BOLETIM INFORMATIVO “O TAPIRI Nº 203"

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Copyright©2020 Inspetoria São Domingos Sávio Todos os direitos reservados ao autor

Inspetor P. Jefferson Luis da Silva Santos Organização Comissão Inspetorial de Comunicação - CIC

Coordenador P. José Ivanildo de Oliveira Melo Delegado para a Pastoral Juvenil Revisão P. José Ivanildo Sr. José Luis (Zeca) Equipe de articulação Animadores de Pastoral Projeto Gráfico Sr. José Luis (Zeca) Articulistas Convidados

T203 O Tapiri: Comunicação Pastoral da Inspetoria São Domingos Sávio BMA / Pe. Jefferson Luís da Silva Santos, SDB (org.); Pe. José Ivanildo de Oliveira Melo (Coord.) Manaus: Editora FSDB, 2020. x, 44 p. II. 15x21cm (Comunicação Pastoral da Inspetoria São Domingos Sávio - BMA) ISSN 2525-3093 Publicação Bimensal 1. Salesianos de Dom Bosco 2. ISMA - Manaus. 3. Comunidade Salesiana. 4. Santos, Pe. Jefferson Luís da Silva. 5. Melo, Pe. José Ivanildo de Oliveira. I. Título.

Elaborada por Zina Pinheiro - Bibliotecária - CRB 11/611

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Sr. José Luis Almeida (Zeca) Delegado para a Comunicação

Olá querido leitor, Continuamos com expectativas de dias melhores em tempos de pandemia, enquanto não podemos voltar a nossa rotina de trabalho e atividades “normais”, a revista, “O Tapiri” chega até vocês com material para reflexão em nossas comunidades. Nessa edição, o artigo de capa é dedicado ao nosso pai Dom Bosco. Sua figura vocacional é um estímulo ao discipulado missionário de Jesus. Padre José Ivanildo preparou em três momentos uma reflexão educativa da vida de Dom Bosco. No primeiro texto retrata a figura de Dom Bosco com seus traços biográficos, o cenário histórico e seu itinerário formativo. Todos os anos, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, celebra-se o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, publicamos o artigo do Papa Francisco, onde contém cinco breves tópicos do qual ele destaca sempre a figura do Coração. O nosso terceiro artigo é um texto tirado da última Assembleia Geral Eletiva da CRB (Conferência dos religiosos do Brasil), onde nos remete a preocupações de toda essa crise que passamos devido a pandemia. Vocacionado, eu? Conheça as etapas formativas para ingressar como salesianos de Dom Bosco. Curta nas últimas páginas nossa coluna aconteceu, trazendo notícias do nosso Amazônia Salesiana. Boa leitura a todos!!! O Tapiri 3


BONS CRISTÃOS E HONESTOS CIDADÃOS

JOÃO BOSCO: contexto educativo1 P. José Ivanildo de O. Melo Palavras-chave: Educador; João Bosco; História; Juventude; Autonomia. Introdução Dom Bosco foi um homem profundamente identificado com a educação e evangelização da juventude de seu tempo. Em um período de tensões entre a manutenção da ordem política absolutista e as novas formas de governo, entre as novidades das descobertas no campo científicopedagógico e o apego a tradição do antigo regime, Dom Bosco traduziu no sistema preventivo novos paradigmas educativos. Homem de sentido prático, não se preocupou em escreveu um “tratado específico” sobre seu sistema de ensino, entretanto, os textos de sua autoria e o testemunho de sua ação na área da educação da juventude chegaram até nós com a força de uma grande intuição. Aqui nos deteremos em alguns de seus principais textos de caráter pedagógico e as Memórias Biográficas2. Nossa reflexão, todavia, não é somente biográfica. Partilhamos um pouco da experiência pedagógica que temos feito com o carisma salesiano, Artigo produzido em 2011 como suporte de leitura para as semanas pedagógicas de educadores salesianos das cidades de Manicoré e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. 2 Reunidas em dezenove volumes, as Memórias Biográficas contém testemunhos dos salesianos que conviveram com Dom Bosco e documentaram fatos ocorridos no seu dia-a-dia. A CISBRASIL está publicando a obra em português desde 2018. 1

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com Dom Bosco santo, que nos atrai e fascina, nos prende aos seus lábios como fazia com seus primeiros ouvintes em estábulos durante o inverno. Nestes anos de contato com sua obra e pensamento sentimos uma irresistível fascinação educativa, e dele desejamos aprender a “viver alegres e cumprindo bem os nossos deveres”, condição fundamental da autonomia, ou seja, a liberdade em poder ser, naturalmente, aquilo que de mais íntimo e verdadeiro, cada pessoa é diante de si mesma. Nosso método de análise Após apresentar um resumo biográfico de João Bosco e os principais desdobramentos políticos de seu século, passaremos a análise de cenas que retratam fatos de sua infância e juventude, sobretudo, no período que corresponde aos anos de 1823 a 1835, tempo de buscas por oportunidades de estudo e de descobertas do próprio potencial como artista, contador de estórias, o início da sua aventura no mundo da leitura e escrita, com apenas oito anos de idade. Este percurso quer nos favorecer não tanto curiosidades sobre sua vida, mas o amadurecimento de sua proposta educativa, que será abordada na terceira etapa de nosso itinerário, quando já adulto o padre João Bosco começa a se dedicar integralmente ao cuidado dos jovens pobres e abandonados de Turim. As inúmeras atividades extracurriculares, com as quais se envolve durante seu tempo de estudo: passeios com os amigos, brincadeiras, devoções em dias festivos, catequese dominical, teatro, que fazemos questão de narrar, podem parecer à primeira vista como atividades dispersivas, que não ajudam na aprendizagem. No entanto, João Bosco é capaz de cumprir suas obrigações escolares com grande esmero sem descuidar de sua vida social, que para nós é antes de tudo, atividade pastoral. A meninice de D. Bosco e as vicissitudes da sua juventude não são outra coisa que a “revelação” de inatas e estupendas qualidades educativas, amadurecidas no clima duma excepcional educação materna, no duro tirocínio da experiência, numa preparação escolar e cultural fora do comum (BRAIDO, 1959, p. 3).

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Isto não só por conta de sua habilidade e memória prodigiosa, mas por que João Bosco já intuíra desde aquele tempo que a aprendizagem é uma atividade prazerosa, que é tanto mais eficaz quando é capaz de apaixonar o coração do jovem pela vida. Que educação como coisa do coração se expressa no canto, dança, teatro, nas manifestações de fé em Deus. Nestas páginas procuramos apresentar a riqueza formativa presente em todos estes momentos da vida do jovem Bosco, que soube conciliar a aquisição do conhecimento com a prática concreta da alegria, da colaboração responsável com seus amigos, do sentido de presença do Sagrado, em uma palavra: da Santidade. Traços Biográficos João Melchior Bosco nasceu no dia 16 de agosto de 1815 no pequeno povoado de Murialdo, vilarejo dos Becchi, município de Castelnuovo D’asti (Hoje Castelnuovo Don Bosco) cidade de Turim - Itália. Filho do casal Francisco Luís (1784-1817) e Margarida Occhiena (1788-1856) trabalhadores do campo de origem pobre. João Bosco fica órfão aos 2 anos de idade. Com a morte do pai ficam sob os cuidados de mamãe Margarida os irmãos: Antônio José (1808-1849), filho do primeiro casamento de Francisco, José Luis (1813-1862) e a avó paterna Margarida Zucca (1752-1826). Estudou com grandes dificuldades. Exerceu várias profissões, até a vir a ser ordenado padre em 1841. Dedicou toda a sua vida ao trabalho com os meninos pobres lhes dando instrução e carinho. Para dar continuidade ao seu trabalho apostólico na educação da juventude fundou em 1859 a Sociedade de São Francisco de Sales, os Salesianos de Dom Bosco. Fundou ainda o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, ramo feminino da congregação Salesiana que trabalhava especificamente no cuidado com as meninas e a Associação dos Cooperadores Salesianos, homens e mulheres leigos que colaboravam no sustento material e promoção da Obra Salesiana.

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Dom Bosco faleceu no dia 31 e janeiro de 1888 com 73 anos de idade. Atualmente os salesianos estão presentes em mais de 130 países do mundo. Entre congregações religiosas masculinas e femininas, institutos seculares e associações de leigos são 52 grupos que se inspiram na pedagogia de Dom Bosco. Destes 31 pertencem de direito à Família Salesiana e outros 30 desejam ser reconhecidos como membros da família. Cenário histórico da vida de João Bosco A Europa passou por diversas transformações de cunho político, social, educacional e religioso ao longo do século XVIII. Estas mudanças continuam em andamento no século XIX. Algumas para se firmarem definitivamente como conquista popular, outras como último grito de protesto antes de serem suprimidas pelas forças do Estado. A Itália nas três décadas anteriores ao nascimento de D. Bosco sentiu fortemente os revezes da Revolução Francesa, perdeu territórios, testemunhou com pesar o exílio do papa Pio VII por cinco anos. Teve que pedir ajuda a outras potências, especialmente a Áustria. Outra situação que nas décadas seguintes terá consequências não menos nocivas, sobretudo à juventude, será a chegada maciça da Revolução Industrial, incentivando um verdadeiro êxodo rural na esperança de melhores condições de vida, onde na realidade só havia exploração e pobreza. Os rumos da História começam ganhar nova direção em 1814 quando Napoleão é vencido por uma aliança militar formada pela Rússia, Prússia, Áustria, Inglaterra e outros países de menor força. O papa é libertado e a França perde o domínio sobre os territórios conquistados. Exilado na Ilha de Elba, Napoleão consegue fugir e por 100 dias voltará ao poder. Sua derrota definitiva acontecerá no dia 18 de junho de 1815 na batalha de Waterloo. Exilado agora na Ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico, onde permanecerá até sua morte em 1821 (GARCIA, 2001, p. 22). Após a derrota de Napoleão os países combatentes se reuniram em Viena para reestabelecer a ordem na Europa, que na prática significa um retorno ao antigo regime, a autoridade legítima do rei. Iniciado em 1 de novembro de 1814, o congresso terá seu ato final somente em 9 de junho de 1815, um mês antes do nascimento de João Bosco. Assim os diversos reinos da Itália são recompostos e as leis do período Napoleônico revogadas. Entre os anos de 1815 a 1830, portanto todo o período da infância e adolescência de D. Bosco, o clima político é o da Restauração. O Tapiri 7


