Espaço
IMAginal: rastros de uma escritura em projeto Tese de Doutorado
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Autora
_ Moema Falci Loures |
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo | PROURB | UFRJ
Av. Reitor Pedro Calmon, 550 | Prédio da FAU - Reitoria - 5° andar - sala 521 |Cidade Universitária - Rio de Janeiro, RJ - 21941-901
Orientadora
_ Rosângela Lunardelli Cavallazzi
moema@imaginal.com.br | www.imaginal.com.br
Vislumbramos um raciocínio que privilegia a intensidade – o acontecimento. O projeto no espaço urbano não como ruptura ou como continuidade, mas como transbordamento; não como construção de formas, mas como construção de forças. O projeto que suscita tensão, não inclusão direta. A tese considera o processo repetição-montagem como base de processos criativos, como meio de explorar e de avançar no plano experimental do projeto e potencializar a sensação. Nossa busca constante está na abertura do projeto de arquitetura e urbanismo ao gesto criador por meio de um “estouro de realidade”. Estamos interessados nas potencialidades do processo de criação, que tendem a gerar novas realidades, expansões imaginais. Suscitamos que o grande desafio que temos como arquitetos urbanistas é a capacidade de deixar o projeto aberto à experimentação. O que importa não é o projeto em si, mas para onde ele nos leva. Buscamos, assim, rastros de uma escritura em projeto, nuances de um pensar urbano .
Tese - dobragem em sanfona. Fotos da autora, 2011.
PENSAMENTO FÍLMICO
Acrópole, Atenas. Fotos da autora, 2009.
PROMENADE ARQUITETURAL
Notre Dame du Haut. Projeto de Le Corbusier. Ronchamp, França. Fotos da autora, 2009.
Tese - dobragem em sanfona. Fotos da autora, 2011.
01|02
Espaço
IMAginal: rastros de uma escritura em projeto Tese de Doutorado
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Programa de Pós-Graduação em Urbanismo | PROURB | UFRJ
Autora
_ Moema Falci Loures |
Av. Reitor Pedro Calmon, 550 | Prédio da FAU - Reitoria - 5° andar - sala 521 |Cidade Universitária - Rio de Janeiro, RJ - 21941-901
Orientadora
moema@imaginal.com.br | www.imaginal.com.br
S. M. Eisenstein. Estudo montagem - filme Encouraçado Potemkin. In: LAUMONIER, 2009.
REPETIÇÃO
Manhattan Transcript. In: BURE, 2008.
MONTAGEM
Memorial Judaíco, Berlim. Projeto de Peter Eisenman. Fotos da autora, 2009.
Diagramas repetição-montagem. Experimentação da autora, 2010.
Praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Experimentação da autora, 2010.
_ Rosângela Lunardelli Cavallazzi
Arnaud Bauman - Promenades dans le Parc la Villette. in: Vis a Vis nº 03, 1996.
Parc La Villette, 1983. Princípios de Montagem. Promenade Cinématique. In: TSCHUMI, 1981.
A tese de doutorado rompe com o pensamento clássico e moderno unidade/identidade através da metodologia. O trabalho é concebido como um processo, não existe início, meio e fim e sim foco de intensidades aberto à experimentação do usuário, leitor e intérprete. Na tese a fundamentação teórica e a metodologia estão sempre correlacionadas, sendo a obra de Deleuze e Guattari a base que sustenta toda nossa argumentação. Metodologicamente colocamos em evidência o processo-montagem. O projeto vai se construindo a partir de vários “frames”, onde a cada enquadramento trabalha-se a escala, ritmo, volume, movimento, velocidade, luz, densidade, permanência e concentração. Esta metodologia é embasada na obra do cineasta Eisenstein e seus estudos sobre montagem. Como caso-referência utilizamos a Acrópole que já demonstra a preocupação dos gregos com os enquadramentos e representa uma visão fílmica da arquitetura. O arquiteto Bernard Tschumi no projeto Manhantan Transcripts trabalhou com a metodologia de montagem na concepção do projeto. O arquiteto explorou por meio de diagramas as relações entre os espaços, os movimentos e os eventos no processo da “experiência arquitetural”. Esta abordagem é muito influenciada pelo o que Le Corbusier denominou de “promenade architecturale”.
