Jornal InforMar Ubatuba nº 11 maio 2017

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MAIO DE 2017 - UBATUBA - SP

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Eles sumiram

FOTO: BRUNO TAYAR

Desmatamento, caça e tráfico de animais em Parques de SP resultam no declínio da população de mamíferos Pág. 10

Ieda Terra apresenta o espetáculo 'Libélula' em seis cidades Pág. 04

Em 1831, escravos de Ubatuba planejavam rebelião no Natal Pág. 06

Coluna ‘Ilhas literárias’ estreia com textos de escritores de Ubatuba

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EDITORIAL

InforMar Ubatuba

O naufrágio da Arca de Noé

Aos olhos de um pequeno homem, o Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Picinguaba, em Ubatuba, parece enorme, mas para a Terra é um pequenino e raro remanescente de Mata Atlântica, o bioma que há 500 anos ocupava quase 15% do atual Brasil. Esse pedacinho que sobrou faz diferença para o equilíbrio climático da Terra. O desaparecimento dos animais que dispersam as sementes das árvores pode ser catastrófico. Mas por aqui, estão roubando e descaracterizando o patrimônio natural com a mesma perversidade que roubam e descaracterizam o patrimônio histórico e cultural da cidade. A política de Meio Ambiente do Estado de São Paulo é uma catástrofe. Há meses, este jornal tem alertado para o sucateamento do parque criado para proteger a grande floresta Atlântica que domina a paisagem de Ubatuba. Agora a Ciência comprova o que já se esperava: as chamadas Unidades de Conservação não estão conservando tanto assim. Prova disso é o sumiço dos primatas como o macaco-prego, o muriqui, o sagui-da-serra e o bugiu, cujos gritos na serra, em um passado não tão distante, avisavam aos caiçaras sobre a mudança do tempo. A única explicação possível é que o Estado não está cumprindo seu dever e a floresta está infestada de caçadores e palmiteiros. E não faz diferença nenhuma se aquele que mata ou rouba um animal da floresta faz isso por ‘‘esporte’’, por dinheiro, para expor em zoológicos ‘‘educativos’’ ou se faz em nome de uma suposta ‘‘tradição’’. Para as dezenas de espécies que dependem dos frutos das palmeiras, não faz diferença quem está derrubando as plantas para vender o palmito. Os bandidos devem ser combatidos e presos. As quadrilhas de traficantes de animais que atuam em Ubatuba não podem esperar 190 anos para serem desbaratadas como ocorreu com as de traficantes de escravos. E se houver algum colaborador local, que esteja agindo por ‘‘ingenuidade’’ ou ‘‘necessidade’’, como pode vir a alegar, precisa ser educado sobre a gravidade da situação ecológica, cada vez mais difícil de reverter. Além disso, é preciso desenvolver saídas que garantam o sustento dessas pessoas ao mesmo tempo que colaborem com a conservação. Trocar as armas por câmeras fotográficas, os ‘‘safaris’’ de caça clandestinos por trilhas de observação são algumas possibilidades. É preciso que haja postos de vigilância e patrulhas de agentes treinados e bem pagos para proteger os animais. Se houver prevaricação e corrupção de agente público ou privado, civil ou militar, a punição deve ser exemplar e imediata. O Estado deveria assumir o problema e combatê-lo. Em vez disso, o secretário estadual do meio ambiente trata a ciência com desprezo e a Fundação Florestal tem sonegado informação e tentado impôr censura prévia à Imprensa em reportagens sobre as Unidades de Conservação.

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CHARGE DO MÊS

Vi no ‘Feice’ que roubaram o orgulho de Ubatuba. Mas já acharam de novo. Orgulho ninguém nos rouba. Mas já acharam os DEZ MILHÕES do Teatro que ia custar TRÊS? Pois é, e os bichos?