No Reino da Sardenha, ao qual pertence a região do Piemonte, retorna ao poder Victor Manuel I (1759-1824), irmão de Carlos Manuel IV, que fora deposto pelos franceses em 1796. Mas nem tudo é pacífico. Os 25 anos do governo Napoleônico deixaram fragilizadas estas estruturas políticas, de modo que uma série de revoltas, medidas e contra medidas, afetarão a vida do homem da cidade e do simples camponês. Momento de grandes carestias que atingem as populações e a pequena família de Dom Bosco que com grandes dificuldades consegue sobreviver em meio a tanta pobreza material graças à coragem de sua mãe e sua ilimitada confiança em Deus. O segundo movimento que marca a vida de D. Bosco é o Ressurgimento. Localizado entre os anos de 1831 a 1848, apresenta várias tendências: os radicais revolucionários, os Liberais - moderados, os neoguelfistas. Incapazes de formar uma frente de coalizão forte se unirão em torno do Liberalismo Democrático. Que assumirá o poder depois da primeira guerra da independência em 1848-49. A partir daí todo o desenrolar da História será no sentido da independência e unidade da Itália, conseguida gradativamente ora com violência, ora por meio de acordos diplomáticos. No reino da Sardenha a Constituição é concedida em 4 de marco de 1848, neste mesmo ano o papa Pio IX concede os mesmos direitos aos estados Pontifícios (Ibidem, p. 25). Itinerário formativo de João Bosco Sabemos por várias fontes que desde tenra idade o pequeno Joãozinho Bosco tinha um especial gosto para o estudo, contudo, na sua época estudar era um privilégio para poucos das classes mais abastadas. Frequentava a escola os que podiam pagar, ou aqueles que conseguiam este favor de algum eclesiástico. O ensino público gratuito na Itália será regularizado somente a partir de 1848 com a lei boncompagni, que torna os municípios responsáveis pela educação da população jovem. O Tapiri 8


Esta realidade começara a mudar lentamente com um decreto educacional do Rei Carlos Felix,3 datado do dia 23 de julho de 1822, que dava a todos os súditos, especialmente aos garotos pobres a oportunidade de frequentar uma escola regular. A educação oficial foi confiada aos eclesiásticos, devendo os interessados procurar uma das classes abertas em cada região ou comunidade de origem (PERAZA, 2007, p. 52). Capriglio Vendo os sinais de fácil assimilação que possuía João, sua mãe Margarida o estimulou ao estudo. Como não havia nos Becchi, uma destas classes, foi procurar em Capriglio, município vizinho de seu povoado, matriculálo com um conhecido pároco chamado de José Delacqua (1764-1847). Por não pertencer aquele município seu pedido foi negado. Era o ano de 1823, Joãozinho tinha oito anos. Tendo dado em nada o pedido de mamãe Margarida, a alfabetização de João foi confiada a uma pessoa caridosa de quem não sabemos o nome, sabemos apenas que naquele inverno aprendeu em algum estábulo vizinho as primeiras palavras. Este bom camponês se ofereceu para ser o primeiro professor de João na arte de ler. Aceito o caritativo gesto, João aprendeu no inverno de 1823-1824 a soletrar bastante bem. Aquele bom homem se gloriava anos mais tarde de haver tido tal sorte (LEMOYNE, 1981, p. 95-96). No ano seguinte, 1824, por intermédio de sua tia Mariana4 (1785-1857) que era empregada do Pe. José Delacqua, Joãozinho foi finalmente aceito na escola de Capriglio. Padre Delacqua não só cuidou da alfabetização e educação formal de Joãozinho, mas também o estimulou na Irmão de Carlos Manuel IV e de Vitor Manuel I. Nenhum deles tivera filhos varões. Ao subir ao trono contava com 56 anos de idade. É intransigente, repressivo, moralista em seus pontos de vista e católico até a morte. Desconhece a constituição concedida pelo regente Carlos Alberto, pede ajuda às tropas Austríacas para reprimir a revolução e restabelece a ordem com mão dura. Sua época (1821-1831) é o período mais cruel da restauração. Ao morrer, sem filhos, deixará o trono para o seu sobrinho Carlos Alberto. 4 Sua tia Mariana, após a morte do pároco José, foi para o oratório e lá continuou a contribuir com o Pe. João Bosco, a quem tinha muito apreço (LEMOYNE, 1981, p 96). 3

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prática dos Sacramentos Católicos, dando conselhos e lhe ensinando valores religiosos. Esta postura do educador que acompanha e orienta o jovem nos assuntos da alma marcará sua vida (BOSCO, 2005, p.27). Durante o tempo de férias da escola de Capriglio, João Bosco alternava o seu tempo com o trabalho no campo e as inúmeras brincadeiras que nasciam de sua genial inventividade. Nada disso, porém, o dispersava do estudo, ao contrário, ao lermos as Memórias do Oratório, sua autobiografia, nota-se que como Joãozinho exercitava-se nos estudos ao mesmo tempo em que descontraia as pessoas. Exemplo disto eram as famosas estórias que este pobre menino que, jejuno na ciência, contava e que levava a loucura seus ouvintes (Ibidem, p.36). Mas nem todos estavam contentes com este fato, tão pouco se sentiam envolvidos pelo clima de aprendizado, pois de algum modo esta postura da criança que fala ao adulto contrariava os esquemas já estabelecidos pela prática social vigente, que segundo Ponce, não existia na comunidade primitiva, uma vez que tomando parte nas atividades coletivas, como caçar, cultivar, navegar, a criança tomava igualmente parte nas funções sociais, estando no mesmo nível que os adultos, não obstante as diferenças naturais (2007, p.19). Especialmente contrariado estava seu irmão Antônio que lhe fazia oposição. Somadas as dificuldades naturais do tempo e distância, fazem o pequeno João interromper no ano seguinte seus estudos e seu valioso amigo padre Calosso. Duro martírio para quem sente vivo desejo de aprender (LEMOYNE, 1981, p. 97). Foi exatamente neste período entre seus 09 e 10 anos que Joãozinho teve um sonho que marcou profundamente sua vida. Este episódio que ficou mundialmente conhecido como sonho dos nove anos, apresenta as bases de todo o sistema preventivo. O sonho dos nove anos Sonhou estar próxima a sua casa em uma área espaçosa no meio de jovens que brigavam e blasfemavam. Resolvido a terminar com toda aquela balburdia e blasfêmias, entra no meio da multidão a força de socos e tapas, ao passo que aparece o primeiro personagem, um Homem de aspectos venerando que o chama pelo nome e o manda ficar à frente daqueles meninos acrescentando: Não é com O Tapiri 10


pancadas, mas com mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude (BOSCO, 2004, p. 5). Confuso, o pequeno João replica ser incapaz de realizar tal missão, pois não possui as habilidades requeridas para tal ação, além do mais nem conhece este que ordena tais coisas. Neste momento aparece no sonho outro personagem. Uma Mulher de aspecto majestoso é lhe apresentada como a Mestra, sob cuja orientação poderá tornar-se sábio, e sem a qual toda sabedoria se converte em estultice. Tomando-o com bondade pela mão, indica-lhe o campo em que deve trabalhar. A humildade, a fortaleza e robustez são qualidades necessárias a sua missão indicadas pela senhora (Ibidem, p. 6). O resultado deste modo de educar, João já vislumbra na transformação simbólica de animais ferozes, que aparecem na cena, em mansos cordeirinhos. Em prantos por não conseguir entender o sonho, ouve as seguintes palavras – A seu tempo tudo compreenderás5 (Ibidem). O sonho dos nove anos repetiu-se diversas vezes ao longo da vida de João Bosco, ora apresentando elementos novos no seu processo de crescimento pessoal, ora indicando-lhe os passos que devia dar no sentido de promover o protagonismo juvenil na educação. No sonho da Pastorinha e um rebanho estranho, ocorrido no ano de 1844, é exatamente isso que acontece quando João vê, alguns daqueles primeiros cordeirinhos, lobos, carneiros e outros animais, que compunham a grei da pastorinha, se transformarem em homens-pastores que cuidavam de outros pequenos grupos no oratório, dando vitalidade à Obra Salesiana (LEMOYNE, 1981, p. 191). Estamos agora no início do ano de 1826 e João Bosco está crescendo forte e robusto, como o havia indicado em sonho uma Senhora de aspecto Majestosa. Começou a desenvolver suas habilidades intelectuais e já pode assim reunir em celeiros durante a estação invernal seus primeiros ouvintes, que lhe ouvem durante horas a fio a ler as histórias de Os pares de França, que o pobre orador fazia, de pé sobre um banco, a fim de ser ouvido por todos (BOSCO, 2005, p. 36). Mamãe Margarida, atenta ao desenvolvimento do filho, apressa-se em oferecer-lhe os fundamentos da fé. Decidiu mandá-lo todos os dias Em 1887, enquanto celebrava a missa no altar dedicado a Nossa Senhora Auxiliadora, na Igreja recém consagrada ao S. Coração de Jesus em Roma se emocionou diversas vezes precisando ser ajudado por seu secretário para concluí-la. Mais tarde questionado o porquê de tanta emoção respondeu – Tinha vivo ante meus olhos a cena do sonho aos dez anos com a Congregação. Agora, passados sessenta e dois anos de trabalhos e sacrifícios, entendia a frase: Ao seu tempo tudo compreenderás (CERIA, 1989, p. 299). 5

