CIDADE SONORA: cidade de fusão, música de encontros

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:: 19h30 :: Siba

:: 18h :: bate-papo com Siba :: 19h30 :: Lino :: 16h30 :: Aláfia

Oléria

Ingressos

:: 18h :: bate-papo com Roberta Estrela DʼAlva :: 19h30 :: Arícia

www.cidadesonora.com.br

ao vivo

transmissão

Mess

rádio on-line

R$

meia

10,00 5,00

R$

Este projeto foi selecionado pela Fundação Nacional de Artes – Funarte no Edital de Ocupação da Sala Funarte Guiomar Novaes 2012.

:: 19h30 :: KL Jay :: 18h :: bate-papo com KL Jay :: 19h30 :: Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene :: 16h30 :: Banda Hamlet

:: 19h30 :: Flávio Renegado :: 18h :: bate-papo com Arícia Mess :: 19h30 :: Elo da Corrente :: 16h30 :: Roberta Estrela DʼAlva e convidados

:: 19h30 :: M.Takara :: 18h :: bate-papo com Dinho Nascimento :: 19h30 :: Wado :: 16h30 :: Passo Torto

:: 19h30 :: Romulo Fróes :: 18h :: bate-papo com Romulo Fróes :: 19h30 :: Flora Matos :: 16h30 :: Pipo Pegoraro part Blubell e Luisa Maita

:: 19h30 :: BNegão & Seletores de Frequência :: 18h :: bate-papo com Nervoso :: 19h30 :: Rael da Rima :: 16h30 :: Nervoso

:: 19h30 :: Bixiga70 :: 18h :: bate-papo com Rael da Rima :: 19h30 :: Emicida :: 16h30 :: Banda Mirim

:: 19h30 :: Karol Conka :: 18h :: bate-papo com Karol Conka :: 19h30 :: Ellen :: 16h30 :: Barbatuques

:: 19h30 :: Anelis Assumpção :: 18h :: bate-papo com Lino Krizz :: 19h30 :: Xis :: 16h30 :: Guilhermoso Wild Chicken

Krizz

28 SHOWS DA NOVA MÚSICA BRASILEIRA

AGO 31 :: Sex

SET 01 :: Sáb 02 :: Dom 07 :: Sex 08 :: Sáb 09 :: Dom

14 :: Sex 15 :: Sáb 16 :: Dom 21 :: Sex 22 :: Sáb 23 :: Dom

28 :: Sex 29 :: Sáb 30 :: Dom

OUT 05 :: Sex 06 :: Sáb 07 :: Dom 12 :: Sex 13 :: Sáb 14 :: Dom

19 :: Sex 20 :: Sáb 21 :: Dom

26 :: Sex 27 :: Sáb 28 :: Dom

28 ARTISTAS DA NOVA MÚSICA BRASILEIRA

Realização: Apoio:

Classificação Livre Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada para idosos e estudantes) Venda na bilheteria com 1 hora de antecedência. Entrada gratuita para bate-papos. Sala Funarte Guiomar Novaes – Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos Telefone: (11) 3662-5177

NOV 03 :: Sáb

CIDADE DE FUSÃO :: MÚSICA DE ENCONTROS Invisíveis Produções

ALÁFIA :: ANELIS ASSUMPÇÃO :: ARÍCIA MESS :: BANDA HAMLET :: BANDA MIRIM :: BARBATUQUES :: BIXIGA70 :: BNEGÃO & SELETORES DE FREQUÊNCIA :: ELLEN OLÉRIA :: ELO DA CORRENTE :: EMICIDA :: FLÁVIO RENEGADO :: FLORA MATOS :: GUILHERMOSO WILD CHICKEN :: KAROL CONKA :: KL JAY :: LINO KRIZZ :: M.TAKARA :: NERVOSO :: ORQUESTRA DE BERIMBAUS DO MORRO DO QUEROSENE :: PASSO TORTO :: PIPO PEGORARO :: RAEL DA RIMA :: ROMULO FRÓES :: ROBERTA ESTRELA DʼALVA :: SIBA :: WADO :: XIS

FESTIVAL :: 2012

28 artistas da nova música brasileira habitam a Cidade Sonora. A cidade fala. As esquinas convergem. O som caminha transversal, assimétrico, urbano, sem gêneros. A cidade é uma síntese poética aditiva, nunca se reduz, sempre se amplia. Cada músico traz os sons que o habitam. Cidade Sonora é uma outra cidade possível: colaborativa, independente, transformada.




Funarte apresenta

CIDADE DE FUSÃO :: MÚSICA DE ENCONTROS



afrodiáspora pop ampliado lúdica urbana orquestras ALÁFIA :: ANELIS ASSUMPÇÃO :: ARÍCIA MESS :: BANDA HAMLET :: BANDA MIRIM :: BARBATUQUES :: BIXIGA70 :: BNEGÃO & SELETORES DE FREQUÊNCIA :: ELLEN OLÉRIA :: ELO DA CORRENTE :: EMICIDA :: FLÁVIO RENEGADO :: FLORA MATOS :: GUILHERMOSO WILD CHICKEN :: KAROL CONKA :: KL JAY :: LINO KRIZZ :: M.TAKARA :: NERVOSO :: ORQUESTRA DE BERIMBAUS DO MORRO DO QUEROSENE :: PASSO TORTO :: PIPO PEGORARO :: RAEL DA RIMA :: ROMULO FRÓES :: ROBERTA ESTRELA DʼALVA :: SIBA :: WADO :: XIS 5


