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Setembro 2012

CRIATIVA SUSTENTÁVEL INCLUSIVA

GEOGR DA CRI AFIA ATIVID ADE

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Nº 06. SET. 2012

EDITORIAL

EM FOCO Geografia da Criatividade MAPEAMENTO DE ESPAÇOS CRIATIVOS ÓBIDOS CRIATIVA – UMA HISTÓRIA COM FUTURO [ MIGUEL SILVESTRE ]

CIDADES CRIATIVAS, TURISMO E REVITALIZAÇÃO URBANA [ HELIANA MARINHO ]

UMA POLÍTICA PÚBLICA PARA A ECONOMIA CRIATIVA EM GOIÁS [ DECIO TAVARES COUTINHO]

CASOS DE ESTUDO POR UM BRASIL CRIATIVO

NOTÍCIAS INTELI BREVES EVENTOS SUGESTÕES


Mapear a economia criativa A INTELI tem vindo a participar em diversas iniciativas associadas à promoção da economia criativa nos territórios, quer a nível europeu quer nacional. Com o apoio da União Europeia, fomos parceiros em projectos como o CITIES – “Creative Industries in Traditional Intercultural Spaces” (INTERREG IVC) ou o CREATIVE CLUSTERS – “Creative Clusters in Low Density Urban Areas” (URBACT II). Em articulação com os municípios em Portugal, apoiámos a definição de estratégias locais baseadas na criatividade, contribuindo com conhecimento acerca de boas práticas internacionais. Neste âmbito, realizámos exercícios de mapeamento das indústrias criativas, procurando quantificar o peso do sector nas economias locais, em termos de riqueza, emprego ou exportações. Mas, mais relevante tem sido o trabalho desenvolvido no terreno de identificação das designadas invisibilidades, informalidades e novidades que extravasam as estatísticas oficiais. Trata-se de identificar, junto das comunidades, os talentos, projectos, actividades, percursos e espaços criativos que se materializam numa base de informação e conhecimento de suporte à definição de estratégias de desenvolvimento local. Este trabalho conduziu à elaboração de roteiros da criatividade local que poderão ser úteis na atracção de novos residentes, turistas e investidores, dado que permitem identificar a massa crítica existente nos territórios. E, conforme comprova a evidência, a presença de talentos e actividades criativas num local contribui para a captação de outros talentos e actividades criativas. Óbidos, por exemplo, desenvolveu um “Guia da Inovação e Criatividade” que funciona como plataforma de conhecimento sobre os activos criativos da vila e como estímulo ao empreendedorismo. Numa outra escala, São Paulo (Brasil) elaborou recentemente um “Roteiro Cidade Criativa” que se afigura como um guia para o turismo cultural e criativo na cidade. Por estes motivos, a INTELI tem vindo a trabalhar na Geografia da Criatividade em Portugal, quer em termos quantitativos quer qualitativos. Nesta edição da Citiesbrief procura-se apresentar algumas estratégias e espaços criativos existentes no nosso país. Se é artista, profissional criativo ou empreendedor poderá conhecer a oferta disponível!

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Geografia da Criatividade A criação de espaços criativos tem sido uma estratégia seguida por diversas cidades no fomento da economia criativa Não podemos afirmar que em Portugal exista uma política nacional para a economia criativa, tal como no Reino Unido e, mais recentemente, no Brasil. Mas, têm-se vindo a afirmar algumas dinâmicas regionais e locais interessantes que apostam na criatividade como motor do desenvolvimento das cidades e regiões. E não estamos a falar apenas das grandes cidades, como Lisboa ou Porto, mas essencialmente de cidades pequenas ou vilas como Óbidos, Paredes, Guimarães ou Serpa que têm baseado as suas estratégias de desenvolvimento nos activos endógenos e nos factores diferenciadores do território, numa aliança entre tradição e inovação. De facto, como afirma Munoz (2010), “local authorities should think, plan and act, based on the city’s specific features and assets, which have to be used as foundations in the search for their own urban creativity”. Estratégias Criativas Óbidos apostou numa estratégia global de dinamização da economia criativa, com foco na captação e fixação de talentos e empresas criativas, aproveitando os factores de atractividade do território, como as amenidades naturais e culturais. Por sua vez, Serpa partiu do património intangível associado ao cante alentejano, para trabalhar na afirmação de uma cidade da música, conjugando a educação artística com a promoção de negócios na cadeia de valor do sector. Sob a égide da Capital Europeia da Cultura, Guimarães apostou na definição de uma extensa programação cultural e na criação de diversos equipamentos culturais e criativos, no seio de uma estratégia de revitalização urbana criativa da cidade. Também na região Norte, Paredes encontrou os factores diferenciadores do território no património industrial associado ao sector do mobiliário, elegendo o design como motor de desenvolvimento, e aliando uma estratégia de revitalização económica a um programa de regeneração urbana do centro da cidade. Subjacente a estas estratégias encontram-se formas diversas de intervenção das políticas locais na dinamização da economia criativa nos territórios. O estudo “Strategies for Creative Spaces” (London Development Agency, 2005) apresenta a seguinte tipologia (adaptada):

Guimarães © INTELI

- Dinamização de clusters criativos em espaços urbanos, bairros, quarteirões, etc.; - Criação de espaços micro dedicados para actividades criativas, como incubadoras, espaços de coworking, live-work houses, etc.; - Fornecimento de serviços especializados de apoio às indústrias criativas, como marketing, gestão, formação, etc., por exemplo através de agências de desenvolvimento; - Financiamento específico para empreendedores e negócios criativos, como subsídios, empréstimos, etc.; - Incentivos fiscais, com vista ao apoio à instalação e desenvolvimento dos negócios criativos; - Disponibilização e melhoria das infra-estruturas físicas, como edifícios, espaços públicos, qualidade do ambiente, tecnologias de informação, etc.; - Criação de um ambiente favorável (infra-estruturas soft), ao nível da educação, formação, inovação, etc. Espaços Criativos Uma das formas de intervenção mais utilizadas pelas autoridades locais para o fomento da economia criativa tem sido a criação de espaços criativos.

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gócios criativos e profissionais independentes. Tratam-se também de locais de cooperação e de partilha de informação e experiências, onde o individualismo se mistura com o espirito de comunidade, promovendo o desenvolvimento de projectos e negócios comuns. © CM Paredes

De facto, de acordo com o Livro Verde para as Indústrias Culturais e Criativas (CE, 2010), existe a necessidade de criar novos espaços de experimentação, inovação e empreendedorismo na Europa, sendo apontados como exemplos espaços de convergência e laboratórios de inovação aberta e experimentação, onde se articulem diversas disciplinas e domínios do conhecimento. Esta afirmação é corroborada por Leonel Moura, artista conceptual, que defende que as cidades têm um papel decisivo na promoção da criatividade e da inovação através da cedência de espaços físicos destinados, em particular, aos mais jovens para o desenvolvimento de projectos e experimentação.

Residências artísticas:

Estes espaços têm emergido sob as mais diversas designações e formatos, desde incubadoras de indústrias criativas e espaços de coworking, passando pelas residências artísticas e live-work houses, até aos fab labs.

São espaços onde os artistas e criativos vivem e praticam a sua arte num determinado período de tempo, longe do seu ambiente habitual. Oferecem aos profissionais culturais e criativos alojamento, estúdios e ateliers, equipamento técnico e plataformas de comunicação, espaços de produção, exibição e disseminação de forma a potenciar o desenvolvimento do trabalho criativo. São também espaços de partilha e aprendizagem, sendo privilegiados intercâmbios e partilha de expressões culturais como estímulo da diversidade cultural.

Incubadoras de indústrias criativas:

Fab Labs – Laboratórios de fabricação:

Traduzem-se em espaços acessíveis em termos de preço para artistas emergentes, grupos artísticos e empresas do sector criativo, que integram serviços individuais e colectivos: espaços de escritórios, serviços de comunicação, espaços partilhados, serviços de front-desk, etc. De destacar a prestação de serviços associados ao lançamento e desenvolvimento do negócio, tais como: análise das ideias de negócio, formação em empreendedorismo, elaboração de plano de negócios, apoio na selecção de parceiros, consultoria em assuntos legais, financeiros, de gestão, de marketing, etc. A promoção da interacção e cooperação entre negócios criativos através de eventos de networking afigura-se como uma das principais mais-valias das incubadoras.

