Jornal InforMar Ubatuba nº 10 Abril 2017

Page 1

WWW.INFORMARUBATUBA .COM.BR

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - TIRAGEM 5.000 EXEMPLARES - EDIÇÃO Nº 10 - ABRIL DE 2017 - UBATUBA - SP

Aldeia Renascer

História cinematográfica

THAIS TANIGUTI / CAIÇARA CRIATIVO

Pág. 10

Evento no 'Dia aos imigrantes búlgaros e gagaúzos bessarabianos' Pág. 04

Ministros eram sócios de traficantes de escravos na Lagoinha Pág. 06

João Terra cai na estrada para lançar álbum de músicas inéditas Pág. 09


EDITORIAL

InforMar Ubatuba

‘Aguyjevete’ pra quem cuida

É preciso imediatamente tomar medidas para proteger o patrimônio histórico e natural de Ubatuba. A Praia da Lagoa é um dos mais urgentes exemplos. As ruínas da senzala pela qual passaram milhares de africanos, antepassados de milhões de brasileiros, correm o risco de serem depredadas por invasores e pela especulação imobiliária. Do mesmo modo que a Polônia mantém de pé os campos de concentração nazista, devemos preservar as senzalas e engenhos de Ubatuba. As diversas culturas que formaram o Brasil têm muito o que acrescentar. Mas, no que diz respeito à cultura do cuidado, em oposição à cultura da destruição, temos muito o que aprender com os indígenas. Durante milhares de anos, os povos originários criaram modos de vida que garantiram sua sobrevivência geração após geração, por séculos. Sem agrotóxicos, sem precisar de máquinas nem escravos. Embora desconhecessem a escrita ou a metalurgia, os indígenas brasileiros tinham técnicas próprias de manejo das plantas que utilizavam para comer e produzir tudo o que precisavam. Na época de Cunhambebe e Staden, a medicina e a farmacologia indígena era infinitamente mais avançada que a europeia, que mal tinha saído do obscurantismo medieval. Esse encontro de culturas poderia ter sido uma oportunidade dos homens de mundos tão distantes trocarem ideias e saberes desenvolvidos por seus ancestrais durante os milhares de anos em que os povos da América e Europa se desconheciam mutuamente. Mas aquele pequeno grupo de pessoas europeias que se considerava ‘‘nobreza’’, se achou no direito de tomar tudo para si, sem nem mesmo parar para aprender aquilo de bom que as nações indígenas tinham a ensinar. Se achou no direito ainda de ir raptar pessoas na África, ou comprar ali prisioneiros feitos por mercadores árabes e, em alguns casos, por tribos negras rivais incentivadas a fazer isso por pessoas como Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo, João Alves da Silva Porto e os barões da Villa Nova do Minho e de Ubá. Apesar disso, as culturas negras e nativas resistiram. Sobraram índios e quilombolas para ‘‘contar a história’’ e nos ensinar, entre outras coisas, que dá pra viver sem devastar tudo com essa ganância sem limites. Por isso nos colocamos do lado da defesa do direito dos povos indígenas, seja daqueles que ainda não tiveram contato com a ‘civilização’ seja daqueles grupos que tem maior interação com o mundo globalizado. Para preservar a natureza, a história e as pessoas (de qualquer etnia ou cultura), é preciso preservar a democracia. Só a cidadania ativa põe freio aos abusadores que ainda traficam influência como numa corte imperial.

Abril/2017 - Pág. 02

CHARGE DO MÊS

InforMar Ubatuba Diretora de jornalismo Renata Takahashi (MTB: 0076209/SP) Editor de conteúdo Leandro Cruz Tiragem 5000 Periodicidade mensal Distribuição gratuita

FALE CONOSCO Redação: 12 9 9608-3288 informarubatuba@gmail.com Anúncios: 12 3835-1337 anuncienoinformar@gmail.com Acesse: www.informarubatuba.com.br Curta: fb.com/informarubatuba


POLÍTICA

Abril/2017 - Pág. 03

Câmara começa a regularizar portal da Transparência Em dezembro de 2015, o portal da transparência da Câmara de Ubatuba recebeu nota 2,4 e ficou na 464ª colocação entre as cidades paulistas, segundo avaliação do Ministério Público do Estado. O levantamento pioneiro sobre transparência em Câmaras Municipais, denominado Métrica da

Transparência, atribui aos portais notas numa escala de zero a 10. O principal objetivo foi verificar se as Câmaras ofereciam ferramenta online que possibilitasse a fiscalização de contratos e dos gastos públicos pelos cidadãos. Ubatuba tirou nota vermelha. Esse ano, a Câmara Munici-

pal começou a regularizar seu portal, além de deixá-lo mais bonito e prático. Pelo endereço www. camaraubatuba.sp.gov.br/site/ transparencia o cidadão já pode ver os contratos da Casa e consultar a folha de pagamento, verificando o salário de cada servidor, efetivo ou em cargo de confiança.

