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EDIÇÃO 3 • MAIO 2015
PARCERIA DE SUCESSO Escolas da rede municipal do Rio de Janeiro estão avançando na alfabetização e registram hoje maior percentual de alunos que terminam o 1º ano do fundamental plenamente alfabetizados.O salto na qualidade se deve a uma parceria de quatro anos com o Instituto Alfa e Beto, reforçada este ano pelo Galáxia Alfa, software que garante ensino de forma lúdica e interessante para as crianças.
Aprender brincando. Brincar aprendendo
EDITORIAL
O BÊ-A-BÁ DO MUNDO DIGITAL
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ma coisa é fazer discursos eloquentes sobre a informática na sala de aula. Outra coisa é colocar a coisa para funcionar. Os professores da
Rede Municipal do Rio de Janeiro estão se saindo muito bem nessa difícil tarefa. Nossos problemas pessoais com o celular e internet são multiplicados por mil na hora em que a tecnologia entra na escola. As dificuldades são muito maiores, pequenas coisas que resolvemos no âmbito pessoal se tornam um grande problema. Isso é parte do processo de aprendizagem para lidar com o mundo digital – ninguém faz nada perfeito da primeira vez. Pouco a pouco o Galáxia Alfa vai deixando de ser um desafio e se tornando parte da paisagem. A colaboração das regionais, diretores, coordenadores e professores foi inestimável. O que mais impressiona é o interesse e a facilidade com que as crianças entram na brincadeira – mesmo aquelas que não dispõem desses recursos em suas casas. A i m p l e m e n t a ç ã o d o s p ro g r a m a s d o I n s t i t u t o A l f a e B e t o n a R e d e Municipal do Rio de Janeiro é uma proposta vencedora. Os resultados > João Batista Araujo e Oliveira
EXPEDIENTE
Psicólogo, PhD em Educação, João Batista fundou, em 2006, o Instituto Alfa e Beto. Trabalhou como professor no Brasil e no exterior. Foi do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e deu consultoria a projetos em mais de 60 países. Criou programas inovadores relacionados à correção de fluxo, gestão da educação e alfabetização. Autor de mais de 30 livros e artigos científicos, foi secretário-executivo do MEC na gestão Paulo Renato. É coautor do capítulo sobre alfabetização da Academia Brasileira de Ciências sobre Educação Infantil (2011) e relator do grupo internacional de trabalho de alfabetização infantil da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados (2013).
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apresentados nesta publicação não deixam dúvida quanto ao desempenho diferenciado dos alunos que participaram dos programas em anos anteriores. E o entusiasmo dos professores e das equipes de apoio das escolas e da Secretaria vem se mantendo ao longo dos anos, em função do impacto positivo na aprendizagem e no desenvolvimento dos alunos. O Instituto Alfa e Beto tem muito orgulho de estar presente nas escolas da Rede Municipal do Rio de Janeiro. Os resultados positivos dos alunos e o carinho demonstrado em depoimentos como os registrados nesta newsletter nos animam a continuar inovando e trazendo para os professores, escolas e crianças instrumentos de aprendizagem cada vez melhores e consistentes com nosso lema “aprender brincando/brincar aprendendo”.