Tratam-se de plataformas de fabricação digital que encorajam os empreendedores locais e a comunidade a levar as suas ideias desde a fase de desenho até à fase de protótipo, incentivando-os a criar pequenos negócios locais. Um fab lab pode conceder a qualquer utilizador/cidadão de qualquer parte do mundo a capacidade de conceptualizar, desenhar, desenvolver, fabricar e testar quase tudo, a nível local, numa lógica de inovação aberta e de democratização da inovação. Integra um conjunto de ferramentas industriais de prototipagem rápida, como fresadoras de pequeno e grande porte, máquinas de corte a laser e de corte de vinil, dispondo ainda de uma bancada de electrónica, computadores e

Espaços de coworking: O conceito de ‘coworking’ refere-se ao trabalho em espaço comum, ou seja, ao aluguer de um posto de trabalho ou de horas de utilização mensais, com acesso a equipamento de escritório e serviços comuns. São espaços flexíveis muito utilizados por freelancers, pequenos ne-

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© CM Óbidos


respectivas ferramentas de programação informática suportadas por software open source e por freeware CAD e CAM. Apesar da categorização, existem espaços que têm vindo a integrar diversas valências, como incubação, fab lab ou coworking que convivem no mesmo local. É o caso do EPIC – Espaço de Promoção da Criatividade e da Inovação, em Óbidos, ou do fab lab e coworking em instalação no Mercado do Forno do Tijolo, em Lisboa. No mapeamento efectuado pela INTELI, apresentado nas páginas seguintes, pode ser consultada uma lista preliminar dos espaços criativos existentes em território nacional, onde poderá criar e instalar o seu negócio, trabalhar em espaço comum, passar um tempo a desenvolver um projecto artístico, ou construir um objecto inovador. Existirá procura suficiente para a oferta de espaços?

© CM Serpa

Espaços Criativos – Características Comuns • •

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Espaços acessíveis em relação ao preço de mercado Reabilitação de edifícios, atribuindo-lhes novos usos, como antigos edifícios industriais ou edifícios históricos, com uma atmosfera especial Preservação da história e das memórias dos lugares, mas criação de ambiente inovador, muitas vezes com um investimento mínimo Espaços flexíveis que podem ser utilizados numa base temporária Espaços para criação, produção e exibição cultural e criativa Espaços de convergência e partilha, com zonas de networking e eventos de interacção Espaços multifuncionais, que integram valências diversas, como espaços para viver e trabalhar

Notas Bibliográficas CE (2010), Green Paper on Unlocking the Potential of Cultural and Creative Industries, CE. Coworking Community Blog - http://coworking.wordpress.com/. London Development Agency (2005), Strategies for Creative Spaces – Phase 1 Report. Munoz, P. (2010), Beyond Talent, Diversity and Technology: Transforming Small Cities into Creative Places, Mestrado em Inovação, Criatividade e Empreendedorismo, Universidade de Newcastle.

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MAPEAMENTO DE ESPAÇOS CRIATIVOS

Este mapeamento pretende ilustrar os espaços existentes em Portugal para instalação de artistas, profissionais criativos, empreendedores ou microempresas associados às indústrias culturais e criativas. Nota: O mapeamento não foi realizado de forma exaustiva, pretendendo apenas apresentar alguns espaços criativos existentes em Portugal. Se conhece algum espaço deste tipo não considerado no mapa, poderá enviar a informação para: citiesbrief@inteli.pt

CIDADES

ESPAÇOS

Alcobaça

Armazém das Artes

Almada

Quarteirão das Artes

Amadora

Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem

Aveiro

Performas - Estúdio de Artes

Beja

Laboratório de Arte e Comunicação Multimédia

Braga

Bandas de Garagem

Velha-a-Branca Estaleiro Cultural

Caldas da Rainha

Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha

Coimbra

Casa da Esquina

XDA

Faro

Laboratório de Artes e Media do Algarve

Guimarães

Obras de Portugal

FabricAsa

Plataforma das Artes e Criatividade

Centro de Arte e Arquitectura

Instituto do Design

Laboratório de Actividades Criativas

Lagos

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Lisboa

Loulé Matosinhos Mértola Miranda do Corvo Montemor-o-Novo Nodar (S. Pedro do Sul) Óbidos

Ovar Paredes Penela Porto

Póvoa de Lanhoso São João da Madeira Santa Maria da Feira Santo Tirso Serpa Tondela Vila Nova de Cerveira Vila Nova de Famalicão

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Startup Lisboa - Incubadora de Empresas Restart Seu Vicente Residências Artísticas Residências Artísticas - Companhia Olga Roriz LX Factory ZDB CEM Red Bull House of Art Lisboa Forum Dança Chapitô Mercado do Forno de Tijolo Pólo Criativo do Campo de Santa Clara Fábrica do Braço de Prata Espaço Alkantara AltLab Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé Incubadora de Empresas e Projectos do Quadra Laboratório de Criação Digital Residências Artísticas Convento de São Francisco de Mértola Casa do Design e do Artesão Oficinas do Convento Espaço do Tempo Centro de Residências Artísticas de Nodar Parque Tecnológico de Óbidos ABC - Apoio de Base à Criatividade Habitações e Espaços Criativos EPIC - Espaço de Promoção da Inovação e Criatividade Habitat de Experimentação e Criatividade de Ovar Fábrica do Design Incubadora de Design e Oficinas Criativas Casa das Indústrias Criativas (Smartes) Hub Porto INSERRALVES Palácio das Artes - Fábrica de Talentos Aquário do Som e Imagem Maus Hábitos - Espaço de Interveção Cultural/Cowork Criativo Pólo das Indústrias Criativas Casa da Música Hard Club Plano B Centro Criatividade Digital Opo Lab - Laboratório de Experimentação Criativa CACCAU - Centro de Apoio à Cultura e à Criatividade em Ambiente Urbano ÁRVORE XXI Artes em Partes Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso Casa da Criatividade Oliva Creative Factory Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua Caixa das Artes Incubadora de Negócios Criativos Musibéria Residências Internacionais ACERT ARTErra – Residências Artísticas Rurais Incubadora de Indústrias Criativas Bienal de Cerveira Atelier Gondar - Residências Artísticas Casa das Artes

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EPIC – Espaço de Promoção da Inovação e Criatividade © CM Óbidos

ÓBIDOS CRIATIVA – UMA HISTÓRIA COM FUTURO Miguel Silvestre Coordenador de Economia Criativa da Óbidos Criativa EEM

Em Junho de 2012, Óbidos tomou a opção estratégica de juntar as duas empresas municipais: Óbidos Requalifica e Óbidos Patrimonium, criando uma única empresa designada Óbidos Criativa. Esta estrutura surge como exemplo de um compromisso político claro com a Criatividade e a Inovação. Unimos, debaixo do mesmo chapéu, áreas como a educação, os eventos locais, bem como as empresas e as políticas de empreendedorismo, todas interligadas por uma metodologia baseada na criatividade. Como em qualquer organização, temos que lutar contra sectores e contra a fossilização dos gabinetes. A mecanização das mesmas soluções é uma das principais razões que levam as grandes e médias organizações a perderem o seu ímpeto criativo, uma característica responsável pela sua curva de crescimento até então.

O compromisso com a criatividade é provavelmente o nosso maior sucesso.

Para todos os que acreditaram que éramos caçadores de tendências... adivinhem? Estamos em 2012, e continuamos a acreditar, a falar e a aplicar a criatividade como um dos nossos principais recursos. Também é verdade que continuamos a trabalhar para sermos ecológicos, inovadores, inteligentes, horizontais, mas no final o que realmente nos guia é a criatividade. Em qualquer estratégia ou compromisso é sempre uma mais valia conseguir o correcto equilíbrio de flexibilidade e compreensão da mudança. Acreditamos que esta é uma das razões que nos colocam numa fase diferente, possivelmente mais madura, menos ruidosa, de maior proximidade e mais sedutora. Provavelmente não é diferente do paradigma actual das indústrias criativas, onde o posicionamento é mais equilibrado, talvez porque entendemos que o caminho a seguir deve ligar a criatividade e as indústrias tradicionais, da produção aos serviços.

