro ponto relevante é sua proximidade aos principais centros de consumo do país, o que contribuirá para evitar congestionamentos nas interligações entre os subsistemas. A construção da unidade também é fundamental para dar escala a toda a cadeia produtiva do setor nuclear brasileiro, da produção de combustível à geração de energia. O empreendimento representará ainda a criação de cerca de 7 mil empregos diretos, no pico da obra, além de um número muito maior de empregos indiretos. A grande maioria será contratada na região da Costa Verde, o que será um importante fator para movimentar a economia local.
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Os principais players do mercado de energia nuclear acompanham com atenção o processo de seleção, modelo de negócios e esquema de financiamento das obras de conclusão da usina nuclear Angra 3 para tomar uma decisão final sobre a participação na licitação internacional que será realizada pela Eletronuclear. Nesta edição, entrevistamos o vice-presidente senior de Novos Desenvolvimentos Nucleares da EDF, Vakisasaï Ramany, o presidente da Rosatom para a América Latina, Ivan Dybov, o diretor para a América Latina da Framatome, André Salgado, e o vice presidente de Projetos Internacionais da Holtec, Richard Springmann. Além do projeto de Angra 3, os executivos abordam o programa de expansão do parque nuclear brasileiro, previsto no Plano Nacional de Energia (PNE 2050), os requisitos para a sua concretização e as perspectivas de atuação de suas empresas nesse cenário futuro.
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Estamos prontos para oferecer um maior suporte a novos projetos no setor nuclear Ivan Dybov, presidente da Rosatom para a América Latina Líder nacional da Rússia em geração de eletricidade (produzindo mais de 20% da energia total do país), a Rosatom é uma holding que reúne ativos do setor de energia, das indústrias de engenharia mecânica e de construção. A empresa possui 35 unidades de energia em 12 países, empregando mais de 260 mil pessoas em mais de 400 empresas e organizações. Na área nuclear, a Rosatom participa de toda a cadeia do ciclo do combustível, desde a mineração do urânio até as etapas finais da vida útil de uma instalação nuclear. A Rosatom participará do processo de licitação internacional que será realizado pela Eletronuclear para finalizar a construção e montagem de Angra 3? O Brasil é um dos principais parceiros de negócio da Rosatom na América Latina e nós estamos prontos para oferecer um maior suporte na realização de novos projetos no setor nuclear do país. Atualmente, estamos aguardando os resultados de due diligence do projeto de finalização da construção de Angra 3 para tomar a decisão final sobre a nossa possível participação na licitação. Gostaria de ressaltar que a Rosatom possui ampla experiência na realização de projetos complexos de finalização de construção de instalações nucleares e as competências necessárias para realizar o trabalho em diferentes etapas de instalação.
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Como a Rosatom avalia o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), que prevê a instalação de oito usinas nucleares até 2050? A Rosatom tem interesse em participar desses projetos? Nós apoiamos os planos de desenvolvimento de energia nuclear do Brasil e queria destacar, em especial, a transparência e a consistência do governo brasileiro na realização deles. A ampliação da utilização da energia nuclear permite formar um equilíbrio energético mais estável, o que, por sua vez, ajudará no crescimento da economia nacional. Como fornecedora, é importante para a Rosatom enxergar que as perspectivas de desenvolvimento da energia nuclear no Brasil não se limitam à finalização da construção da unidade 3 da Central Nuclear “Almirante Álvaro Alberto”. Nós temos interesse nos projetos que serão realizados dentro do PNE 2050, considerando que eles incluem a construção de novas unidades não só de alta, mas também de baixa potência. Em relação a isso, quero lembrar que a Rosatom é uma das líderes em desenvolvimento de tecnologia para reatores modulares pequenos (SMR). Atualmente, a Rússia é o único país que já está operando reatores de baixa potência de fabricação própria, na central nuclear flutuante “Akademik Lomonosov” e em quebra-gelos nucleares. Além disso, a Rosatom já começou a executar o projeto-piloto de uma central nuclear de baixa potência em terra, na República de Sakha (Iacútia), que fica na Sibéria Oriental. Planejamos colocar a usina em operação até 2028. Nós sabemos que o Brasil também tem interesse na tecnologia SMR. Sendo assim, a convite do Ministério de Minas e Energia, em 2019 nós realizamos um webinar sobre tecnologias russas para reatores modulares pequenos e falamos de suas vantagens dos pontos de vista técnico e econômico. Em sua opinião, quais são os requisitos indispensáveis para a execução do projeto de construção de oito usinas nucleares até 2050? O principal fator de sucesso desse projeto é que ele seja benéfico tanto para o fornecedor internacional, que vai participar da instalação de novas unidades de energia nuclear, quanto para o lado brasileiro. E se o Brasil estiver realmente considerando a possibilidade de investimento privado em energia nuclear e estiver pronto para fazer as devidas alterações na legislação, então, é claro, o investidor deverá ter alguns mecanismos que lhe permitirão recuperar o investimento.
Como o sr. vê as perspectivas de trabalho da Rosatom em uma futura expansão do mercado nuclear do Brasil? Se a energia nuclear se desenvolver, então nós teremos novas perspectivas de ampliação da nossa colaboração em várias direções. Desde 2017, a Rosatom, representada pela Uranium One, fornece urânio natural para as usinas nucleares do Brasil. Nós valorizamos essa cooperação que já dura muitos anos e estamos prontos para desenvolver a nossa parceria na área de ciclo de combustível nuclear. Atualmente, nós e nossos parceiros brasileiros estamos analisando a possibilidade de uma colaboração abrangente na área de ciclo de combustível nuclear, combustível nuclear usado e gestão de resíduos nucleares. Na sua opinião, quais projetos no setor nuclear do Brasil são mais atraentes para investimentos por parte de empresas internacionais? Eu acho que uma das áreas com mais perspectivas atualmente trata-se da cooperação no campo da implementação de altas tecnologias, especialmente para a produção e desenvolvimento de energia do hidrogênio. Uma outra área com muitas perspectivas é a de interações – usinas nucleares de baixa potência. Projetos como esses podem fornecer uma fonte confiável e limpa de energia térmica e elétrica para residentes de redes elétricas isoladas muito remotas, como o estado de Roraima. No geral, o futuro do setor energético está nas novas tecnologias limpas e, agora, com a crescente demanda por eletricidade em nível mundial e os problemas ambientais, essas áreas ganharam uma certa importância.