J. ROSSO

InforMar Ubatuba Diretora de jornalismo Renata Takahashi (MTB: 0076209/SP) Editor de conteúdo Leandro Cruz Tiragem 5000 Periodicidade mensal Distribuição gratuita

FALE CONOSCO Redação: (12) 9 9608-3288 informarubatuba@gmail.com Anúncios: (12) 3835-1337 anuncienoinformar@gmail.com Acesse: www.informarubatuba.com.br www.facebook.com/informarubatuba


NOTAS E VERSOS

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Música e cultura nas ondas do rádio

TIAGO SALLES RIZZO

MARINA SEFERIAN

Programa Gaivota Jazz é transmitido ao vivo todas as quintas-feiras, às 20 horas, com apresentação de Bruno Miranda

Gaivota Jazz é um programa de jazz e música instrumental brasileira e internacional, com informes culturais, entrevistas e apresentações ao vivo. Com apresentação de Bruno Miranda, o programa vai ao ar todas as quintasfeiras às 20 horas pela Gaivota FM no 104.9 Mhz em Ubatuba e por todo o mundo no site www.gaivota.fm.br

Bruno já era ouvinte da Gaivota desde 2014, mas sentia falta do jazz e outros estilos na programação. Decidiu, então, se voluntariar e fazer um programa experimental. A proposta foi aceita pela rádio e, assim, em 24 de novembro de 2016 foi ao ar o primeiro Gaivota Jazz. A ideia do programa não é transmitir apenas o jazz convencional, mas sim dar espaço a estilos

musicais que normalmente não aparecem nas rádios. Assim, o programa traz também ritmos brasileiros como chorinho e bossa nova, além de música instrumental de todo o mundo, trilhas sonoras, tango, músicas francesas, africanas, latinas e outras. O programa ainda traz dicas de eventos independentes, lançamentos de discos e apresentações

ao vivo direto do estúdio. Em um clima descontraído, Bruno recebe artistas e amigos para entrevistas e promove interpretações ao vivo: “O improviso e o apoio ao artista, principalmente ao artista independente, são marcas do Gaivota Jazz. Eu quis fazer um programa livre, que soasse diferente, que trouxesse aquela espontaneidade perdida e desse espaço ao que não tem espaço”, conta Bruno Miranda.

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AGENDA

16 de maio Contação de histórias BIBLIOTECA MUNICIPAL No dia 16 de maio, a Biblioteca de Ubatuba recebe a contação de histórias “Cheiro de Fulô”, com a Cia. Som em Prosa. A narrativa, inspirada no livro “Maria Bonita – A Rainha do Cangaço”, de João de Souza Lima sobre Maria Gomes de Oliveira, conta algumas histórias do movimento batizado como Cangaço, sob o ponto de vista das mulheres. A contação é destinada a adultos e crianças maiores de seis anos. As apresentações acontecerão dia 16 de maio na biblioteca municipal, situada na Praça 13 de Maio, 52, Centro, em duas sessões: às 9 horas da manhã e às 3 da tarde.

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22 de maio Oficina: Como motivar sua equipe SECRETARIA DE EDUCAÇÃO “Como motivar sua equipe” é o tema da oficina que se realizará no dia 22, às 18h30, na secretaria municipal de Educação (rua Gastão Madeira, 101 – Centro). A atividade abordará aspectos como liderança e a melhora na comunicação com a equipe para aperfeiçoamento do desempenho de seus integrantes. As inscrições podem ser feitas no Posto de Atendimento ao Empreendedor (PAE) do Sebrae, que fica na Prefeitura de Ubatuba (rua Dona Maria Alves, 865 – Centro) tanto presencialmente, das 9 às 16 horas, quanto por telefone, até as 18 horas. O número do PAE é (12) 3834-1055. Email: pae@ ubatuba.sp.gov.br

2 de junho Show Libélula, de Ieda Terra PROJETO TAMAR A voz suave de Ieda Terra embala as letras das músicas que remetem à natureza e aos costumes dos antepassados no intimista show “Libélula”, que segue em turnê por seis cidades de São Paulo, e traz direção musical do renomado músico e arranjador Ricardo Matsuda. A turnê, produzida pela Paraquedas Produções, é uma realização do governo do Estado de São Paulo e da Secretaria da Cultura a partir do Programa de Ação Cultural (ProAC - Editais). Em Ubatuba, o show será realizado no dia 2 de junho, às 20 horas, no Projeto Tamar (R. Antônio Atanázio, 273 – Itaguá). O repertório é inspirado no álbum autoral independente e homônimo, lançado em 2015, mas também inclui algumas de suas canções de estilo pop que dialogam com a música caipira e folclórica que fazem parte da essência da cantora.

