5 minute read

Vida de Professora - a Saga

Next Article
Amazônida

Amazônida

Hoje me peguei pensando No que é ser Professora Os problemas que enfrentamos Mesmo quando se é doutora O trabalho não se esgota Até depois de lançar nota E pior quando se é gestora

Vou contar então essa saga Bem do meu ponto de vista Alguns podem dizer que é praga Outros podem anotar a lista Dos desprazeres que somam À vida dos que tomam Profissão não tão bem quista

Advertisement

A FORMAÇÃO

Quem olha de fora não vê Esse trabalho exaustivo Pensa, supõe e até crê Que conhecimento é contemplativo Que não precisa dedicação Ler não é só decodificação É um trabalho reflexivo

Aprender esse ofício Requer anos de estudo Preparação e sacrifícios Para entrar nesse outro mundo Precisa investimento Custa caro esse tempo E não se chega a aprender tudo

Para se formar professor Tem que fazer Licenciatura Esse desafio exige amor E uma boa dose de loucura São quatro anos de curso Uma vida nesse percurso Uma estrada que não é segura

Disciplinas sérias, complexas Fazemos em cada período Costurando leituras conexas E até as que não fazem sentido Trabalhos, pesquisas e provas Até saírem as boas-novas: Próximo período garantido!

É muita correria que passa O estudante que faz essa escolha Talvez você até ache graça Ou quem sabe me acolha O licenciando entre tantos Que escolheram outros recantos Precisa encontrar a sua bolha

E suportar todavia Chacotas que possa sofrer Por escolher entre as que havia Essa carreira para viver Se apoiar nos amigos loucos Que vai encontrar pouco a pouco E vão dizer: Estamos com você!

PROCURANDO EMPREGO

Depois de formado começa A correria por um emprego Quem sai da faculdade tem pressa Não tem um dia de sossego Não tem mais meia-passagem A realidade é a mensagem: - Agora é contigo, meu nêgo!

Os estágios até ajudam A encontrar portas abertas Mas se de categoria mudam A porta já é incerta Pra estagiário tem vaga Mas pro formado, nem água Nessa sala tão deserta

O concurso é opção Que o licenciado procura Segurança, salário na mão Sem precisar de aventura Mas concurso não tem todo dia Esperar é uma agonia Uma verdadeira tortura

E muitas vezes acontece Do licenciado assumir Mesmo atendendo à sua prece Várias escolas pra seguir Carga horária pequena Correria que não vale a pena Mas é o que se tem por aqui

E assim vai abrindo caminho Sua estrada de chão batido Não se sente mais tão sozinho Pois outros caminham consigo A categoria se mostra Nesse jogo uma boa aposta Sua classe é seu partido

NA SALA DE AULA

Quando chega na sala de aula Outros desafios se apresentam Pra começar é preciso ter calma Respirar, não perder o alento Lidar com crianças e jovens E toda a energia que os movem Requer sabedoria e talento

Às vezes a impressão Que se tem nessas horas É que não houve preparação Para enfrentar o que tem aqui fora O mundo em constante mudança Produz diferentes crianças Não vale a pedagogia de outrora

E o professor vai ajustando O conhecimento recebido As brigas que vai apartando Nesse cotidiano vivido A realidade da escola Nem sempre tá na sacola Dos teóricos que tinha aprendido

Cada realidade um contexto Que é preciso interpretar Mais difícil que o complicado texto Que ele um dia teve que fichar Mas a experiência vai se instalando A cada ano que vai passando Até você se acostumar

E ganhar mais confiança No ofício de todo dia Até o pavor ser uma lembrança Que ao chegar você sorria Sala de aula ensina Tanto quanto desanima Mas é um espaço de alegria

E O SALÁRIO

Essa profissão desmotiva Quando o salário cai na conta Porque se tem uma perspectiva Que os valores não dão conta Querer comprar material Para uma aula especial Se olha o contracheque, desmonta

E os livros para ampliar O conhecimento adquirido? Pois o mundo está sempre a mudar As estratégias seguem o ocorrido Não se pode parar no tempo E é preciso mais investimento Se é outro o espaço preterido

Quem é sozinho investe Que tem família divide O salário entristece Porque não é emprego-cabide Se trabalha muito sempre Até quando se está doente Na escola é onde mais se reside

E o pior dos sofrimentos É fazer comparação Do salário que recebemos Com outros tipos de profissão Fica estampado o descaso Com toda a educação, no caso Como alicerce de uma nação

O descaso já é o projeto Que se instalou e ainda segue Que nos trata como objeto De pouco valor, não se negue Para seguirmos amarrados Oprimidos e alienados Reclamando desse perrengue

MAS ENTÃO?

Se é tudo isso de horror Por que a profissão escolheu? Sei lá foi um momento de torpor Uma leseira que me deu Eu queria ser cientista Tinha outras opções na lista Mas a Licenciatura venceu

Escolhi a Licenciatura Achei a palavra bonita Não imaginei uma vida dura E sim possibilidades infinitas Quando se está estudando Nossa mente vai criando Não prevê criptonita

Mas digo que abracei Esse caminho sem volta Que um dia também recusei Mas que veio e bateu à minha porta Segui tateando no escuro Construindo pontes no lugar de muro Sou professora, é o que importa

Passei a acreditar na mudança E no poder que temos no ofício Trabalhei com adulto e criança Ensinar se tornou um vício Levando a bandeira da arte Onde vou, por toda parte Esse é meu palanque e comício

Essa saga que aqui conto Por toda ela eu passei Nenhum professor nasce pronto Vai se construindo bem sei Se fazendo a cada aula No desespero e na calma No seu valor, na sua lei

Mais de vinte anos de história Conquistas e fracassos também Uma profissão inglória Se a deixarmos como refém Mas foi a profissão escolhida Para esse espaço de vida E a ela eu quero bem

This article is from: