Catálogo da Coleção de José de Almeida e Silva (1864-1945) – Museu de Grão Vasco

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MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)



COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Índice

Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Ficha Técnica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 O Museu ou a Metáfora do Espelho de Alice - Apresentação de Alberto Correia . . . . . . . . . 3 Coleções do Museu de Grão Vasco . . . . . . . . 5 José de Almeida e Silva (1864-1945) . . . . . . 7 Exposições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Prémios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Catálogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Siglas

GAMUS (Grupo de Amigos do Museu de Grão Vasco) MGV (Museu de Grão Vasco) SBAP (Sociedade de Belas Artes do Porto) SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes)

Ficha Técnica EXPOSIÇÃO Coordenação: Sérgio Gorjão Comissária: Alcina Silva Montagem: Manuel Ferreira Museu de Grão Vasco, sala de exposições temporárias 14 de Abril a 31 de Julho de 2011

SUPORTES MULTIMÉDIA Coordenação: Sérgio Gorjão | Catarina Sousa Design e Produção: Cláudia Teixeira | Marisa Marques Som: Orquestra de Câmara Piaget (concerto realizado no MGV em 2009)

GUIA DA EXPOSIÇÃO Coordenação: Sérgio Gorjão Prefácio: Alberto Correia Textos e entradas: Sérgio Gorjão e Alcina Silva Design: Susana Santos (catálogo) | Catarina Sousa (materiais de divulgação) Impressão e Acabamento: VRI – Várzea da Rainha Impressores Edição: Museu de Grão VascO

APOIOS GAMUS - Grupo de Amigos do Museu de Grão Vasco Instituto PIAGET de Viseu Depósito Legal: 326119/11 Viseu, 2011


O MUSEU OU A METÁFORA DO ESPELHO DE ALICE A propósito da exposição de José de Almeida e Silva no Museu

O museu, tal como eu o sinto é, simultaneamente, espelho de Alice, a porta mágica que, transposta, nos situa nesse estranho mundo de permanente fascínio e espanto que o museu é na sua essência, qualquer que seja a natureza do seu conteúdo. Mística Idade Média revelada no impressivo rosto de uma imagem gasta do tempo ou em velados códigos de uma escrita de símbolos num suporte qualquer, a modernidade do mundo transcrita na superfície de uma tábua pintada onde pode colher-se o ruído das falas que desfazem os mitos e entronizam a razão, os umbrais do paraíso apercebidos na quente atmosfera habitada por coros de anjos e santos envoltos em preciosas vestes de talha dourada…, eis o que o museu é. O que o Museu de Grão Vasco é. José de Almeida e Silva, podemos encontrá-lo ali, no museu enquanto paradigma. Hoje só podemos encontrá-lo ali. E eis que agora ali ele se nos revela. Homem de um tempo. O seu. O que ele viveu. Diferente, porventura, do tempo que viveu outro homem do lugar. Em espelho o vemos, nessa obra concreta que a exposição oferece a nossos olhos, nessa mediação de uma singular paleta de tintas que inventou, nos jogos de luz e de sombra através dos quais nos traduziu o seu mundo interior e as geografias que transitoriamente habitou, no recatado intimismo de um cenário que ajustou para ali entreter breve conversa com o velho que se aquece a uma lareira, com a criança do brinquinho de ouro, ele e ela mutuamente surpresos, tranquila na sua comovente inocência, a menina, tocado ele pelos efeitos da luz que irradia de uma fonte qualquer que nos deixa secreta. A parcimónia da obra que o museu guarda não revela, por inteiro, a fecundíssima actividade do mestre mas é todavia bastante para definir o génio que lhe subjaz e traduzir o amplo significado das criações que nos legou. Circunscrito, em sua vida, quase só aos horizontes da cidade que lhe foi berço e tumba, alheio, quase sempre, ao desdobrar do tempo que gerava outro entendimento do mundo, ficou preso de uma herança romântica onde se comprazia e que ele reinventava nos saborosos quadros recolhidos do natural nas paisagens marginais do rio de onde os camponeses regressavam ao findar da tarde quando nos sinos da Sé soavam as Trindades, onde as lavadeiras cantavam loas enquanto estendiam nas ervagens roupas brancas para corar. Um suave lirismo percorre esta sensível captação do real, como ele gosta de o sentir, e habita, sem a marcação da presença humana muitas vezes, as paisagens de pinheiros e de outro arvoredo por onde gosta de

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perder-se como se fosse prosélito de um franciscanismo activo. Quando não de um panteísmo assumido como doutrina que lhe conforma e suaviza a existência. Ele, que não perdeu toda a alegria e a celebra na cor vibrante dos ramos frescos das camélias que uma rapariguinha segura ao peito, em braçado, numa qualquer manhã de Páscoa. O “Silva Pintor” que os seus companheiros de ofício viam aparecer à porta dos salões de exposição com uma boa meia dúzia de quadros debaixo do braço, é modo de dizer, para os mostrar, esperando sempre, com seus registos, colher louvor, leva, de Viseu, a teimosia, a persistência em que ele crê como valor, leva inscrito no coração a legenda que gravou no brasão da sua morada - Sempre é tempo – o anímico estímulo que o alentou durante os longos dias da sua existência que não passou em vão. Sempre é tempo, agora, e o museu deste modo se cumpre, deixando-nos entrar, como Alice, no espelho, e dar de frente com a frescura e o à vontade das duas mulheres, as “Hortaliceiras” que, na banca do mercado, são loquaz e último testemunho do mérito deste homem bom coroado, por fim, com uma medalha de ouro. Honremo-lo assim.

ALBERTO CORREIA

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COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO Integrando um projeto de estudo e valorização do espólio artístico do Museu de Grão Vasco, a presente exposição, a primeira de uma série, tem como tema base as “coleções” do museu e pretende mostrar, temporariamente, alguns núcleos em reserva, respondendo assim às solicitações do público e estabelecendo, deste modo, um compromisso de continuidade nos estudos, tratamento de conservação e restauro, inventário e integração das peças em discursos expositivos (permitindo a sua fruição e relação educativa), fatores cruciais do desempenho das funções museológicas. Tendo em conta que o circuito expositivo permanente dos museus é hoje feito, essencialmente, de uma seleção que ilustra um determinado discurso, não deixa, contudo, de ser extremamente importante considerar a necessidade de contemplar, no contexto das políticas museológicas e dos planos de atividades anuais, a possibilidade de revisitação de bens que outrora estiveram expostos, ou que foram incorporados como documentos importantes para a caracterização de alguns contextos (históricos, artísticos, identitário, etc.) e que atualmente só através de exposições temporárias monográficas se poderão mostrar ao público. De Almeida e Silva, pintor viseense nascido em 1864 (m.1945), existem relativamente poucas peças no Museu de Grão Vasco ( ). São, no entanto, espécimes de elevado interesse para a caracterização do lavor deste artista, eminentemente tomado pelas temáticas da paisagem da região, pela representação de género, pelo retrato, naturezas mortas e obras de caráter religioso, num tipo de trabalho marcado pelo regionalismo e algo periférico aos grandes centros de produção, revelando o seu mundo mais próximo: a família, as pessoas com quem se relacionava, o lugar de habitação, os espaços exteriores da sua eleição (o Rio Pavia, Santiago, Fontelo, Orgens, Vil de Moinhos, etc.), as figuras populares que conheceu, o mundo rural, as aldeias, o espaço do mercado em Viseu, a vivência da Sé, entre outros. Herdeiro de uma tradição pictórica romântica e naturalista, Almeida e Silva não sai da sua zona de conforto. Investido na qualidade académica, afirma-se através dos valores de continuidade, longe de algumas “artificialidades” intelectuais e das inovações estéticas que se anunciaram e assumiram no seu tempo, mas também longe de uma certa inovação salutar que marcou os principais artistas do seu tempo. Foram já várias as exposições dedicadas a Almeida e Silva e também vários os autores que se debruçaram sobre a sua obra e personalidade. A última destas iniciativas ocorreu em 1996, Um total de 14 pinturas, 3 desenhos e 1 aguarela e ainda um exemplar do Álbum Viziense em cujo frontispício se reproduz uma ilustração.

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assinalando os 50 anos da sua morte, através de uma exposição realizada no Museu de Grão Vasco, coordenada pelo então diretor Dr. Alberto Correia, responsável por um esmerado catálogo monográfico, para o qual concorreram escritos de Rui Afonso Santos, Dalila Rodrigues, António A. Fernandes, Luís Calheiros, Armando Marques Guedes e Odete Paiva. Apesar de tudo, Almeida e Silva permanece uma personagem pouco conhecida dos atuais estudos de História da Arte, no entanto merecedora de uma abordagem mais profunda e estruturada, e sendo-lhe devida, no futuro, uma evocação que relacione a sua obra com a produção nacional coeva. Nesta mostra exibem-se todos os exemplares firmados por Almeida e Silva pertencentes ao Museu de Grão Vasco, peças que, na maioria dos casos, foram deixadas pelo próprio autor após a sua morte, ou ingressaram no museu por aquisição ou com o patrocínio de alguns privados, nomeadamente os depósitos e legados de D. Maria Augusta de Santa Rita Pedroso Coutinho e de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque. Apesar do escasso número, que corresponde a uma parcela ínfima do seu trabalho, as obras expostas permitem, contudo, a contemplação de algumas peças mais icónicas, como as Hortaliceiras, a Menina das Camélias, ou o Regresso da Horta, imagens ainda tão presentes na memória de muitos e que agora regressam para revisitação e para conhecimento de novas gerações. Resta uma última palavra de agradecimento ao GAMUS – Grupo de Amigos do Museu de Grão Vasco, que apoiam a edição deste pequeno catálogo e pela atenção e generosidade sempre demonstradas com este museu ao longo dos 25 anos de existência desta meritosa associação.

