Edição 23: outubro e novembro de 2014

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JORNAL PSICOLOGIA EM FOCO

ISSN 2178 - 9096 - Maringá

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OUTUBRO E NOVEMBRO DE 2014 - Nº 23

FOCO ANALÍTICO

PÁG. 03

penso assim

PÁG. 04

Individuação e função transcendente ............................................................................. Aprendendo a pousar

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sessão especial

PÁG. 07

O psicólogo hospitalar e sua prática intensivista

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psicanálise em pauta

Como se forma um psicanalista?

PÁG. 10

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conexões

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PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA

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Entre parreiras e pessoas: lições dos sommeliers .............................................................................

Terapia ou medicação? .............................................................................


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JORNAL PSICOLOGIA EM FOCO

EXPEDIENTE

EDITORIAL

A BELEZA E O TEMPO Coordenação Vinicius Romagnolli R. Gomes | CRP 08/16521 Edição Fernanda Ferdinandi Redação Eduardo Chierrito, Luiz Antonio Trentinalha, Mayara Coutinho, Raquel Abeche, Rodrigo Corrêa, Roseane Pracz, Renan Miguel Albezi Revisão Ariana Krause, Giovanna Bertoni, Jéssica Demiti Divulgação Maria Renata Borin, Cicero Félix, Ieda Marinho, Thaís de Paiva Vidal, Gabriela Cristófoli, Luana Ramos Impressão GRÁFICA O DIÁRIO Design Gráfico

VINÍCIUS ROMAGNOLLI R. GOMES é psicólogo (CRP 08/16521) e coordenador do Jornal Psicologia em Foco

Caros leitores, Eis que chegamos à Primavera! Após um período de inverno (que a cada ano parece menor, é verdade) voltamos a essa estação comumente associada à beleza e a reflorescência da vida. Não há dúvidas de que essa época do ano é bela e que deve ser contemplada e admirada. Mas será que as outras estações também não tem a sua beleza peculiar? O mesmo pensamento se aplica a lugares; quantas vezes viajamos por horas com o pretexto de conhecer coisas belas; mas e quanto à beleza que reside aqui do nosso lado? Será que a subestimamos? O filme italiano “A grande beleza” (Paulo Sorrentino, 2014) me suscitou algumas questões e me levou a pensar que a beleza está por toda a parte; nas ruas, nas esquinas, no caminho para o trabalho e nele mesmo, mas muitas vezes nos acostumamos com essa paisagem a ponto dela se tornar banal. No filme, o protagonista Jep, um jornalista de sucesso, chega a se paralisar

diante da beleza deslumbrante de Roma, sua cidade. Há quem diga que o surgimento da beleza leva à paralisia, pois exige dedicação de quem a contempla. Nesse sentido, o tempo só se inauguraria quando a beleza estivesse ausente. Em nossa “correria cotidiana” deixamos de ver a beleza que está ao nosso lado ou até mesmo naquilo que fazemos para não “perder tempo”. Talvez por isso vejamos um decréscimo de criatividade, capacidade de abstração e simbolização em nossos dias. Como disse o poeta Affonso Romano de Sant´anna “10 minutos de beleza diária nos salvariam”; tendo a acreditar nisso e pensar que a convivência com a beleza é uma maneira de limpar nossa rotina e nossa mente. Associamos à beleza a uma estação e a alguns lugares específicos, quando na verdade ela está por toda parte, mas e você tem desacelerado e se permitido enxergá-la? Uma boa leitura e primavera à todos.

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Quem somos nós? Tiragem 3.000 exemplares

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Jornal Psicologia em Foco (ISSN 2178-9096) surgiu no ano de 2010, idealizado pelos então acadêmicos do 5 ano de Psicologia do Cesumar Vinicius Romagnolli, Diogo A. Valim e Roberto M. Prado. O projeto tem como proposta viabilizar em espaço para a produção cientifica de acadêmicos e profissionais de Psicologia, bem como a promoção e divulgação dos importantes acontecimentos e eventos relacionados à Psicologia, tais

como palestras, cursos, debates, grupos de estudos, entre outros. Em 2011, na comemoração de 1 ano do JPF foi criada a Oficina do Saber. O jornal se sustenta com o apoio dos coolaboradores e patrocinadores e tem sua distribuição gratuita, alcançando o público acadêmico de diversas instituições de ensino, cursos de pós-graduação e profissionais da área. Atualmente o Jornal Psicologia em Foco tem uma tiragem de 3 mil exemplares e

periodicidade bimestral. Já as oficinas acontecem mensalmente na PUC. MISSÃO: Promover a troca de saberes em um espaço inovador. VALORES: Comprometimento Brilho nos olhos Espírito de equipe Qualidade Pró-atividade Foco no cliente


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FOCO ANALÍTICO

INDIVIDUAÇÃO E FUNÇÃO TRANSCENDENTE

RAUL CAMPOS ROMAGNOLLI acadêmico do 5º ano de psicologia da UNICESUMAR

A individuação é a jornada que conduz o ser à diferenciação em si-mesmo. Nesta caminhada, o “andarilho” encontrará inúmeros obstáculos internos e externos e precisará buscar um meio, muito próprio, para lidar com tais obstáculos de forma individual, porém sem romper com o coletivo. O homem que trilha seu próprio caminho precisará afastar-se do caráter de conservação, que o aprisiona em um grande campo gravitacional lhe impedindo de ir além do que já existe. Assim como aquilo que está no alto está embaixo; aquilo que ocorre no céu é duplicado por aquilo que ocorre na terra; no coletivo está o Self e os arquétipos e, no individual estão os complexos e o ego. A função transcendente (caráter de transformação) acontece a partir de uma experiência individual do coletivo e, o complexo do eu (ego) passa a apresentar aspectos do Self como “honra ao mérito” pela jornada realizada. O indivíduo se libertou do caráter de conservação e o ego realizou função transcendente (caráter de transformação), em outras palavras, o individual conquista e comporta o “todo”, aqui o homem é criado “à imagem e semelhança de Deus”. A função transcendente é condição sine qua non para que haja individuação e, podemos entender por função transcendente a capacidade que um indivíduo tem de se desenvolver, saber, e fazer saltos qualitativos; pode ser representada pelo encontro das polaridades gerando um novo fator. Para Jung, a função transcendente é a transformação de algo velho em algo novo. Nosso trabalho, como analista, é descobrir a

outra face, colaborando para que os outros consigam transitar pelo mundo com relativo sucesso. Em termos simbólicos poderíamos dizer que, função transcendente é “o fruto do casamento entre dinheiro e simplicidade”; metaforicamente, sucesso e realização sem prepotência e arrogância. Os atributos do Self apenas pertencerão ao complexo do eu mediante a experiência

direta que levará o ego a realizar função transcendente e, neste caso, o resultado das experiências diretas pertencem ao (ego). O maior risco nesta jornada consiste na grande possibilidade de que o complexo do eu apresente uma inflação e passe a tomar para si os louros do Self. O indivíduo que, por desventura, encontrar-se num estado de inflação terá sua função transcendente

interrompida e, o sujeito deixará de alçar novos saltos qualitativos; ao menos durante o período no qual encontrar-se inflacionado, até mesmo pelo fato de que, quem se acredita o próprio “Deus” não tem mais nada para aprender. Se o ego não for alquimizado (transformado) para constelar o arquétipo da consciência individual, o homem continua imerso no coletivo repetindo os mesmo padrões de conduta dos antepassados. Uma vez que a individuação se deva à habilidade de realizar função transcendente e esta, à capacidade do ego em adquirir uma forma de expressão semelhante à do Self, não podemos prescindir do símbolo neste processo, pois os símbolos são formas materializadas em imagens, que portam em si memórias de caráter infinito. A imagem é portadora de alguma informação e funciona como “veículo”, transportando dentro de si um arquétipo, podendo conduzi-lo para dentro do complexo do eu, uma vez que a imagem, aqui, é a porta para que o inconsciente possa adentrar a dimensão humana trazendo para a consciência mensagens do inconsciente. Jung aponta Cristo como o arquétipo que estimula e conduz à individuação, porém cabe-nos entender que quando Jung faz menção ao Sagrado ele não fala a partir de uma perspectiva religiosa, pois isso cabe às instituições (igrejas) e não à psicologia. Jung trabalhou com os símbolos do Sagrado observando a grande capacidade destes em adentrar a dimensão humana e transformar profundamente a psique.


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crp responde

penso assim

Jornada de 30 horas: uma vitória necessária França, 1912. A Confederação Geral dos Trabalhadores promove mobilizações para conquistar a jornada de trabalho de oito horas diárias. Depois de uma década de tensões políticas, o país aprova a legislação que garantia à população os “três oitos”: oito horas de trabalho, oito de lazer e oito de descanso. Esse e outros acordos de redução da jornada de trabalho só se tornaram realidade por meio de pressão e estratégia dos trabalhadores e trabalhadoras. Apesar da distância histórica, o que se vê hoje, no Brasil, é um cenário semelhante: a necessidade de mobilização para a conquista de direitos trabalhistas e mais qualidade de vida para a população. A legislação brasileira prevê oito horas de trabalho diário desde 1934, ou seja, estamos há 80 anos dedicando a mesma parcela do dia às atividades profissionais. É nesse cenário se insere a luta das(os) psicólogas(os) do país, que há seis anos se mobilizam pela aprovação do Projeto de Lei no 3.338/08, mais conhecido como PL das 30 horas. Caso o texto seja aprovado, os psicólogos e psicólogas do Brasil passarão a ter uma jornada de trabalho de 30 horas semanais, um importante passo para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores da Psicologia. A carga emocional com que a categoria lida diariamente promove quadros de adoecimento e afastamento, o que também prejudica a qualidade do serviço prestado à população. A jornada de trabalho desses profissionais deve ser compatível à atividade que desempenham e com o sofrimento que devem tratar. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já sugeriram ao Brasil que a jornada dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde não deve ultrapassar as 30 horas semanais, já que eles são submetidos diariamente a ambientes e situações insalubres. Após seis anos de tramitação, o PL das 30 horas está prestes a chegar à instância mais decisiva: a sanção presidencial. O projeto foi aprovado por unanimidade em todas as comissões da Câmara e aguarda, no momento, o prazo regimental da Casa para ir à sanção presidencial. Até agora, duas das cinco sessões ordinárias do prazo foram realizadas. Se ao final dessas cinco reuniões os parlamentares não pedirem que o texto seja reavaliado em plenário, o PL vai direto para as mãos de Dilma Rousseff. Estamos na reta final. Para os trabalhadores e trabalhadoras da Psicologia, a hora é agora! Obs: Para esta coluna foi escrita pelo Sindicato dos Psicólogos do Paraná – Sindypsi-PR a pedido do CRPPR