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Uma das coisas mais importantes que realizámos em Óbidos foi não associar a criatividade exclusivamente à cultura ou à tecnologia. Criatividade é mais do que indústrias criativas; a criatividade deve ser um recurso natural e inesgotável que individual ou colectivamente transforma a comunidade e o território. O conceito de pegada criativa que lançamos através da rede URBACT – Clusters Criativos em áreas de baixa densidade – é um exemplo de como acreditamos que a criatividade deve ser estimulada em todos os cidadãos de Óbidos. O nosso foco neste momento é o que somos e o que queremos ser, por outras palavras: “deal with the real and you will have a real deal”. É tempo para uma equação social: tu e eu=nós, nós e eles=todos. As competências colaborativas, a “coopetição” ou a pressão dos pares estão relacionadas com o envolvimento, a interacção e em grande parte com os resultados e a forma como os alcançamos. Em Óbidos, estão a crescer verdadeiras parcerias, em consequência dos projectos que serão referidos ao longo deste artigo; estas parcerias baseiam-se em objectivos concretos e em processos de “design thinking” nos quais os sectores público e privado se procuram compatibilizar. Escolas: Um laboratório criativo para um novo modelo de educação Se há uma área em que o nosso país deve investir, e na qual deverá estar aberto a novas perspectivas e metodologias, é sem dúvida a educação. Desde que se iniciou o processo de construção e abertura de três escolas no concelho, sendo que a primeira foi destacada pela OCDE como equipamento de excelência, que o objectivo central foi desenvolver e aplicar um novo modelo educacional, que fosse mais do que uma infra-estrutura ou uma tecnologia, mas sim uma forma de envolver a comunidade nos processos de discussão e participação, focados nas crianças e nas suas necessidades. Em pouco tempo foram visíveis resultados impressionantes. Partimos de maus resultados ao nível da capacidade de aprendizagem e passámos para um modelo que já está referido como caso de estudo no envolvimento das crianças e da inteligência criativa. A escola é, hoje, um espaço que vai para além de uma sala de aula e um professor; é uma comunidade de partilha e de novas leituras da realidade, ao mesmo tempo que prepara as crianças para a rapidez da mudança e para o mundo global. Um mundo em que o sucesso depende da inteligência e da capacidade de adaptação a mudanças. É neste contexto que nós lançamos os nossos “construtores de futuro”. Através de Ateliers Criativos em cada escola, iniciámos

As escolas são mais do que uma prioridade, elas são o cerne da Óbidos Criativa, um espelho da nossa visão. um processo complementar ao currículo oferecido pelo Ministério da Educação, aproveitando de forma vantajosa os tempos livres dos alunos, e começando a mostrar-lhes que a escola pode ser muito mais. É importante que eles entendam que as suas ideias são proveitosas e que não devem tomar como garantido tudo aquilo que vêm. Existe um novo mundo por trás de todos os objectos ou palavras, cores ou formas que pode ser utilizado para comunicação de ideias, sendo que este mundo pertence a um outro muito maior. Portanto, a partir de ideias, criámos uma fábrica, uma fábrica criativa, onde as crianças podem fazer filmes animados, pinturas de luz, criar esculturas e mobiliário sustentável, ouvir ou tocar diferentes tipos de música e partilhá-la com a audiência. As escolas são hoje espaços mais abertos, com laboratórios de ideias onde os pais podem participar na gestão, com redes internacionais constituídas por outros casos de estudo e exemplos de boas práticas como Reggio Emilia (Itália) ou Gentofte (Alemanha). Neste momento, as escolas são mais do que uma prioridade, elas são o cerne da Óbidos Criativa, um espelho da nossa visão, de troca e captação do que é mais importante para a comunidade e para o seu futuro. Upgrades Criativos: Do turismo e dos eventos para a economia tradicional Partindo dos projectos educacionais referidos anteriormente, colocámos um desafio às nossas crianças para nos apoiarem no novo desenho de Óbidos Vila Natal, um evento integrado na quadra natalícia. Através de uma sessão de inovação aberta, apresentámos a nossa visão e necessidades, ouvimos as suas ideias e criámos uma história e um conceito para este antigo e agora novo evento. Acresce referir que o fizemos após a última edição ter sido a mais visitada desde sempre! O compromisso com a criatividade é provavelmente o nosso maior sucesso; levou-nos das salas de aula e das incubadoras de empresas a novos projectos, com o único propósito de impulsionar a criatividade como recurso, não só em novos projectos como, também, em projectos e programas em curso. Os tempos que correm obrigam a novas soluções para resolver problemas antigos. Não é uma questão de injectar mais dinheiro ou comprar tempo, na esperança que a situação evolua ou que o problema se resolva. Costumamos dizer que a criatividade é fazer mais com os mesmos recursos. Provavelmente teremos que alterar esta ideia, para algo que melhor se adeqúe à nossa realidade…criatividade é

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Edifícios centrais do Parque Tecnológico © CM Óbidos

fazer mais, ou o mesmo, com menos recursos. Podemos dizer, ainda, numa abordagem mais motivacional que o desafio é se não há dinheiro é ainda mais divertido. Quando lançámos o Programa Creative Breaks, um dos nossos objectivos era juntar criativos e empresas de turismo num trabalho conjunto sendo que nós, face ao estatuto de empresa pública, poderíamos apoiar em termos logísticos. Nos primeiros dez minutos da primeira reunião do grupo, percebemos que a inclinação era para que nós assumíssemos a gestão e coordenação do programa. Este posicionamento reflecte, um pouco, a relação vertical que existe entre as pessoas e as entidades públicas. O modelo mudou para um conceito mais horizontal mas, ainda assim, em Portugal estamos longe dos níveis de empreendedorismo necessários para o futuro. É por esta razão que um programa como este poderá fazer um upgrade para um nível superior ao mero sucesso comercial do conceito. Aprender a trabalhar em rede, partilhar ideias e visões, gerar negócios comuns e posicionar Óbidos como um destino de aprendizagem são, também, objectivos muito importantes e interligados. Na actual fase do projecto, numa lógica de teste, recebemos mais de trinta propostas submetidas durante o evento Maio Criativo. Numa segunda fase, estas foram avaliadas com critérios objectivos e outros mais subjectivos, que nos forneceram uma base que acreditamos ser forte o suficiente para a comercialização do produto. A indução da criatividade em projectos correntes tem sido um processo orgânico. Um dos melhores exemplos que temos sobre o poder da criatividade associado a iniciativas públicas e privadas pode ser descrito em poucas palavras. Há três anos atrás procurámos oportunidades de financiamento para reabilitar uma antiga igreja dentro das muralhas do castelo. Num país sem programas de financiamento para a conservação de património, o nosso desafio foi encontrar uma plataforma cultural e económica que pudesse respeitar a história do edifício em simultâneo com a criação de um novo espaço cultural dentro de Óbidos. Com a premissa de criar um espaço que valesse a pena visitar, começámos a trabalhar na criação de uma livraria dentro da igreja. Desde então, temos um espaço restaurado, uma livraria distinta, onde a estante é uma escultura flexível que pode ser retirada com facilidade. Neste momento, foi

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lançado um concurso público que se encontra em fase de avaliação. O interesse do sector privado no projecto vai para além de uma livraria; querem criar uma rede de livrarias em Óbidos, tornando-nos uma cidade literária. Apesar da ideia de que este é um sector efémero, pode ser um bom posicionamento para Óbidos, devido à importância cultural que adquiríamos, associada à diferenciação turística, mas, também, pela dimensão económica da ligação desta área às publicações digitais. Primeiro, vamos criar a atmosfera e o resto surgirá. Dos espaços de trabalho para novas culturas de trabalho Com políticas definidas para a criação de espaços de trabalho, através da reabilitação de antigos edifícios ou da construção de novos criados por arquitectos de renome, a comunidade não deixou para trás o velho paradigma de inaugurar um edifício ou de deixar um marco político. Alguns destes espaços são histórias de sucesso, outros são iniciativas isoladas, sem nenhuma integração na estratégia global, sendo que isto não é um problema para uma área metropolitana, uma vez que a procura é maior que oferta. Se estamos a trabalhar numa pequena área urbana isto pode ser um factor de fraqueza para um projecto. De qualquer forma, pensamos que nestes casos já estamos a falar do passado. As autoridades e entidades locais que gerem espaços de incubação ou empresas relacionadas devem estar cientes do paradigma de que tudo deve estar focado na necessidade de ter novas culturas de trabalho. O espaço já não é a principal questão, mas sim um conjunto de espaços e mentes… Culturas colaborativas, governação horizontal, activação social ou pressão dos pares são mais do que tendências, são conceitos para enfrentar a forte competitividade num tecido industrial focado no baixo custo dos recursos humanos e nos baixos preços dos produtos. Se acham que é um risco ter novas ideias nos dias de hoje, estão muito enganados. Não podemos parar de produzir novas ideias até virem dias melhores. Temos de usar todo o nosso poder intelectual agora, e ampliá-lo com as ideias de outros. Os novos espaços que temos em Óbidos estão relacionados com este conceito e o facto de sermos uma pequena vila permite-nos desenvolvê-los. O EPIC – Espaço para a Promoção da Inovação e Criatividade é um dos exemplos de conjugação de objectivos e de espírito colaborativo entre pessoas e empresas. Este espaço não foi concebido para oferecer áreas separadas para as empresas trabalharem, mas pretende oferecer espaços conjuntos de trabalho e produção. O objectivo é abrir o processo de trabalho à colaboração de quem quer partilhar conhecimento e competências. Isto não


Uma das coisas mais

Este será certamente o maior investimento público na região e vai originar um espaço onde empresas privadas, universidades e consumidores ou clientes trabalharão com elevados padrões de qualidade que lhes permitem competir com os melhores da Europa.

importantes que realizámos em Óbidos foi não associar a criatividade exclusivamente à cultura ou à tecnologia.