Estamos analisando a possibilidade de uma colaboração nas áreas de ciclo de combustível nuclear, combustível nuclear usado e gestão de resíduos nucleares
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O arcabouço regulatório evoluiu em 2021 para facilitar o projeto de Angra 3 Vakisasai Ramany, vice-presidente senior de Novos Desenvolvimentos Nucleares da EDF
A EDF participará do processo de licitação internacional que será realizado pela Eletronuclear para finalizar a construção e montagem de Angra 3? Desde 2016, temos discutido com a Eletronuclear e vários stakeholders brasileiros, incluindo o Ministério de Minas e Energia, bem como o BNDES, com o objetivo de apoiar e fornecer insumos na definição de um modelo de negócios viável para Angra 3. A Framatome, subsidiária da EDF, é a responsável pelo fornecimento de um grande contrato em Angra 3 e esse é naturalmente o nosso objetivo, garantir que todas as condições sejam reunidas para viabilizar a conclusão do projeto. Em termos de processo, entendemos que a Eletronuclear está focada nesta fase na seleção de empresas locais para concluir algumas atividades na construção do reator, o que é muito animador para as próximas etapas do projeto. O arcabouço regulatório evoluiu em 2021 para melhor definir a governança e facilitar o projeto de Angra 3. Estamos acompanhando com interesse o que acontecerá a seguir
em relação ao processo de seleção, modelo de negócios e esquema de financiamento. Sabemos que muitas discussões vêm ocorrendo entre as partes interessadas brasileiras, notadamente com o BNDES para garantir a atratividade do projeto Angra 3 para futuros financiadores e potenciais parceiros. Este é, a nosso ver, um dos principais aspectos a serem abordados para afiançar a conclusão do projeto e a potencial participação de empresas estrangeiras nele. Uma vez definido, esse processo será considerado seriamente pela EDF para definir sua estratégia, no espírito de nossas ações anteriores no Brasil e de nossa cooperação de longa data com a Eletronuclear. Como a EDF avalia o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), que prevê a instalação de oito usinas nucleares até 2050? A empresa tem interesse em participar desses projetos? A EDF acompanha há muito tempo a evolução do mercado nuclear no Brasil e tem prestado assessoria e suporte à Eletronuclear e às partes interessadas brasileiras em espírito
A decisão formal sobre novas construções nucleares ainda não foi tomada, e a conclusão de Angra 3 é compreensivelmente uma pré-condição para tal decisão Vakisasai Ramany
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de parceria nos últimos anos. Uma de nossas principais recomendações sempre foi dar visibilidade aos fornecedores internacionais em potencial com relação às novas ambições nucleares do Brasil A publicação do Plano Nacional de Energia (PNE 2050), no ano passado, foi uma notícia muito boa, pois dá mais confiança em relação à possível inclusão de novas usinas nucleares no planejamento energético de longo prazo. No entanto, neste estágio, a decisão formal sobre novas construções nucleares no Brasil ainda não foi tomada, e a conclusão de Angra 3 é compreensivelmente uma pré-condição para tal decisão. Esperamos ver essas orientações preliminares formalizadas no âmbito do governo federal. Em sua opinião, quais são os requisitos indispensáveis para a execução do projeto de construção de oito usinas nucleares até 2050? O lançamento de um novo programa nuclear em qualquer país requer a combinação de vários fatores: (I) um forte consenso entre os partidos em nível político; (II) ampla aceitação pública em todo o país; (III) uma estratégia clara de todas as partes interessadas institucionais em termos de planejamento energético de longo prazo; (IV) identificação de locais apropriados com os estudos e autorizações ambientais relacionados; (V) um compromisso de longo prazo em termos de desenvolvimento de competências, educação e treinamento, já que um programa de tal magnitude exigirá a disponibilidade de recursos altamente qualificados e da cadeia de abastecimento local por um longo período de tempo; e por último, mas não menos importante, (VI) estabilidade regulatória, visibilidade sobre o esquema de investimento e remuneração, juntamente com um claro compromisso governamental para garantir os meios de financiamento para tal programa. Esses são os principais ingredientes para garantir que um novo programa nuclear possa surgir com as condições certas. Como o sr. vê as perspectivas de trabalho da EDF em uma futura expansão do mercado nuclear do Brasil? A EDF está presente há mais de 20 anos no Brasil, que é um país chave para nosso grupo em termos de investimento. Como uma operadora nuclear líder envolvida em vários novos projetos de construção em todo o mundo, a EDF pode certamente trazer sua forte experiência e um apoio com conhecimento para a expansão futura do programa nuclear brasileiro. Temos um portfólio de tecnologias de reatores que podem atender às futuras necessidades nucleares brasileiras, que vão desde nosso principal reator de grande potência (EPR - 1650 MWe), já em operação na China, próximo ao comissionamento na França e em construção
no Reino Unido; nosso reator de médio porte (EPR1200) de 1200 Mwe, em países com menor necessidade de capacidade de geração e NUWARDTM, nosso Small Modular Reactor (SMR) de 340 Mwe, em desenvolvimento com o objetivo de atender às necessidades do mercado nos anos 2030. Dependendo da decisão das autoridades brasileiras, a EDF apresentará a melhor proposta de tecnologia. Além da solução de tecnologia, promovemos uma parceria de longo prazo, que faz parte do nosso DNA e dos nossos valores fundamentais como fornecedor, construtor e operador nuclear. Nossa experiência de longa data fornecida aos países parceiros no desenvolvimento de seu próprio programa nuclear demonstra que podemos oferecer uma gama de atividades de apoio, tais como (I) na definição de um modelo de negócios financiável com o esquema mais adequado; (II) experiência em atividades de localização para o benefício do país de origem do projeto, onde iremos promover fortes laços com a cadeia de abastecimento francesa, juntamente com (III) a implementação de programas de desenvolvimento de capacidades e habilidades humanas; (IV) por último, mas não menos importante, podemos oferecer assistência ao futuro operador, aproveitando nossos mais de 2 mil reatores-ano de experiência em operação na França e no mundo. Ou seja, a EDF poderá oferecer a melhor solução para o futuro programa nuclear brasileiro, caso as autoridades brasileiras confirmem a disposição de se engajar nesse caminho. Em sua opinião, quais projetos no setor nuclear do Brasil são mais atraentes para investimentos por parte de empresas internacionais? O setor elétrico está muito maduro no Brasil. Acreditamos que as usinas nucleares podem ser de grande valor para a matriz energética brasileira auxiliando no desenvolvimento de energias renováveis, que são intermitentes por definição. Além disso, o Brasil é um país experiente na área nuclear, com usinas nucleares operando com muito bom histórico e desempenho. Ao longo dos anos, o país também amadureceu um cenário industrial robusto com fornecedores experientes e já conhecedores da energia nuclear, o que é um claro trunfo na perspectiva de um programa futuro. Outro ponto importante é que o país domina o ciclo do combustível e possui importantes recursos naturais de urânio, o que é, sem dúvida, um ativo fundamental. Todos esses elementos são uma grande vantagem na hora de avaliar um potencial investimento no Brasil. Caso esses ativos sejam complementados por orientações claras e estáveis em relação à energia nuclear, proporcionando visibilidade, não há dúvida de que potenciais investidores ou parceiros terão maior confiança na estratégia de longo prazo do país.
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Planejamos participar, mas não como contratante principal Rick Springman, diretor da Holtec do Brasil A Holtec International é uma empresa privada de tecnologia focada em agregar valor ao setor de energia por meio da inovação. Na área nuclear, a empresa é líder mundial em gerenciamento de combustível irradiado e resíduos nucleares, descomissionamento e desenvolvimento de reatores, além de uma grande variedade de serviços de engenharia e locais para operação de usinas nucleares. Divisão internacional da Holtec International, com sede no Rio de Janeiro, a Holtec do Brasil (HDB) integra a equipe de execução do projeto da Holtec para o Projeto de Armazenamento a Seco de Angra com a Eletrobras Eletronuclear, o primeiro do tipo no país. O escopo de trabalho da HDB inclui gerenciamento de projeto, engenharia de design, supervisão de fabricação, construção do local (incluindo a operação de um laboratório de teste de materiais na Central Nuclear de Angra) e serviços locais. A Holtec participará do processo de licitação internacional que será realizado pela Eletronuclear para finalizar a construção e montagem de Angra 3? Planejamos participar do projeto Angra 3, mas não como contratante principal para a construção e montagem. Existem vários fatores que contribuíram para a decisão, que preferimos não divulgar. Nosso objetivo principal é participar da engenharia do projeto, garantia de qualidade e outros pacotes de trabalho específicos que podem ser necessários para apoiar o projeto, tanto pela nossa divisão local, Holtec do Brasil, quanto pela Holtec International.