“Eu nasci e cresci no interior de São Paulo, numa cidade chamada São Miguel Arcanjo. Por isso, o show traz um olhar todo particular sobre o meu local de origem, e a sua valorização, que se revelam nos instrumentos típicos da música caipira e folclórica”, explica Ieda Terra. “A viola caipira faz uma referência aos antigos trovadores portugueses; o violoncelo remete erudição à música popular; a percussão é uma homenagem à musicalidade latina; e a doçura da flauta transversal cria um ambiente sonoro particular, que tem tudo a ver com as canções”, conta Ieda. O show “Libélula” também faz um apelo significativo sobre a importância de se preservar a natureza e os costumes dos antepassados. Além da cantora Ieda Terra, o espetáculo conta com os arranjos e instrumentação de Moreno Overá (viola caipira e charango), Rick Solar (violão e teclado), Rafael Gandolfo Scherk (violoncelo e rabeca), Gisele Pilz (flauta transversal) e Jonathan Andreoli (percussão).

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HISTÓRIA

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Escravos planejavam rebelião no Natal de 1831 por Leandro Cruz Dia 20 de novembro de 1831, o Aurora, que rumava para o Rio Grande do Sul, é trazido pelo vento de volta à praia do Itaguá. O capitão da embarcação tem uma mensagem urgente para o novo Juiz de Paz da Vila de Ubatuba: os homens mais poderosos do município corriam risco de morte. Escravos pretendiam atacar os homens mais ricos da cidade, quando estivessem no mesmo lugar e na mesma hora: na missa de Natal, na Matriz. Os rebeldes se apropriariam dos bens dos senhores e conquistariam a liberdade. Mas entre os revolucionários havia ao menos uma dezena de homens brancos livres, inclusive militares, e eles já tinham armas, pólvora e munição. Para investigar essa História, busquei ajuda do historiador Ricardo Figueiredo Pirola, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP e autor da premiada tese: "Escravos e rebeldes nos tribunais do Império: uma história social da lei de 10 de junho de 1835", publicado pela editora do Arquivo Nacional. O livro ajuda a compreender melhor um período conturbado da

história do Brasil, marcado por instabilidade política, recrudescimento da violência contra os escravos e muitos levantes e insurreições. Pirola me ajudou a ter acesso a documentos relativos ao plano de insurreição, encontrados no Arquivo Público do Estado, como Correspondências entre autoridades, o inquérito policial, entre outros. Pirola forneceu ainda seus valiosos apontamentos sobre os documentos. Busquei também informações em outras fontes. No repositório digital de documentos e na rede de hemerotecas da Biblioteca Nacional, busquei referências a Ubatuba e aos acusados para compreender as ‘‘tretas’’ da vila que vivia rápidas transformações. Todas essas fontes foram preservadas em arquivos fora de Ubatuba. Sinto que tentaram apagar muitas histórias por aqui. Quanto aos documentos que pude pesquisar, cabe lembrar que cada linha (de jornal, correspondência ou até mesmo a tomada dos depoimentos dos negros) foi escrita por mãos brancas e poderosas, que podem ter omitido ou mesmo acrescentado o que lhes fosse conveniente.