CARGO

SITUAÇÃO FUNCIONAL

REGIME JURÍDICO

VALOR BRUTO

AUXILIAR LEGISLATIVO II VIGIA TÉCNICO LEGISLATIVO III - CONTABILIDADE SECRETARIO GERAL DA MESA DIRETORA TÉCNICO LEGISLATIVO III - SECRETARIA TÉCNICO LEGISLATIVO III RECURSOS HUMANOS PROCURADOR LEGISLATIVO PROCURADOR LEGISLATIVO CHEFE SECRETÁRIO DE GESTÃO E CONTROLE PROCURADOR LEGISLATIVO PROCURADOR LEGISLATIVO

Efetivo Efetivo Função de confiança Efetivo Efetivo Efetivo Função de confiança Efetivo Efetivo Efetivo

Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário Estatuário

R$11.108,57 R$11.198,51 R$11.620,42 R$11.731,78 R$12.265,04 R$14.768,36 R$14.823,40 R$15.696,64 R$16.408,61 R$16.909,61

FONTE: www.camaraubatuba.sp.gov.br/site/transparencia

Grupo organiza Observatório Social para fiscalizar o trabalho dos políticos Um grupo que começou a se organizar pela Internet pretende vigiar cada passo do poder público. Formado a menos de um mês, o ‘‘Observatório social basicamente é um instrumento de fiscalização dos gastos públicos pela sociedade civil’’, explica o professor e vendedor autônomo Fabrício Marangoni.

A ideia nasceu da constatação de que, mesmo quando existem leis e mecanismos que obriguem o poder público a prestar contas de seus gastos, esses dispositivos só têm serventia se houver pessoas acompanhando as licitações. O coletivo com cerca de 15 membros é aberto e procura mais pessoas para participar da iniciativa

que já existe em mais de 120 cidades do país. Para facilitar a comunicação e o convite a mais pessoas, foi criada uma página e um grupo no Facebook, com o nome Observatório Social de Ubatuba. O grupo se declara plural, apartidário e afirma que tem por princípio não estar a serviço de nenhum partido ou agente político.

INSCRIÇÕES ABERTAS Ubatuba ganha espaço permanente dedicado à experimentação em teatro e dramaturgia A pesquisa continuada em teatro e dramaturgia é o objetivo primeiro do “Núcleo Fundart de Pesquisa Teatral”, que a Fundação de Arte e Cultura (Fundart) de Ubatuba disponibiliza gratuitamente aos profissionais de teatro da cidade. Sediado na Biblioteca Pública Municipal “Ateneu Ubatubense”, o Núcleo será um ambiente destinado à leitura de dramaturgia, estudo e experimentação de linguagens na área de teatro, contribuindo para a capacitação profissional de atores e diretores. “Moro em Ubatuba há dez anos e percebo que a cidade tem muita gente de teatro que, assim como eu, sente falta de se expressar artisticamente”, diz Keila Redondo, coordenadora do núcleo. Os interessados em integrar esse espaço devem enviar currículo (portfólio artístico) e carta de intenção para o e-mail biblioteca@fundart .com.br. A participação é gratuita e os encontros acontecerão a partir do mês de abril, às terças e quintas-feiras, das 15h30 às 17h30, na Praça Treze de Maio, 52, Centro. NOVIDADE: MASSA INTEGRAL

FAZEMOS ENTREGAS!