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Como a Holtec avalia o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), que prevê a instalação de oito usinas nucleares até 2050? A Holtec tem interesse em participar desses projetos? Apoiamos o PNE 2050, que incorpora uma expansão significativa da geração nuclear. Olhando para a rede de energia, acreditamos que a melhor maneira de atingir os objetivos do plano é por meio de pequenos reatores modulares, que podem fornecer geração mais distribuída com custos de financiamento substancialmente reduzidos. A Holtec planeja ser um participante principal na realização das metas do PNE, implantando nosso Small Modular Reactor de 160 MWe “walk away safe”, SMR-160. Em sua opinião, quais são os requisitos indispensáveis para a execução do projeto de construção de oito usinas nucleares até 2050? O crescimento do setor nuclear deve ser impulsionado pela tecnologia e inovação. Muitos dos obstáculos que desafiam a nova energia nuclear, como a aceitação pública, os altos custos de capital e financiamento e os riscos de construção, podem ser resolvidos por novas ideias e inovação tecnológica. Este é o foco principal da Holtec com nosso programa SMR-160. Para o Brasil atingir as metas, acreditamos que o processo de seleção de tecnologia também deve ser orientado pela tecnologia e também deve fazer uso da cooperação regulatória com o provedor de tecnologia para reduzir o tempo gasto nas aprovações de licenciamento que sustentam o cronograma de implantação.
Como o sr. vê as perspectivas de trabalho da Holtec em uma futura expansão do mercado nuclear do Brasil? A Holtec já está bem estabelecida no Brasil com uma divisão local, Holtec do Brasil, e muitos parceiros. Recentemente, concluímos a construção da primeira instalação de armazenamento de combustível irradiado seco no Brasil, em Angra, que é um marco para o país provar que o combustível irradiado pode ser administrado com segurança a longo prazo. Vemos esta demonstração como fundamental para quaisquer futuras expansões de construção. É importante ressaltar que a mesma tecnologia que implantamos para o gerenciamento de combustível irradiado em Angra está incorporada em nosso projeto SMR-160, o que significa que a capacidade de gerenciar com segurança o combustível irradiado faz parte de nosso projeto original. Planejamos continuar a crescer a Holtec do Brasil e fortalecer nossas parcerias e cadeia de suprimentos no país para cumprir as metas de crescimento nuclear do PNE com nosso SMR-160. Em sua opinião, quais projetos no setor nuclear do Brasil são mais atraentes para investimentos por parte de empresas internacionais? Nossa participação ativa no setor nuclear brasileiro tem sido impulsionada pelo valor único de nossos produtos para resolver problemas fundamentais enfrentados pela indústria. Nesse sentido, acreditamos que nosso SMR-160 será uma parte fundamental para resolver as necessidades de energia para apoiar o crescimento econômico do país.
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Como projetistas de Angra 3, vamos oferecer suporte na retomada André Salgado, diretor para a América Latina da Framatome A Framatome oferece soluções e tecnologias com alto valor agregado para o projeto, construção, manutenção e serviços. A empresa projeta, fabrica e instala componentes, combustíveis e sistemas de instrumentação e controle para plantas de energia nuclear, além de oferecer serviços e soluções para reatores de todas as tecnologias. Contando globalmente com mais de 14 mil colaboradores, a Framatome tem como acionistas o Grupo EDF (75.5%), a Misubishi Heavy Industries (MHI – 19.5%) e a Assystem (5%). A Framatome irá participar da licitação internacional que será realizada pela Eletronuclear para contratar uma empresa para finalizar a construção e montagem de Angra 3? A Framatome projeta e fornece componentes e sistemas para usinas nucleares, além de oferecer serviços para reatores em operação de diversas tecnologias. Como projetistas e fornecedores da Usina Angra 3, continuaremos a oferecer todo o suporte que seja necessário para a Eletronuclear capitanear o processo de retomada da construção e por em marcha a usina. Porém, como já informado à Eletronuclear, não participaremos diretamente da licitação do EPC anunciada.
Qual a avaliação da empresa sobre o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), que prevê a construção de oito usinas nucleares até 2050? Há interesse da empresa em participar desses empreendimentos? O PNE 2050 consolidou a visão de longo prazo para a expansão da matriz elétrica brasileira, usando os pilares de diversidade, segurança energética, sustentabilidade e modicidade tarifária. Diante de todos estes aspectos houve a previsão de expansão da participação nuclear em 10 GW até 2050, apontando para um crescimento significativo da potência instalada, porém com participação ainda modesta na composição da matriz energética brasileira. O PNE 2050, como um planejamento de longo prazo, nos dá a direção que o planejador enxerga como viável e exequível para garantir o suprimento de Energia para o país. Agora, cabe a todos nós que fazemos o setor nuclear tomar as medidas necessárias que estejam ao nosso alcance, ou pressionar para que sejam tomadas, de forma a transformar em realidade a visão do planejador, e se possível, ultrapassá-la. Em sua opinião, quais são os fatores indispensáveis para o Brasil ter oito usinas nucleares até 2050? No meu entender, os principais aspectos para garantir o sucesso do planejamento no setor nuclear são: a estabilidade das políticas energéticas de longo prazo, a segurança jurídica e regulatória, o início dos estudos de locais para os novos projetos, a definição do modelo de negócios a ser utilizado para a
construção e operação das novas plantas e a atração de investimentos privados com a definição dos modelos regulatórios e alterações constitucionais que os tornem possíveis. Como vê uma possível colaboração de sua empresa numa futura expansão do mercado nuclear brasileiro? A Framatome tem todo o interesse em participar de futuros projetos nucleares no Brasil fornecendo sua tecnologia e produtos para garantir a construção e operação dos projetos, usando tecnologias de ponta e reconhecidamente aprovadas em órgãos reguladores em diversos países. Estamos acompanhando com otimismo a movimentação e nos posicionando para participarmos destes futuros projetos. Em sua opinião, qual seria o grande atrativo para uma empresa internacional investir no setor nuclear brasileiro? O Brasil é um país que ainda apresenta forte espaço para o crescimento da demanda por energia elétrica e, portanto, oferece oportunidades para a ampliação da geração que os países mais desenvolvidos não têm mais. Além disso, temos o conhecimento da operação de centrais nucleares, um órgão regulador competente e um Operador que consistentemente tem colocado Angra 1 e Angra 2 entre as plantas de maior performance no mundo. Temos que valorizar este know-how, e os novos projetos garantirão a sua perpetuação, agregando grande número de novos engenheiros e técnicos ao nosso setor. BRASIL NUCLEAR
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Indústria
UAS já armazena combustível irradiado Com a capacidade de armazenamento das piscinas de combustíveis usados em Angra 1 e Angra 2 praticamente esgotada, construção da unidade era prioridade para a Eletronuclear
Bernardo Mendes Barata
Entretanto, após idas e vindas na esfera judicial e a prestação de esclarecimentos aos órgãos públicos responsáveis e à sociedade civil, a Eletronuclear iniciou, no último dia 3 de abril, a transferência de combustíveis usados de Angra 2 para a UAS. Segundo o diretor Técnico da empresa, Ricardo Luis Pereira dos Santos, foi retirada uma quantidade de elementos combustíveis da piscina de Angra 2 suficiente para substituir um terço de combustível do núcleo do reator da usina na parada de reabastecimento e manutenção periódica, que teve início em 6 de junho e está prevista para durar 48 dias. A transferência dos combustíveis usados de Angra 2 será concluída após
esse período. Já o início da transferência de elementos combustíveis da piscina de Angra 1 para a UAS está previsto para novembro deste ano. “O limite de armazenamento da piscina de combustíveis usados de Angra 2 se esgotaria em curto prazo. Então, tiramos os elementos combustíveis mais antigos e os colocamos na Unidade de Armazenamento a Seco, para abrir espaço. Em Angra 1, essa movimentação será feita antes da parada de 2022. O sucesso na construção da UAS se deve à dedicação de todos os funcionários da Eletronuclear. O pessoal se empenhou de maneira memorável”, assinalou Ricardo Santos.