Livro CIDADE SONORA Realização Invisíveis Produções Coordenação Daniel Lima Concepção Daniel Lima, Eugênio Lima, Belma Ikeda e Élida Lima Curadoria e Entrevistas Eugênio Lima Projeto Gráfico Daniel Lima Edição de Texto Élida Lima Transcrição Fábio Abramo Revisão Duda Costa Ilustração Líbero Malavoglia Direção de Produção Belma Ikeda Produção Sol Macineli Copyleft Copyleft é uma forma de proteção dos direitos autorais que tem como objetivo prevenir que não sejam colocadas barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa. É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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Aláfia apresentação Batuque de umbigada, ensaio de escola de samba, jongo e baile Black. Uma banda de Inventando uma cidade gente revivendo nos corpos que dançam, Ao propor a ocupação candataSala m eFunarte tocamGuiomar , as muNovaes, itas hisem tórias do São Paulo, com alguns dos principais expoentes da nova música spque íritum o dfestival a Terrcom a. Co28nsshows, idera-se fator brasileira, criamos mais edo criamos uma cidade. fundamental para o ineditismo que se instaura em cada apresentação da banda, Para inventar essa cidade, foram necessárias 28 vozes mergulhadas essde a aseu liantempo ça eentatentas re os às colinguagens ntextuaisque eleencontram mentos nas intensidades à sua volta. Imaginamos uma Cidade Sonora independente, da música tradicional e a “musica colaborativa, criadora, transformada. Imaginamos uma música sem c o n t e m orânde eamuitos ”, buslugares. cando Oalque terné âncias gêneros, feita de encontros,pvinda ntre ao rque ítmessas ica d28 asvozes palaestão vras fazendo e o próprio uma Cidade Sonoraesenão e dizendo? canto. Composta por baixo elétrico, bateria, percuossque ãoestamos , metaispropondo , guitarréamenos , violõum es e voz, Ao propor uma cidade, mapeamento da cena musical Aláfiabrasileira busca eamais atenuma ta, cartografia. espontânea e A cartografia, diferente do mapa, é um desenho subjetivo, progressiva ocupação de uma sonoridade que sentimental, sensível, que se move à medida que nos ideque ntifacompanha ique-se caom o atemporal. movimentamos. Uma cartografia formação de mundos.

A nova música brasileira

Onde circula a nova música brasileira? Os artistas que estão produzindo hoje, como produzem, como divulgam, como distribuem? É possível constatar que a indústria cultural não conduz mais esse processo. Na cena musical em que vivemos, o artista empodera-se O na sua concepção Cidade Sonora? deque suaéprodução, está mais uma livre para construir sua trajetória e, consequentemente, uma relação mais ética com seu público. Para a Cidade Sonora é uma cidade cujo ruído, cujo somcom pulsa de Ética mim, porque se estrutura organicamente, em relações vivas umapúblico maneira quevez a gente perceber ritmicamente, um cada maisconsiga singular. Resumindo: a nova música musicalmente. Eu não produção musical, penso numa brasileira tem cada vezpenso mais em autonomia. música que é feita nessa cidade para além do próprio ruído da música. No caso da produção, os custos para gravação foram reduzidos Qual é a relação danas música dodécadas, Aláfia com cidade com as de maneira drástica últimas poraconta doou desenvolvimento cidades que você já conheceu, que você dá um rolê, o lugar que tecnológico que ampliou vertiginosamente o número de pequenas você mora, as cidades que habitam você? gravadoras, já que é possível captar, em mixar e reproduzir usando computadores pessoais. Essa pergunta é recorrente até, porque quando as pessoas procuram definir o nosso som, eu penso muito na questão dapermite tradição. E essas No âmbito da divulgação e distribuição, a internet hoje uma influências, essas referências diversas que a O gente tem,não nãoconsome alta circulação para a música independente. público conseguem chegar perto da tradição. de em rede apenas pornem estar conectado, mas Quando tambémalguém porque fala encontra gênero, eu sempreque penso tradiçãonacomo algo que vem da meio que ali a identificação nãona encontra produção musical indústria naturalmente dede algum tipo deecomunidade, de nós. agrupamento cultural. Atitude quem vive produz comoalgum cada tipo um de Os nós de gente. E Forma-se eu sempreum estive muitocultural cercadocomum de diversas influênciasdae, desta rede. território em detrimento nesse caldeirão, a cidade. O Propaga-se som do Aláfia se noção identifica com a trajetória individual artística. uma demuito contaminação.

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Todos os artistas da Cidade Sonora têm página na internet, onde disponibilizam suas músicas para ouvir e, muitos deles, também para baixar gratuitamente. Numa nova lógica comercial, a nova música brasileira investe no espalhamento para o encontro de redes onde é redistribuída em progressões geométricas não quantificáveis. Nova música brasileira não diz respeito à jovialidade dos artistas, mas, principalmente, a uma proposta musical inventiva para o futuro da música, arrojada desde a composição até a maneira de chegar ao público.

A nova música brasileira é digital, é em rede, é viral, não é mainstream, é cosmopolita, aponta para o futuro, é investigativa, é propositiva, é baseada em relações afetivas, tem memória musical e é naturalmente transnacional.

Novas expressões

A nova música brasileira é nova não apenas na maneira de produzir, divulgar e distribuir, mas também na sonoridade. Nascida em momento posterior às grandes rupturas propostas pelo hip-hop e pela música eletrônica que abandonavam, entre outras coisas, o formato canção, a nova música brasileira busca uma negociação com influências abertas e múltiplas. Pequenas alterações, roupagens diversas e arranjos inesperados compõem a dinâmica dessas novas expressões. O curador Eugênio Lima cartografou essas expressões da nova música brasileira e as apresenta menos como categorias e mais como forças que ajudaram a desenhar as ruas que compõem essa cidade.

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Afrodiáspora Fusão musical da tradição das influências afro-americanas, passando do samba ao hip-hop. O legado da música

afro-brasileira como fonte de inspiração, bússola e prumo. O passado como fonte de uma história coletiva. Um passado que pede tributos. Novas estratégias para representar as relações socioculturais deste país de herança escravocrata. Um grito polifônico, que une as canções de trabalho, os lamentos iorubanos, os tambores do jongo, a poesia bruta e libertária dos depoimentos, o silêncio da construção plástica, o som das torcidas de futebol e os ritmos afrobeat, hip-hop, spoken word, soul, reggae e samba.

Canção ampliada Manifestações que nascem da construção tradicional da canção e apresentam uma nova cara da MPB. Criação musical que traz novas sonoridades urbanas; um manifesto sonoro que expressa a multiplicidade e transversalidade do mundo contemporâneo. Uma voz que busca reverberação na herança musical brasileira.

Música lúdica urbana Pesquisa sonora que estabelece trânsito com elementos lúdicos, como o teatro e a performance. Uma música que transforma o universo das cantigas e histórias para criar uma “mitologia” urbana. Orquestras sem maestro Orquestras e big bands sem maestro. Releituras complexas do repertório mundial da música. Coletivos musicais que funcionam de maneira horizontal.


Entrevistas por EugĂŞnio Lima

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Aláfia

Foto: Daniel Pêra

“O som do Aláfia se identifica muito com a cidade porque não consegue se reconhecer como um gênero.”