Produção: R2 Editorial
Reportagem: Simone Mateos /IW Comunicações
DIagramação: Nelson Pinho
2015 / edição 3 - Publicação do Instituto Alfa e Beto (IAB)
IAB EM PAUTA
PROGRAMA ALFA E BETO
EDUCAÇÃO AVANÇA NA REDE MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
Número de alunos alfabetizados aumentou graças ao Programa Alfa e Beto de Alfabetização
Desde que passaram a utilizar o Programa Alfa e Beto para a alfabetização de crianças, os professores da Rede Municipal do Rio de Janeiro notaram avanços muito significativos em suas turmas: rapidez para adquirir fluência de leitura, maior capacidade de expressão oral, de raciocínio lógico e de interpretação crítica de textos. Melhorias que se refletem no alto percentual de crianças que concluem o 1º ano lendo com autonomia. Neste ano, os docentes ganharam um novo e importante aliado, que ajuda as crianças a compreender a língua enquanto se divertem: os tablets com o software lúdico Galáxia Alfa, programa digital do Instituto Alfa e Beto. No software, as crianças aprendem
os aspectos relacionados à alfabetização enquanto superam desafios no jogo do tablet, com os heróis Babu e Buba. O Instituto Alfa e Beto chegou à Rede Municipal do Rio de Janeiro em 2010, com o Programa Alfa e Beto de Alfabetização, implantado nas turmas de 1º ano do Ensino Fundamental. Em 2013, chegou aos 2º anos. Desde 2011, a adesão aos programas do Instituto Alfa e Beto vem ganhando corpo em função dos bons resultados obtidos pelas turmas que usam o programa. A comparação é permitida porque a Secretaria de Educação orienta as escolas a manter uma turma fora do Programa Alfa e Beto, o que facilita a comparação entre crianças de mesmo bairro e escolas. Nos dois primeiros anos, as notas dos alunos que utiliTURMAS DO ALFA E BETO X OUTRAS TURMAS zam o programa são, (Desempenho dos alunos do 3º nas escolas com turmas do Alfa e Beto) em média, entre 15% 2014 e 20% superiores às 80% das crianças da mes70% ma escola que não o 60% usam. A longo prazo, 50% as diferenças positi40% vas se acentuam. No 30% ano passado, três de cada quatro alunos 20% dos terceiros anos 10% que haviam passado 0% Fizeram 1º e 2º com o Alfa e Beto Fizeram 1º e 2º sem o Alfa e Beto pelo programa nas séries anteriores tiInsuficiente Regular Bom/Muito Bom veram desempenho bom ou muito bom IAB EM PAUTA
na avaliação externa unificada, aplicada pela Secretaria Municipal de Educação no último bimestre de 2014; outros 18% tiveram desempenho regular, e apenas 8% ficaram abaixo do mínimo adequado. Nas turmas que não usam o programa, apenas 40% dos alunos tiveram bom desempenho; 27% ficaram na faixa regular; e 33% obteve desempenho insuficiente. “Os docentes que usaram o Alfa e Beto em sala garantem que não há método melhor para alfabetizar. As crianças não só aprendem mais rapidamente a ler com fluência e autonomia, como aprendem a se concentrar e se expressar melhor. Por isso, quando vão para a série seguinte, essas turmas são disputadas pelos outros professores da escola”, diz Lúcia Brizzio, que é coordenadora responsável pela implantação do Alfa e Beto na 6ª CRE. Maria Cristina Carvalho, que coordena a 10ª CRE, constituída em sua maior parte por bairros carentes e violentos, concorda: “Em todas as avaliações externas, os alunos do programa se sobressaem. Mesmo os de pior desempenho acabam por ter fluência de leitura maior do que os das outras turmas. Isso estimula os professores. Nas reuniões mensais percebemos que é cada vez maior o interesse deles em aprender, trocar experiências e se aprimorar”. A professora Cynthia Borges, da Escola Alípio Miranda, compara os resultados com base na autoridade de quem lecionou, no mesmo ano, para duas classes de 1º ano, usando o Alfa e Beto em 3
obtendo melhores resultados com eles”. Os docentes e coordenadores atribuem esses resultados ao fato de haver orientações detalhadas, com o passo a passo do que o professor deve fazer em classe. Por isso, no primeiro instante, o programa foi visto como um “engessamento” do ensino e assustou os professores. Joelma de Souza, diretora da escola Mestre André, disse que essa foi sua primeira impressão: “Pareceu uma camisa de força, pois a metodologia definia até a ordem em que deviam ser dadas as letras e os fonemas e o tempo a ser dedicado a cada um. Depois, percebi que as crianças aprendem muito mais rápido desse jeito porque vai do simples para o complexo, dando mais tempo para questões mais difíceis. E vi que existe flexibilidade para adaptação”, diz Joelma.
A diretora lamenta o fato de ter desistido do programa ao final do primeiro ano de uso: “Foi um erro. Logo no início do 2º ano as crianças deslancharam e começaram a ler com muito mais fluência do que os que já estavam no 3º ano. Então, no ano seguinte, voltamos a adotar o material e estamos conseguindo resultados cada vez melhores”. A professora Valquíria do Nascimento, da Escola Cardeal Arcoverde, também é uma defensora do programa. “O Alfa e Beto é estruturado, sistemático, o que é ótimo. Ele não me impede de trabalhar os textos que eu quero e incrementar com outras atividades. Consigo fazer com a turma outras atividades além do programa e não deixo de passear e brincar, não deixamos de fazer nada do que é importante”.