Prope Jundicuara Praedium in Districtu Ubatuba Karl Friedrich Philipp von Martius, Ubatuba 1836

Muitos brancos da vila apoiaram a tentativa de revolução contra a elite ligada ao tráfico humano

Sozinha e isolada, mas só por 40 anos Entre 1787 e a década de 1820 Ubatuba viveu um período de isolamento econômico, antes de voltar a crescer vertiginosamente com a vinda de investidores portugueses, franceses e brasileiros, que chegaram para atuar nos ramos de exportação de café e importação de escravos. Esse intervalo de quase 40 anos começou quando o presidente da província de São Paulo, Bernardo José de Lorena, determinou que todas as embarcações que partissem da província deveriam passar pelo porto de Santos. Para a economia açucareira de Ubatuba, isso foi desastroso, pois o longo desvio obrigatório ao Sul tornava os produtos ubatubanos muito mais caros no mercado do Rio de Janeiro. Assim, dos mais de 20 engenhos que existiram aqui no século XVIII, restavam só quatro no início do século XIX. Durante essas quatro décadas, as roças de Ubatuba produziam para a própria subsistência e para trocas na própria região. Só vendia pra fora, a bordo de canoas, o parco excedente de farinha, toucinho, feijão e mandioca. O que para os negócios dos senhores foi tempo de decadência, para os negros pôde ser visto como um alívio, um abrandamento da violência e segregação. Com a economia voltada para o consumo interno, fora da lógica de acumulação capitalista, o número de horas de trabalho diminuiu nessas décadas. Poucos senhores conservaram grupos maiores de escravos. A maioria dos donos de escravos acabava por ir trabalhar na roça ao lado dos cativos e muitos acabaram por libertá-los. O número de mestiços aumentou, sinal de que as relações inter-raciais estavam se tornando mais próximas. Mas, com a reabertura dos portos e os novos empreendedores, tudo iria mudar rapidamente às vésperas dos anos 1830.

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Negros conversandom Johann Moritz Rugendas1 1821

HISTÓRIA

Maio/2017 - Pág. 07 O Juiz de Paz, João Gonçalves Pereira, tinha chegado a Ubatuba no dia 2 de Novembro de 1831. Pela correspondência trocada entre ele e o presidente da província, sabemos que sua missão era ‘‘prestar todas as cautelas por meio de huma exacta polícia a fim de extirpar toda e qualquer insurreição da escravatura’’. Por isso ele não deve ter estranhado quando o fazendeiro Antônio Joaquim da Costa Brandão o procurou para dizer que desconfiava que seus escravos estavam tramando alguma coisa. Os oito negros suspeitos foram açoitados para que confessassem o suposto plano, mas nada revelaram. Brandão decidiu vendêlos em um lugar distante, o Rio Grande do Sul, para não levarem a

cabo nenhuma rebelião. O senhor tinha direito de vida e morte sobre os escravos. Além de explorar a força de trabalho e de os submeter a castigos físicos, os fazendeiros podiam vender seus cativos quando bem entendessem. Ser vendido para longe, para muitos era suplício mais doloroso que o próprio chicote, pois afastava para sempre de filhos, e outros amores... Quando os escravos suspeitos já estavam em alto mar, um passageiro livre do Aurora ouviu eles conversando sobre a insurreição, lamentando estarem sendo os castigados apesar de serem outros os mentores do motim. A testemunha alertou o capitão da embarcação, que decidiu voltar a Ubatuba e avisar a Vila. O Juiz vai ao Aurora e ali interroga novamente os escravos

de Brandão, que revelam o nome dos cativos que os convidaram a tomar parte no ataque, Benedito e Belizário. Vicente Xavier de Carvalho, Sargento do 6º Batalhão de Caçadores, forneceria munição. É apontado como líder Antônio Fernandes Pereira Corrêa, o misterioso forasteiro que vivia na casa do vigário Emídio José Fernandes. Nas palavras do Juiz ao presidente da província, Corrêa era ‘‘pessoa de péssimo comportamento, que com os nomes de Pátria e Liberdade, que falsamente apregoa, tem saído indispor-se com não pequena parte do povo deste Município’’. Seria ele Revolucionário? Alguém a quem quiseram incriminar? Alguém que queria usar escravos para fins políticos pessoais? Não tenho certeza.