Aprendendo a pousar A sala de embarque de um aeroporto da cidade é um cenário interessante para observar a movimentação das pessoas. Ali, sem muito esforço, algumas coisas interessantes podem acontecer. Foi assim que, enquanto o café expresso não ficava pronto, reparei na aglomeração de motivos que estão a levar as pessoas de um lugar para qualquer outro no mundo. São milhares de pessoas, todos os dias, que partem porque o peso do lugar onde estão não é mais suportável; porque tudo parecia pequeno; porque tudo era maior do que o que se imaginava; para reencontrar alguém que lhe é querido; por amor – louco ou não; por saúde; por doença; por obrigação trabalhista; ou até pela mais simples sede de ir em busca de algo novo que, onde se está, não se acha mais. São milhões de pessoas, todas as semanas, que chegam porque é hora de buscar uma mudança tremenda; porque toda viagem tem seu fim; para encontrar uma terra desconhecida; porque conseguiram visto; porque o visto expirou; para um recomeço; para

carta do leitor

contar uma história; para contar boas novas; para se despedir ou, até mesmo, pela mais simples vontade de chegar para sentir falta de partir novamente. Nesse ajuste de contas entre a partida e a chegada de tantas pessoas, lotadas de bagagens pessoais, estamos todos constantemente a vivenciar e aprender os efeitos dos encontros e desencontros – nas relações, na cidade, nos sonhos, nas expectativas, nas frustrações e no que existir além, que nos faça sentir o peso dessas experiências. E já que os técnicos continuam ajustando algo no motor para que a aeronave lá fora decole, é natural refletir sobre esse amontoado de coisas que tem nos feito partir e chegar tantas vezes a cada capítulo da vida. Seja como for, colecionemos motivos concretos: nada de partir sem aviso; nada de chegar sem avisar. Nada de fincar os pés no chão em vez de pegar a estrada por puro comodismo. Quebrando minha linha de raciocínio, alguém avisa, em som estridente e bilingue, que chegou a hora de embarcar. Gestantes, crianças e idosos têm preferência – talvez porque

contato@jornalpsicologiaemfoco.com.br

Gostaria de falar à equipe do Jornal Psicologia em Foco em tom de agradecimento. O jornal tem artigos muito bem escritos e que dizem respeito a muitas áreas do saber além da Psicologia, suas matérias são criativas e autênticas. Muitas vezes, com a correria de nossas vidas esquecemo-nos de demonstrar gratidão às pessoas que dedicam o tempo de sua correria para nos trazer novas informações e conhecimento. Fico muito feliz em poder acrescentar em minha formação o conhecimento transmitido pelo jornal através de sua equipe, e ao todo do JPF meus sinceros elogios. LAÍS BORGES FORNAZA acadêmica de Psicologia da UniCesumar

THAIS DE FERRAND escritora, cronista e contadora de histórias

estejam sentindo na pele essa história toda de alguém que está para chegar ou por partir. No cartão de embarque, um borrão esconde o portão e a cidade para onde se vai. A aeromoça, atordoada com a quantidade de passageiros, não questiona e abre caminho como se fosse um portal. Talvez o papel não tenha tanta importância quando a partida da gente está definida na mente. E assim, em meio ao breu do fim de tarde na cidade, mais um avião decola. Partindo feito um coração aos pedaços, chegando recheado de sentimentos confusos, envolvidos por uma esperança quase infantil. Durante o voo, um pensamento para concluir: a grande aventura da vida pode ser simplesmente encontrar um lugar onde o coração possa pousar. Faz um bocado de tempo que esse voo aconteceu, mas ainda é possível puxá-lo na memória, em meio ao vapor da xícara de café preto sem açúcar desta manhã. Hoje, tempos depois, chego à mesma conclusão com um certo sorriso maroto no canto da boca: coisas de quem finalmente aprendeu a pousar.

ENTRE ASPAS “Somos o intervalo entre nosso desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de nós” FERNANDO PESSOA

“Dê ao mundo o que lhe é devido em reverências” SCHOPENHAUER


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COMPORTAMENTO em pauta

Família, ontem e hoje. Família de sangue, de lei e de amor VIVIANE ALONSO DE PAULA SPERANDIO CRP 08/09831, Psicóloga Clínica, graduada e pós graduada em psicologia comportamentalcognitiva e analise do comportamento pela UEM. Já atuou nas áreas da Psicologia Forense e Escolar.

Todos sabem que a atual estrutura familiar mudou. No passado tínhamos o modelo de família patriarcal, onde o homem era soberano. Tinha o poder econômico em suas mãos, sendo dono tanto das propriedades imóveis como também era dono de sua esposa e filhos. A mulher submissa a ele, não tinha direitos como manifestação social, estudo e trabalho, somente com o consentimento do esposo ou do pai, se fosse solteira. Hoje as famílias estão estruturadas nas mais diversas organizações, sendo elas: a matrimonial, a monoparental, a anaparental, a pluriparental, a união estável e a união homoafetiva. Na matrimonial, temos a união pelo casamento civil. Na monoparental, temos um dos um dos genitores (mãe ou pai) e sua prole. Na anaparental, temos uma família que segundo Barros, “são as famílias que não mais contam os pais, as quais por isso eu chamo famílias anaparentais, designação bastante apropriada, pois “ana” é prefixo de origem grega indicativo de “falta”, “privação”, como em “anarquia”, termo que significa falta de governo.” BARROS (2003) Na pluriparental, as famílias já constituídas por filhos e mãe, recebem o esposo da mãe e seus filhos ou recebem a esposa do pai e seus filhos. Seria o que já ouvimos de: “Os meus, os seus: os nossos.”. Na união estável temos o casal com uma relação duradora com o objetivo de constituir uma família. Na homoafetiva, seriam as uniões conjugais constituídas por pessoas do mesmo sexo. No século passado tudo era bem “simples”, havia um pai que trabalhava para prover as necessidades econômicas de sua família e a mãe cuja função doméstica de cuidados com a casa

e educação dos filhos. Cada um tinha um papel bem definido de acordo com o sexo. E hoje, como ocorre esta divisão de papeis diante de estruturas familiares tão distintas? O papel do pai evoluiu, passando de pai provedor, moderno, colaborador e parceiro. O papel da mãe também, de submissa, cuidadora a provedora. Mas o papel do pai deve ser sempre desempenhado pelo homem e o papel de mãe pela mulher? Para a criança não. Para a criança o mais importante é sua integridade física e psicológica. Ela precisa de pessoas que garantam cuidados básicos como vestuário, saúde, educação, segurança, moradia, amor, dignidade e respeito. Hoje no consultório é comum vermos homens e mulheres preocupados com sua paternidade e maternidade. Homens preocupados sobre como podem ser pais melhores, mais presente na vida escolar de suas crianças e mais presentes na vida familiar. Homens que não se sentem preparados para assumir a paternidade, pois acham que não têm habilidades específicas. Como por exemplo, brincar com os filhos, dar banho, trocar fraldas, discriminar choro de um bebê, dar bons exemplos (não reconhecem quais seriam os bons exemplos), ser mais amorosos, carinhosos, gentis e empáticos. Conhecem aquela antiga propaganda que dizia: “Quando nasce um bebê, nasce uma mãe’’, com o pai é a mesma coisa. Não nascemos sabendo cuidar e amar de um filho, mas podemos aprender como fazê-lo. Há também mulheres que preferem trabalhar, ter uma rotina voltada para o ganho econômico e sua individualidade do que aos cuidados do lar e da criança. E por isso não se sentem boas mães, acham que deveriam ser melhores pois seria sua função, seu papel. Há também casais homoafetivos que se

preocupam com o desempenho das funções paternas, pois pensam que a função de mãe e de pai está ligada ao sexo como era no passado. Sem falar nas famílias monoparental, quando não há a presença masculina ou feminina, também se preocupam com esta questão. Quando há a presença da mulher as dúvidas giram em torno de como estabelecer regras e limites para suas crianças, pois no passado era de responsabilidade/função do homem, do pai. Ou quando há a presença do homem, como ser mais afetuoso e cuidador que no caso seria de responsabilidade/função da mulher, da mãe. Ou no caso das famílias anaparental, que não há a presença do pai ou da mãe, onde por exemplos os responsáveis legais pelas crianças podem ser os irmãos mais velhos. Também há dúvidas de como irão proceder, agir, se comportar diante das mais diversas situações do dia a dia. É importante tranquilizá-los mostrando que homens e mulheres cuidam de seus filhos de maneira a proporcionar um lar equilibrado e harmonioso. Existe uma divisão de tarefas, de cuidados, não por sexo, mas por disponibilidade e responsabilidade. Hoje ambos trabalham para o sustento do lar, dividem atividades que eram restritas ao sexo, como por exemplo, é muito comum um homem trocar fralda e levar seu bebê ao médico pediatra. Homens que brincam de boneca com suas filhas, mulheres que jogam futebol, mulheres que viajam a trabalho e deixam as crianças aos cuidados do cônjuge. A estrutura da família pode ter mudado, mas o mais importante, sempre será, que a integridade psicológica e emocional da criança seja preservada, assim como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente no capitulo II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, no seu art. 17.


