Revista Os Anglicanos 001

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Os anglicanos

www.igrejaanglicana.com.br | nº 0 | Abril de 2012

Entenda o papel do Livro de Oração Comum na Liturgia Anglicana

Entrevista com + Josep Rossello, atual Bispo primaz da Igreja Anglicana Reformada

Quem é o Arcebispo Rowan Willians? Saiba acerca de sua renúncia ao Arcebispado de Cantuária. O que significa ser um Eleito de Deus? 10


Editorial/Expediente

Acreditamos no Brasil... O mundo precisa desesperadamente de boas novas. As manchetes da atualidade estão carregadas de más notícias — as guerras assolam o globo; a fome devasta países inteiros; catástrofes ambientais e desastres naturais, como terremotos, secas e inundações matam milhares de pessoas; a pobreza mantém nações inteiras sob o seu poder brutal; os crimes violentos e a corrupção aumentam, não obstante, os melhores esforços do homem para lidar contra isso — a litania de tragédias, sofrimentos e más notícias são implacáveis. Acidentes e moléstias matam milhares todos os dias. Tragédias, acidentes, suicídios e assassinatos lideram as causas de morte entre os adolescentes, jovens e adultos nas nações desenvolvidas. O abuso da droga e do álcool e a promiscuidade sexual são desmedidos, espalhando a praga da destruição em matrimónios, lares e vidas.Talvez, você esteja se perguntando agora mesmo: "Porque vemos tanta tristeza, dor e sofrimento à nossa volta? Aonde nos leva tudo isto? Porque o mundo está em tão precária situação? Com todas estas más notícias, há realmente alguma esperança para o futuro da humanidade? Há mais de 2.000 anos, Jesus (Deus feito homem) veio à Terra e trouxe a mensagem de esperança e vida eterna. A Sua mensagem, chamada de “o evangelho”, quer dizer “boa­nova” — a verdadeira boa notícia que o mundo tão desesperadamente precisa. O que é exatamente esta boa nova — este evangelho — que Jesus Cristo pregou? É somente uma história admirável acerca do nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo? Certamente isto é parte fundamental da boa notícia do plano de Deus para a humanidade (Marcos 1:1). Mas há muito mais nesta mensagem. É a mensagem do Reino prometido e profetizado no Antigo Testamento, começando a ser visível em meio nosso. O Reino de Deus foi pregado por Cristo e por Ele foi estabelecido. A Igreja tem a missão de ser a embaixadora deste Reino que verá sua plenitude quando o Rei voltar com autoridade para julgar os vivos e mortos. Como levamos adiante esta missão? seguimos fazendo a missão de Deus ­ que Jesus fez na sua vida aqui na Terra ­ como o seu corpo vivo. Deste modo, destruímos as potestades, libertamos os cativos, saramos os enfermos e proclamamos o ano aceitável do Senhor. Aleluia!!! Esta revista deseja ser um ponte para que nossa família Anglicana Reformada possa comunicar­se; informar­se; compartilhar a vida comum e estar mais consciente sobre a vida na Igreja Anglicana Reformada do Brasil. Que Deus continue nos abençoando. Revmo. +Josep M. Rossello­Ferrer

Bispo Primaz da Igreja Anglicana Reformada

Organizador Josep Rossello Design e Diagramação Renan Almeida Escritores Fabio Farias Marcelo Lemos Josep Rossello Entrevistador (es) ARPAR Auxiliar final Armando Marcos

Endereço: Rua Ryoiti Yassuda, 221

Bairro Andrade, Pindamonhangaba­ SP

CEP: 12410­020

Telefone:(12) 9600­2069

e­mail:anglicanabrasil@gmail.com http://igrejaanglicana.com.br/

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Sumário

COLUNA >> O liturgista Livro de Oração Comum: Tão estranho e tão amigo ­ Pág. 4 COLUNA >> Catecismo Sobre o Catecismo de Heildeberg (Parte I) ­ Pág. 7 COLUNA >> Eventos Anglicanos Reformados, mais que virtuais. ­ Pág. 9 COLUNA >> Entrevista Entrevista com o Revmo. + Josep Rossello ­ Pág. 11 COLUNA >> Mensagem Episcopal O povo eleito de Deus ­ Pág. 17 COLUNA >> Anglicanismo no mundo Arcebispo da Cantuária renuncia ­ Pág. 21

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Coluna >> O Liturgista

Livro de Oração Comum: Tão estranho e tão amigo

Por Marcelo Lemos

Não esqueço a estranheza de ter diante de mim, quando pela primeira vez, as páginas do Livro de Oração Comum. Havia já participado de alguns cultos ricos em liturgia, como nas poucas vezes que visitei a Catedral Evangélica de São Paulo (Presbiteriana Independente) ou nas ocasionais visitas a Igreja Romana. Mas, elas todas foram um participar da experiência dos outros, não algo especialmente pessoal e significativo.Porém, desde minha primeira leitura no LOC, havia o desejo nascente de fazer parte da espiritualidade ali contida – o que, provavelmente, alimentou a estranheza mencionada é que almejava aquela espiritualidade e seria desonesto não admitir o choque daquele primeiro encontro. Permitam­me falar da estranheza, mesmo aquele primeito contato sido precedido de um bom preparo intelectual. Mas devo dizer que não foi um choque movido por preconceitos, do tipo que vê na liturgia formal as garras 'demoniacas' de um Vaticano satanizado e onipresente #risos. Um choque muito mais estético que teológico, eu diria. Foi como ter passado a vida inteira ouvindo música popular para, de repente, deparar­se com a Nona Sinfonia de Beethowen. Leva certo tempo para os ouvidos se adaptarem. Foi um me sentir manco, impotente, e despreparado para assumir aquele novo compromisso. Sim, compromisso, e não apenas uma curiosidade intelectual feito Capitu. Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

Essa inicial estranheza – aqui abro um parentese ­ me tornou um pouco mais paciente com aquele cristão mediano que nutre algum tipo de preconceito para com o Anglicanismo ou para com a Liturgia Reformada. Há preconceituosos desonestos ou ainda os intransigentes. Com estes já comprei algumas brigas. Contudo, há um certo preconceito, ou até mesmo um certo receio sobre a matéria, e que é movido pelo medo do desconhecido. Não é triste saber que justo o Anglicanismo, primeira Igreja Reformada a colocar os pés em solo Brasileiro, seja hoje tão estranho e distante a nossa gente? É verdade que aportamos por aqui, nos tempos do Império, sem autorização para evangelizar os brasileiros, mas isso é coisa do passado, não? "Que Igreja é essa?", é a pergunta atônita que quase invariávelmente recebo ao ser questionado sobre o que somos. Há, claro, também aqueles que simplesmente respondem com um "Que legal!", a fim, suspeito, de não deixar transparecer que nada sabem do que estou falando. Desse ou daquele jeito, essa ou aquela dúvida, sempre uma oportunidade. Fecha. Tais fatos implicam, também, e ainda mais importante, em certa reflexão. Desde o início tive medo de não dar conta do desafio de me tornar uma pessoa "litúrgica", e claro, de educar uma Igreja a ser "litúrgica". Culpa daquela estranheza que falei no inicio. Mas não só. Some­se também certa preocupação pastoral. Por onde começar? Como lidar com os preconceitos e objeções que poderiam 4