A História de Ubatuba está ligada à da Ilha de São Domingos, onde ficam os atuais Haiti e República Dominicana, próxima a Cuba e Jamaica. No século XVIII, a ilha era dividida entre franceses e espanhóis. Os colonizadores tinham ganhos estratosféricos, pois submetiam seus numerosos escravos ao mais pesado regime de trabalho das Américas. Ali a expectativa de vida de um africano era de três anos após a chegada. Entre 1791 e 1804, São Domingos foi palco de um grande levante de escravos sem precedentes. Foi o único caso no ‘‘Novo Mundo’’ em que africanos e descendentes conquistaram a Independência e o fim da escravidão por meio de uma revolução. Rebeldes incendiaram as fazendas e as casas de seus senhores. Muitos dos franceses

Incendie du Cap en 1793. Révolte general des Négres. (Paris, 1815)

A fuga dos franceses para Ubatuba conseguiram escapar da fúria dos revolucionários negros e vieram investir seu tesouro no Brasil, uma parte deles, em Ubatuba. Eles trouxeram o café e técnicas para clareamento de açúcar. Os mais ricos se tornaram sócios de traficantes de escravos no Sul da vila e fazendeiros em novas áreas abertas por machados em punhos negros. A lembrança da revolução em São Domingos deixava a nova elite de Ubatuba preocupada que isso também ocorresse no Brasil. A França, a Espanha, os EUA e o próprio Brasil jamais deixaram o Haiti prosperar nem ter paz. O objetivo era evitar que pudesse inspirar escravos de outras colônias. Nos últimos duzentos anos não foram poucas as intervenções externas, como sabotagens, bloqueios, invasões, promoção de golpes e ‘‘missões de paz’’.

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HISTÓRIA custos ficavam com o público e os lucros com agentes privados. Para os negros nunca faltou motivo para rebelião. Mas havia uma mágoa recente a mais: os senhores foram os primeiros a profanar o sagrado. Em 1830, brancos invadiram a novena de Nossa Senhora do Rosario dos Homens Pretos e espancaram os devotos. Em 1831 havia também motivos a mais para acreditar na libertação: 1 - Em outubro a província de São Paulo aboliu a escravidão indígena. 2 - A proibição do tráfico negreiro fez muitos escravos acreditarem que logo eles seriam libertos. 3 - Com as disputas entre Dom Pedro I e seu Irmão Miguel pelo trono português, se espalhou o boato que Dom Miguel libertaria os cativos se vencesse e reunificasse os tronos do Brasil e Portugal. PENAS DIFERENCIADAS Sargento Vicente Xavier, por ser militar, não podia ser julgado pela justiça comum. Os brancos que se envolveram no plano, mas que tinham terra, ficaram em prisão domiciliar. Só Corrêa, os negros e três brancos pobres foram presos. Conseguiram fugir, provavelmente com ajuda de companheiros que abriram um rombo na cadeia, usando explosivos. Perdi o rastro de Corrêa. Já os negros aparececem em anúncios de jornal com ofertas de recompensa pela recaptura.

Comboio de café rumo à cidade /J. B. Debret, 1836

Do pouco que consegui descobrir sobre o passado de Antônio Fernandes Pereira Corrêa, o mais relevante é que até 1830 tinha negócios no Rio de Janeiro e que uma década antes, em 1821, quando o Brasil ainda pertencia a Portugal, apoiou financeiramente as tropas que forçaram o rei Dom João VI a aceitar uma constituição limitando seus poderes, conforme exigia a Revolução do Porto. Mais importante que entender a ideologia do forasteiro, é descobrir porque tantos escravos e livres de Ubatuba estavam dispostos a participar do ataque. Artigos de jornal, ofícios, e a correspondência entre o governo provincial e a Câmara de Ubatuba, mostram que o que de fato incomodava o povo da vila eram os abusos da elite agrária escravocrata. Plantadores de café de Ubatuba e do interior do Estado queriam exportar sua produção e exigiam estradas melhores. O problema é que sempre exigiam que a população simples da vila, como trabalhadores urbanos e pequenos agricultores, pagasse a conta das obras que beneficiariam a poucos, a começar pelos grandes proprietários cujas terras margeavam as estradas. Depois das estradas, veio a ponte sobre o Rio Paraibuna entre Ubatuba e São Luiz. Como em certos modelos de ‘‘Parceria Público-Privadas’’ de hoje em dia, os

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Os negreiros e as estradas

Em 20 de fevereiro de 1830, um fazendeiro de Rio Claro escreve um artigo ao jornal O Farol Paulistano, onde reclama que estava ‘‘cansado de sofrer prejuízos’’ desde que a Câmara de São Sebastião proibiu o embarque na freguesia de Caraguatatuba, obrigando os produtores de café a fazer viagens quatro léguas mais longas até Ubatuba, em estradas péssimas. Por essa época começava a funcionar o mega-esquema de desembarque de escravos entre Ilhabela, a freguesia de Caraguatatuba e o extremo Sul de Ubatuba. O complexo, incluía a fazenda do Barão da Vila Nova do Minho, o engenho São Pedro de Alcântara e a ‘‘fábrica de vidros’’, que servia de fachada para os reais negócios do negreiro João Alves da Silva Porto. Nos pontos de vigia, acendiam piras para avisar os contrabandistas, por meio da fumaça, sobre a presença de navios ingleses que combatiam o tráfico. Muitas autoridades colaboravam com o tráfico humano, por isso não é estranho que a Câmara de São Sebastião (da qual Caraguatutatuba fazia parte) não quisesse pessoas de fora frequentando aquelas águas, mesmo que isso significasse arrecadar menos impostos e taxas dos exportadores de café. Isso teria sido um fator que contribuiu para a necessidade de se reformar as estradas até a região central de Ubatuba. Em 1845, o Parlamento da Inglaterra aprova a Bill Aberdeen e a Marinha britânica passa a capturar os navios negreiros, levar os cativos de volta à África e ficar com as embarcações. A Lei foi aprovada porque os ingleses estavam cansados de ver os traficantes dando sempre um jeitinho de escapar mesmo quando apreendidos e julgados no Brasil. Em 1850, os ingleses montam uma base na Ilha dos Porcos (atual Ilha Anchieta). No mesmo ano, o ministro da Justiça, Eusébio de Queirós cria uma nova lei anti-tráfico, acabando com as brechas da lei de 1831 e endurecendo contra os traficantes. A quadrilha de Ubatuba já não contava mais com a proteção dos ministros marqueses de Maceió, Inhambupe e Baependi, que já tinham morrido (1834, 1837 e 1847). Era o começo do fim da ‘‘fábrica de vidros’’.

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LITERATURA

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Nova coluna ‘Ilhas Literárias’ estreia no InforMar Ubatuba

Keila Redondo COLUNA DO ATENEU

PEDRO C. GONTIJO

Todo mês, um texto criado por um escritor residente em Ubatuba será publicado na nova coluna online

Quantas pessoas criam literatura em Ubatuba? Quantos versos e prosas seguem engavetados? Se cada escritora ou escritor é uma ilha, o jornal InforMar quer ser as águas. Não águas que isolam… Ora, achar que as ilhas são isoladas

pelo mar é coisa de gente do outro lado da serra. Nós que vivemos aqui no litoral, sabemos que as águas são caminhos que navegamos, remamos, surfamos, nadamos. Aqui em Ubatuba sabemos que o mar não é quem separa e sim quem

conecta as ilhas. A cada mês selecionaremos um texto criado por uma escritora ou escritor residente em Ubatuba e publicaremos nesta coluna “Ilhas Literárias”. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas online pelo link disponível no site do InforMar. Podem ser inscritos poemas, crônicas, contos, trechos de romances ou qualquer outro gênero literário. Cada texto inscrito deve ter de 50 a 5.000 caracteres. Caso seu texto não tenha sido o escolhido deste mês, ele ainda pode ser selecionado para meses posteriores, sem a necessidade de uma nova inscrição. A coluna “Ilhas Literárias” é coordenada pelo escritor e jornalista Pedro C. Gontijo.