é consultadoria, mas sim cooperação. O programa é constituído por diferentes níveis de cooperação, desde espaços de co-work, a empresas, passando por uma área destinada a workshops e laboratórios, e uma área de comercialização para testar a aceitação dos produtos e serviços produzidos. Agregado a este conceito de espaço, existe uma antiga adega que pode ser considerada como uma galeria: um “showroom” de criatividade e inovação em Portugal. Com mais de um milhão de visitantes por ano e com uma escala reduzida, Óbidos tem tudo para ser um local em que criativos e empreendedores estão em contacto directo com o público e os clientes. Ideia Básica: nós somos donos do edifício, vocês são donos do ambiente. Numa forte relação com este conceito, encontramo-nos a trabalhar num projecto que pretende ser uma solução para o que consideramos ser um dos maiores problemas das indústrias criativas: a ausência ou a falta de competências de gestão. O Projecto Porta é um espaço localizado junto da Porta da Vila de Óbidos destinado às empresas que não são indústrias criativas, mas que querem trabalhar com elas ou para elas. Desde empresas de contabilidade e advocacia, a empresas de turismo e comércio, todas deveriam estar interessadas na economia criativa. Com estes projectos e com o início da construção dos edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos, conseguimos o casamento perfeito entre espaços convencionais e espaços alternativos de trabalho. Estamos numa fase de arranque do projecto e encontramo-nos a analisar as potenciais empresas de construção que iniciarão as obras dentro de alguns meses.

Desde 2010, que o Município de Óbidos tem vindo a reabilitar um vasto conjunto de casas no interior das muralhas do castelo, dedicados ao conceito de espaço para trabalhar e viver. Os Espaços Criativos, identificados por nomes de artistas históricos associados à música ou pintura (José Joaquim dos Santos, Josefa d’Óbidos, André Reinoso e Baltazar Gomes Figueira), são espaços destinados ao arrendamento para os talentos criativos, em que o principal conceito é: o melhor projecto vence. Desde as artes ao software, das actividades de interior aos programas de exterior, os espaços são flexíveis e têm Óbidos como pano de fundo. Sim, é verdade. Estas casas não estão localizadas na Rua Direita (rua principal), encontrando-se numa rua residencial de Óbidos. Como tal é possível ter uma loja ou um escritório, ou um atelier ou uma performance no jardim…ou simplesmente viver lá. Podem surgir outras iniciativas em áreas como a gastronomia, em que alugamos um restaurante equipado, desde que o projecto que a ele se destine seja diferenciador comparado com a oferta existente. Food Design, slow food e organic food são conceitos e ideias que irão liderar a nossa avaliação de propostas. O mesmo conceito vai ser aplicado ao upgrade de um projecto muito desejado por nós. Queremos interligar produtores e consumidores com projectos, como o mercado biológico de Óbidos, mas também com novos conceitos como cafetarias que poderão transformar e vender produtos orgânicos com um valor acrescido, tudo no mesmo espaço, na rua principal, ligando os negócios e as pessoas. Mais uma vez não é apenas um espaço para alugar, mas sim um espaço para novas ideias e projectos, que eleve os padrões e consiga colocar os nossos limites um pouco mais à frente. Transformando a tradição numa fonte de inovação. Em conclusão... sim, nós temos as ideias, a estratégia… sabemos exactamente o que queremos. Como tal, o que nos espera nos próximos meses? Passará por encontrar as pessoas certas, para desenvolver estas e muitas outras ideias, avaliando a sua relevância, deixando-os trabalhar na mudança de Óbidos. Basicamente, nós precisamos que todos os leitores deste artigo se sintam inspirados e olhem para Óbidos como um sonho tornado realidade. Mais informação: silvestremiguel@me.com

© CM Óbidos

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CIDADES CRIATIVAS, TURISMO E REVITALIZAÇÃO URBANA* Heliana Marinho Área de Desenvolvimento da Economia Criativa, Sebrae Rio de Janeiro (Brasil)

O conceito de cidade criativa ainda está em processo de formulação e seu entendimento passa pela releitura dos sítios urbanos como um complexo objeto de análise, em constante mutação. O olhar para este objeto é multidisciplinar. Portanto, denominar uma aglomeração urbana de cidade criativa, entre outras questões, traz o desafio de promover interconexão entre diferentes áreas de conhecimento. Dessa forma, muito mais que uma nova abordagem, o entendimento do significado e dos significantes de cidades criativas exige a articulação das ciências do urbanismo, da sociologia, antropologia, filosofia, história, geografia, economia, administração, psicologia e comunicação. A interação entre tais campos de saber desafia estudiosos, agentes públicos e privados, em busca de novos modelos para o crescimento econômico e socioambiental. Trata-se de um fenômeno típico da sociedade pós-industrial e pós-moderna, cuja âncora de discussão e apropriação tem como eixo o reconhecimento de que a cultura alimenta uma nova economia e coloca-se, na atualidade, como um pilar para o desenvolvimento da sociedade, na era do conhecimento. O SETOR CRIATIVO Cidades e territórios criativos são, antes de tudo, espaços de articulação das diversas formas de manifestações e segmentos culturais. A integração de infraestrutura física e imaterial, em suportes tecnológicos, cria novas inteligências e gera economias de escala de difícil mensuração. As cidades criativas ampliam oportunidades de ofertas culturais; utilizam elementos simbólicos para a geração de produtos, serviços e negócios; criam novos mercados para um consumo supostamente responsável.

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De modo geral, uma cidade criativa:

BOAS PRÁTICAS

- Apresenta potencial ilimitado de desenvolvimento, pois seus recursos são inesgotáveis, e estimula o setor de serviços e lazer, a exemplo do turismo, da moda, dos centros tecnológicos, das mídias e do entretenimento.

Para a melhor compreensão dos fenômenos das cidades criativas, no mundo contemporâneo, é importante recorrer a dois eixos conceituais básicos: economia da cultura e culturalização da economia.

- Utiliza a criatividade como principal insumo das atividades produtivas, com investimentos na criação artística e intelectual. Também investe na inovação e na produção limpa, com resultados de alto valor econômico agregado.

O primeiro eixo refere-se ao conjunto de atividades cuja essência é a interação entre patrimônio imaterial e tecnologia de ponta. A preocupação está centrada no desenvolvimento dos mecanismos de garantia da propriedade intelectual: quanto vale seu talento? Como mensurar? Quem paga por ele? Como remunerar negócios no mundo virtual?

- Apresenta externalidades positivas nos segmentos produtivos, gerando empregos em todos os níveis das cadeias de valor e promove a construção de identidades multifacetadas, onde afinidades – tribos e grupos de interesse – superam a estratificação econômica e social. - Desenvolve bens e serviços culturais vinculados a universos simbólicos, idéias, modos de vida, informação, valores e identidades que qualificam e diferenciam o território no processo de globalização. Uma cidade que estimula e é estimulada por uma economia especifica, com base na cultura e na tecnologia, torna-se uma cidade inteligente. Ao apropriar a inovação nos ciclos econômicos, os territórios criativos transformam cadeias produtivas em cadeias de valor, qualificando os processos de criação, produção, fruição, distribuição e consumo de bens e serviços. Tais territórios se diferenciam das cidades tradicionais, pois usam o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos de produção.

A cultura é considerada como o novo pilar de desenvolvimento. Um exemplo desta corrente é o caso de Barcelona. O Projeto Barcelona Media foi instalado em uma área degradada, revitalizando-a com a criação de espaços físicos conectados em malhas de tecnologia avançada. O objetivo foi atrair empresas inteligentes, articuladas em redes sociais. Nesse sentido, a economia da cultura se aproximou das chamadas indústrias criativas, com investimento em mídias, e geração de negócios inimagináveis na virada do século XXI. Esta corrente de pensamento aposta em ferramentas tecnológicas e se volta, prioritariamente, para as cadeias produtivas da música, do audiovisual, das mídias, da animação, das artes plásticas e cênicas, e da publicidade, como setores para impulsionar a economia. Em 2002 o Reino Unido criou o Ministério de Indústrias Criativas; França, Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Equador, Índia e Nigéria são exemplos de países importantes nesse contexto. No segundo eixo conceitual, culturalização da economia, o esforço está na utilização de informações culturais para agregação de valor a segmentos tradicionais: turismo, moda, decoração, artesanato, patrimônio arquitetônico, entre outros. É neste modelo que surge o turismo cultural, principalmente o derivado da revitalização de áreas históricas e de preservação do patrimônio arquitetônico.

Segmentos de dinamização nas cidades criativas

Cidades européias da Itália, Portugal e Espanha têm apostado neste processo, com vistas a aumentar o fluxo de turistas e incrementar as receitas de comércio e serviços vinculados à gastronomia e ao entretenimento. Na América Central, destaca-se Cuba, que investe no resgate do seu patrimônio arquitetônico construído. Havana velha está sendo requalificada para dinamizar o circuito turístico da região.

