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JUSTIÇA
PERSPECTIVAS
PARA FAB, SUCESSO DA BID DEPENDE DO TRABALHO HARMÔNICO DA INICIATIVA PRIVADA COM O ESTADO
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OInforme Abimde ouviu o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, Comandante da Aeronáutica, sobre os desafios de manter a Força Aérea em ascenção, apesar das dificuldades impostas pela pandemia mundial e sobre como a Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS) pode participar e contruibuir para isso.
Segundo ele, as adversidades dos últimos tempos serviram para demonstrar ainda mais o nobre papel constitucional da Força Aérea Brasileira (FAB). O comandante mostra em números a parcela de contribuição da FAB, através de mais de 70 mil homens e mulheres, para amenizar as dificuldades do povo. O comandante lembra, no entanto, que o cenário de crise também forçou o avanço das tecnologias. Sobre as perspectivas futuras, destaca o KC-390 Millennium, jato de transporte tático militar, desenvolvido em projeto conjunto da FAB com a Embraer e a expectativa de ver o Brasil entrar efetivamente no mercado global espacial com a comercialização de lançamentos de satélites a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
Foto: Divulgação
Informe Abimde - O que essa pandemia impactou nos projetos da Força Aérea Brasileira? Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida
Baptista Junior - A pandemia da COVID-19 aturdiu a sociedade mundial e fez com que as instituições se posicionassem sobre suas importantes atribuições diante da coletividade. Com a Força Aérea Brasileira não foi diferente. As adversidades serviram para demonstrar ainda mais nosso nobre papel constitucional e, com essa parcela de contribuição, a FAB amenizou as dificuldades do nosso povo. É, de fato, de se orgulhar o trabalho de mais de 70 mil homens e mulheres em prol da nação. Desde o início da pandemia até o momento, a Força Aérea Brasileira já contabilizou cerca de 6 mil horas voadas na Operação COVID-19. Foi realizado o transporte de mais de 5.200 toneladas de cargas - como vacinas, hospitais de campanha e usinas de oxigênio - e de mais de 6.300 pessoas, entre profissionais de
saúde e pacientes. Tais índices refletem o comprometimento da FAB em prol da sociedade brasileira. Além do esforço operacional, nosso efetivo também atuou fortemente na gestão de nossos projetos estratégicos. Buscamos incessantemente a redução do custo FAB a partir da otimização de recursos, do raciocínio holístico e do amadurecimento dos nossos processos de gestão com foco na solução. Podemos citar como exemplo os projetos das aeronaves multimissão F-39 Gripen e KC-390 Millennium, vetores que compõem o escopo de projetos estratégicos da Força. Os quatro primeiros novos caças logo concluirão a montagem final na Suécia e serão apresentadas à Força – os dois primeiros devem ser embarcados para o Brasil até o final de 2021. Por outro lado, o KC-390 Millennium já é uma realidade. As quatro primeiras aeronaves já operam a partir de Anápolis (GO) nas mais diversas missões a favor da integração da Pátria, demonstrando sua multifuncionalidade operacional. Em suma, enfrentamos períodos difíceis, de grandes desafios, mas que serviram para descortinar a alta capacidade operacional da FAB.
IA - Quais são os desafios e perspectivas da FAB para prosseguir com Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos seus projetos no cenário de Almeida Baptista Junior atual?
Baptista Junior - Sabemos que a indústria de defesa nacional ainda enfrenta desafios com os projetos de longo prazo e os custos elevados. Nossos projetos estão inseridos nesse contexto. Também compreendemos que o governo teve a necessidade de alocar recursos no combate à pandemia. Há a necessidade de se priorizar e, por isso, hoje estamos focados prioritariamente em nossa atividade-fim. Diante desse cenário, sermos transparentes, responsáveis e comprometidos com a eficiência no uso dos recursos faz parte da nossa missão. Assim, conseguimos vislumbrar uma Instituição de grande alcance, flexibilidade e ainda com maior capacidade de pronta-resposta.
IA - Quais são as prioridades da FAB para os próximos anos, a médio prazo?
