Artenauta O SONHADOR QUINTO IMPÉRIO E A SUA REVELAÇÃO – A REVELAÇÃO DO MITO Ilda Maria de Oliveira Costa Silvério, aluna nº. 1303009 apresenta o excerto do seu poema ao professor Amílcar Martins, docente da unidade curricular Laboratório de Intervenção Artistica do Mestrado em Expressão Gráfica e Audiovisual da Universidade Aberta, em Agosto de 2014.
ARTENAUTA - O SONHADOR
Para justificação da proposta das imagens que apresento sobre o meu artenauta criado no mundo virtual “Second life”, tecerei algumas considerações a respeito do tema, contextualizando o meu avatar na proposta que foi criada pelo professor Amílcar Martins durante o 2º retiro doutoral em Silves, de 12 a 18 julho de 2014, do Doutoramento em Média-Arte Digital - DMAD, curso conjunto das Universidades Aberta e Algarve, que parece ter sido uma experiência muito envolvente e especial com sentidos que foram objeto de questionamentos e projetos interativos de arte da comunidade DMAD, importantes na criação, formação, pesquisa transdisciplinar e valorização de um território e de uma cultura árabe anterior (século XI) ao nascimento de Portugal (século XII) que se deseja fruir, estudar e compreender. Com sentidos de teor medieval que se integram na construção da nossa contemporaneidade plural de hoje (século XXI), desejando resgatar Silves como epicentro de uma cultura ancestral e do seu poeta-patrono Al Mutamid (1040-1095).
“Poéticas Digitais em Al Mutamid: Inovação, Poesia e Inclusão” Considero que quem esteve em Silves e os que acompanharam no Facebook estão impressionados com o encontro e a viagem ao Algarve (Al Gharb) e a Silves. A Medina Xelb conhecida como sendo cidade de filósofos e poetas, Ibn Caci, Ibn Ammâr ou o rei Al-Mu’tamide que ficaram na memória dos seus habitantes, bem como várias lendas que ainda hoje fazem parte do universo cultural e memorial do país. As ruas com casas brancas refletindo o sol e o céu azul sendo atrativos da cidade e de todo o Algarve onde o passado se junta ao presente. Silves considerada a maior área de cultivo de laranjas de Portugal com colinas cobertas de florestas de sobreiros conduzindo à Serra de Monchique e as barragens do Arade e do Funcho. i Laranjas, com as quais se enfeitam ainda hoje, os altares do presépio tradicional algarvio que conserva as raízes medievais com toda a simbologia associada. A laranja é símbolo de fecundidade, assim como outras frutas que possuem muitos caroços, com os primeiros registros vindos da China em 2000 A.C. onde a oferta de uma laranja a uma moça significava um pedido de casamento. Uma lenda grega conta que ninfas cultivavam laranjas nos Jardins das Hespérides e aqueles que provassem seus gomos se tornavam imortais. De acordo com o Feng Shui, a laranja é uma fruta associada com a prosperidade e muito usada nas festividades de Natal e Ano-Novo. No Brasil vemos muitos laranjais, por isso a fruta aqui, também é simbolo de prosperidade, fartura e riqueza. Presentear amigos e familiares com laranjas significa desejar prosperidade, pois a côr laranja desperta a criatividade e auxilia no processo de assimilação de novas ideias e atitudes positivas. Há também uma associação da laranja com o ouro - na China, a palavra laranja é "kum" que também significa ouro. Ouro é considerado tradicionalmente como o mais precioso dos metais, o brilho da sua luz é símbolo de conhecimento, sabedoria, iluminação e da perfeição absoluta, por vezes também representando um reflexo da luz celeste. O ouro-cor e o ouro-metal