Aláfia Aláfia é uma palavra da língua africana iorubá, que significa felicidade e caminhos abertos. Para o Aláfia, os caminhos na música estão abertos, não há estilos ou predefinições, mas influências de diversos ritmos brasileiros, norte-americanos e africanos. O funk da década de 1970 pede passagem para absorver os tambores de terreiros de candomblé e as rimas dos MCs. A banda está produzindo o seu primeiro álbum e em breve lançará o single e videoclipe da música “Ela é favela”, em parceria com Lurdez da Luz. Alafiou?

tnb.art.br/rede/alafia

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por Eduardo Brechó

Aláfia

O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

A Cidade Sonora é uma cidade cujo ruído, cujo som, pulsa de uma maneira que a gente consiga perceber ritmicamente, musicalmente. Não penso em produção musical, penso numa música que é feita nessa cidade para além do próprio ruído. Qual a relação da música do Aláfia com a cidade ou com as cidades que você já conheceu, em que você dá um rolê, o lugar que você mora, as cidades que habitam em você?

Essa pergunta é recorrente até, porque quando as pessoas procuram definir o nosso som eu penso muito na questão da tradição. E essas influências, essas referências diversas que a gente tem, não conseguem chegar nem perto da tradição. Quando alguém fala de gênero, sempre penso na tradição como algo que vem meio que naturalmente de algum tipo de comunidade, algum tipo de agrupamento de gente. Eu sempre estive muito cercado de diversas influências e, nesse caldeirão, a cidade. O som do Aláfia se identifica muito com

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a cidade porque não consegue se reconhecer como um gênero. Percebo que o Aláfia tem uma ligação muito forte com alguns tipos de tradições, de gêneros, mas não consigo me identificar exatamente com um tipo de som. Isso eu percebo muito na cidade de São Paulo, que é uma cidade que não tem como a gente conseguir definir a que ela pertence, a quem ela pertence e quem pertence a ela. O Aláfia é uma banda de imigrantes, muita gente que não nasceu em São Paulo, e temos essas diversas influências. Pessoas voltadas para esse interesse concêntrico, da periferia para o centro, com os olhos voltados para esse centro, mas que musicalmente são excêntricos, que voltam os ouvidos para lugares muito distantes daquele em que a gente vive. Diante desses olhos voltados para algo muito distante, como você entende no som do Aláfia a questão da diáspora negra?

Uma das músicas do Aláfia que é mais representativa chama “Mulher da Costa”. A tese dessa música é de que a África é teórica, porque o que a gente vê de África não condiz com a realidade, é uma fantasia, a áfrica é um fantasma, é fantasmagórica. A diáspora em mim soa como uma coisa latente, pulsante, mas que eu não consigo reconhecer de fato, porque todas as coisas que me foram apresentadas como “diaspóricas”, como frutos da diáspora, estão mais no campo da superfície do que no campo da profundidade. E tenho certeza de que a diáspora me influencia muito mais profundamente do que superficialmente. Eu sinto um outro pulso, uma outra coisa sanguínea, de ancestralidade, que não consigo colocar em palavras. Eu espero, eu rezo muito africanamente para que a minha influência da África seja espiritual, ancestral, e não estética. A parte estética e política é como a gente vai dizer aquilo que está sentindo de fato, profundamente. Não quero levar a África para um lugar dentro de mim que seja a alegria ou a dor, quero que seja um pulso espiritual, que eu consiga sentir a ancestralidade, e não, simplesmente, o lado de fora do meu corpo. Quero entender o dançar em roda sem pensar no porquê, 12

simplesmente como uma coisa natural. Porque, olhando de fora, ela é só um fantasma, um fetiche, e não é isso o que eu quero. Quero limpar a nossa relação. É mais ou menos isso. E a música ainda serve para expressar tudo isso?

Eu acho que serve, sinceramente. O espetáculo, o show, comunica por outras vias, mas a música é a mais completa. Porque está hoje inserida em códigos, numa linguagem que foi temperada e é reconhecida pelos ouvidos. É colocar o meu sentimento dentro de algumas fórmulas de sustentação que já estão pautadas no dia a dia, e as pessoas reconhecem. Tenho muito apreço pela palavra também, é uma possibilidade muito louca conseguir colocar o som da palavra e o sentido da palavra juntos, isso me encanta demais, em termos de canção, em fazer música usando palavras, isso é demais. Fazer música usando palavras é um sonho, toda vez que eu faço uma canção é um sonho, porque a palavra é uma coisa tão banal, e tê-la servindo uma canção e se transformando musicalmente é um barato, é um grande barato. Acho que o grande barato da música é poder fazer canção. Maravilha. Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Eu vou dizer que nós vamos preparar um espetáculo especial para esse dia, direcionado para a Sala Guiomar Novaes, que é um lugar que eu sempre, desde criança, tenho na minha cabeça como um palco iluminado, em todos os sentidos. A gente ficou muito feliz e vai preparar uma coisa muito especial. Essa sala, na minha cabeça, representa muito o tipo de som que a gente está fazendo, e é um passo importante para nós. Não sei por que, mas tem uma mística para todos nós. Quando converso com os caras da banda, todo mundo pensa que vai fazer um show que vai ser muito significativo, para nós principalmente.


Anelis Assumpção Paulistana, iniciou a carreira aos 18 anos, fazendo backing vocal na banda do pai, o também cantor e compositor Itamar Assumpção. Canta reggae, afrobeat, rap, bossa nova e samba. Integrou o grupo Dona Zica, com Iara Rennó e Andreia Dias. Começou a se apresentar como solista em 2007. Seu primeiro álbum, Sou suspeita, estou sujeita, não sou santa, do qual compôs a maioria das músicas, foi lançado em CD e vinil. A gravação do disco contou com participações de artistas como Céu, Karina Buhr, Thalma de Freitas, o trombonista Bocato e o baterista Curumin.

anelis.com.br scubidu.bandcamp.com/album/sou-suspeita-estou-sujeita-n-o-sou-santa

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

Acho que uma Cidade Sonora é uma cidade em que a gente consegue ouvir com os ouvidos educados todos os sons que ela pode oferecer. São Paulo é uma cidade sonora, mas, na maioria das vezes, se o ouvido não é educado, é uma cidade ruído. Acho que todas as cidades são sonoras, seja com mais gente, menos gente, mais passarinho, mais carros. A música está em tudo, o tempo inteiro. Mas acho fundamental uma Cidade Sonora de silêncio, só não sei se isso é possível. Como é a relação da sua música com as cidades?