SÉRGIO GORJÃO (Diretor do Museu de Grão Vasco)

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JOSÉ DE ALMEIDA E SILVA (1864-1945) José de Almeida e Silva nasceu no seio de uma família da pequena burguesia viseense e começou a sua vida ativa como marçano, na mercearia do seu pai ( ). Aos 18 anos a sua destreza para o desenho foi notada por um conterrâneo abastado, José Ribeiro de Carvalho e Silva, um homem que fizera fortuna no Brasil e que lhe custeou o seu ingresso na Real Academia de Belas-Artes do Porto, onde cursou entre 1882 e 1890. Pintor e desenhador virtuoso, ilustrador, esporadicamente escultor, caricaturista, humorista, publicista e escritor, Almeida e Silva é marcado por um gosto estético tardio pelo Realismo e Naturalismo, e mantém-se fiel aos princípios artísticos académicos veiculados pelos seus mestres, como Tadeu de Almeida Furtado ( ), João Correia ( ), António José da Costa ( ) e Soares dos Reis ( ), ou ainda por outros artistas seus contemporâneos e com diferença de apenas uma geração, como Marques de Oliveira ( ) ou José Malhoa ( ). De entre os vários mestres que teve na Academia do Porto, parece ter colhido maior influência de António José da Costa, um homem com reconhecidas qualidades humanas e pedagógicas, que se dedicou artisticamente à “pesquisa” no campo do retrato, das naturezas mortas, paisagens e flores ( ). Nasceu na Rua da Cadeia, em Viseu, a 15 de novembro de 1864, filho de José de Almeida e Silva e Leonor da Silva (neto paterno de Macário de Almeida e Silva e de Balbina Joaquina; e neto materno de João Guedes e Rita Maria). Morreu em Viseu, em 1945. Tadeu Maria de Almeida Furtado nasceu em Viseu, em 1813, e morreu no Porto, em 1901. Era filho do conhecido pintor viseense José de Almeida Furtado, “o Gata”, e foi professor de desenho na Academia Portuense de Belas-Artes. João Correia, nasceu no Porto, em 1822, e aí morreu em 1896. Estudou desenho e matemática na Academia Politécnica do Porto e depois belas-artes na Academia Portuense de Belas-Artes. Entre 1848 e 1855 estudou em Paris aí conhecendo Ingres, Delaroche e Horace Vernet. Regressa ao Porto, em 1856, passando a exercer o cargo de professor de Pintura Histórica. Posteriormente foi nomeado diretor da própria Academia Portuense de Belas-Artes. Esteticamente João Correia permaneceu ligado a uma conceção clássica e académica do desenho e da pintura, perfeitamente integrado no contexto cultural do romantismo, pese embora estivesse a par das principais inovações do seu tempo. Exerceu grande influência na formação de uma grande parte dos vultos da pintura do século XIX português, como Soares dos Reis, Silva Porto, Marques de Oliveira, Henrique Pousão e Almeida e Silva. António José da Costa nasceu no Porto, em 1840, e morreu na mesma cidade em 1929. Estudou Pintura na Academia Portuense de Belas-Artes (tendo por mestre Tadeu de Almeida Furtado e João Correia) e, ao longo da sua carreira dedicou-se ao ensino e à pintura de retrato, paisagens e flores, áreas em que se tornou notável e eventualmente um dos agentes de maior influência na obra de Almeida e Silva. António Soares dos Reis, nasceu em Gaia, em 1847 e na mesma localidade faleceu em 1889. Com apenas 13 anos de idade ingressou na Academia Portuense de Belas-Artes, estudando com o Mestre João Correia. Entre 1867 e 1870 viveu em Paris e em 1872, em Roma. Foi professor na Academia Portuense de Belas-Artes desde 1880. Da sua extensa e magistral obra escultórica, destaca-se O Desterrado e Flor Agreste, ícones da arte moderna portuguesa. João Marques da Silva Oliveira nasceu no Porto em 1853 e morreu em 1927. Estudou história da pintura na Academia Portuense de Belas Artes e, entre 1873 e 1879, estagiou em França, com o seu colega Silva Porto, e percorreu outros países, como a Holanda, Bélgica, Inglaterra e Itália. Em 1879 regressou ao Porto e dois anos depois integrou o corpo docente da Academia Portuense de Belas-Artes, sendo mais tarde nomeado para Diretor desta academia. Com Silva Porto, introduziu a pintura de ar livre em Portugal, sendo um dos pais do naturalismo português. José Malhoa, nasceu em Caldas da Rainha em 1855 e faleceu em Figueiró dos Vinhos em 1933. Estudou na Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde ingressou com apenas 12 anos. Embora tenha uma formação ainda ligada ao romantismo, Malhoa enveredou pelo Naturalismo em Portugal e, de algum modo, aproximou-se das correntes artísticas mais inovadoras do seu tempo, como a Impressionista. Foi o primeiro presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa. Um pouco em contraciclo aos artistas da sua geração, António José da Costa conseguiu perceber a relevância do movimento

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Os primeiros trabalhos conhecidos de Almeida e Silva decorrem da sua atividade enquanto estudante no Porto, tendo realizado diversos desenhos, óleos e até peças de arquitetura (para um café-concerto), que lhe valeram alguns louvores. Profissionalmente a caricatura foi a primeira expressão artística que ensaiou ainda como estudante no Porto, participando ativamente em diversos jornais e em especial no satírico Charivari… situação que poderá ter-lhe granjeado alguns rancores e que, segundo a sua convicção, fora o motivo para não ter conseguido aceder a uma bolsa de estudo em Paris, à qual recorreram outros artistas da sua geração, tais como Teixeira Lopes, Henrique Pousão, António Ramalho, Silva Porto, Marques Oliveira, entre outros. A partir de 1890, ano em que conclui os estudos no Porto e que regressa a Viseu, passa então a dedicar-se à ilustração, à pintura e ao ensino e, durante toda a sua vida, mantém a dualidade de aspirar a um reconhecimento nacional e internacional (daí a participação em muitíssimas exposições em Lisboa, Porto, Rio de Janeiro e pontualmente em Paris), mas sem conseguir efetivamente “fugir” a uma força centrípeta que o impelia para um universo restrito correspondente à cidade de Viseu e à região das Beiras. Um dos primeiros trabalhos de Almeida e Silva foi, em 1884, a direção artística e a ilustração do frontispício do Álbum Viziense (10), onde figura uma musa das artes, desnuda, repousando junto a um manancial, evocando a inspiração profícua das Artes. Este tipo de figuração infundida em motivos franceses fin-de-siécle, não parece ter sido uma constante, perpassando pontualmente em alguns trabalhos como o teto dos Paços do Concelho de Viseu (iniciados em 1909). A ilustração manteve-se, durante os primeiros anos da sua vida artística, como uma possibilidade de ganhar a vida, tendo colaborado em diversos periódicos e, em termos globais, esta prática de ilustração conferiu-lhe um timbre muito especial à sua pintura, na qual ressaltam detalhes muito finos, mais característicos de um risco a lápis do que de um traço a tinta e pincel. Como atividade profissional pública, foi professor de desenho na Escola Industrial Emídio Navarro, em Viseu; e na Marinha Grande. No domínio da edição de textos, Almeida e Silva desenvolveu diversas colaborações na imprensa local e nacional (11), com escritos sobre Etnografia, Arte, Património e História, como ainda a produção de duas obras de maior relevância, como Quinze dias de estudo na Exposi-

naturalista e juntar-se às novas gerações de artistas, como Silva Porto e Marques de Oliveira, conferindo à sua obra um novo sentido, pleno de maturidade, plasticidade, equilíbrio estético, vigor e de dinamismo nos traços. Esta paixão tardia fá-lo enveredar pela observação e transposição da natureza, deixando os estilos depurados da academia de que era professor; acabando mesmo por especializar-se na pintura de flores. De todas as espécies reproduzidas, foram as camélias que o celebrizaram e seguramente um dos temas mais recorrentes que pintou. 10 Álbum Viziense, Publicação Mensal, Litteraria e Artística dedicada a Vizeu. 11 No Diário de Notícias, O Século e Notícias de Lisboa.

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ção dos Primitivos Portuguêses: A Escola de Pintura de Viseu, seu início e ramificações (12) publicada em 1941 na sequência da Exposição do Mundo Português; e Pergaminhos (contos e fantasias Históricas) (13) editada em 1931, na qual exalta os emblemas da identidade de Viseu, sua terra natal, dissertando sobre Viriato, São Teotónio, os castelhanos em Viseu, o castanheiro dos amores, Grão Vasco, o milagre de São Pedro, velhas pedras de Viseu, etc., num tom descritivo muito aproximado ao da sua obra pictórica, misto de amor incondicional à cidade, de reverência pelos valores históricos e de sentimento romântico saudosista. Apesar de aparentemente díspares, as obras literárias de Almeida e Silva constituem um importante legado referente ao pensamento e à consciência da salvaguarda patrimonial no contexto da cidade de Viseu, não só nos domínios que tradicionalmente são mais abordados, artes plásticas e arquitetura, mas também em áreas mais próximas daquilo a que hoje se convenciona chamar o Património Imaterial, como uma miríade de manifestações que estão intimamente articuladas com o modus faciendi popular, as tradições, rituais, etc. Este apreço pelo Património fez com que se tornasse vogal correspondente do Conselho Superior dos Monumentos Nacionais (1902), sócio correspondente da Real Associação de Arqueólogos e Arquitetos de Lisboa e sócio-fundador do Instituto Etnológico da Beira. No domínio das artes decorativas, ressalta a decoração do teto do átrio monumental dos Paços do Concelho de Viseu, edifício construído a partir de 1877 sob a direção de José Matos Cid, para onde Almeida e Silva executa, em 1909, o medalhão central, e um friso na cercadura do teto, com 24 medalhões representando figuras ilustres da História viseense, terminado apenas em 1916 após grande discussão entre republicanos e outras forças da cidade sobre quem deveria figurar nos mesmos. Quanto ao medalhão central, de grandes proporções, este está pintado num estilo simbolista já um pouco anacrónico, num gosto ultrarromântico. Trata-se de uma evocação alegórica panegírica à cidade de Viseu, na qual se representam três musas, uma que suporta o brasão de armas da cidade, outra que expõe o ramo de palma e uma coroa de louros, sinais dos feitos e glórias da cidade e, por último, um terceiro elemento feminino que toca uma trombeta, símbolo de uma fama audível e reconhecida. Também nos Paços do Concelho de Viseu é de sua autoria o desenho dos lambris de azulejos que adornam a escadaria nobre, representando o Comércio e a Indústria. Outro elemento decorativo ainda visível em Viseu, é o friso na casa onde viveu, na Praça de D. Duarte, no qual representa, num baixo-relevo central, dois anjos que portam os atributos dos pintores e dos escritores: a paleta e o pincel, e a pena e um livro. Ladeiam este painel 12 Quinze dias de estudo na Exposição dos Primitivos Portuguêses: A Escola de Pintura de Viseu, seu início e ramificações / Silva, José de Almeida e; Viseu, Tip. Notícias de Viseu, 1941. 13 Pergaminhos (contos e fantasias Históricas) / Silva, José de Almeida e; Lisboa, Paulo Guedes Editor, 1931.