Fotos: Eletronuclear
A Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS) da Eletronuclear, localizada na própria Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis (RJ), já está em funcionamento. A construção e o uso da instalação eram uma questão de prioridade total para a empresa, pois, com a capacidade de armazenamento das piscinas de elementos combustíveis usados das duas plantas praticamente exaurida, havia o risco de ambos os reatores serem desligados temporariamente até a solução do problema.
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Licenciamento O último entrave burocrático para ser feita a transferência de combustíveis usados da piscina de Angra 2 para a UAS era a licença final do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que foi concedida no dia 1º de abril. Já a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) aprovou, em 25 de março, a Autorização para Operação Inicial. Este último processo de licenciamento seguiu rigorosamente o estabelecido pelas normas da Comissão, que estão alinhadas com padrões internacionais de segurança e radioproteção estabelecidos pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). De acordo com a Cnen, tal autorização é válida por dois anos, com possibilidade de renovação. O combustível irradiado (após o período de utilização no interior do reator nuclear) não é considerado rejeito radioativo. O material possui potencial de reprocessamento e pode ainda ser utilizado para geração nucleoelétrica. Desse modo, o armazenamento seguro do combustível considera tal possibilidade de reutilização futura. A Cnen esclareceu que, antes de emitir a Autorização de Operação Inicial, já havia concedido duas outras relevantes licenças: a de Local, autorizando o ponto onde a UAS foi construída, e a de Construção, que autorizou o início dos trabalhos de estruturação da unidade. Ambas foram liberadas após a Eletronuclear apresentar a totalidade da documentação pertinente e demonstrar o atendimento aos requisitos normativos de segurança. Para poder operar plenamente a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado, a
O combustível irradiado não é considerado rejeito radioativo. O material tem potencial para ser reprocessado e utilizado para geração nucleoelétrica Eletronuclear ainda obteve, no último dia 18 de fevereiro, uma vitória na esfera judicial com a revogação de liminar que a impedia de iniciar a transferência de combustíveis usados para a instalação. Na ocasião, a juíza substituta Daniela Berwanger Martins, da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis, reconheceu a urgência de se permitir que o procedimento fosse feito conforme o cronograma, sob o risco de ser preciso desligar, de forma desnecessária, Angra 1 e Angra 2. A liminar fora solicitada pelo Ministério Público Federal (MPF) no âmbito de uma ação civil pública movida contra a empresa em outubro de 2020 relacionada ao licenciamento da UAS. O MPF queria que a companhia cumprisse contrapartidas sociais por conta da construção do depósito e chegou a propor a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Nesse contexto, a Eletronuclear apresentou em juízo uma contraproposta à proposição do órgão federal. De acordo com o diretor Técnico da Eletronuclear, a questão está sanada, ou seja, não há mais impedimento. “Em função disso, iniciamos a movimentação do combustível usado. Temos que salientar a obtenção do alvará da Prefeitura de Angra dos Reis, que é uma das condições. A obtenção das licenças da Cnen e do Ibama são as outras. Em todos os ca-
Na sequência abaixo: Hi-Trac é inserido na piscina de combustível usado de Angra 2; Combustíveis usados são inseridos no cânister, que está dentro do Hi-Trac; Hi-Trac com cânister e combustíveis usados é retirado da piscina da usina; Tampa do cânister é soldada; Hi-Trac é içado.
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sos, foi feito um trabalho técnico muito extenso, que envolveu diversos documentos e inúmeras discussões com a sociedade”, declarou Ricardo Luis Pereira dos Santos. Com relação à prestação de esclarecimentos à sociedade, o Ibama promoveu, no dia 22 de janeiro deste ano, uma audiência pública virtual sobre o processo de licenciamento ambiental da UAS, com participação da Eletronuclear. Esse foi o segundo evento realizado pela entidade para fornecer informações sobre o empreendimento à população da região da Costa Verde.
Parceria internacional No aspecto técnico da UAS, a Eletronuclear contratou a empresa Holtec, dos EUA, para supervisionar serviços de obras civis e de modificações de projeto. Trata-se, na visão de Santos, de uma parceria internacional forte com know-how reconhecido mundialmente. “Pelos princípios de cultura de segurança, todos nós temos uma visão crítica bastante apurada quando se trata da área nuclear, mas não restam dúvidas de que ter uma empresa do nível da Holtec dando suporte à implantação da UAS, trazendo toda
experiência que adquiriu em dezenas de centrais em que trabalharam, robustece muito o empreendimento em todos os setores. Como gestores, nos sentimos mais seguros de termos uma tecnologia internacionalmente reconhecida”, afirmou. Inicialmente, a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado conta com 15 módulos. No total, 288 elementos combustíveis serão retirados de Angra 2 e 222 de Angra 1, o que abrirá espaço nas piscinas de armazenamento para mais cinco anos de operação de cada planta. O depósito comporta até 72 módulos, com capacidade para armazenar combustível usado até 2045. O escopo abrangeu tal horizonte prevendo a conclusão da vida estendida de Angra 1 e a vida autorizada de Angra 2 - no caso de Angra 3, outra solução deverá ser proposta porque, entrando em operação em 2026, sua piscina armazenará elementos combustíveis usados até 2046. “A construção da unidade permitirá que os combustíveis usados de Angra 1 e 2 sejam guardados com toda a segurança, até que o governo brasileiro defina seu destino final”, encerrou Ricardo Santos.
De acordo com a Eletronuclear, a transferência de elementos combustíveis irradiados para a UAS funciona da seguinte forma: na piscina, eles são inseridos em um cânister, que, por sua vez, está acondicionado dentro de um recipiente chamado Hi-Trac. Em seguida, o conjunto é retirado da piscina, o cânister é fechado e lacrado via solda, a água é removida de seu interior e gás hélio é inserido, para não haver corrosão no elemento combustível. Então, esse container é transferido do Hi-Trac para o Hi-Storm, invólucro de concreto especial reforçado, que recebe uma tampa, parafusada no recipiente. Na sequência, o Hi-Storm é levado à UAS em um carro de transferência, é içado e posicionado numa laje, onde permanecerá, concluindo o processo (clique aqui para ver um vídeo que mostra o procedimento). Além da laje, a unidade é composta por um almoxarifado e uma guarita e conta com sistemas de monitoração de temperatura e radiação. A tecnologia empregada é amplamente utilizada em todo o mundo. Apenas nos Estados Unidos, há cerca de 80 instalações em operação similares à UAS.
Na sequência abaixo: Hi-Trac é movimentado para fora de Angra 2; Cânister é inserido no Hi-Storm; Hi-Storm é levado à UAS por carro multieixo; Hi-Storm chega à laje da UAS, onde ficará armazenado.