Temos Açaí Puro, Tapioca, Dieta Fitness e Suco Detox


AGENDA

Abril/2017 - Pág. 04

18 de abril Dia do Livro Infantil BIBLIOTECA MUNICIPAL O próximo 18 de abril será uma terça-feira de festa na Biblioteca de Ubatuba. Nessa data, celebraremos o Dia Nacional do Livro Infantil. As crianças que forem à biblioteca nesse dia se deliciarão com três lindas histórias narradas pela artista Claudia Oliveira: “Tinha uma velhinha que engoliu uma mosca”, de Jeremy Holmes; “Tatu bola”, de Sonia Barros e a clássica “Mario, o marinheiro”. Claudia Oliveira, caiçara de Ubatuba, conta histórias há muitos anos, mas será a 1ª vez que se apresentará na biblioteca. 22 e 23 de abril 1ª etapa do Maresia Paulista Pro PRAIA ITAMAMBUCA A primeira etapa do Maresia Paulista de Surf Profissional será disputada nos dias 22 e 23 de abril, na Praia de Itamambuca, região norte de Ubatuba. A competição distribuirá R$ 30 mil de premiação, sendo R$ 8 mil ao vencedor.

BARANOV - IMAGEM CEDIDA POR J. COCICOV

17 a 23 de abril Folclore em cena PRAÇA DE EVENTOS (Av. Iperoig) Corais da aldeia Boa Vista, Musical Festa no Lixão, Fandango Caiçara, Dança do Boi e muito mais. Acesse a a programação completa no InforMarUbatuba.com.br

Fotografia, no Brasil, de imigrantes provenientes da Bessararábia 29 de abril Dia aos imigrantes búlgaros e gagaúzos bessarabianos ILHA ANCHIETA No último sábado do mês de abril, dia 29, a comunidade búlgara e gagaúza, por meio da Associação do Povo Búlgaro no Brasil, se reunirá em Ubatuba, a fim de reverenciar os 151 imigrantes falecidos na Ilha Anchieta em 1926. O “Dia aos imigrantes búlgaros e gagaúzos bessarabianos” entrou para o calendário oficial do município em 2016 e ocorre no dia 18 de abril, contudo esse ano a programação está prevista para o dia 29, sábado. Nesta data, às 10 horas, na Igreja Nossa Senhora das Dores, no bairro Itaguá, após culto religioso,

haverá uma breve projeção de slides referentes ao fato. Às 13 horas, os visitantes embarcarão em escuna da empresa Mikonos, com saída do cais do bairro do Saco da Ribeira, rumo à ilha Anchieta. As passagens devem ser adquiridas antecipadamente. Às 14 horas, integrantes da Associação Pró-Resgate Histórico da Ilha Anchieta e dos Filhos da Ilha, estarão orientando a visita ao antigo cemitério, a 30 metros da sede do Parque Estadual da Ilha Anchieta, onde ocorrerá a prece comunitária. Será colocada uma placa com registro da trágica ocorrência em que, no curto espaço de tempo de 100 dias, morreram 151 imigrantes, sendo 97% crianças. A

placa vai reverenciar, também, os falecidos sentenciados, policiais militares e familiares dos funcionários do presídio, sepultados ao lado dos restos mortais dos imigrantes. Depois, os visitantes terão a oportunidade de conhecer as belezas naturais que a ilha oferece com apoio do grupo de monitores cadastrados. O embarque para retorno ao continente está previsto para 17 horas. 6 de maio Desafio 28 Praias DA TABATINGA À PRAIA DURA O Desafio 28 Praias, prova de corrida de montanha que chega a sua 6ª edição neste ano, oferece duas opções de percurso: 42 km e 21 km. Quem opta pela maratona, pode fazer o percurso completo na categoria solo ou então partir para o revezamento em dupla, trio, quarteto ou quinteto (masculino, feminino ou misto). As inscrições vão até o dia 15 de abril. Mais informações: www.desafio28praias .com.br 27 e 28 de maio Longboarding Experience PRAIA DO SAPÊ Longboarding Experience reúne amantes dos pranchões nos dias 27 e 28 de maio, na praia do Sapê, Ubatuba (SP). Inscrições e mais informações: longboarding.experience10@gmail.com


Abril/2017 - Pág. 05

Guia Gastronômico

(12) 3832-1862

(12) 98143-7659

Av. Governador Abreu Sodré, 1501 Perequê-Açu - Ubatuba - SP

SALAD BAR Av. Leovigildo Dias Vieira, 1268 Praia do Itaguá

Guia de Cafés e Docerias FAÇA SUAS ENCOMENDAS!