Baptista Junior - O profissionalismo no cumprimento de suas atribuições e no desenvolvimento de eixos estratégicos e capacidades permitiram que a FAB conquistasse a confiança do povo brasileiro e dos países amigos. A Força Aérea Brasileira continuará envidando todos os esforços possíveis para o cumprimento do trinômio: defender, controlar e integrar. Tanto o empenho logístico quanto as ações administrativas estarão voltados para que, diligente e diuturnamente, estejamos cumprindo o papel que a sociedade brasileira espera de nossa Força.
Para que esses objetivos sejam alcançados nos próximos anos, priorizaremos a consagração da missão fundamental; a relação intrínseca dos meios com a missão; a consolidação da estrutura organizacional; a capacitação dos militares da Força Aérea; o suporte às mulheres e aos homens da FAB; a observância das questões éticas: princípios e valores; a atenção aos ativos patrimoniais no suporte à atividade-fim; a valorização da ciência e tecnologia vocacionadas para a missão; o incremento da atividade espacial; a observância à atividade cibernética; a integração com as demais Forças Armadas; a cooperação com as forças aéreas; a conexão com o Ministério da Defesa; entre outras.
IA - Como deve ser a performance do segmento ligado a projetos destinados à FAB no mundo, na opinião do senhor?
Baptista Junior - O cenário atual reforça o sucesso de vários projetos. Alguns exemplos: o KC-390 Millennium, “Enfrentamos períodos difíceis, de grandes fruto da capacitação desafios, mas que serviram para descortinar tecnológica, repre- a alta capacidade operacional da FAB.” senta um salto operacional não só para a FAB, mas também para a Marinha e o Exército, e um avanço para as indústrias brasileira e mundial. O desenvolvimento da aeronave posiciona o Brasil como protagonista entre os fabricantes de equipamentos de defesa no mundo, além de possibilitar exportações de um produto de alto valor agregado. No desenvolvimento do F-39 Gripen, até 2025, mais de 350 brasileiros entre engenheiros e técnicos de companhias parceiras participarão de treinamentos teóricos e práticos na Saab, em Linköping, na Suécia. Até hoje, mais de 250 engenheiros já foram treinados na Suécia e estão de volta ao Brasil, em sua maioria trabalhando no Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (Gripen Design and Development Network - GDDN) localizado na Embraer, em Gavião Peixoto. Ainda temos a expectativa de ver o Brasil entrar efetivamente no mercado global espacial com a comercialização de lançamentos de satélites a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. O futuro Centro Espacial de Alcântara (CEA) consiste em um conjunto de bens e serviços utilizados para lançamento de veículos espaciais não militares em território nacional, proporcionando uma infraestrutura necessária para dar suporte às atividades específicas de empresas de lançamento. Além do desenvolvimento aeroespacial, essa iniciativa deve fomentar parcerias e investimentos que beneficiarão diretamente a qualidade de vida da população do Maranhão, levando novas perspectivas de crescimento econômico e geração de renda e de trabalho local. A FAB e a Agência Espacial Brasileira (AEB) anunciaram no primeiro semestre de 2021 o resultado do edital de chamamento público para selecionar empresas com interesse em realizar operações de lançamentos. São quatro as empresas selecionadas, cada uma responsável por operar uma unidade do CEA. Outro edital, lançado em abril, vai selecionar empresas para atuar na Área 4 do Centro Espacial.
IA - O senhor acredita que o novo cenário - pós-pandemia - possa trazer oportunidades para a indústria brasileira? Quais?
Baptista Junior - A economia do Brasil foi fortemente impactada por uma crise sanitária sem precedentes causada pelo cenário atípico da pandemia do novo coronavírus. Há, porém, no país, um intenso desenvolvimento nos diversos tipos de indústrias, desde a base até a alta tecnologia. Esse cenário de crise forçou o avanço das tecnologias. Por isso, a retomada industrial, motivada pelos programas de governo, pelo capital externo e pelas multinacionais instaladas em território brasileiro, tende a acontecer nos próximos meses.
IA - Para o senhor, qual a importância da ABIMDE para o fomento da BIDS?