Ah, a minha música... Acho que talvez a minha música reflita esse meu lado paulistano. Aqui em São Paulo, a catarse acontece, tudo passa por aqui, vem para cá, se prolifera aqui, cresce aqui, musicalmente, teatralmente, literalmente. Tudo tem uma grande força quando passa por São Paulo. Não que em outras cidades não seja assim, mas São Paulo faz o mundo ver. Então a minha relação com as outras 13


Anelis Assumpção

Foto: Anna Turra

“O artista independente hoje pode ser inteiramente popular. Eu faço parte da geração que teve esse facilitador que é a internet, que leva a minha música para onde quer que eu vá.”


cidades é de muito respeito, porque a gente aqui em São Paulo tem esse facilitador. Mas também é difícil, é tanta coisa, é tanta gente, que as pessoas já não conseguem ter delicadeza para cultivar. Agora mesmo, há poucas semanas, fiz um show em Garanhuns, no agreste pernambucano, e foi inacreditável. As pessoas cantavam as minhas músicas, eu nunca ia imaginar isso. Na semana anterior, fiz um show aqui em São Paulo e foi incrível, mas faltou isso que aconteceu em Garanhuns, que é a sensação de entrar no palco: “Que beleza, tá tudo certo...”

E, dentro dessa magnitude que é o Brasil, você acha que ainda faz sentido falar de uma música brasileira? Isso faz sentido para a sua música?

Essa classificação MPB é superdatada. Um exemplo é quando falam assim: “O que você canta, como é a sua música? É MPB. Ah, é tipo Ivan Lins?” Ficou uma coisa super anos 80/90. E parece que popular é só o que toca na novela. O artista independente hoje pode ser inteiramente popular. Eu acho que a coisa da MPB estava muito dentro da história de gravadora, elas tinham que ter essa classificação. Lembro de uma amiga que tinha um irmão mais velho, e ela falava: “O meu irmão vai num barzinho que toca MPB”. E completava: “Por que o seu pai [Itamar Assumpção] não faz um show lá?” E eu pensava, realmente: por que o meu pai não é MPB? Fiquei meio traumatizada com essa história de MPB, porque, de fato, o meu pai acabou ficando realmente do lado de fora disso. Mas era um artista extremamente popular.

A geração de vocês tem trânsito com uma musicalidade fronteiriça, ela é mais fácil de explicar. Hoje é mais fácil explicar para alguém que o Sepultura é música brasileira. Nos anos 80, era um pouco mais complicada essa ideia de trânsito.

Eu acho uma pena muito grande, que hoje, em 2012, exista uma rádio

FM, praticamente a única que toca música brasileira, que tenha o slogan que diz que é “a nova música brasileira”, mas com um repertório tão amarrado e datado. Parece que a gente não existe. É muito louco, ainda mais isso vindo do rádio. É perigoso, porque a gente só chega a quem está muito a fim de ir atrás do artista. A gente tem sorte porque hoje tem a internet, mas o cerco continua fechado.

Acho que temos muito a caminhar, mas me surpreende positivamente quando você vai para o agreste de Pernambuco, onde nasceu o Luiz Inácio, e encontra um público que conhece o seu trabalho, mesmo o disco tendo sido gravado fora de uma major, sem um trabalho massivo dentro da popularização da rádio.

Pois é, isso não tem preço, é algo incrível...

Sim, é simplesmente incrível, porque mostra que a sua música comunica com um grupo de pessoas como se fosse um encontro. Eu gosto de pensar na ideia dos 50 mil manos, gosto dessa ideia de que a música vai ao encontro. Ela encontra tribos, ou clãs ou pessoas ou grupos dos quais ela faz parte. Acho que essas experiências eram mais esparsas há dez, quinze anos atrás.

Hoje está, realmente, muito melhor, e eu consigo reconhecer isso e ver que faço parte da geração que teve esse facilitador que é a internet, que leva a minha música para onde quer que eu vá. Eu não dependo mais da distribuição, não preciso nem fazer disco se eu quiser. E fiquei boba de ver, porque, quando você faz um show lá em Garanhuns e vê as pessoas cantando, você sai da virtualidade. Uma coisa são as pessoas comentando no seu Facebook: “Eu sou aqui de Natal e a gente adora o seu som, quando é que você vem?” ou “Eu sou de Belém, ouço uma música sua aqui numa rádio.” Você está ali dentro da virtualidade. Mas quando você vai para um espaço físico e encontra essas pessoas, e vê que elas existem e que aquilo é real, aí é muito gostoso.

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“Acho que a função do artista hoje é se diferenciar, é não copiar, é procurar ser quem é. Singularidade, são momentos de procurar ser singular.”

Foto: Yuri Pinheiro

Arícia Mess


Arícia Mess “Quem balança como o mar não tem medo”, canta Arícia Mess em “Onde mora o segredo”. Essa cantora e compositora negra, carioca, descendente de índios, celebra a vida e o divino com sua música há mais de quinze anos. No batuque dos terreiros, faz a conexão com o divino; na pista, a experiência se repete com alegria: “Rainha de Angola mandou dançar.” E todo mundo dança. Ela assina a direção artística do CD e todos os arranjos junto com a banda. Foi uma das primeiras artistas a misturar o Tropicalismo com Michael Jackson e Stevie Wonder.

ariciamess.com ariciamess.com/o-cd soundcloud.com/ariciamess-1

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

Uma Cidade Sonora é uma cidade de que a gente possa ouvir um bom som. E que também possa ser silenciosa. Pronto, vou ser bem contraditória. Diante dessa cidade, que é musical, qual a relação da sua música com as cidades em que você viveu, que você habita, que você conhece?

A vontade da música é ser de todo lugar. Minha música não está fixada como carioca. Eu me sinto superpaulista hoje em dia. E sinto também que posso sair daqui e ir para outro lugar. Por enquanto, estou por aqui, mas sinto vontade de falar a língua de mais lugares. Pela música, a gente fala inclusive sem saber a língua. Não pretendo fazer muito a carioca nem muito a paulista, acho chato isso também. Se a música transcende o lugar, eu também pretendo transcender. Que a música pelo menos me ajude a transcender os lugares. 17


A música, a musicalidade, a sonoridade acabam tomando um espaço muito grande da atividade de um artista, mas como lidar com a relação entre os produtores e as pessoas que querem ouvir música, num sistema muito diferente, por exemplo, dos anos 1980, com a transformação de toda a indústria fonográfica?

