Carta Mortuária Padre Argentino Cecson

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“Hoje, melhor do que ontem!”


PADRE

 ARGENTINO CESCON, SDB  Caríssimos irmãos salesianos, com satisfação apresento a Carta Mortuária do saudoso PE. ARGENTINO CESCON, sdb, que faleceu no dia 05 de abril 2013 no Hospital UNIMED de Manaus - AM, com 92 anos de idade. O velório se deu na Igreja Paroquial S. José Operário - Centro e a Missa de corpo presente no dia 06, presidida por Dom Sergio Eduardo Castriani, Arcebispo de Manaus, e concelebrada por diversos padres salesianos, religiosos e do clero secular; boa presença do povo de Deus, principalmente irmãs salesianas. A homilia foi pronunciada pelo Inspetor, Pe. Francisco Alves de Lima que, com comoção, lembrou os traços principais deste grande sacerdote salesiano-missionário. Em seguida houve o enterro na Capela dos Salesianos no cemitério S. João Batista em Manaus. A missa de 7º dia foi celebrada na Igreja-Paróquial Dom Bosco Centro às 19h, presidida pelo Inspetor, presentes muitos padres, muitos Carta Mortuária____________2


amigos do Pe. Argentino: alunos e ex-alunos do Colégio Dom Bosco e da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. No final da Missa, após as palavras do Prof. Cardoso, ex-aluno salesiano e professor da UFAM, e do Pe. Gennaro Tesauro, Diretor do Dom Bosco, foi apresentado um CD sobre os momentos principais da vida do Pe. Argentino. Muito emocionante as imagens apresentadas!

Dados Biográficos Pe. Argentino Cescon nasceu em 19/09/1921 em Visná de Vazzola (Veneto - Itália). Os pais foram: Amadeu Rocco e Angela Bazzo, trabalhadores de muita vivencia religiosa. Trabalhou de mecânico de 12 a 19 anos de idade. Fez o Noviciado em 1945. Estudou filosofia em Foglizzo (Itália) e o tirocínio em Alexandria (Itália). Estudou teologia em Bollengo de 1951-1954, sendo ordenado sacerdote no dia 29 de junho 1954 com 33 anos. Chegou ao Brasil em novembro de 1956.

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Com a chegada ao Brasil Pe. Argentino Cescon começou uma nova e longa etapa da vida: missionário salesiano na Amazônia. Trabalhou logo em Porto Velho como catequista e Diretor do Oratório: 1956-1958. Em 1959 frequentou um curso de Catequese Escolar no Rio de Janeiro. De 1960 a 1968, morando no Colégio Dom Bosco - Centro, foi Diretor do Ensino Religioso na Arquidiocese de Manaus, cargo que ocupou com muita responsabilidade e competência. Muitos foram os cursos de atualização que organizou para os professores de Ensino Religioso. Em 1964 conseguiu a Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM e em 1971 e bacharelado em Direito pela mesma Universidade. Especializou-se em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, 1975. Começa, assim, a trajetória do Pe. Argentino como Professor Universitário da UFAM, lotado no departamento de Filosofia. Lecionou: Introdução à Filosofia, Evolução do Pensamento Filosófico e Científico, Sociologia, Psicologia racional, Doutrinas sociais. De 1977-1979 frequentou o Mestrado em Filosofia pela PUC do Rio de Janeiro com a tese: “A teoria de conhecimento de Pontes de Miranda”. Esta tese foi publicada em 2004 pela Faculdade Salesiana Dom Bosco FSDB em parceria com a EDUA (Editora Universidade do Amazonas). Pelo lançamento foi convidada a filha do jurista Pontes de Miranda, que apreciou muito a tese do Pe. Argentino. Sempre a convite da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Pe. Argentino Cescon doutorou-se em Letras Clássicas pela PUC de Rio de Janeiro com a tese: “Filosofia e arte literária em Otávio de Marco Minúcio Felix”, escritor latim do sec. II. A pesquisa sobre esta tese levou o Pe. Argentino a consultar as melhores bibliotecas de Roma (Itália). Esta tese também foi publicada pela EDUA, em dezembro 2015. Proponente, a pedido da Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia - ISMA, foi a Profra. Maria Hercilia Tribuzy, ex-chefe de Departamento do Curso de Filosofia e ex-Diretora Acadêmica da UFAM.