Alunos mais críticos Inúmeros professores destacam o reforço à capacidade crítica dos alunos como o diferencial mais importante do Programa Alfa e Beto. Eles observam que as crianças submetidas ao material têm mais opinião e facilidade de expressão, e atribuem isso ao fato de que todas as atividades estimulam a participação e a reflexão dos alunos sobre os temas tratados e sobre a própria organização do trabalho em sala. Para os docentes, sobretudo os exercícios de interpretação de texto estimulam a reflexão e o posicionamento crítico, exigindo que a criança organize o pensamento e exercite vocabulário para se expressar. A diretora da escola Mestre André, Joelma de Souza, diz que os textos prendem a atenção da criança, com vocabulário adequado, frases completas e criativas: “Percebemos que isso desenvolve muito a capacidade de > Atividades desenvolvem raciocínio lógico e capacidade de expressão expressão e de opinião”. A professora Josane Machado Monteiro, também da Mestre André, concorda: “Os alunos ficam muito mais críticos e questionadores. Eu vejo que isso se deve à forma como somos orientados a trabalhar os exercícios de interpretação de textos: as perguntas nunca são óbvias. Elas focam menos as informações do texto e mais aquilo que a criança pensou sobre o que está no texto”. Isso, segundo as educadoras, desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade de expressão, o vocabulário e até a autoestima, porque as crianças são ouvidas e suas opiniões têm valor no espaço escolar. O resultado são alunos com perfil diferenciado. Visão semelhante tem a professora Kelly Alencar, da Escola Alfredo de Paula Freitas, que já lecionou com o programa no 1º e no 2º ano: Os alunos do Alfa e Beto têm postura diferenciada. São mais interessados e participativos. Também mostram mais interesse pela leitura e fazem produções textuais mais estruturadas”. A coordenadora responsável pela implantação do Alfa e Beto da 4ª CRE, Shirley Machado, diz que encerrou 2014 com 85% a 95% dos alunos com nível de leitura bom ou muito bom, performance muito superior ao das outras turmas. Os resultados aparecem nos testes aplicados pelo Instituto Alfa e Beto e também pela avaliação externa aplicada pelo município. Ela acredita que o maior diferencial não é a leitura, mas a capacidade de expressão e de interpretação crítica que desenvolvem. Por isso os professores das séries seguintes disputam as turmas que vêm do Alfa e Beto”, diz ela, cujos alunos são moradores de áreas carentes e extremamente violentas. “Não estranho que todos queiram essas turmas. É uma pena o sistema não ser adotado em todas as classes”, avalia Valquíria do Nascimento.
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uma e as apostilas da Secretaria na outra. Ela aplicou várias metodologias que aprendeu com o Alfa e Beto em ambas as turmas, mas os que não estavam no programa não tiveram acesso aos mesmos materiais didáticos. “A diferença de desempenho foi muito grande. Enquanto os alunos do programa acabaram o ano lendo em média 60 palavras por minuto, a outra turma ficou em torno de 15, que é uma fluência que ainda não permite compreender o que se lê”, diz Cynthia, que conclui: “Os professores brigam para pegar as turmas do programa. Os alunos chegam preparados para aprender conteúdos mais avançados”. Segundo ela, mesmo os alunos mais defasados da turma do Alfa e Beto têm nível superior aos da sala que não usa o programa: “A professora do reforço diz que está
IAB EM PAUTA
MÉTODO
INGREDIENTES DO ÊXITO Acompanhamento e reuniões de professores e gestores garantem a eficácia do método fônico.