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seis pinturas murais com as efígies de pintores célebres: Frans Halls, Velásquez, Rembrandt, Rafael, Rubens e Grão Vasco. Em arte pública é de destacar o busto de Camões, escultura passada a bronze e inaugurada, em 1913, na Praça outrora designada de Luís de Camões e agora denominada de Praça de D. Duarte (14). O busto de Camões revela uma esmerada capacidade de modelagem que infelizmente não se repetiu as vezes necessárias para que o artista pudesse ser reconhecido como escultor. Esta obra é representada na única aguarela de Almeida e Silva que o museu possui, com o título Praça de Camões – Viseu (de 1917), vista tirada da sua casa. Com uma sensibilidade romântica, mas já talhada pelo Naturalismo, Almeida e Silva transmuta para as suas telas o interesse pela História e Património que compõem a identidade de Viseu, mas também pela paisagem e ruralidade, criando aquilo a que Rui Afonso Santos (15) chamou de “verdadeiro inventário sentimental das paisagens, dos costumes, dos tipos e figuras da Beira Alta”. Esta transmutação, contudo, não está isenta de uma visão crítica do próprio autor, que expressa através desses “costumes” ou “tipos” uma profunda carga simbólica. Ao retratar o povo e as atividades do mundo rural, a paisagem, etc., o pintor não capta apenas um instante fotográfico. Ele vai mais longe, compondo cenas, talvez até um pouco no recato do atelier, que exprimem deliberadamente uma dimensão psicológica e carga sentimental. São estes os casos das Hortaliceiras, de 1938, verdadeira obra-mestra que sintetiza o génio artístico de Almeida e Silva, ou o Regresso da Horta, de 1941, que vagamente recorda os trabalhos do pintor Sousa Pinto. No género de “Paisagem”, salienta-se a obra Azenhas do Pavia, de 1914, a única em exposição permanente no Museu de Grão Vasco, uma pintura equilibrada e com uma vivacidade lumínica característica dos dias soalheiros na região de Viseu, exprimindo uma sensibilidade “pitoresca” que não deixa de tender para uma “pintura de género”, com a representação das lavadeiras no rio. Neste contexto é também interessante o conjunto de Três Paisagens com vistas diversas do Parque do Fontelo (16), pequenas pinturas sobre tábua datadas de 1907, nas quais se sente o ambiente estival, através de uma luminosidade intensa e contrastante com as sombras dos arvoredos, ou ainda A Quinta de São Miguel, desse mesmo ano e Pinheiros, obra de 1915. Com esta carga saudosista e sentimentalista, Almeida e Silva adequou-se espantosamente ao gosto dos seus “clientes”, quer em Portugal (especialmente em Viseu), quer mesmo no Brasil, 14 Este busto, que esteve aplicado no topo de uma esguia coluna que lhe servia de pedestal, encontrava-se instalado perto do local onde hoje se encontra a estátua do Rei D. Duarte. Atualmente este busto integra um monumento existente na rotunda que marca o extremo da Avenida Luís de Camões, em Viseu. 15 “Almeida e Silva: Um Itinerário Sentimental”; in Almeida e Silva (Catálogo da exposição); Lisboa, IPM, 1996). 16 Estas Três Paisagens, do Legado de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque (1966), originalmente estavam associadas numa moldura, pelo que ao entrarem no Museu receberam apenas um número de inventário 2392 / 270 Pint. Surgem agora separadas e merecedoras de revisão em termos de registo, considerando serem peças autónomas.

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onde a comunidade portuguesa, ávida de referências da sua terra natal, acolheu sempre com entusiasmo a sua produção. Note-se que, em 1925, é organizada, no Brasil, uma exposição com 100 obras deste pintor e todas elas acabaram por ser vendidas, o que demonstra não só a prosperidade dessa comunidade, como os gostos em determinados domínios de expressão artística (17). No domínio do retrato surgem-nos diversas obras essenciais para a caracterização da produção de Almeida e Silva. Destacam-se: Menina das Camélias, pintada em 1912 num estilo delicado, em que a retratada “compete” com um bouquet de camélias que fazem recordar o trabalho de António José da Costa, também ele especialista na pintura daquela espécie floral; o seu Autorretrato, de 1932, e o póstumo Retrato de Francisco de Almeida Moreira, de 1941. São também notáveis os pastéis representando uma Menina e uma Mulher (já velha), ambos de 1919, e que poderão ser as obras que se registam no catálogo da 5.ª exposição de aguarela realizada pela Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, no mesmo ano da sua produção, assumindo aí os títulos Cabeça de Criança e Cabeça de Camponesa. De 1922 temos os óleos Retrato de Homem e, de 1924, Menina – Efeitos de Luz, os quais, sem formarem um conjunto, têm exatamente o mesmo tipo de recorrências plásticas e estilísticas, denunciando uma apetência pela pintura de retrato que recai num domínio não estritamente memorialista, mas sim expressando uma determinada ação ou estado de espírito. Nesta mesma esfera poderíamos ainda incluir o retrato do Saloio, de 1932, também designado pelo pintor como o Van-Ruge, figura típica da aldeia de Santiago nos arredores de Viseu. Qualquer um destes retratos, mesmo o de Almeida Moreira ou o seu próprio, pouco terão a ver com o Retrato de Plácido António de Vasconcelos Maya, pintado em 1924, onde parece existir alguma dificuldade de trato estético, e cuja personagem surge plasmada num acentuado formalismo compositivo, meramente memorialista, que não confere o grau de expressividade típico em outras obras. A produção de Almeida e Silva, vasta, dispersa e desconhecida, constitui um extraordinário referencial para o estudo da pintura na cidade de Viseu, permitindo cruzamentos interessantes com a obra de outros artistas e com as correntes estéticas preconizadas na época, em Portugal e mesmo além-mar. De algum modo incompreendido, a leitura que temos de fazer da expressão plástica deste profícuo autor, não deve, à partida, estar espartilhada por conceitos qualitativos tão redundantes que impeçam uma análise da obra, que aliás merece mais atenção e uma evocação mais estruturada que vá para além do objeto desta apresentação: o núcleo existente no Museu de Grão Vasco. 17 Destas obras pouco conhecimento há em Portugal, urgindo proceder a uma identificação e inventariação.

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Será desejável uma articulação com o Brasil para a redescoberta deste autor, mas também uma verificação aturada da documentação e imprensa da época. Hoje já poucos se lembrarão deste mestre de pintura, que ficou na memória dos viseenses como um bom homem, impulsivo e sentimentalista, e que tinha para si o lema de “Sempre é Tempo”, o qual deixou registado na fachada da sua casa.

Exposições: 1884 14.ª Exposição trienal da Academia Portuense de Belas Artes, onde expôs uma pintura, prova de exame, representando São Pedro, cópia de um original de José de Almeida Furtado, pertencente à Irmandade de São Pedro de Esculca, em Viseu; e ainda um estudo de sombras para exame do segundo ano, pelo qual obteve distinção com 16 valores (1882); um estudo arquitetónico com alçado, planta e corte (81x58cm) de um Café-concerto, projeto para exame do terceiro ano, pelo qual obteve elogio, com 16 valores (1884); e um alçado e planta e corte, do projeto para a Biblioteca Popular (para o Concurso Soares dos Reis). 1887 15.ª Exposição trienal da Academia Portuense de Belas Artes, onde expôs um desenho, O Pequeno e o Pato, já galardoado em 1885 com o segundo prémio; e quatro pinturas: Vitelio, estudo copiado de um gesso para exame do primeiro ano, pelo qual obteve elogio, com 17 valores, em 1886; Cabeça d’expressão, copiado do natural para exame do segundo ano, pelo qual obteve elogio, com 16 valores, em 1887; Mesa Posta e Violeta, cabeça de estudo. É também de Almeida e Silva o projeto de uma fonte pública, pelo qual obteve o prémio Soares dos Reis (Projeto de Invenção), de 1885, apresentando um alçado e corte e planta. 1888 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com três obras:

• São Sebastião

• Ciência e Cigarros

• Dolores (reproduzida no catálogo da exposição)

1889 Exposição de Desenhos no Ateneu Comercial do Porto, com sete obras:

• Soares dos Reis (desenho do artista morto, reproduzida no catálogo da exposição)

• Flores

• Jesus e Madalena (desenho, estudo reproduzida no catálogo da exposição)

• Um caminho em Gervide (reproduzida no catálogo da exposição)

• Rio Douro – barcos rabelos (reproduzida no catálogo da exposição)

• Um caminho no Areinho

• Jesus aplacando a tempestade (estudo)

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1890 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com nove pinturas e duas aguarelas:

• À Lareira (reproduzida no catálogo da exposição e na Revista Ilustrada de 31 de Maio de 1890)

• Flores de Abril

• Flores

• Manjar dos Anjos

• Bucólica

• Um trecho do Areinho

• Camélias e Amores Perfeitos

• Retrato de Leovegido

• Retrato de Madame M.C.S.