puro são símbolos solares. Nesse sentido de identificação com a luz solar, o ouro também foi um dos símbolos de Jesus, envolto em auréolas douradas e vestes luminosas. No Algarve, no século XVI, surgiu um trono ou altar armado em escadaria (a cascata), no qual se coloca verduras e ramos de laranjeira, com “searinhas” germinadas, laranjas e o menino Jesus de pé, no alto, representando o presépio algarvio. No concelho de Tavira, no dia 1 de Dezembro, também se semeiam ervilhacas e grão de bico a fim de haver tempo suficiente para a germinação. As “searinhas” são lá colocadas para que o menino abençoe os cereais e as laranjas, que são frutos, símbolo de riqueza (uma importação do oriente) para que também sejam abençoadas as árvores de fruto. (Informação retirada de "Natal no Algarve-Raízes Medievais" de José da Cunha Duarte). No início da década de oitenta Pe. José da Cunha Duarte, Pároco de S. Brás de Alportel e de Santa Catarina da Fonte do Bispo, iniciou a recolha das imagens feitas pelos “pinta-santos” algarvios. Na Igreja Matriz de S. Catarina da Fonte do Bispoii, freguesia onde viveu e veio a falecer o meu artenauta (13-06-1970 a 08-01-2008), arma-se o presépio tradicional em escadaria, com laranjas, “searinhas” e o menino em cima do trono. Voltando a Silves… Esta cidade participou na primeira fase dos Descobrimentos, dinamizados pela presença do Infante D. Henrique, o Navegador (1394-1460). É a um Diogo de Silves que se deve a primeira viagem de reconhecimento dos Açores, João do Rego, Cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique e Gastão da Ilha, ligado ao povoamento da ilha da Madeira que têm os seus túmulos na Sé Velha. Um bispo de Silves também chegou a armar uma caravela para as navegações nas costas de África, porém, são os Descobrimentos, uma das causas da decadência de Silves, ao fazer dos portos do litoral algarvio os novos centros económicos e políticos. Al Gharb sempre descrito como sendo um paraíso de narrativas entretecidas de alegorias, metáforas e símbolos, subjaz latente uma imaginação erótica e amorosa a pairar em clima de festividade e tradição no subconsciente poético do Garbe. Dir-se-ia mesmo, nesse universo de “As Mil e uma Noites”, estar prestes a irradiar o calor e a luz de uma sabedoria pronta a unir o mais alado platonismo com o mais sensual e concreto aristotelismo.iii Al-Mu´tamid Ibn Abbad, que foi nomeado governador do Gharb e estabeleceu a sua capital em Silves, filho e sucessor do rei árabe de Sevilha, foi poeta, rei, amante e guerreiro e dedicou a Silves muitos dos seus poemas. Al Mu’tamid, nasceu em Beja no século XI foi imortalizado na sua participação na obra "As Mil e Uma Noites" e na poesia do Garb al-Andalus. Aos 12 anos foi nomeado governador da cidade de Silves e 17 anos depois subiu ao trono de Sevilha. Governou durante 19 anos e o seu reinado ficará para sempre para a história como um dos mais marcantes. Nesses tempos, Silves chegou a ter 30.000 habitantes. Alguns dos seus belos palácios tinham terraços de mármore. As ruas e os bazares regurgitavam de mercadores que vendiam preciosidades do oriente. Havia pomares e campos floridos. Sobre estes esplendores escreveram dois dos maiores poetas árabes: Al-Mu’tamid e seu amigo Ibn Ammâriv, natural de S. Brás de Alportel (Xanbrache) e que possívelmente se inspirou também nas belezas naturais do sítio da Fonte do Bispo que naturalmente teria na época outro nome (talvez al-bi`r: poço ou fonte de água ou al-‘uyûn: olho, fonte de água, ou aguada)v. Instalaram-se no palácio do Xarajibevi, em Silves e passaram a fazer aí a sua conhecida vida de poesia e de festas tornando a cidade no