O espaço não é estabelecido a partir de um ponto fixo, ideal, e sim a partir da justaposição de elementos periféricos e policêntricos. A arquitetura é apreciada enquanto movimento, andando e movimentando de um lugar a outro. A montagem inclui dispositivos como repetição, inversão, substituição e inserção. Privilegiamos na tese o dispositivo repetição como elemento ativador do espaço. A repetição como geradora de um processo de diferenciação. Trabalhar com a dobragem em sanfona foi resultado de um processo de compreensão da tese como diagrama. A tese pode ser aberta em um ponto qualquer. Os desdobramentos são múltiplos. Os usuários determinam a ordem da sua leitura. A ideia é que o leitor experimente a obra, sua experimentação faz parte da obra. A qualidade do projeto está na habilidade de revelar os desejos secretos nos desejos objetivos. O espaço como lugar privilegiado de passagens, reversões, acrobacias e jogos de pique-esconde. O projeto é uma totalidade fragmentária e, assim, tem a capacidade de desenvolver a próxima hipótese – a hipótese a vir. O projeto como a possibilidade de elevar a potência da sensação. A experiência, o acontecimento, como revelação de um universo sensível.
E para que projetamos? Não seria para construir blocos de sensações?
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_ XXXI ENCUENTRO Y XVI CONGRESO ARQUISUR PRESENTACIÓN AL PREMIO ARQUISUR DE TRABAJOS DE INVESTIGACIÓN 2012
1) Información General 1.1. Título del Trabajo de Investigación Espaço IMAginal: rastros de uma escritura em projeto 1.2. Autor/es. Autora: Moema Falci Loures Orientadora: Rosângela Lunardelli Cavallazzi 1.3. Datos personales Dirección: Rua Mário Covas Júnior, 100 | 609 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro - 22631-030, RJ - Brasil Teléfono: (55) 21 8853 7224 / (55) 21 2499 3744 Correo electrónico: moema@imaginal.com.br | www.imaginal.com.br 1.4. Datos institucionales: Programa de Pós-Graduação em Urbanismo _ PROURB Universidade Federal do Rio de Janeiro | Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Bolsa (fuente de financiamiento): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico | CNPq Doutorado sanduíche (intercâmbio): École Nationale Supérieure d’Architecture ParisMalaquais, França. Bolsa (fuente de financiamiento): Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior | CAPES. 1.5. Fecha de culminación 24 de fevereiro 2011. 1.6. Categoría Tese de doutorado: trabajos producidos en forma individual o grupal por investigadores formados con directores reconocidos en sistemas formales. En esta categoría se podrán aceptar tesis de posgrado que no hayan sido publicadas. 1.7. Área Temática 2) Proyecto de arquitectura y urbanismo
2. Resumen de 200 palabras. Vislumbramos um raciocínio que privilegia a intensidade – o acontecimento. O projeto no espaço urbano não como ruptura ou como continuidade, mas como transbordamento; não como construção de formas, mas como construção de forças. O projeto que suscita tensão, não inclusão direta. A tese considera o processo repetição-montagem como base de processos criativos, como meio de explorar e de avançar no plano experimental do projeto e potencializar a sensação. Nossa busca constante está na abertura do projeto de arquitetura e urbanismo ao gesto criador por meio de um “estouro de realidade”. Estamos interessados nas potencialidades do processo de criação, que tendem a gerar novas realidades, expansões imaginais. Suscitamos que o grande desafio que temos como arquitetos urbanistas é a capacidade de deixar o projeto aberto à experimentação. O que importa não é o projeto em si, mas para onde ele nos leva. Buscamos, assim, rastros de uma escritura em projeto, nuances de um pensar urbano. 3. Palabras Claves projeto – urbanismo – arquitetura – montagem – repetição 4. Objetivos Generales y Específicos Démarche do desejo A tese de doutorado é sobre experimentações projetuais e considera a repetiçãomontagem como base de processos criativos. Nossa busca está na possibilidade de desvendar potenciais criadores. Vamos, assim, no decorrer do trabalho, pinçando espaços de criações, nuances de um pensar urbano, rastros de uma escritura em projeto. O que nos importa não é o projeto de arquitetura e urbano como um caso exemplar ou como obra completa, e sim suas possibilidades de expansão. Não existe uma meta, mas um caminho. Os pedaços não são um quebra-cabeça, pois os contornos irregulares não se correspondem. Buscamos recuperar a importância do pensamento em projeto. Onde guardamos a inteligência do processo projetual de arquitetura e urbanismo? Como utilizar este pensamento em um processo-tese? Como objetivo específico procuramos um aprofundamento teórico e metodológico do conceito de acontecimento (événement) na obra de Deleuze e Guattari. O acontecimento sustenta o projeto na dinâmica do tempo porque libera o projeto à experimentação. Ele está a todo tempo em trânsito, construindo novas relações e novas forças. Vislumbramos, assim um raciocínio que privilegia a intensidade, o acontecimento, um dos mais importantes conceitos da obra de Deleuze e Guattari. Como projetar para revelar acontecimentos? O risco de tratar o projeto como um fluxo, e não como um código, é nossa grande motivação, a démarche do desejo, errância de sentidos. Respiração!