• Camélias (aguarela)

• Retrato do meu amigo A. F. da Cunha e da sua Exm.ª Esposa (aguarela)

1890 Exposição dos trabalhos escolares dos alunos da Academia Portuense de Belas Artes, onde expôs uma composição original representando o Enterro de Cristo, tendo obtido louvor e uma nota final de 18 valores. 1891 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com seis pinturas:

• Operário doente (reproduzida na Revista Ilustrada de 31 de Janeiro de 1892)

• Devoção cristã (reproduzida no catálogo da exposição)

• Dulce far niente

• Flor do Reno

• Cidadão de Tui

• Cabeça de estudo

1892 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com dezassete obras:

• Retrato do Senhor J. de M.

• Retrato do Senhor S. J. de M.

• Retrato de Pedro, velho criado da casa Cardoso, de Manhufe

• Tâmega, em Amarante

• Um Arroio na Ínsua do Tâmega, em Amarante

• Cabeça de Rapaz

• Um Moinho no lugar do Buraco (Amarante)

• O Ribeiro do Inferno (Amarante)

• Uma casa rústica (Amarante)

• Leiras de Milho (Manhufe)

• Rio de Ovelha, em Padronhelo (fim de tarde)

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 13


• As carvalhas do Rosso, Manhufe (fim de tarde)

• Um caminho em Manhufe

• Um gaio

• Um cuco

• Um casal de papa-figos

1892 Exposição no Grémio Artístico, com três obras:

• Questão de Textos

• No campo (reproduzida no catálogo da exposição)

• Um crítico

1893 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com dez obras:

• Mater Dolorosa

• Elegia Panteísta

• Vinho novo em casco velho (reproduzida no catálogo da exposição)

• No campo

• Um crítico

• Cabeça de Aldeão

• Fim de tarde no caneiro da ínsua do Tâmega (Amarante)

• Maçãs e Uvas

• Aperitivos

• Morte de Catão (esboceto)

1893 Exposição no Grémio Artístico, com quatro obras (apresentadas nesse mesmo ano no Ateneu Comercial):

• Mater Dolorosa

• Vinho Novo em Casco Velho

• Maçãs e Uvas

• Aperitivos

1894 Exposição Arte (pintura e desenho) no Ateneu Comercial do Porto, com oito obras:

• Canção pastoril

• Lobo do Mar

• Paisagem de inverno

• Noite de Luar (estudo)

• Primavera

• Ribeiro de San Thiago

• Velhice

• Retrato do autor

14 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


1894 Exposição no Grémio Artístico, com quatro obras (apresentadas nesse mesmo ano no Ateneu Comercial):

• Canção pastoril

• Paisagem de inverno

• Velhice

• Retrato do autor

1895 Exposição no Grémio Artístico, com três obras:

• Ave Marias (reproduzida no catálogo da exposição)

• Lobo do Mar

• O Rio Pavia

1896 Exposição no Grémio Artístico, com duas obras:

• No intervalo do cantochão

• Cabeça bíblica (estudo)

1897 Exposição no Grémio Artístico, com uma obra:

• O lar dos Avozinhos

1898 Exposição no Grémio Artístico, com duas obras:

• Santificado seja o Vosso Nome... (reproduzida no catálogo da exposição)

• O lar dos Avozinhos

1899 Exposição no Grémio Artístico, com uma obra:

• Depois da refeição

1900 Exposição Universal de Paris (18) 1901 1.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com sete pinturas a óleo e um desenho:

• O lar dos avozinhos

• Crepúsculo

• Retrato de minha filha Leonor

• Prelúdios d'amor

• A floresta em abril

• Arvoredos ao Sol-posto

• Primavera

• Velho marinheiro (desenho)

18 Desconhece-se que obra ou obras aí estiveram patentes.

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 15


1902 2.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com duas pinturas a óleo:

• Retrato do Dr. Eduardo David e Cunha, Director do Hospital Civil de Viseu no seu gabinete (representado no catálogo da exposição)

• Manuel e Maria

1903 3.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• Paisagem de Maio (reproduzida no catálogo da exposição)

1904 4.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com nove pinturas a óleo:

• Regresso ao Lar (reproduzida no catálogo da exposição)

• Veterano de Hormuz (reproduzida no catálogo da exposição)

• Retrato de D. Diogo d'Almeida (Reriz), Major do Estado-maior do Exército

• O Rio Pavia no Outono

• Manhã de Outono no Rio Pavia

• Sobre o caramelo em Novembro

• Manhã de Outono

• Crepúsculo Outonal no Rio Pavia

• Cabeça de pescador - estudo

1905 5.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro pinturas a óleo:

• Véspera de Festa (reproduzida no catálogo da exposição) • A esmola das Cinco Chagas (reproduzida na Ilustração Portuguesa de 24 de Abril de 1905)

• A viúva do grevista (reproduzida no catálogo da exposição)

• Consultando o reportório (reproduzida na Ilustração Portuguesa de 24 de Abril de 1905)

1906 6.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro pinturas a óleo:

• Camponesas friorentas (1904)

• Depois da Festa (reproduzida no catálogo da exposição)

• Cão e Gato

• Flores Campestres

1908 1.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com duas obras:

• A Velha dobando à lareira (destinada a figurar na exposição do Rio de Janeiro)

• Viúvas em Oração (reproduzida na Ilustração Portuguesa de 20 de Abril de 1908)

1908 Exposição Nacional do Rio de Janeiro (19)

19 Idem.

16 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


1909 2.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com seis obras:

• Velhinha

• Dolor

• Leonor

• Retrato

• A História (cabeça de estudo)

• Estudo para a obra Flor Agreste

1909 7.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro pinturas a óleo:

• Apanha do folhado (reproduzida no catálogo da exposição)

• Uma história da aldeia

• Flor agreste (reproduzida no catálogo da exposição)

• Caridade moderna

1910 3.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com sete obras:

• Estudo do nu

• Cesto de Maçãs

• Maçãs

• Taça de Camélias

• Camélia e Violetas

• Camélias

• Camélias

1910 8.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com sete pinturas a óleo:

• Camponeses à beira da água

• Leonor (reproduzida no catálogo da exposição)

• Camélias

• Flores de março

• Cesto de maçãs

• Taça de camélias

• Camélias e violetas

1911 4.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com duas obras:

• Flores de Abril

• Aveiro (extinta capela de São João)

1913 10.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com sete pinturas a óleo:

• Cesto de maçãs

• A Praça da Erva em Viseu

• Historiador (reproduzida no catálogo da exposição)

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 17


• O Manuel!...

• Na mesa da cozinha

• Pinhal ao fim da tarde

• Crepúsculo

1914 11.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro pinturas a óleo:

• Lágrimas silenciosas (reproduzida no catálogo da exposição)

• No inverno

• Frutos de verão

• Pêssegos

1915 12.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• Operário doente (reproduzida no catálogo da exposição)

E um conjunto 12 telas denominadas “Trechos da Minha Terra”:

• A Beira em Abril

• Sobre o Caramulo, em Abril

• No pomar

• Macieiras em flor

• Um aspeto de Vil de Moinhos (Viseu)

• A casa da tecedeira (Vil de Moinhos – Viseu)

• O Rio Pavia (junto a Vil de Moinhos - Viseu)

• Efeito de neve, na Beira

• Dia chuvoso no Rio Pavia

• Sol sobre a neve (Beira)

• Pochade de neve

• Rincão da Beira

1915 1.ª Exposição de Aguarela da Sociedade Nacional de Belas Artes, com cinco obras:

• Pinhal do Monte Salvado, em dezembro (Viseu)

• A sesta da ceifeira (estudo para um quadro)

• Paisagem outonal

• Um escolar do século XIV

• Natureza morta

1916 13.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com oito pinturas a óleo:

• A sesta dos camponeses

• Flor da Serra

• Bucolismo antigo

• Cabeça de camponesa

• Primavera

18 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


• Um trecho do Monte Salvado (Viseu)

• Tarde de junho

• Crepúsculo

1916 2.ª Exposição de Aguarela da Sociedade Nacional de Belas Artes, com três obras:

• Natureza morta (aguarela)

• Compositor Músico (aguarela)

• Camponeses da Beira

1917 14.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com sete pinturas a óleo:

• Promessa a Santo António de Orgens (Viseu) (reproduzida no catálogo da exposição)

• Louças portuguesas

• Na mesa da cozinha

• A noiva do soldado

• Retratos de José Compadre e de sua mulher (díptico)

• Uma rua de Orgens

• Uvas e pêssegos

1917 3.ª Exposição de Aguarela da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro aguarelas e três desenhos:

• A Praça de Camões de Viseu (aguarela existente no Museu de Grão Vasco)

• Cinco cabeças de velhos (aguarela)

• Rapariga do Campo (aguarela)

• Três cabeças de velhos (aguarela)

• [3] Desenhos (sem título)

1918 9.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com seis obras:

• A Abóbora

• Camélias e Laranjas

• Manhã de outono

• Carvalhos do Monte Salvado

• Sol da Manhã

• Natureza Morta

1918 15.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com seis pinturas a óleo:

• Louças portuguesas (variante)

• O vendilhão (reproduzida no catálogo da exposição)

• O melão

• Os pêssegos

• O lampião aceso

• A perdiz

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 19


1919 16.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com seis pinturas a óleo:

• O velho artista

• O balão veneziano

• Na mesa da cozinha

• Cabeça de camponês

• Cabeça de camponesa

• Hora crepuscular

1919 5.ª Exposição de Aguarela da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma aguarela e três desenhos:

• Cabeça de velho (aguarela)

• Cabeça de camponesa (desenho)

• Cabeça de criança (desenho)

• Capucheira (desenho)

1920 17.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com duas pinturas a óleo:

• A promessa

• Limpando metais

1921 (Março) - 10.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com dez obras:

• Na mesa da Cozinha

• Pêssegos e Cerejas

• Crisântemos

• Um caminho em Repeses (Viseu)

• Uma Rua em Repeses (Viseu)

• Casa da Estrada (Repeses – Viseu)

• Velho Castanheiro (estudo)

• Praia de São Pedro de Muel (Marinha Grande)

• Rapariga de São Pedro de Muel (Marinha Grande)

• Velho ao Sol

1921 18.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com seis pinturas a óleo:

• Alumiando

• Por alma do seu homem

• Na mesa da cozinha

• O tio Bernardo

• Velho ao Sol

• Velho ao ar livre

20 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


1922 Participa na exposição Internacional do Rio de Janeiro, sendo agraciado com a medalha de prata atribuída à obra À Lareira. 1922 19.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com quatro pinturas a óleo:

• O cigano

• Estudando à lareira

• Crepúsculo (Marinha Grande)

• Sol da tarde

1923 (Maio) - 12.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto, com três obras:

• Leitura junto à lareira

• Aquecendo-se ao lume

• Sol da tarde na aldeia (pertencente à Câmara Municipal de Viseu)

1923 20.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• Avó e neta

1924 21.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com três pinturas a óleo:

• Depois do banho

• Cabeça de estudo

• Cabeça de estudo

1925 Expõe no Salão Nobre do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Uma das obras aí expostas, A Canção da Aldeia, figurou uma segunda vez na Exposição retrospetiva da SNBA em 1937.