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psicologia dio cotidiano

conexões

A cura como caminho

LÍVIA BATISTA PEREIRA LARRANHAGA é psicóloga CRP: 08/13426 email:

livialarranhaga@gmail.com

Faça repouso. Essa é a recomendação médica para os que se encontram doentes e feridos. O repouso é necessário para que o organismo se concentre na sua recuperação e regeneração. Assim, o processo que acontece no repouso é a condição para que a cura seja possível. É por isso que repousar torna-se essencial. Não por um desejo, mas por uma necessidade. A cura precisa dele. A cura não é algo a ser perseguido, muito menos alcançado. A cura não é uma meta, um objetivo, um resultado. A cura é construção e elaboração. Como construção é um processo. Como elaboração é a produção de algo diferente a partir dos mesmos ingredientes. Como construção é o que se faz de acordo com os recursos e as possibilidades. Como elaboração é a combinação dos mesmos ingredientes de uma forma diferente, pois o que distancia uma deliciosa omelete de um prato de ovos mexidos não são os ingredientes, mas como você os manuseia. Adoecer, repousar e elaborar. Essas são as fases que antes de nos levarem a algum lugar, ajudam-nos a continuar. O intervalo, aquilo que liga a doença a cura é o repouso ou talvez ele seja a própria cura. E aqui repouso e cura se confundem. Mas como repousar num mundo que nos leva a acreditar que a nossa segurança está na velocidade em que vivemos? Ralph Waldo Emerson diz que “quando se patina sobre o gelo fino, a nossa segurança está na velocidade.” Velocidade que nos impede de apreciar o caminho que percorremos e nos faz acreditar que o destino é mais importante. Velocidade impossibilita que apreciemos e desfrutemos do caminho que, na maioria das vezes, é tão ou mais importante que o destino. A cura é, então, esse caminho por vezes tortuoso, íngreme e difícil que precisa ser percorrido com o auxílio do repouso e este, por sua vez, só pode ser suportado na presença da paciência. Ser paciente é uma das virtudes mais nobres que alguém pode ter. Santo Agostinho fala sobre a essência da paciência num texto chamado “De Patientia”. Ele afirma que a paciência consiste na ciência da dor, pois sua raiz vem de pathos (dor, sofrimento) + ciência. Assim, ser paciente é saber sofrer, suportar a dor e conhecê-la. Dessa forma, a paciência não se origina na passividade, mas na ação de suportar, entender e conhecer o próprio sofrimento. Não é possível desenvolver a paciência se não entrarmos em contato com a dor e se não soubermos a respeito dela. Sendo assim, a única ciência que auxilia em momentos de dor, é a ciência do sofrimento que, para Agostinho, é a própria paciência. O problema é que não nascemos pacientes, mas ansiosos. O bebê é pura ansiedade. Ele ainda não aprendeu a esperar, o único tempo que ele conhece se chama agora. Nesse sentido, a ansiedade não é uma preocupação exagerada com o futuro, mas uma dificuldade em suportar o presente, porque o presente às vezes pesa, é cruel e nos coloca em situações que parecem não ter fim. A boa notícia é que o presente que pesa é o mesmo que alivia. O presente que traz tristeza é o mesmo que traz alegria. O presente que provoca a dor é o mesmo que sara a dor. O presente que fere é o mesmo que cura. O presente que traz a morte é o mesmo que traz a vida. E nesse percurso da cura, nada melhor do que termos a paciência como nossa companheira. Pois é ela quem pode nos auxiliar a viver a cura como caminho e fazer do agora, um agradável, leve e alegre presente.

Arquitetura que afasta

VINÍCIUS ROMAGNOLLI R. GOMES é psicólogo (CRP 08/16521) e coordenador do Jornal Psicologia em Foco

Você certamente já deve ter ouvido aquela história de que em nossas relações precisamos construir pontes em vez de muros. No entanto, creio que a maioria de nós não se dê conta da relação que a arquitetura das cidades tem com isso. É o que filme Medianeras (2011, Direção Gustavo Taretto) me ajudou a perceber; como a arquitetura da cidade representa aspectos subjetivos dos indivíduos que nela vivem. Medianeras é o nome dado àquelas paredes sem janelas dos edifícios, também chamadas de paredes cegas; geralmente essas paredes, por sua proximidade com o edifício vizinho, não permitem a abertura de janelas. Aqui podemos entender a não abertura de janelas como metáfora de uma não abertura para o mundo externo e, em última instância, à vida. O filme apresenta dois jovens, Martin e Mariana, vivendo em Buenos Aires e que apesar de morarem muito próximos um do outro, nunca se conheceram. Buenos Aires é a cidade que os une e também os separa. O filme é a meu ver bastante pertinente, pois retrata o tempo no qual vivemos; o tempo dos condomínios fechados, das cercas elétricas e da segurança, do esvaziamento das praças e espaços públicos, do isolamento que faz com que não conheçamos nem mesmo nossos vizinhos. Além disso, o filme suscita questões intrigantes, afinal, se nos construímos na e pela relação com os(s) outro(s), será que a arquitetura das cidades tem contribuído para a construção de muros ou de pontes em nossas vidas? Para encerar gostaria de compartilhar um trecho do texto “Eu sei, mas não devia” de Marina Colasanti que retrata bem o que disse: “A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.”


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SESSÃO ESPECIAL

O Psicólogo Hospitalar e sua Prática Intensivista ARYANE MATIOLI é Psicóloga CRP 08/17713, Especialista em Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência, Pós-graduanda em Curso de aprimoramento multiprofissional em Cuidados Paliativos e Coordenadora do serviço de psicologia Hospital Santa Rita

MAYARA M. C. DOS SANTOS é Doula e Psicóloga CRP 08/18729.

Considerando as várias especificidades na psicologia, foi a partir da década de 80 que os estudos evidenciaram a atuação do psicólogo no hospital como um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Não trata apenas as doenças com causas psíquicas (psicossomáticas), mas sim os aspectos psicológicos de toda e qualquer doença e da internação. A atuação do psicólogo se dá com a tríade paciente-família-equipe, viabilizando a comunicação e trabalhando a subjetividade. Na atualidade, a demanda se estende também às UTI’s (Neonatal/pediátrica e Adulto). Que apesar de ser entendida de maneira positiva, ainda sofre com estereótipos e preconceitos negativos. É uma unidade dentro do hospital em que as decisões difíceis implicam as pessoas com o limite vida-morte. Neste local, intensiva não é apenas a conduta terapêutica médica, mas também a angústia e as relações entre os profissionais, pacientes e familiares. É um ambiente fértil para mal-entendidos e conflitos. O paciente internado e os familiares que visitam e/ou acompanham, vivenciam alguns fatores geradores de estresse: Internação de forma abrupta; Complexidade das ações e procedimentos; Gravidade dos outros pacientes; Isolamento da família; Iluminação constante; Quebra do ciclo sono-vigília; Ruídos sonoros provocados pelos aparelhos; Exposição do corpo; Falta de privacidade; Troca constante de profissionais. Geralmente esses fatores citados acima repercutem no psíquico dos pacientes e familiares das maneiras mais diversas como: medo, impotência, insegurança, ansiedade, vulnerabilidade, dependência, fragilidade, desamparo e também por ser um ambiente dotado

do estigma de capacidade de salvar vidas pode se perceber esperança e confiança na recuperação. A resposta emocional e psíquica vai depender da subjetividade e constituição do sujeito. O psicólogo hospitalar deve estar apto para acolher, ter uma escuta ativa, avaliar aspectos psicossociais e a percepção do paciente e família sobre a doença, gravidade e prognóstico, minimizar agentes estressores, proporcionar a expressão de sentimentos e emoções através de uma escuta empática, desmistificar sobre rotinas e questões práticas deste ambiente. É possível classificar características em comum de alguns tipos de pacientes, sendo eles: Paciente interativo, no qual é realizado acolhimento inicial; avaliação; orientação; suporte psicológico; possibilitando exteriorização dos sentimentos e emoções. Paciente que necessita de suporte ventilatório, o psicólogo deve ter a compreensão de que, na tentativa de sair do aparelho de ventilação passa por um processo delicado, que

Rua Néo Alves Martins, 2999 - Edifício Marquezini Trade Center - Andar 13 - Sala 134

gera ansiedade. Paciente com traqueostomia: intervenção com comunicação não verbal e mediação da família. Paciente sem interação, o atendimento é aos familiares e o incentivo a conversar, investir afetivamente com o paciente, independente da resposta. Paciente em fase final de vida deve-se liberar as visitas, possibilitando rituais religiosos e despedidas, busca-se oferecer conforto, alívio do sofrimento e alguma escolha de como gostaria de viver até a sua morte. Paciente idoso há grande número na UTI, por conta do aumento da expectativa de vida e do tempo de convívio com doenças crônico-degenerativas, tem condição emocional bastante específica por estar relacionado com perdas da vida. Uma característica particular da UTI Neonatal/ Pediátrica confere ao trabalho com pais por meio de realizações de grupos com objetivos específicos junto à equipe e também como um espaço de escuta e trocas entre os pais. A demanda de atendimento atual no hospital direciona um olhar e atendimento à equipe de saúde. Que objetiva proporcionar acolhimento e apoio aos profissionais. Uma vez que eles vivenciam em seu dia-a-dia situações difíceis como pacientes em fim de vida, morte encefálica, síndromes congênitas, cuidados paliativos e a morte propriamente dita. Diante deste cenário a equipe tem como defesa emocional e psíquica: somatização, negações do fato, ocultação da dor e banalização do sofrimento. O psicólogo pode contribuir abrindo espaço para diálogos sobre essas temáticas auxiliando o profissional na elaboração do luto e principalmente na vivência do luto não autorizado. Levando em consideração o modelo de saúde da OMS, como o bem estar biopsicossocial, a inserção do psicólogo na equipe de saúde hospitalar contribui para a integralidade do ser humano em seu momento de crise dando sustentação e apoio também ao profissional que lida com essas questões de seu paciente que pode refletir em aspectos pessoais.