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A praia é a sala de visitas de todo carioca que se preze. E foi na praia de Copacabana que nasceu a amizade entre Álvaro, Silvio, Ribeiro, Neto e Ciro: personagens criados pela atriz e escritora Fernanda Torres em seu romance de estreia, “Fim”. Em primeira pessoa, cada amigo conta seus últimos instantes de vida: seus fins. Fernanda evita, então, uma provável monotonia, ao reverter a narrativa para a terceira pessoa, quando os personagens revelam seus pontos de vista sobre fatos e pessoas comuns em suas vidas. Embora “Fim” aborde a consciência da finitude, a morte, é um livro leve, bem-humorado até, talvez por ter como pano de fundo a contracultura e o “desbunde” do Rio de Janeiro nos anos 1960. Lançado em 2013 pela Companhia das Letras, “Fim” está disponível na Biblioteca: Praça 13 de Maio, 52.

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CIÊNCIA

Parques estaduais falham na proteção de mamíferos da Mata Atlântica, mostra estudo da Unesp Fiscalização precária favorece crimes ambientais e leva ao declínio da população de mamíferos; Picinguaba é caso grave por Renata Takahashi Pesquisadores do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro descrevem um cenário preocupante em artigo publicado na revista Animal Conservation no final de 2016, intitulado "Defaunação e colapso de biomassa de mamíferos no maior remanescente da Mata Atlântica". Entre 2002 e 2012, eles realizaram um censo populacional de mamíferos em 12 parques estaduais de São Paulo ao longo do maior remanescente da Mata Atlântica, a biorregião da Serra do Mar, uma área estimada de 8000 km². Cada local foi monitorado por pelo menos 1 ano. As Unidades de Conservação paulistas escolhidas para a pesquisa foram Ilha do Cardoso, Ilhabela, Carlos Botelho, Intervales, Jacupiranga, Jurupará, Petar, Caraguatatuba, Cunha, Jureia, Vargem Grande, além de Picinguaba, núcleo do Parque Estadual da Serra do Mar que abrange 80% do território total do

MAURO GALETTI

Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) Município de Ubatuba. “Esse artigo saiu para mostrar que as Unidades de Conservação, apesar do nome, não estão conservando muito”, diz o ecólogo, doutor e pesquisador do Departamento de Ecologia da Unesp Rio Claro, Ricardo Bovendorp, que participou

do estudo. “Foi um artigo que a gente lançou em uma revista internacional para chamar a atenção para uma problemática muito evidente para nós”, comenta. O pesquisador, em entrevista concedida por telefone ao InforMar Ubatuba, afirma que “o FAÇA SUA ENCOMENDA!

grande problema dos parques é realmente falta de investimento por parte do Estado, já que os parques são estaduais”. Segundo Bovendorp, o corte de funcionários nos últimos anos é muito preocupante e reflete diretamente na conservação dos animais e da floresta. O núcleo Picinguaba apresentou resultados desanimadores. “Em Picinguaba, a gente quase não tem médios e grandes mamíferos presentes. Só três espécies foram registradas em quase 203 quilômetros de transecção linear nas trilhas dentro do Parque em que os pesquisadores foram autorizados a acessar”, diz o ecólogo. O estudo traz uma tabela que mostra os registros de oito espécies de mamíferos nos parques monitorados. No núcleo Picinguaba foram registradas a presença de cotias, esquilos e quatis, mas não houve nenhum registro de queixadas, macacos-prego, saguis-daserra, muriquis, nem de bugios. Isso não significa que eles tenham sido necessariamente extintos em Ubatuba, mas que pelo menos estariam correndo sério risco. “Existem alguns relatos. Não é