5. Metodología empleada: etapas metodológicas y alcances pretendidos Metodologia? A palavra metodologia, via de regra é associada a uma proposta fechada, rígida. Traçamos objetivos, metas e justificativas. Escrevemos o trabalho, uma introdução, desenvolvimento e, então, uma conclusão. Nesse limiar epistemológico uma questão perpassa o método, paradigmas do mundo moderno: hierarquias, categorias, limites, dicotomias, aplicações. Paradigmas que não reconhecem os princípios da incompletude e da incerteza, sendo ao mesmo tempo princípios ocultos que governam nossa visão das coisas e do mundo sem que tenhamos consciência disso. Ainda somos cartesianos? O quê, afinal, é pensar na segunda década do século XXI? Que diferença faz se utilizamos conceitos que quebram os paradigmas modernos, se ainda reproduzimos a modernidade através do método? A tese de doutorado busca romper com o pensamento clássico e moderno unidade/identidade através da metodologia. O trabalho é concebido como um processo, não existe início, meio e fim e sim foco de intensidades aberto à experimentação do usuário, leitor e intérprete. Na tese a fundamentação teórica e a metodologia estão sempre correlacionadas, sendo a obra de Deleuze e Guattari a base que sustenta nossa argumentação. Não há diferença entre a maneira que a tese fala e a maneira que a tese é feita. Se a tese fala sobre o projeto e também é um projeto de tese, deve existir como devir (DELEUZE, 1995). Metodologicamente colocamos em evidência o processo-montagem. O projeto vai se construindo a partir de vários “frames”, onde a cada enquadramento trabalha-se a escala, ritmo, volume, movimento, velocidade, luz, densidade, permanência e concentração. Esta metodologia é embasada na obra do cineasta Eisenstein e seus estudos sobre montagem. Como caso-referência utilizamos a Acrópole que já demonstra a preocupação dos gregos com os enquadramentos e representa uma visão fílmica da arquitetura. O modo de distribuição dos elementos arquitetônicos no espaço é um princípio de montagem em que o personagem principal é o homem que experimenta o lugar. O arquiteto Bernard Tschumi no projeto Manhantan Transcripts (1981), desenvolvido junto aos alunos da Architectural Association School of Architecture (AA, Londres), também trabalhou com a metodologia de montagem na concepção do projeto. O arquiteto explorou por meio de diagramas as relações entre os espaços, os movimentos e os eventos no processo da “experiência arquitetural”. Esta abordagem é muito influenciada pelo o que Le Corbusier denominou de “promenade architecturale”. O espaço não é estabelecido a partir de um ponto fixo, ideal, e sim a partir da justaposição de elementos periféricos e policêntricos. A arquitetura é apreciada enquanto movimento, andando e movimentando de um lugar a outro (BOESIGER, 1999). A montagem inclui dispositivos como repetição, inversão, substituição e inserção. Metodologicamente privilegiamos na tese o dispositivo repetição como elemento ativador do espaço. A repetição como geradora de um processo de diferenciação. As coisas se repetem diferenciando-se. Diferentes quando (ou porque) produzem devir (DELEUZE, 2000). Temos, assim, a potência do processo.
Trabalhar com a dobragem em sanfona foi resultado de um processo de compreensão da tese como diagrama. Ao contrário do que acontece com um texto, que, por mais que possamos evitar a hierarquização das palavras, elas, por si só, já se apresentam de uma forma hierarquizada, uma após a outra. Como decisão metodológica, concebemos a tese em dois extratos: 1. Fichas: transbordamento de citações e textos escritos, às vezes explicativos, às vezes propositivos ou provocativos. As fichas são um corte no caos, dá algum tipo de direção. 2. Diagrama sanfona: possibilidades imaginais. Deslocamento das citações e referências. Reserva invisível, o caminho trilhado, o processo da tese. A tese pode ser aberta em um ponto qualquer. Os desdobramentos são múltiplos. Os usuários determinam a ordem da sua leitura. As combinações formam variações infinitas. A ideia é que o leitor experimente a obra, sua experimentação faz parte da obra.