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Fotos: Ipen/Cnen
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ÁGUAS MAIS LIMPAS
Irradiação trata, in situ, efluentes industriais e evita poluição em córregos, rios e águas subterrâneas
Vera Dantas
Um projeto inovador, voltado para o combate à poluição e para a preservação ambiental, encontra-se em fase final de desenvolvimento no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/ Cnen) e deverá estar disponível a partir de 2022. Trata-se da Unidade Móvel com Acelerador de Elétrons para Tratamento de Efluentes Industriais e sua Reutilização, um sistema para tratar efluentes industriais no local onde são gerados, evitando que sejam lançados in natura em córregos e rios, com grande prejuízo para o meio ambiente e para a saúde pública. De acordo com o superintendente do Ipen, Wilson Calvo, a unidade móvel com acelerador de feixe de elétrons
tem potencial para tratar um volume entre 20 m3/dia a 1.000 m3/dia, ao custo de US$ 0,60 a US$ 30,1 por metro cúbico, dependendo da composição química do efluente objeto do tratamento. Ela poderá ser usada para o tratamento de efluentes da produção de petróleo, para a dessulfurização de petróleo (processo de remoção de enxofre) e para a degradação de compostos orgânicos tóxicos em águas residuais com fins de reutilização. Além de prestar serviços de irradiação na própria empresa, o laboratório móvel permitirá ao Ipen oferecer treinamento em manutenção e operação de aceleradores industriais de elétrons e realizar estudos de viabilidade técnica e econômica entre plantas em escala laboratorial e industrial, demonstrando a eficiência dessa tecnologia para resolver problemas de efluentes industriais no Brasil. BRASIL NUCLEAR
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O projeto está sendo desenvolvido pelo Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Ipen, em parceria com a empresa Truckvan Indústria e Comércio Ltda., especializada na fabricação de unidades móveis para as áreas de saúde, capacitação e treinamento profissional, eventos, serviços, defesa e segurança, e a Nuclebras Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), responsável pela caixa de blindagem radiológica do acelerador. O empreendimento conta com recursos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O projeto do laboratório móvel é fruto de um programa de pesquisa de tratamento de efluentes industriais, iniciado no CTR em 1992, utilizando um dos seus aceleradores industriais de elétrons fabricados pela Radiation Dynamics Inc., com 1,5 milhão de elétron-Volts (1,5 MeV) de energia, 25 mA de corrente de feixe e 37,5 kW de potência. Em setembro de 1993 foi concluída a construção de uma planta piloto, projetada para tratar 3 m3/h de efluentes líquidos por feixe de elétrons no Instituto. As pesquisas foram desenvolvidas em parcerias com empresas como a Companhia de Saneamento de São Paulo (Sabesp) e a Petrobras e indústrias químicas, farmacêuticas e de tintas, dentre outras. Todos os estudos relacionados ao projeto geraram várias teses de doutorado e dissertações de mestrado, mais de 50 trabalhos publicados em revistas científicas e apresentados em congressos internacionais. O custo total do projeto da Unidade Móvel com Acelerador de Elétrons para Tratamento de Efluentes Industriais e sua Reutilização é de R$ 7 milhões. Desse total, R$ 1,2 milhões estão sendo investidos pelo Ipen. Cerca de R$ 374 mil foram aportados pela Truckvan, por meio do “Acordo de Parceria para Realização de Atividades Conjuntas de Desenvolvimento Tecnológico” (desenho e especificação do chassi da unidade móvel, adequação do projeto às normas e le-
gislação brasileiras de transporte de cargas, dentre outras); a AIEA investiu 250 mil euros, por meio do projeto “IAEA TC Project BRA1035 - Mobile electron beam accelerator to treat and recycle industrial effluents”, destinado ao treinamento dos engenheiros e tecnologistas do Ipen na empresa coreana EB-Tech, fabricante do acelerador industrial de elétrons; a Finep tem financiamento aprovado de US$ 622 mil, por meio do Projeto “Implantação de unidades móveis visando disponibilizar a tecnologia gerada no Ipen para o setor produtivo e a sociedade/troca de equipamentos obsoletos”.
Projeto multidisciplinar O projeto, a construção e a operação da unidade móvel envolve profissionais com formações multidisciplinares como engenheiros elétricos, eletrônicos e mecânicos, farmacêuticos, químicos, biólogos, físicos e projetistas, dentre outros. A parte frontal do veículo conta com uma sala com equipamentos multimidia, notebooks e instrumentos analíticos. “Trata-se de um espaço onde a parte teórica e a prática podem ser expostas e demonstradas. Os equipamentos analíticos, por exemplo, viabilizam avaliar no local de tratamento os efluentes industriais antes e após a irradiação”, explica a arquiteta Fabiana de Faria Lainetti, em sua dissertação de mestrado “Desenvolvimento do projeto arquitetônico de uma unidade móvel de irradiação do Ipen para o tratamento de efluentes industriais”, defendida em 2019 no Ipen/ USP. De acordo com ela, a unidade móvel pode levar esse tipo de tecnologia específica para diversas partes do Estado de São Paulo, outros estados do Brasil e até outros países da América Latina. “É uma grande oportunidade de apresentar mais uma alternativa para tentarmos minimizar os problemas que afetam o meio ambiente, muitos deles provocados por diversas ações do homem”, diz.
Estudos comprovam que o tratamento por radiação ionizante oferece benefícios em relação às técnicas convencionais de tratamentode poluentes recalcitrantes Wilson Calvo
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Fotos: Nuclep
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Em função da pandemia de Covid-19, houve atraso na importação e entrega pela Finep/Fundep do acelerador industrial de elétrons (700 keV, 28 mA e 20 kW). Sua instalação na unidade móvel ocorrerá ainda este ano e será realizada por engenheiros e técnicos da EB-Tech, juntamente com uma equipe do Instituto. Já a fabricação da Caixa de Blindagem Radiológica para o dispositivo de irradiação do acelerador industrial de elétrons acaba de ser concluída pela Nuclep. A Caixa de Blindagem Radiológica pesa cerca de 15,86 toneladas e tem como objetivo fornecer a proteção adequada a trabalhadores e ao meio ambiente durante as operações.
Benefícios e difusão Fabiana Lainetti aponta “a necessidade de atendimento à legislação, cada vez mais restritiva, e o impacto positivo na imagem pública do empreendimento, por meio das iniciativas de combate à poluição”, como motivos da difusão que vem ocorrendo com a prática de tratamento de efluentes industriais. Ela também destaca as vantagens econômicas, dentre elas a possibilidade de reutilização da água obtida do tratamento dos efluentes nos próprios processos das empresas. Já o tratamento in situ dos efluentes, realizado através de unidades móveis, oferece o benefício adicional da eliminação dos custos e dos problemas legais relacionados com o transporte de resíduos. O tratamento de efluentes industriais por feixe de elétrons vem se disseminando em diversos países, com destaque para a Coreia do Sul e, recentemente, a China. Este país conta com plantas de irradiação instaladas em complexos têxteis, para reutilização da água tratada no processo produtivo de tecidos. Já no Brasil, diversos fatores ainda dificultam sua utilização em escala comercial, dentre eles: a falta de difusão da
tecnologia, de produtores nacionais do equipamento, do alto capital inicial de investimento e a falta de infraestrutura nas indústrias para suportar um equipamento nas dimensoes requeridas. No entanto, segundo Wilson Calvo, em outras áreas como nas indústrias de alimentos, eletrônicas e embalagens, verifica-se nos últimos anos uma ampliação das aplicações dos aceleradores de elétrons, principalmente os de baixa energia (ver Múltiplas aplicações).