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durante a quaresma do ano de 1826 a catequese paroquial e em casa continuava a prepará-lo o melhor que podia, assim como havia feito com os outros irmãos. A capacidade de compreender os temas abordados e a piedade que apresentava aquele novo catequizando impressionaram de tal forma o pároco, Pe. José Sismondo (1771-1826), que decidiu fazer uma exceção geral, concedendo-lhe, após aprovado nos exames, ser admitido a Santa Comunhão na Páscoa daquele ano, com apenas onze anos (LEMOYNE, 1981, p. 155). Sua mãe é sua grande catequista, antes, durante e depois da sua comunhão, uma educadora permanente e atenta. Seus conselhos pontuais serão sempre de grande proveito na vida de João Bosco. Mamãe Margarida não perdia ocasião de reunir seus filhos para a oração da noite e aproveitava destes momentos para fazê-los examinar suas consciências, sugerindo a este e aquele algum ato de humildade, pedido de desculpas, maior confiança na Providência Divina. O lar como extensão dos valores e práticas educativas será outro elemento fortemente utilizado por Dom Bosco Educador, que vai se esforçar para criar nos seus ambientes um clima permanente de familiaridade, pois acredita que a familiaridade gera o afeto e o afeto produz confiança, condição indispensável para que os educandos abram os corações, e os jovens manifestem tudo sem temor aos mestres, assistentes e superiores (BOSCO, 2007, p. 182). Os Moglia O fato é que a pós aquele breve tempo em Capriglio, Joãozinho vê-se novamente sem perspectivas de estudo. Como aumentava dia a dia o conflito com seu irmão e temendo que o pior pudesse acontecer, mamãe Margarida resolve mandá-lo em busca da casa de parentes para viver, quem sabe também estudar. Joãozinho bate de porta em porta e por diversos motivos não fica muito tempo nesses lugares. Como última esperança procura a casa da família Moglia, onde será acolhido como um dos empregados O Tapiri 12


da família. A pesar de não ter podido por várias circunstâncias dar continuidade aos seus estudos, terá durante este período o silêncio e o ar campesino daquela região como lugar para longas meditações sobre sua vida e seu ideal. João está para completar quinze anos e sua situação escolar é ainda bastante precária. Como poderá ser sacerdote sem estudar? E como estudar sem ter os meios financeiros para fazê-lo? São perguntas que fazem eco no seu coração e que são respondias somente pela fé na Providência Divina, a pobreza não me preocupa, respondia em seguida João, porque haverá pessoas que pagarão por mim. Era admirável sua perseverança, comenta o biógrafo, em meio a tantos contratempos (LEMOYNE, 1981, p.175). Nosso jovem frequentava com regularidade a paróquia de Moncucco e aos poucos, durante o percurso que fazia para ir à paróquia, tornase conhecido de um grupeto de jovenzinhos que iam ao campo ou a escola. O pároco, Pe. Cottino, homem de visão, logo reconheceu naquele garoto sinais de virtudes que o animou a reunir os interessados para jogos e instrução. Inicialmente reunia-se em qualquer lugar, mas convencido desde já que o ambiente é igualmente importante para uma boa ação educativa, conseguiu com esforço a quadra da escola municipal para estas recreações. Lá entre os divertimentos lia algum livro devoto e instruía seus meninos. Costumava levá-los também a Igreja após a missa e faziam com solenidade a Via Crucis, cantando os versículos e as estrofes do Stabat Mater (Ibidem, p.176). Esta novidade, que comovia o pároco até as lágrimas, atraia também alguns adultos a Igreja e acabavam eles também rezando. Ao final do dia Joãozinho retornava a casa dos seus senhores cantando alegremente na companhia de alguns de seus novos amigos. A iniciativa deu tão certo que quando João saiu daí havia deixado um bom grupinho de jovens.

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O Pe. Cottino então deu continuidade às reuniões por ele iniciadas, que se converteram depois em um verdadeiro oratório festivo. Padre Cottino havia se oferecido para ensinar-lhe as regras da Sintaxe Latina, não foi possível dar continuidade as aulas sem prejuízo aos seus deveres na casa dos Moglia, de modo que logo desiste destas aulas semanais (Ibidem). Aos fins de novembro de 1829, seu tio Miguel Occhiena, decidiu tomar partido no desejo do sobrinho e ajudá-lo a encontrar uma escola pública, onde pudesse estudar com regularidade. Miguel e Margarida Occhiena tentarão em várias localidades vizinhas um lugar para matricular João e não encontram quem possa ajudá-los. Primeiro vão com o pároco de Castelnuovo, depois em Buttigliera de Asti. Ninguém dispõe de tempo para educar o pobre Joãozinho. Encontro com o Padre Calosso 6 É exatamente neste contexto de indecisão e dificuldades de encontrar um educador que a Providência Divina faz cruzar os caminhos do pequeno João com um zeloso sacerdote chamado Pe. Calosso, que assumirá este papel. O jovem Bosco o considera como um verdadeiro guia espiritual. Coloquei-me nas mãos do Padre Calosso, que havia poucos meses chegado àquela capelania. Abri-me inteiramente com ele. Manifestava-lhe prontamente qualquer palavra, pensamento e ação. Isso muito lhe agradou, porque dessa maneira podia orientar-me com segurança no espiritual e no temporal (BOSCO, 2005, p.43). Em suas palavras é fácil identificar o valor que o jovem João dava ao educador. Fiquei sabendo assim, confessa na sua maturidade, quanto vale um guia estável, um fiel amigo da alma, que até então não tivera (Ibidem). É fácil perceber a importância que dará mais tarde no seu método educativo à figura do educador enquanto guia, pastor dos jovens que seja próximo ao jovem. Dom Bosco narra seu encontro com o padre Calosso no mês de outubro. As fontes históricas falam de uma missão em Butigliera no dia 05 de novembro de 1829. A Morte de padre Calosso, segundo atestado paroquial é dia 21 de novembro de 1830 (BOSCO, 2005). 6

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Do texto que narra o encontro dos dois podemos retirar uma série de lições, tanto da atitude do sacerdote com uma profunda visão educativa, perceptível na maneira didática de interrogar o jovenzinho peregrino, como nos sinais de excelente memória demonstrada pelo interrogado. Mas aqui interessa-nos perceber a abertura e prontidão do caráter de Joãozinho. (BOSCO, 2005, p. 40-42). Ele não se faz de rogado e nem se deixa intimidar pelas sugestões que indica o sacerdote. Com familiaridade e desenvoltura deixa escapar a que ponto havia internalizado os pontos captados da pregação dos missionários. Isto nos indica outro aspecto importante de Joãozinho, ele não é um mero ouvinte, não tinha apenas entendido bem o “conteúdo” da pregação, nas suas palavras deixa transparecer o nível de sua interioridade. Somente uma pessoa que ouve com o coração é capaz de traduzir com tanto acerto o significado daquilo que ouviu. Não ignoramos que a memória de Joãozinho tenha causado uma grande maravilha neste sacerdote, mas somos levados a acreditar que este Padre deixa-se encantar, sobretudo, pela piedade de suas palavras, a forma espontânea de manifestar sua relação com Deus. Pe. Calosso logo percebeu estar diante de um menino cheio de possibilidades e desejou colaborar com sua educação, dando-lhe ele mesmo aulas, começando com os Clássicos Latinos. Este breve tempo, como já dissemos, foi de grande proveito para João. Fez grandes progressos com este novo professor e pai. João Bosco alia ao saber recebido do mestre o gosto por ser ele também educador. As seriedades dos estudos não o retiram do pátio da vida, dos campos, da convivência com as pessoas. Em meados de setembro comecei regularmente o estudo da gramática italiana, que em pouco tempo pude concluir e exercitar com oportunas redações. No Natal comecei o Donato; na Páscoa traduções do latim e vice-versa. Durante todo esse tempo não abandonei nunca os entretenimentos dominicais no prado, ou no estábulo durante o inverno. Qualquer fato, sentença ou mesmo qualquer palavra do mestre servia para entreter meus ouvintes (Ibidem, p.43). Mas logo lhe sobreveio uma nova provação, que lhe feriu profundamente o ânimo, sendo necessário até a intervenção divina para que recobrasse a alegria. Certa manhã recebe a notícia de que seu mestre está acamado. Após dois dias de agonia, o pobre padre Calosso voava ao seio do Criador.7 Com ele morriam minhas esperanças (Ibidem, p.45-46). O 7

21 de novembro de 1830, tendo a idade de 75 anos.

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tempo de convivência breve que o pequeno João passou com o Pe. Calosso foi suficiente para imprimir-lhe na alma uma série de valores, que ele mesmo assumirá para sua vida em favor dos jovens mais pobres e abandonados. Castelnuovo Após um longo período desde o início de sua alfabetização até o ano de 1831, João Bosco esteve indo de um lugar a outro sem ter tido a formação sistemática que desejava. Havia até este momento estudado um pouco de tudo, entretanto, sem a documentação necessária, acabava por não ter significado legal. Tendo sido concluída naquele ano a divisão de bens entre os irmãos, mamãe Margarida pode em fim dispor da herança de João para aplicar em seus estudos (Ibidem, p.49). Desse modo no natal de 1830 foi possível para João matricular-se em uma escola pública de Castelnuovo. Sua ida a Castelnuovo. Ao mesmo passo que representava um avanço nas suas perspectivas de estudo, colocava o pequeno João diante de várias exigências pessoais e, sobretudo, morais, pois ali se encontrará em um ambiente cheio de perigos para os jovens. Outra grande dificuldade eram as distâncias que tinha que percorrer todos os dias, chegando em determinadas épocas fazer um total de 20 quilômetros por dia. Durante o inverno esta maratona tornava-se impossível, o que levou mamãe Margarida a procurar hospedagem para seu filho por ali mesmo. Os lugares e pessoas com que João Bosco morou por algum tempo durante seus estudos é material suficiente para grossos volumes, aqui nos interessa apenas mencionar a riqueza das habilidades adquiridas, que na maturidade de sua vida apostólica podia gabar-se de ter. Doces,