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© Flip Festa Literária

Buenos Aires, na América do Sul, investiu na formação de um cluster de design. Replicando o exemplo portenho, de revitalização da área portuária do Rio Madeira, o Brasil apostou na recuperação urbana do entorno da Baia do Guajará, em Belém do Pará, dando função de entretenimento ao conjunto arquitetônico da região do porto ao Mercado do Ver-o-Peso. Esta mesma direção, embora tardiamente, tem mobilizado o Estado do Rio de Janeiro para a execução do projeto denominado de Porto Maravilha. São grandes os investimentos previstos para a região portuária carioca, orçados em cerca de R$ 200 milhões apenas para a primeira fase, em 2010. A revitalização da malha urbana, do equipamento arquitetônico e o direcionamento para novos usos, certamente colocarão o Rio de Janeiro no seleto grupo de cidades como Barcelona, Bilbao, Nova York e Berlim. Contudo, a experiência mostra que alguns cuidados devem ser tomados. Ao reinventar funções urbanas, com alteração ou incentivos a determinados usos, é fundamental equalizar as propostas com a infraestrutura disponível e a necessária. Também precisam ser neutralizadas as valorizações imobiliárias que expulsam a população local e atraem para os ambientes tratados tipos de investidores pouco sensíveis às dinâmicas de ocupação e à preservação do patrimônio arquitetônico e imaterial. Os desafios que se colocam para as cidades criativas são muitos e o aprendizado está na inovação e no desenho de novas configurações produtivas que, simultaneamente, gerem vantagens locacionais e oportunidades na nova e limpa economia: a economia criativa nas cidades inteligentes.

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OS CAMINHOS SINGULARES DO TURISMO E DA CULTURA DO RIO DE JANEIRO O Rio de Janeiro é uma síntese da história econômica, política, social e cultural do país. Para mapear os eventos que impactaram o Estado, em 2003 o SEBRAE/RJ instituiu o “Projeto de Inventário de Bens Culturais Imóveis – Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro”, em parceria com a UNESCO e o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio - INEPAC. Dentre seus objetivos estava a busca de informações para integrar ações de turismo, artesanato e cultura por meio da identificação dos vestígios materiais sobreviventes ao processo de ocupação do território fluminense. Isto motivou o registro dos elementos – arquiteturas e paisagens - que constituíram o patrimônio cultural edificado no Rio de Janeiro, ao longo dos séculos. A visão do Rio de Janeiro é singular a partir do entrelaçamento de atividades econômicas, superpostas no tempo e no espaço, como a exploração do sal na região litorânea; a implantação da cultura do açúcar, no norte e no noroeste do estado; os caminhos de circulação e escoamento do ouro, em Paraty; e, finalmente, a economia do café, no Vale do Paraíba. Todas estas atividades estimularam modelos de produção, histórias cotidianas e estilos de vida, tendo, no seu conjunto, a contribuição de diversas etnias – do homem branco, negro e índio. A miscigenação das raças e as transformações socioculturais decorrentes contribuíram, e ainda podem servir de insumos, para o desenvolvimento de bens materiais e imateriais com identidade territorial. A cultura, tecida ao longo dos tempos nos caminhos singulares do Rio de Janeiro, apresenta vestígios que podem ser observados à luz da iconografia, da paisagem


natural e da construída. Esses elementos são importantes para o desenvolvimento de empreendimentos turísticos originais, ancorados em uma paisagem cultural. Assim sendo, os caminhos singulares do Turismo e da Cultura do Rio de Janeiro, com a agregação de importantes valores da ocupação do solo, cumprem a função de resgatar a trama da história e os fragmentos culturais que alimentam o desenvolvimento das cadeias de habilidades produtivas da economia criativa fluminense. Em síntese, o recorte espacial configurado territorialmente pelos caminhos singulares do Rio de Janeiro constitui o que se denomina de “região do espaço vivido”. São territórios que podem se referenciar no tecido das relações sociais, econômicas, culturais e ambientais em permanente construção. Os padrões de ocupação e uso do solo, as tipologias habitacionais, os vínculos comunais e de parentesco, as crenças e mitos, a herança dos bens materiais e imateriais, entre outros, são elementos importantes para o desenvolvimento endógeno, com foco numa produção criativa genuína e com identidade.

tiva, e as cidades criativas, como modo contemporâneo de produzir na sociedade do conhecimento. A economia do conhecimento e da criatividade precisa identificar novas forças produtivas; utilizar mão-de-obra preparada, formada e consciente de suas crenças e valores. As cidades e territórios passam a ser vistos como cenários que facilitam a diversidade cultural através da arquitetura, dos equipamentos de entretenimento, da museologia e a da arqueologia. Tais elementos favorecem o intercâmbio, a troca e estimulam a competitividade a partir de cadeias de valor. Por outro lado, a ausência de definições teóricas mais assertivas contribui para que o campo de estudo das cidades criativas seja ainda nebuloso. Surgem conceitos superpostos que se misturam na utilização de termos como: indústrias culturais, indústrias criativas, economia criativa, economia da cultura e culturalização da economia.

A NOVA ECONOMIA DA CULTURA De modo geral, a atuação em cidades criativas deve ter como pressuposto a aceitação da cultura como um direito universal e que permite a (re)construção de identidades e empreendimentos. Nessa perspectiva, o setor público tem papel fundamental na criação de mecanismos de coesão social, na criação de bens e na distribuição de riqueza, via regulamentação do mercado para o exercício saudável de negócios inovadores. A cultura é considerada como o novo pilar de desenvolvimento. Nesse contexto, o binômio da cultura e da educação assume um papel de centralidade no processo de construção e de consolidação da sociedade do conhecimento. A cultura passa a ser um sistema, que propicia a interdependência e as relações entre os setores públicos, privados e a sociedade civil, para o estabelecimento de uma economia diferenciada no século XXI. Para isto, é fundamental: (1) articular diferentes formas de manifestações culturais que se complementam, gerando economias de escala; (2) ampliar as oportunidades de ofertas culturais em determinadas regiões, atraindo consumidores que buscam turismo e entretenimento responsável; (3) promover a convergência de ações para a criação de novos mercados; e (4) validar que os insumos básicos desse mercado são a inovação e a imaterialidade para a geração de novos produtos e negócios. Para que esses paradigmas se consolidem, é preciso fazer coexistir a cultura como uma tradição estética; como visão antropológica em que tudo é cultura; e a visão de mercados culturais, como o lugar das trocas. A nova economia funda-se na lógica da diversidade cultural, dando subsídios para conceituar a economia cria-

http://portomaravilha.com.br

Como a sociedade do conhecimento, e as redes de relacionamento, modelam a cidade criativa, a ênfase é a busca de remuneração do simbólico, do intangível e do imaterial. Entre os temas desafiadores para um trabalho consistente neste campo, destacam-se: - O patrimônio material e imaterial como recurso sustentável e remunerável, através do incremento da criatividade para a geração de novos negócios. Entram em cena as metamorfoses entre o global e a diversidade local, com a centralidade dos movimentos culturais das periferias urbanas. - As indústrias culturais e as trocas tecnológicas na construção de redes sociais de interatividade, compartilhamento, intersetorialidade e governança. Ressalta o dilema da identidade, da hegemonia, e o uso da cultura como setor econômico. Os argumentos reforçam que a modelagem de cidades criativas, bem como os referencias teóricos que orientam suas atividades, estão em construção. Estudiosos, empreendedores e profissionais do setor precisam amadurecer estratégias, e estabelecer linhas de trabalho que sejam coerentes com os conceitos e as expectativas do momento atual: construir cidades, ou revitalizar seus usos, com criatividade. *Este texto respeita o original em português do Brasil

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Foto do autor

CRIATIVIDADE É A PALAVRA-CHAVE PARA A INOVAÇÃO: UMA POLÍTICA PÚBLICA PARA A ECONOMIA CRIATIVA EM GOIÁS*

Decio Tavares Coutinho Superintendente Executivo da Secretaria de Estado da Cultura em Goiás, Brasil

Há duas palavras que são “conjugadas” com especial veemência quando falamos do potencial para a inovação: empreendedorismo e criatividade. Com uma persistência bem maior, esta última começa a surgir nos estudos e nos relatórios econômicos mostrando como empresas e instituições se propõem a enfrentar a crise que o mundo atravessa. Goiás é um peculiar e singular estado brasileiro que tem todas as condições para trilhar um novo caminho e abrir essa inovadora “janela de oportunidades”. Possui toda uma série de arquiteturas culturais e de atividades criativas que estão disseminadas pelos principais núcleos urbanos e rurais do estado, mas falta estabelecer “conectividade” e dar uma nova “alavancagem”, reposicionando o estado com sua expertise em tecer redes urdidas pela sua rizomática diversidade. Nosso Estado vive atualmente uma conjuntura especialmente propícia à experimentação e à aplicação prática de algumas medidas que permitem empreender novos caminhos. O nosso patrimônio é um campo fantástico. Associamos a esse argumento o movimento de pessoas de outros estados para Goiás e também o retorno de muitos goianos, como se pode verificar nas ruas e novas ocupações espaciais e funcionais. Outro aspecto fundamental que facilita a criatividade e o empreendedorismo é o crescimento econômico vivido em Goiás, superior aos índices chineses. Veja em http:// issuu.com/marconiequipe/docs/jornal?mode=window& backgroundColor=%23222222.