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raciocina Valquíria do Nascimento, que Os educadores da Rede Municipal Ela destaca também a importância do acompanhamento da evolução de do Rio de Janeiro atribuem o sucespassou boa parte dos seus 17 anos de cada aluno. “Depois de cada avaliação, so do Programa Alfa e Beto a um magistério como alfabetizadora: “O proparamos de apresentar novos foneconjunto de bons atributos. O uso do grama traz um planejamento completo mas para fazer uma revisão de tudo o método fônico é um deles, bem como com o passo a passo que o professor que já foi visto e recuperar os alunos a sistematização e ordenamento dos deve seguir. Há direcionamento. Com defasados. Assim é mais difícil que alconteúdos em sequência lógica, o tudo solto como era antes, a gente guma criança fique para trás”. Além de cronograma com metas, uso de mamuitas vezes se perdia e quem pagava receber um manual com explicações teriais didáticos com bons exercícios e eram os alunos, porque o número dos detalhadas sobre como apresentar atividades diversificadas que prendem que fracassavam era bem maior”. cada conteúdo e dividir a atenção dos alunos, o tempo para dar conta assim como o apoio de todas as atividades, permanente que os os professores se redocentes recebem únem mensalmente para desenvolver as para trocar experiênatividades em sala. cias e sanar dúvidas Quanto ao método, junto ao coordenador e Daniele Sabóia, proainda recebem visitas fessora do Ciep Poesemanais de um prota Cruz e Souza, afirfessor itinerante que ma que seus alunos acompanha o desenapresentam mais volvimento do trabalho facilidade com o uso e até assiste algumas do método fônico do aulas para dar suporque do silábico. “É te. Essa presença, que mais fácil, os alunos inicialmente causou não têm de decorar desconforto, acabou centenas de sílabas. conquistando os que Com o fônico, quase adotaram o programa. todos os meus alunos “Quando estamos no terminam o 1º ano > Programa Alfa e Beto de Alfabetização garante recuperação de alunos defasados processo, muitas vezes lendo e ganham logo não vemos o que está errado. Cresci, A coordenadora responsável pela fluência, o que favorece que peguem profissionalmente, com as críticas e implantação do Alfa e Beto na 10ª CRE, gosto pela leitura”. O cronograma de orientações do professor itinerante”, Maria Cristina Carvalho, concorda: reuniões de planejamento é outro diz Andréa Batista, da Escola Alípio “Sem planejamento, muitas vezes o ponto que os educadores ressaltam, Miranda. Também Valquíria do Nasprofessor mistura tudo e perde muito pois serve de apoio para preparar as cimento reconhece que o apoio desse tempo em sala, deixando as crianças aulas e sanar dúvidas: “Ficou mais profissional foi essencial para que brincando enquanto está corrigindo fácil para mim e para as crianças. Tive conseguisse superar o pânico que materiais. Raramente, os docentes maior êxito no fim do ano”, reconhece sentiu pelo péssimo desempenho de chegam ao fim do livro didático. Não Marcela Sobreira, professora do 1º ano seus alunos na primeira avaliação. “De da Escola Sarmiento. Na mesma linha, há perda de tempo com o programa”. IAB EM PAUTA
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30 alunos, apenas quatro tiraram nota azul. Mas a professora itinerante me tranquilizou, disse que o primeiro momento era assim mesmo, me orientou e ajudou a melhorar. Não me julgou e nem cobrou”. Já as coordenadoras se entusiasmam com as reuniões mensais dos professores que usam o programa. Shirley Machado, responsável pela implantação do programa na 4ª CRE, afirma que a troca de experiências é muito rica: “Fazemos o planejamento geral e, às vezes, até o plano detalhado das próximas aulas, quando algum professor solicita”. Ela começou com três escolas no programa
e hoje já tem 11. Reconhece que o aumento das adesões é a regra geral nas diversas CREs: “Tem professora que faz campanha para que o Alfa e Beto seja adotado em outras escolas. E são profissionais experientes, que estão na rede há anos”. Uma dessas fãs incondicionais do programa é a professora Andréa Batista, da Escola Alípio Miranda. Ela diz que seu desempenho profissional deu um salto de qualidade com o Alfa e Beto: “Nos meus 14 anos de experiência antes do programa, nunca tinha visto uma sala em que 100% das crianças terminavam o 1º ano alfabetizadas. Mesmo as crianças que não atingem
as metas de fluência, saem lendo e escrevendo, quando o normal na rede não é isso”. Com experiência como alfabetizadora na bagagem, a professora itinerante Laura Mendes de Souza, a Laurinha, é outra radical defensora do uso do Alfa e Beto na rede, embora no início tenha resistido muito a aceitar trabalhar com o programa. Bastaram poucos meses na nova função para que mudasse radicalmente de ideia: “Fui me apaixonando pelo Alfa e Beto por ver a felicidade das crianças aprendendo a ler sem ser uma coisa tão sofrida e por ver o entusiasmo e a motivação renovada das professoras.”