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Após estas notícias históricas, quero ressaltar alguns traços marcantes da personalidade do Pe. Argentino:

Sacerdote exemplar: Pe. Argentino Ceascon assumiu com fé e muita responsabilidade a missão recebida no dia da ordenação sacerdotal (1954). Foi sempre e em primeiro lugar sacerdote. Era fiel á Missa diária, celebrada com calma e devoção. Foi o apóstolo da confissão e da direção espiritual para centenas de pessoas. Atendia em qualquer horário, principalmente depois que se aposentou do Ensino universitário. O procuravam pessoas de todas as classes sociais, jovens, adultos, casais. Atendia sem ter pressa, mesmo renunciando ou repouso ou refeições. As suas orientações eram fundamentadas na Palavra de Deus; tinha sempre nas mãos a Bíblia.

Catequista qualificado: Tendo uma preparação específica em Catequese, se dedicou a isso com entusiasmo. Foram muitos os cursos de catequese que ele deu à várias comunidades eclesiais de Manaus. E quando se aposentou, transformou a sala de atendimento dele em sala de catequese, com equipamentos apropriados. Frequentaram a catequese principalmente jovens e adultos. Não poucos párocos encaminhavam para as aulas de catequese do Pe. Argentino alguns de seus paroquianos. Preparava com cuidados as apostilas: algumas destas ainda se conservam.

Educador/professor universitário competente: Era assíduo às aulas na UFAM. Mesmo utilizando a condução pública era o primeiro a chegar na sala de aula. Era muito exigente com os alunos e alguns deles reclamavam; mas os mesmos, mais tarde, reconheceram que com o Pe. Argentino aprenderam muito. Sempre atualizado, lia muito, Carta Mortuária____________5


pesquisava. Deixou uma rica biblioteca de livros de filosofia e teologia. Pe. Argentino entendeu muito bem que educação e evangelização formam um binômio único. Por isso as aulas dele de filosofia estavam em sintonia com o Evangelho de Jesus C.

“Hoje, melhor do que ontem”: Era a frase que Pe. Argentino repetia nas conversas com os amigos. Revelava, assim, o seu otimismo salesiano, que caracterizou a sua vida. Enfrentou com otimismo as muitas dificuldades, não desanimou, lutou sempre com coragem e fé. Costumava se despedir dos amigos dizendo “se não nos encontrarmos mais, nos vemos no paraíso”. Levava a última fase da vida com bom humor, mas costumava dizer sorrindo: “É proibido envelhecer”. Vale ressaltar que, quando já não podia se locomover bem, costumava preparar folhetos evangelizadores com mensagens bíblicas e levava-os, a cada setor do Colégio e Faculdade Salesiana Dom Bosco. Depois de alguns dias, retornava aos setores e, com voz calma, procurava saber o que tinham entendido com aquela mensagem.

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Testemunhos Antes de terminar esta Carta Mortuária do Pe. Argentino Cescon, sdb, quero registrar o depoimento de algumas pessoas, entre muitas, que mais conheceram e estimaram o Pe. Argentino Cescon, sdb.

Pe. Francisco Alves de Lima, sdb: Inspetor, Mestre em Teologia Dogmática; conviveu com o Pe. Argentino no Colégio Dom Bosco e Inspetoria São Domingos Sávio (Manaus). “Tive o privilégio de conhecer o Pe. Argentino na década de 80, quando era funcionário do Colégio Dom Bosco. Sempre me chamou a atenção a sua afabilidade reservada, mas aberta a todos. Homem de personalidade forte sabia envolver as pessoas com o seu “sorriso jovial”. O tempo passou e voltei ao Dom Bosco como diretor em duas ocasiões. Ali pude apreciar mais de perto a beleza da pessoa do Pe. Argentino: firme, cordial, respeitoso e focado nos seus objetivos. Ele foi um sacerdote dedicado, mesmo quando as forças físicas lhe faltaram. Pude também conhecer melhor a sua sabedoria advinda da experiência e, sobretudo da leitura, do estudo, da pesquisa. O Pe. Argentino era um “apaixonado pelas Sagradas Escrituras”: conhecia de memória muitos textos bíblicos e os relacionava entre si com enorme facilidade. Algumas vezes me aproximei dele para receber o perdão de Deus através do sacramento da Reconciliação. Outro elemento importante perceptível na sua velhice era o carinho pelas crianças. Aquele homem de “personalidade forte” havia se transformado num ancião sereno, sábio, dedicado... A sua filosofia de vida era manifestada em tantas expressões e uma delas permanecia na porta da sua sala de leitura: “É proibido envelhecer!”. Quando celebrou as Bodas de Ouro de ordenação sacerdotal acolhemos um grupo de parentes e amigos da Itália. Escutando estas pessoas pude compreender um pouco mais a vida desse irmão. Como inspetor tive a alegria de acompanhá-lo na sua enfermidade: um exemplo! Sem dúvida alguma este salesiano sacerdote nos deixa um testemunho forte de dedicação e Carta Mortuária____________7