Opções de tratamento As águas residuárias industriais podem conter uma variedade de poluentes, incluindo pesticidas, materiais orgânicos, produtos químicos e tintas, que podem ser prejudiciais à saúde e, em alguns casos, muito tóxicos. Seu tratamento permite eliminar ou minimizar a quantidade de contaminantes, buscando evitar a contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Diferentes tipos de contaminantes precisam de diferentes métodos de tratamento. A utilização da radiação, combinada com outros métodos, pode eliminar alguns contaminantes e decompor mais facilmente a matéria orgânica (facilitando o tratamento), necessitando de menos produtos químicos e diminuindo os poluentes secundários A velocidade do processo de tratamento e maior se comparada aos métodos tradicionais de tratamento, gerando melhor custo-benefício no tratamento de grandes volumes de efluentes. O objetivo do uso da radiação ionizante, por meio de feixe de elétrons de média e alta energias, no tratamento de efluentes industriais é degradar os compostos orgânicos, diminuindo os impactos ambientais. “Ela pode ser utilizada de forma efetiva para o tratamento de águas residuais, destruindo compostos orgânicos e biológicos, minimizando os contaminantes e removendo as cores e odores indesejáveis”, garante Fabiana Lainetti. BRASIL NUCLEAR
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Múltiplas aplicações Laboratório móvel A unidade móvel funciona como um laboratório móvel, que tem equipamentos analíticos, e também como um acelerador de elétrons. Essa unidade vai até à empresa, que pode ser uma fabricante de tintas ou petroquímica, por exemplo, coleta efluentes, analisa e, por fim, aplica elétrons que vão degradar compostos orgânicos. “Com isso, conseguimos mostrar para a indústria que existem tecnologias alternativas ao invés de uma incineração ou de um processo convencional”, explica o superintendente do Ipen, Wilson Calvo. Segundo ele, na prestação de serviços tecnológicos de irradiação às indústrias químicas, petroquímicas e de saneamento, a parceria com a empresa Truckvan é fundamental. Dentre os processos de tratamento de efluentes industriais contendo compostos orgânicos, destacam-se: Adsorção em carvão ativo e resinas, Biodegradação (aeróbia e anaeróbia), Incineração e Processo de oxidação avançada. A irradiação por feixe de elétrons utilizada na Unidade Móvel é classificada entre as tecnologias de oxidação avançada. “A grande vantagem é que, no tratamento por radiação ionizante (feixe de elétrons), o processo é homogêneo sem efeito de superfície ou concentração, aplicável tanto para substratos polares quanto não polares, e os efeitos de degradação independem do pH do efluente industrial. Nesse sentido, a tecnologia propicia um amplo espectro de utilização no mercado, tais como, no tratamento de efluentes provenientes das indústrias têxteis, farmacêuticas, químicas, petroquímicas, de fábricas de papel e celulose, de aterros sanitários, de estações de tratamento de efluentes domésticos e industriais, dentre outros”, explica Wilson Calvo. “Há estudos no Ipen e internacionais em diversos setores produtivos, os quais comprovam que o tratamento por radiação ionizante oferece benefícios tecnológicos e econômicos em relação às técnicas convencionais de tratamento de poluentes recalcitrantes”, completa.
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O acelerador utilizado na unidade móvel produz elétrons a partir de um filamento de tungstênio aquecido, do qual são extraídos e acelerados em um tubo em vácuo, com campo elétrico aplicado, até atingirem uma bobina de varredura, gerando um feixe de elétrons, o qual possui energia para atravessar uma janela de titânio e interagir com a superfície do produto a ser processado. O equipamento é alimentado por energia elétrica, e os elétrons acelerados até atingirem a energia de 700.000 elétron-Volts (700 keV), o que faz com que o efluente industrial ou doméstico não se torne radioativo, após o tratamento. Os aceleradores de partículas são utilizados na medicina e também em diversas aplicações industriais. Um dos usos mais disseminados no mundo inteiro é a produção de diferentes tipos de radioisótopos, para o diagnóstico e tratamento de doenças. Os feixes de elétrons também podem ser utilizados para reduzir a carga microbiana em plaquetas sanguíneas humanas e em enxertos de pele. E, ainda, para radioesterilizar produtos, incluindo os de uso médico. Na indústria de alimentos, os feixes de elétrons podem eliminar bactérias patogênicas, tais como Escherichia coli, Salmonela e Listeria, insetos e retardar o processo germinativo em produtos vegetais, aumentando a sua vida de prateleira. Eles também são utilizados em sistemas de segurança, gerando raios X e imagens de diferentes tipos de materiais para a inspeção de cargas densas. Outra aplicação industrial é a modificação de polímeros (a exemplo dos fios e cabos elétricos que são irradiados no Ipen) e outros materiais, na indústria eletrônica e na preservação do meio ambiente, através do tratamento de gases tóxicos de combustão, lodos e águas residuais.
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Prêmio Inédito na AL O projeto da Unidade Móvel foi contemplado com várias premiações, destacando-se o Prêmio “Nuclear Technologies for better life”, concedido pela estatal russa Rosatom, em 2019. Fabiana de Faria Lainetti foi contemplada com o prêmio Master Student Paper Award, na International Meeting on Radiation Processing (IMRP 2019), em Estrasburgo, França. O Ipen foi o primeiro representante latino-americano a conquistar o prêmio, com o projeto “Multipurpose Gamma Irradiation and Mobile Unit with na Electron Beam Accelerator Developed in Brazil” (Irradiador Gama Multipropósito e Unidade Móvel com Acelerador de Feixe de Elétrons Desenvolvido no Brasil). O Instituto concorreu com outros 10 países, com projetos da iniciativa privada como a General Electric (GE) e instituições como a Universidade da California.
Implementado pelo CTR, o projeto refere-se a duas importantes estruturas para a aplicação da tecnologia nuclear: um irradiador de uso contínuo de Cobalto-60 e um acelerador de feixe de elétrons para tratamento de efluentes industriais. O irradiador de uso contínuo de Cobalto-60 está em atividade desde 2003 e é prioritariamente utilizado para as necessidades do Instituto, como a esterilização dos recipientes usados para transporte e uso de radiofármacos, esterilização de rações e outros insumos do biotério e irradiações de suporte às pesquisas desenvolvidas no Ipen e nas instituições parceiras. Além disso, promove aplicações pioneiras no Brasil, como a desinfestação e a contenção da proliferação de microrganismos em bens culturais e obras de arte por meio da radiação ionizante do Co60.