1935 32.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• “Alfa e Ómega” (Princípio e fim) (reproduzida no catálogo da exposição)

1936 33.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com cinco pinturas a óleo:

• Retrato do Exm.º Senhor Conselheiro Dr. Afonso de Melo Pinto Veloso (reproduzida no catálogo da exposição, cujo desenho preparatório integra o espólio do Museu de Grão Vasco)

• Primavera

• Coreiritos estudando ao Sol num terraço da Sé de Viseu (reproduzida no catálogo da exposição)

• O romance

• As cebolas

1937 1.ª Exposição Retrospetiva da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• A Canção da Aldeia (já anteriormente exposta no Rio de Janeiro em 1925).

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 21


1937 1.ª Exposição de Retratos na Sociedade Nacional de Belas Artes, com dois óleos:

• Retrato do autor

• Lucinda (peça reproduzida no catálogo da exposição)

1938 35.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• Cristo ungido (reproduzida no catálogo da exposição)

1939 36.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com três pinturas a óleo:

• Hortaliceiras (reproduzida no catálogo da exposição, presentemente no Museu de Grão Vasco)

• Roçando o mato

• Rua da aldeia de Santiago (Viseu)

1940 37.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com três pinturas a óleo e dois desenhos:

• Perdoem-me senhores pais!... (regresso ao lar) – Tomai a vossa cruz e segui-me (reproduzida no catálogo da exposição)

• Uma rua das Caldas de São Pedro do Sul

• Tentação (natureza morta)

• Estudo de nu para quadro “Alfa e Ómega” (desenho)

• Uma boa velhota (desenho)

1941 38.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com duas pinturas a óleo:

• Regresso da Horta (reproduzida no catálogo da exposição, presentemente no Museu de Grão Vasco)

• A Senhora Rita

1942 39.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com uma pintura a óleo:

• O retrato da avozinha (reproduzida no catálogo da exposição)

1942 Salão do Estoril, com três pinturas a óleo:

• O retrato da avozinha

• Sacristão friorento

• Primavera

1943 40.ª Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, com três pinturas a óleo:

• Lampião aceso

• Moleque brasileiro

• Paisagem do Fontelo (Viseu)

22 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


1987 Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso (20) 1995 Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu (21) 1996 Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu (esta mostra contou com 102 obras e, no seu catálogo, identificam-se uma mais 87 obras referenciadas no inventário).

Homenagem a Almeida e Silva, complexo paroquial de Mangualde

Prémios: 1884 Segundo prémio de desenho, “desenho de estátua”, atribuído pela Real Academia de Belas Artes do Porto, sob a direção de João António Correia. 1885 Segundo prémio de desenho histórico, “desenho de estátua”, atribuído pela Real Academia de Belas Artes do Porto, sob a direção de João António Correia. 1885 Prémio Soares dos Reis (Projeto de Invenção) 1896 Menção Honrosa e Medalha de 2.ª classe pelo Grémio Artístico 1897 Medalha de 3.ª classe pelo Grémio Artístico 1899 Medalha de 2.ª classe pelo Grémio Artístico 1900 Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris 1908 Menção Honrosa na Exposição Internacional do Rio de Janeiro 1922 Medalha de Prata pela obra A Lareira, atribuída na Exposição Internacional do Rio de Janeiro 1925 Menção Honrosa na Exposição patrocinada pela Embaixada de Portugal e pelo Centro Beirão, realizada no Salão Nobre do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro 1935 Medalha de 2.ª classe pela Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa) 1939 Medalha de ouro pela obra intitulada Hortaliceiras, atribuída pela Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa).

20 Idem. 21 Idem.

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 23


24 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


CATÁLOGO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 25


Hortaliceiras

Viseu, [Assinado], 1938 Pintura a óleo sobre tela 99cm x 134cm MGV inv.2388 / 266 PIN (Legado de Almeida e Silva, 1946) EXPOSIÇÕES: 1939 – 36.ª Exposição coletiva da Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa; 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

26 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


As Hortaliceiras é uma das obras mais significativas, senão mesmo a peça mais icónica, de toda a produção de Almeida e Silva, galardoada com a medalha de ouro, em 1939, na Exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. Esta “pintura de género”, que nos remete para a representação da atividade do Mercado 2 de maio em Viseu, não longe da casa do autor, é também um extraordinário retrato físico e psicológico, e ainda uma excelente figuração de “natureza morta”, pela qualidade do tratamento dado aos elementos vegetais. A composição, que poderia ser partida em dois retratos aparentemente distintos, revelam o instante em que duas vendedeiras, mulheres do povo, vestidas de forma simples, se preparam para dispor as hortaliças numa bancada de venda. A mulher mais velha, no lado esquerdo da composição, acomoda um quinhão de couves com as suas mãos rudes. A sua expressão é compenetrada e pensativa. O seu trajo popular, saia rodada, ampla camisa escura e avental, é próprio de um dia comum de trabalho, só pontuado, com alguma alegria, pelo lenço de cor garrida e pelas argolas de ouro. A mulher mais nova segura, com os seus braços fortes, uma cesta repleta de nabos, apoiandoa na bancada. A sua expressão facial é bruta e tensa, talvez antevendo um pálido sorriso ou apenas a manifestação de cansaço. Em ambas as personagens, que são de gerações diferentes, parece trespassar um sentimento de resignação. Na primeira talvez seja um gesto maquinal, de toda uma vida que, mesmo à boca da velhice, ainda é necessário que se continue para bem de um magro sustento; a outra decalca essa vivência, com a aceitação própria de algo inevitável. O fundo escuro da composição permite antever uma série de outros elementos que caracterizam o espaço do mercado: as réstias de generosas cebolas, que divide a composição, alguma louça rústica, um vaso de flores e uma grande talha de azeitonas. No contexto das obras de Almeida e Silva, esta expressa bem as suas qualidades técnicas, plásticas, os amplos recursos e a predileção por uma estética naturalista, que não deixa de ser temperada com um sentimentalismo romântico e um apreço particular pelos temas do quotidiano. Curiosamente esta obra vem na senda de outras, como O Vendilhão que se reproduz no Catálogo da exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa de 1918, mostrando um espaço de mercado que aparenta ser o mesmo reproduzido nas Hortaliceiras. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 27


28 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Menina das Camélias

Viseu, [Assinado], 1912 Pintura a óleo sobre tela 46cm x 36cm MGV inv.2386 / 264 PIN (Aquisição a D. Maria do Céu Diogo, 1949)

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

A Menina das Camélias revela uma das características mais presentes na obra de Almeida e Silva, uma espécie de serenidade e de imutabilidade, que parece colocar esta jovem, possivelmente nascida com o século, incólume a todas e quaisquer perturbações, mesmo aquelas que eram intensamente vividas no período revolucionário em que a pintura foi executada. A obra apresenta uma paleta densa, em que a figura, quase de frente, em busto, se eleva de um fundo escuro. No rosto da jovem espalha-se uma luz cálida, pontuada com meticulosos detalhes como o tratamento do cabelo, que se adivinha apanhado atrás da cabeça e que cobre parte da orelha, o brilho pontual do brinco, olhos amendoados, bem definidos, uma mirada realista e uma expressão de alguma compenetração, que tanto pode ser de timidez, como apenas o resultado de uma posição estática exigida ao modelo. Num plano ainda mais presente, banhadas de luz intensa, está um copioso bouquet de camélias matizadas de branco e vermelho, que sublinha, e quase rivaliza, com a beleza simples da retratada. Dada a significação de pureza, captada através da singeleza das flores e inocência da personagem retratada, esta é uma das peças mais conhecidas do pintor Almeida e Silva, devendo a sua dimensão icónica à singularidade da composição e à subtileza emotiva, fator pelo qual, os viseenses nutrem uma especial atenção à obra. A representação das camélias é um tema recorrente em Almeida e Silva. Na exposição de arte do Ateneu Comercial do Porto (1890) faz a primeira apresentação deste tema floral, repetindo sucessivamente estudos de naturezas-mortas nesta tipologia sobretudo em 1910, na 3.ª exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 29


30 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Crisântemos

Viseu, [Assinado], 1920 Pintura a óleo sobre tela 61,5cm x 43cm MGV inv.2386 / 264 PIN (Depósito de D. Maria Augusta de Santa Rita Pedroso Coutinho, 1986) EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: MGV 2011