alegria com a vocação que Deus lhe concedeu. Estas breves notícias revelam um pouco da personalidade do nosso querido, Pe. Argentino Cescon. Agora ele está junto de Deus, de Dom Bosco e daqueles que nos precederam”.

Profª. Maria Hercilia Tribuzy de Magalhães Cordeiro: Mestre em Filosofia, colega do Pe. Argentino, por muitos anos no Departamento de Filosofia da UFAM. “Pe. Argentino Cescon foi professor de Latim, Grego, História, Filosofia, Doutrinas Sociais, Sociologia. No Ensino Superior trabalhou na Universidade Federal do Amazonas, como professor titular. Era considerado o papa da Filosofia. Não havia pergunta que ficasse sem resposta e que não fosse respondida. E lá deixou seu nome gravado na história da instituição pela sua dedicação e competência... Na sua trajetória acadêmica tem várias obras publicadas. Ao longo destes anos, aprendeu tanto a amar o Brasil que se naturalizou brasileiro em 1974. No entanto, é importante ressaltar que Pe. Argentino Cescon, onde quer que estivesse, sempre priorizou sua função de evangelizador, levando a Palavra de Deus aos corações sedentos da verdade. Pe. Argentino foi considerado um dos melhores confessores da cidade de Manaus. Possuidor de um temperamento muito forte e até enigmático, muito paciente e compreensivo com as crianças, mas muito exigente no seu zelo nas coisas de Deus e pelo que julgava justo e certo”.

Prof. Pe. Luis Laudato, sdb: Doutor em Filosofia; conviveu com o Pe. Argentino por muitos anos no Colégio Dom Bosco (Manaus). “Pe. Argentino, com a sua riqueza humana, salesiana e sacerdotal, ofereceu-se com toda a sua incansável laboriosidade para a caminhada apostólica-missionária da Inspetoria Missionária da Amazônia - ISMA. Sua disponibilidade para atender às confissões se tornou proverbial. Sua dedicação para a formação de comunidades orantes e atuantes, como também uma catequese


fiel e vivencial foi constantemente baseada na leitura-meditação bíblica. Sua atividade acadêmica foi generosa e incansável. Possa sua vida exemplar se tornar fonte de vocações sacerdotais e religiosas”.

Sr. Francesco Feltrin: Sobrinho do Pe. Argentino; morando na Itália, nos últimos vinte anos vinha visitar o tio quase todo ano, geralmente na época do Natal. Escreveu o Sr. Francesco (tradução do italiano): “Com o exemplo, transmitiu os elementos que nos aproximam de Deus: ação, palavra, sentimento, pensamento, vontade. Ensinou como e quando comunicar com o dom do silencio. Dizia: “a procura constante do bem te conduzirá à verdade. Mesmo com olho bom, presta atenção a não julgar com pressa. Seja como Deus, e não procuras os defeitos e os pontos fracos das pessoas”. Citando o grande escritor italiano, Alexandre Manzoni, dizia: “Se deveria mais fazer bem do que estar bem; assim se termina em estar melhor”. Ensinou a arte de comunicar com a gentileza, decoro e a verdadeira sabedoria. A sua oração cotidiana era: “Ó vida do mundo, concedei-me uma vida plena, uma vida que possa ser considerada longa porque transbordante de um modo de viver justo e considerada rica porque cheia de atos santos”. A sua última saudação foi: “leia, Francesco, 2 Timóteo, 4,6-8”. “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a Fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição”.

Pe. Canio Grimaldi, sdb Secretário inspetorial


Dados para o necrológio

PE. ARGENTINO CESCON, SDB  Visná de Vazzola (Itália), 19/09/1921  Manaus (AM), 05/04/2013  92 anos de idade  68 de vida religiosa salesiana  59 de sacerdócio  58 como missionário na Amazônia



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