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JORNAL PSICOLOGIA EM FOCO

conexões

Já diz o ditado… VIVIAN PRESTES Psicóloga clínica (CRP-08/17539), especialista em psicanálise: teoria e clínica, e mestranda em psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. E-mail: psicologa. vivian@hotmail.com

Homenagem à David E. Zimerman David E. Zimerman, conhecido entre os psicanalistas pelo extenso número de obras publicadas, faleceu no dia 4 de julho de 2014. Aos que tiveram contato com seus textos, observaram a escrita leve, delicada e suave, adjetivos que também compunham sua personalidade. Suas publicações são reflexos da união fértil entre sua vasta experiência clínica e o compromisso com a teoria, oferecendo-nos um sólido legado sobre diversos assuntos como a contribuição à grupoterapia, à prática jurídica, aos conceitos bionianos, além do “Vocabulário contemporâneo de psicanálise” (Artmed, 2001), “Etimologia de termos psicanalíticos” (Artmed, 2012), “Manual de técnica psicanalítica” (Artmed, 2004), dentre outros. Teve, inclusive, um ato ousado quando compartilhou suas experiências enquanto psicanalista (livro: Vivências de um psicanalista, artmed, 2008), expondo os detalhes particulares de sua vida, bem como os sucessos e fracassos terapêuticos. Perdemos um grande profissional, mas, sobretudo, um grande homem. Seus olhos azuis transmitiam toda paz e tranquilidade que é possível sentir ao olhar o céu em uma tarde de domingo ensolarado. Cada palavra era recheada de amor genuíno, respeito e compreensão que transformavam todos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Impossível

sair inatingível pela áurea tão humana que ele transmitia em seus encontros. Foi exemplo de força e determinação, pois, sempre que possível e ainda submetido aos tratamentos, continuava a exercer a clínica e retomou alguns projetos, como a escrita de um novo livro. Segundo ele mesmo disse, tais atividades faziam-no se sentir mais forte diante das adversidades que vinha enfrentando. Pensar em sua ausência me remete ao texto “Rosas Silvestres” de Clarice Lispector. Essa rosa possui uma característica singular, uma vez que se torna mais perfumada conforme o tempo passa. A autora escreve que “Quando finalmente morrem, quando estão mortas, mortas - aí então, como uma flor renascida do berço da terra, é que o perfume que se exala delas me embriaga. (...) como posso jogá-las fora se, mortas, elas têm a alma viva?”. Posso dizer que Zimerman será lembrado pelo perfume o qual nos contagiou e que, independente dos anos que se passarão e das estações que presenciaremos, o cheiro dessa rosa silvestre estará cada vez mais marcante. Que suas ideias continuem sendo semeadas e que seu comportamento espontâneo, sincero e autêntico nos sirva de inspiração. Registro, por fim, meu mais profundo pesar à sua esposa Guite, aos seus filhos e a todos que sofrem por essa perda.

No hay refrán que no sea verdadero

LUIZ ANTÔNIO LAZARIN TRENTINALHA é graduado em letras, pós graduado em artes, estudante do 2º ano de psicologia da UNICESUMAR e membro do JPF

No hay refrán que no sea verdadero, dizia Dom Quixote a seu escudeiro Sancho. Verdade, o refrán a que se refere o cavaleiro, é conhecido por nós por ditado popular. E este, expõe um panorama cristalino da mentalidade de um povo, uma visão particular de mundo, que é transmitida de geração a geração. Composto por um tom de aconselhamento, forjado à experiência vivenciada, e compartilhado em centenas de anedotas, refrãos, provérbios, etc. O que parecia já saber o Don de La Mancha, é que seriam através dessas frases, dessas expressões claras e breves que se manifestaria toda a sabedoria popular. Em tais frases se acumulam séculos de experiência cultural. Experiência vivenciada in loco, empiricamente, tudo concentrado em uma expressão objetiva. Apesar dessa brevidade, se resume nas frases tudo quanto um povo pensou, sofreu ou gozou ao longo de sua história. Oferecenos de maneira ágil, breve e sintetizada uma consistente avaliação geral sobre os mais diversos assuntos, todos de interesse comum aos indivíduos. O ditado, além de conselho, é advertência, aviso, descrição e muito mais. Mostra sempre hábitos e costumes comuns e majoritariamente simples, recusa a toda e qualquer extravagância, propõe o funcionamento do desenvolvimento social – como as relações interpessoais, o trabalho a organização, a disciplina, a saúde, entre outros. Um povo, uma geração ou uma comunidade em particular pode gerar seus próprios ditados, adaptados a suas circunstancias particulares e ao seu ponto de vista geográfico, social, biológico de certos assuntos. Seus hábitos e costumes, além do seu sentido moral, cultural, laboral, dentre infindáveis aspectos a serem considerados. Cada comunidade tem sua estrutura diferenciada, e é nessas estruturas em que se baseia e norteia o seu próprio ditado. Há outro tipo de ditado também, os que são utilizados de maneira geral, que englobam a todos os indivíduos, independente da localidade ou grupo social, ou de qualquer individualidade que lhe possam conferir. São aqueles que por sua configuração temática especial, afetam o ser humano independentemente das suas condições especificas, são os ditados que apelam à índole moral ou sentimental. Por exemplo, disseram e dizem que: “quem ama o feio bonito lhe parece”. Mediante a interpretação do ditado, compreendem-se alguns comportamentos sociais distintos, conceitos morais, recursos naturais e um sem fim de dados práticos e úteis para a vida do homem. São ensinamentos práticos que servem para nos mostrar o mundo em sua faceta mais genuína. Além dessas características essenciais, os ditados contam com um valor que é seguramente mais atrativo de que todos os outros já mencionados anteriormente: sua composição artística. O dito é simbólico, metafórico, comparativo, descritivo, ora jocoso e irônico, ora severo e rígido. Utilizam técnicas literárias de rima, alguns ousam na sintaxe, na fonética. Em geral coloca em ação todo o repertório utilizado por poetas, escritores e catedráticos. O povo também observou as utilidades elevadas da língua e, por sua vez, fez-se valer delas nas suas criações populares. É a tradução da sabedoria para a linguagem falada comum.


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humanista existencial em foco

Uma compreensão da esquizofrenia na abordagem gestáltica JÉSSICA STRELESKI DEMITI é Psicóloga (CRP 08/19776), Gestaltterapeuta. Atua na área clínica e de saúde mental.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (1998), um dos transtornos mentais considerados mais graves que existe é a esquizofrenia, do grego, esquizo = cisão, e frenia = mente. É uma doença crônica e afeta cerca de 1% da população mundial, normalmente se manifestando no final da adolescência ou no inicio da vida adulta, podendo também ocorrer na infância ou na meia idade. Acomete homens e mulheres, porém é mais comum em homens. Sua evolução pode ser episódica com ocorrência de um déficit progressivo ou estável, contínua, ou comportar um ou vários episódios seguidos de uma remissão completa ou incompleta. Em uma perspectiva gestáltica, o transtorno mental denominado esquizofrenia é visto também como um ajustamento criativo, ou seja, foi a melhor maneira que o indivíduo encontrou no momento para conseguir sobreviver, porém, logo esse ajustamento criativo ao se tornar repetitivo e cristalizado, passa a ser disfuncional, trazendo sofrimento à vida da pessoa. O que ocorre é um intenso trabalho de criação na fronteira de contato, havendo um estreitamento da relação do indivíduo consigo mesmo e com o seu meio, prejudicando o contato e, consequentemente, o seu desenvolvimento saudável. No conceito de fronteira do “eu” que envolve a percepção do indivíduo do que está dentro ou fora do corpo, é onde o ajustamento psicótico apresenta dificuldades, pois projetam no exterior conteúdos internos. É justamente aí que o indivíduo começa a perder o contato com a realidade. É possível perceber uma fronteira de contato muito rígida e cristalizada, devido às suas vivências internas serem tão intensas que podem interpretar o contato como uma ameaça a sua integridade física. É comum o psicótico ter reações inesperadas ou exacerbadas chegando até mesmo à agressão física, pois possuem um enrijecimento e estreitamento em sua fronteira de contato que está ligada ao medo, ao pavor. É uma dificuldade em perceber seu senso de integridade e o que é que está dentro ou fora de sua fronteira. Sendo assim não conseguem manter um contato espontâneo e saudável consigo mesmo e com o meio a sua volta de forma auto-reguladora com a função de reencontrar seu equilíbrio. Tomando como norte o ciclo do contato, a esquizofrenia parece estar nas disfunções mais comuns correspondentes à função id do self, sendo a fixação, a deflexão e a dessensibilização. E no processo figura-fundo, a figura não está clara emergindo do fundo, ou vice-versa. Há uma confluência no processo figura-fundo.

A psicose aparece em situações extremas onde há uma falta de equilíbrio das funções do self. O contato com o campo é severamente reduzido e leva a uma ruptura na coordenação dos modos id e ego gerando o conflito. Ocorre uma fragilidade do modo ego (perda de controle) diante de tanta energia (excitamento) que não é definida de acordo com a sua relevância do momento. A incapacidade para retornar ao funcionamento espontâneo, faz com que o self se torne predominantemente id. Na psicose há um comprometimento com a questão relacional, neste caso por uma fuga do contato. Diante da desconfirmação e da ameaça, o indivíduo tende a se afastar e se isolar da situação que gera sofrimento. “Na situação específica de um esquizofrênico, por exemplo, existe um obstáculo visível: a não-disposição do outro em sair de seu mundo próprio. O esquizofrênico possui dificuldade em se socializar, em manter um contato saudável com o meio, preferindo, muitas vezes, ficar sozinho em seu mundo, de forma a fugir do contato e evitar sofrimento, pois a psicose pode ser vista como uma única forma que o indivíduo encontrou para conseguir sobreviver. O psicótico por chegar a um grau de sofrimento muito elevado, precisa fugir da realidade e para isso criar uma realidade só dele. É possível compreender que todos podem ter os mesmos problemas, a mesma doença, a mesma psicose, a mesma esquizofrenia, mas apresentam sintomas diferentes, cada um a sua maneira, bem particular e o verdadeiro problema está em não aceitar-se e respeitar-se. Quando nos conhecemos verdadeiramente, aprimoramos nossa qualidade de vida e esta é uma grande dificuldade do indivíduo acometido pela esquizofrenia, pois ele tem dificuldade em perceber e identificar suas necessidades. É notável a dificuldade que o esquizofrênico possui em lidar com as frustrações. O psicótico se comporta como se as frustrações não existissem, negando-as, dessa forma, foge do contato com a realidade, do contato com o meio e do contato com suas próprias necessidades. Possuem um ego muito frágil, uma baixa autoestima, não se valorizam como seres humanos, estão sempre se desconfirmando. A indiferenciação entre o “eu” e o “não-eu” torna o indivíduo alienado do meio. Um exemplo disso são os sintomas positivos como as alucinações e delírios presentes nos quadros de esquizofrenia. A experiência alucinatória e de delírio é vivenciada como real e natural, não estando separada do “eu” e da realidade externa. Dessa forma, perde-se contato com o mundo em que vivem os indivíduos

