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250 DOSSIER GLÓRIAS DE ALMADA
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numa série de nove entrevistas publicadas no Diário de Notícias de importância fundamental para um corpo teorético que, em outros títulos de pequena publicidade do autor, ultrapassava bem a ideia d’ “Os Painéis” e resistia, e havia de resistir, a todas as pesquisas históricas, na mitologia que, afinal, lhes cabe... poeticamente. E a surpresa de, num inquérito da revista já citada (e que então se intitulava Tetracórnio) sobre os livros do século XX que valiam a pena de ler, Nome de Guerra aparecer citado em grande maioria de votos (e pelo melhores respondentes... quantidade e qualidade...) foi, sem dúvida, quase vinte anos depois do seu insucesso, não só bom sinal para a nossa literatura, mas glorificação do autor em questão. De lamentar, porém, que a reedição logo feita pela Ática, que publicara nos anos 40 os volumes de inéditos dos quatro Pessoas, tivesse sido péssimo negócio, confessado pelos editores... Outro desaire Almada sofreu em 1956, mas que também representa paradoxalmente, uma glorificação, quando outro editor pretendeu publicar um grande estudo sobre a sua obra. O livro não foi editado (nem então escrito pelo autor contratado), por uma questão de direitos autorais das reproduções, que o pintor (justamente) exigia, mas que estavam bem fora dos hábitos e das possibilidades do mercado. E em vez de ter sido Almada o sujeito do primeiro estudo crítico e biográfico de arte, de necessária densidade, que em Portugal se editava, foi, por troca do editor, e com mesmo autor, Amadeu o beneficiário de tal situação. Diga‑se, aliás, que sem sucesso mercantil, e podendo perguntar‑me se um livro sobre Almada o teria tido então... significativo é, porém, que fosse Almada o artista escolhido
em primeira mão, para o efeito — efeito que, como se sabe, viria a verificar‑se só em 1974, após a morte do artista, embora redigido, mas que sem ele o pudesse ter lido, desde fins de 1970. Note‑se que, muito mais ligeiro de intenções e de páginas, numa colecção de “Arte Contemporânea” da Artis que desde 1957 se editou, antecipando‑lhe Vieira da Silva e Amadeo, um Almada saiu cem o N.o 14, em 1963, por atraso involuntário, outra vez por razões de direitos só resolvidas em quatro anos. Foi também primeira (e modesta) espécie da sua bibliografia passiva, pequena glória que se visse. Outra lhe fora trazida com a primeira representação teatral de obra sua, em 1949, no Teatro‑Estúdio do Salitre — mas no quadro de uma intenção de renovação dessa arte, em Lisboa com uma peça escrita em 1919, Antes de começar, que falhara hipótese de estreia no Teatro Novo do António Ferro, em 1925. Ela voltaria à cena em 1963, na Casa da Comédia do seu amigo Fernando Amado — que, ao mesmo tempo, montou a mais importante peça Deseja‑se Mulher, escrita já em 1928, em Madrid, num díptico de Tragedia de la Unidad, com o propósito registado do seu “1 + 1 = 1”. Aplauso e secreta satisfação de Almada — que, já se disse, era ele próprio teatro... Mas outra glória de Almada foi, em 1958, a selecção, por Jorge de Sena, para uma antologia de poesia do século XX, reunindo peças mais ou menos desleixadas, por razões de cultura ou de gosto, da Cena do Ódio, de 1915, que pela primeira vez era publicada por inteiro, com a sua feroz grandeza de poema maior do seu tempo modernista, finalmente publicado — e por quem, que quem escolhe garante...