No meio ambiente, na agricultura... Umas das primeiras unidades móveis de irradiação por feixe de elétrons foi construída nos EUA, na década de 1990, por pesquisadores da Universidade de Miami, na Florida. O acelerador foi desenvolvido em parceria com a empresa High Voltage Environmental Applications Inc. e possuia 500 keV de energia e 20 kW de potência. Atualmente, seu uso foi adotado por países como EUA, China, Alemanha e Coreia, entre outros. Um exemplo é a unidade móvel construída pela coreana Eb-Tech para o tratamento de efluentes. Outro exemplo é a unidade construída pela empresa alemã Evonta, especializada em tratamento de sementes, junto com o Instituto Fraunhofer, que projeta, constrói e comercializa aceleradores de elétrons, como solução para prolongar a vida útil e qualidade das sementes, por meio da desinfecção superficial por irradiacao direta. O tratamento oferece um meio rápido, seguro e ecológico de se livrar dos patógenos das plantas utilizando feixe de elétrons. (Fonte: Fabiana Lainetti)
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Aplicação
Tecnologia nuclear avança na exploração do espaço
O RTG garantirá energia para o robô por mais de 14 anos, como acontece com o Curiosity, o irmão anterior que pousou em 2012 e que também usa um RTG. Robôs anteriores dependiam da energia solar, mas o Perseverance usa uma bateria nuclear. “Sem esse dispositivo nuclear para geração de energia elétrica, o Perseverance não seria possível”, afirma Lamartine Nogueira Frutuoso Guimarães especialista em sistemas nucleares espaciais do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), localizado em São José dos Campos (SP). “A câmera de altíssima resolução, os sistemas de análise, o microfone que coleta sons do planeta, tudo que o Perseverance levou para Marte é novo. Inclusive o helicóptero Ingenuity, que nunca foi utilizado antes. E a bateria nuclear é fundamental para o funcionamento de todos esses equipamentos fantásticos”, completa. A fonte térmica do RTG é o óxido de plutônio-238, que é obtido a partir do Neptunio-237 irradiado. Apesar da semelhança do nome, esse material não é o mesmo utilizado para a fabricação da bomba atômica, este é o plutônio-239. O plutônio-238 possui uma meia-vida de 87,75 anos e o calor gerado pelo seu decaimento alfa é convertido em energia elétrica. “Essa bateria continuará produzindo 100 watts elétricos por muito mais tempo do que a vida planejada do Perseverance”, garante Guimarães. Capazes de produzir calor e eletricidade sob as condições adversas no espaço profundo por décadas sem qualquer manutenção, as baterias de radioisótopos têm alimentado missões espaciais dos EUA desde a década de 1970, quando equiparam as Pioneer 10 e Pioneer 11. Alguns RTGs lançados décadas atrás ainda estão em operação hoje, como a missão Voyager 1 e 2, que começou em 1977. O RTG também integra a New Horizon, a mais recente sonda americana de exploração do sistema solar e a primeira sonda humana a visitar o
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Foto: Nasa
Perseverance, o mais novo robô da Nasa, pousou na superfície de Marte em 18 de fevereiro, com a missão de explorar o terreno rochoso do planeta vermelho, extrair oxigênio do solo, lançar um helicóptero e cavar em busca de amostras que eventualmente retornarão à Terra. A energia para a realização de todas essas experiências é fornecida por um gerador termoelétrico de radioisótopo (RTG, na sigla em inglês), essencialmente uma bateria nuclear que carrega 10,6 libras (4,8 kg) de óxido de plutônio.
planeta Plutão, em 2015. “O RTG possibilitou não só a exploração do sistema solar como contribuirá para todas as outras que estão no roadmap da Nasa”, diz Guimarães. Enquanto os RTGs já são uma realidade com experiência consolidada, a indústria aeroespacial deposita grande esperança nos micros reatores nucleares, que oferecem 100 vezes mais potência elétrica. Lamartine Guimarães informa que há vários sistemas sendo desenhados e construídos, com destaque para o projeto do KiloPower, um micro reator de 10 mil watts elétricos, ou 10 quilowatts elétricos, destinado à geração de energia na Lua ou até mesmo em Marte. Ele também cita o reator que está sendo projetado pela empresa General Atomic para o projeto do sistema de propulsão térmica nuclear (NTP) da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (Darpa). O NTP deverá ser a base para futuras operações no espaço.
Plutônio garantido O Departamento de Energia dos EUA (DOE), que desenvolve sistemas de energia para a Nasa em seus laboratórios nacionais – Idaho, Los Alamos e Oak Ridge – está aumentando a produção de plutônio-238. A produção doméstica de plutônio nos EUA, que tinha sido suspensa no final da década de 1980, foi restabelecida em 2015, através da parceria do DOE com a Nasa. O robô Perseverance é o segundo sistema de energia a usar plutônio-238 criado pelos laboratórios do DOE em mais de 30 anos. Segundo o Office of Nuclear Energy, essa parceria garantirá um amplo suprimento de plutônio doméstico para apoiar as futuras missões espaciais1. 1 https://www.energy.gov/ne/articles/idaho-national-lab-starts-second-plutonium-target-campaign-nasa-space-missions
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Nova ANSN desmembra competências da Cnen Foi criada, através da Medida Provisória (MP) 1.049, de 14 de maio de 2021, a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), novo órgão responsável pela regulação do setor. Com a criação da ANSN, as competências da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) serão desmembradas entre os dois órgãos. A ANSN ficará com a regulação, fiscalização e licenciamento, e a Cnen conduzirá os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento do setor. A iniciativa é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) juntamente com o Ministério de Minas e Energia (MME), como ministério participante, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), como coordenador do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Sipron), e o Ministério da Economia. Criada a autarquia federal possui patrimônio próprio, autonomia administrativa, técnica e financeira, e atuará no território nacional, sem aumento de despesa, por cisão da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). As duas autarquias vão usar orçamento, estrutura e pessoal atualmente previstos para a Cnen. Seguindo a competência de cada órgão, a Cnen continuará vinculada ao MCTI e a ANSN deverá ser vinculada ao MME.
“A criação da ANSN é uma demanda de mais de três décadas. O objetivo é separar a pesquisa da regulação e, com isso, atender exigências de gestão e também obter mais celeridade nessas atividades”, afirma Ney Zanella dos Santos, assessor especial de gestão estratégica, que conduz a governança nuclear no MME. Apontada como uma necessidade pela Agência Internacional de Energia Atômica, a criação da ANSN irá organizar o setor nuclear conforme as exigências internacionais de governança. Além disso, permitirá que os setores de pesquisa e desenvolvimento e regulação atuem de forma separada com interlocutores distintos, trazendo benefícios para ambas as autarquias. “Os desafios são grandes porque o setor nuclear atravessa um período de muitas inovações tecnológicas e de expansão na geração de energia sem emissão. Os setores de mineração, radiação de alimentos e de saúde (medicamentos e tratamentos) serão muito beneficiados com esse novo modelo de gestão, que segue os países desenvolvidos”, completa Zanella. Fonte: MME
Inac 2021 será totalmente virtual A International Nuclear Atlantic Conference - Inac 2021 (Conferência Internacional Nuclear do Atlântico) será realizada de 29 de novembro a 02 de dezembro de 2021, em formato totalmente virtual. Promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) a cada dois anos, a Inac é o maior e mais tradicional evento de energia nuclear da América Latina. Em sua 10ª edição, a Conferência terá como tema “Nuclear Technology: Reducing our carbon footprint and increasing quality of life” (“Tecnologia Nuclear: Menos impacto do carbono no planeta e mais qualidade de vida”), que terá como objetivo discutir a energia nuclear como fonte geradora de demanda industrial, emprego e desenvolvimento socioeconômico e contribui para os objetivos ambientais dos países e regiões em que atua. Os interessados em apresentar trabalhos na Inac 2021 terão até o dia 20 de agosto para submeter eletronicamente os resumos. Com modelo ainda a ser definido, o participante deverá enviar um resumo expandido escrito imprescindivelmente em inglês em duas a quatro páginas, contendo seções compactas: introdução, metodologia, resultados, discussão, agradecimentos e referências. Com relação à apresentação do trabalho no evento, não haverá exposição oral, mas por meio de vídeos previamente gravados. O trabalho completo, por sua vez, será posteriormente submetido para a publicação “Brazilian Journal of Radiation Sciences”.
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Energia nuclear integra o American Jobs Plan O American Jobs Plan, plano trilionário de investimentos em empregos, infraestrutura e energia limpa anunciado em abril pelo presidente dos EUA, Joseph Biden, para impulsionar a economia do país inclui incentivos para o desenvolvimento de reatores nucleares avançados e, também, para o uso mais eficiente dos reatores em operação. O plano prevê investimentos anuais de cerca de 1% do PIB, durante oito anos, nas áreas de infraestrutura, pesquisa básica e ciência, cadeias de abastecimento e saúde. No total, o plano investirá cerca de US $ 2 trilhões nesta década. Um informativo da Casa Branca delineando o American Jobs Plan observa que, após décadas de desinvestimento, as estradas, pontes e sistemas de água dos EUA estão “desmoronando” e que a rede elétrica também está vulnerável a interrupções catastróficas. O informativo informa que um estudo do Departamento de Energia dos EUA (DOE) descobriu que cortes de energia custam anualmente à economia americana até US$ 70 bilhões.