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alfaiataria, marcenaria, música, serralheria, ferraria etc., todas elas resultado dos trabalhos que realizou ao longo dos anos para conseguir manter-se nos estudos. O reingresso a sala de aula não foi em choque: A entrada para uma escola pública, com professor novo, depois dos estudos feitos em particular, foi para mim um transtorno, pois quase tive de começar a gramática italiana para depois passar à latina (Ibidem). Outra vez a presença de um sacerdote, Pe. Virano será para ele um conselheiro oportuno, que o ajudará a seguir seu objetivo sem deixar-se seduzir pelas vozes do caminho, que lhe insinuavam a mentir e a roubar. Com a chegada de um novo professor, chamado Nicolas Moglia João passará por grande dificuldade, a ponto de nas memórias do oratório usar expressões fortes: [...] nosso querido professor tomava posse da sua paróquia. Foi substituído por outro que, incapaz de manter a disciplina, quase deitou a perder quanto eu havia aprendido nos meses anteriores (Ibidem, p.51). As coisas não iam bem a Castelnuovo. Era preciso novamente partir. João toma a decisão, certamente após ouvir sua mãe e outras pessoas, de ir para Chieri. Aulas em Chieri Chieri era uma cidade com mais ou menos nove mil habitantes, coisa ínfima para nossos dias, número exorbitante para o pequeno João acostumado com seu pequeno povoado. Algum tempo antes mamãe Margarida já havia entrado em contato com certa Lúcia Mata (17831851), que ai subalugava quartos. Além de aceitá-lo como hóspede, recomendou-lhe dar aulas particulares ao seu filho João Batista Matta (1809-1878) abatendo assim o valor da pensão. Minha firme obediência à boa senhora foi-me útil também materialmente, pois com muita satisfação confiou-me seu filho único, de temperamento muito vivo, grande amigo do brinquedo, pouquíssimo do estudo. Encarregou-me de repassarlhe as lições, embora estivesse numa classe superior à minha. Cuidei dele como de um irmão (Ibidem, p.55). O Tapiri 17


Joãozinho tem uma habilidade natural que provoca em que lhe contempla uma atração e confiança. Dificilmente um jovem se deixa conduzir por outro de idade inferior em assunto de sua vida pessoal. Este convite da mãe de João Batista para acompanhar seu filho e dar-lhe instruções, apresenta motivos suficientes para que se criasse um clima de verdadeira inimizade entre eles. O filho poderia sentir-se vigiado por João, sentir-se “ensinado” por ele, ou pior ainda poderia sentir-se comparado, como se a mãe a este preferisse. Mas não é isto que acontece, ao contrário, João com seu modo simples e propositivo, consegue dosar de tal forma seu dever com os gostos do jovem que alcança em pouco tempo mais do que se poderia esperar. O segredo? Ousamos Dom Bosco: Com jeito, pequenos presentes, entretenimentos caseiros, e levando-o às práticas religiosas, torneio-o dócil, obediente e estudioso, a tal ponto que depois de seis meses havia-se tornado bastante bom e aplicado, satisfazendo o professor e conseguindo lugares de honra na sua classe. A mãe ficou muito contente e em retribuição perdoou-me toda a pensão mensal (Ibidem, p.55). Aqui aparecem claramente as bases do sistema educativo que João irá colocar em prática nas suas escolas: a alegria, o estímulo positivo da religião, o carinho. Os anos passados em Chieri foram de grande crescimento para João Bosco em todos os aspectos. As oportunidades, dificuldades, amizades e estudos constituirão um tesouro precioso que o ajudarão em todos os seus anos de educador da juventude. João narra com sentimento de grande gratidão o quanto foram bons para com ele alguns de seus mestres, ajudando e aconselhando. Evidente que tudo isso graças às qualidades que nele eram facilmente percebidas, sobretudo, o grande interesse e esforço em aprender. Prova disto são as conquistas e progressos que faz rapidamente. Conquistando várias vezes o primeiro lugar, demonstrava sua força de vontade e suas qualidades intelectuais, abrindo assim caminho para que dois messe depois fosse admitido por via excepcional a outro exame, passando então para a quarta, que corresponde ao sexto ano (Ibidem, p.52). O Tapiri 18


Dele comentou Pe. José Cima ([1810 - 18?]), professor da quarta classe, não seria ousadia dizer, em tom de profecia, será uma grande toupeira, ou um grande talento. Sabemos por narração do próprio Dom Bosco, que alguns dias mais tarde um pequeno incidente, o fez reconhecer que se tratava, sem dúvida, de um grande talento. Fazendo-lhe ainda elogiar sua “Feliz memória” e aconselhando-o a servir-se bem dela. Ao final daquele ano escolar de 1831-1832, passou com boas notas para a terceira de gramática, ou seja, a terceira série ginasial (Ibidem, p.53-54). Amizades O tempo vivido em Chieri foi um celeiro de fecundas amizades para o jovem João Bosco. Aqueles rapazes que inicialmente lhe propunham coisas más serão convencidos pelo comportamento exemplar do jovem João e acabaram tornando-se eles mesmos seus amigos. Começaram a vir para brincar, depois para ouvir fatos e fazer a tarefa de aula, e, o por fim, sem motivo algum, como os de Murialdo e de Castelnuovo (Ibidem, p. 56). Para dar um nome essas reuniões, costumava chamar Sociedade da Alegria. O nome não poderia ser mais oportuno, pois marca de modo preciso o que é o grupo e ao mesmo tempo serve de atrativo para a finalidade última de João, que era ensinar valores Cristãos aos seus amigos. Tudo o que pudesse ocasionar tristeza, especialmente as coisas contrárias às leis do Senhor, estavam proibidas (Ibidem). Deste grupo, João terá grandes amigos, certamente o mais conhecido é Luis Comollo que lhe impressionara bastante por sua retidão e piedade. Admirado da caridade do colega, pus-me inteiramente em suas mãos, deixando-me guiar para onde e como lhe aprouvesse... Sabia convidar-nos com tamanha bondade, doçura e delicadeza que era impossível escusar-se (Ibidem, p.64). No auge de sua mocidade, João emprega suas melhores forças e tempo em construir um ambiente educativo entre os que lhe são próximos, vindo a tornar-se modelo de jovem virtuoso para tantos pais que lhe tinham por referência. Se fossemos detalhar pormenorizadamente as O Tapiri 19


estripulias de João neste período levaríamos grande tempo para transcrevêla, coisa que seria até desnecessária, dado o fato de conhecermos muitas destas histórias, o que nos interessa é somente apontar como elas foram importantes para a formação, ou melhor, a maturação das concepções acerca da alegria juvenil que Dom Bosco mais tarde terá como princípio forte no seu sistema educativo, e que, portanto, fazem parte assim da experiência prática de João na sua formação de pastor dos jovens. Entrada para o seminário Era comum ao final dos estudos de retórica, que corresponde hoje a uma espécie de curso de comunicação, o jovem sentindo propensão para a vida eclesiástica fizesse o pedido para ingressar em algum seminário diocesano ou religioso. Tendo concluído o estudos das humanidades, havia ingressado no ano de 1834 no curso de retórica e à medida que ia se aproximando o final do ano letivo, já no ano de 1835, sua angustia aumentava, principalmente por não ter um guia que o acompanhasse neste assunto. Assim reclama João: Oh! Tivesse então um guia que se

interessasse pela minha vocação! Seria para mim um grande tesouro; faltava-me, porém, tal tesouro! (Ibidem, p.79). Chegou a fazer o pedido para ingressar no convento Franciscano de Santa Maria dos Anjos, em Turim, em março do ano de 1834 e foi aceito no dia 28 de abril do mesmo ano, porém um sonho em que Deus o revelava que a paz que ele procurava não podia ser encontrada fugindo do mundo, a fez desistir da ideia. O Tapiri 20


Superadas as dúvidas, João Bosco recebe a vestidura no dia 28 de outubro de 1835 como seminarista diocesano de Turim. Assim vemos nosso pequeno estudante completar sua primeira grande prova. Inicia a partir daqui uma nova etapa de sua vida, confiando sempre nos sábios conselhos de sua mãe e nas pessoas e fatos que a Providência Divina vai descortinando em sua frente, ele segue seu caminho, aproveitando-se dos contratempos e vibrando com as vitórias. Mas uma coisa continua a incomodar João Bosco. Os formadores mantinham um relacionamento pouco familiar com os formandos. Apareciam em raros momentos entre eles. As conversas eram em datas marcadas e cercadas de formalidades. Neste clima não havia espaço para pedir conselhos ou tirar dúvidas. Quando um formando era chamado a falar com o diretor era sinal de que alguma reprimenda o esperava. João Bosco por isso mesmo avivava em seu coração o desejo de ser padre o quanto antes para ficar no meio dos jovens, assisti-los e ajudá-los no que fosse preciso (Ibidem, p. 93). Transcorrido este período da formação, João terá conseguido de tal modo a simpatia dos seus formadores e amigos que podia alegrar-se em perceber. Os superiores me amavam, e me haviam dado contínuos sinais de benevolência. Estava muito afeiçoado aos meus companheiros. Pode-se dizer que eu vivia para eles e eles para mim (Ibidem, p. 111). No nosso próximo artigo daremos continuidade a esse diálogo falando do Padre João Bosco em contato com os jovens nos seus primeiros anos de ministério. Até lá!

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SACERDOTES COM O CORAÇÃO DE CRISTO Cinco breves tópicos de reflexão, do Magistério do Papa Francisco Dia de Santificação do Clero, 19 de junho de 2020

Neste precioso texto, o Santo Padre usa com frequência a palavra “coração”, a partir da qual se pode iniciar uma reflexão e uma meditação por ocasião do Dia de Santificação do Clero, que todos os anos se celebra na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. GRATIDÃO “Muito obrigado pela alegria com que soubestes dar a vossa vida, mostrando um coração que ao longo dos anos combateu e lutou para não se tornar estreito nem amargurado e, pelo contrário, ser diariamente alargado pelo amor de Deus e do seu povo, um coração que, como o bom vinho, o tempo não azedou, mas deu-lhe uma qualidade cada vez mais fina; porque «é eterna a sua misericórdia»”. Um coração agradecido. Ser Sacerdote segundo o Coração de Cristo significa revestir-se d’Ele até ao ponto de ter os seus mesmos sentimentos. Entre tantas virtudes, o Coração de Jesus está aberto à gratidão; Ele agradece ao Pai pelos prodígios que realiza aos olhos dos pequenos, escondendo-os a quem, ao invés, fechado na presunção da sabedoria humana, não consegue vê-los (cf. Mt 11,25). Por isso, a gratidão é uma qualidade especificamente cristã e deve pertencer ao modo de ser do pastor; com efeito, S. Paulo exorta-nos assim: “Estai sempre alegres, rezai incessantemente, em tudo dai graças” (1Ts 5,16). O termo que traduz “dai graças” é “eucaristia”. O Sacerdote é assimilado ao Coração de Cristo de modo especial na celebração eucarística, que une ao sacrifício de amor do Senhor pelo seu Povo. Ao mesmo tempo, o O Tapiri 22