Baptista Junior - A Base Industrial de Defesa demanda investimentos permanentes e orçamento previsível para que as Forças Armadas mantenham sua capacidade dissuasória, seja operacionalmente moderna e atue de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais. Para que possa se consolidar com sucesso, a BID depende do trabalho conjunto e harmônico do setor produtivo, concentrado essencialmente na iniciativa privada, com o setor de desenvolvimento, a cargo do Estado. Ter um bom relacionamento com as Forças e demais Órgãos de Defesa e Segurança é de fundamental importância para a indústria de defesa. E a ABIMDE desenvolve essa ponte, favorecendo a troca de experiências e o aprimoramento do setor.
IA - Qual mensagem o senhor pode deixar para a BIDS e os expositores da 6ª Mostra BID Brasil?
Baptista Junior - Que continuemos na busca da promoção de condições que permitam alavancar a Base Industrial de Defesa brasileira e que possam contribuir para a consecução de objetivos relacionados à segurança ou à defesa do Brasil. Os feitos da indústria nacional são resultado do trabalho de profissionais comprometidos com a constante evolução tecnológica e com o progresso do Brasil e servem de orgulho para nós. Sigamos sempre trabalhando para ser uma Força Armada à altura das demandas do nosso País.
Tecnologia brasileira de ponta, aplicada à Defesa e Segurança Pública
A IACIT, Empresa Estratégica de Defesa, com mais de 35 anos de atuação, possui capacitação tecnológica para o desenvolvimento de produtos e sistemas aplicados ao Auxílio do Controle e do Tráfego Aéreo e Marí mo, Defesa e Segurança Pública, Telemetria, Meteorologia, Fábrica de So ware e Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Sendo uma das principais empresas mundiais que dominam a tecnologia aplicada à Meteorologia, a IACIT desenvolveu o Radar Meteorológico RMT 0200 - um Radar Meteorológico, Banda S, Dupla Polarização aplicado à detecção de fenômenos meteorológicos a longas distâncias. O único no Brasil e um dos poucos no mundo a operar 100% em Estado Sólido, este equipamento usa amplicadores de potência ao invés de válvulas, resultando em menor consumo de energia, maior durabilidade e menor poluição eletromagné ca. O RMT 0200 efetua a detecção de fenômenos atmosféricos em um raio de até 400 km, contribuindo com informações para tomadas de decisão asser vas no Controle do Tráfego Aéreo, no Agronegócio, no Gerenciamento de Recursos Hídricos e principalmente, em a vidades de Defesa Civil. O primeiro Radar RMT 0200 entregue pela IACIT já está em operação em São José dos Campos em parceria com o CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Com o obje vo de fornecer soluções inovadoras para a vigilância marí ma a grandes distâncias, a IACIT, também, desenvolveu e produziu o Radar OTH 0100, um Sistema Radar Além do Horizonte. Com o OTH 0100 é possível detectar e rastrear alvos na super cie marí ma até 200 MN da costa, além de aeronaves voando em baixa al tude. Este radar u liza o conceito de OTH-HF SW (Surface Wave), permi ndo a propagação dos sinas através da curvatura da Terra, diferentemente dos radares convencionais que se limitam à linha de visada direta. O sistema monitora, em tempo real, parâmetros como velocidade, la tude, longitude e curso dos alvos. Isso faz do OTH 0100 uma importante ferramenta para a manutenção da soberania marí ma e, também, para a proteção costeira no combate a crimes ambientais, tráco e salvaguarda no mar. O equipamento, que já se encontra em operação em Farol do Albardão, uma área da Marinha do Brasil, coloca o país em posição de destaque internacional dentre os poucos dententores deste po de tecnologia. IACIT, pessoas e tecnologia construindo o futuro!
Radar OTH 0100 - instalado no Farol do Albardão - RS
Radar RMT 0200 - instalado no CEMADEN em São José dos Campos
MARINHA
PROJETOS DA MARINHA COM A BIDS LIGADA AO MAR AVANÇAM
Informe Abimde ouviu o Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, comandante da Marinha do Brasil (MB), sobre os desafios e as perspectivas dos principais projetos em desenvolvimento na MB. Segundo ele, a pandemia trouxe um cenário complexo e desafiador mas também proporcionou oportunidade para o aperfeiçoamento de processos de gestão. O Almirante falou também sobre as possibilidades que as inovações tecnológicas necessárias e constantes abrem para o crescimento da BIDS.
Informe Abimde - Quais são os desafios e perspectivas da Marinha para 2022?
Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos - Resumidamente, eu diria que o principal desafio para 2022 continuará sendo diante de um histórico de restrições orçamentárias, conciliar o cumprimento das atribuições de uma Marinha multitarefas com o esforço de construção de uma Força Naval capaz de contribuir para a defesa da Pátria e salvaguarda dos interesses nacionais, no mar e em águas interiores, em um cenário cada vez mais desafiador. Já as nossas perspectivas convergem para a superação desse desafio, sobretudo por meio da otimização de recursos, sejam eles de pessoal, material, financeiros, tecnológicos ou informacionais, para que possamos fazer mais com os recursos de que dispomos. Vislumbramos avançar nas metas dos programas estratégicos consolidados no Plano Estratégico da Marinha (PEM 2040), entre as quais podemos destacar: a entrada em operação do Submarino “Riachuelo”, a primeira de cinco unidades concebidas pelo Programa de Submarinos (PROSUB); e o início da construção das unidades do Programa de Obtenção de Fragatas Classe Tamandaré (PCT). Esses dois subprogramas se inserem no Programa Estratégico de Ampliação do Núcleo do Poder Naval, ao qual se somam os demais Programas Estratégicos: Pessoal, Nosso Maior Patrimônio; Programa Nuclear da Marinha (PNM); Ampliação da Capacidade Operacional Plena; Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz); Ampliação da Capacidade de Apoio Logístico para os Meios Operativos; e Mentalidade Marítima. Todos esses programas são vitais na preparação da nossa Marinha para os cenários e necessidades abordados no PEM 2040 e em outros documentos de alto nível da Defesa Nacional, e devem demandar muito da nossa Base Industrial de Defasa (BID). Para reforçar nossa capacidade de realizar essas metas, pretendo também consolidar e ampliar a utilização do Sistema de Apoio à Decisão para a Otimização de Orçamento (SAD-ORC), ferramenta que concebi e ajudei a desenvolver com o intuito de aperfeiçoar o planejamento orçamentário. Esse sistema, calcado em modelos matemáticos que permitem uma análise acurada das prioridades e objetivos navais elencados no PEM 2040, já nos possibilitou planejar o orçamento de 2022 com uma expectativa de otimização orçamentária em torno de 10 a 15%.
IA - Quais são as prioridades da Marinha para os próximos anos, a médio prazo? O senhor poderia elencar os programas prioritários?
Garnier - Além de listar os sete programas estratégicos que a MB atualmente desenvolve, o PEM 2040, que orienta o nosso planejamento de médio e longo prazo, traz uma série de Ações Estratégicas Navais (AEN), a serem executadas visando à consecução dos Objetivos Estratégicos da Força, denominados Objetivos Navais. O PROSUB e o PNM são dois dos programas prioritários da Força Naval, sob a responsabilidade da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM). Após concluída a entrega do Submarino “Riachuelo” ao Setor Operativo, a meta estratégica do PROSUB será consumar as transferências dos demais submarinos da classe até 2025. Da mesma forma, trabalhamos para dar início, em 2023, à construção do casco resistente do Submarino Convencional de Propulsão Nuclear (SCPN) “Alvaro Aberto”, prevendo sua entrega ao setor operativo em 2034. Importante destacar que não estamos tratando apenas da construção de um submarino, algo já muito complexo, mas do desenvolvimento e domínio de uma tecnologia que não pode ser importada. O PROSUB envolve acordo de transferência de tecnologia entre os governos do Brasil e da França, mas a propulsão nuclear do SCPN está sendo desenvolvida exclusivamente pelo Brasil. Já a Diretoria-Geral do Material da Marinha tem priorizado os projetos de obtenção de navios de superfície de construção nacional, como as Fragatas Classe “Tamandaré” e o Navio de Apoio Antártico; manutenção e modernização dos meios navais e aeronavais de sua responsabilidade; aquisição de munição; desenvolvimento do Míssil Antinavio Nacional; desenvolvimento do Sistema de Gerenciamento da Manutenção; construção dos Navios-Patrulha “Maracanã” e “Mangaratiba”; aquisição de aeronaves e simulador de voo; aquisição do Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas Embarcadas; e desenvolvimento do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz). Quanto aos programas prioritários do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), destaco o PROADSUMUS, que também integra o Programa Estratégico de Construção do Núcleo do Poder Naval e tem como propósito a obtenção de meios, para garantir ao CFN as condições de pronto emprego e o caráter expedicionário. O PROADSUMUS buscará obter meios junto à BIDS, inclusive apoiando o desenvolvimento de projetos de equipamentos e sistemas que possuam alto conteúdo tecnológico ou de aquisição restrita no exterior.