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Do ponto de vista da cultura, temos exemplos emblemáticos de cidades ou regiões de Goiás que passaram a ser conhecidas, gerando e distribuindo renda e ocupação a partir da realização de produções culturais e atração de talentos. Podemos citar como exemplos, dentre outros, a Chapada dos Veadeiros, Goiânia e Rio Quente. Ao se-


rem captadas pela lente cinematográfica, disseminam-se como destino turístico, atraindo visitantes interessados em elementos vistos nos filmes ou novelas, como aqui vivenciamos na região do Araguaia, Cidade de Goiás e Pirenópolis. Temos ainda aquelas localidades que se descortinam para o mundo, sediando eventos, como é o caso de festivais de cinema e de música, além das festas populares e religiosas que movem milhares de pessoas e reais, integrando diversas atividades, principalmente aquelas ligadas ao artesanato, à gastronomia e ao turismo, objetivando fortalecer a identidade cultural do território centrado na criatividade e na cultura. Catalão, Colinas do Sul, Niquelândia e Trindade vivenciam estas experiências reais. Só avançaremos nas políticas de desenvolvimento da Economia Criativa em Goiás se tivermos uma melhor compreensão das complexas relações que se estabelecem nos territórios. Precisamos mapear o modo como os vários fatores se relacionam de forma a obter resultados positivos não sendo apenas uma articulação generalista nem economicista, mas sim numa articulação que concilie políticas locais e regionais. A organicidade do relacionamento entre os vários agentes deve ser entendida, pois estes se influenciam mutuamente. Temos claro que a criatividade é um fator-chave para a competitividade, agregando valor aos serviços e bens e, conseqüentemente, gerando oportunidades inovadoras de desdobramentos tais como emprego, lucro e impostos, construindo uma “ecologia criativa”, um ambiente favorável onde se incluem bem-estar, sustentabilidade e inclusão social. Uma política pública para a Economia Criativa em Goiás Em Goiás encontramos uma riqueza de recursos e potencialidades fundamentais para o estabelecimento dessa “ecologia criativa”: 1. 2. 3. 4.

Historia e herança Economia pulsante Classe criativa jovem Cultura de inovação impregnada na sociedade

Ao propor o programa Goiás Criativo elaboramos os eixos que julgamos mais oportunos e potencializadores das riquezas acima citadas, para esse novo modelo de desenvolvimento:

Decio Tavares Coutinho é Mestre em Gestão do Patrimônio Cultural pela PUC-Goiás. Especialista em “Sociedades Pós-Industriais e Organizações Criativas” na S3 Studium - Itália, com o sociólogo Domenico de Masi e em “Economia Criativa” na Fundação Barcelona Media - Espanha. Foi Coordenador de Cultura no SEBRAE Nacional e atualmente é Superintendente Executivo da Secretaria de Estado da Cultura em Goiás.

1. Fortalecer a ação do Estado no planejamento e na execução das políticas públicas para os setores criativos; 2. Incentivar, proteger e valorizar a diversidade artística e cultural goiana; 3. Universalizar o acesso dos goianos à fruição e à produção nos setores criativos; 4. Ampliar a participação da cultura e da criatividade no desenvolvimento sustentável; 5. Consolidar os sistemas de participação social na gestão das políticas para os setores criativos. Para alcançá-los estabelecemos as seguintes diretrizes prioritárias:

1. Capacitação e assistência ao trabalhador criativo – principalmente pelo escritório Criativa Birô, ver http://www.aredacao.com.br/artigo. php?noticias=10844; 2. Estímulo ao desenvolvimento da Economia Criativa e da Cultura Digital; 3. Turismo cultural – desenvolvimento intersetorial para a Economia Criativa; 4. Regulação econômica – consolidação institucional de instrumentos regulatórios; 5. Estabelecimento de sistemas de informações e indicadores para a Economia Criativa; 6. Marketing, Branding e Comunicação. É exatamente para tentar debater novos modelos e rotas de inovação que propomos o tema da criatividade: não como epicentro dos problemas, mas sim na conquista de soluções. Isso tudo só se consolidará e terá sustentabilidade se houver o engajamento da sociedade. É hora de adotar esta abordagem central do desenvolvimento para que as comunidades de Goiás aproveitem ao máximo estas novas oportunidades propostas no Programa Goiás Criativo. Com esta e para as próximas gerações.

*Este texto respeita o original em português do Brasil

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POR UM BRASIL CRIATIVO O Plano Brasil Criativo será entregue até 15 de Setembro pelo Ministério da Cultura à Presidente Dilma Rousseff com vista ao estímulo e fortalecimento da economia criativa no país.

Há muito se fala de economia criativa no Brasil, mas a institucionalização da Secretaria da Economia Criativa no âmbito do Ministério da Cultura, em 2011, veio dar um novo impulso a uma estratégia assente na criatividade. Não se trata apenas de apostar nas indústrias criativas, mas de tornar a cultura num eixo estratégico de desenvolvimento do estado brasileiro. Num conceito abrangente, a economia criativa brasileira assenta na inovação, sustentabilidade, diversidade cultural e inclusão social como princípios norteadores. A inovação como factor de diferenciação e de criação de riqueza nos sectores criativos brasileiros quer na integração entre as novas tecnologias e os conteúdos culturais, quer nas artes em sentido estrito. A sustentabilidade nas suas vertentes social, cultural, ambiental e económica, garantindo um modelo de desenvolvimento benéfico para as gerações futuras, numa lógica de aposta numa economia e sociedade verdes. A diversidade cultural como activo essencial para uma nova compreensão do desenvolvimento, assente em dinâmicas de valorização, protecção e promoção da diversidade de expressões culturais nacionais enquanto recurso social e económico. A inclusão social nas suas dimensões de inclusão produtiva, com vista a garantir a igualdade de oportunidades no acesso ao trabalho, e de direito de escolha e acesso aos bens e serviços criativos brasileiros.

ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA - PRINCÍPIOS NORTEADORES

diversidade cultural

inovação

economia criativa brasileira

sustentabilidade

inclusão social

Fonte: Plano da Secretaria da Economia Criativa 2011-2014

DESAFIOS E ACÇÕES No Plano da Secretaria da Economia Criativa 20112014 são apontados um conjunto de desafios para a economia criativa brasileira que se reflectem nos seus vectores de actuação. 1º Desafio Levantamento de informações e dados da economia criativa brasileira: Pretende-se realizar um conjunto de estudos e pesquisas acerca dos sectores da economia criativa brasileira, com vista à geração de informação e conhecimento de suporte à tomada de decisão das políticas públicas.

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2º Desafio Articulação e estímulo ao fomento de empreendimentos criativos: Visa responder à necessidade de acesso a recursos financeiros por parte dos empreendimentos criativos, assim como ao desenvolvimento e replicação de tecnologias sociais. 3º Desafio Educação para as competências criativas: Orienta-se para a promoção da construção de competências criativas, abarcando não só os conteúdos de natureza técnica mas também as capacidades organizacionais e pessoais, assim como a compreensão das dinâmicas socioculturais e políticas. 4º Desafio Infra-estruturas de criação, produção, distribuição/ circulação e consumo/fruição de bens e serviços criativos: Trata-se de promover infra-estruturas de criação, produção, distribuição e consumo de bens e serviços criativos de acordo com as práticas culturais, processos produtivos e tecnologias utilizadas pelos diferentes segmentos criativos. 5º Desafio Criação/adequação de marcos legais para os sectores criativos: Visa actuar na criação de marcos legais que compreendam as especificidades dos empreendimentos e profissionais criativos, a nível fiscal, laboral, de propriedade intelectual, etc.