Papa Francisco deu com frequência voz ao sentimento de gratidão do Povo de Deus em relação aos presbíteros, pelo generoso serviço e pela oferta da sua existência. MISERICÓRDIA “Através dos degraus da misericórdia podemos descer até ao ponto mais baixo da condição humana – fragilidade e pecado incluídos – e subir até ao ponto mais alto da perfeição divina: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso». E assim ser «capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e também de descer à sua noite, à sua escuridão sem se perder»”. Um coração misericordioso. Quando Jesus atravessa as aldeias e as cidades, passa curando e fazendo bem a todos os que estão prisioneiros do mal (cf. At 10,38). Jesus não tem medo de se contaminar com a fragilidade humana, mas, antes, desce aos abismos da fragilidade humana e do pecado, para revelar o Coração misericordioso do Pai que levanta das quedas cada um dos seus filhos e os chama à alegria do perdão. O nome de Deus que Jesus revela é “misericórdia”. Na Homilia da Santa Missa do encerramento do Jubileu da Misericórdia, o Santo Padre afirmou que “a verdadeira porta da misericórdia é o Coração de Cristo”. O Sacerdote, configurado com Cristo, é antes de mais o ministro da misericórdia e da reconciliação. Levando no seu coração a memória de ter sido olhado e chamado pelo Senhor não pelos méritos pessoais, e fazendo diariamente a experiência de ser tocado pela misericórdia de Deus em tudo aquilo que vive e realiza, deve tornar-se sinal acolhedor do amor de Deus que quer chegar a todos, em todas as situações da vida, para curar do mal. Temos necessidade de Sacerdotes de trato misericordioso, capazes de acolher, escutar e acompanhar os irmãos, de modo especial no Sacramento da Reconciliação. O Tapiri 23


COMPAIXÃO “Muito obrigado por todas as vezes em que, deixando-vos comover até às entranhas, acolhestes os que tinham caído, curastes as suas feridas, oferecendo calor aos seus corações, mostrando ternura e compaixão como o Samaritano da parábola (cf. Lc 10,2537). Nada é tão urgente como isto: proximidade, vizinhança, estar próximo da carne do irmão que sofre. Quanto bem faz o exemplo de um sacerdote que se aproxima e não se afasta das feridas dos seus irmãos. Reflexo do coração do pastor que aprendeu o gosto espiritual de se sentir um só com o seu povo”. Um coração compassivo. Os Evangelhos narram com frequência que Jesus, à vista das multidões cansadas e oprimidas, sente profunda compaixão (cf. Mt 9,36). Com efeito, as suas “entranhas comovem-se”, especialmente quando se confronta com a dor e o sofrimento provocados pela doença, pela marginalização e por toda a forma de pobreza material e espiritual; como Bom Samaritano, cheio de compaixão, Ele para diante da carne ferida dos irmãos e cura-a, tornando-se manifestação viva do amor de Deus Pai. Aos Sacerdotes, ministros de Cristo, pede-se o mesmo coração compassivo, que se exprime na proximidade, na participação real e integral nos sofrimentos e nos trabalhos das pessoas, na capacidade de relações que reacendem a esperança, na cura das feridas do Povo, de modo especial através da mediação da graça sacramental.

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VIGILÂNCIA “Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou conosco mesmos, podemos correr a tentação de nos agarrar a uma tristeza adocicada, a que os padres do Oriente chamavam acédia… Tristeza que torna estéreis todas as tentativas de transformação e de conversão, propagando ressentimento e animosidade… Irmãos, quando essa tristeza adocicada ameaça apoderar-se da nossa vida ou da nossa comunidade, sem nos assustarmos nem preocuparmos, mas com determinação, peçamos e façamos pedir ao Espírito que «venha despertar-nos, dar um abanão ao nosso torpor, libertar-nos da inércia! Desafiemos a rotina, abramos bem os olhos e os ouvidos, e sobretudo o coração, para nos deixarmos desligar daquilo que sucede ao nosso redor e pelo grito da palavra viva e eficaz do Ressuscitado”. Um coração vigilante. Muitas vezes Jesus recordou a importância da vigilância do coração que, que como servos fiéis, nos faz esperar com prontidão a vinda do dono da vinha; trata-se de dar espaço ao dom do Espírito Santo que, mesmo no meio dos compromissos diários e das obscuridades do tempo presente, nos faz discernir a presença do Senhor, nos torna atentos à sua Palavra, nos faz operosos na caridade de modo que não se esgote o azeite na lâmpada da nossa vida e, como as virgens prudentes, vamos ao encontro do Esposo que vem. O coração mantém-se vigilante, mas também através da luta espiritual; Jesus mesmo a enfrenta no deserto, vencendo as tentações do demónio e, no fim da sua vida, despertando os seus discípulos que, no Getsémani, adormeceram: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). Sucede também ao Sacerdote aperceber-se daquilo a que o Papa Francisco chamou “o cansaço da esperança”, aquela amargura interior que muitas vezes nasce da distância entre as expetativas pessoais e os frutos visíveis do apostolado, ou aquela aridez do coração que frequentemente leva a arrastar os compromissos pastorais e a mesma oração no hábito, na resignação e até na incúria. É necessário, ao invés, deixar-se “despertar” sempre pela Palavra do Senhor e pelo grito do Povo de Deus. O Tapiri 25


CORAGEM “Para manter o coração corajoso é necessário não descurar estes dois vínculos constitutivos da nossa identidade: o primeiro, com Jesus. Sempre que nos desligamos de Jesus ou descuramos a nossa relação com Ele, pouco a pouco o nosso compromisso torna-se árido e as nossas lâmpadas ficam sem azeite e sem condições de iluminar a vida (cf. Mt 25, 1-13)... Neste sentido, queria encorajar-vos a não descurar o acompanhamento espiritual, tendo um irmão com quem falar, confrontar-se, discutir e discernir em plena confiança e transparência o próprio caminho… O outro vínculo constitutivo: reforçai e alimentai o vínculo com o vosso povo. Não vos isoleis da vossa gente nem dos presbíteros ou das comunidades. Menos ainda, não vos entrincheireis em grupos fechados ou elitistas. Isto acaba por sufocar e envenenar o espírito. Um ministro corajoso é um ministro sempre em saída”. Um coração corajoso. Contemplando o Coração de Jesus, podemos captar os dois vínculos fundamentais, a partir dos quais Ele vive a sua missão: o Pai Celeste e o povo. Os Evangelhos mostram-nos como, na jornada-tipo de Jesus, se alternam e se entrelaçam, num sábio equilíbrio, o cuidado da relação com Deus e a solidariedade ativa com os irmãos. A caridade dos seus gestos nunca é separada do silêncio e da oração, e a fadiga de um ministério, que nem tempo Lhe deixa para comer, nunca é separada da firme vontade de se retirar, para cultivar o íntimo colóquio de amor com Deus Pai. Do mesmo modo, o Sacerdote segundo o Coração de Cristo é aquele que “habita” entre o Senhor a quem consagrou a vida e o Povo que foi chamado a servir; ele poderá viver uma frutuosa caridade pastoral, na medida em que nele não se apagar a vida interior, a oração pessoal e comunitária e o deixar-se guiar no acompanhamento espiritual. As cinco palavras propostas para o Dia de Santificação do Clero, tiradas da Carta que o Papa Francisco dirigiu aos Sacerdotes em agosto passado, referem-se a um coração sacerdotal realmente “consagrado” ao de Cristo, ou seja, radicado na relação pessoal com Ele e por isso configurado aos seus mesmos sentimentos. Como foi revelado no âmbito psiquiátrico e psicoterapêutico acerca de alguns problemas de natureza moral e afetiva da vida dos padres, a vitalidade e o cuidado desta relação O Tapiri 26


espiritual com Deus, juntamente com o desenvolvimento de uma boa maturidade humana e de sãs relações interpessoais, constitui o melhor ambiente para o cuidado do celibato sacerdotal e da espiritualidade presbiteral. O que, ao invés, representa um alto potencial de risco na vida do padre é aquilo a que se chamou “deficit de intimidade”. Todo o estado de vida, para ser integralmente abraçado e protegido de incursões ameaçadoras, deve cultivar uma especial “relação íntima” que lhe valorize as possibilidades e lhe diminua os riscos: para um sacerdote, trata-se da amizade pessoal e quotidiana com o Senhor. O pressuposto humano, psicológico e espiritual para o sucesso de uma vida sacerdotal é a relação íntima com Deus. O deficit de intimidade não é senão a aridez da vida espiritual e, por consequência, a falta daquela amizade profunda, interior e vital com o Senhor, que constitui a base da fecundidade pessoal e pastoral. O padre que já não reza com fidelidade e que descura os elementos estruturantes da sua relação de intimidade com o Senhor acumula um “deficit” perigoso, que pode gerar sentimento de vazio, percepção de frustração e insatisfação, dificuldade na gestão da solidão, das necessidades e dos afetos, até ao risco de exposição em amizades e ligações “externas” que, naquele ponto, poderiam fazer desmoronar um edifício humano-espiritual já marcado por diversas fendas. Para que o sacerdote seja configurado ao Coração de Cristo, é necessário que o ponto firme da sua vida quotidiana e o fundamento da sua estrutura humana e espiritual sejam constituídos pelo húmus interior da profunda amizade pessoal com o Senhor, a partir da qual a gestão da própria vida, o celibato e a missão apostólica possam ser psicologicamente aceitáveis e espiritualmente fecundos. O Tapiri 27


VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA EM TEMPOS DE PANDEMIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Estimadas Religiosas e Religiosos: Equipe Interdisciplinar Na última Assembleia Geral Eletiva, decidimos como Vida Religiosa Consagrada (VRC) “...estar presente onde a vida está ameaçada, responder aos desafios de cada tempo, tecendo relações humanizadoras...ouvir o clamor dos pobres e da terra, para que o vinho novo do Reino anime a festa da vida” (Horizonte). Também nos comprometemos “a promover iniciativas comunitárias e articuladas que gerem consciência crıtíca, inclusão social e cuidado da Casa Comum” (Prioridade 2). Ninguém poderia imaginar que poucos meses após a Assembleia estivéssemos vivendo a crise atual. Naquela ocasião, as crises econômica, política, ambiental e religiosa já estavam em curso. Contudo, com o advento da pandemia todas elas foram intensificadas e o seu lado perverso emergiu com força devastadora, golpeando particularmente os mais pobres. Diante dessa situaçã o a VRC nã o pode calar. Como todas pessoas somos tocados (as) pela dor, fragilidade e impotência. Sentimos a necessidade de anunciar, denunciar e testemunhar a esperança do Reino. Estamos diante de um fenômeno complexo e desafiador que incide na vida de todos, mas principalmente dos mais pobres e excluıd́ os. Não podemos ficar indiferentes, precisamos nos posicionar. O Tapiri 28


A globalização de um vírus O que está acontecendo é trágico, inquietante, devastador e, por isso, requer um posicionamento. Estamos vivendo um tempo extraordinário, inesperado, que nã o tı́ nhamos imaginado. Trata-se de uma situaçã o que precisa ser compreendida e assimilada, inclusive do ponto de vista espiritual. Há um acúmulo de crises: sanitária, econômica, política, ambiental e espiritual. Estamos diante de uma globalização causada por um vírus, situaçã o pela qual ainda nã o tínhamos passado. As crises econô mica, polítca e ambiental não são novas, mas foram aprofundados pela Covid-19. O sofrimento causado pelo desemprego e pela precariedade das condiçõ es de trabalho aumentou consideravelmente. Além disso, estamos diante de autoridades sem compaixão, que não pautam a sua ação pelo diálogo, que não sabem fazer luto quando é necessário, e criar consensos para enfrentar juntos aquilo que só pode ser encaminhado coletivamente. Tudo isso desorganiza ainda mais a sociedade e aumenta tensõ es e conflitos.