APRENDER BRINCANDO Brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança e auxilia a aprendizagem
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O caráter essencialmente lúdico do programa Alfa e Beto é outro aspecto que os professores destacam como essencial para os bons resultados alcançados. “Quando se trabalha conteúdo por meio de jogos, brincadeiras e desafios, o processo fica mais prazeroso”, diz Josane Monteiro, do 1º ano da Mestre André. Ela usa fantoches para apresentar as letras, transformando a turma em um alfabeto
> Materiais atraentes prendem a atenção da turma
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vivo: pendura uma letra no pescoço de cada criança, para depois propor que escrevam coletivamente uma palavra, chamando letra por letra para a frente da classe. Josane afirma que o próprio método fônico é divertido, porque as crianças adoram reproduzir as caras e bocas que ela faz, ao enfatizar como se produz o som de cada fonema. Ela reconhece que brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança e ressalta que muitas escolas esquecem isso, esperando que os alunos passem o tempo todo fazendo lição no caderno. Lembrando sua atuação anterior na rede privada, Josane diz que na rede pública seus alunos que estudam com o Alfa e Beto, embora comecem o ano muito menos preparados, concluem o curso com desempenho igual e até melhor. “Avançam mais, porque aprendem brincando.”
A professora Marcela Sobreira, que leciona no 1º ano da Escola Municipal Sarmiento, concorda: “Ficou muito mais fácil prender a atenção das crianças porque elas adoram as atividades, os materiais são atraentes e a aula nunca é maçante”. Além do caráter lúdico, a professora Bárbara Salles, da Escola Joana Angélica, destaca também a importância da quantidade e diversidade das atividades, que são sempre desafiadoras: “Eles ficam o tempo todo ocupados, isso melhorou a disciplina, porque não têm tempo de ficar ociosos e atrapalhar o colega. Até a frequência melhorou, porque sabem que faltar um dia significa perder muita coisa”. Bárbara acha que seu desempenho como professora melhorou e diz não entender porque o programa não é implantado em todas as turmas: “Fizemos Conselho de Classe na minha escola e ficamos assustados com o percentual de alunos do 3º ano que não sabem ler. Nenhum deles passou pelo Alfa e Beto.” IAB EM PAUTA
ALFA E BETO DIGITAL
ALFABETIZAÇÃO COM TABLET Software completo de alfabetização reproduz jogo de videogame e ajuda a ler e a escrever Os professores do Rio de Janeiro
desenvolvimento do jogo e coorde-
tituto Alfa e Beto para que os dados
que usam o Programa Alfa e Beto
nadora de sua implantação no Brasil.
da evolução de cada um dos alunos
Ela afirma que muitos videogames
possam ser analisados. Isso dá ori-
ganharam em 2015 importante ferramenta tecnológica auxiliar: o Galáxia Alfa, um software com um programa completo de alfabetização no formato de um divertido jogo de videogame. Ajudando os heróis a superar desafios, as crianças praticam tudo o que é necessário para aprender a ler e escrever, passando de fase quando já dominam o conteúdo anterior.