saudáveis. Pela falta da capacidade de afastar-se de sua própria experiência, não está potencializado a compartilhá-la. As alucinações observadas nos quadros psicóticos se referem a um erro no registro sensorial, ou seja, uma percepção sensorial que ocorre na ausência do estímulo do órgão sensorial correspondente. Outro sintoma fundamental no diagnóstico de esquizofrenia é o comprometimento afetivo que é manifestado através da diminuição na habilidade de expressar-se emocionalmente, inabilidade de experimentar prazer, perda de interesse pela interação social, entre outros sintomas. A dificuldade que o esquizofrênico possui em se relacionar com o outro pode ser facilitada ou trabalhada de acordo com a forma que se aborda tal indivíduo. É importante que se passe segurança, apoio, acolhimento, confiança, enfim, deve ser respeitado o tempo e o limite de cada um, para que não invada ou quebre suas resistências que estão ali por algum motivo. Portanto, busca-se no psicótico um funcionamento saudável e equilibrado na medida do possível, para que o indivíduo possa identificar suas necessidades e diferenciá-las do meio ambiente; responder satisfatoriamente suas necessidades, fechando processos, se transformando e novamente se abrindo para novas possibilidades de crescimento e desenvolvimento saudável, dentro de seus próprios limites. No que tange à conduta do terapeuta, o resultado esperado no tratamento deverá levar em consideração as especificidades desse paciente, seus limites, seu contexto e sua realidade. Assim, o terapeuta não vislumbrará somente a possibilidade de cura, mas, antes de tudo, a possibilidade desse indivíduo se organizar dentro da sua sintomatologia, tornando-se responsável por si mesmo”. Percebe-se que é de grande importância a confirmação referente à validação da experiência (como possível, real e autêntico) do indivíduo com esquizofrenia, tanto quanto a presença do terapeuta no processo terapêutico, para que assim, busque estabelecer uma relação terapêutica com objetivo de resgatar as relações de confiança, por menores que possam ser.


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PSICANálise EM PAUTA

Como se forma um psicanalista? ISABELLE MAURUTTO SCHOFFEN é psicóloga clínica CRP 08/17708, mestre em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá, colaboradora e idealizadora da Roda de Psicanálise: teoria, clínica e cultura.

Na época de Freud, a recomendação àqueles que desejassem trabalhar com a psicanálise era simplesmente começar a praticar, e conforme as dificuldades surgissem deveria iniciar-se uma análise pessoal, pois somente por meio dela o candidato a analista poderia se convencer da existência do inconsciente. Essa falta de regras, ou um aparente laissez-faire, não corresponde em nada com as formações oferecidas pelas instituições ao longo da história do movimento psicanalítico, que de modo contrário, encerrou o candidato a analista em uma série de regras, como o período mínimo de 5 anos de formação incluindo cursos, atendimentos clínicos supervisionados, além da análise pessoal 4 a 5 vezes por semana em sessões de 50 minutos. Não se chegou a essa metodologia de transmissão da psicanálise sem seus motivos, assim como as críticas a este método também tem sua razão de existirem. Nos apoiaremos no texto Transferências Cruzadas: uma história da psicanálise e suas instituições de Daniel Kuperman, sobre a história do movimento psicanalítico e a relação entre a formação e a instituição, para problematizar e esclarecer questões sobre a transmissão da psicanálise. De modo geral, Kuperman (1996) divide em quatro tempos a institucionalização do Movimento Psicanalítico em seu período freudiano. 1) Primeiro: a criação em 1902 da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras, em que o próprio Freud convidava os candidatos a analista a participar destas reuniões, a transferência era o método e estava direcionada somente a figura de Freud. Neste período surgiram os pioneiros que ajudaram Freud a escrever os primeiros capítulos da história da psicanálise, como Abraham, Ferenczi, assim como seus primeiros dissidentes, Jung e Adler. 2) Segundo: a criação em 1910, no Congresso de Nuremberg, da IPA ( International Psychoanalitical Association). Freud intencionava neste período reorganizar a “economia e a dinâmica transferencial do universo psicanalítico”, ele precisava transferir sua posição de líder para alguém mais novo – “transferência das transferências na psicanálise” (Kuperman, 1996). A escolha foi Jung, indicado como o primeiro presidente da IPA, o que logo se mostrou um equívoco. A dissidência de Jung é considerada como um significativo “trauma” na história do movimento psicanalítico. 3) Terceiro: “um movimento transferencial de retorno a Freud realizado pelo próprio Freud” (Kuperman, 1996). Diante da expansão e reconhecimento desta nova ciência, e também da decepção diante das dissidências de Adler e Jung, Freud (1914) entende ser necessário criar uma instância que pudesse ditar o que é e o que não é psicanálise e quem pode se denominar psicanalista. Julguei necessário formar uma associação oficial porque temia os abusos a que a psicanálise estaria sujeita logo que se tornasse popular. Deveria haver alguma sede cuja função seria declarar: ‘Todas essas tolices nada têm que ver com a análise; isto não é psicanálise’. Nas sessões dos grupos locais (que reunidos constituíram a associação internacional) seria ensinada a prática

da psicanálise e seriam preparados médicos, cujas atividades recebiam assim uma espécie de garantia. Além disso, visto que a ciência oficial lançara um anátema solene contra a psicanálise e tinha declarado um boicote contra médicos e instituições que a praticassem, achei que seria conveniente os partidários da psicanálise se reunirem para uma troca de idéias amistosa, e para apoio mútuo. Isso, e nada mais, foi o que esperava alcançar com a fundação da “Associação Psicanalítica Internacional”. Mas tudo leva a crer que era querer demais. Do mesmo modo que os meus adversários iriam descobrir que não era possível lutar contra a corrente do novo movimento, assim também eu acabaria percebendo que este não seguiria a direção que eu desejava vê-lo seguir. (Freud,1914/1991, p.43 )

Vemos que desde o inicio da formação da IPA, Freud está ciente de que ela poderia tomar caminhos que ele discordaria. Vale destacar que o objetivo da IPA era “promover e apoiar a ciência da psicanálise fundada por Freud, tanto como psicologia pura como em sua aplicação à medicina e às ciências mentais e cultivar o apoio mútuo entre os seus membros para que fossem desenvolvidos todos os esforços no sentido da aquisição e difusão de conhecimentos psicanalíticos” (Freud, 1914, p. 43). Adler foi contra esse objetivo, temendo a “censura e restrições sobre a liberdade científica”. Assim, esse trecho descreve o que se repetiu na história do movimento psicanalítico e compreende os questionamentos que se faz ainda hoje. Freud interpretou as dissidências de Jung e Adler como desvios do desenvolvimento interno da psicanálise: “ambos são infantis, têm resistência à psicanálise e querem tomar o lugar de Freud” (Kuperman,1996). Em 1912 para evitar casos como o de Jung se repetisse – em que complexos pessoais não adulterassem a teoria pura – foi a criado o Comitê Secreto, uma sugestão de Ferenczi. A ideia era que um grupo de iniciados, analisados pelo próprio Freud, seriam os responsáveis por transmitir aos iniciantes a psicanálise sem adulterações. Nas palavras de Kuperman “Esta proposta revela, in status nascendi e a um só tempo, o paradigma da formação psicanalítica e a origem de seu malogro: o saber psicanalítico é transmitido fundamentalmente a partir da experiência de análise pessoal, e portanto, sua transmissão é regulada pela transferência”. Foi o fundador do Comitê, o próprio Ferenczi que mais tarde denunciaria os efeitos perversos e o processo de mediocrização produzido pela formação psicanalítica que, mesmo tendo a transferência como método de transmissão, passou a ser um instrumento de controle e padronização da formação. 4) Quarto tempo: Freud sai de cena e não mais é o centro das decisões: “A característica principal desse período será a de que, em um arranjo semelhante ao do assassinato do pai em Totem e Tabu, ninguém mais poderá ocupar o seu lugar, ou seja, a psicanálise ingressa na era burocrática, onde a lei é dura, mas é a lei, igual para todos. E o perfil do futuro psicanalista deverá enquadrar-se nesse esquema” (Kuperman, 1996). Agora já temos condições de iniciar algumas reflexões. Freud ao longo de toda a sua obra coloca a

transferência e a resistência como centrais nessa nova ciência e técnica. “Qualquer linha que reconheça esses dois fatos (transferência e resistência) e os tome como ponto de partida de seu trabalho, tem o direito de chamar-se psicanálise, mesmo que chegue a resultados diferentes dos meus” (Freud, 1914, p.26). O que nos chama a atenção nas colocações de Kuperman é a dificuldade e complexibilidade do uso desse método quando transposto do setting analítico para as instituições de transmissão por toda a história do movimento psicanalítico e até os dias de hoje. Essa relação hierárquica que compõe e cena analista-analisando que é necessária para o início do tratamento deve ser desfeita ao longo do mesmo para que o analista não se coloque como uma ilusão substituta do desejo infantil de onipotência do paciente. A posição que o analista ocupa – o lugar daquele que se supõem deter o saber – na fantasia do analisando, deve ser temporária, conforme a análise vai transcorrendo o analisando se dá conta da sua fantasia de onipotência e consegue renunciar esse desejo, compreendendo-se castrado como todas as pessoas inclusive o analista. Enfim, o analista ocupa esse lugar de onipotência sabendo-se castrado, até que o paciente não precise mais dessa fantasia para suportar sua própria castração. Mesmo no setting analítico suportar esse lugar de depositário do desejo do outro, sem refletir sobre nossos próprios desejos não é nada fácil, talvez quase impossível. E isso significa que na maioria das vezes podemos ser pegos em nosso próprio desejo narcísico de ocupar o lugar do mestre, ou o lugar de Freud, ou melhor, o lugar do pai totêmico. Somente tendo consciência desse desejo é possível reparar, sempre há tempo de construir um bom trabalho com nossos pacientes. A história do movimento psicanalítico mostra exatamente que nem mesmo os psicanalistas, e pode-se se dizer até mesmo o próprio pai da Psicanálise, não tenha caído nas armadilhas de seu inconsciente. Freud (1913/2012) nos alertou também que o desejo de ser Deus, ou de ocupar o lugar do pai totêmico, aponta para a dificuldade no indivíduo em aceitar a castração o que o mantém preso a várias formas de ilusão, sendo a ciência também pode vir a ser uma delas. Defender e manter a crença da onipotência é ignorar e negar a força implacável, ambivalente e indestrutível das pulsões, do inconsciente. Ninguém está imune. A questão então é: Como transmitir a psicanálise, tendo a transferência e a resistência como método legítimo? Como evitar saídas narcísicas que engessam o poder criativo dos novos psicanalistas, como evitar que as transferências não sejam manipuladas para manter a relação de poder na transmissão do conhecimento psicanalítico que aceitam somente os que se adaptam às regras da instituição? Não temos a intenção de responder a essas questões, mas apenas provocá-los a buscar mais informação a respeito dessa discussão e descobrir quais as saídas que os psicanalistas contemporâneos estão buscando para assegurar o método legítimo da psicanálise – a transferência – sem reproduzir a lógica da adaptação e obediência.