HISTÓRIA

InforMar Ubatuba

Abril/2017- Pág. 06

FELÍCIO - Sr. Negreiro, a quem pertence o brigue Veloz Espadarte, aprisionado ontem junto a Fortaleza de Santa Cruz pelo cruzeiro inglês, por ter ao seu bordo trezentos africanos? NEGREIRO – A um pobre diabo que está quase maluco... Mas é bem feito, para não ser tolo. Quem é que neste tempo manda entrar pela barra um navio com semelhante carregação? Só um pedaço de asno. Há por aí além uma costa tão longa e algumas autoridades tão condescendentes! Trecho da peça Os Dois ou O Inglês Maquinista, de Martins Penna

Os barões piratas que vendiam gente

Ministros da Marinha, Fazenda e Relações Exteriores eram sócios de traficantes de escravos em Ubatuba As respostas para um enigma da história do Brasil podem estar em Ubatuba, nas Ruínas da Lagoinha e nas da Praia da Lagoa. As ruínas da Lagoinha eram a antiga sede da fazenda Brajahimerinduba, que, no início do século XIX, não passava de uma decadente fazenda de cachaça e subsistência com poucos escravos, mas que, a partir de 1828, se torna um engenho escola com mais de 300 negros forçados a trabalhar para produzir, pela primeira vez no Brasil, o açúcar cristal, que na época era mais caro que o mascavo. Até bem pouco, a historiografia não explicava como os engenhos e as fazendas de café do li toral e do interior paulista RAINHAIMAGENS.COM conseguiram aumentar tão rápido seu ‘‘plantel’’, mesmo diante dos primeiros esforços de autoridades brasileiras e britânicas para acabar

com o comércio de seres humanos da África para o Brasil. O fim total do tráfico negreiro até antes de 1830 era uma exigência da Inglaterra para reconhecer a independência do Brasil e intermediar o reconhecimento por outros países. O tratado equiparava o tráfico de escravos ao crime de pirataria. Mas a lei foi ‘‘só para inglês ver’’, basta notar que o total de escravos em Ubatuba praticamente dobrou entre 1822 e 1830, saltando de 1.149 para 2.028). A partir dessa data, não temos os dados sobre quantas pessoas moravam em Ubatuba e nem quem eram elas. Esses documentos estão desaparecidos do Arquivo Público do Estado. Também faltam as fichas de Ubatuba dos anos 1836 e 1837. Sabemos, porém, que a partir de 1831, a entrada de africanos no Brasil aumenta

exponencialmente, para abastecer as fazendas de café em São Paulo. Mas como isso foi possível se a marinha mais poderosa do mundo, a inglesa, estava empenhada em acabar com o tráfico? PISTAS E NOMES Antes de começar minha busca com fontes primárias ‘novas’, fomos à Biblioteca Pública Municipal ‘‘Ateneu Ubatubense’’, estudar o que já fora escrito sobre a Ubatuba do século retrasado. O primeiro autor a que recorri foi Felix Guizard (*1890 + 1964), que em 1940 escreveu o livro ‘‘Ubatuba’’. Sabia que ele me ajudaria desde que eu não perdesse de vista que Guizard não era um historiador profissional, e sim um político e empresário herdeiro de fortuna escravocrata. Ainda assim, ajudou, pois em seu livro transcreveu fontes importantes: a primeira delas é um

inquérito de 1838 contra o então proprietário da Fazenda Tabatinga, José Bernardino de Sá, denunciado na secretaria de polícia do Rio de Janeiro por ter feito do local um ‘‘frequentado porto de desembarque de africanos buçais, tendo constrohido nella hua especie de forte de madeira guarnecido por colonos e outras mais pessoas de artilharia para defender seu contrabando’’. O juiz de Paz, José Claudiano Viegas, fez diligências ao local acompanhado de força policial e do oficial de Justiça. Mas relataram que no local nada encontraram além de uma fazenda de café. No entanto, os quilombolas da região dizem que seus ancestrais contavam ter estado cativos ali. Correspondências do ministério da Justiça preservadas pelo Arquivo Público do Espírito Santo revelam que Sá continuou traficando até mesmo depois da lei Eusébio de Queirós, de 1850.