REALIZAÇÕES 2012 Observatório Brasileiro de Economia Criativa O Observatório Brasileiro de Economia Criativa (Obec: www.cultura.gov.br/economiacriativa) visa produzir, reunir e difundir informações quantitativas e qualitativas sobre a economia criativa brasileira. Sob a responsabilidade da Secretaria da Economia Criativa, corresponde a um investimento de 12,4 milhões de Reais. Para além do observatório nacional, lançado a 1 de Junho, pretende-se ainda implementar em 2012 14 Observatórios Estaduais, 12 nos estados-sede da Copa do Mundo de 2014 (Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo) e 2 nos estados que já acordaram instalar Criativas Birô (Acre e Goiás). Tratam-se de espaços académicos vinculados às universidades federais e estaduais com o objectivo de produzir informação e conhecimento, gerar experiências e experimentações sobre a economia criativa local e estadual. Uma das acções do Obec foi o lançamento do Fórum Brasileiro de Economia Criativa que se traduz numa instância permanente e itinerante que irá debater temas relacionados com a cultura, desenvolvimento e economia criativa do Brasil. Criativas Birô

economia criativa brasileira vector macroeconómico

vector microeconómico

desenvolvimento e monitorização

empreendedorismo, gestão e inovação

territórios criativos

fomento a empreendimentos criativos

estudos e pesquisas

formação para competências criativas

marcos legais

redes e colectivos

As Criativas Birô são equipamentos públicos estaduais destinados ao atendimento e suporte técnico a profissionais e empreendimentos criativos. Têm como finalidade promover e fortalecer as redes e arranjos produtivos dos sectores criativos brasileiros, a partir da disponibilização de informação e oferta de diversos serviços de consultoria e assessoria técnica e jurídica, cursos de capacitação, entre outros. Foram lançados, desde Dezembro de 2011, cinco projectos-piloto de Criativas Birô nos estados de Goiás, Acre, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com um investimento previsto de 6 milhões de Reais. Pretende-se alargar esta rede por todo o Brasil até 2014. Acresce a criação de Criativas Birô Internacionais com o objectivo de promover a distribuição de produtos com a marca brasileira, aproveitando as oportunidades proporcionadas pela Copa do Mundo e Olimpíadas. Prémio Brasil Criativo

Fonte: Plano da Secretaria da Economia Criativa 2011-2014

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O Prémio Brasil Criativo integra um edital de fomento de iniciativas empreendedoras e inovadoras e um edital de apoio à pesquisa em economia criativa, ambos publicados em Dezembro de 2011.


O primeiro, com um investimento de 3,6 milhões de Reais, visa identificar, reconhecer, fomentar e difundir as iniciativas empreendedoras e inovadoras da sociedade civil no âmbito do sector criativo. Serão premiadas 150 iniciativas nas seguintes áreas: modelos de gestão de empreendimentos e negócios criativos e formação para competências criativas. O segundo pretende seleccionar estudos e pesquisas acerca da economia criativa, com um investimento de 180 mil Reais. Serão premiadas 22 pesquisas (teses de doutoramento, dissertações de mestrado e produções em grupo). As inscrições foram apresentadas pelos proponentes até 30 de Abril. Os resultados da primeira fase foram publicados em Julho, tendo sido habilitadas 376 inscrições para o primeiro edital e 42 para o segundo. Rede Brasileira de Cidades Criativas Através da criação de uma Rede Brasileira de Cidades Criativas, pretende-se reconhecer as cidades que instituíram políticas públicas de desenvolvimento a partir de soluções baseadas na criatividade e na cultura local. A atribuição de chancelas às cidades será realizada em Novembro, por ocasião do Dia da Criatividade, a partir da avaliação de um conjunto de critérios onde se destacam a herança cultural e as vocações locais.

Algumas Metas 2014

Estas cidades receberão apoio do governo federal para o fomento da fixação nos territórios de empreendimentos criativos, estando prevista a nomeação de agentes de desenvolvimento que darão assessoria às cidades criativas.

• 27 Observatórios estaduais de eco-

PLANO BRASIL CRIATIVO O produto final do trabalho da Secretaria da Economia Criativa, no ano de 2012, traduz-se no Plano Brasil Criativo. Trata-se da formalização do desafio de construir uma nova alternativa de desenvolvimento para o Brasil assente na economia criativa, afigurando-se como complementar aos planos “Brasil sem Miséria” (www.brasilsemmiseria.gov.br/) e “Brasil Maior” (www.brasilmaior.mdic.gov.br/). É um plano a 20 anos que resulta da articulação das políticas e programas de mais de 10 ministérios, com foco no desenvolvimento regional e local, fomentando micro e pequenos empreendimentos criativos, através da formalização de negócios e da formação empreendedora a inovadora.

• Observatório nacional de economia criativa nomia criativa • Conta satélite da cultura • 80 cidades chanceladas na Rede brasileira de cidades criativas • 30 bacias criativas • 30 pólos criativos • 60 criativas birô • 30 incubadoras de empreendimentos criativos • Crédito criativo • Formalização de 300.000 empreendedores criativos individuais • Qualificação de 60.000 profissionais criativos

O documento será entregue à Presidente Dilma Rousseff no próximo dia 15 de Setembro, afirmando a criatividade brasileira como motor de desenvolvimento.

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A Cidade Perfeita em debate na Revista Visão A Revista Visão e a Siemens, em parceria com a INTELI, lançaram o projecto “Cidades Portuguesas em Busca da Perfeição”. Ao longo das cinco semanas de Agosto foram mapeados e apresentados 50 projectos de excelência das 25 cidades portuguesas que integram o Living Lab RENER – Rede de Cidades para a Sustentabilidade Urbana. A selecção dos projectos foi efectuada pela INTELI, no âmbito da iniciativa “Índice de Cidades Inteligentes 2020” (http://www.inteli.pt/pt/go/indice-cidades-inteligentes-2020) que pretende posicionar estrategicamente as cidades portuguesas em matéria de inteligência urbana, resultando numa base de informação e conhecimento municipal de suporte à tomada de decisão dos poderes públicos e actores económicos e sociais. O índice integra cinco dimensões de análise: governação, inovação, sustentabilidade, inclusão e conectividade. Foram, assim, escolhidos 10 projectos por cada dimensão que irão ser votados pelo público com vista à selecção da melhor iniciativa municipal de intervenção urbana. Acresce o lançamento do Prémio Cidades que visa apoiar um projecto inovador, diferenciador e viável com grande potencial de replicabilidade e com evidente impacto na vida dos cidadãos, tendo como pano de fundo o conceito de ‘cidade inteligente’. Os interessados poderão consultar o regulamento e ficha de inscrição em: http://visao.sapo.pt/regulamento-do-premio-cidades=f677097. O projecto vencedor será apresentado publicamente num workshop sobre cidades inteligentes, a realizar em Novembro, onde será também lançado o relatório do índice de cidades inteligentes de 2012. http://visao.sapo.pt/cidades-portuguesas-em-busca-da-perfeicao=f679189

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Projecto RE-GREEN organiza Conferência em Potsdam A INTELI e a Universidade de Potsdam (Alemanha) encontram-se a organizar uma conferência centrada na reabilitação e eficiência energética dos edifícios, no âmbito do projecto Europeu RE-GREEN – “Regional Policies towards Green Buildings”. O evento terá lugar em Potsdam (Alemanha) nos próximos dias 24 e 25 de Setembro. O projecto RE-GREEN, liderado pela INTELI, tem como objectivo contribuir para a melhoria das políticas de desenvolvimento regional orientadas para a promoção de regiões verdes, no seio do novo paradigma da “Economia Verde”, com foco na reabilitação de edifícios (públicos) através do fomento da eficiência energética e utilização de energias renováveis. http://www.re-green.eu/en/noticias/go/news/potsdam-hosts-the-re-green-interregional-workshop

Green Campus entrega prémios a estudantes No passado dia 5 de Julho realizou-se a sessão de entrega de prémios do Green Campus – “Desafio Eficiência Energética no Ensino Superior”, um projecto de parceria entre a INTELI, o Instituto Superior Técnico e a Selfenergy. Tem ainda o apoio institucional do Programa MIT Portugal, sendo financiado através do PPEC – Plano de Promoção da Eficiência no Consumo da Energia Eléctrica, uma iniciativa promovida pela ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos. A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o Instituto Superior de Engenharia do Porto e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança, receberam por esta ordem os três primeiros prémios. Na lista dos vencedores consta ainda o Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (Portimão) distinguido pela melhor medida técnica e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, que se destacou com a melhor medida comportamental. A iniciativa contou com a participação de 81 equipas num total de 319 participantes, entre professores e alunos. As melhores medidas propostas estão a ser compiladas num livro – “Eficiência Energética no Ensino Superior” – numa lógica de casos de estudo. Este manual, a ser distribuído gratuitamente no universo do ensino superior, contará com a participação de inúmeros especialistas que abordarão temas diversos, como a iluminação, a climatização, a reabilitação térmica, as energias renováveis, a gestão e manutenção e os factores comportamentais. O lançamento do livro está previsto para Novembro. http://www.greencampusportugal.info/