Coluna >> O Liturgista "Tive medo de não dar conta do desafio de me tornar uma pessoa "litúrgica""

surgir? Honestamente, nossa experiência com a Comunidade Anglicana Carisma é algo tão recente que ainda estou a procura de tais respostas. Não obstante, julgo que alguns princípios teológicos gerais me auxiliarão nessa busca. Primeiro, que meu objetivo como pastor de almas não é "anglicanizar" as pessoas, mas evangelizá­las. “Que é isso de anglicanismo?” não é mero convite à História, mas ao coração do Evangelho. Segundo, que não existe antídoto melhor contra o preconceito, e a ignorância, que uma adequada educação; neste caso, estou especificamente pensando em catequeze. Acredito que tais princípios me ajudarão a não me apresentar como portador de novidades, ou de modismos, e me permitirá pesar corretamente as prioridades. Evidente que sonhamos uma Igreja tão apegada a espiritualidade anglicana quanto seja possível, porém, muito mais desejável é uma Igreja espiritualmente saudável. Longe de nós insinuar que relegamos o LOC a segundo plano, tornando­o projeto paralelo ou inferior. Ressalte­se isto: que desde nossa primeira reunião temos sido acompanhados por este amigo ao mesmo tempo tão estranho e tão útil. Nossa geração valoriza aquilo que é imediato. Somos a geração do descartável. Nada fazemos que tenha a intenção de durar, e isso inclui, de certo modo, nosso cristianismo e nossa adoração. Será que alguém imagina que nossas inovações doutrinárias e liturgicas durarão até a próxima década? E nossos discos de ouro? Há, no entanto, na espiritualidade anglicana, sintetizada no Livro de Oração Comum, um quê de continuidade e de pertença, que nos remete a algo que existe desde séculos antes de nós, e sobreviverá muito além de nosso tempo. Talves sejam sentimentos que escapem daqueles ainda não tocados pela catolicidade da fé cristã, e desprovidos da devida conciência histórica do Legado que a Igreja a nós confiou, mas fica feito o convite! Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

Quando oramos o Pai Nosso ou recitamos alguma confissão de fé histórica, como o Símbolo dos Apóstolos, ou o Credo Niceno, somos convidados a lembrar que centenas de gerações fizeram a mesma coisa antes de nós, século após século, e que milhares de cristãos deram suas vidas por essa Fé. Ainda que seja salutar adorarmos a Deus embalados ao som de uma canção moderna, é na alma milenar de hinos como Kyrie Eleison, e outros tão importantes quanto, que nos fazemos uma só voz com a Igreja de sempre. Não inventamos o cristianismo, nem somos o "último biscoito do pacote" ­ apenas continuamos, apenas pertencemos a algo muito superior a nós e ao nosso tempo Há, além disso, na liturgia anglicana ­ e também em outras liturgias reformadas ­ um grande senso de "ordem e descência". Tudo está em seu devido lugar, e desempenha um papel claro e específico ­ o que nos remete a outro inegável benefício: a saber, que tudo é feito para a edificação do corpo de Cristo. Vamos pensar nas Coletas. Elas não são vãs repetições, como alguns podem suspeitar, antes, são verdadeiras mensagens bíblicas, além de confissões apaixonadas de nossa fé em Deus e em Cristo. Que tal nossos sermões? Bem, aqui há grande espaço para a habilidade ou

inabilidade de cada um, no entanto, há pouco lugar para modismos e inovações, e quase lugar algum para o improviso irresponsável que alguns pregadores tanto praticam. Isso acontece porque, de acordo com o LOC, a Igreja segue um calendário anual, que estabelece um roteiro de leituras e doutrinas bíblicas que deve ser seguido pelos pastores – havendo, de certo, liberdade para que o 5


Coluna >> O Liturgista pastor local ‘fuja’ do Lecionário devido a alguma necessidade pastoral específica. E aquela história de fechar os olhos e escolher a primeira passagem que der na telha? Pode esquecer, querido pregador: uma vez que se torne parte desta espiritualidade histórica e reformada, isso não mais te pertencerá. Ordem, decência, e edificação. É disso que se trata a liturgia prescrita pelo nosso Livro de Oração Comum. Não é demais repetir que somos uma comunidade nascente, e portanto, sem um grande curriculo ou experiência para compartilhar.Trata­se, tão somente, do modo como estamos tentando lidar com aquilo que para nós é novo. Dito isto, tentaremos demonstrar alguma coisa de prático.Algo que temos julgado muito útil para nós é a reunião de Estudo Bíblico e Liturgia.Essas reuniões, que acontecem no Sábado ­ ou seja, um dia antes do Dia do Senhor ­ tem por finalidade promover o conhecimento bíblico e o apreço a liturgia reformada. É, colocando de outro modo, um evento de formação teológica. Não há nada de ‘sofisticado’ no roteiro: (1) nos reunimos para metidar nos textos bíblicos, e no tema sugerido pelo Lecionário; (2) aproveitando para ensaiar e analisar, histórica e teológicamente, os elementos liturgicos que farão parte do culto no dia seguinte. Outra utilidade desta reunião é escolher e ensaiar os hinos que serão entoados durante o culto, além de adequar a escolha ao tema liturgico apropriado. Quanto aos temas bíblicos estudados, já planejamos fazer algo dedicado ao estudo dos 39 Artigo da Religião, e, depois, a algum dos grandes catecismos da Fé Reformada (o Catecismo de Heidelberg parece a escolha natural). Por hora os estudos são baseados nas leituras prescritas no Calendário Liturgico. É aqui, nessas reuniões de Estudo Bíblico e Liturgia, que temos a maior oportunidade de manter a prioridade sobre a evangelização. Isto porque, para muitos dos que já estão conosco, bem como dos que Deus conduzirá a nós, não apenas a liturgia anglicana é novidade, como também as verdades centrais da Fé Cristã, especialmente as Doutrinas da Graça. Que perigo seria investir em algo que poderia tornar­se apenas ritual belo, rico, plástico, mas de pouco valor espiritual! Sim, quão lamentável seria, pois não há na Fé Reformada lugar para ritualismo, ainda que exista lugar para a liturgia. Vale ler os ensinos do Bipos J. C. Ryle Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

sobre a matéria. Espero, sinceramente, que estas observações sirvam para desmistificar um pouco o tema, especiamente para aqueles irmãos que, como eu, estão chegando de alguma tradição cristã mais despojada, ou acostumados a uma liturgia mais informal ou mesmo 'de improviso'. Sei que há entre os autores desta revista gente com muito mais autoridade sobre o assunto, e com muito mais experiência a respeito. Certamente há. Almejo, porém, ter dado minha pequena contribuição. Se acontecer a você o mesmo estranhamento que me acometeu, lembre­se: o Livro de Oração Comum pode nos fazer sentir como estranhos no ninho, mas em pouco tempo poderá se revelar um valioso tesouro de espiritualidade, teologia e fé. Marcelo Lemos, Bacharel em Teologia, pastor da Comunidade Anglicana Carisma, editor do blog teológico Olhar Reformado, casado e pai de dois filhos. [www.olharreformado.com.br]

Você sabia? ? ?

1. O LOC 1662 é o culto reformado mais usado no mundo e por mais tempo sem que tenha ocorrido interrupções em seu uso. 2. Foi traduzido para mais de 100 línguas no mundo 3.Existem oito versões de livros de oração, em português, inspirados no LOC 1662 4. LOC 1662 foi usado por primeira vez em terra brasileiras no inicio do século XIX. 5. 80% do LOC é cópia integral ou parcial de textos das Escrituras.