refúgio de inúmeros poetas, cientistas, teólogos e outros, ao abrigo do seu palácio, suas escolas e frequentes tertúlias.vii Ora… que melhor modo senão o lendário, referindo-se a Silves para nos darmos conta do encanto aplicado aos amores de Al-Mu’tamid e de Rumaikyya; A lenda da Moura Encantada, uma princesa que aguarda a chegada de um príncipe da sua fé que pronuncie as palavras mágicas necessárias para a desencantar; A lenda do Mouro de Chapéu da Aba Larga, em que as lavadeiras faziam-lhe surriada e ele vingava-se desencadeando sobre elas chuva de pedra; etc. Também em meados do século XII, um movimento político e religioso aparece em Silves, liderado por Ibn Qasi, que se proclamou ele próprio Madhi (o Messias que viria no fim do mundo) e que governaria a cidade durante vários anos, um místico sufi, natural de Silves, governador de Mértola e Silves, que concertou um tratado de paz com Afonso Henriques, morrendo assassinado naquela última cidade em 1151. Assim também, outra cidade, “A Balsa”viii dos romanos, que aos árabes deve o nome, Tabîra ix possuindo um vasto património cultural do Algarve. Aqui se armou cavaleiro o Infante D. Henrique, no regresso de Ceuta e daqui partiram muitos soldados para as conquistas do Norte de África. Em todos os templos da cidade, que são quase 30, admiram-se preciosos quadros e belos painéis de azulejos. A tradição conta que também no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece numa determinada noite para chorar o seu triste destino. Os mais antigos dizem que essa moura é a filha de Aben Fabila, o governador mouro da cidade que desapareceu depois de enfeitiçar a sua filhax, quando Tavira foi conquistada pelos cristãos. Acredito na sincronicidade do que normalmente é chamado de coincidências, pois após algumas leituras, pesquisas, reflexão e análise, eu decido apresentar o meu contributo alusivo ao tema artenauta, ligado ao fascinante universo religioso, cultural e artístico abordado através de uma produção poética de um homem, um artenauta que me é muito íntimo e querido, o meu Artenauta, dentro deste contexto “Madhi”, já que o "Portal" foi construído pelo Werther Azevedo, a Armanda apresentou o seu trabalho sobre o cavalo "Al Khamsa The Five" (e as restantes contribuições dos colegas) com a consciência de que nada é por acaso! Apresento então “O Encoberto” de Fernando Pessoa. A “Mensagem” Saindo da ocultação. Aquele que traz a rosa. E a espada. Um jovem de Tavira. Um sonhador Por um mundo melhor! No Hospital do Espirito Santo Nascido E na Igreja do Espírito Santo Encomendado!
O Ser Que na arte digital Navega E o mundo virtual Conhece “Segunda Vinda” Que a todos três rosas dá Três ideias: União Harmonia Amor
Ao falar de um sonhador romântico terei que forçosamente falar também de rosas. Rosa vermelha como o símbolo, mais universal de todos, de amor e romance, pois simboliza a beleza e perfeição, remetendo para a mais profunda expressão dos sentimentos, para o verdadeiro amor. Uma aproximação ao levantamento do “véu” desejando que seja harmonioso, profícuo e propício a profundas reflexões, apresentando com este texto introdutório uma pequena parte de um poema que deverá ser lido acompanhado pela música Conquest Of Paradise de Vangelis.xi E em anexo junto um ficheiro em MP3.
QUINTO IMPÉRIO E A SUA REVELAÇÃO
“A Revelação do Mito”
1 Se, no tempo que vivemos, aparecesse um homem, Com a criatividade partilhando o essencial, Que nos permita melhorar as condições de vida No Planeta celestial. Se “ O Encoberto” nascesse homem e fosse Português?
2 O filho único de uma família camponesa Simples habitante de pequena aldeia Algarvia Crescendo como uma qualquer outra criança humana Não tendo qualquer reconhecimento ou protecção De Igreja ou de Instituição. Em harmonia com elementos e natureza Com amor pelo seu cão e gatos com quem dormia Nutrindo gande respeito por todos os animais Pois que no campo vivia.
3 Da sua distante aldeia vai para a Secundária O músico menino de guitarra a tiracolo Sózinho pede boleia faça chuva ou faça sol Sapatilhas ou chinelos camisola e calção Muito simples seus trajes são De menino aprende a valorizar a sua essência Durante a sua vida guiado por energia Orientado por muitos Mestres sobrenaturais Sua vida preenchia.