CIÊNCIA

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que não existam. Eles não foram florestas neotropicais não fragmendetectados”, explica Bovendorp. tadas. O pesquisador responsável LISTA VERMELHA pelo estudo, professor do departaDas 44 espécies de mamífe- mento de Ecologia da Unesp, Mauro ros não-voadores registradas nos Galetti, aponta que “a baixa densidaparques, duas são classificadas de de primatas, especialmente muricomo Ameaçadas, seis como Vulne- quis, pode estar relacionada à pressão ráveis e sete como Quase ameaça- histórica e atual da caça por populadas, de acordo com o Status da Lista ções tradicionais", que não têm tabu Vermelha da International Union for para comer primatas. Conservation of Nature (IUCN). O estudo sugere que as A caça ilegal é uma prática principais estratégias de conservamuito comum em todos os parques ção para essas regiões são promodo estado de São Paulo, segundo o ver a conservação efetiva, reduzinpesquisador. “A gente consegue ver do a caça ilegal, a coleta de palmito poleiros, ceva, armadilhas. Infeliz- e a exploração madeireira. mente existem esses vestígios. A gente A Secretaria Estadual do consegue detectar dentro do mato o Meio Ambiente, responsável pelos corte do palmito, a caça, isso é muito Parques, evita comentar a situação triste”, lamenta. O artigo afirma que das Unidades de Conservação. a biomassa de mamíferos diminuiu Até o fechamento desta ediaté 98% em locais de caça intensa e ção, a assessoria de imprensa da foi 53 vezes menor que em outras Fundação Florestal não havia res-

MAURO GALETTI

Pesquisadores realizam censo de mamíferos em parques pondido aos pedidos de informação elaborados pelo InforMar, nem ao pedido de entrevista com o gestor interino do núcleo Picinguaba, Carlos Paiva da Silva, que cobre licença da gestora titular Cláudia Camila Faria de Oliveira.

INFORME PUBLICITÁRIO

DOCA 390 chega para fomentar cultura cervejeira Além de 13 torneiras, a casa oferece gastronomia local, espaço para crianças, escola cervejeira e loja de insumos

CERVEJA ARTESANAL Ubatuba acaba de ganhar um espaço totalmente inovador que chega para impulsionar a cultura cervejeira e difundir conhecimentos sobre essa bebida apreciada pela humanidade há milhares de anos. A DOCA 390 fica ao lado da Padaria Integrale, na rua Dr. Esteves da Silva, Centro. Além de 13 torneiras de chopp artesanal, a casa oferece cardápio com gastronomia local e espaço para crianças. Os apreciadores de uma boa cerveja poderão conhecer novos sabores, vindos de diversos lugares, e alcançados por meio das mais variadas receitas, técnicas de fermentação e variedades de maltes e lúpulos.

GASTRONOMIA

ESPAÇO PARA CRIANÇAS

Para aqueles que querem aprender a fazer sua própria cerveja, a DOCA 390 conta com uma escola cervejeira. Além disso, a casa oferece os insumos para quem produz a bebida, seja para consumo próprio, seja para trocar com outros produtores ou mesmo para comercializar. Na DOCA 390 é possível saborear os rótulos ou abastecer seu growler (garrafa retornável que garante a bebida fresca) e levar suas marcas e estilos preferidos para onde quiser. O cardápio gastronômico, que conta com assessoria do chef Marcelo Machado, apresenta opções variadas: porções, sanduíches, saladas, sobremesas,

incluindo opções vegetarianas e pratos feitos especialmente para crianças. O ambiente da DOCA 390, aconchegante e despojado, decorado com elementos náuticos, é perfeito para receber eventos culturais e cervejeiros, como lançamentos de rótulos, novas cervejarias, shows e eventos artísticos. DOCA 390 Rua Dr. Esteves da Silva, 390 Ubatuba-SP www.doca390.com.br fb.com/doca390

Funcionamento Quarta e quinta – 14h-22h Sexta – 14h-24h Sábado – 12h-24h Domingo – 12h-20h


DIVERSร O

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