Quanto às atribuições da Autoridade Marítima, acompanharemos iniciativas governamentais para o desenvolvimento do potencial marítimo e hidroviário brasileiro, contribuindo, em nossa esfera de competência, na sinalização náutica, balizamento, dragagem e na formação e capacitação de aquaviários. Em aderência ao programa do Governo Federal de transformação digital do Brasil, firmamos convênio com o SERPRO para a emissão digital das Carteiras de Habilitação de Amadores e dos Títulos de Inscrição de Embarcações. Outro passo importante será a migração para o meio digital das certificações dos aquaviários. A digitalização possibilitará reduzir o fluxo de atendimento presencial nas Capitanias dos Portos, além de otimizar os recursos empregados.
IA - Como deve ser a performance do segmento ligado a projetos destinados à Marinha no mundo, na opinião do senhor?
Garnier - Em 2019, a Marinha do Brasil, por meio da DGDNTM, concluiu as negociações com os acionistas da Itaguaí Construções Navais (ICN) para a ampliação do estatuto da empresa e abertura de seu capital social. A mudança contribuiu para o dinamismo e diversificação das atividades daquele parque industrial, formalizando a possibilidade legal de captação de outros segmentos do mercado militar naval de alta tecnologia, inclusive no exterior.
Considerando as áreas de negócio do Setor do Material (aquisição e manutenção), vislumbramos perspectivas positivas para setores como Comunicações, tendo em vista as quantidades cada vez maiores de dados transmitidos; Tecnologia da Informação, diante da necessidade crescente de incremento da segurança cibernética; e Tecnologia das Forças Navais, a exemplo de veículos não tripulados e a utilização da Inteligência Artificial aplicada aos meios e a sistemas de apoio à decisão.
Considerando o ambiente interno, a médio prazo, a “economia do mar” deverá trazer boas possibilidades de desenvolvimento para a indústria naval brasileira e, por conseguinte, para a BIDS ligada a esse setor.
IA - O senhor acredita que o novo cenário pós-pandemia possa trazer oportunidades para a indústria brasileira? Quais?
Garnier - Na seara do Poder Marítimo, eu diria que sim. A indústria naval tende a aumentar o viés tecnológico embarcado e nos processos produtivos, já havendo projetos de navios autônomos e remotamente controlados. O e-Navigation já começa a despertar interesse e a movimentar o setor.
O conceito de e-Navigation abrange a coleta, integração, intercâmbio, apresentação e análise de informações marítimas de modo harmonizado, a bordo e em terra, por meios eletrônicos, com o propósito de aprimorar a navegação entre portos e os serviços correlatos, para a proteção e a segurança no mar, bem como a preservação do ambiente marinho. É uma evolução que vem ocorrendo no cenário internacional, que visa proporcionar aos portos uma maior eficiência logística. Nesse aspecto, a MB, na condição de Autoridade Marítima Brasileira, vem buscando introduzir tal tecnologia no cenário mercante nacional.
As tecnologias de veículos autônomos têm avançado rapidamente e grandes investimentos têm sido feitos no seu desenvolvimento. Sua aplicação e emprego aos meios marítimos de superfície também vêm sendo objeto de rápido crescimento. Em junho de 2019, o Comitê de Segurança Marinha, da Organização
Marítima Internacional (IMO), aprovou diretrizes provisórias para testes com os Navios Autônomos de Superfície (Maritime Autonomous Surface Ships – MASS).
Uma das áreas mais estratégicas e com potencialidades ainda não suficientemente exploradas é a do setor marítimo, com destaque para o setor portuário, com a expansão da cabotagem. As recentes concessões portuárias atestam isso. A cabotagem, em particular, ainda é pouco explorada, configurando outra grande oportunidade de investimento. Há sinais positivos para a retomada da indústria da construção naval,
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abrangendo a cabotagem e as áreas de petróleo e defesa. Somente a Petrobras tem um programa que vai demandar mais navios plataformas tipo FPSO (floating, production, storage and offloading), o que gerará muitas oportunidades. O desenvolvimento do modal de transporte aquaviário também requer investimentos em infraestrutura, quais sejam, correções nos cursos d’água, dragagens e derrocamentos e, em certos casos, construção de barragens e eclusas.