As violências perpetradas contra mulheres, pobres, negros, indı́ genas, homossexuais, crianças, jovens e idosos, infelizmente são um continuam histórico em nosso país. Com a pandemia essa pérfida “normalidade” foi substancialmente agravada. Se a necessidade de mudanças era imperiosa antes da Covid-19, agora ela se transformou num ingente clamor. Por isso, nosso desafio, como religiosas e religiosos é contribuir na construção de uma “nova normalidade”, pautada pela inclusã o social e pelo cuidado da Casa Comum. O Tapiri 29


Outra questão é a crise espiritual, dado que é considerada por alguns autores como “guerra de deuses”. Quando alguém diz, por exemplo, “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, não estáfalando do Deus da fé cristã. É uma questão muito delicada porque está em jogo o testemunho do verdadeiro Deus, revelado por Jesus Cristo, exigência radical para os seguidores de Jesus, um testemunho que está em perigo na nossa sociedade brasileira quando o próprio Jesus e seu evangelho se tornam mal interpretados. O que faria Jesus se estivesse em nosso lugar neste momento? Podemos recordar aqui Mateus depois das bemaventuranças quando menciona o Cântico do Servo do Senhor (Is 52,1353,12), mas na forma ativa de Jesus. É a assunção de um sofrimento ativo, solidário, que se sofre na ação e na missão. Trata-se de uma solidariedade que acolhe o clamor, o sofrimento, venha de onde vier, como vier e que revela também a nossa impotência. É um momento ímpar e urgente que nos compete assumir.

As tensões religiosas têm aumentado ultimamente. Constatamos divisões no âmbito da Igreja e da própria VRC. É uma realidade da qual não podemos mais eludir. A questão fundamental que precisamos colocar é: qual o profetismo que nos cabe neste momento como religiosas e religiosos? É um momento de discernimento, posicionamento e ação. A sociedade acreditou por muito tempo que seria capaz de controlar a natureza por meio da tecnologia, mas o vírus nos colocou de joelhos. O que percebemos hoje, devido à O Tapiri 30

(crédito: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Provavelmente um dos momentos mais difíceis, do ponto de vista humano, criado pela pandemia é a questão do luto. Poder despedir-se de um ente querido, rodeado de familiares, amigos e pela comunidade é fundamental na vida de qualquer pessoa. Mesmo que as razões sanitárias prescritas pelas autoridades sejam compreensíveis, fica muito difícil viver esse momento. Nenhum paliativo pode substituir a presença e a solidariedade. Mais do que qualquer resposta, fica o convite a refletir a partir da nossa condição de pessoas de fé, como viver, nestas condições, os delicados momentos de despedida de nossos entes queridos (as).


globalização, que as conexões entre as vidas humanas são muito mais fortes do que imaginávamos. O bem-estar sanitário nosso também é o do vizinho. Uma consciência compartilhada de imunidade torna-se imprescindível. Mais do que independência é interdependência, que requer um compromisso pessoal e comunitário voltado à proteção mútua. Durante o período da pandemia também presenciamos lamentáveis acontecimentos contra os povos indígenas e os negros (as). O racismo outra vez mostrou seus tentáculos mais sórdidos, tanto em nosso paıś quanto em outras nações. Há uma “episteme” racista que precisa ser desconstruída. É imprescindível superar o negacionismo, romper com os pactos de silêncio e a falácia da democracia racial. A crise sanitária provocada pelo coronavıŕus também expôs a vulnerabilidade das populações indígenas, que veem os casos de mortes e infecções aumentarem, sem o devido acesso à assistência que as proteja do risco de extermínio. Por isso, é tão importante apoiar projetos como “A Amazônia precisa de você” e movimentos como “Vidas Negras Importam”. As novas geraçõ es de negros e negras contam conosco para romper o silêncio que também perpassa a vida eclesial e religiosa. Impactos na Vida Religiosa Consagrada O período da pandemia possibilitou, entre outros aspectos, mais tempo para cuidar de si, conviver, rezar calmamente, desfrutar as refeições e outros momentos comunitários. Relações humanas mais abertas favoreceram o diálogo, inclusive intergeneracional. Contudo, onde as relações comunitárias já estavam tensas e difíceis, afloraram ainda mais as fragilidades emocionais. Isso pode ser visto, por exemplo, no aumento dos casos de depressão e no uso de medicamentos controlados. A área da missão foi significativamente afetada pela Covid-19. Esse impacto vai desde a manutenção das comunidades, a viabilidade das obras, passando pelo nosso “modus operandi”, e a eficácia apostólica. O Tapiri 31


A manutençã o das comunidades que vivem basicamente do trabalho pastoral ou das paróquias tornou-se problemática. Não menos preocupante é a situação das redes educacionais ou de saúde. Não se trata apenas de viabilidade econômica, mas também de como manter a coerência de valores e princípios, num período de ajustes. Uma temática que ficou escancarada neste conjunto de crises é a falta de lideranças. Na sociedade civil, constatamos, atônitos, o descontrole do Governo Federal. Um governo incapaz de dialogar, unir a sociedade em busca de alternativas e gerar consensos para enfrentar uma situação complexa e preocupante. Pelo contrário, o que vemos são planteamentos destemperados, que causam mais divisão, ódio e aumentam a dor e o sofrimento. Essa situação política provocada pelo Governo Federal não somente é constrangedora para o país, mas também tem consequências maléficas para o conjunto da sociedade, de modo particular para os pobres. No campo eclesial percebemos a ausência de posicionamentos claros, fortes e proféticos. Esse vazio é preocupante na medida em que a Igreja tem uma importante função na formaçã o da cidadania comprometida com a transformaçã o social. Oportunidades e compromissos Os conturbados tempos da Covid-19 também podem ser uma oportunidade, por paradoxal que isso possa parecer, para avançar no essencial da VRC. Como diria Santa Teresa de A’ vila: “Não é tempo de nos ocupar de coisas de pouca importância”. Durante esses meses tivemos que ficar mais tempo em casa e trabalhar online. Sentimos que diversos modos de compreender elementos constitutivos ou importantes de nossa vida de consagradas (os) foram, podem ou devem ser reconfigurados. A título de exemplo, podemos mencionar a vida comunitária, o uso do tempo, a espiritualidade, o espaço sagrado e as modalidades de presença. Quem sabe percebemos melhor agora as nossas limitações, O Tapiri 32


fragilidades e a importâ ncia do cuidado. A cruz que acompanha nossas vidas emerge das mais variadas formas. Somos convidadas (os) a viver esse período desde o Mistério Pascal. Ou seja, assumir a cruz desde a perspectiva da ressurreição, diante de tantos sofrimentos e mortes que estamos acompanhando. Em relação à espiritualidade, notamos certo esgotamento de ritos e da criatividade litú rgica. Contudo, há uma sede de algo mais profundo e autêntico. É necessário buscá-lo. Respostas prontas e modelos estereotipados já não satisfazem. É importante constituir novas narrativas configuradoras de sentido, que integrem mística-espiritualidade, profecia, relaçõ es humanizadoras, solidariedade compassiva, etc. A pandemia é uma oportunidade para parar, refletir, rezar e dar uma resposta como VRC. A VRC está repleta de histórias e de testemunhos de superação. Situações difı́ ceis, onde o barco parecia que, inevitavelmente, iria afundar, foram oportunidades para configurar novos horizontes de fidelidade ao Deus da vida, que conduz tudo com suavidade e sabedoria. Dentro da perspectiva mı́ stico-profética que assumimos como religiosas (os), acreditamos que o Senhor nos conduzirá por novos caminhos onde o vinho novo do Reino anime a festa da vida. Nã o podemos abandonar tantos rostos de indı́ genas, negros, moradores de rua, crianças e idosos que o Senhor coloca em nossas vidas. Ao considerar os desafios destacamos a questão da missã o em suas mais diversas expressões. Diante deste contexto desafiador somos convocados a descortinar novos horizontes, estratégias e modalidades de presença. E’ uma oportunidade privilegiada para repensar formas tradicionais de missã o, por mais difıcíl e sofrido que possa parecer. Podemos, por exemplo, vislumbrar novas modalidades de educação, de saúde ou em relação à s grandes obras que animamos? Quais sã o os possíveis caminhos de reconfiguração? O Tapiri 33