A obra Crisântemos, também conhecida por Natureza-morta – flores (título dado no catálogo da exposição de 1996), é um estudo pictórico virtuoso de um arranjo floral com crisântemos brancos, amarelos, rosa e matizados, posto num vaso bojudo de vidro. A peça integra um conjunto temático de floreiros que Almeida e Silva executou ao longo da sua vida artística, sendo esta uma das mais tardias. São de notar, neste contexto, diversas outras composições de arranjos florais como Um Cesto de Camélias (1906 – Depósito no Museu Soares dos Reis), Jarra com Camélias (1906 – Depósito no Museu Soares dos Reis), Menina das Camélias (1912 – Museu de Grão Vasco), Rosas e Minervas (1926 - numa coleção particular em Oeiras), ou ainda as peças apresentadas em diversas exposições, como Flores, no Porto (1889); três peças: Flores, Camélias e Amores Perfeitos e Camélias, no Porto (1890); Flores Campestres, na SNBA em Lisboa (1906); quatro obras com o tema Camélias, na SNBA (1910); Natureza-morta, na SNBA (1915, 1916 e 1918); e o regresso ao tema das camélias, com Camélias e Laranjas, na SNBA (1918). Em qualquer das obras referidas adivinha-se a influência exercida pelo seu mestre e pintor António José da Costa, um dos artistas românticos que consegue acompanhar o romper do Naturalismo em Portugal e que desenvolve, numa fase avançada da sua carreira, uma paixão pelo estudo da natureza e em especial, das camélias e outras flores, “objectos-modelo” extremamente complexos em termos compositivos, lumínicos, de texturas, cromatismo, etc., exercícios, por excelência, do virtuosismo do artista. Esta obra é quase certamente a que se refere no catálogo da 10.ª Exposição anual da Sociedade de Belas Artes, do Porto, em 1921. SG

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32 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Retrato de Homem

Viseu, [Assinado], 1922 Pintura a óleo sobre tela 58,5cm x 44,5cm (Depósito de D. Maria Augusta de Santa Rita Pedroso Coutinho, 1986) EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: MGV, 2011

Almeida e Silva retrata um homem, de meia-idade, parcialmente calvo, com um semblante circunspecto, atitude reforçada não só pela posição da cabeça e da direção baixa do olhar, como ainda por estar apoiado num bordão, numa profunda quietude. A figura apresenta-se no interior de uma habitação, sendo o fundo caracterizado por tons castanhos de madeira. Invade este interior, a partir da direita, uma luz quente, como se a personagem estivesse à lareira; num artifício técnico e plástico que veio a utilizar também na Menina - Efeitos de Luz (de 1924). Efetivamente, não fosse a diferença de dois anos nas datas firmadas em cada um dos quadros, dificilmente se conseguiriam dissociar, tal é a semelhança da paleta, da intensidade cromática, da caracterização física e psicológica de ambas as figuras. SG

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34 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Menina - Efeitos de Luz

Viseu, [Assinado], 1924 Pintura a óleo sobre tela 46cm x 36cm MGV inv.2387 / 265 PIN (Depósito de D. Maria Augusta de Santa Rita Pedroso Coutinho, 1986) EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

A Menina - Efeitos de Luz, pintada 12 anos depois da Menina das Camélias, revela uma maior maturidade pictórica de Almeida e Silva, na qual a figura, praticamente a meio corpo, se apresenta despojada de quaisquer atavios, colocando toda a ênfase no tratamento dado à personagem e em especial ao rosto. O fundo é indistinto, caracterizado com uma pincelada vigorosa e quase espatulada, em tons de castanhos, mas permitindo perceber um espaço interior no qual a personagem se integra. O rosto da jovem é envolto em dois relances distintos de luminosidade. Da direita sobressai um tom quente e alaranjado, que parece emergir de uma lareira acesa, afagando a face e realçando o peculiar brilho do brinco em ouro que pende da orelha, ou ainda no olhar cristalino. Da esquerda ressalta uma luz branca, fria e menos intensa, mesmo assim essencial a um jogo lumínico que sugere um tempo de inverno, passado num interior, suscitação confirmada pelo tipo de indumentária que a figura apresenta: um casaco abotoado, num tom escuro de verde acinzentado (que se parece mesclar com o fundo). O recurso habilidoso ao sfumato, o contraste das duas intensidades de luz, a caracterização da mirada um pouco enigmática, aliada à expressão valores simbólicos, como a pureza, inocência e intemporalidade, tão do agrado do pintor, conferem à obra um elevado interesse para a caracterização da obra de Almeida e Silva, virtuosismo já experimentado na obra Retrato de Homem, pintado dois anos antes. SG

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36 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Autorretrato Viseu, [Assinado], 1932 Pintura a óleo sobre tela 100cm x 77cm MGV inv.2465 / 343 PIN

(Legado de Almeida e Silva, 1946) EXPOSIÇÕES: Exposições: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

O Autorretrato de Almeida e Silva, pintado quando este perfazia os 68 anos de idade, revela duas realidades: um perfeito domínio técnico da pintura de retrato e, simultaneamente, a maturação do seu estilo próprio, ligada a toda uma aprendizagem académica de finais do século XIX, da qual o pintor não se desvincula. Esta obra notável, constituiu uma verdadeira presença ao olhar, não só por se tratar de uma tela de dimensões já consideráveis, mas sobretudo pelo desafio que a mirada do retratado nos lança. Almeida e Silva, faz-se representar a meio corpo, trajado com gravata e casaco, segurando com as mãos uma paleta e pincéis. O pano de fundo é profusamente preenchido com plantas ornamentais, à frente está uma tela sobre um cavalete, a qual parece estar a ser pintada nesse momento e, por trás de si, um quadro com uma paisagem, já emoldurado, que parece figurar um rincão do parque do Fontelo, lugar muito representado pelo artista. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 37


Retrato de Francisco de Almeida Moreira Viseu, [Assinado], 1940 Pintura a óleo sobre tela, 88cm x 73cm MGV inv.2467 / 345 PIN (Oferta de Almeida e Silva, 1942)

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

38 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


O Retrato de Francisco de Almeida Moreira, oferecido ao Museu pelo pintor com a dedicatória “Ao Museu de Grão Vasco, perpetuando a memória do seu 1.º Director perante esta sua grande obra, oferece como viseense e como artista – Almeida e Silva | Viseu 1940”, é uma das peças mais importantes nesta coleção, tratando-se de um retrato do fundador do Museu, o Capitão Francisco António de Almeida Moreira, obra esta já realizada postumamente à sua morte em 1940. Almeida Moreira é aqui representado a meio corpo, trajando fato e gravata, com chapéu, apoiando as mãos num varandim. Em pano de fundo existe alguma vegetação de exterior que o respalda e que se traduz num mero artifício técnico que permite evidenciar a figura em primeiro plano. Em último plano destaca-se a silhueta da parte alta de Viseu, onde se encontra o Museu de Grão Vasco, a Sé e a Igreja da Misericórdia, palcos das ações empreendidas por Almeida Moreira, como paladino das artes e do património. Antecedendo a oferta desta obra ao Museu de Grão Vasco, em carta datada de 26 de maio de 1942, dirigida a Albano Portocarrero de Almeida Coutinho, então diretor do museu, Almeida e Silva diz-nos que: “(…) resolvi pintar o seu retrato a óleo, não com o aspeto doentiamente decadente como o representou – aliás com grande mérito – o insigne escultor espanhol Mariano Benlliure, mas antes da sua doença mortal, no seu apogeu viril contemporâneo por toda a parte conhecido. Por este modo ficará sendo um retrato pictórico, perante o qual se poderá reconstituir psicologicamente mais tarde o que foi Almeida Moreira na sua vida cheia de ação e atividade a favor da Arte portuguesa (…)” (22). Francisco de Almeida Moreira (1873-1939), notável figura que Viseu viu nascer e a quem foi confiada, entre outras missões, a organização e direção do Museu de Grão Vasco, desde a sua institucionalização em 1916, até dezembro de 1939, dedicou toda a atenção aos valores patrimoniais da sua cidade, pugnando pela defesa, conservação e valorização dos mesmos. De grande sensibilidade artística e de delicado temperamento de esteta, a par do museu, da atividade militar e de professor, envolveu-se durante largos anos na dinâmica do município, tendo exercido o cargo de Vereador na Câmara Municipal de Viseu e membro da Comissão de Turismo. Embora não tenha cursado Belas Artes, a formação que recebeu nos estabelecimentos militares que frequentou permitiu-lhe adquirir sólidos conhecimentos de desenho e de pintura, ficando-lhe também desse tempo as boas relações que criou e manteve com os artistas e com muitos outros apaixonados pela Arte. O seu espírito culto, assim como os seus estudos de História e crítica de Arte, levaram-no a fazer diversas viagens de estudo ao estrangeiro, a frequentar museus e centros históricos, a visitar exposições e certames de arte ou a assistir a conferências. A vontade de proteger e dar a conhecer os valores do património cultural passou também pela colaboração artística em vários periódicos de Lisboa e nos jornais de Viseu, não deixando de publicar uns tantos livros, folhetos ou opúsculos, traduzindo impressões de viagens, estudos de pintura antiga, inventário de valores monumentais, catálogos e guias sumários. A sua intervenção foi determinante para a implementação do Museu de Grão Vasco e para a valorização do património edificado no núcleo histórico da cidade de Viseu, destacando-se o papel ativo que desempenhou no acompanhamento das obras de restauro da Sé, empreendidas pela Comissão de Belas Artes e posteriormente pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. AS / SG 22

AMGV: Processo de Almeida e Silva, Carta de Almeida e Silva a Albano Portocarrero, 26/05/1942.

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 39


40 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Retrato de Plácido António Vasconcelos Maya

Viseu, [Assinado], 1924 Pintura a óleo sobre tela 74,5cm x 59,5cm MGV inv.2466 / 344 PIN (Legado de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque, 1966) EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC / MGV, 2011

O retrato a meio corpo de Plácido António Vasconcelos Maya, revela um estilo diverso daquele que Almeida e Silva praticou no seu autorretrato e ainda mais distante se o compararmos com outros que classificámos “de género” (Hortaliceiras, O Van-Ruge de Santiago, etc.), estando mais próximo de um vasto conjunto de outras obras pintadas para vários particulares e instituições locais, como para a Misericórdia de Viseu, para a Confraria de Santo António de Viseu ou para o Internato Viseense de Santa Teresinha. Se por um lado a capacidade técnica de Almeida e Silva se mantêm, embora a um nível menos bem resolvido do que em outras obras, no que respeita à expressão criativa, esta é praticamente nula. De facto assistimos aqui a uma representação formal que pretende servir de registo iconográfico memorialista, com um pendor eminentemente solene e representativo do estatuto ou da classe social do retratado. Neste caso não lográmos apurar a biografia de Plácido Vasconcelos Maya (23) contudo é bem patente a sua posição social, como membro da nobreza, portando no canto superior esquerdo as respetivas armas de família. O escudo, sobrepujado por um coronel de nobreza em forma de coroa ducal, é esquartelado com as armas dos Vasconcelos, Araújo, Abreu e Carvalho, sendo carregado com as armas dos Maia, ao centro. SG

23 Apenas nos surge um registo com este nome na lista de provedores e mesários da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, referindo-se a Placido António de Vasconcelos Maia, como Cavaleiro da Ordem de Cristo e Cónego Prebendado da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, o qual esteve como provedor em 1816. Pode, esta obra, ser um retrato póstumo realizado a partir de uma fotografia ou de outro registo.