Tese de doutorado em formato sanfona. Fotos da autora, 2011.
6) Resultados o conclusiones más transcendentes obtenidos Rastros IMAginais – o que fica e o que vai O principal resultado da tese é a criação de uma metodologia de projeto de arquitetura e urbanismo baseada no método de Deleuze, sustentado pela obra de Bernard Tschumi (arquitetura e urbanismo) e Eisenstein (cinema). O aprofundamento nas técnicas de montagem de Eisenstein, realizado durante o processo-tese, nos revela possibilidades projetuais no processo de concepção do espaço urbano. A lógica da superposição de enquadramentos a partir de pequenos detalhes é um meio de aguçar uma situação e dinamizar o espaço. A metodologia de projeto da tese tem desdobramentos visíveis na realidade brasileira, diante à interação complexa entre instituído e marginal; estático e instantâneo, previsível e imprevisível. Viabilizando a pesquisa, foram desenvolvidos artigos publicados sobre o processo projetual e as possibilidades criativas nas favelas brasileiras1. 1 LOURES, M. F., COELHO, G. Complementaridade
e concorrência das textualidades morfológicas na Paisagem Urbana do Rio de Janeiro: o Projeto-Urbano na favela como possibilidade In: Seminario Hipotesis de Paisaje 07, 2007, Santiago do Chile. ______. Predictability and Unpredictability in the news forms of Landscape: Urban Design and the favelas. In: ISUF - XIV International Seminar on Urban Form, 2007, Ouro Preto. ______. Paisagem Reveladora: possibilidades morfológicas nas favelas do Rio de Janeiro. Oculum Ensaios, Revista de Arquitetura e Urbanismo (PUCCAMP). PUC - Campinas, 2009.
O método montagem-repetição revela caminhos para intervenções nas favelas, neste espaço-movimento, em que os limites espaciais não são rígidos e sim complementares e concorrentes. O movimento que se constrói a partir da participação ativa do habitante na construção do espaço complexo. A tese, também, abre margens para o ensino da arquitetura e do urbanismo, propondo uma metodologia de ensino baseada no processo projetual e na noção da arquitetura como construção fílmica, o projeto vai se revelando a partir da sobreposição de imagens. Projeto como processo de descobertas, obra aberta (ECO, 2005). A qualidade do projeto está na habilidade de revelar os desejos secretos nos desejos objetivos. O espaço como lugar privilegiado de passagens, reversões, acrobacias e jogos de pique-esconde. O projeto é uma totalidade fragmentária e, assim, tem a capacidade de desenvolver a próxima hipótese – a hipótese a vir. O projeto como a possibilidade de elevar a potência da sensação. A experiência, o acontecimento, como revelação de um universo sensível. E para que projetamos? Não seria para construir blocos de sensações? 7. Principales referencias y fuentes bibliográficas BOESIGER (Ed.). Le Corbusier and Pierre Jeanneret, Oeuvre Complete, vol. 2, 19341938. Basel; Boston; Belim: Birkhäuser, 1999. BURE, Gilles de. Bernard Tschumi. Paris: Éditions Norma, 2008. DELEUZE, Gilles. Cinema 1. L’image-mouvement. Collection Critique. Paris: Les Éditions de Minuit, 2006. ______. Diferença e repetição. Lisboa: Relógio D'Água, 2000. ______. Logique du sens. Collection Critique. Paris: Les éditions de minuit, 2006. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs. Devir-intenso, devir-animal, devirimperceptível. Vol. IV. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. ______. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 2004. ECO, Umberto. A estrutura ausente. São Paulo: Perspectiva, 1971. ______. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2005. EISENSTEIN S. M. Le cuirassé Potemkine (filme), 1925, 72 mn. ______. Selected works. Volume II. Towards a theory of montage. London: British Film Institute, 1994. LAUMONIER, Alexandre. S. M. Eisenstein. Paris: Les Presses du Réel, 2009. ROUSSE, Pascal. Penser le montage avec Sergeï Mikhaïlovitch Eisenstein: architectonique et affect. De l'architecture aux arts contemporains (Tese de Doutorado). Paris, Université de Paris 8-Saint Denis-Vincennes, 2010. TSCHUMI, Bernard. Architecture and disjunction. Cambridge: MIT Press, 1996. ______. The Manhattan Transcripts: theoretical projects. New York: Academy Editions/St. Martin's, 1981. ______. “The Pleasure of Architecture”. In: BALLANTYNE, Andrew. What is Architecture? London: Routledge, 2002.