Roteiros Nacionais e internacionais

ÁGUA - GELO - CARVÃO - BEBIDAS R. Guaicurus 50, Itaguá - Próximo ao posto Shell e ao Corpo de Bombeiros

Passagens aéreas Cruzeiros marítimos Pacotes turísticos Reservas de hotéis Aluguel de carro Vistos consulares

Tiago Leite - PROFAUNA

por Leandro Cruz*

Divirta-se em Ubatuba

VIAGENS E TURISMO

Aluguel de van Mergulho snorkel Trilhas Ecológicas Aluguel Stand UP Cachoeiras Escunas e lanchas

Rua Guaicurus, 50, piso superior


HISTÓRIA

InforMar Ubatuba

Abril/2017- Pág. 07

GAINER - Pois não! Eu peça na requerimento um privilegio por trinta anos para açúcar de osso. TODOS - Açúcar de osso! NEGREIRO - Isso deve ser bom! Oh, oh, oh! CLEMÊNCIA - Mas como é isso? FELÍCIO - à parte - Velhaco! GAINER - Eu explica e mostra... Até nesta tempo não se tem feito caso das osso, destruindo-se uma grande quantidade delas, e eu agora faz desses osso açúcar superna...

INFORMAR UBATUBA

Trecho da peça Os Dois ou O Inglês Maquinista, de Martins Penna

RUÍNAS DA LAGOINHA RAINHAIMAGENS.COM

AÇÚCAR DE OSSO Outra fonte cuja cópia podemos encontrar na Biblioteca Municipal graças às apensas de Guizard é a oferta de ações do engenho Brajahimerinduba em 1827. Graças a esse documento, conhecemos Jean Augustine Stevenin, um rico francêses que comprara a fazenda já com os barracões construídos. Stevenin busca investidores para serem seus sócios e apresenta o plano de um negócio inovador: produzir anualmente até 375 mil quilos de açúcar branco, alvejado com uso de ossos de carneiro carbonizados misturados ao suco da cana. Stevenin continuaria dono de 40%. Guizard não me dava todas as respostas, mas me dava os nomes a serem buscados na rede de hemerotecas da Biblioteca Nacional. Se eles eram homens de negócios, deveriam estar nos

j o r n a i s . Ta m b é m a c e s s e i o slavevoyages.org, criado pelas universidades de Harvard, Emory e Hull, o maior banco de dados sobre o tráfico negreiro já feito por historiadores, cartógrafos, programadores e webdesigners. BARÃO DA VILA NOVA DO MINHO Nos jornais do tempo do Império encontramos de tudo: desde a cotação do café e do açúcar até anúncios de compra e venda de escravos. Encontramos o registro diário de entrada e saída de navios nos portos oficiais. Nessas páginas encontramos embarcações de Bernardino entrando e saindo constantemente. Após 1830 o negócio se torna mais perigoso, discreto e lucrativo. Ele enriquece exponencialmente levando cachaça, couro e tecidos ingleses do Brasil para a África e escravos da África para o Brasil.


InforMar Ubatuba

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA No caso do juiz de paz de Ubatuba que disse não ter visto nada ilegal na Tabatinga em 1838, havia um dedo de senhor Stevenin. O jornal O Paulista Official de 20 de janeiro de 1837 traz a decisão de Gavião Peixoto, RAINHAIMAGENS.COM presidente da província de São Paulo, de suspender o juiz de paz de Ubatuba, Antônio Máximo da Cunha. Stevenin é quem havia pedido a cabeça dele no mesmo jornal poucos dias antes. O juiz de paz que foi afastado teria ido a Brajahimerinduba acompanhado de contingente armado, aprendido oito negros e

MINISTROS DE ENGENHO Em 1828, três ministros do Império se tornaram sócios do engenho da Lagoinha, ao lado de ao menos dois traficantes internacionais de escravos, João Alves da Silva Porto e João Rodrigues Pereira de Almeida, o Barão de Ubá. Reprodução: Biblioteca Nacional Jornal do Commercio, 8/11/1828 Páginas 2 e 3

fazenda

marinha

Manuel Jacinto Nogueira da Gama, marquês e visconde de Baependi. O militar também foi senador e presidente da província do Rio de Janeiro

Francisco Afonso de Meneses de Sousa Coutinho, marquês e visconde de Maceió, combateu forças leais a Lisboa em 1822.