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 41


Retrato do Conselheiro Dr. Afonso de Melo Pinto Veloso

Viseu, [Assinado], 1935 Desenho a carvão sobre papel 55cm x 36cm MGV inv.1609 / 102 DES (Doação de Almeida e Silva) Foto: MGV, 2011

42 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


A partir deste desenho foi realizado um retrato a óleo apresentado na exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1936, e reproduzido no respetivo catálogo, no qual Afonso de Melo Pinto Veloso surge sentado e portando as condecorações nacionais com que foi agraciado. Na parte inferior do desenho encontra-se escrito, à pena, a seguinte dedicatória: “Almeida e Silva / Viseu, 1935 / Oferta ao Museu de Grão Vasco. / (Estudo do natural para o retrato a / Óleo, do natural, / do Ex[celentíssimo] S[enho]r Conselheiro / Dr. Afonso de Melo Pinto Veloso)”. O desenho a carvão retrata uma prestigiada figura da vida pública nacional, o Conselheiro Afonso de Melo Pinto Veloso, nascido em Águeda em 1878, cuja ligação com Viseu é feita através do casamento contraído com D. Paulina de Araújo Coelho de Campos (da Casa do Rossio, em Viseu). Pinto Veloso cursou Direito na Universidade de Coimbra e fez carreira na magistratura. Desempenhou diversas funções públicas e ocupou alguns cargos políticos eminentes, tendo sido auditor administrativo de Beja, entre 1910 e 1911; governador civil do Funchal, em 1917; Ministro da Justiça em 1918-1919 (no governo que sucedeu ao assassinato de Sidónio Pais); emissário do Governo Português ao Tribunal de Haia para a negociação das indemnizações de guerra; Secretário do Conselho Superior de Magistratura Judicial, entre 1918 e 1932; Ministro da Instrução Pública nos anos de 1920 e 1921; presidente e juiz conselheiro de Supremo Tribunal de Justiça, em 1932-1933, vice-presidente da Câmara Corporativa e da Câmara dos Deputados; relator do Supremo Tribunal Militar e membro da Casa das Beiras em Lisboa. A partir dos anos 30, com uma nova configuração do panorama político português, deixou de ter o protagonismo político que conheceu, sobretudo no período final da Primeira República, contudo manteve um conjunto de exercícios importantes nos domínios da Justiça e enquanto deputado. Faleceu em Lisboa, onde residia, a 15 de fevereiro de 1968. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 43


Retrato de Menina (Cabeça de Criança)

Retrato de Mulher (Cabeça de Camponesa)

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: MGV, 2011

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: MGV, 2011

Viseu, [Assinado], 1919 Desenho a sanguínea sobre papel 39cm x 28cm MGV inv.1637 / 130 DES

Viseu, [Assinado], 1919 Desenho a sanguínea sobre papel 53,5cm x 41,5cm (Dep. de D. Maria Augusta de Santa Rita Pedroso Coutinho, 1986)

44 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Os dois pastéis Retrato de Menina e Retrato de Mulher, são quase certamente os que se expuseram na 5.ª exposição de aguarela, desenho e miniatura, ocorrida na SNBA em 1919, aí recebendo os títulos de Cabeça de Criança e Cabeça de Camponesa, esta última fazendo par com outra Cabeça de Camponês, apresentada no mesmo certame. Estes dois esmerados desenhos a sanguínea, denunciam a excelência das capacidades de desenho de Almeida e Silva, que apenas rivalizam com os retratos que fez da sua filha Leonor, ou dos seus autorretratos. Na Cabeça de Criança, a três quartos, o artista concebe a face da retratada como uma superfície macia, cabelos em madeixas, um pouco desalinhados e apanhados atrás da cabeça, e um olhar posto no infinito. No caso da Cabeça de Camponesa, o traço é muito mais vincado e os contrastes acentuados, permitindo uma maior definição das texturas. Esta “cabeça”, rodada a três quartos para a direita, retrata uma mulher idosa, de lenço posto à cabeça e um xaile cobrindo os ombros. O cabelo branco é parcialmente escondido e a maior evidência é posta na expressão enrugada da face, da boca e nos olhos cansados. Em termos psicológicos, a Menina exprime os valores de candura, inocência e esperança no futuro; contrapondo com a Camponesa, que revela a dignidade da idade, a aspereza dos anos passados e um certo cansaço. Observando em conjunto estas duas imagens, embora não constituam em si mesmas um conjunto, podemos inferir aqui a predileção do autor pelos temas da transitoriedade da vida, uma espécie de inquietação íntima do artista que poderá ser o espelho do seu encanto pelo futuro, a meninice, que parece representar a Menina, e por algo cessante, com um passado que se esvai, a velhice, com a Camponesa. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 45


O “Van-Ruge” de Santiago (Saloio) Santiago, Viseu, [Assinado], 1932 Pintura a óleo sobre tela 52,5cm x 36,5cm MGV inv.2468 / 346 PIN (Adquirido em 1946)

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu.Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

46 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Almeida e Silva tinha uma especial predileção por diversos locais nos arredores de Viseu onde colhia uma particular inspiração. Um desses lugares era a Aldeia de Santiago, que imortalizou em várias obras e que parece ter sido o palco para uma série de outras, como Sol da Tarde na Aldeia (apresentada na SBAP em 1923), A Canção da Aldeia (1925 – exposta no Rio de Janeiro), em que retrata as gentes das aldeias beirãs e os seus afazeres diários A obra O “Van-Ruge” (corruptela da expressão francesa vin-rouge), comummente conhecida por Saloio, mais uma vez sublinha o fascínio que o mundo rural exercia em Almeida e Silva, tanto pela sua dimensão etnográfica, quer pelas figuras populares em si mesmas, autênticas “personagens-tipo”. O “Van-Ruge” porém, além de ser um desses “personagens-tipo” que existem nas aldeias, neste caso representando o “maluquinho” ou o bêbado, era efetivamente uma pessoa concreta, real, com personalidade e história própria e, por isso, esta obra pende mais para um retrato do que para uma “pintura de género”, como acontece com as Hortaliceiras ou com o Regresso da Horta. No verso da tela desvenda-se o mistério do “Van-Ruge”, dado que o artista fez a seguinte inscrição: “O Van-ruge de Santiago | Este Homem andou pela França como trabalhador. Amante do vinho, pedia-o com as únicas palavras que aprendeu: vin-rouge. E assim ficou sendo o popular Vanruge”. O retratado surge em busto, trajando camisa, colete e um casaco grosso, sendo especialmente característico o uso do barrete comprido, com borla, que se usou por todo o século XIX nas zonas rurais e que se manteve a uso tardiamente nas comunidades “saloias” dos arredores de Lisboa e em muitas aldeias do país. Em pano de fundo estendem-se campos planos, pontualmente assinalados com arvoredo. O colorido e a intensidade luminosa da paleta acentuam os traços e as rugas do rosto do personagem, revelando a sua idade avançada. O semblante gentil e o sorriso amável, talvez até ingénuo, complementam o olhar do retratado, que nos fita de frente, mas em que se sente uma divagação expressiva que caracteriza um estado mental “ausente”. O “Van-Ruge” é um retrato emotivo, uma daquelas obras que Almeida e Silva fez não tanto por um interesse temático, mas sobretudo pelo impulso que sentia em representar o mundo que o rodeava e as pessoas com quem se cruzou. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 47


48 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Regresso da Horta

Viseu, [Assinado], c. 1941 Pintura a óleo sobre tela 60cm x 84cm MGV inv.2391 / 269 PIN (Adquirido em 1946)

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

O Regresso da Horta (também conhecido por Regressando a Casa) obra apresentada na 38.ª exposição anual da SNBA em 1941, revela um dos universos pictóricos mais acarinhados pelo pintor Almeida e Silva, o tema da vida rural, parte integrante da identidade da Beira Alta. Efetivamente esta “pintura de género”, representa não tanto duas figuras concretas, mas sim a própria gesta agrícola de um povo trabalhador, aqui simbolizado por um casal que regressa a casa, à tarde, depois de um dia de trabalho. Embora seja uma composição totalmente distinta das Hortaliceiras, este quadro remete-nos para um mesmo mundo do trabalho árduo e para uma estética eivada de valores sentimentais, para um reconhecimento do mérito do trabalho esforçado, de toda uma vida ou de uma classe social, que de algum modo encantava profundamente o pintor e lhe suscitava valores morais de respeito profundos. É por este motivo uma obra intensa e que não deixa o observador alheio à densidade psicológica que emana das duas figuras representadas. O homem, já de meia-idade, traja um casaco grosseiro e tem “enterrado” na cabeça um velho chapéu de abas já deformado. Trás um braçado de forragem de milho para alimentar o gado e carrega, apoiado ao ombro, uma enxada rasa, adivinhando-se ter estado a trabalhar na horta. A mulher segue-o de perto, vestida com um xaile e um lenço posto à cabeça, e levando uma cesta com hortaliças. Ambas as personagens têm a pele do rosto sulcada pelas agruras do tempo da Beira, frio no inverno e quente no verão, e umas mãos de trabalho, fortes e ossudas, que revelam os anos a fio de esforço na prática agrícola. Apesar da notória simplicidade, o casal não é representado como expectante de um futuro melhor, ou queixoso do seu fardo, mas sim com a naturalidade de alguém que aceita a sua condição e o labor do dia a dia, serenamente. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 49