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Coluna >> Catecismo

Sobre o Catecismo de Heildeberg (Parte I) Por Alderi Mattos

Uma das principais características da Reforma Protestante do século XVI foi a produção de um grande número de declarações doutrinárias na forma de confissões e catecismos. Estas declarações resultaram tanto de necessidades teológicas quanto pastorais, à medida em que os novos grupos definiam a sua identidade em um complexo ambiente religioso, cultural, social e político. Mark Noll observa que esse fenômeno é típico da Reforma, uma vez que o termo "confissão", em seu sentido mais comum, designa as declarações formais da fé cristã escritas especialmente por protestantes, desde o início do seu movimento. Embora tais documentos normalmente sejam classificados como confissões e catecismos, é importante recordar que os catecismos são também confissões de fé. A distinção é formal, já que os catecismos são simplesmente "declarações de fé escritas na forma de perguntas e respostas que na época da Reforma freqüentemente serviram aos mesmos propósitos que as confissões formais." O ramo reformado do protestantismo foi pródigo na produção de tais documentos, particularmente no período decorrido entre o primeiro catecismo de João Calvino, Instrução na Fé (1537), e os catecismos de Westminster (1648). Uma das mais extraordinárias declarações de fé escritas naquele período foi o famoso Catecismo de Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

Heidelberg, também conhecido como o Heidelberger o mais importante documento confessional da Igreja Reformada Alemã. O objetivo do presente artigo é refletir sobre a singularidade desse documento, tanto no que diz respeito às circunstâncias históricas que conduziram à sua preparação, quanto no que se refere à natureza excepcional do seu conteúdo e da sua contribuição à igreja. Conforme destaca Karl Barth, o Catecismo de Heidelberg resultou das necessidades imediatas da vida de uma igreja em particular.Ao final, todavia, ele se tornou a mais ecumênica das confissões de fé protestantes. Esse estudo irá abordar os antecedentes históricos do catecismo, os dois homens mais intimamente associados com a sua preparação, suas principais características e sua influência duradoura. Antecedentes Históricos Foi especialmente na década de 1560 que o protestantismo reformado penetrou na Renânia.(4) Enquanto o luteranismo debatia­se com divisões internas, a tradição reformada suíça fez avanços em estados anteriormente luteranos. Os líderes do movimento eram alemães que haviam sido inspirados por Zurique e Genebra, mas que estabeleceram os seus próprios padrões. Para alguns, este era o próximo passo a partir do Filipismo (luteranismo moderado) em direção a uma ampla restruturação do culto e da disciplina. 7


Coluna >> Catecismo Este movimento algumas vezes tem sido denominado "a segunda reforma". Nas cidades­estado do Baixo Reno, o movimento teve início através de pressões congregacionais. Ainda na década de 1540, refugiados holandeses começaram a chegar ao Baixo Reno e esse influxo de imigrantes tornar­se­ ia gigantesco após a repressão promovida pelo Duque de Alba em 1567. Em outras áreas, as mudanças religiosas foram promovidas pelos governantes. A reforma em Estrasburgo, sob a liderança de Bucer (morto em 1551), já havia manifestado algumas características reformadas. Calvino havia trabalhado ali (1538­41) e era conhecido de muitos naquela região. Na década de 1550 Estrasburgo tornou­se fortemente luterana e anti­calvinista. O Palatinado Renano ou Baixo Palatinado foi o primeiro e o mais importante estado a envolver­se com o novo movimento. Lutero havia visitado Heidelberg em 1518; naquela época, Bucer, então um jovem dominicano, abraçara a causa protestante. Heidelberg adotou o luteranismo sob Frederico II em 1545­46. Todavia, durante a maior parte dos vinte anos seguintes, uma série de conflitos manteve a vida da cidade em turbulência. Sob o eleitor Oto Henrique (1556­59), o Baixo Palatinado adotou um luteranismo moderado que tolerava o zuinglianismo e o calvinismo. No entanto, ao final da década de 1550 houve um grave conflito na Universidade de Heidelberg, no qual extremistas luteranos atacaram aqueles de convicção melanchtoniana e reformada e introduziram formas de culto vistas como idolátricas pelos seus oponentes. A intolerância anti­calvinista desagradou a Oto Henrique e a seu sucessor Frederico III (1559­76). O eleitor Frederico ficou particularmente incomodado com uma amarga controvérsia a respeito da Ceia do Senhor ocorrida em 1560. Um pastor luterano e um diácono calvinista discutiram violentamente diante dos cidadãos reunidos para uma celebração dominical da Ceia do Senhor. Frederico baniu os dois antagonistas e tentou achar um caminho melhor. Ele era um homem sinceramente religioso e inteligente que havia sido convertido ao luteranismo através da sua esposa. Ele familiarizou­se com os pontos controvertidos de Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

culto e doutrina. Seu desprazer em relação a cerimônias elaboradas fizeram­no inclinar­se em direção ao calvinismo. Era cada vez mais difícil manter o luteranismo liberal do seu predecessor, agora que Melanchton estava morto (abril de 1560). Depois de um debate de cinco dias realizado em Heidelberg (junho de 1560), no qual as doutrinas calvinistas foram apresentadas de maneira convincente, Frederico começou a tomar providências no sentido de adotar o calvinismo. Em agosto, os religiosos que não quiseram aceitar a confissão Augustana Variata (1541) tiveram de retirar­se. Em janeiro de 1561, uma conferência de príncipes realizada em Naumburg separou luteranos e calvinistas de modo ainda mais dramático, e o eleitor passou a promover o calvinismo nos seus domínios. Na realidade, tratava­se de um calvinismo marcado por um espírito melanchtoniano. Frederico precisava de teólogos que pudessem trabalhar juntos. Ele encontrou uma dupla notável em Zacarias Ursino e Gaspar Oleviano, talentosos teólogos de orientação suíça, ambos com menos de 30 anos. Ursino foi nomeado professor de teologia ele havia iniciado a sua educação teológica com Melanchton, mas também estudara pessoalmente com Calvino. Oleviano era um protestante reformado francês que também havia estudado com Calvino e apreciava os escritos de Melanchton. Ele tornou­se o pastor da principal igreja de Heidelberg. Noll comenta que "juntos eles formaram uma equipe de rara compatibilidade (...) Ambos estavam ansiosos para trabalhar juntos a fim de apresentar uma frente protestante comum. E ambos tinham o dom de discernimento pastoral." Seus nomes ficariam permanentemente associados ao produto mais influente do movimento reformado alemão o Catecismo de Heidelberg, publicado a 19 de janeiro de 1563. Alderi S. de Matos, coordenador da área de Teologia Histórica do Centro Presbiteriano de Pós­ Graduação Andrew Jumper, em São Paulo. Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil e Historiador Oficial desta denominação

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Coluna >> Eventos

Anglicanos Anglicanos Reformados, Reformados, Mais Mais que que virtuais virtuais

Por Marcelo Lemos

palestras a respeito da nossa vocação a Embaixadores de Cristo no mundo, ou, em outras palavras, como tornamos presente o Reino do Cristo. Temática sempre atual, e hoje, mais

É certo que existe elevada nobreza no agradecimento de Tim Challies por não ter sido criado nessa época onde todos os lares tem acesso a Internet, mas, apesar de seus males, não podemos negar as boas dádivas da Era Digital. Em 5 de Dezembro de 2011, minha mãe ficou com o coração apertado: minha esposa e eu saímos numa viagem ao interior de São Paulo para conhecer alguns amigos “virtuais”. Isso ela nos confessou depois, já aliviada pela notícia de que a experiência se revelava uma das melhores que já experimentamos. O medo de minha mãe tinha lá sua razão de ser ­ ainda que um tanto Conferência Reformada Missão e Vida ­ Entrada dos Ministros exagerado – afinal, nem tudo que no local de culto reluz na Internet é ouro. Três dias depois, saíamos, Meire e eu, revigorados da necessária que nunca, tendo em vista a cultura "Conferência Reformada Missão e Vida", Edição secularizada que nos cerca e ameaça intimidar­nos, como se o Cristianismo fosse uma cultura marginal 2011. Revigorados pelo tema central do retiro, que e mendigasse o simples direito de existir. Para minha esposa e eu, outro ponto girou em torno do Reino de Deus, o que, para um Teonomista feito eu, é assunto tão doce quanto o marcante da Conferência foi a confraternização. De Céu, por se tratar, guardada a devida distância, de certo modo, nosso contentamento se explica pelo sua antecipação. Houve, assim, pregações e isolamento que enfrentamos durante alguns meses, Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