Ela existe para isso. A gente tem que ver como usar esse meio, mas a música vai ser sempre um meio. Acho que é o momento de não ter medo de ser diferente. A indústria geralmente está procurando coisas que se repetem, fórmulas de sucesso. Acho que a função do artista hoje é se diferenciar, é não copiar, é procurar ser quem é. Sem medo de ser rejeitado, assumir a diferença. Singularidade, são momentos de procurar ser singular. Acho esse um caminho interessante, pelo menos é o caminho que eu vou buscar na minha vida. É difícil, tem um preço, mas é confortável estar dentro de si mesmo. É um caminho, cada um tem o seu. Foto: Tathy Yazigi

Sinto que a gente está diante de uma grande mudança de sistema. Vou procurando me achar dentro dessa mudança e mudar junto com as coisas. Eu vivi os anos 1980, vivi os 1990 e estou vivendo os 2010. O mercado da música está querendo a mudança, a gente não sabe bem para onde vai, vamos descobrindo juntos. Acho que a gente deve ser mais generoso nessa mudança para não ficar repetindo o padrão velho que não está mais funcionando.

Você acha que a música ainda dá conta, ainda serve para expressar todas essas inquietudes?

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Banda Hamlet

“A música entra como uma revelação total, ela revela totalmente o que as palavras do próprio Shakespeare não revelam.”


Banda Hamlet Incitados pelo desejo comum de fundir as diferentes características e particularidades em criação artística e, sobretudo, alimentar o exercício prático sobre o que são, quais os rumos a serem seguidos e quais os possíveis pactos, oito integrantes de diferentes grupos de Teatro de São Paulo se reúnem com o propósito de formar uma banda musical. A Banda Hamlet “ressuscita” para tocar o seu último show e recontar, através da música, episódios sobre como chegaram ao fim. Uma banda de “músicos/atores mortos-vivos” que tem como objetivo essencial tornar, pelo som que ecoa, cada vez mais viva e perene a prática dos trabalhos de grupo de São Paulo. youtu.be/dgYl2XjHQfc

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por Danilo Grangeia

O que seria uma Cidade Sonora?

Se fosse pensar numa Cidade Sonora, eu pensaria até que ponto toda a minha experiência, toda a minha história musical, toda a minha história sonora pode cruzar com a do outro e encontrar, na diferença do outro, um lugar de produtividade, de trabalho, de criação. Cidade Sonora é um caos que se organiza para gerar outra coisa.

A Banda Hamlet é formada por pessoas oriundas de coletivos de teatro. Eu penso na Banda Hamlet como um teatro pós-punk, com uma proposição do fazer você mesmo muito clara, uma proposição de que a história contada de maneira coletiva não se situa diante do virtuosismo. A proposição coletiva é a essência de fazer. Nisso ela tem trânsito com outras linguagens. Acho demais a visão do indivíduo dentro do seu coletivo emprestando-se para outro coletivo a fim de sacar qual

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A música é um meio por excelência desse coletivo?

A música é um lugar que vai direto. Se pensar no hall de todas as artes, a música é um lugar que movimenta espontaneamente o esqueleto. É onde está o desejo, aquele desejo, às vezes escondido, de expressar a sua infância, a sua juventude, a sua história. A música presentifica esse lugar. A opção da banda é não

“Enquanto está todo mundo com 3D, 4D, 5D, a gente vai apresentar um espetáculo 1D, que é representar com audição.” Banda Mirim

só confrontar essa realidade construída, ou mal sugerida na minha história, com o outro, mas a partir do Hamlet, encontrar um eixo de comunicação. A música, apesar da loucura dela, da subjetividade dela, é concisa e, quando a gente dialoga com o Hamlet, como ponto de partida ou como uma referência, ela vai na essência. Um simples gesto que é musical já resolveu toda a cena. Se a gente vai encenar a morte da Ofélia, por exemplo, a própria circunstância de se ver tentando, numa situação muito simples, cantar uma música e não conseguindo já é o extrato daquilo que a peça diz. Então a música entra como uma revelação total, ela revela totalmente o que as palavras do próprio Shakespeare não revelam.

Foto: Edu Marin

a possibilidade sonora, musical, disso. Esse trânsito de um coletivo a outro não é exatamente uma condição, mas uma forma de ver, de criar, de trabalhar, de organizar.


Banda Mirim Coletivo de talentosos artistas, entre atores, músicos, cantores e artistas circenses, a Banda Mirim vem se destacando, desde 2004, na cena de espetáculos para crianças e jovens, com musicais que combinam linguagens de teatro, música e circo, traduzindo em poesia o universo infantojuvenil. Pela ótica ora de uma menina, ora pela de um menino, o espetáculo Felizardo narra a saga de Aurora – uma menina esperta de 6 anos – e de seu amigo imaginário Felizardo, que partem para uma aventura heroica: brincando, vão para o reino da natureza e do folclore, onde não existe tempo nem idade. bandamirim.com.br myspace.com/bandamirim

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por Marcelo Romagnoli

O que é a Cidade Sonora pra você?

Se levarmos em consideração que uma cidade é organizada em movimentos e vontades, regidos por uma lei de convivência, talvez possamos fazer um paralelo com um movimento sonoro, não necessariamente uma música, mas um som também regido por algumas leis e uma certa organização ética. Uma organização de vários sons, de vários timbres, de várias sonoridades, para criar uma música. Uma música não só no sentido melódico, mas também no sentido de uma junção desses sons, um encadeamento de sons.

A banda é um trânsito entre a construção teatral e a ideia de uma banda. Mas não é um coletivo de teatro, é uma banda, tanto é que “banda” está no nome, no DNA do grupo. Como é a relação desse trânsito entre a Banda Mirim, o teatro, a música, os diversos agentes?

A banda fica na fronteira entre essas manifestações. Nesse momento, a gente está tendo a oportunidade de vivenciar isso. Está sendo

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Tanto em Felizardo quanto em Radioshow existe a ideia de uma proposição narrativa, uma história que está sendo contada. Já as musicalidades passeiam entre as manifestações tradicionais e um escopo mais pop, no sentido de que existem diversas linguagens. São várias relações que a banda estabelece com esse universo musical. Como você vê isso?