Em seu plano, Biden pede autorização ao Congresso para investir US$ 100 bilhões na construção de um sistema de transmissão de energia elétrica mais robusto e no estímulo à modernização energética. Também será implantado um Padrão de Eficiência Energética e Eletricidade Limpa para, entre outras medidas, alavancar a energia de baixo carbono fornecida por fontes “como nuclear e energia hidrelétrica”. O plano vai investir US$ 15 bilhões em projetos de captura e armazenamento de carbono, hidrogênio, reatores nucleares avançados, separações de elementos de terras raras, vento offshore flutuante, biocombustíveis/bioprodutos, computação quântica e veículos elétricos. E também US$ 46 bilhões, através do poder de compra federal, em produtos derivados dessas pesquisas. Entidades do setor nuclear como a Nuclear Innovation Alliance (NIA) e a American Nuclear Society apoiaram o American Jobs Plan.
Nuclear deve ser considerada investimento sustentável na UE A Comissão Europeia decidiu incluir a energia nuclear num Ato Delegado complementar ao Regulamento de Taxonomia da União Europeia sobre finanças sustentáveis, que decidirá quais atividades econômicas podem ser rotuladas como um investimento sustentável na União Europeia (EU). A decisão, anunciada em 21 de abril, se baseia no relatório do Joint Research Centre (JRC) confirmando que a energia nuclear é tão sustentável quanto outras fontes de energia em conformidade com a taxonomia. O JRC tem como missão apoiar as políticas da UE com provas independentes ao longo de todo o ciclo político. A Comissão Europeia está tentando concluir sua taxonomia de finanças sustentáveis, que decidirá quais atividades econômicas podem ser rotuladas como um investimento sustentável na UE, com base no cumprimento de critérios ambientais estritos. Os especialistas do JRC avaliaram todo o ciclo de vida da energia nuclear, considerando os seus efeitos em termos de impactos ambientais existentes e potenciais em todos os objetivos, com ênfase na gestão dos resíduos nucleares e radioativos gerados. O relatório afirma que essas análises não revelaram nenhuma evidência científica de que a energia nuclear causa mais danos à saúde humana ou ao meio ambiente do que outras tecnologias de produção de eletricidade já incluídas na taxonomia como atividades de apoio à mitigação das mudanças climáticas, como petróleo,
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gás e energias renováveis. No que diz respeito aos efeitos não radiológicos, “os impactos da energia nuclear são em sua maioria comparáveis com a hidrelétrica e as renováveis”, diz o relatório. Já em relação aos resíduos nucleares, o relatório considera apropriado e seguro seu armazenamento em formações geológicas profundas, citando países como França e Finlândia em estágios avançados de desenvolvimento de tais locais. A adoção do Ato Delegado complementar deverá ocorrer após a revisão das conclusões do JRC por dois grupos de peritos. Em carta enviada à Comissão Europeia, sete líderes de paíes integrantes da UE, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, destacaram que a energia nuclear é a maior fonte única de baixo carbono na UE (26,7% em 2019), à frente da hídrica (12,3%), eólica (13,3%), solar (4,4%) e outras (0,5%). Na carta, afirmaram que o desenvolvimento do setor nuclear na UE garante a continuidade da implantação das energias renováveis, c om níveis muito mais elevados de penetração, além de gerar um número considerável de empregos estáveis e de qualidade, que serão importantes na recessão pós-Covid. Fonte: World Nuclear News
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Foto: Eletronuclear
Diretor da AIEA conhece setor nuclear brasileiro O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, esteve no Brasil, na segunda semana de julho. Em sua passagem pelo país, ele participou das comemorações dos 30 anos da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc) e cumpriu uma intensa agenda de reuniões e visitas a entidades do setor nuclear. No estado do Rio de Janeiro, Rafael Grossi esteve na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), da Eletronuclear, em Angra dos Reis, na Base Naval de Itaguaí, e também na Indústrias Nucleares do Brasil, em Resende. Durante as visitas, o diretor foi acompanhado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Na CNAA, o diretor conheceu a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS) e o canteiro de obras da usina Angra 3. Os diretores da Eletronuclear também mostraram a Grossi como está sendo feita a preservação dos equipamentos que serão utilizados na construção de Angra 3. O diretor da AIEA demonstrou apoio à construção da terceira usina nuclear da CNAAA. E destacou que a manutenção dos equipamentos de Angra 3 está sendo feita com qualidade e segurança. “Acredito que a retomada das obras de Angra 3 é simbólica. Sabemos que a operação em Angra é muito eficiente. As peças estão bem conservadas e existe o know-how necessário até para outras usinas nucleares”. Na INB, Grossi visitou a Usina de Enriquecimento de Urânio, onde conheceu um pouco mais sobre o ciclo do combustível nuclear e as etapas de implantação das cascatas de enriquecimento de urânio. “Nessa minha primeira visita à América Latina, eu tinha que passar na INB, que tem essa fase de enriquecimento de urânio que é muito importante,
Diretor da AIEA inspeciona o Hi-Storm da UAS da Eletronuclear
e que tem uma visão clara, sólida e previsível das necessidades do Plano Nacional de Energia. Uma visita curta, mas extraordinária”, destacou o diretor. No dia 19, o diretor-geral da AIEA participou do evento comemorativo pelo 30º aniversário da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc). A cerimônia aconteceu no Palácio do Itamaraty, também no Rio de Janeiro. A Abacc foi criada em 1991 para atuar como uma agência binacional de salvaguardas, a partir de um acordo entre Brasil e Argentina para o uso exclusivamente pacífico da tecnologia nuclear. As atividades de verificação, como as inspeções, são implementadas pela AIEA na Argentina e no Brasil por meio de um acordo que envolve os dois países, a AIEA e a Abacc. Após a solenidade, Grossi assinou um acordo técnico com a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan). Rafael Mariano Grossi é diplomata argentino e assumiu o cargo de diretor- geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em 3 de dezembro de 2019, sendo o primeiro latino-americano a chefiar a organização. Fontes: Eletronuclear e INB
Gestora lança fundo de investimento em urânio Um fundo de investimento que aplica 100% do seu patrimônio em empresas relacionadas à extração de urânio foi lançado pela gestora Vitreo. Segundo a gestora, o fundo é voltado para todos os públicos, tem aplicação mínima de R$ 1 mil, taxa de administração de 0,25% ao ano e não tem taxa de performance. Por meio do fundo, o investidor aplica, indiretamente, em empresas como a Cameco, uma das maiores fornecedoras de urânio do mundo, responsável por quase 10% da produção mundial do metal. O urânio pode ganhar mais relevância no mercado com a maior demanda pela produção de energia nuclear, já que ele é usado em sua produção. A energia nuclear já é responsável por 10% da eletricidade do planeta e tem como vantagem ser menos poluente que as demais, explica George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo. Fonte: Valor Investe
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Webconferência 2021
De 29|11 até 02|12
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XXII ENFIR
XV ENAN
VII ENIN
IX JR. POSTER
X ExpoINAC
Tecnologia
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Menos impacto do carbono no planeta e mais qualidade de vida
Site oficial da INAC 2021
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