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Coluna >> Eventos depois da nossa saída do Pentecostalismo. Não que "desigrejados". E, mesmo entre aqueles “com tenhamos sido isolados por outros, mas que há um Igreja”, o desejo por mudanças não se desfaz, e a processo natural neste sentido, um momento de militância apologética tem não apenas feito transição, e que nunca acontece sem alguma dor. barulho, mas se feito ouvir Brasil afora – nem Encontramos, pessoalmente, muitos irmãos que já sempre no tom mais adequado, um pecado que nós conhecíamos no mundo “virtual”. E também outros, mesmos confessamos. O resumo, e o importante vindos dos Estados Unidos e Europa, dos quais aqui é isto: que estamos num momento decisivo da nada sabíamos até ali. Sim, querido leitor, ao História, e é tempo de “não perder o bonde”, e fazer contrário do que ocorre com muita gente que se a diferença em nosso tempo. É tempo de vivermo o diz anglicano por aí, os AnglicanosReformados são Cristianismo Puro e Simples. Precisamos de muito mais que uma preparo. É tempo de armas Igreja “virtual”. De fato, intelectuais e espirituais, se é somos uma Igreja de que podemos falar delas verdade, com pessoas como categorias diferentes reais, comunidades (acho que não). É tempo de reais, e uma missão real pregar, viver e promover o e bíblica: evangelizar Reino. 160 milhões de Um dos preletores, Bispo brasileiros! Francisco Bruzo, iniciou a Chesterton Conferência citando as escreveu que, por mais palavras do Cristo sobre a ruim fosse a mira de um escassez dos trabalhadores. arqueiro, o simples fato Infelizmente, quando não do mesmo aceitar um faltam, deixam a desejar, e duelo, era razão por isso Deus tem distribuído bastante para estimá­lo . dons aos homens, ­ para que o Que o arqueiro tenha Corpo seja edificado. Foi, a boa mira, claro!, mas Conferência 2011, valiosa tenha ainda mais oportunidade para corrigir a aperfeiçoada a garra, a mira, e fortalecer o espírito. disposição para a luta, o Que venham outras, e que compromisso dos estejamos cada vez mais valores e dos ideais. Da esquerda para direita, Bispo Francisco dispostos e sensíveis à Palavra Buzzo e Bispo Josep Rossello. Não queria o celebre de Deus. Somente assim, filósofo cristão negar a importância do preparo, mas poderemos fazer a diferença em nossa Geração. o valor daquelas qualidade morais que fazem o homem entregar­se inteiramente, sem timidez, à sua missão. E, se essas qualidades morais podem vir Marcelo Lemos, Bacharel em Teologia, aliadas às qualidades do saber, tanto melhor. É essa pastor da Comunidade Anglicana Carisma, duplicidade que nos mostrou buscar a Igreja editor do blog teológico Olhar Reformado, Anglicana Reformada, oferecendo aos seus casado e pai de dois filhos. oportunidades de formação teológica e edificação [www.olharreformado.com.br] espiritual. Um fenômeno interessante em nossos dias, especialmente na Internet, é a crescente insatisfação das pessoas com o sistema “evangélico” predominante. Algumas pesquisas parecem sugerir uma onda cada vez maior de cristãos Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

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Coluna >> Entrevista

Entrevista com o Revmo. + Josep Rossello

Por ARPAR*

ARPAR ­ Quem é Josep Rossello? uma análise sobre você por você mesmo. + Josep Rossello ­ Esta é sem dúvida uma pergunta difícil de responder. Falar sobre quem é Josep Rossello vai depender muito do ângulo do qual falamos, isto é, se é como marido, homem, filho ou bispo. Suponho que eu sou fruto do meu tempo e da minha caminhada. Não em vão, se pensarmos na providência de Deus, somos o que somos tão somente pela vontade de Deus e pela obra do Espírito Santo em nossa vida. Portanto, posso dizer que eu nasci em uma pequena cidade da costa mediterrânea chamada Benissa, na Valencia. Toda a cidade era católica romana, sendo que estive envolvido com a Igreja Católica Romana até meus 18 anos, em média. Nesse tempo, também estive envolvido com a política até ocorrer minha conversão a Cristo. Foi nesse momento que tive que escolher entre seguir a Cristo ou seguir meus desejos de estar envolvido em politica. Minha escolha diante deste dilema, todos já conhecem. ARPAR ­ Como se deu sua conversão? + Josep Rossello ­ Minha conversão é fruto de uma série de eventos ocorridos em minha vida. Primeiramente, como já disse, eu era muito envolvido com o meio político. Eu era secretário Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

geral da seção de jovens do partido no qual eu militava. As coisas começaram a não dar certo, havendo brigas intensas entre os diferentes setores . Eu comecei a me desiludir com a politica, porque aqueles que alegavam desejar melhorar o mundo, na verdade estavam lutando por poder. Ao mesmo tempo, devido ao meu envolvimento na politica, meus estudos estavam sendo prejudicados e minha relação com meus pais se tornou ruim. Então, chegou o momento no qual eu me vi em uma espécie de encruzilhada. Uma noite, eu me encontrava cansado de tudo e me sentindo sozinho,foi quando eu vi um folheto das "Testemunhos de Jeová" e fiquei irado contra Deus. Comecei a falar palavrões para Ele e quanto mais eu falava, pior me sentia. Em um determinado momento, eu me pus de joelho e clamei a Deus dizendo: “Deus, se você existe, eu preciso saber, pois minha vida não faz mais sentido. Preciso de Ti, preciso de Sua ajuda". Naquele momento, senti uma paz que nunca havia sentido antes. E, logo, ouvi uma voz que dizia: "visite uma igreja protestante.” Eu comecei a rir, afinal de contas estávamos na Espanha, lugar onde não havia igrejas protestantes, pensei. MAS obedeci. Dirigi­ me às páginas amarelas e encontrei, na lista, uma igreja protestante. Fui ao culto e cheguei em meio a Ceia do Senhor e ouvi a mesma voz dizer: “bem­ vindo à casa filho.” Eu descobri mais tarde que o primeiro bispo 11


Coluna >> Entrevista anglicano da Espanha havia nascido em minha cidade no século XIX, no entanto, nunca ouvira falar dele. ARPAR ­ O que o levou a optar por uma igreja de tradição litúrgica , histórica e de governo episcopal? Foi coincidência ou foi algo muito pensado? + Josep Rossello ­ Após minha conversão, comecei a participar de uma igreja batista, no entanto nunca cheguei a ser membro da mesma. Haviam muitos jovens e eu, na época, contava apenas 20 anos de idade. Dois anos depois conhecí as Assembleias de Deus e comecei a visitá­la de vez em quando, mas também não me tornei membro dela. Deste modo, eu louvava tanto a igreja batista como as assembleias. Cada uma delas tinha uma coisa que eu gostava. Quando me senti chamado por Deus, permaneci dois anos sem aceitar isto, ainda que todos reconhecessem tal chamado. Finalmente, aceitei o chamado de Deus e O questionei onde Ele desejava que eu me tornasse pastor. E, de repente, Deus me guiou até a IERE (Igreja Espanhola Reformada Episcopal ­ Comunhão Anglicana) onde fui recebido e, logo depois, encaminhado ao seminário.

seminário teológico anglicano aberto à atuação do Espírito Santo. Se soma a isto, o fato de eu estar vindo de uma profunda experiência carismatica e bíblica depois de morar por quase um ano na comunidade Lee Abbey. Aquele foi um lugar que serviu para aprofundar minhas crenças, no entanto deparei­me também com companheiros que eram liberais ou anglo­católicos. Isto foi um choque, afinal tudo era novo para mim. O sistema inglês de ensino faz com que tudo seja possível de ser defendido, desde que e sempre que hajam argumentos. Assim, percebi que meus argumentos, às vezes, eram fracos. E que algumas

ARPAR ­ Nos fale um pouco sobre sua vida durante os anos de seminário. + Josep Rossello ­ Estudar em um seminário foi uma mistura de aprendizados e, ao mesmo tempo, tive que enfrentar os meus temores e preconceitos. Eu tive um tempo difícil devido a minhas expectativas acerca do que seria o meu tempo no Trinity College, Bristol. Isto causou um intenso conflito pessoal, juntamente com uma crise teológica e de identidade, mas o que aprendi lá foi essencial para minha vida e ministério. E Deus usou aquele tempo para formar meu caráter." ARPAR ­ Como, exatamente, seu caráter foi forjado no seminário? você teve professores liberais ou eram todos ortodoxos? + Josep Rossello ­ Trinity College é um Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

ideias não estavam corretas. Foi um tempo de aprendizado muito grande. Meus professores eram ortodoxos e, alguns deles, são extensamente reconhecidos em suas áreas. ARPAR ­ Você mencionou que teve uma intensa experiência carismática e bíblica na comunidade Lee Abbey e disse que o Trinity 12


Coluna >> Entrevista College é aberto à atuação do Espírito. Diante disto, questiono: como sua teologia foi influenciada pelo movimento carismático?

mentores e falo com eles todos os meses. Isso me tem ajudado a enfrentar as decepções de forma corajosa.