Na Carta Encıcílica Laudato Si, o Papa Francisco insiste na “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está interligado” (LS 16). O quadro da pandemia mostra o quanto o desequilıbrio ambiental pode ser funesto, atingindo a todos, mas afetando principalmente os mais pobres. Por isso, é hora, e é agora, de inserir em nossas agendas de missão o cuidado da Casa Comum. Uma das prioridades deste triênio da CRB nos convida “a escutar a voz de Deus nos pequenos sinais de vida, que nos chama a anunciar, denunciar e testemunhar a esperança do Reino”. É maravilhoso perceber tantos gestos de solidariedade, presenças, iniciativas que a VRC está desenvolvendo, de modo particular com os mais pobres e vulneráveis. São gestos, muitas vezes simples, mas importantes. Além disso, não podemos deixar de mencionar iniciativas como “Amazônia precisa de você” e outras, que ultrapassam as fronteiras congregacionais. Intensificar e estender esse tipo de iniciativas fortalece o testemunho e a missã o da VRC. O contexto atual de pandemia requer de nós uma vida saudável, capacidade de transmitir esperança, ternura, paz, alegria e serenidade. Por isso, é importante não nos contaminar com o ritmo frenético e caótico das redes sociais que literalmente invadem tudo. Algo muito simples, mas importante, poderia ser, por exemplo, estabelecer um ou dois momentos diários para nos atualizar quanto às notı́ cias e depois desconectar-nos. Provavelmente ganharíamos muito em qualidade de vida afetiva, espiritual, comunitária e apostólica. As tecnologias digitais mostraram toda a sua relevância neste tempo de pandemia. Não se trata apenas de avançar no seu uso, mas de efetivamente apropriar-nos de sua linguagem e das possibilidades que nos podem proporcionar. São mais do que dispositivos de comunicação porque nos inserem em um novo horizonte cultural. Através delas podemos ser mais proativos, estabelecer pontes e marcar presença em espaços que de outro modo seria bastante difícil. Como religiosas e O Tapiri 34


religiosos estamos realmente dispostas/os a apropriar-nos destas novas tecnologias e desta nova perspectiva cultural? Como religiosas e religiosos somos chamados a ser na sociedade uma presença do Evangelho. Mais do que palavras, testemunho; mais do que proclamaçõ es, serviço. Quem sabe, a perspectiva poética de Dom Pedro Casaldá liga pode nos iluminar: “é tarde, mas é madrugada se insistirmos um pouco. Para fazer o futuro é todo o tempo que temos disponıv́ el”. Nã o podemos perder este Kairó s para buscar novos horizontes, estabelecer novos itinerá rios, reconfigurar nossas vidas, reorganizar nossas instituiçõ es para que o sonho de Deus brilhe no rosto dos pobres e dos excluıd́ os. Como ser Igreja “em saıda” de discıpulos missioná rios que “primeireiam”, que se envol- vem, que acompanham, que frutificam e festejam? (Evangelii Gaudium, 24) Diante destes cená rios sombrios e desafiadores é hora de somar forças, crescer na articulação institucional, sintonizar e apoiar as iniciativas da CRB, da CNBB, da ANEC e de outras institui- çõ es da Igreja e da sociedade. Como dizıá mos no inıć io, o que está acontecendo é trá gico, inquietan- te, devastador. Unir forças é fundamental para configurar um horizonte de esperança no qual os valores do Reino possam constituir uma realidade tangível. A CRB Nacional, com a colaboraçã o da Equipe Interdisciplinar, durante os pró ximos meses pretende aprofundar essa reflexã o, propor itinerários formativos e indicar perspectivas para a nossa vida e missão. Inspirados em Maria Convidamos as religiosas e religiosos, inspiradas/os em Maria, a colocarse em silêncio orante, escutar e discernir a voz de Deus nestes tempos sombrios, desafiadores e de oportunidades. Que a sua abertura e disponibilidade ao projeto do Reino nos ilumine para viver nossa mıś tica profético- sapiencial onde a vida clama. Iluminadas/os por seu itinerário de fé, saibamos sair das zonas de conforto, incertezas e dú vidas, para assumir com renovado ardor o seguimento de Jesus Cristo. Brasília/DF, 14 de julho de 2020 Memória de São Camilo de Lellis, padroeiro dos enfermos, dos hospitais e dos profissionais da saúde O Tapiri 35


VOCACIONADO, EU?

ETAPAS FORMATIVAS O Pré-Noviciado é o início propriamente dito do processo formativo salesiano, em preparação ao Noviciado, com um enfoque na formação humana e psicológica do candidato. Essa fase formativa tem duração de até um ano.

O Noviciado é a iniciação à vida religiosa salesiana, sob a direção do Mestre de Noviços, por meio das aulas, aprofunda-se a teologia da vida religiosa, acompanhamento espiritual, estudo das Constituições, a vida de Dom Bosco, atividade pastoral, vida comunitária e da oração. Essa fase formativa tem duração de um ano e é concluída com a Primeira Profissão Religiosa.

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 O Pós-noviciado é o período em que os formandos frequentam o curso de Filosofia, dando enfoque na integração: fé, cultura e vida. Essa fase formativa tem duração de três anos.

 Durante o TIROCÍNIO, os formandos são enviados às comunidades apostólicas para viver com mais profundidade e integração a formação salesiana, a experiência pastoral e a consagração religiosa. Essa fase formativa tem duração de dois anos.

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 Formação específica (Padre ou irmão), quem optar por seguir a vocação sacerdotal cursa teologia, durante esse período faz sua Profissão Religiosa Perpétua e são ordenados Diáconos e Sacerdotes. Os que optam em serem salesianos irmãos, seguem para um centro de formação específica para estudar teologia pastoral, realizando sua Profissão Perpétua no fim do curso.

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ACONTECEU FORMANDOS CONCLUEM MÊS DE AGOSTO COM LIVE VOCACIONAL Os Pós-noviços da Inspetoria São Domingos Sávio-Manaus, com o projeto de pastoral através das redes sociais, realizaram no último dia 30 de agosto, a live vocacional para celebrar o mês dedicado a Dom Bosco e vocacional. A transmissão foi feita pela plataforma do Facebook e YouTube com os recursos do Instituto São Vicente em Campo Grande-MS, com a apresentação dos salesianos Gustavo e Tailes. Padre Gaudêncio Campos fez a abertura do evento com saudações em língua tukano e oração. A live contou com a participação de Padre Daniel-sdb (Ananindeua-PA), Irmã Mônica Hivana-fma (Manaus/AM), Elizabeth, AJS (Manaus/AM), Wellington Abreu-sdb (Ji-Paraná/RO) que partilharam sobre suas respectivas vocações. Padre Felipe Bauzière-sdb, Delegado para Formação fez o tradicional boa noite salesiano. A live contou ainda com a participação de outras etapas formativas da Inspetoria, através de teatros e danças: Pré-noviciado de Manaus, Noviciado de Barbacena e Teologado de São Paulo. Com muita animação os Pós-noviços, anfitriões da live, cantaram e tocaram música popular amazonense e paraense, dançaram boi-Bumbá, carimbó e danças indígenas.

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MENSAGEM DO INSPETOR, EM OCASIÃO AOS 205 ANOS DO NASCIMENTO DE DOM BOSCO Queridos irmãos salesianos, jovens, irmãs e membros da família salesiana. Hoje nós estamos em festa o mundo salesiano está em festa. Celebramos 205 anos do nascimento de Dom Bosco. Ele permanece vivo em cada um de nós que procuramos, que buscamos viver o seu carisma na igreja e no mundo. Mesmo dentro de um contexto de pandemia como esse que nos encontramos. Nós como seguidores de Dom Bosco olhamos para Jesus ressuscitado e ele é o nosso motivo de esperança, é ele quem nos mantém na alegria e na fé para dias melhores. A nossa vocação, a vocação salesiana está enraizada na ressurreição de Jesus, e é isso que nos anima, é isso que nos provoca a buscar saídas para os problemas que enfrentamos no nosso dia a dia. Quero dizer a cada um de vocês o meu muito obrigado pelo testemunho, animá-los a viver cada vez mais com alegria. A vocação que o Senhor nos deu como leigos(as) consagradas, como leigos na Igreja e no mundo, como religiosos e religiosas, como presbíteros conforme a vocação que o senhor nos deu, esse mesmo Deus nos abençoe pela intercessão de nosso pai Dom Bosco! Uma boa festa de Dom Bosco para todos nós! Padre jefferson Luis - Inspetor (Inspetoria São Domingos Sávio-Manaus) * Vídeo mensagem (16/08/2020)

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FESTA DE DOM BOSCO! A Comunidade do Colégio-Paróquia Dom Bosco-Manaus comemorou o aniversário de 99 anos de fundação do Colégio Dom Bosco e os 205 anos de Nascimento de São João Bosco A Celebração foi realizada na quadra da escola com a comunidade educativa: alunos, educadores e salesianos. Foi presidida pelo diretor, P. Slawomir e concelebrada pelos padres José Benedito e Emerson. A programação continuou no fim de semana com missa e café da manhã na paróquia.

REDE SALESIANA BRASIL CELEBRA OS 205 ANOS DE DOM BOSCO COM A FAMÍLIA SALESIANA Para comemorar o mês de Dom Bosco e preparar a Família Salesiana para a celebração dos 205 anos do nascimento do Pai e Mestre da Juventude, a Rede Salesiana Brasil (RSB), em parceria com salesianas, salesianos, leigos e grupos da Articulação da Juventude Salesiana (AJS) de todo o país, se uniram em dois grandes eventos: o Tríduo de Dom Bosco (de 13 a 15/08) e o Oratório Festivo Virtual (16/08). Devido a pandemia causada pela COVID-19, os dois eventos ocorreram de forma on-line, sempre às 20h (horário de Brasília), e não deixaram de transbordar a alegria tão característica do carisma salesiano, mesmo à distância. Tríduo de Dom Bosco: O Tríduo de Dom Bosco aconteceu nos dias 13,14 e 15/08, em preparação e animação da Família Salesiana para a grande celebração dos O Tapiri 41


205 anos do nascimento do Santo dos Jovens. As lives foram divididas em 3 temas diferentes que abordavam aspectos da vida e legado de Dom Bosco. Oratório Festivo Virtual: No domingo (16), dia do nascimento de Dom Bosco, a Família Salesiana foi presenteada com o Oratório Festivo Virtual, uma live que recriou, mesmo que à distância, a casa de acolhimento idealizada por Dom Bosco desde os primórdios da Congregação Salesiana e eternizada até hoje nas presenças salesianas de todo o mundo. Para esta celebração, a animação ficou por conta do Pe. Ronaldo Luis e da Ir. Márcia Mucci que comandaram uma noite de muita nostalgia aos momentos de convivência nos oratórios salesianos do Brasil que foram interrompidos pela pandemia da COVID-19.