Em Felizardo e Radioshow, a dramaturgia está como apoio para a apresentação dessas músicas. Nas outras apresentações, existe uma história, e a música está contando essa história também. Mas nesses dois espetáculos a história acontece em função da música. Radioshow é uma pesquisa do rádio, da audição, da radionovela. Enquanto está todo mundo com 3D, 4D, 5D, a gente vai apresentar um espetáculo 1D, que é só audição, que é representar com audição. O som extrapola a música, a pesquisa vai ser sonora, não vai ser só musical. O que estamos tentando é fazer do próprio show uma música, quebrar a coisa da melodia. Como esses efeitos e defeitos sonoros podem contar uma imagem? É como se a gente pusesse óculos vedadores nas pessoas que, ao contrário dos óculos 3D, não permitem enxergar nada, só escutar. Esse trânsito entre a música e o teatro acontece de um jeito diferente em cada peça. Agora a gente está sofisticando essa pesquisa, saindo do campo somente melódico para ir, digamos, ao campo sonoro.

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Barbatuques Foto: Inaê Coutinho

sensacional, por exemplo, fazer oficina de teatro, oficina de música, trocar essas figurinhas, porque a banda se fundamentou na música, ela aconteceu da vontade de fazer um show. Logo no primeiro espetáculo, o show já virou um musical, não era mais “vamos cantar essas músicas”, já virou um espetáculo, misturando teatro. Isso foi acontecendo cada vez mais forte nos outros espetáculos.


Barbatuques E se o ruído do vento saísse pela sua boca? Se o barulho da chuva vibrasse nas suas mãos? E se todos os sons do mundo, da natureza e da cidade estivessem em você? Assim é Tum Pá, primeiro espetáculo infantil do Núcleo Barbatuques, uma jornada através de sons e movimentos, uma experiência inventiva e única que brinca com o corpo da cabeça aos pés. O trabalho desperta a escuta, a busca pelos sons do mundo através do corpo, valorizando a música brasileira, com canções inéditas e outras que fazem parte do universo da cultura popular em versões originais e inusitadas. barbatuques.com.br soundcloud.com/bbtqs

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por Fernando Barba

O que é Cidade Sonora pra você?

Cidade Sonora é uma cidade repleta de sons. O ouvinte, muitas vezes, divide-se entre contemplar os sons ou se proteger deles. São Paulo, por exemplo, tem muito ruído, muita brincadeira. Às vezes, a gente quer um pouco de silêncio, mas não consegue. A gente consegue curtir um pouco os sons urbanos. Qual a relação da música do Barbatuques com as cidades, ou com a cidade?

Cada cidade tem os seus sons e as suas tradições. As pessoas são fundamentais na construção da identidade sonora das cidades. Quando a gente viaja, tem contato com as manifestações do lugar, com a dança, com a fonética, com o tipo de música específica feita naquele lugar. Estivemos recentemente em Natal, fazendo oficinas de improvisação, e lá, um elemento que aparece muito é a natureza, o elemento indígena, a identificação com os animais. Quando estivemos na África do Sul, aparecia a dança tradicional de

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mineradores de carvão, com percussão nas botas. Aparecem esses elementos de identidade, que são a construção sonora da cidade.

Mas a cidade como matéria sonora é uma estrutura recorrente?

Talvez o Barbatuques esteja mais ligado na musicalidade do ser humano, nas “Música é manifestações do indivíduo e do fundamental porque coletivo. Acabamos de fazer um CD infantil, que se chama Tum Pá. pode carregar um A faixa “Escutando o som” estimula significado, fazer a criança a começar a escutar os sons do mundo, que estão ao redor um sentido no meio dela. Imitamos, com o corpo humano, desse caos.” o som da ambulância, do trânsito, do carro, da máquina, dos animais, do vento. Nesse trabalho, têm aparecido muitos sons urbanos como paisagem sonora, como elemento de fundo.

Você acha que a música serve pra expressar essas interações entre indivíduo, mundo, ecossistema, musicalidades diversas, essa ecologia sonora?

Música é fundamental, porque pode carregar um significado, fazer um sentido no meio desse caos. Às vezes, a gente consegue estar aberto ao som para encontrar um sentido na melodia. Uma vez, eu e uns amigos estávamos tentando sair de um engarrafamento no estacionamento de um shopping. As pessoas começaram a buzinar e, no meio daquele barulho infernal, nós começamos a buzinar com ritmo, tentando propor uma brincadeira. Algumas pessoas começaram a responder dentro do ritmo, outras ficaram mais bravas e buzinaram mais alto, mas, naquele momento, a gente conseguiu 24

suportar aquela situação porque a transformou em música, transformou em show, porque só o ruído estava insuportável. Qualquer sonoridade pode ser absorvida e transformada em música. O espetáculo que vocês vão apresentar no Cidade Sonora é o Tum Pá?

“Talvez o Barbatuques esteja mais ligado na musicalidade do ser humano, nas manifestações do indivíduo e do coletivo.”

Sim, e acho muito feliz o Tum Pá estar no Cidade Sonora, porque é o espetáculo em que a gente mais trabalhou com a sonoridade, por ter se colocado no lugar da criança. Seja para menores ou para maiores, o espetáculo já começa por valorizar os corpos não só fisicamente, mas no imaginário e na criatividade. Vamos pegar na mão do público e criar o nosso mundo sonoro.


Bixiga70

Big band paulistana, reúne dez integrantes e apresenta composições instrumentais autorais com elementos das músicas brasileira, latina e africana em temas dançantes e inspirados. Bixiga70 apresenta o seu primeiro disco, homônimo, lançado em 2011. O grupo estreita laços entre passado e futuro por meio de uma leitura da música cosmopolita de países como Gana e Nigéria, dos tambores dos terreiros e do samba, e da música malinkê, criando temas dançantes e inspirados.

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por Maurício Fleury

O que é uma Cidade Sonora pra vocês?

Cidade Sonora é o que a gente quer construir. A Virada Cultural foi marcante pra gente, foi uma realização ver a galera na rua às 5h da manhã, dançando, juntando-se, sintonizada, foi bem forte. Faz dois anos que a gente está fazendo o dia do grafite, 27 de março, em homenagem ao Alex Vallauri. A gente comemora no bairro do Bixiga com um evento a céu aberto, fazendo grafite, junto com um show, no caso, do Bixiga70. Convidamos os grafiteiros a criar um grafite para a fachada do estúdio, para ficar até o próximo ano. No primeiro ano, a gente fez dentro do estúdio com as portas abertas, mas neste ano a gente teve a felicidade de fechar a rua e fazer na rua mesmo. Reunimos 2.500 pessoas na nossa quadra do Bixiga. Isso é o que eu acredito que seja uma Cidade Sonora. Cidade Sonora como a cidade dos nossos sonhos, a cidade que a gente quer construir, onde a música rola livre. Qual a relação da música de vocês com a cidade, a cidade de São Paulo, onde o Bixiga foi criado, mas também as cidades

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Bixiga70 Foto: Pablo Saborido


que vocês conhecem, que vocês habitam?