prendido um hóspede de Stevenin. Gavião Peixoto entendeu que o então juiz havia sido parcial no ‘‘processo de formação de culpa aos introdutores de africanos’’. Peixoto deu três opções de nomes para que a própria Câmara de Ubatuba escolhesse quem seria o novo juiz de paz. Ele mandou tirar da cadeia os negros que tinham sido trazidos por ninguém menos que Arsénio Pompeu Pompilio de Carpo, o maior traficante de escravos de Angola. Os jornais da época revelam que a elite escravocrata usava sua influência para tentar fazer com que a população da cidade, e não os fazendeiros, pagasse pela manutenção das estradas que passavam pelas suas terras, para proibir pasquins e punir pessoas acusadas de incitar o princípio de uma rebelião de escravos em 1831 e até para pedir que o bispo trocasse o padre da matriz. No estudo Escravidão em Ubatuba, publicado em 1966, a historiadora Beatriz Westin de Cerqueira escreveu “o contrabando foi favorecido em quase todas as épocas por elementos de prestígio

rel.exteriores

político e social do município (...) por ter sido muito bem organizado e por contar com o apoio de autoridades, sobreviveu, sem nunca ter sido desmascarado”. OS SÓCIOS Os traficantes de escravos se ajudavam, compartilhando rotas, pontos de desembarque e informação. Sempre se desconfiou também que dentro de quadros militares e do governo poderia ter havido colaboradores. Seguindo a outra pista de

Simplício Rodrigues de Sá, marquês de Inhambupe, assinou com a Inglaterra a convenção contra o tráfico negreiro em 1826.

Guizard, localizamos no Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, a edição de quando Stevenin abriu a oferta de ações. Procurando mais, acho a edição onde foi publicado quem adquiriu as ações, informação que Guizard não trazia. Encontramos a ata da reunião em que o engenho muda de nome para S. Pedro de Alcântara e documentos que mostram que entre os sócios estavam João Alves da Silva Porto e João Rodrigues Pereira de Almeida, o Barão de Ubá, donos de navios negreiros.

INFORMAR UBATUBA

Bernardino foi um Pablo Escobar do tráfico humano. Há registros de que ele tenha feito pelo menos 50 viagens entre 1825 e 1851. No começo sofreu alguns revezes, como em 1828, quando o seu brigue-escuna Amizade Feliz foi abordado por um pirata argentino na costa do Zaire, que tomou 125 dos 220 escravos que Bernardino acabara de comprar no Rio Congo. Depois, seus negócios foram de vento em popa. Em 1839, espremeu 776 negros no porão do Espadarte. Desses, ‘‘apenas’’ 67 morreram na viagem. Bernardino quase nunca foi pego. A barra estava sempre limpa para ele. E quando o pegaram, ele escapou. Foi o caso do brigue Dois Amigos, capturado pelos britânicos em 1843. Mas a comissão mista no Rio mandou devolver, revoltando o oficial inglês. Ele chegou a receber o título de Barão e posteriormente Visconde da Vila Nova do Minho. O nobre não poderia ser julgado por autoridades estrangeiras. Quanto aos juízes brasileiros já sabemos o quanto lhe eram favoráveis.

Abril/2017- Pág. 08

RUÍNAS DA PRAIA DA LAGOA


InforMar Ubatuba

_________________________

*Leandro Cruz é jornalista, professor e historiador graduado pela Unesp, Universidade Estadual Paulista

FOTO: SARA SOUZA

Poderosos de Ubatuba podem ter inspirado Martins Penna

Túmulo de José Bernardino de Sá Cemitério Catumbi, Rio de Janeiro

Além de franceses ricos e dos dois famosos piratas negreiros, faziam parte da sociedade importantes políticos e militares do Império do Brasil. Dentre os donos do engenho figuram ninguém menos que o Marquês de Maceió, então ministro da Marinha; o Vinconde de Baependy, três vezes ministro da Fazenda; o Marquês de Inhambupe, ministro das Relações Exteriores que assinou com a Inglaterra a convenção para abolir o tráfico em 1826. Havia ainda governadores, s e n a d o r e s e o u t ro s ‘ ‘ h e r ó i s nacionais’’.