CONEXÃO VOCACIONAL: AMADOS E CHAMADOS POR DEUS Animados e motivados pela Pastoral Juvenil da Inspetoria Laura Vicuña-FMA, vários membros da Família Salesiana se reuniram nesta terça feira (18/08) para celebrar a Semana Vocacional Nacional da Vida Religiosa Consagrada com o tema: Amados e Chamados por Deus em uma live bem familiar. Os convidados transmitiram um belíssimo testemunho de vocações realizadas e felizes neste projeto do Reino de Deus. Para partilhar sobre a vida Matrimonial os jovens paraenses Lúcio e Karol compartilharam uma linda experiência de amor conjugal desde os pátios salesianos. Padre Osmar Bezzute da Inspetoria de Campo Grande, partilhou a beleza da vida, história e vocação das Voluntárias de Dom Bosco. Irmã Jucélia Silva, FMA com muita alegria e criatividade envolveu os participantes com a riqueza da vocação a vida religiosa consagrada e partilhou o lindo chamado que ela recebeu O Tapiri 42


para ser salesiana. Luciana Reis, atual provincial dos salesianos cooperadores de Manaus, sotolineou com muito fervor vários elementos da vocação dos Salesianos Cooperadores e para concluir nosso estudante de teologia o salesiano Wellington Abreu de Ji-Paraná com muita música e alegria compartilhou a beleza da vocação sacerdotal e o seu chamado a ser salesiano sacerdote.

PAPA NOMEIA NOVO BISPO PARA A DIOCESE DE HUMAITÁ (AM) Após aceitar, por motivos de idade, a renúncia de dom Franz Josef Meinrad Merkel, CSSp., mais conhecido como dom Francisco Merkel, o Papa Francisco nomeou, nesta quarta-feira, 12 de agosto, o padre Antônio Fontinele de Melo como novo bispo para a diocese de Humaitá (AM), do regional Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Padre Antônio Fontinele, até então, é presbítero na catedral Sagrado Coração de Jesus e ecônomo na arquidiocese de Porto Velho (RO), desde 2011. A CNBB enviou agradecimento a dom Francisco Merkel e a saudação ao novo membro do episcopado.

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ENCONTRO DE POLO REÚNE COMUNICADORES ON-LINE A Rede Salesiana Brasil-Comunicação (RSB) realizou na última sexta (07/08), o Encontro de Polo Comunicadores na modalidade virtual. Aproximadamente 85 participantes das diversas Obras do Pará, Amazonas e Rondônia se fizeram presentes oriundos das Inspetorias Laura Vicuña-FMA e São Domingos Sávio-SDB. O Encontro foi presidido pela diretora-executiva da RSB-Comunicação, irmã Márcia Kofferman. Após a acolhida feita pela irmã Carmelita, Inspetora (Inspetoria Laura Vicuña-FMA), o tema abordado pela manhã foi: “Gerenciamento de Crises”, com a assessoria de Jackson Pereira e Alcino Ricoy Júnior. Como organizar, estruturar e criar os comitês de crises para as diversas obras das Inspetorias. Pela tarde, o Sr. Cláudio Stacheira apresentou o planejamento estratégico da Rede Salesiana Brasil para os anos 2021-2031, o organograma da rede e os objetivos. Em seguida, irmã Márcia fez a partilha de dados e estatísticas do uso das redes sociais da RSB, a nova campanha de matrículas (2020-2021), o institucional da Rede e o Boletim Salesiano, sua distribuição e seu formato digital. Finalizando o encontro, os participantes fizeram a partilha de experiência do dia de formação.

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REUNIÃO DO CURATORIUM É REALIZADA NO NOVICIADO DE BARBACENA-MG Durante os dias 3 e 4 de agosto, o Noviciado Salesiano Sagrado Coração de Jesus, em Barbacena-MG, recebeu a visita dos inspetores Pe. Natale Vitali Forti (Inspetoria São João Bosco – BBH), Pe. Ricardo Carlos (Inspetoria Salesiana Santo Afonso Maria de Ligório – BCG), Pe. Jefferson Luis (Inspetoria Salesiana São Domingos Sávio – BMA) e também do Pe. Sedney Manja, Delegado Inspetorial para a Formação da Inspetoria São João Bosco, para a realização da Reunião do Curatorium 2020. O Curatorium, significa a união de forças entre Inspetorias, com a intenção clara de fortalecer a missão salesiana e promover um melhor atendimento dos nossos destinatários. Por essa razão, em Barbacena-MG, três Inspetorias, BBH, BCG e BMA, se unem para oferecer lugar, ambiente e comunidade, adequados para acolher, acompanhar e formar os jovens que estão vivendo o tempo do Noviciado, etapa da formação inicial salesiana.

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COMUNICAÇÃO: CONSELHEIRO GERAL E DELEGADOS INSPETORIAIS DO BRASIL REUNIDOS No dia 31 de julho, os delegados de comunicação social das Inspetorias do Brasil reuniram-se virtualmente com o conselheiro geral para a comunicação, padre, Gildásio Mendes. Presentes, além do conselheiro: Aline Passos (Inspetoria de Campo Grande), padre Dirceu Fernando Belotto (Inspetoria de Porto Alegre), Pedro Barreto (Inspetoria de São Paulo), José Luis- Zeca (Inspetoria de Manaus) e padre João Carlos (Inspetoria de Recife). Na ocasião os delegados partilharam sobre como funciona a comissão nacional de comunicação, padre Gildásio partilhou sobre as reuniões que está mantendo a nível das sete regiões da Congregação e o encaminhamento de uma equipe de articulação a nível de América. A reunião foi concluída com detalhes sobre o encontro continental de comunicação que será realizado em setembro no formato online.

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FORMANDOS SALESIANOS GRAVAM SÉRIE DE VÍDEOS VOCACIONAIS E MISSIONÁRIOS Fazendo uso das redes sociais neste período em que as atividades pastorais presenciais foram suspensas devido a pandemia do novo coronavirus, os pós-noviços salesianos, que estudam filosofia em Campo Grande/MS, se organizaram enquanto Inspetoria Salesiana da Amazônia (ISMA) para propagar o convite vocacional e missionário a partir da história da inspetoria, da experiência nas comunidades e o próprio testemunho do chamado a vida religiosa. A ideia do projeto é difundir o convite vocacional nos perfis dos formandos e nas páginas institucionais da inspetoria São Domingos Sávio, onde a presença dos jovens se dá em massa. “O projeto em si está excelente, de fato irá nos abrir novos conhecimentos explorando a nossa inspetoria presente na Amazônia a mais de 100 anos. Estou feliz em participar e dar a minha contribuição enquanto indígena”, disse o salesiano Justino Castro que falará em seu vídeo sobre benzimentos e os mistérios no rio Tiquié. A programação será desenvolvida em 3 etapas: a primeira tem como temática a proposta vocacional e será realizada ao longo do mês de agosto, com publicação de vídeos as quintas-feiras. A segunda será no mês de outubro e abordará temáticas missionárias, com publicação de vídeos uma vez por semana. A terceira será todo dia 11 de cada mês onde será acentuado o informativo salesiano “Cagliero 11” com as intenções da congregação e a realidade missionária da

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COLÉGIO DOM BOSCO LESTE – RETORNO DE AULAS PRESENCIAIS E REMOTAS A comunidade Educativa Pastoral do Colégio Dom Bosco Leste-Manaus, retornou gradualmente suas atividades letivas presenciais e remotas, com uma Jornada Pedagógica-Pastoral organizada na semana de 13 a 17 de julho. Cientes de que ainda enfrentamos a pandemia a escola retorna dentro dos novos padrões de segurança prescritos pelos órgãos competentes. A acolhida dos educadores aconteceu na área externa do complexo educacional em clima de oração, seguindo a temática do dia focada na perspectiva do CUIDADO. O texto do bom pastor (Jo 10, 10-15) deu um norte para a oração pessoal. Padre Reginaldo Cordeiro (diretor) acolheu a todos com palavras motivadoras, abrindo assim, os trabalhos formativos. A manhã prosseguiu com a reflexão conduzida pela psicóloga Jelcivane Pinheiro com a abordagem do tema: Saúde Emocional. A jornada matutina foi finalizada com abordagem sobre o tema: O educador Salesiano no atual cenário, conduzida pelo padre Antônio Carlos (Animador de Pastoral).

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REPAM: NÚCLEO DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL PANAMAZÔNICO Na dia 09 de julho, realizou-se por meio do aplicativo Zoom, a primeira reunião do Núcleo de Educação Intercultural Bilíngue Panamazônico (REIBA). O encontro promovido pela Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), foi coordenado pelo padre Pablo Mora, sj, Jesuíta peruano, coordenador do núcleo. Participaram religiosos, religiosas, leigas, leigos, bispos de diversos países da América Latina e da Europa. Das Inspetorias Salesianas da Amazônia participaram o padre José Ivanildo, representando a Inspetoria São Domingos Sávio, Irmã Maria Carmelita, pela Inspetoria Laura Vicuña e Irmã Mariluce Mesquita. Esteve presente na reunião ainda a Irmã Maria Inês, presidente da CRB-Brasil. A iniciativa que está nascendo no núcleo precisa ser discernida, para que cresça de forma harmônica e bem articulada, por isso o espaço de escuta dos agentes e organismos que trabalham com os povos indígenas no âmbito educativo na região panamazônica. O projeto piloto do núcleo de educação pretende criar uma rede escolar com escolas primárias em comunidades indígenas na região da Amazônia. A diocese de São Gabriel da Cachoeira, na pessoa de seu bispo Edson Damian, mostrou abertura para começar a rede educacional no Brasil. Um dos nomes recomendados pelo bispo para acompanhar este trabalho é o salesiano P. Justino Sarmento, salesiano, que acompanhou todo o processo sinodal sobre a Amazônia como perito e que atualmente trabalha na comunidade de Santa Isabel, no Rio Negro.

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Acesse também nossa biblioteca virtual e confira as publicações desenvolvidas pela Inspetoria:

Av. Visconde de Porto Alegre, 806 Praça 14 CEP:69020-130 | Manaus - AM Fone: (92) 2101-3400 / Fax: (92)3232-4649 _saodomingossavio

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