4 Com valores humanísticos e filosóficos. Com uma curiosidade que o leva a experimentar Sonhador romântico muito humano e humilde Desfrutando de grande inteligência intelectual Ao mesmo tempo emocional Com uma impressionante memória fotográfica Sua vida cheia de sinais e de coincidências Praticando o Bem e com consciência de si mesmo Partilhando as primícias. 5 Valorizando a Antropologia e as Artes Com inteligência e seriedade reconhecida Tendo espírito de trabalho e grande coragem Desde jovem praticando ioga e zen budismo E o vegetarianismo Um homem determinado e Mestre de si próprio O Ninja dominando as forças do seu ser fisico A vida ancorada com estranhas circunstâncias O Mago Metafísico. 6 Constrói Castelo e o Templo Dourado profetizado Existência virtual Mensagem codificada Dia vinte e um de Novembro de dois mil e sete Jogo do Second Life escolheu para A Revelação No mar profundo o Ancião Em corações de pedra plantando rosas vermelhas Para o Planeta deixando Mensagem documental O necessário para a construção de um Mundo melhor Um Sonho de Feliz Natal
ii
Resenha Histórica de Silves. Disponível em: http://www.cm-silves.pt/portal_autarquico/silves/v_ptPT/menu_turista/concelho/historia/. Acesso em: 04 Ago. 2014. ii
Santa Catarina da Fonte do Bispo. Origens. Disponível em: http://www.jfsantacatarinafbispo.pt/index.php?pagina=9 Acesso em: 20 AGO 2014. iii
DOMINGUES, Garcia. Lendas de Silves. Disponível em: http://liceu-aristotelico.blogspot.com.br/2010/11/lendasde-silves.html . Acesso em 02/08/2014 . Acesso em: 05 Ago. 2014. iv
FERNANDES,Maria Alice, Abdallah Khawli, Luís Fraga da Silva. A VIAGEM DE IBN AMMÂR DE SÃO BRÁS A SILVES, Comunicação às I Jornadas "As vias do Algarve, da época romana à actualidade". São Brás de Alportel, 21 e 22 de Abril de 2006. Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/document/view/13063042/a-viagem-de-ibn-ammar-desao-bras-a-silves-campo-/15 Acesso em 10 AGO 2014. v
Nota da autora.
vi
O Palácio do Xarajibe . Disponível em: http://historiasdeportugalemarrocos.wordpress.com/2014/02/03/opalacio-do-xarajibe/ Acesso em 22 AGO 2014. vii
QUINTAL DO CASTELO. Blog. Disponível em: http://www.quintaldocastelo.com/portuguese/history.html . Acesso em: 06 Ago. 2014. viii
O nome de Balsa é muito provável teónimo de etimologia fenícia “B’L’SO (Baal ou BEL) Deus-sol, com sua esposa. O qual é consistente com a lenda de que Bel é o deus da luz e cura, talvez até do próprio sol. Disponível (referências) em: http://vilaclub.vilamulher.com.br/blog/outros/deus-celtas-bel-9-4317979-81097-pfi-patywitchmaeve.html e em The Assyrian and Babylonian Bel Myth Parallels to the Christian Jesus Myth. Disponível em: http://www.bobkwebsite.com/belmythvjesusmyth.html Acesso em 20 AGO 2014. ix
SILVA, Luis Fraga da, Balsa, cidade perdida, Campo Arqueológico de Tavira e Câmara Municipal de Tavira, Ano: 2007, ISBN: 978-972-97648-9-9, Depósito Legal n.º: 258768/07, Produção: Tiragem Lda., Nº de páginas: 140, Formato: A4, Distribuição (1ª edição): Bertrand, disponíveel em: http://www.arkeotavira.com/balsa/bcp-v1/ Acesso em 20 AGO 2014. x
xi
http://contosdeadormecer.wordpress.com/2010/07/06/a-lenda-da-moura-do-castelo-de-tavira-portugal/
VANGELIS. Conquest Of Paradise. Música. Disponível em: www.4shared.com/mp3/N_hcX_d5/02_-_vangelis__conquest_of_pa.html . Acesso em 01 Ago. 2014.