+ Josep Rossello ­ O movimento carismático não influenciou minha teologia, foi mais influente na minha espiritualidade e ministério prático. O movimento me ajudou a perceber que nem tudo tinha sua resposta na razão e nos posicionamentos teológicas. Havia questões além de nossa capacidade de compreensão. O movimento carismático ajudou a sarar feridas emocionais, espirituais e a quebrar comportamentos e pecados que não tinha conseguido vencer até àquele momento. Aprendi que meu valor e quem eu sou, de fato, somente está em Cristo, e em Cristo somente.

ARPAR ­ Poderia nos falar um pouco mais acerca do seu ministério na Espanha, afinal, temos conhecimento de que você chegou a ser bispo de 1200 congregações quando estava na Igreja Evangélica Episcopal (IEVE). Como isto ocorreu?

ARPAR ­ Como se deu a sua sagração ao episcopado? Houve decepções nessa sua caminhada enquanto bispo? + Josep Rossello ­ Após ser ordenado como presbítero no final de 2002, o meu bispo, Peter Riola, me mandou trabalhar desenvolvendo a obra na Espanha e América Latina. Naquele tempo, havia uma sociedade missionária chamada de Amigos de Deus. Então, comecei a trabalhar e em menos de dez meses, eu tinha seis ou sete paróquias incorporadas na diocese. Então, o bispo me fez cônego missionário, contudo as congregações no Brasil, Colômbia, Porto Rico, Espanha, etc. Escreveram ao bispo Peter Riola, dizendo que precisavam de um bispo em localidade mais próxima e, disseram ainda, que desejavam que eu fosse o bispo missionário para estes países. A Casa de Bispos da Província do Bom Pastor da CIEE aprovou por unanimidade minha eleição ao episcopado, após orar e ouvir o que as pessoas tinham a dizer a meu respeito. Assim, 14 meses após ser ordenado presbítero, fui sagrado bispo e recebi a licença como bispo missionário. Minha diocese missionaria começou com 10­12 paróquias e missões em 2003.Tive muitas decepções e alegrias. Também, cometi muitos erros e acertos, mas sobretudo aprendi a ter pessoas que fossem mentores espirituais em minha vida. Atualmente, tenho vários Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

+ Josep Rossello ­ Bem, meu trabalho surgiu de forma “acidental” na Espanha. Eu não tinha planos de plantar igrejas na Espanha, mas quando me dei conta, já estava envolvido na plantação da primeira igreja evangélica na minha cidade natal e plantando outra no sul da Espanha. Terminei plantando 4 igrejas evangélicas na Espanha em cidades onde antes não haviam igrejas. Destas, infelizmente, apenas duas ainda existem. Também, ajudei a abrir um seminário teológico para formar pastores ingleses que residiam na Espanha. Na Espanha, moram quase um milhão de britânicos e chegamos a ter mais de dois milhões de turistas britânicos visitando o pais a cada ano. Não conheço os dados estatísticos mais recentes. A IEVE , como diocese missionária em 2003, chegou a ter mais de 1200 congregações. Eu viajava muito visitando as igrejas e trabalhava de perto com os líderes dos distritos eclesiásticos. Alguns deles eram verdadeiros “apóstolos” e supervisionavam mais de 50­60 congregações. Chegamos a estar em Estaria o Bispo aguardando o cafezinho? 32 países. Isso me ajudou a ter uma visão global e ampla da Igreja de Jesus Cristo nos dias de hoje. ARPAR ­ Como se deu o surgimento da Igreja Anglicana Reformada? O que o levou a optar pelo Brasil como país de residência e onde cumpriria seu papel enquanto Bispo Missionário? + Josep Rossello ­ Igreja Anglicana Reformada era o nome da paróquia de Bragança 13


Coluna >> Entrevista Paulista que está sob a liderança do nosso amado, Bispo Francisco Buzzo. Então, a IAR foi por muito tempo apenas uma paroquia. Mesmo que o Bispo Buzzo já tivesse um desejo de ver uma igreja anglicana regida pelos princípios e doutrinas Reformadas. Eu vir a morar no Brasil quando casei com minha esposa, Patrice Rossello. Oramos, analisamos os prós e contras, e optamos pelo Brasil. Era indiferente para mim, se eu moraria na Espanha ou no Brasil, pois eu já não estava pastoreando nenhuma igreja. As paróquias que eu plantei já tinham pastores que as liderassem. Portanto, eu viajava e daria no mesmo viver no Brasil ou na Espanha.

encontra. Não acho que exista um único modelo para ser considerados, mas devemos considerar diversos a depender de onde estamos. Agora, os princípios que eu gosto de promover nas paróquias é o discipulado, não só de conhecimento, mas de vida. Capacitação ministerial. Creio que todos os cristãos são ministros e que Deus tem um chamado na vida de cada um, ainda que nem todos são ministros ordenados ou chamados a servir como líderes na igreja. Depois da capacitação, vem o ministério. Isto requer liberdade e responsabilidades, Liberdade para fazer o que Deus chama e responsabilidade para reconhecer os próprios erros.

ARPAR ­ A dinâmica de uma paróquia anglicana é diferente das demais igrejas protestantes? Quais princípios e modelos você cultiva e promove na sua paróquia?

ARPAR ­ Muitos consideram o anglicanismo como sendo o meio do caminho entre a Reforma de Genebra e o catolicismo de Roma. Seria isso fruto de uma incompreensão da história da igreja? Qual seria a melhor definição para “Igreja Anglicana”?

+ Josep Rossello ­ Bem, eu não tenho certeza, se a dinâmica de uma paroquia anglicana é diferente da dinâmica de igrejas luteranas, presbiterianas ou outras semelhantes. Uma caraterísticas da IAR é nosso desejo de continuar plantando igrejas, fazer discípulos e formando líderes. Portanto, eu acho que a missão de Deus deve ser expressa na vida e visão da paróquia. Se desejamos fazer isto corretamente, então precisamos considerar a comunidade onde está

inserida a paróquia e ver como a mesma pode ser um agente de transformação do Reino de Deus no contexto social, cultural e econômico em que se Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

+ Josep Rossello ­ Pois é, isso é uma grande verdade. Todo anglicano tem ouvido em alguma vez a famosa acusação de que somos católicos disfarçados. Eu já foi católico romano, e não tenho nenhum desejo de voltar a Igreja de Roma. A ideia do Anglicanismo, como via media, é um conceito moderno que usa um termo antigo. A via media é entre os reformadores radicais e Roma, deste modo o Anglicanismo é uma via media como é os Presbiterianos ou Reformados. Os Reformadores Ingleses do século 16 e princípios do século 17 tinham uma grande relação com Genebra. Richard Hooker, usado pelos anglo­ católicos para defender algumas das suas teses absurdas, falou da Igreja de Roma como sendo a sinagoga de satanás. Os Anglicanos estiveram presente no Sínodo de Dort, e sua participação foi muito importante para o processo de tomar decisões entre os participantes. A Igreja Anglicana é a Igreja (Reformada) de Inglaterra e as igrejas que surgiram dela ou aquelas que seguem o formulário Anglicano (LOC 1662, Ordinário, 39 Artigos e o Catecismo). 14