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Norte é finalista do “European Creative Districts” A Região do Norte é finalista no concurso lançado pela Comissão Europeia “European Creative Districts”, com a candidatura “Designort – From a design to a creativity driven Norte Region strategy”. A iniciativa é coordenada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e resulta de uma parceria que integra os Municípios de Paredes, São João da Madeira, Santo Tirso e a Região Irlandesa Border, Midlands e Western (BMW). A candidatura apresenta uma proposta de articulação entre a Oliva Creative Factory (São João da Madeira), o Pólo de Design Mobiliário (Paredes) e a Incubadora de Santo Tirso, visando a renovação da economia industrial da região. A Comissão pretende apoiar projectos que promovam a articulação entre as indústrias criativas e as indústrias tradicionais, sendo que as iniciativas vencedoras serão anunciadas no último trimestre deste ano. http://www.ccdr-n.pt/pt/noticias/detalhes.php?id=2472

Ano de Portugal no Brasil inaugurado a 7 de Setembro Os Anos de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal inauguraram dia 7 de Setembro e vão encerrar no dia 10 de Junho de 2013. Portugal pretende, através de uma programação multidisciplinar, mostrar no Brasil a criatividade e o conhecimento portugueses nas artes, cultura e pensamento, na economia e inovação tecnológica, na ciência e investigação. Na abertura do evento, em Brasília, o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros anunciou a criação de uma incubadora para empresas portuguesas na cidade de São Paulo, que deve começar a funcionar em 2013. Um dos objectivos é apoiar a instalação de empresas nacionais no Brasil, apoiando-as com aconselhamento jurídico e alfandegário. http://www.anobrasilportugal.com.br/brasil-portugal/

Comissão Europeia publica apelo a candidaturas no sector criativo Em 10 de Julho, a Comissão Europeia publicou um apelo a propostas no âmbito do 7º Programa-Quadro em diferentes áreas de investigação e inovação, incluindo o sector cultural e criativo. Neste âmbito, de destacar o objectivo 8 – “ICT for Creativity and Learning” do Programa Cooperação – Tecnologias de Informação e Comunicação, que visa produzir ferramentas interactivas para as indústrias criativas, promover a criatividade dos profissionais criativos e antecipar tendências futuras em termos de investigação e inovação para encorajar a interacção entre diferentes segmentos das indústrias criativas. O prazo para apresentação de candidaturas é 15 de Janeiro de 2013. http://ec.europa.eu/research/participants/portal/page/ cooperation?callIdentifier=FP7-ICT-2013-10


A Criatividade dos Territórios, Estratégias e Políticas São João da Madeira – 20 e 21 Setembro É o 1º Seminário Internacional da Oliva Creative Factory dedicado ao tema da criatividade nos territórios. Contará com a presença de Paul Collard, integrando ainda mesas redondas compostas por representantes de algumas incubadoras nacionais que irão discutir os desafios da gestão associados às incubadoras de negócios criativos. Prevê-se, ainda, três sessões de trabalho intituladas “Incubadoras: Que serviços e modelos de gestão?”; “A criatividade no território: Que estratégias?”; e “Rede de incubadoras do Norte: Que cluster?”. http://www.olivacreativefactory.com/noticias.html

Fórum de Economia Criativa “Cultura, Ciência e Tecnologia, Novos Modelos de Desenvolvimento” Lisboa – 21 e 22 Setembro Este seminário enquadra-se no Ano de Portugal no Brasil e no Ano do Brasil em Portugal e irá discutir novos modelos de desenvolvimento assentes na cultura, na ciência e na tecnologia. O evento contará com painéis dedicados à diversidade cultural e sustentabilidade, fomento de novas tecnologias para empreendimentos criativos e marcos legais da economia criativa brasileira e portuguesa. http://canelaehortela.com/anno-de-portugal-no-brasil-e-anno-do-brasil-em-portugal-pretende-abrir-mentalidades

Rethinking Cities: Framing the Future Barcelona – 8 a 10 Outubro Este é o 6º seminário no âmbito do conhecimento e investigação urbana, organizado pelo Banco Mundial, a Cidade de Barcelona e alguns parceiros-chave. O seminário irá mais uma vez discutir temas cruciais para as cidades, com o objectivo de contribuir para a tomada de decisão em áreas como a sustentabilidade, a economia, o ambiente e a igualdade social. http://www.rethinkingcities.org/

Quarteirões Culturais – Experiências e Desafios Santo Tirso – 25 a 27 Outubro Esta conferência vai ao encontro da estratégia implementada pelo Município de Santo Tirso, centrada na regeneração urbana e na revitalização de alguns edifícios degradados na cidade, que deram origem ao Quarteirão Cultural. O evento contará com a troca de conhecimentos e experiências de alguns oradores nacionais e internacionais, workshops temáticos e visitas de estudo. Em paralelo, serão promovidas exposições, desfile de moda e “after party”. http://seminarioquarteiroesculturais.pt/pt-pt

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SITES & LINKS

Rio Criativo - http://www.riocriativo.rj.gov.br/index.php

European Creative Industries Alliance

Criaticidades – Cidades Criativas do Brasil

Creative Europe

Cemec – Escola de Negócios Criativos

The European Association for Creativity and Innovation

Creative New Zealand

LIVROS & ARTIGOS

Creative City Index

https://www.howtogrow.eu/ecia/

http://ec.europa.eu/culture/creative-europe/

http://www.eaci.net/

The Creative Industries: Culture and Policy Terry Flew, SAGE, 2012

Este livro é um misto de novas ideias e perspectivas sobre as indústrias criativas e a economia criativa. Aborda temas variados, que vão desde a inovação económica à geografia cultural. Apresenta, ainda, um conjunto de casos de estudo no sector criativo orientados para investigadores, decisores políticos e estudantes.

Economia Criativa: Um Conjunto de Visões Fundação Telefônica/Vivo, Agosto 2012

Esta publicação é uma compilação de artigos apresentados durante o seminário “A Sociedade em Rede e a Economia Criativa” que ocorreu em Junho de 2011. Reúne um conjunto de informação referente ao estado actual da economia criativa no Brasil.

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http://www.criaticidades.com.br/

http://redecemec.com/

http://www.creativenz.govt.nz/en/

J.Hartley, J. Potts e T. MacDonald com C. Erkunt e C. Kufleitner, ARC, Fevereiro 2012 Pretendendo avaliar o conceito e o estado das cidades criativas globais, esta publicação visa melhorar os índices existentes. Tem uma metodologia assente em oito dimensões principais, com influência de alguns índices como o MORI ou GaWC vocacionados para as indústrias criativas, as amenidades culturais ou a classe criativa. O seu objectivo é ir um pouco mais além juntando indicadores que vão da participação criativa às redes de consumidores.


Creative Knowledge Cities: Myths, Visions and Realities A. Fernandez-Maldonado e Roberto Rocco, Abril 2012

Este livro é uma reflexão crítica sobre as cidades, recorrendo a alguns casos de estudo conhecidos. É utilizada uma abordagem integrada e pragmática para avaliar conceitos, políticas, factores chave e ferramentas para a promoção e o progresso criativo nas cidades.

Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidades Prefeitura de São Paulo/FUNDAP, Junho 2012

Este livro é resultado de um estudo sobre a economia criativa de São Paulo, dando a conhecer um conjunto de actividades e iniciativas criativas promovidas e/ou instaladas na cidade, bem como a metodologia adoptada neste mapeamento. São revelados indicadores interessantes, como a economia criativa ser responsável por 3% do emprego em São Paulo, em 2009.

World Cities Culture Report BOP, Agosto 2012

Este relatório reflecte algumas ideias chave sobre o papel da cultura na política das cidades. Berlim, Istambul, Joanesburgo, Londres, Bombaim, Nova Iorque, Paris, São Paulo, Xangai, Singapura, Sidney e Tóquio, são as cidades eleitas para análise. O grande objectivo é mostrar que a cultura é uma dimensão tão importante nas cidades como a economia. Ela educa, gera negócios, emprega e dinamiza a vida das cidades. http://www.worldcitiesculturereport.com/

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FICHA TÉCNICA Edição e Coordenação: INTELI Equipa: Catarina Selada, Daniela Guerreiro, Elisabete Tomaz, Maria João Rocha e Diana Reis Colaboraram nesta edição: Miguel Silvestre (Óbidos Criativa EEM), Heliana Marinho (Sebrae, Brasil) e Décio Tavares Coutinho (Secretaria de Estado da Cultura em Goiás, Brasil) Design gráfico: Mónica Sousa (INTELI) Fotografia de capa: Elisabete Tomaz (INTELI)


A INTELI é um think-and-do-thank que actua na área do desenvolvimento integrado dos territórios a nível económico, social, cultural e ambiental, através do apoio às políticas públicas e às estratégias dos actores locais. Opera nos domínios da cultura e criatividade, energia e mobilidade e inovação social, procurando contribuir para a afirmação de cidades e regiões mais criativas, sustentáveis e inclusivas.

INTELI – Inteligência em Inovação, Centro de Inovação Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 11, 4º 1070-072 Lisboa – Portugal Tel: (351) 21 711 22 10 Fax: (351) 21 711 22 20 Website: www.inteli.pt E-mail: citiesbrief@inteli.pt


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