A criançada joga bola na rua, o pessoal toca o som alto, é uma quebrada no centro. O Bixiga reflete pra caramba a gente.

A gente realmente é a favor das ocupações da cidade. O nome do bairro é o nome que inspira a gente, é o nome da banda mesmo. Você acha que a música, mesmo com todas as transformações, A gente sempre sentiu vontade de representar o bairro, pra valer, não consegue expressar e dialogar com toda essa complexidade só no discurso, e nem só para roubar o nome de um espaço. que é uma cidade? A gente chama Bixiga70 por acreditar que o Bixiga é um “Olhar bairro diferente, que tem sentido de comunidade. A A música, com certeza, é a arma. É a maneira de gente se sente abrigado lá, é um ponto de encontro. manifestar a cultura, talvez a mais direta. Não que para a pessoa ao A questão urbana permeia todo o trabalho da acredite que a música vá mudar o mundo, lado e sair dançando tem euacredito banda. Musicalmente, é uma interseção intuitiva que ela muda o mundo em cada muito significado na de música tradicional e urbana. A gente trabalha segundo em que se faz. Olhar para a pessoa ao com outros grupos, do hip-hop, do rock, do jazz, sociedade em que a gente vive. lado e sair dançando tem muito significado na do funk, do soul. Trabalhamos a relação com o sociedade em que a gente vive. Como artista, Como artista, o que buscamos o que buscamos é isso, uma integração entre ijexá, com os ritmos de oxóssi, com a música malinkê, com diversas influências ancestrais, as pessoas, uma despersonalização da história. é isso, uma integração que a gente tenta recombinar para uma coisa Mais do que fazer discurso sobre as questões da entre as pessoas, uma interessante e urbana. cidade, a gente tenta já superar algumas dessas despersonalização da questões fazendo com que as pessoas se integrem Como você vê a relação do Bixiga70 com um pouco durante a apresentação. história.” a ancestralidade do Bixiga, das diversas musicalidades que lá habitaram? Você gostaria de acrescentar alguma coisa a respeito da banda? No Bixiga, há um sentido de convívio diferente de outros bairros, pelo menos pra gente, que vem de áreas mais centrais de São Paulo e do A gente não é uma banda. Como nossa música é instrumental, nossa ABC. As pessoas fluem num outro ritmo no Bixiga, de mais aceitação. retórica não é o forte. Nosso forte é um discurso político de ação, A cultura nordestina é muito forte lá, tem uma casa do norte em cada de ação urbana, de dança, de improvisação. São os nossos pilares. quadra, às vezes até mais. A gente também é muito influenciado É pela síntese instrumental que a gente acredita que vai transformar pelas músicas nordestinas. Dá para perceber que o grande povo de alguma coisa entre as pessoas. O convívio é muito importante São Paulo são os nordestinos. A maneira como a coisa se constrói pra gente. aqui, principalmente no Bixiga, tem a ver com a maneira como as pessoas se viram dentro de uma marginalidade, mesmo estando no centro.

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BNegão & Seletores de Frequência

Foto: Daniela Dacorso

“Eu me considero entre os caras que buscam a alquimia da música, sem se preocupar se o disco vai vender pra caramba ou não, porque eu poderia ficar limitado no modo como eu penso a música.”


BNegão

& Seletores de Frequência Oito anos após o lançamento do elogiado álbum Enxugando o gelo, e de passar por várias cidades do Brasil e do planeta, BNegão & Seletores de Frequência estão de volta, apresentando seu novo e aguardado álbum Sintoniza lá. Composto por onze faixas, Sintoniza lá segue o conceito de “música negra universal”: uma explosiva alquimia sonora, em que ritmos jamaicanos, africanos e brasileiros se fundem ao rap, ao funk70 e ao hardcore de forma vigorosa, surpreendente e precisa. Lançado em junho de 2012, o disco foi produzido por BNegão e teve a maioria das faixas compostas e arranjadas em parceria com os outros integrantes da banda.

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

Uma Cidade Sonora pode ser tanto uma cidade que tem bastante música como uma cidade barulhenta, porque é um som também.

Você já tem uma trajetória de quase vinte anos, e o seu som vai mudando, vai tomando novas camadas. Eu reconheço que tem sempre esse trânsito entre o funk, o rock e o hip-hop, tem sempre esse norte.

Exatamente, o hip-hop está sempre presente.

Está sempre presente, mas a poética vai mudando. Como é a relação da sua música com as cidades, com as cidades que você conheceu, com a cidade que você vive, o Rio de Janeiro, São Paulo? Pô, cara, essa eu acho que é a pergunta mais fácil que já vi na vida. Acho que é exatamente isso, tudo o que a gente vai vivendo vai

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influenciando, literalmente. A minha música não é hermética, deixo ela aberta para receber tanto as energias dos lugares quanto as próprias influências, naturalmente. Exatamente isso que você falou, a própria poética vai evoluindo ao longo do tempo, porque eu fui evoluindo como ser humano e crescendo também. Quando eu era moleque, não gostava muito de viajar. Engraçado isso, mas sempre gostei muito de música de tudo quanto é canto do mundo, sempre agi pela música. E agora eu tenho essa sorte de poder viajar o mundo inteiro por causa da música e através da música. E então isso tudo influencia totalmente o trabalho, com certeza.

Você sempre esteve num lugar de trânsito, nunca consegui classificar. Passados esses dezoito anos, como é para você estar sempre meio na fronteira, na encruzilhada?