Coluna >> Entrevista ARPAR ­ Como você vê a situação do anglicanismo no mundo? + Josep Rossello ­ O Anglicanismo vive um momento complexo neste momento. Contudo, eu o vejo com grande esperança. Na Nigéria, há 20 milhões de Anglicanos em um só país. Os liberais estão morrendo pouco a pouco e os anglo­católicos estão cada dia mais fracos e alguns estão indo para Roma, graças a Deus. Agora, o Anglicanismo como conhecemos hoje, vai mudar. As estruturas atuais, tanto dentro como fora da Comunhão Anglicana, não servem mais. Portanto, será interessante ver o que vai acontecer com GAFCON e acerca das decisões que tem tomado. ARPAR ­ Como você vê a situação do anglicanismo no Brasil? O que está errado? + Josep Rossello ­ Bem, eu sou estrangeiro, portanto minhas análises podem estar erradas em muitos aspetos e considerações. O principal problema é que a igreja anglicana que tem existido por mais tempo no Brasil está fortemente influenciada pela Igreja Episcopal. Por outro lado, temos muitas igrejas (quase)virtuais que ordenam clero com a mesma rapidez que eu faço um café expresso. Permita que eu dê um exemplo. Há pouco tempo, alguém foi disciplinado e desafiliado na IAR por questões muitos sérias, hoje já aparece como presbítero em umas destas igrejas anglicanas tipicamente brasileiras. Estamos falando de uma desafiliação que ocorreu há somente algumas semanas. O bispo atual dele nem teve tempo para conhecê­lo direito. Ao mesmo tempo, temos muitas pessoas que confundem anglicanismo com catolicismo romano. Então, Há muitas pessoas que desejam ser sacerdotes e buscam o caminho fácil, ou querem casal e ser sacerdotes. Então, terminam vindo ao anglicanismo, pensando que sabem o que é o Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

Anglicanismo. Precisamos mudar a situação atual. A IAR está trabalhando para mudar isto. Redescobrir as raízes históricas do Anglicanismo é fundamental para que se alcance o objetivo desejado. Afinal, somos a igreja de Jesus Cristo, como foi desenvolvida na Inglaterra e reformada dos erros medievais e das falsas doutrinas. Hoje, estas falsas doutrinas estão novamente entre os anglicanos brasileiros. ARPAR ­ Acredita que há a possibilidade de uma igreja de tradição avançar em um país que é fortemente influenciado pela visão neopentecostal? Como enxergas o futuro do neopentecostalismo no Brasil? + Josep Rossello ­ Com certeza, mas o alvo não é que uma tradição ou denominação avance, mas fazer visível o Reino de Deus no Brasil. A mudança começa com uns poucos prontos a dar tudo para mudar a realidade vigente. Os neopentecostais não tem muito futuro porque só respondem alguns problemas temporais e materia e Deus já está resolvendo tais problemas através de um economia cada dia mais forte no Brasil. Isto faz com que as pessoas estudem mais e busquem respostas às situações que enfrentam a cada dia. As igrejas neopentecostais não tem respostas ou as respostas não continuarão satisfazendo às pessoas. Precisamos ter uma visão global para entender o que Deus está fazendo além do nosso contexto atual. ARPAR ­ Há alguns instantes você falou acerca do GAFCON. O que seria isso? + Josep Rossello ­ O GAFCON é uma reunião dos anglicanos ortodoxos de redor do mundo. Eles representam possivelmente o 80% dos 15


Coluna >> Entrevista Anglicanos no mundo ou, talvez, uma porcentagem maior. As estruturas atuais da Comunhão Anglicana não funcionam mais. A Comunhão Anglicana não vai poder seguir como está. Isto é um fato evidente. Ao mesmo tempo, os anglicanos que estão fora da Comunhão Anglicana estão vendo que o futuro é se unire, com aqueles que pensam de igual modo ou abrir pontes de dialogo. ARPAR ­ Explique para os nossos leitores qual a diferença entre Missão, Congregação e Igreja. + Josep Rossello ­ Bem, estes são termos que usamos para definir por meio de palavras alguns conceitos cristãos. Uma congregação é qualquer grupo de pessoas organizado como tal na IAR. Uma missão é um grupo mais organizado, com um mínimo de membros. A Igreja é considerada no sentido de toda a Igreja de Cristo, não apenas a IAR. ARPAR ­ Como você explicaria a rápida expansão da IAR, principalmente tratando­se de uma vertente da Fé Cristã vista com olhos desconfiados por parte da população brasileira? + Josep Rossello ­ Eu acho que existe um interesse grande de redescobrir o cristianismo histórico, este se expressa com muita clareza no Anglicanismo. Infelizmente, o anglicanismo no Brasil tem cometido diversos erros em decorrência da influência da Igreja Episcopal dos USA. A IAR representa os valores que tem de melhor no Anglicanismo. Estamos enfocado na missão e não em estruturas e, finalmente, somos reformados sem sentir vergonha disso. Não somos perfeitos, ainda estamos aprendendo muitas coisas. Estamos aprendendo com Deus, com outros irmãos e uns com os outros, em humildade de coração. Finalmente, acreditamos nas pessoas e no seu chamado. Aqui há lugar para todos os que desejam servir a Deus sem buscar títulos, nem honras, nem glórias para si, pois todas essas coisas pertencem a Deus tão somente.

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futuro?

ARPAR ­ Qual sua visão para a IAR no

+ Josep Rossello ­ Olha, eu acho que Deus falo a visão dEle para a IAR na última conferência. Meu desejo é servir a Deus seguindo esta visão. Então, o leitor pode perguntar, qual foi esta visão? O Rev Ken, dos EUA, compartilhou uma visão que Deus deu para ele acerca da IAR. Ele falou que estava orando pela IAR, quando viu que estava sobre um monte e começou a escutar tambores entoando louvores a Deus. E observou uma grande multidão louvando, multidão que preenchiam a planície na frente do monte. Então, tudo ficou escuro e viu pequenas fogueiras espalhadas por todo o território do Brasil e em cada local onde havia fogo, haviam grupos pequenos ou maiores de pessoas louvando a Deus. Então, ele falou que isto era o que Deus nos chamava a ser e fazer a favor do Reino. Aquelas fogueiras eram as congregações locais da IAR espalhadas por todo o Brasil, louvando a Deus, pregando o Evangelho e sendo luz . ARPAR ­ Deixe uma mensagem final para os leitores da revista "Os anglicanos". + Josep Rossello ­ Gostaria de agradecer esta oportunidade de servir com tantos homens e mulheres de Deus, como o Bispo Francisco e sua esposa que tem sido um exemplo e modelo de servos entregues a Deus e à Sua causa. O Brasil precisa que sejamos discípulos radicais, que estejamos preocupados em glorificar e honrar a Deus por meio das nossas vidas, famílias, empregos, igrejas e comunidades. *ARPAR: Ministerio de ensino da Igreja Anglicana Reformada, sendo composto por Renan Almeida e Fabio Farias. Dedica­se à escrita de textos teológicos. www.pelasescrituras.blogspot.com

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Coluna >> Mensagem Episcopal

O Povo Eleito de Deus

Por Revmo. + Josep Rossello

“Pois os que conheceu por antecipação, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, a eles também chamou; e os que chamou, a eles também justificou; e os que justificou, a eles também glorificou” (Romanos 8.29­30) Esta é uma das passagens que mais dão conforto aos Cristãos que conhecem de perto às dificuldades que enfrentam na tentativa de viverem uma vida em santidade. Não é fácil viver seguindo os mandamentos de Deus. O fato interessante é que nenhuma doutrina tem causado tantas divisões, divergências e conflitos na Igreja dos últimos cinco séculos, como tem feito a doutrina da predestinação. Esta doutrina esteve no centro da Reforma Protestante do século XVI. De fato, o Sínodo de Dort tratou esta questão com atenção. Interessante é saber que podemos considerar o Sínodo de Dort como que sendo o sínodo protestante mais universal, haja visto que teve representantes de diversos países, inclusive uma delegação anglicana. Um dos erros que tem sido cometidos por certos setores do “calvinismo” é a chamada dupla predestinação. Infelizmente, este ensino tem levado muitos ao erro, sendo poucos os anglicanos que têm Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

considerado válida a doutrina da dupla predestinação. Contudo, neste Textos para Meditação artigo trataremos sobre a Predestinação no Salmos 33:12 sentido clássico do Provérbios 16:4 Anglicanismo, pois, João 6:44 possivelmente, muitos João 15:16 dos argumentos contrá­ Romanos 8:30‐39 rios à predestinação I Coríntios 1:9 são provenientes dos Efésios 1:3‐14 ensinos desenvolvidos II Tessalonicenses 2:3‐15 pelos defensores da versão dupla desta doutrina. Tendo isto em mente, desejo explicar a doutrina original para que possamos ter clareza acerca daquilo que estamos falando. A primeira coisa que se deve fazer, com total normalidade, é estudar e concluir se esta doutrina realmente tem fundamento bíblico e se a mesma pode ser realmente ensinada a partir das Escrituras. É necessário também frisar que nossa salvação não está ligada ao fato de crermos ou não nesta doutrina, antes está fundamentada somente em crer na obra redentora de Cristo e na ação regeneradora do Espírito Santo. Na sua forma mais básica, a doutrina da 17