Abril/2017- Pág. 09 Keila Redondo COLUNA DO ATENEU

Luís Carlos Martins Penna (1815-1848) é um dos grandes nomes do teatro brasileiro, pioneiro nas comédias de costumes, que retratam com humor o cotidiano de sua época, fazendo críticas mordazes à política e à sociedade. A renda de suas peças eram usadas para libertar escravos Na peça ‘Os Dois ou O Inglês Maquinista’ vemos uma forte e bem humorada crítica à sociedade escravista, ao tráfico de escravos, a corrupção e a complacência das autoridades. Ha referências claras a José Bernardino de Sá, Barão da Vila Nova do Minho, que foi presidente do Teatro São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro e censurou Martins Penna. Os dois estiveram de lados opostos no inusitado caso da Revolta das Coristas de 1847. Na peça existe ainda o personagem Gainer, especulador estrangeiro em busca de privilégios do governo e investidores para suas invenções, como uma máquina de moer cana e ossos. Uma possível referência a Jean Augustine Stevenin.

COLHEITA Trinta e oito anos após o lançamento do primeiro disco (Joãozinho Terra - 1979), o músico João Terra está correndo atrás de um objetivo: remasterizar seus cinco álbuns já gravados e lançar um inédito, ‘Colheita’, além do clipe ‘Falamos Demais’. Para bancar o projeto, João Terra está percorrendo Ubatuba de ponta a ponta, vendendo um de seus álbuns de maior sucesso, Reggae Mesmo. Os estabelecimentos onde alguém comprar o disco (que custa R$ 20), ganham uma cota publicitária nas redes sociais e materiais do músico.

A Biblioteca Pública Municipal “Ateneu Ubatubense” reúne, numa mesma estante, livros, teses e revistas sobre a nossa querida Ubatuba. A seção, batizada de Ubatubana, inclui ainda poesias, contos e crônicas de escritores aqui nascidos ou radicados. O material pode ser consultado para fins acadêmicos ou pelo puro e genuíno prazer de conhecer mais sobre o modo de vida caiçara, comunidades tradicionais, nossa cultura, história e até pré-história: sim, há sítios arqueológicos em Ubatuba! Quem tiver livros e fotos sobre Ubatuba e quiser doá-los é só chegar na Praça 13 de Maio, 52. As futuras gerações, desde já, agradecem! Saiba mais sobre nosso acervo e atividades curtindo fb.com/bibliotecaubatuba

INFORMAR UBATUBA

NOTAS E VERSOS

Ubatubana

Tel.: (12) 3832-5914 Funcionamento: Segunda a Sábado das 12h às 18h R. Guaicurus, 95 Itaguá Ubatuba/SP


CULTURA

Abril/2017 - Pág. 10

A história cinematográfica da aldeia Renascer Do cenário do filme Hans Staden à retomada da terra pelos índios no bairro do Corcovado Mitãngwe Nimboea”), que funciona desde 2016, foi uma das conquistas da comunidade, que passou a ter acesso à educação infantil, fundamental I e II e EJA Fundamental II dentro da aldeia, com professores indígenas e ensino bilíngue. Os índios também contam com atendimento de saúde e carro para eventuais deslocamentos. Diariamente fazem seus rituais na casa de reza. Cultivam palmito pupunha, mandioca, batata doce, café e frutas. Também fazem artesanato tradicional, como cesta, arco e flecha, machadinho, zarabatana, peneira, rede e outras peças. O palmito pupunha é vendido no Mercado de Peixe e o artesanato é comercializado ao lado da feira da Av. Iperoig, próxima ao Cruzeiro, e na Praia Grande, próximo às barraquinhas de lanche. “A gente pode ter tudo na vida, mas nossa cultura nós temos que fortalecer", defende o cacique Awá, 62 anos (foto ao lado). “Temos as ocas para receber, temos a nossa casa de reza onde a gente faz a nossa cerimônia, onde a gente vai buscar a cura para os nossos curumim, onde a gente se concentra, onde vai buscar o nome para a criança também".

WESLEY ALVES / CAIÇARA CRIATIVO

A atual Ubatuba já foi um dia toda habitada pelos Tupinambá (povo do tronco lingüístico-cultural Tupi-guarani). Até hoje, hábitos e palavras indígenas estão presentes do Camburi à Tabatinga. Atualmente, há apenas duas aldeias no município. A Aldeia Boa Vista, no sertão do Prumirim, e a Aldeia Renascer Ywyty Guaçu, no Corcovado. A primeira é formada por índios Guarani Mbyá, a outra por Guarani e remanescentes de grupos Tupi-Guarani que no século passado reocuparam regiões que, até a chegada dos europeus no século XVI, eram território indígena. A Aldeia Boa Vista tem área delimitada de 5.420 ha reconhecidos pela Funai (Fundação Nacional do Índio) como terra tradicionalmente ocupada. A Aldeia Renascer Ywyty Guaçu aguarda estudos de natureza etno-histórica, antropológica e ambiental necessários à Fundamentação Antropológica, iniciados pela Funai em 2010. Apesar da morosidade do p ro c e s s o a d m i n i s t r a t i v o d e regularização da área, diversos avanços contribuem com a permanência e expansão da Renascer. A Escola Estadual Indígena Renascer (EEI “Penha