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GABRIEL ARTUR MARRA E ROSA é psicólogo clínico (CRP 01/15521), mestre e doutorando em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília-UCB. Autor dos livros “Facebook e as nossas identidades virtuais” (Thesaurus, 2013) e “Construção e negociação de Identidade” (Juruá, 2014). Contato: gabriel_ marra@hotmail.com.

Entre parreiras e pessoas: lições dos sommeliers A produção e o desfrute de um bom vinho começam na opção pela uva. Desde o clima até a forma em que ela foi cultivada influencia no sabor, na densidade e na cor deste líquido tão apreciado no mundo todo. A acidez do solo, a versatilidade da planta e os cuidados que lhe serão administrados são os segredos de uma nobre composição que tende a garantir um produto de qualidade. Usualmente, a primeira prensa resguarda características emblemáticas do vinho chamado de cuvée. Admiradores desse prazer único são capazes de gastar cifras elevadas para gozar do deleite deste gosto peculiar. Suas mentes e papilas gustativas se preparam antecipadamente e criam um manancial de sensações sinestésicas receptivas ao tão esperado contato direto com esse oceano de sabor. No entanto, muitas vezes se desconhece a tradição do cultivo e os processos que transformam a fermentação da uva em um inigualável produto final. A seleção das parreiras e do clima propício, o cultivo destas uvas, a extração, a prensa e a conservação do líquido obtido são as fórmulas mágicas desta alquimia tão estudada e planejada nos mínimos detalhes há mais de décadas. Os “varietais” e o assemblage de diferentes uvas arrematam a arte da produção de vinhos. Os chamados “blend” são a combinação de diferentes uvas sob um rigoroso critério. Interessante notar que, embora se tenha efetuado todo esse processo, inclusive sob tutela de profissionais expertos e de uma fabricação considerada de nível de excelência, o produto final pode não ser o esperado. Ácido ou amargo, o vinho contido em um recipiente de vidro, tapado com uma rolha de cortiça, quando servido à mesa de uma família ou de um casal apaixonado pode desiludir o paladar dos que tanto o desejam. O que aconteceu? Será o estado de espírito ou o paladar dos

que esperam por essa “bebida dos Deuses do Olimpo”? Uma cepa pode ser diferente de outra cultivada nas mesmas localidades. O armazenando em barricas de carvalho francês ou americano também lhe confere um sabor diferenciado ao vinho; mas a história da parreira, a “mãe” da uva, começa antes mesmo da gestação desta ou daquela prole. Existem tipos de parreiras que são resistentes e produzem muitas uvas em poucas plantas. Porém, ao não se dedicarem exclusivamente a produção de poucas uvas em seus galhos, a qualidade destas uvas tende a ser distinta da qualidade de uvas oriundas de uma parreira com menor dimensão, com menos galhos e, portanto, que suporta menos cachos. Ao perceberem isso, os estudiosos alertaram aos cultivadores da importância da poda, do cuidado e do tratamento sutil oferecido a esta nobre e sensível planta. A troca entre enólogos, agricultores e engenheiros agrônomos permite que a arte do cultivo das parreiras transforme a tradição da produção de vinhos em técnica requintada. Surge, então, a cultura da produção do vinho. O sommelier, por sua vez, se dedicará a uma parte não menos importante deste processo, cuja metodologia da composição, da conservação e da criação de vinhos refinados pode levar o consumidor final ao deleite. Nesta ampla cultura da produção do vinho, não somente mãe da uva, a parreira, é transformada, mas também as uvas, seus filhos. E de geração em geração, essa engenharia genética das uvas interage com a cultura da produção do vinho e gera vinhos bons e ruins, singelos e refinados, porém, que serão apreciados por cada enófilo à sua maneira. Existem similaridades entre as uvas e as pessoas. Entre as parreiras e as mães, entre a cultura da produção do vinho e a organização

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social e, sobretudo, entre a genética das uvas e a anatomia e a fisiologia do nosso corpo e de nossa mente. Uma uva sujeita a um clima caloroso, desenvolve uma epiderme robusta e com mais pigmentada. Quando transformada em vinho, essa particularidade se revelará através de um vinho denso e com uma cor de rubi escuro, usualmente descrito nos rótulos das garrafas como “encorpado e de personalidade forte”. Do mesmo modo, àquela uva que não foi criada em um clima quente, pode adquirir características similares por meio de uma composição realizadas com outras uvas ou a partir de métodos avançados de conservação. Seu gosto, aroma e contextura serão influenciados por esse enorme trajeto que se inicia na terra e se termina novamente na terra. Na clínica psicológica, as vicissitudes do ser no seu tempo são contempladas pela escuta e pelo olhar de nós profissionais do tratamento psíquico, do tratamento da alma. As transfigurações de um ser humano único são contempladas pelo contato sensível de uma pessoa com outra que se converteu em um profissional especializado em pessoas. As uvas, tal como nos ensinam os sommeliers, transportam consigo não somente as peculiaridades próprias de sua cepa, mas também as transformações que sofreram pelo clima, pelo tratamento que receberam e pelo contexto no qual foram cultivadas. Uma simples chuva inesperada pode arruinar o que poderia ser uma safra inigualável. Contudo, até mesmo os vinhos procedentes das melhores vinícolas e que receberam o melhor cuidado possível em seu processo de produção e de conservação, quando chegam ao cálice, ao brinde, podem ser percebidos pelo paladar das pessoas como amargo ou ácido. Não seria essa uma ironia da vida? Entre parreiras e pessoas, entre psicólogos e sommeliers, nos damos conta do quão complexa é a nossa vida. “Cada pessoa é um universo”, nos alerta Clarice Lispector. Universos que se unem e que se separam. Universos que se procuram e se escondem. Universos que se conectam e se desconectam. As redes sociais são o que há entre as pessoas, aclara Augusto de Franco. E nós, o que somos? Parafraseando a Santo Agostinho, essa é uma pergunta que deve ser feita ao Supremo e que se define pelo o que amamos. Em seus ensinamentos, Agostinho nos diz que a pergunta sobre quem somos é uma pergunta que precisa ser dirigida às pessoas. Pergunta essa que cada pessoa, na metáfora do universo, pode vislumbrar em seus contatos consigo mesmo e com os outros, em sua história, em suas redes... Buenos Aires, 20 de setembro de 2014.


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psiquiatria e psicologia

Terapia ou medicação? MILTON DE PAULA JUNIOR CRM 20.266 Psiquiatra, coordenador do Centro de Terapia Cognitiva Veda, filial Maringá.

Todos os dias nos deparamos com essa questão. Pacientes com indicação de terapia que querem tomar medicação, e pacientes com indicação de medicação que recusam-se terminantemente, querendo resolver tudo na terapia. Como lidar com isto? Não é uma questão simples. Manter um paciente somente em terapia quando há uma clara necessidade de medicação pode tornar a terapia infrutífera, e por vezes, mesmo perigoso para o paciente e aqueles que o cercam, pelo risco de suicídio e até homicídio; por outro lado, tentar solucionar os problemas pessoais dos pacientes com remédios só vai agravá-los ainda mais, pois obviamente não existe medicação para os problemas do mundo, e o paciente pode se sentir ainda mais frustrado, por tentar resolver algo e não conseguir. Apesar da questão ser complexa, a resposta é até simples: o que for melhor para o paciente. Estudos mostram que os resultados mais efetivos para a melhora dos pacientes acontecem com a combinação de terapia + medicação. Isto não quer dizer que todos os pacientes devam estar medicados E em terapia. Todos os pacientes que procuram ajuda para problemas psíquicos obviamente estão precisando, com raras exceções. Esses problemas vão desde problemas leves, como questões afetivas (embora problemas simples muitas vezes gerem um sofrimento extremo), até doenças graves, como esquizofrenia. O limite entre o sofrimento pessoal e a doença é muitas vezes tão tênue que, frequentemente, é difícil de ser identificado. Basicamente podemos dizer que passa a ser doença quando o sofrimento relatado pelo paciente é significativo e/ou gera alguma limitação na vida da pessoa, além, claro, quando o indivíduo está psicótico, tendo perdido o contato com a realidade. Geralmente os pacientes não sabem diferenciar o que é doença ou não (muitas vezes

