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A era das criptomoedas
MARCELO TOLEDO, CEO DA KLIVO E EX-DIRETOR DO NUBANK, FALA SOBRE O MERCADO DE CIBERMOEDAS E EXPLICA COMO ELAS PODEM IMPACTAR O MUNDO
Os últimos meses foram bastante movimentados para o mercado de criptomoedas. Em pouco tempo, o Bitcoin disparou (novamente), o bilionário Elon Musk fez declarações que impactaram as cotações de várias moedas e nomes como Dogecoin, Ethereum e Binance Coin entraram na mira de investidores. Apesar da popularidade das notícias sobre o assunto, muita gente ainda não entende, de fato, o que são as cibermoedas e como elas funcionam.
“Uma criptomoeda nada mais é do que um sistema. Um software de computador que permite que a gente faça validações financeiras”, explica Marcelo Toledo, fundador e CEO da healthtech Klivo e ex-diretor do Nubank. “Até então, não conseguimos identificar nenhuma brecha que poderia tornar o sistema frágil, corrupto ou que permitisse que alguém pudesse ganhar dinheiro de forma ilícita. Isso é um bom sinal, pois começamos a enxergar como cada moeda tem um determinado valor”, completa o especialista, que também foi fundador e CEO do Zeever e da Payleven.
A IM Magazine conversou com Toledo para saber mais sobre o mercado de criptomoedas. O especialista explica as particularidades desse tipo de investimento, conta quais são os públicos mais interessados em dinheiro digital e reforça como a popularização de moedas como o Bitcoin pode influenciar no dia a dia das pessoas no futuro.
IM Magazine: Como você analisa o cenário de criptomoedas no Brasil?
Marcelo Toledo: O cenário de criptomoedas tem crescido bastante no Brasil. Muita gente já ouviu falar a respeito desse tema, principalmente sobre o Bitcoin, uma das opções mais conhecidas. As pessoas estão aprendendo mais sobre o que se trata. Além disso, ainda precisamos entender o que de fato é o grande valor da criptomoeda. Ela vai substituir as características da moeda tradicional? É uma moeda de troca? Um dia poderemos chegar em um estabelecimento, tomar um café e pagar com criptomoeda? Há uma variedade enorme de opções e, atualmente, a Binance, bolsa global especializada nesse mercado, conta com mais de 200 criptomoedas diferentes.
IM: Por que as criptomoedas têm atraído tanto o interesse das pessoas neste momento?
MT: As criptomoedas costumam chamar a atenção das pessoas pela possibilidade de ganhos altos. Entretanto, com uma volatilidade tão grande, é possível lucrar, mas também perder. Isso porque é um mercado no qual ninguém pode garantir nada. As pessoas não conseguem cravar que essas moedas continuarão tendo valor no futuro e que nada vai acontecer no meio do caminho. Só o tempo consegue dizer isso. Por enquanto, é justamente essa incerteza que traz tanta volatilidade e faz com que alguns indivíduos ganhem dinheiro e outros percam.
IM: Qual é o perfil das pessoas que têm interesse por esse mercado?
MT: Tenho notado o interesse dos mais variados tipos de pessoas. Elas vão desde o público bem jovem, que ainda não começou a guardar seu próprio dinheiro e nem deu início à construção de um patrimônio, até os que já contam com reservas financeiras e fazem uma alocação pequena de suas economias em criptomoedas para ter um retorno um pouco mais agressivo. Também vejo gente que já tem a vida bem resolvida e quer ter uma pequena exposição nesse mercado.
IM: Quais são os principais diferenciais das criptomoedas em relação às moedas tradicionais?
MT: É muito difícil generalizar, pois temos muitos tipos de criptomoedas. Cada uma delas possui características diferentes e resolve problemas específicos. Há as que são mais anônimas, as mais baratas e as mais eficientes, que são validadas mais rapidamente. Entretanto, é possível citar uma característica que todas têm em comum: controle descentralizado.
IM: Poderia falar um pouco mais sobre o controle descentralizado das criptomoedas?
MT: Basicamente, não existe um órgão responsável por fazer a validação do sistema, como um Banco Central. E quando existe, no caso da criptomoeda, quem regula é o próprio algoritmo do software. Isso significa que é impossível ter qualquer alteração nesse nó que faz as validações das transações.
IM: Quais são as principais vantagens e desvantagens de investir em criptomoedas?
MT: A principal vantagem de investir nesse mercado é a possibilidade de ter ganhos acima da média em relação a quase todos os outros tipos de investimentos. Já a desvantagem é que isso vem com um risco. Muitas pessoas já perderam bastante dinheiro por conta da volatilidade dessas moedas. Portanto, como ainda temos uma variação muito grande em quase todas as criptomoedas, os benefícios e malefícios desse tipo de investimento aparecem de forma bastante proporcional.
IM: Quais são os principais cuidados que as pessoas devem ter ao investir em criptomoedas?
MT: Recomendo que os investidores fiquem atentos e não acreditem em lucros falsos e irreais, como as propostas que prometem ganhos de 1% ao mês, por semana ou até por dia. Ninguém pode garantir esse tipo de coisa ou retorno financeiro. Pelo princípio da economia, isso é simplesmente impossível de acontecer. Além disso, não recomendo que as pessoas usem uma parte muito significativa de seus patrimônios nesse tipo de investimento. É preciso ter bastante parcimônia.
IM: Quais são as expectativas para o futuro das criptomoedas no Brasil e no mundo?
MT: A tendência das criptomoedas não vai parar por aqui. Provavelmente, vamos ter outros tipos delas. Isso traz até uma possibilidade de mudança da moeda predominante. Tudo vai depender das características e das adoções. Nos últimos tempos, por exemplo, a Dogecoin tomou uma proporção enorme porque o Elon Musk começou a falar muito sobre ela. Isso nos permite observar o poder que pessoas ainda têm de fazer uma moeda se tornar relevante, mesmo se for com uma brincadeira.
IM: A ampla adoção de criptomoedas pode trazer mudanças para o dia a dia das pessoas, das empresas e até dos países como um todo?
MT: Sim. Podemos ter uma criptomoeda que sirva para o dia a dia e que possa ser utilizada como fazemos com cartões de crédito e dinheiro. Ela pode trazer mais privacidade e liberdade para as pessoas. Uma moeda que tenha proteção de criptografia pode começar a se tornar algo parecido com o que o dólar é hoje. Ele é adotado no mundo inteiro, apesar de ser controlado pelo governo dos Estados Unidos. Seria muito interessante se pudéssemos ter essa mesma característica de algo que vale em todo o planeta, porém, sem um órgão regulamentador. Isso pode permitir a influência de medidas mais liberais para os governos, oferecendo maior liberdade econômica. Hoje, quando olhamos o ranking dos países que têm mais liberdade econômica, vemos que são os que estão tendo maior performance em todos os segmentos, como saúde, segurança pública, educação e assim por diante. Pode ser algo muito positivo para a evolução do mundo.