Ressalta-se a importância do efeito multiplicador dos programas estratégicos da Marinha do Brasil, num contexto maior de políticas públicas, capazes de produzir agregados macroeconômicos, como produto, consumo, emprego, exportações, importações e tributos. O Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) e o e-Navigation preveem oportunidades de negócios em áreas como internet das coisas, indústria 4.0, inteligência artificial, análise de dados e tecnologia da informação, entre outras.
IA - Para o senhor, qual a importância da ABIMDE para o fomento da BIDS?
Garnier - Eu diria que a ABIMDE desempenha um papel de relevância capital para as empresas de um setor que, por ser estratégico para a soberania e desenvolvimento do País, precisa sempre se apresentar e se fazer ouvir, sobretudo junto aos formuladores das grandes políticas nacionais e às esferas governamentais.
A Marinha do Brasil tem total interesse no fortalecimento da base industrial, logística, científica e tecnológica nacional de defesa e segurança, sendo testemunha da importante atuação da ABIMDE nesse sentido.
A título de exemplo, os projetos associados ao PROSUB requerem itens e equipamentos que obedecem a rigorosos requisitos técnicos de classificação “nuclear”, levando a que determinadas soluções de aquisição recorram a fornecedores no exterior. Não obstante, a estratégia da Marinha orienta-se no sentido de averiguar prioritariamente o mercado nacional. A NUCLEP, por exemplo, está tecnicamente qualificada para fabricar vasos de pressão e estruturas metálicas resistentes, tanto para o LABGENE, quanto para a Planta Nuclear Embarcada do nosso primeiro Submarino Convencional de Propulsão Nuclear.
Entendo que uma das formas da ABIMDE ampliar a participação de empresas da BIDS no PNM, bem como no PROSUB, poderia advir de associações à Academia e às Instituições de Pesquisa, visando ao desenvolvimento de itens, componentes e sistemas. Também a parceria com empresas internacionais de reconhecida competência em suas áreas de atuação, sobretudo no segmento nuclear, proporcionaria uma aceleração nesse processo, por meio de transferência de tecnologia. No que diz respeito ao Setor de CT&I da MB, há perspectivas promissoras a médio e longo prazos, por meio do fomento às exportações dos produtos e serviços desenvolvidos nas ICT, com evidentes externalizações positivas para a economia do País. BIDS a conhecer as demandas tecnológicas da Força Naval, e se engajarem no desenvolvimento de tecnologias críticas que por vezes estejam presentes em meios importados, contribuindo para a autonomia e a independência tecnológica do Brasil e, ao mesmo tempo, permitindo a criação de novos postos de trabalho e oportunidades de negócio.
IA - Qual mensagem o senhor pode deixar para a BIDS e os expositores da 6ª Mostra BID Brasil?
Garnier - A BIDS é estratégica para nossa soberania, reconhecida internacionalmente, e detentora de grandes capacidades e amplo potencial de expansão.
Fomentando novos horizontes de tecnologia e inovação, a BIDS é fundamental para os projetos estratégicos da Defesa Nacional, muitos dos quais, com emprego dual, contribuindo para a geração de empregos diretos e indiretos e para o desenvolvimento do País nas áreas social, industrial, tecnológica e científica. Nesse ensejo, parabenizo os organizadores da 6ª Mostra BID Brasil pela iniciativa do evento e desejo aos expositores um exitoso trabalho, com a consolidação de laços profissionais e comerciais profícuos para todos. Que seja um grande sucesso!
IA - O senhor gostaria de acrescentar alguma questão nessa entrevista?