nem nós sabemos!), então procuram o primeiro profissional da mente que “acham” que os ajudaria, e aí entram psicólogos, psiquiatras, neurologistas, terapeutas de vidas passadas, uma infinidade de outros terapeutas, homeopatas, clínicos gerais e qualquer outro profissional que se proponha a ajudar nos problemas da psique, gabaritado ou não. Cabe a nós (quando eles nos procuram), definirmos o rumo do tratamento.Os principais motivos que mobilizam os pacientes a procurar tratamento psicológico são sintomas depressivos e ansiosos. Tristeza, desânimo, angústia e mal estar estão entre as queixas que mais ouvimos no nosso dia-a-dia. Tais sintomas geralmente estão relacionados a problemas pessoais, como dificuldades de relacionamento, problemas afetivos, problemas familiares, financeiros, profissionais e todos os outros que insistem em trazer sofrimento à já conturbada vida da modernidade. Em nossa primeira avaliação começamos por fazer nossa hipótese do diagnóstico e da gravidade do caso, sempre sabendo que é uma hipótese, e como tal pode (e deve) ser revista ao longo de todo o tratamento. A postura adequada do profissional “psi”, desde a avaliação inicial, é entender o caso e o potencial risco de suicídio, quando existe, e isto vai nortear o rumo do tratamento. Caso leve > Caso grave > Doença leve > Doença grave Existe um continuum, que vai definir ser o caso de medicação, terapia ou ambos. Em um extremo desse continuum estão os casos leves, problemas relacionados a áreas específicas, que geram incômodo, mas não necessariamente trazem maiores perdas ao paciente. Caminhando por esta linha no sentido da gravidade estão os problemas mais complexos, que envolvem várias coisas ao mesmo tempo, e que começam a trazer

sofrimento significativo. Passando para o lado da doença, já há algum tipo de perda ou limitação em algum aspecto da vida da pessoa, e por fim no extremo da doença grave há uma limitação quase completa na vida da pessoa. Levando em consideração esse continuum, é definida a indicação do tratamento. Em casos leves geralmente não é necessária medicação, sendo a primeira indicação a psicoterapia. Em casos mais complexos ou já nas doenças leves, o caso deve ser avaliado individualmente, e nesse processo deve ser levado em conta o sofrimento do paciente, considerando a máxima de que nunca deve haver sofrimento desnecessário, ou seja, se a indicação é a psicoterapia, mas a pessoa pode beneficiar-se da medicação para aliviar ou acelerar a melhora, então há indicação de ambos, e vice-versa, se há indicação de medicação, mas a psicoterapia vai ajudá-la a lidar melhor com os problemas e dessa forma melhorar a angústia, então também as duas devem ser associadas. Em casos graves geralmente há uma alteração psicopatológica cerebral, e a pessoa está tão desligada da realidade que não há uma brecha para a atuação da psicoterapia, sendo ela ineficaz, e em geral sendo necessária alguma melhora para só então ser indicada. Nunca podemos deixar nossas decisões serem influenciadas por qualquer tipo de preconceito, seja ele qual for. Há uma vida em nossa frente, que poderia ser nossos pais, filhos, irmãos. Ver os nossos pacientes como um todo, como um ser humano em um contexto biopsicossocial, uma pessoa que pensa e que sente, e não como um emaranhado de sintomas à procura de um diagnóstico é a chave para o melhor entendimento de seu sofrimento, e assim ajudar aqueles que nos procuram em um momento de tanta fragilidade. Tão importante quanto o conhecimento técnico de cada área é o interesse genuíno na melhora daqueles que estão sofrendo, e se conseguirmos entendê-los em sua plenitude, aí sim podemos estar tranquilos, pois estamos fazendo o melhor possível por eles.


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entrevista

psicologia do esporte e o Brasil na copa Tendo em vista o que foi veiculado pela mídia, como se pode analisar a participação da psicóloga Regina Brandão e sua equipe na seleção brasileira?

Psicologia do esporte e o Brasil na copa com Professor Leonardo Pestillo

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Bom, enquanto psicólogo, falar sobre o trabalho de outro psicólogo é uma tarefa complexa e ao mesmo tempo injusta, para mim é como um pai de família falar sobre como outro pai cria seus filhos. Isso porque não sei exatamente o que ocorreu, como ocorreu e porque ocorreu. O que pode ser dito é baseado no que se divulga, na mídia. Regina Brandão trabalha com o Luiz Felipe Scolari desde o início da década de 90, o que nos leva a acreditar que essa parceria tem dado certo, se o Brasil não foi campeão na Copa de 2014, obviamente não foi culpa do trabalho psicológico. Regina Brandão tem um grupo de profissionais que a ajudam em seus trabalhos, não na intervenção propriamente dita, mas na sua retaguarda. Como professora universitária, tem condições de fazer isso, e muito bem. Mas o fator principal da participação de Regina Brandão na Copa de 2014 foi escancarar uma realidade cruel do trabalho do psicólogo no contexto esportivo, e infelizmente essa realidade veio à tona no principal evento esportivo do mundo. A que me refiro? Me refiro à dificuldade que é trabalhar com psicologia do esporte, pois as principais críticas foram direcionadas à psicóloga, como se ela tivesse feito um trabalho ruim, não correspondeu às expectativas, não acompanhou a seleção de perto, enfim, mas quando o assunto era a psicologia do esporte na seleção brasileira, nada se ouviu, ou leu, sobre como a gestão esportiva brasileira considera ser o trabalho psicológico junto aos atletas. Infelizmente o nome de Regina Brandão ficará na memória das pessoas como um exemplo de trabalho psicológico que deu errado, como se ela fosse a única responsável pelo desempenho dos atletas dentro de campo. Lembranças negativas a parte, minha única esperança é a de que os psicólogos parem de criticar um trabalho que eles nem sabem como ocorreu, e se preocupem mais em entender o contexto esportivo e, aos interessados, lutarem por um maior reconhecimento da necessidade do acompanhamento psicológico de atletas. Durante a competição se soube (também por meio da mídia) que o psicólogo da seleção alemã era parte da comissão técnica e estava com os jogadores em período integral, inclusive durante as partidas; quais são os benefícios diretos dessa aproximação e quão longe estamos dessa realidade? Sendo por meio da mídia ou não, o principal ponto desse fato é considerar o psicólogo um

membro da comissão técnica, isso elimina qualquer manifestação desnecessária sobre a necessidade ou não do profissional. No Brasil, a presença de uma psicóloga junto à seleção foi motivo de reações das mais diversas, menos a reação que mais importava, a reação de normalidade. Normalidade essa que sim, a seleção alemã demonstrou e demonstra há anos, ao formar uma comissão técnica capaz de avaliar e trabalhar com os atletas de forma global, cada um na sua especialidade, sem vaidades e sem se questionar se aquele profissional é necessário ou não. Uma comissão técnica que não está ali para trabalhar com “achismos”, é além de técnica, científica, que estuda, e que sabe como trabalhar com os atletas. Sobre os benefícios de um trabalho como este, são os mais evidentes possíveis, se existe uma comissão técnica, ela vai acompanhar os atletas a todo o momento, não apenas o psicólogo, mas todos os envolvidos, e a proximidade dos profissionais com os atletas é algo que auxilia qualquer desempenho esportivo. E sim, infelizmente essa é uma realidade muito distante da que vivemos no Brasil. Não só pelo fator esportivo, mas também pelo fator educacional, no Brasil, a área de atuação em Psicologia Esportiva não é abordada nem mesmo na graduação em Psicologia, muito menos na pós graduação, seja latu sensu ou stricto sensu. A discussão da Psicologia Esportiva dentro do âmbito acadêmico no Brasil ainda é insuficiente, apesar das mudanças constantes. Quais foram às sensações tidas do exterior sobre a imagem deixada pelo Brasil perante o Mundo depois da Copa? Bom, eu já acompanhava algumas mídias estrangeiras por curiosidade mesmo, sou bem curioso quando o assunto é informação, e esporte fica sempre em primeiro lugar. Mas a reação da mídia estrangeira, que eu acompanho e que obviamente não são muitas, não foi muito diferente do que ocorreu no Brasil. Palavras-chave como vergonha, frustração, inacreditável, deram a tônica das notícias sobre o Brasil após a derrota para a Alemanha. Curiosamente aqui no Canadá, um país com pouca tradição no futebol, um canal de televisão acompanhou todos os jogos da Copa do Mundo, e foi além, a programação sobre o futebol começava às 11h30m e se estendia até as 23 horas, todos os dias, com comentários e discussões sobre as partidas e as seleções. Para mim foi curioso porque a qualidade das discussões foi superior ao esperado, e após o fatídico 7 a 1, a expressão facial dos comentaristas deixava claro que explicar esse resultado seria uma tarefa difícil. Mas eu não me deparei com reportagens desqualificando a seleção brasileira, e sim qualificando e muito a seleção alemã, a diferença

entre o esporte brasileiro e o alemão é a principal forma de se explicar o resultado, e essa comparação foi feita. A Copa do Mundo acabou, e as notícias sobre ela também, agora são outros tempos, e sobre o futebol, a janela de transferências de jogadores e os amistosos já são a bola da vez. Os Jogos Olímpicos estão a caminho, outro evento esportivo de amplitude mundial, quais são as expectativas para esse evento no Rio? E se a imagem deixada pela Copa no país esta influenciando esse pensamento? Essa década realmente é interessante no quesito esporte no Brasil, já tivemos a Copa do Mundo de Futebol e em 2016 teremos os Jogos Olímpicos. Com ou sem atrasos, a Copa do Mundo ocorreu, e muito bem, pois no mundo esportivo, o que interessava aconteceu, todos os jogos ocorreram, 31 países (+ Brasil) foram ao Brasil disputar um torneio com duração de 1 mês, todos jogaram, todos se divertiram, e um foi campeão. Acabou o torneio, acabou a Copa. As demais discussões sobre esse evento não interessam para a FIFA, assim como não vão interessar para o COI, eles só querem que os eventos ocorram. Do ponto de vista esportivo a Copa do Mundo foi um sucesso, se o Brasil terá “legado da Copa”, se houve dinheiro público envolvido, se faltou água nos banheiros dos estádios para os torcedores, se torcedores dormiram na rua, isso não importa para a FIFA, o importante é que ela ocorreu, a FIFA já foi embora do Brasil, as seleções já foram embora do Brasil, e o problema agora é só do Brasil. Quanto aos Jogos Olímpicos, não há dúvida de que também será um sucesso. É Rio de Janeiro, e não por acaso também foi palco da final da Copa do Mundo. Mas ai entramos em outro assunto, pois ao meu ver, o Brasil se preocupou, e ainda se preocupa, em ser um ótimo anfitrião, já foi um ótimo anfitrião na Copa, e será também nos Jogos Olímpicos, o problema é que essa preocupação e esse investimento todo não se aplica quando o assunto é gestão esportiva. O Brasil cumpriu seu papel de organizador de um mega evento esportivo em 2014, mas não correspondeu às expectativas esportivas quando o assunto é o futebol penta campeão. Suspeito que também cumprirá seu papel de organizador de um outro mega evento esportivo em 2016, mas fico imaginando qual será o desempenho esportivo dos atletas que ao contrário do futebol (maior vendedor de Copas) não podem nem se gabar de um histórico campeão, já que salvo algumas modalidades já consagradas, a maioria vive simplesmente da satisfação de apenas participar da competição.


