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Amazônida

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Poemas Curtos

Poemas Curtos

Eu nasci nessa cidade Que tem o nome de Manaus Manauara assim me chamam Sou urbana, da capital

E pensava que amazônida Essa palavra-conceito Era também minha identidade Por ela eu batia no peito

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Mas nunca aprendi a nadar Nem remar ou coisa assim Quando viajava pra outro lugar Sempre perguntavam de mim

Como eram nossos rios E os gigantes que aqui habitam Como era a nossa floresta Era isso que achavam bonito

Mas então o que eu sabia Além do que lia nos livros? Além do que via nas ruas? Além do que diziam os antigos?

Era manauara Sem conhecer o Amazonas Comecei a lamentar

Minha avó que me contava Histórias de Tarauacá Do interior do Acre Minha mãe veio de lá

Diziam que era bem longe Até os vizinhos eram esparços Para visitar algum deles Só remando mesmo no braço

Mas tinham as procissões Que reuniam as gentes Os santos ficavam numa casa Quem chegava era parente

Na casa de minha avó Essas festas eram tradição Matava-se porco e galinha Para receber a procissão

E os festejos amanheciam Depois das rezas a festança Momentos para confraternizar Velhos, adultos, crianças

Uma vidinha modesta Um estirão de só lonjura Um lugar de sonhar fora

Mas de lá enfim saíram Trouxeram saudades tantas! Porque aqui tinha emprego Com a chegada da Zona Franca

Primeiro os homens vieram E as mulheres não puderam cuidar Do cantinho de terra que tinham Também precisaram se mudar

E pelo rio todas seguiram Na embarcação, apertadas Tanta gente peregrinando Com suas trouxas, redes atadas

Sem saber o que esperar Mas esperando coisas boas Foram se juntando aos parentes Ninguém podia ficar à toa

Esperanças costuradas Nos farrapos que traziam Dos estilhaços que deixavam

Minha mãe, jovem cabocla Chegou mesmo sem saber Nenhuma palavra ou número Sem saber ler e escrever

Foram tempos bem cruéis Que ela enfrentou com coragem Suportou com altivez Não desistiu da viagem

O trabalho que se tinha Era nas casas das patroas Limpar, lavar o que havia E elas não eram boas

Repetindo a sina Faxina, dinheiro pouco Essa era a nova vida

Então conheceu o meu pai Caboquinho do Pará Um romance sem promessas Cada um no seu lugar

Uma história pra uma estrofe Eu vim ao mundo Que sorte!

E eu nasci em Manaus A capital do Estado Mas do Estado eu nada sabia Porque Manaus é um cercado

Pensamos que é um mundo De prédios, ruas e casas Sem árvores ou rio à vista Um mormaço que arrasa

Meu trabalho me fez conhecer Outras cidades ao redor Manaus que era então uma ilha Na verdade não está só

Ela escoa pra outros portos Mesmo que negue sua origem De cidade flutuante Suas irmãs ainda lhe dizem

Há mais amazônidas espalhados Pelos cantos que seguem o Negro Pelos cantos que seguem o Solimões Que de saber já me alegro

Em Manaus não é só de estrada Que se vai a todo lugar No interior é o barco Quando o rio quer te levar

Esse encontro é necessário Pra saber-se mais Que citadino de capital

Pegar um barco ou lancha Cruzar os rios em horas Dias a fio em que se vê A natureza que demora

Que nos ensina outro tempo Que não é o relógio que diz Um tempo de sabedoria Pra ser amazônida raiz

E começa quando se sente A imensidão da natureza A pequenez do humano E esse tipo de beleza

De olhar e reconhecer Quem somos nós nesse mundo Que poder temos aqui Nesse rio escuro e profundo

Homem e rio Se ele quisesse Nos engolia

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