50 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Azenhas do Pavia

Viseu, [Assinado], c. 1914 Pintura a óleo sobre tela 45cm x 58cm MGV inv.2276 / 154 PIN

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

Marcando a paisagem de Viseu, nasce, neste mesmo concelho, o Rio Pavia, afluente do Dão, pontuando a paisagem de verde e de frescura, e dele dependendo muitas das atividades humanas desde tempos imemoriais. As Azenhas do Pavia, é uma obra perfeitamente integrada no contexto de produção naturalista preconizada pelas gerações de pintores que dominaram o panorama artístico nacional nos finais do século XIX e o primeiro quartel do século XX. Em diversas obras Almeida e Silva representa recantos pitorescos de vários lugares nas imediações de Viseu, sendo um deles o curso do Pavia e em particular num local onde se eleva uma antiga ponte de pedra reerguida no século XVIII, mas que faz remontar este espaço a um período muito mais recuado na Idade Média ou mesmo no período Romano. Esta paisagem, de paleta luminosa e traços vigorosos, retrata um dia pleno de sol, provavelmente no verão, denotando-se uma composição pitoresca que retrata uma habitação e uma azenha, e ainda a atividade das lavadeiras que pontuam um pequeno açude. É nitidamente uma obra pintada no local, tão ao gosto do movimento ar-livrista, circunstância que também podemos observar em outras obras referentes a diversos espaços exteriores, como o Parque do Fontelo, Repezes, Santiago, etc., locais para onde o artista costumava retirar-se. Esta pintura, a única que se encontra presentemente exposta no circuito permanente de visita do Museu de Grão Vasco, é uma das obras melhor estruturadas no contexto de outras “paisagens” conhecidas deste pintor. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 51


Parque do Fontelo Capela de São Jerónimo

Parque do Fontelo Árvores Frondosas

Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

Viseu, [Assinado], 1907 Pintura a óleo sobre madeira 26,5cm x 19,8cm MGV inv.2392-1 / 270 PIN (Legado de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque, 1966)

52 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)

Viseu, [Assinado], 1907 Pintura a óleo sobre madeira 28,2cm x 17,5cm MGV inv.2392-2 / 270 PIN (Legado de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque, 1966)


Parque do Fontelo Alameda de Árvores

Viseu, [Assinado], 1907 Pintura a óleo sobre madeira 26,5cm x 19,4cm MGV inv.2392-3 / 270 PIN (Legado de D. Maria Angelina de Vasconcelos Maya de Albuquerque, 1966) Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

Quinta de São Miguel - Viseu Viseu, [Assinado], 1907 Pintura a óleo sobre tela 21cm x 26,5cm MGV inv.2390 / 268 PIN

EXPOSIÇÕES: 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 53


A escassas centenas de metros do centro da cidade de Viseu encontra-se o Parque do Fontelo e a Quinta de São Miguel, lugares privilegiados por Almeida e Silva para os seus passeios de verão nos quais aproveitava para pintar os recantos mais pitorescos. O Fontelo, hoje um parque público (24) frondoso e fresco, é simultaneamente um espaço cuja história remonta ao princípio da nacionalidade e por isso mesmo é um símbolo histórico da própria cidade. A Quinta do Fontelo, adquirida em 1149, pelo Bispo D. Odório a Exemena Mendiz, foi a residência de verão dos Bispos de Viseu que aí, sucessivamente, erigiram e readaptaram um opulento paço e criaram, no século XVI, um dos mais belos jardins renascentistas do país. Na mata desta propriedade, em 1565, o Bispo D. Gonçalo Pinheiro mandou construir a capela de São Jerónimo, um dos elementos pintados por Almeida e Silva, e abrir algumas alamedas rebordadas de árvores para ligar os acessos ao Paço. No mesmo périplo de visita ao Fontelo poder-se-ia aceder à propriedade privada da Quinta de São Miguel, também este um espaço histórico cuja construção do respetivo solar remonta à primeira metade do século XVII e que constitui um dos mais belos exemplares de arquitetura senhorial rural da região. Tal como nas Azenhas do Pavia, estas quatro pequenas obras captam um ambiente estival através de uma luminosidade brilhante e de uma paleta rica, tratados com uma pincelada vigorosa, mesmo assim descritiva, que denotam um toque muito pessoal, despreocupado e estilisticamente muito bem conseguido. SG

Expropriado pelo Estado através da Lei de 20 de julho de 1912, o Paço do Fontelo, antiga residência dos Bispos de Viseu, foi entregue ao Ministério do Fomento para aí ser instalada uma colónia penal e, não tendo sido concretizada a intenção, passou ao Ministério da Guerra; a mata e jardins foram cedidos ao município que aí criou o parque municipal e parte dos bens móveis passaram a integrar o acervo do Museu Regional (futuro Museu de Grão Vasco).

24

54 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Pinheiros

Viseu, [Assinado], 1915 Pintura a óleo sobre tela 18cm x 23cm MGV inv.2389 / 267 PIN Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

Ao contrário da maior parte das obras de exterior pintadas pelos amantes do naturalismo quase sempre em dias de sol glorioso, a pintura Pinheiros, representa um detalhe paisagístico de inverno, dominado pela presença da neve que recobre parcialmente um afloramento rochoso de onde emergem alguns pinheiros. Nesta pequena tela denota-se a essência da pintura paisagística: o deslumbramento pela beleza natural e o desejo de representar a Natureza temperando-a ou fazendo despertar os sentimentos do observador. Na obra Pinheiros subjaz uma melancolia e um silêncio profundos, que não deixam de denotar uma beleza algo efémera pela presença de uma camada macia de neve. A paleta é algo lânguida, com contrastes esbatidos pela mescla de verdes e castanhos, que sobressaem na neve que não é completamente alva e que por sua vez se misturam com os fundos acinzentados e um céu plúmbeo. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 55


56 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Praça de Camões - Viseu

Viseu, [Assinado], 1917 Pintura a aguarela sobre papel 44cm x 29cm MGV inv.2679 / 557 PIN (Legado de Almeida e Silva, 1946)

Exposições: 1917 – Terceira exposição de aguarela, desenho e miniaturas da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa; 1987 - Pintura de Almeida e Silva, Casino do Luso, Luso; 1995 – Almeida e Silva – XI Salão de Pintura da Feira de São Mateus, Viseu; 1996 – Almeida e Silva, Museu de Grão Vasco, Viseu. Foto: Carlos Monteiro, 1996 | © IMC / MC

A única aguarela de Almeida e Silva na coleção do Museu de Grão Vasco, representa a Praça de Camões – Viseu (atual Praça de D. Duarte), constituindo um interessante documento para a história urbana da cidade de Viseu. A vista é tirada de uma janela da casa habitada pelo autor, nela se vendo, em primeiro plano, o monumento evocativo do poeta Luís de Camões, um busto de bronze assente numa esguia coluna, escultura executada por Almeida e Silva quatro anos antes. Vê-se, ainda, um conjunto de casas, hoje desaparecidas, adoçadas à muralha medieval do primitivo paço do Conde D. Henrique, estando apostas no respetivo adarve a colunata que compõe famosa varanda dos cónegos e, por trás destas, uma perspetiva da fachada da Sé Catedral. A Praça de Camões é uma representação pictórica de um espaço urbano não muito comum na obra de Almeida e Silva. Aparentemente é mais um ensaio destinado a figurar numa exposição do género, parecendo um pouco casuístico, do que um trabalho resultante de uma experiência continuada na pintura de aguarela. Efetivamente, se comparada com outros aguarelistas do mesmo período e alguns deles bem representados nas coleções do Museu, esta será uma obra modesta, cuja pincelada, bastante descritiva, parece mais resultar de um traço de desenho do que de uma pintura. Mesmo assim esta foi uma das obras apresentadas na terceira exposição nacional de Aguarela da SNBA de Lisboa. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 57


58 // COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945)


Velho Peralta - séc. XVIII

Viseu, [Assinado], 1896 Pintura a óleo sobre tela 24cm x 19,5 cm Col. Particular (depósito temporário no MGV) Foto: SG

O Velho Peralta - séc. XVIII, é uma pequena obra que representa uma figura-tipo protagonista da pequena peça de teatro de cordel Novo entremez intitulado o peralta vaidoso, e o velho presumido, de autoria desconhecida e impresso em Lisboa, na Oficina de Francisco Sabino dos Santos, em 1779. Neste entremez, que servia apenas para entreter no contexto de um banquete ou no intervalo entre peças dramáticas de maior dimensão, a figura do Armelindo, o peralta, sinónimo de fanfarrão, homem já maduro e que deveria ser mais sóbrio, surge-nos como uma pessoa ociosa, amante das festas e dos prazeres da vida, que se tem em grande conta, vaidoso e edonista, um pouco afetado, representado nesta pequena obra pictórica com uma esmerada gravata e uma casaca à moda francesa, que para o século XVIII, e para um homem que aparenta estar já bem dentro dos 60 ou 70, seria “ridiculamente” vanguardista. A edição original do entremez, com apenas 16 páginas, revela um elenco composto pelas personagens Octávio, o velho; Lucinda de Brázia (suas filhas); a criada intrometida; e o Taralhão, criado de Armelindo, o peralta; desenrolando-se um enredo que fala de amores e desencontros entre as personagens. Provavelmente esta peça ainda seria apresentada, com alguma regularidade, nos espaços públicos e privados na cidade de Viseu, e talvez também esta mesma personagem lembrasse alguma outra existente na época em que Almeida e Silva resolveu pintá-la. É uma obra pictórica de pequena monta, feita de forma tão despreocupada como, por ventura, foi o próprio escrevinhar do entremez que o inspira, mas não deixa de ser um interessante testemunho do espírito lúdico e algo jucoso do próprio artísta, tanto mais tratando-se de uma peça com uma data ainda relativamente recuada (1896) e, sobretudo, por ser uma peça inédita, aqui pela primeira vez posta ao conhecimento público. SG

JOSÉ DE Almeida e Silva (1864-1945) COLEÇÕES DO MUSEU DE GRÃO VASCO // 59





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