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dica de filme

ação social

Uma fênix entre a sétima arte: O Grande Hotel Budapeste EDUARDO CHIERRITO

é membro do Instituto Psicologia em Foco, estudante de psicologia – UNICESUMAR

Ao contemplar uma obra de arte é necessário apreciar cada detalhe, nuances não podem ser despercebidos, e finalmente quando encontramos o ápice, voltamos a atenção para o que está nos bastidores, nada mais é igual ao que pensávamos saber. O valor que faz as coisas terem sentido. É justamente este ponto que Wes Anderson alcança em O grande Hotel Budapeste. O cinema deixa sua monótona rotina de clássicos reconstruídos e gêneros caçaníqueis para contemplar a fênix denominada “O Grande Hotel Budapeste”. Excêntricas, as construções de personagens únicas são a marca do diretor Anderson. O enredo se desenrola com Gustave H. (Ralph Fiennes) que é um gerente de hotel, e em companhia de Zero (Tony Revolori) seu aprendiz, vivenciam uma grande corrida pela

justiça após o roubo de um quadro, diante de uma disputa de herança de Madame D. (Tilda Swinton). Incluindo assassinatos e intensidade, o filme possui um toque de humor surpreendente ao retratar temas delicados, como o fascismo e a disputa entre egos inflados. As cores evidenciam o toque artístico e simbólico da obra de Wes Anderson, cores que em suas tonalidades se mesclam com o roteiro e seus sentimentos, assim como a simetria de suas composições, um verdadeiro quadro a cada cena. Quanto ao elenco este não precisa de descrições maiores: Bill Murray, Owen Wilson, Jason Schwartzman, Edward Norton, Willem Dafoe, Adrien Brody, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Tilda Swinton e Mathieu Amalric.

Projeto Mil Árvores Buscando auxiliar na preservação da bacia hidrográfica do Rio do Campo, no ano de 2011, algumas empresas e órgãos se uniram para criar o projeto “Mil Árvores”, que tem realizado trabalhos socioambientais em escolas e comunidades rurais. O projeto é fruto da parceria entre Cristófoli Biossegurança, UNESPAR/Fecilcam, Sanepar, Prefeitura, IAP, Fundação Educere e Copel (Companhia Paranaense de Energia). Algumas ações realizadas foram a retirada de 40 toneladas de lixo das margens do Rio do Campo, o plantio de mais de 12.000 árvores e a proteção de algumas nascentes. O Projeto conquistou em 2012 e 2013 o selo ODM pelo Sistema FIEP e o Movimento “Nós Podemos Paraná”, que destaca projetos, que contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), relacionados à educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida.

dica de LIVRO

Entre quatro paredes: o inferno são os outros RODRIGO GONÇALVES CORRÊA estudante do 5° ano de psicologia da UEM, membro do Jornal Psicologia em Foco e colunista do Jornal O Duque.

Poucos daqueles que me conhecem não receberam essa dica de leitura pessoalmente. Alguns deles, inclusive, já devem ter se cansado, algumas vezes, de me ouvir falar sobre Sartre. No entanto, é preciso antecipar, antes que o leitor desvie o olhar, que se trata de um clássico que merece a imortalidade, escrito talvez, pelo único Nobel de literatura que tenha recusado esta honraria. Sartre é autor reconhecido por suas frases impactantes. Entre quatro paredes trás, em determinada altura, uma de suas máximas literárias mais conhecidas quando um de seus personagens diz: “O inferno são os outros”. Aproveitarei o caráter intrigante dessa máxima para me ater a ela, assim, caminho menos pelos

acontecimentos da narrativa e diminuo o risco de empobrecer a experiência do leitor revelando-lhe antes, algo que poderia surpreendê-lo depois. Então, por que Sartre nos vem dizer que o inferno são os outros? Arrisco dizer que não há nenhum segredo no inferno de Sartre. Assim o mistério que sobra investigar são, de fato, os outros. O outro, na filosofia de Sartre, é o antagonista necessário para que o Homem seja e se reconheça enquanto Homem. Para que isso fique mais claro, sugiro ao leitor que faça a si mesmo a seguinte questão: Como eu sei que sou aquilo que julgo que sou? Como alguém que se diz belo chegou à conclusão de sua própria beleza? Ou ainda, como alguém que se diz íntegro, pode orgulhar-se

de sua própria integridade? Eis, caro leitor, que Sartre nos responderá que só pelo juízo dos outros, podemos nós, individualmente, julgarmos aquilo que somos. Assim, a beleza de um homem, antes de lhe ser atribuída precisa assumir esse caráter nos olhos de quem a vê, passar por seu juízo arbitrário e só então ser-lhe concedida. Em última instância, só pelo olhar do outro podemos experimentar o orgulho ou a vergonha. Eis o caráter infernal que Sartre atribui ao outro: seu juízo é arbitrário, nos objetiva e nos define a despeito de nós. O outro é um espelho vivo que nos condena a uma imagem selvagem, não domesticada por nós; capaz de metamorfosear um gesto de máximo empenho e desapego numa atitude vã e mesquinha. O outro carrega o inferno em si porque somos completamente impotentes ao seu juízo, que nos põe fracos diante de uma liberdade que não podemos controlar. Entre quatro paredes foi escrito no formato de uma peça teatral, de leitura simples e sentido fascinante. Caro leitor, espero que se arrisque.


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ACONTECEU

Modelo de trabalho nas empresas Google e Facebook foi tema de encontro Bastaram dois dias na sede das gigantes Google e Facebook, localizadas no Vale do Silício, na Califórnia, para a design thinker maringaense Soraia Novaes se munir de inspiração e promover o método dessas empresas no Centro de Inovação e Design, onde atualmente trabalha como coordenadora de projetos. Todo o material apurado por ela, incluindo dados, vídeos e amplo registro fotográfico, foi apresentado no encontro “O Jeito Google e Facebook de Trabalhar”. Soraia diz ter feito a viagem justamente para conhecer a dinâmica de trabalho de duas das maiores empresas de tecnologia do mundo e o que viu foi surpreendente. “Eu almocei na Google, jantei no Facebook e voltei para o Brasil com muita informação e conhecimento para digerir”, brinca. Referências de inovação e modernidade, ambas as organizações são reconhecidas pelo investimento que fazem para transformar o ambiente de trabalho em um espaço criativo e de alta produtividade.

A palestrante conta com detalhes a sua experiência e o contato que teve com o evoluído sistema de gestão de pessoas adotado pelas empresas. Segundo ela, as técnicas de recursos humanos fomentam a aproximação com os funcionários e estimula cada um a trabalhar com mais disposição. “Ninguém tem vontade de ir embora pra casa, porque é admirável como tudo lá é preparado pensando no bem-estar do funcionário”, comenta ela, que diz ter piscina, videogame e jogos de mesa para o pessoal usufruir nos intervalos. Muitos empreendedores jovens utilizam o Google e o Facebook como exemplo de filosofia para implantar em suas próprias empresas. Na opinião de Soraia, essa realidade não é distante de Maringá, pois segundo a comunicóloga, há empresas locais premiadas que são cases de sucesso. “No setor de TI já está funcionando, o desafio agora é atingir outros setores industriais.”

Sabores e saberes desembarca na Argentina Após já ter desembarcado na Austrália, Índia e Espanha, onde os convidados tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre os costumes e curiosidades desses países, o último destino do Sabores e Saberes foi a Argentina. O intuito do encontro é promover uma viagem cultural para conhecer uma nação a partir de seus sabores e saberes. No jantar, um menu especial com pratos típicos da Argentina aos comandos do chef e proprietário do Madeira Grill, Marcelo Serafim: empanadas, cordeiro da Patagônia, um delicioso bife de chorizo

argentino com chimichurri em oliva e acompanhado com legumes na manteiga. A sobremesa fica por conta do famoso dulce de leche de colher. Várias atrações estavam na programação do Sabores e Saberes, como uma aula de tanto com o casal de dançarinos Cida Maia e Josismar Pires, palestra descontraída com o historiador Sid Guerra e degustação de vinho com o sommelier Fabio Lima,que apresentou aos convidados o renomado Terrazas Malbec, produzido nas terras de Mendoza, região mundialmente conhecida pela fabricação dos melhores vinhos argentinos.

“Liderança Estratégica com Coach” foi tema da Oficina do Saber Encontro aberto ao público entre acadêmicos e profissionais da Psicologia Discute o novo perfil profissional exigido pelo mercado O Instituto Psicologia em Foco promoveu, no dia 31 de julho, a Oficina do Saber com o tema “Liderança Estratégica com Coach”, ministrada por Rodirlei Guimarães. O encontro foi aberto ao público e foi realizado no auditório da PUC, a partir das 20h. A liderança estratégica no mercado de trabalho é uma característica cada vez mais exigida pelas organizações. Segundo o palestrante, para estar entre os melhores é necessário despertar potencialidades e qualidades que tornem o profissional mais eficiente, ou seja, tenha uma atuação com enfoque na estratégia. “É importante ressaltar o novo conceito de qualificação, visto que agora é medida pelas competências comportamentais do profissional e não somente

por seus títulos de papel”, afirma. Guimarães acrescenta, ainda, que as organizações esperam um profissional líder, que saiba cuidar de si e dos outros. “Se a equipe não dá o resultado que se pretende, a questão é: O que eu posso fazer para que deem o seu melhor? O que eu ainda não fiz por mim e por eles para alcançarmos a melhor performance? Isso é Liderança Coaching.” A palestra aconteceu ao estilo Líder Coaching, compartilhando e aprendendo com todos. Guimarães, no evento, discutiu como compreender a si e aos outros e, principalmente, sobre como desenvolver projetos e pessoas. Também foi abordado o profissional no aspecto comportamental, cognitivo, holístico, neural e psíquico, visto a nova exigência do mercado.


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AGENDA


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