Tudo em tintas pra você

Rua Guaicurus, 251, Ubatuba-SP Atendimento preferencialmente com horário marcado

André: (12) 9 9149-8353 Daniel: (12) 9 9657-5141

AGORA EM UBATUBA! Rua Conceição, 887 - Centro (12) 3833-8151 / (12) 9 9661-8151 ubatuba@tintasmc.com.br

espacocatdog.diniz


Abril/2017 - Pág. 11

WESLEY ALVES / CAIÇARA CRIATIVO

THAIS TANIGUTI / CAIÇARA CRIATIVO

THAIS TANIGUTI / CAIÇARA CRIATIVO

CONTATO@ESPACOTERRAVIVA.COM.BR - (12) 3833-9930 AV. PROF. THOMAZ GALHARDO, 596 - CENTRO - UBATUBA

Segundo ele, vivem na aldeia hoje 110 pessoas, de 26 famí lias. “Renascer, nós estamos fazendo brotar novamente. Porque essas etnias que estavam desaldeadas estão renascendo novamente, eles estão dentro de uma aldeia, preservando a cultura", diz. O cacique conta que o grupo que iniciou a reocupação do território tinha aproximadamente 15 pessoas, de 5 famílias. HISTÓRIA DE CINEMA O nome Ywyty Guaçu significa ‘‘montanha grande’’. A presença do Corcovado visto da aldeia é mesmo grandiosa, tornando o lugar ainda mais cinematográfico. E, de fato, o local foi utilizado como cenário para gravações do filme “Hans Staden” na década de 90, quando foram construídas ocas cenográficas no estilo Tupinambá. O filme lançado em 1999 conta a história da passagem pelo Brasil do mercenário Hans Staden, que em 1557 publicou um livro relatando sua experiência como prisioneiro dos Tupinambás por nove meses na aldeia de Ubatuba (Uwattibi, segundo o texto original do alemão) que ficava entre o Rio de Janeiro e Bertioga. Na famosa obra, Staden narra como escapou de ser devorado num ritual antropofágico da tribo que o capturou. Quando o filme foi feito, alguns poucos índios (entre eles

Awá) foram contratados como figurantes no longa-metragem. Segundo o cacique, dois anos depois do fim das gravações, ele mais um grupo de índios voltaram ao local, que tinha aspecto de abandonado. "Chegamos aqui estava tudo sujo, as ocas quase caindo, aí reformamos, e demos continuação na cultura. Entrou Funai, entrou Ministério Público, veio mais comunidade", recorda o cacique. Foi assim que a aldeia cenográfica virou aldeia de verdade. "O próprio Hans Staden já fala que isso daqui era tudo ocupado pelos índios, os tupinambás, né, você pode pegar o roteiro do filme, ou senão pegar o histórico daqui de Ubatuba", diz Awá. O cacique estará em Brasília entre 24 e 28 de abril, com povos e organizações indígenas de todas as regiões do Brasil, participando do Acampamento Terra Livre. Ele pretende entregar em mãos ao presidente da Funai o pedido de demarcação da Terra Indígena Renascer Ywyty Guaçu. Segundo a convocatória da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, o objetivo do Acampamento é "se posicionar sobre a violação dos direitos constitucionais e originários dos povos indígenas e as políticas antiindígenas do Estado brasileiro". O InforMar solicitou à Funai informações sobre o andamento do p ro c e s s o d e d e m a r c a ç ã o d a Renascer, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.


DIVERSÃO

Abril/2017 - Pág. 12

Encontre os 7 erros e pinte os desenhos

MAPA DO TESOURO

RIO MARIMBONDO

MAPA DO TESOURO

RIO ÁGUA BRANCA

EXPERIMENTE AS ESFIHAS DE CHOCOLATE!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.