Coluna >> Mensagem Episcopal predestinação afirma que Deus nos elegeu desde o principio da criação do mundo para sermos parte do seu povo eleito. Isto foi uma decisão de Deus, não nossa. De fato, tal decisão foi tomada antes que nós tivéssemos nascido ou mesmo antes que nossos pais tivessem vindo à luz. A importância desta doutrina reside no ensino de que nossa vida está nas mãos de Deus.Ele é o Deus Soberano que governa o universo e nos conhece como nenhuma outra pessoa pode nos conhecer. A predestinação, portanto, traz grande consolo ao coração do povo de Deus e grande desespero para aqueles que não formam parte da Igreja de Cristo. Por tal motivo, todas as denominações históricas tem estudado e ensinado esta doutrina de uma forma ou de outra. Inclusive, um dos primeiros autores a escrever amplamente sobre a predestinação e a eleição para a salvação foi Santo Agostinho, Bispo de Hipona. Nas Escrituras encontramos constantes referência à eleição e à predestinação do povo de Deus: (Mt 24:22, 31; Mc 13:20, 27; Rm 8:33; Rm 9:11; Rm 11:5­7, 28; Ef 1:11; Cl 3:12; 1 Ts 1:4; 1 Tm 5:21; 2 Tm 2:10; Tt 1:1; 1 Pd 1:1­2; 1 Pd 2:9; 2 Pd 1:10). Mas, infelizmente, isto não tem impedido que hajam dissenções a respeito do significado desta doutrina. Não deveríamos estar surpresos com este fato, porque só entendemos os mistérios de Deus em parte e, muitas vezes, pensamos e entendemos as Escrituras não como elas são, mas como o mundo tem influenciado nossa forma de pensar. Contudo, isto não pode ser um argumento para justificar uma posição passiva diante da doutrina da predestinação. Afinal, é uma questão difícil, mas que precisamos entender. Os 39 Artigos da Religião descrevem a Doutrina forma: "A predestinação para a vida é o eterno propósito de Deus, pelo qual (antes de lançados os fundamentos do mundo) tem constantemente decretado por seu conselho, a nós oculto, livrar da maldição e condenação os que elegeu em Cristo Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

dentre o gênero humano, e conduzi­los por Cristo à salvação eterna, como vasos feitos para a honra. Por isso os que se acham dotados de um tão excelente benefício de Deus, são chamados segundo o propósito de Deus, por seu Espírito operando em tempo devido; pela graça obedecem à vocação; são justificados gratuitamente; são feitos filhos de Deus por adoção; são criados conforme à imagem de Seu Unigênito Filho Jesus Cristo; vivem religiosamente em boas obras, e enfim chegam, pela misericórdia de Deus à felicidade eterna." Assim como a pia consideração da Predestinação, e da nossa Eleição em Cristo, é cheia de um doce, suave, e inexplicável conforto para as pessoas devotas, e os que sentem em si mesmos a operação do Espírito de Cristo, mortificando as obras da carne, e seus membros terrenos, e levantando o seu pensamento às coisas altas e celestiais, não só porque muito estabelece e confirma a sua fé na salvação eterna que hão de gozar por meio de Cristo, mas porque veemente acende o seu amor para com Deus; assim para as pessoas curiosas e carnais, destituídas do Espírito de Cristo, o ter de contínuo diante dos seus olhos a sentença da Predestinação de Deus, é um princípio muitíssimo perigoso, por onde o Diabo as arrasta ao desespero, ou a que vivam numa segurança de vida impuríssima, não menos perigosa que a desesperação. Além disso devemos receber as promessas de Deus de modo que nos são geralmente propostas nas Escrituras Sagradas; e seguir em nossas obras a vontade de Deus, que nos é expressamente declarada na Sua Palavra. Esta definição é compartilhada por muitas igrejas cristãs que surgiram na Reforma ou depois da mesma. Ainda que seja expressa com declarações e/ou artigos diferentes nas suas respectivas confissões de fé. Provavelmente, uma das perguntas que o leitor tenha seja a seguinte: como Deus elege o seu povo? Aqui é onde entramos em um terreno controvertido, onde encontramos diversos 18


Coluna >> Mensagem Episcopal posicionamentos. De um lado, temos aqueles que afirmam que Deus realiza esta eleição baseando­se no seu conhecimento prévio. Em outras palavras, Deus elege para a vida eterna aquelas pessoas que Ele sabe que vão arrepender­se e ter fé em Cristo. Esta afirmação está baseada no conceito do prévio conhecimento de Deus sobre as decisões e atos humanos. Do outro lado, encontramos aqueles que se opõem a afirmação anterior e afirmam que a decisão final da salvação depende só de Deus e não de nós. Portanto, a eleição é um ato soberano de Deus, onde nós não podemos fazer nada a favor da nossa salvação. Em outras palavras, nossa predestinação não está baseada no conhecimento prévio de Deus sobre as nossas decisões, na verdade ela é um ato amoroso de Deus para com o pecador, que o Espirito Santo regenera e, deste modo, o arrependimento e profissão de fé são frutos da obra de Deus Trino nas nossas vidas. Realmente, penso que nós não podemos escolher Deus antes de sermos regenerados, porque estamos mortos espiritualmente em nosso estado natural, logo nossos desejos são materiais e não há em nós qualquer consciência espiritual. Eu não sei se o leitor já tentou evangelizar alguém que embora tenha ouvido da sua parte uma explicação muito simples acerca do evangelho, não conseguiu entender o você quis dizer. Isso ocorre porque ninguém pode acreditar em Jesus sem que o Espírito Santo nos faça nascer de novo (regeneração). Acreditamos em Cristo, porque recebemos o dom da fé e os nossos olhos foram abertos para vermos nossa real condição e, consequentemente, clamarmos a Deus em arrependimento. Eu não estou falando que não temos capacidade de escolha. Podemos escolher sim. Não estamos falando que tudo está determinado e que somos simplesmente marionetes nas mãos de Deus. A predestinação não é uma doutrina determinista ou de seleção das espécies, mas a doutrina da Eleição dos Santos de Deus. Deste modo, cremos que respondemos ao Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

chamado de Cristo, porque fomos eleitos por Deus em primeiro lugar. E não o contrario. Isto se pode observar claramente nas vidas de Jaco, de Esaú, dos apóstolos e de Paulo. Portanto, é um ato de Deus. São Paulo escreveu, “E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi­lhe dito a ela: O maior servirá o menor... "Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” (Romanos 9:10­ 12,16) Se formos sinceros como nós mesmos, veremos claramente que uma das maiores dificuldades levantadas contra a doutrina da predestinação tem sido a seguinte: porque Deus não escolhe todos para serem salvos? Possivelmente, todos nós conhecemos pessoas que amamos, mas que ainda não são cristãs. Pensamos que se oramos mais e conseguimos argumentar melhor,talvez consigamos trazer elas a Cristo. Infelizmente, isto não é certo. Nós não podemos converter, ou trazer ninguém, a Cristo. Temos dificuldades de aceitar que Deus tem misericórdia de quem ele quer ter misericórdia, e somente destes. Isto é um mistério para o qual não temos resposta. Só posso dizer que eu mereço tanto a salvação como qualquer outra pessoa; em outras palavras, ninguém merece receber a misericórdia de Deus, porque todos somos culpados pelos nossos pecados. Mas Deus tem misericórdia de nós, pecadores. Assim, somos eleitos para ser parte da Igreja de Deus. Neste momento, quero esclarecer que discordo daquelas pessoas que acreditam em uma dupla predestinação. Em outras palavras, que Deus escolhe quais vão ser salvos e quais vão ser condenados. Eu acredito que a condenação é fruto dos nossos pecados. Todos merecemos ser condenados, e só somos salvos desta condenação 19