Garnier - Gostaria de mencionar o recente anúncio do estaleiro JURONG ARACRUZ, no Espírito Santo, para a construção do Navio de Apoio Antártico (NapAnt), no âmbito do nosso Programa de Obtenção de Meios Hidroceanográficos. Será o primeiro navio construído no Brasil em conformidade com o Código Polar, da Organização Marítima Internacional (IMO), que entrou em vigor em 2017. Com o valioso apoio recebido do Presidente da República, Jair Bolsonaro, e do Ministério da Defesa, a Marinha conseguiu alavancar mais um projeto de construção naval para o Brasil, além do PROSUB, das Fragatas da Classe Tamandaré e dos projetos conduzidos nas próprias instalações industriais da Força, como a construção dos Navios-Patrulha “Maracanã” e “Mangaratiba”, que marcou a retomada da Construção Naval no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.
Outro ponto que gostaria de ressaltar é a importância para o País do desenvolvimento do Submarino Convencional de Propulsão Nuclear no âmbito do PROSUB e do Programa Nuclear da Marinha, que pode ser entendida em dois pressupostos fundamentais. O primeiro, mais premente e perceptível, vem a ser o expressivo incremento do poder de dissuasão e de resposta militar na Amazônia Azul, elevando de forma categórica o status de relacionamento do País no concerto das Nações. O segundo, mais implícito, é o impacto tecnológico proporcionado pelo desenvolvimento e aprimoramento das tecnologias embarcadas nesse meio naval complexo, promovendo externalidades positivas em prol de setores não necessariamente relacionados à Marinha. Tal empreendimento constitui-se no Programa Estratégico brasileiro com o mais expressivo nível de capacitação nas áreas industrial e tecnológica, com geração de empregos de qualidade e renda para milhares de brasileiros.
HISTÓRIA
SIMTECH COMEMORA 30 ANOS DE HISTÓRIA
Ahistória da Simtech, empresa brasileira sediada no Rio de Janeiro, teve início em 1985, em Washington D.C., primeiramente com a fundação da International Procurement Services, Inc. (IPS), pelos sócios Pedro Lynch e Cesar Lynch. O objetivo da criação da IPS era a prestação de serviços de representação e assessoria comercial para indústrias de defesa e segurança dos Estados Unidos.
Fundada em 1991, decorrente do sucesso da IPS, Inc., e das demandas geradas pelas oportunidades de negócios no país, a Simtech dedica-se atualmente a representar empresas estrangeiras e brasileiras prestando assessoria no desenvolvimento de estratégias e atividades comerciais nos seguintes segmentos de mercado: Defesa & Segurança, Ambiental e Marítimo.
“São 30 anos de história e de conquistas que só foram possíveis graças à conduta da empresa no trato comercial; à capacidade e dedicação de sua equipe de profissionais; e às parcerias que a Simtech realizou com empresas de reconhecida presença e liderança internacional”, diz o presidente Cesar Lynch.
DESAFIOS E INSPIRAÇÕES
Segundo Cesar, a Simtech é movida a desafios. Para ele, a empresa está sob a constante sensação de que a cada conquista o “sarrafo” fica alguns centímetros mais alto, obrigando a companhia a buscar constantemente a excelência na entrega dos serviços prestados. A história da empresa está fortemente pautada nos valores éticos e morais; no comprometimento com a satisfação dos clientes/parceiros; e na comprovada capacidade de entrega de resultados alcançados pela empresa desde a sua fundação.
Cesar relembra que, no início de sua jornada, a empresa contava apenas com os valores éticos e morais, além de muita resiliência e a vontade de empreender dos sócios fundadores. Hoje, consolidada no mercado, a empresa segue crescendo e conta com profissionais com experiência comercial e técnica, qualificados em cursos e treinamentos feitos no Brasil e no exterior para atuar nas áreas de vendas, suporte logístico, assistência técnica e treinamentos de operação e manutenção nas linhas de produtos ofertados.
OS PRÓXIMOS 30 ANOS
De acordo com Cesar, passado o susto inicial da pandemia em 2020, a Simtech, mais uma vez colocou à prova o seu DNA empreendedor e resiliente, vencendo os desafios impostos pelo trabalho remoto, com impacto direto na relação e contatos com o mercado (parceiros e clientes).
Para os próximos 30 anos, a Simtech espera consolidar a sua posição no mercado como referência na prestação de serviços de representação comercial e assessoria estratégica, fomentando a colaboração e a geração de oportunidades de negócios entre indústrias estrangeiras e nacionais, dos setores público e privado.