relacionados à alfabetização disponíveis no mercado não levam em conta as evidências científicas sobre como esse processo se dá ou apenas envolvem alguns de seus aspectos, dando mais ênfase à brincadeira do que à aprendizagem. Williana diz que o produto foi desenvolvido para auxiliar o professor e promover a
Os jogos são formatados para fun-
inclusão digital, além de aumentar a
cionar em tablets, nos quais os alunos
autonomia da criança no processo de
se revezam para jogar 30 minutos
aprendizagem. Ela lembra, entretanto,
por dia. A evolução de cada um no
que embora os alunos possam jogar
jogo fica arquivada separadamente
off line, é necessário que a escola
e, quando os tablets são sincroniza-
sincronize todos os tablets uma vez
dos semanalmente com a central, é
por semana com o servidor do Ins-
gem aos relatórios detalhados que orientam o planejamento do trabalho em classe, segundo o diagnóstico que aponta onde estão as lacunas. No Galáxia Alfa, para ajudar os heróis Babu e Buba a libertar os povos Panuis e Nupais, as crianças têm de acumular pontos superando desafios que incluem todos os aspectos relacionados à alfabetização: o domínio do princípio alfabético, com o reconhecimento das letras; o desenvolvimento da consciência fonêmica e fonológica, que é a capacidade de relacionar as letras aos seus sons; exercícios que ensinam a combinar letras para forFoto: Divulgação
possível obter relatórios da evolução e os acertos e erros de cada criança, de cada turma, de cada escola e de toda a rede. Isso permite que o professor possa orientar exercícios complementares de acordo com as necessidades de cada aluno, o que também é feito pelo próprio jogo. Afinal, para avançar para a fase seguinte, a criança tem de ter feito corretamente a fase anterior. “O Galáxia Alfa é o primeiro software do mundo que engloba todos os aspectos envolvidos na alfabetização. Pesquisamos muitos materiais internacionais antes de desenvolvê-lo”, diz Williana Silva Melo, profissional que integra a equipe do Instituto Alfa e Beto dedicada ao IAB EM PAUTA
> Desenvolvido para auxiliar o professor, software promove inclusão digital
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mar palavras e até desafios voltados a desenvolver o automatismo da decodificação e a fluência de leitura, essencial para que o aluno compreenda o que está lendo. O jogo inclui exercícios de coordenação motora nos quais a criança desenha as letras na tela touch screen. As fases do jogo acompanham as etapas do Programa Alfa e Beto, permitindo uma per feita articulação com as aulas, mas fun-
> Professores que passaram a usar materiais do Alfa e Beto relatam grandes avanços
ciona também de forma autônoma, podendo ser usado independente do programa de ensino. Na rede municipal do Rio de Janeiro, os tablets começaram a ser usados há cerca de um mês e professores e alunos estão entusiasmados. “O primeiro momento foi difícil, pois muitos nunca tinham visto um tablet e ficaram ansiosos. Mas tudo se resolveu depois que tirei um dia para explicar como funcionava, deixando que todos experimentassem. Hoje as aulas fluem; os jogos são realmente educativos”, conta a professora Josane Machado Monteiro, do Ciep Mestre André. Maria Cristina Carvalho, coordenadora da implantação do programa na 10ª CRE, acredita que o software será 8
uma importante ajuda na alfabetiza-
para a rede pública as tecnologias di-
ção: “Os jogos exercitam as palavras
gitais: “Achei os jogos nota dez. Muito
que o professor já apresentou em
boa a iniciativa de inserir os tablets
classe e tem exercícios de coordena-
em sala. Eles brincam e estudam ao
ção motora muito bons. Outra vanta-
mesmo tempo. A educação pública
gem é que os relatórios vão apontar
não podia continuar à margem des-
onde estão as lacunas de cada aluno”.
sas novas tecnologias. É a linguagem
A professora itinerante, Laura Maria
dessa nova geração. É preciso que as
Mendes de Souza, diz que as crianças
crianças de menor poder aquisitivo
estão “amando os tablets” e destaca
tenham acesso a esses recursos”, diz
seu caráter intuitivo: as crianças colo-
a professora da Escola Sarmiento da
cam o fone no ouvido e vão em frente.
3ª CRE, Marcela Sobreira. Mas quem
“Está sendo um estímulo até para as
mais está gostando do Galáxia Alfa,
mais retraídas, que vivem problemas
sem dúvida, são os alunos, que rapi-
sérios em casa. É o momento lúdico
damente aprendem a jogar e avan-
em que elas se divertem com um
çam fases para ajudar os heróis Babu
recurso ao qual jamais tiveram aces-
e Buba a libertar os povos Panuis e
so”. A maioria dos docentes aplaude
Nupais. Muitos já estão ensinando
a iniciativa, sobretudo por ela trazer
seus professores a jogar. IAB EM PAUTA