Coluna >> Mensagem Episcopal pela graça e misericórdia de Deus. Alguns de nós recebemos a graça, outros Deus permite que sigam os desejos do seu próprio coração. Assim, recebem a justiça de Deus, enquanto os outros recebem a graça de Deus. Mesmo que nem todos se levantem frontalmente contra Deus, ninguém vai poder acusar a Deus de ser injusto, porque “que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer­me­ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.” (Romanos 9:14­15). Se formos sinceros com nós mesmos, concluiremos que nada obriga Deus a ter misericórdia de nós. Deus é soberano e tem autoridade sobre todas as coisas, a decisão final acerca de quem vai ser parte do Seu povo não é nossa e sim de Deus. Não esqueçamos nunca que a salvação vem a nós pelo perfeito sacrifício de Jesus Cristo na cruz por nós e nossos pecados. Hoje, é a obra redentora do Espirito Santo que permite sermos chamados filhos de Deus. Por este motivo, devemos ser humildes diante do fato de que Deus nos predestinou para sermos parte do povo eleito de Deus. “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11.33)

Assim também creram...

"Eu pertenço a Cristo pela redenção, mas ao mesmo tempo poso estar seguro de que pertenço ao Pai: “Tudo o que é meu é Teu”. Você confia em Cristo? Então, você é um dos eleitos de Deus. Esse sublime e profundo mistério da predestinação não tem que turbar o coração de ninguém que seja crente em Cristo. Se você crê em Cristo, então Cristo lhe redimiu, e o Pai lhe elegeu desde antes da fundação do mundo. Descansa alegre nessa firme crença: “Tudo que é meu é Teu”. (Charles Spurgeon ­ pastor Batista, 1834­ 1892 ) "Com que freqüência me encontrei com pessoas que se perturbam pela eleição!? Querem saber se são eleitas. Ninguém pode vir ao Pai, senão por Cristo; ninguém pode chegar à eleição senão pela redenção. Se você veio a Cristo, e é redimido, fique fora de toda dúvida que foi escolhido por Deus e tenha certeza que é um eleito do Pai. “Tudo o que é meu é teu”." (Charles Spurgeon ­ pastor Batista, 1834­ 1892 )

Revmo. + Josep Rossello: Bispo Primaz da Igreja Anglicana Reformada. Fez seminário no Trinity College e escreve no blog "Café com o Bispo" http://cafecomobispo.blogspot.com.br

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Coluna >> Anglicanismo no Mundo

Arcebispo da Cantuária renuncia! Por Fabio Farias

Em 16 de março foi anunciado no site oficial da Anglican Church of England e nos principais veículos da mídia britânica que a Sua Graça Rowan Willians renunciou como Arcebispo de Cantuária, abandonando a função de líder representativo da Comunhão Anglicana após 10 anos de um mandato muito questionado. Como consta no comunicado oficial, ele permanecerá como Arcebispo de Cantuária até dezembro deste ano, a fim de haver tempo hábil para eleição de um novo arcebispo. Em 2013 assumirá a direção do Magdalene College, uma das faculdades da renomada Universidade de Cambridge, já como bispo aposentado. Para a maioria dos 80 milhôes de anglicanos, em sua maioria liderados por bispos conservadores e alinhados em maior ou menor grau com a doutrina reformada de Thomas Cranmer, a liderança de Rowan Willians certamente não deixará saudades. Seu anglo­catolicismo e liberalismo eclesiológico deterioram completamente a figura do Arcebispo de Cantuária como representante mundial da Comunhão Os Anglicanos | Abril de 2012 | www.igrejaanglicana.com.br

Anglicana, lançando nos últimos anos vários movimentos e manifestações a favor de um rompimento da Comunhão ou a reformulação da mesma. Como presbiteriano que acompanha com respeito e curiosidade a cultura e as doutrinas anglicanas, também faço coro com aqueles que acreditam que Rowan Willians "já vai tarde". Elogios são dados a ele, tanto do lado dos conservadores quanto dos liberais, pelo fato de ser um homem cordial e extremamente preocupado com a unidade da Igreja. Isso é louvável. Entretanto o preço que ele pagou pela suposta unidade é inegociável: a doutrina da fé. Tentando agradar ao governo e as lideranças mais importantes da Igreja da Inglaterra, Rowan Willians defendeu em seu mandato um anglicanismo confuso, indefinível, inclusivo, que aceita todo tipo de visões e só tem em comum uma liturgia esteticamente bela e dois documentos confessionais (39 Artigos e LOC 1662) que são tidos apenas como "patrimônio histórico". Dentre seus muitos "feitos", inclui­se a ordenação de mulheres e homossexuais ao episcopado e privilégios a ala anglo­católica da igreja, em detrimento da maioria evangélica e 21


Coluna >> Anglicanismo no Mundo ortodoxa. O anglicanismo que Rowan Willians pintou para o mundo é a de uma igreja que se rende aos poderes desse mundo. Aliás, não a de uma igreja, e sim a de um museu. Graças a Deus, "seu anglicanismo" não é a realidade do anglicanismo mundial. Na África a Igreja Anglicana é responsável pela evangelização e o discipulado de milhões de filhos de Deus, tendo em seus púlpitos uma pregação ortodoxa e fiel. Também temos boas notícias de igrejas anglicanas de fé evangélica e até mesmo reformada surgindo no Cone Sul e na América do Norte (essa última, sofreu uma cisão que mostrou o poder da ortodoxia dentro do anglicanismo liberal que havia nos Estados Unidos), onde tem surgido várias novas paróquias a cada ano. São anglicanos que seguem o modelo do anglicanismo original, fundado por Thomas Cranmer: uma igreja evangélica, reformada, equilibrada, preocupada com a adoração e conhecimento das Escrituras por parte do povo, e que preserva as tradições e costumes dos cristãos de todos os séculos. Não sou anglicano, tenho minhas divergências. Mas aprendi muito com o anglicanismo sobre muitas questões da fé cristã que não são muito debatidas, como, por exemplo, a liturgia e o papel da tradição. Aprendi a reconhecer o anglicanismo como parte da "Igreja Una, Santa, Católica, e Apostólica". Portanto, desejo que o próximo Arcebispo de Cantuária esteja à altura do legado de homens como Thomas Cranmer, J.C. Ryle, Jonh Stott e J.I. Parcker, e possa representar a maioria evangélica e reformada do movimento anglicano.

† Curiosidades † 1. O Dr. J.I Parker afirmou que o Arcebispo Rowan Willians não possui a competência necessária para guiar a Igreja Anglicana de acordo com aquilo que foi disposto na Conferência de Lambeth de 1998. 2. O Dr. J.I Parker, insatisfeito com a administração do Arcebispo da Cantuária, propõe 4 temas básicos para debates dentro da Igreja Anglicana:1) Ortodoxia 2) Anglicanismo 3) Liberalismo 4) Homossexualidade 3. O Arcebispo Rowan Willians é a favor da ordenação de episcopisas em detrimento da ortodoxia seguida por um número absoluto de anglicanos e em detrimento às próprias Escrituras. 4. A Igreja Católica produziu a Constituição Anglicanorum Coetibus para receber bispos e ministros anglicanos que estivessem insatisfeitos com o liberalismo fomentado pelo Arcebispo da Cantuária e desejassem migrar para a ICAR.

Recomendado

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