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EDITORIAL

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JUSTIÇA

JUSTIÇA

É importante estarmos cientes de que o Brasil possui ativos e vantagens comparativas que são escassos no mundo atual. “ “

É uma situação que causa preocupação, na medida em que temos a terceira maior fronteira terrestre entre todos os países, com 16.865 quilômetros, dos quais cerca de 12 mil estão vinculados aos Estados que integram a Amazônia Legal. Não poderia deixar de referir-me ainda à nossa Amazônia Azul, os 7,4 mil quilômetros de costa e 3,6 milhões de quilômetros quadrados de espaço marítimo sobre os quais o Brasil exerce soberania e é responsável por grande parte de produção brasileira de petróleo e gás natural, além do escoamento de mais de 90% do nosso comércio exterior. Nesse contexto, é fundamental que nossa Base Industrial de Defesa seja valorizada e que existam recursos para investir nos Projetos Estratégicos de Defesa, como o Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) e o FX-2 e KC-X, para o reequipamento das frotas de caças e cargueiros da Força Aérea Brasileira. O Embraer C-390 Millenium, aeronave em que tive o privilégio de viajar recentemente, exemplifica um modelo exitoso de parceria entre Estado e iniciativa privada, em um pacote de offset do qual participaram mais de cinquenta empresas. A maior aeronave já produzida em território nacional também representa um esforço bem-sucedido de política externa, já que projeto conta com a participação da Argentina, Portugal e República Tcheca. O mesmo pode ser dito da parceria para o desenvolvimento e a produção do F-39E Gripen, que envolveu dezenas de acordos de offset que permitirão a transferência de tecnologias de ponta ao Brasil. São iniciativas que evidenciam os benefícios de se investir na Base Industrial de Defesa, quando existe vontade política, capacidade técnica e, sobretudo, visão estratégica. Carl Von Clausewitz, um dos maiores estrategistas da história, cunhou a expressão “névoa da guerra”, referindo-se à dificuldade de comandantes militares em lidar com a incerteza e a desinformação inerentes aos campos de batalha. A expressão consagrada pelo general prussiano é instrumental para tentarmos caracterizar a era em que vivemos. Tendências como a transição para uma economia de baixo carbono, o reordenamento das cadeias de produção globais, a proliferação de crimes cibernéticos e outras ameaças transnacionais aceleram-se de tal maneira que os agen-

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tes políticos e econômicos muitas vezes têm dificuldade de entender as variáveis desse novo “teatro de operações” e não tomam as decisões estratégicas e táticas corretas. As políticas de Estado precisam estar à altura dos desafios do nosso tempo, inclusive as relacionadas à defesa. É importante estarmos cientes de que o Brasil possui ativos e vantagens comparativas que são escassos no mundo atual. Somos o País com a maior biodiversidade do planeta, uma potência agríco“ A Base Industrial de Defesa é responsável pela geração de mais de um milhão de empregos diretos e indiretos e movimenta um montante superior a R$ 200 bilhões na economia “ la que alimenta mais de um bilhão de indivíduos em todo o mundo, além de nos beneficiarmos de um contexto regional de relativa estabilidade. São aspectos que nos enchem de confiança, mas também suscitam a necessidade de permanecermos vigilantes, sem jamais relegarmos a política de defesa a um segundo plano nas prioridades nacionais. O Brasil tem uma longa tradição de respeito aos tratados internacionais e de promoção da paz; mas, como bem observou o maior jurista brasileiro, Rui Barbosa, que prestou inestimável contribuição à consolidação no direito internacional do princípio da igualdade jurídica entre os Estados, “um Exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado”.

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