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Contextualização da obra

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10. Mercedes

10. Mercedes

É o que se pode observar em Avante, soldados: para trás, no qual o autor polemiza e retoma fatos e documentos do passado – não para refutá-los ou desacreditá-los, mas sim com o intuito de oferecer-lhes uma outra versão, ampliando a multiplicidade de interpretações possíveis sobre um mesmo texto ou acontecimento histórico.

Entre os meses de dezembro de 1864 e março de 1870, aconteceu o conflito de maior duração e proporção de toda a história da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Nele, Brasil, Argentina e Uruguai – chamados de Tríplice Aliança – enfrentaram o Paraguai por conta de conflitos de interesses políticos e econômicos. A guerra foi um grande divisor de águas para todos os países envolvidos, afetando não só a área territorial de cada país, como também sua economia e suas populações. No Brasil, a guerra deixou uma dívida enorme, fortaleceu o exército enquanto instituição e marcou o início da decadência da monarquia, além de tirar a vida de milhares de brasileiros.

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Em Avante, Soldados: para trás, o autor emprega uma técnica refinada para mesclar história e ficção, recriando um dos episódios mais polêmicos da guerra: a Retirada da Laguna. O episódio consistiu na retirada

de tropas brasileiras, sob o comando do coronel Carlos de Morais Camisão, da região onde estava localizada a então Província de Mato Grosso, hoje o estado de Mato Grosso do Sul. Além de estarem em um território pouco explorado, os brasileiros sofreram com a escassez de alimentos, as altas temperaturas e as condições precárias de higiene, sendo que muito soldados morreram em razão da epidemia de cólera.

O autor se fundamentou em referências históricas e misturou personagens reais e fictícios, entre os quais a integrante de um suposto batalhão feminino paraguaio, chamada Mercedes, que ama e é amada pelo já citado coronel Carlos de Morais Camisão.

Na obra, que foi publicada também em Cuba, Portugal e Itália, o autor, rompendo com a narrativa tradicionalmente romantizada e grandiosa das guerras, recria e traz ao leitor uma perspectiva do homem comum, do soldado, dos meandros do campo de batalha e de todos os reveses que o acompanhavam. O autor desenvolve sua obra empregando amplamente recursos linguísticos como a ironia, as múltiplas vozes do narrador, por vezes imbuídas de críticas ácidas, para relatar os horrores da guerra, as incertezas do campo de batalha, o medo da morte iminente, a fome, as doenças, a presença silenciosa do inimigo, os ataques de surpresa, bem como as torturas físicas

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