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Em linha com a agenda ESG

Em linha com a agenda ESG

INICIATIVAS RELACIONADAS A QUESTÕES

AMBIENTAIS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA TÊM SIDO CADA VEZ MAIS NECESSÁRIAS NAS EMPRESAS

As crescentes preocupações com as mudanças climáticas e o olhar voltado para as desigualdades sociais demandam que organizações, governos e indivíduos repensem suas ações e tomem medidas concretas em busca de um futuro mais sustentável e igualitário. No contexto das empresas, uma sigla tem sido bastante usada nos últimos anos. Trata-se do ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança, em português).

“O ESG é fundamental por garantir que organizações possam contribuir positivamente para a sociedade, indo além do tradicional papel de maximizar os lucros para os acionistas. O respeito às práticas em ESG se tornou central para que empresas consigam prosperar de maneira sustentável e responsável, o que contribui com a atração de mão de obra, de parceiros e de consumidores cada vez mais exigentes sobre os impactos sociais e ambientais das atividades”, explica Leonardo Tiarajú, Gerente de ESG da Dell Technologies para as Américas.

Apesar de ser um assunto em alta – 95% das empresas brasileiras apontaram a pauta como prioridade em 2023, segundo a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) –, o tema não é novidade. Para Lucia Rodrigues, Líder de Filantropia da Microsoft Brasil, inclusive, a discussão está atrasada.

“Um dos primeiros eventos mundiais que discutiu o tema foi a conferência ECO-92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. Desde aquela época se comenta sobre questões, principalmente, ambientais. Então, ESG deveria estar em baixa, pois os problemas já deveriam ter sido resolvidos. Mas não foi isso o que aconteceu. O que ocorreu é que, apenas mais recentemente, houve uma maior pressão social, porque as pessoas passaram a entender que o que está em jogo é a sobrevivência do ser humano na Terra”, alerta a executiva.

Essa preocupação crescente foi responsável por despertar as empresas para a temática. Hoje, 95% dos brasileiros dão prioridade para produtos e serviços de companhias que investem em práticas sustentáveis e 64% já deixaram de consumir uma marca ou frequentar um estabelecimento ao saber que a empresa ou seus funcionários não tiveram um comportamento ético. Os dados são da Associação Paulista de Supermercados (APAS).

“O acesso e a disseminação da informação têm trazido maior conscientização em todas as camadas da sociedade, fazendo com que a busca por alinhamento de valores e princípios surja em vários níveis, desde os investidores até fornecedores e clientes. O entendimento das oportunidades de investimento em ESG deixou de ser uma teoria e já há resultados comprovados em diversas empresas ao redor do planeta”, ressalta Flávio Moraes Junior, VP & Brazil Chief Executive da Ingram Micro Brasil.

Bê-á-bá da sigla

Cada uma das letras de ESG envolve um conjunto de ações específicas dentro do ambiente de trabalho. Environmental, a dimensão ambiental, por exemplo, é voltada a temas conectados aos impactos ambientais que as operações e atividades de uma organização podem causar. Inclui-se nesta definição a proteção ao meio ambiente, a redução de emissão do CO2, as ideias para mitigar mudanças climáticas, entre outros.

O Social, correspondente à área social, é direcionado ao impacto que as operações da empresa podem ter nas comunidades próximas, entre os colaboradores, clientes e fornecedores, e, em casos mais amplos, na sociedade em que está presente. Ainda se pode ressaltar que a filantropia e a responsabilidade social são dois conceitos fundamentais que compõem esta dimensão.

Por fim, Governance, ou as ações da governança. Envolve a gestão por meio de processos, transparência nos negócios, conformidade regulatória, ética e eficácia nas operações da companhia. As equipes dedicadas à governança se empenham em garantir uma prática de negócio de qualidade reputacional e prestação de contas transparente a acionistas e stakeholders.

Na prática

ESG é uma abordagem estratégica de trabalho que pode se constituir como uma área corporativa e, assim, auxiliar a direção do negócio com planos e ações de curto, médio e longo prazos. Na prática, porém, representa uma mudança na cultura organizacional da empresa e tende a influenciar todos os setores.

“Quando uma organização adota o ESG, ela precisa considerá-lo como algo que faz parte da estratégia da companhia, não como um conceito que está isolado a um setor ou a uma pessoa. Isso porque o ESG é uma resposta das empresas às demandas que a sociedade vem elaborando ao longo do tempo”, analisa Ana Leticia Lucca, CEO da Escola da Nuvem.

Ainda vale destacar que a adoção deve ser entendida como um processo que leva tempo e que precisa de investimento e interesse de colaboradores e lideranças. “Além de definir planos de ação para cada uma das frentes, muito provavelmente será necessário contratar pessoal especializado para a implementação”, acrescenta.

Uma vez que é feito da maneira correta, a empresa pode ganhar uma série de vantagens competitivas em relação aos concorrentes. “De forma geral, ao adotar essas práticas, ela atrai investimentos e investidores para si, além de reduzir custos de operação a longo prazo e fidelizar clientes que estão interessados e compartilham dos mesmos propósitos. Paralelamente, existe o benefício social e ambiental direto que o ESG já proporciona”, comenta Ana Leticia.

Por outro lado, é importante ressaltar que a não adoção de práticas em ESG pode tornar a empresa mais vulnerável a riscos financeiros, regulatórios, fiscais, operacionais e litigiosos, bem como ocasionar a perda de competitividade no mercado.

Exemplos reais

Cada vez mais, o ESG tende a deixar de ser um diferencial para se tornar um requisito dentro das empresas. As companhias mais adiantadas, contudo, já estabeleceram metas e até contam com projetos.

A Dell Technologies, por exemplo, se planeja para que 50% da força de trabalho global e 40% do grupo de líderes no mundo sejam compostos, até 2030, por pessoas que se identificam como mulheres. O mais recente relatório de ESG da empresa mostrou que, atualmente, elas representam 34,8% da força de trabalho e 29,2% da liderança executiva.

Dentro da Microsoft, uma boa iniciativa é a plataforma PrevisIA, ferramenta de Inteligência Artificial que ajuda na prevenção do desmatamento da Amazônia. “De um ano para outro, 80% das áreas que dissemos que podiam ser desmatadas foram de fato. Com isso, conseguimos apontar para o Governo Brasileiro quais são as regiões de maior risco, para que ele possa direcionar seus recursos de prevenção”, diz Lucia.

Na Ingram Micro Brasil também despontam ações voltadas ao meio ambiente. “O uso de materiais recicláveis nos armazéns, além de reduzir nossa pegada, diminui o desperdício, resultando em menos custos. O mesmo benefício foi sentido quando buscamos fontes renováveis de energia”, conta Moraes.

Ainda vale comentar a respeito do trabalho da Escola da Nuvem, que é apoiada pela Ingram Micro Brasil. A ONG visa capacitar indivíduos a partir de 16 anos e em situação de vulnerabilidade social, para que entrem no mercado de trabalho e passem a atuar no campo de tecnologia, em especial, no setor de cloud computing.

“Independentemente da iniciativa, espero que o ESG seja visto com o propósito e a dedicação que merece, não se tornando apenas uma agenda a cumprir. Afinal, estamos falando da possibilidade de continuidade da vida”, conclui Ana Leticia.

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