Essa parada é clássica. Lembro quando ouvi, há muito tempo, uma música do Arnaldo com o Chico Science, “inclassificável”: aquilo ali é a minha essência. Ao longo de todos os meus anos dentro da música, eu estou pela música, entendeu? Eu gosto, pô. Basicamente, navego pela música negra, pelas vertentes da música negra, esse é o meu básico. Vou fazendo o que gosto, sem ficar preocupado, sabendo que isso às vezes é um problema, por muitos anos foi. Mas, muitas vezes, foi solução. A gente chegou ali com uma coisa que funcionou naquele momento, às vezes funcionando, às vezes não, em termos comerciais. Em termos de música, sempre tem funcionado. Eu me considero entre os caras que buscam a alquimia da música, as alquimias musicais. A gente vai buscando as coisas sem se preocupar se o disco vai vender pra caramba ou não, porque eu poderia ficar limitado no modo como eu penso a música. Eu sou um privilegiado por poder viver disso. Porque você conseguir viver de música, ainda mais uma música que não está dentro do padrão, é uma loucura, mas, graças a Deus, está rolando. Aqui no Brasil, o Tom Zé, o Itamar, enfim, são caras que são desse padrão aí, os inclassificáveis, e fora do Brasil tinha o Mano Negra, que

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tinha no grupo o Manu Chao. Enfim, são os inclassificáveis, eu estou sempre por aí.

Quais são as influências que permanecem? Você já deu uma onda nessa ideia de inclassificável, mas existem inspirações que permanecem na trajetória toda?

Existe o Public Enemy, James Brown, Beach Boys, Thaíde e o próprio DJ Hum. Deixa eu ver o que mais: Dead Kennedys, com certeza, sempre, é fundamental, o DeFalla original, os dois primeiros discos que também são completamente inclassificáveis, até o Kings of Bushes. O King of Bushes é fundamental, até hoje é referência brutal. Os grupos do underground dos anos 1990 são as paradas clássicas e importantes. O Itamar eu conheci ouvindo na Rádio Fluminense, uma rádio que tinha no Rio de Janeiro que salvava a vida de geral. Eu ouvia tudo na rádio, não tinha dinheiro para comprar disco, tinha que esperar o disco sair para comprar no sebo. Ou o disco tinha aquele selinho de “proibida a venda”. Jorge Ben também é um que eu ouço desde moleque. Ele começou a me influenciar na música depois de um tempo, é engraçado, começou a influenciar na música no final dos anos 1980, mas é um cara que eu ouço desde sempre. Tim Maia, também, são grandes mestres. Eu fico me lembrando, minha memória é jamaicana, já vem com delay. Um cara que sempre considerei influência, de quem sempre gostei de ir nos shows, é o Arnaldo Antunes, também, influência direta.

Como é para você tocar em São Paulo, essa metrópole gigante?

Quero dizer que estou superfeliz de tocar em São Paulo, sempre, é uma parada que é real, não é demagógica. Porque gosto muito daqui de São Paulo. Principalmente os primeiros lugares que acolheram a gente. O punk também é uma parada clássica aqui, o punk rock das antigas. É uma relação clássica, fico feliz sempre que venho tocar aqui, é sempre bom.


Ellen Oléria A cantora e compositora brasiliense Ellen Oléria, sempre que perguntada sobre seu estilo marcante, imediatamente se identifica como farofeira, ou seja, fazedora de uma mistura tipicamente brasileira, que pode incluir variados ingredientes sem se descaracterizar. Base acessível, reforça o prato de quem tem fome de um bom som independente da classe social, geração, credo ou cor. Oléria tempera com o que se trouxer da dispensa essa sua levada brasuca que dá sustança! Do samba ao jazz, do afoxé ao hip-hop, do rock ’n’ roll ao pop. Com o poderio da sua voz, mexe com o coração do povo, como é comum às divas e às alquimistas do sabor.

ellenoleria.com myspace.com/ellenoleria/radio

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O que é pra você uma Cidade Sonora?

Qualquer ponto do nosso planeta tem a sua peculiaridade sonora para um ouvido pensante disponível a escutar a sinfonia local. Quando você fala em cidade, penso no encontro das nossas tradições, da nossa tribo. A cidade tem cara de conglomerado, o nosso ajuntamento, o ajuntamento da nossa tribo. Quando você fala em Cidade Sonora, penso nas possibilidades narrativas dos nossos encontros, como um ouvido pensante, desde o ruído mais próximo ao mais distante, e em como esse ruído pode virar música dependendo da poesia que o nosso ouvido conseguir colocar.

Qual a relação da sua música com as cidades em que você viveu, Brasília, uma cidade planejada, e essa impossibilidade da arquitetura resolver a convivência humana. Mas a pergunta em si – isso aí são só provocações – é: qual a relação da sua música com a cidade em que você vive, com as cidades em que você já viveu e com as cidades que você conhece?

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Meu primeiro alimento poético vem da minha comunidade. Nada que eu escrevo brotou magicamente. A minha poesia já nasce desse primeiro encontro e obviamente é filtrada pelo meu lugar de fala, essa pessoa aqui, que filtra, que transforma esses encontros com as pessoas, e desencontros também, transforma em palavra, sejam elas ditas, cantadas ou escritas. Quando devolvo o que recebi nos meus encontros e desencontros, eu interfiro na cena e gero novos encontros e desencontros. A cidade onde eu vivi traz essa carga política, todo lugar aonde eu vou tem uma elite local, a classe operária local, os comerciantes locais, os artistas locais. Acho que essa setorização dos saberes é importante pra gente se articular, dentro do que a gente considera ideal para os nossos encontros. São nesses encontros e desencontros que a gente começa a formar paridades, a falar de equidades a partir das diferenças. A minha sensação primeira como artista, além do prazer de ser atravessada pela música que faço, é ver as possibilidades de desdobramentos das músicas quando elas chegam até as pessoas. Eu estava conversando com a Paula, a contrabaixista que toca comigo, sobre quando a gente tem certeza de que a música está pronta, o que é essa sensação de “pronto, acabei”. E o que a gente tem é só uma tranquilidade do que se pode passar para frente, porque a música nunca está pronta, ela sempre se mistura com as pessoas e acho que é para isso que ela vem. O que a gente faz é maior do que a gente, é maior do que a minha cidade de origem, caminha mais rápido que as minhas pernas, cria uma rede muito mais sábia e poderosa, uma rede de relações. Eu gosto de uma parte da letra de “Testando” que fala: “a minha voz transcende a minha envergadura”. Você realmente é a ponte entre as tradições da música negra brasileira, que precisavam de um elo. Acho isso ímpar, é basicamente o que eu chamaria de soul, na acepção da palavra. Como é fazer esse trânsito de uma musicalidade que tem um braço determinado na tradição dessa chamada soul music, com vocação brasileira, mas que também

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tem um trânsito muito forte com o hip-hop, a ponto de o Ed Hop chamar você de “o futuro do hip-hop”. Como você vê isso? Você sente esse elo, ouve essas tradições, percebe esse trânsito?

Sempre pensei que a minha música tinha alma, uma força narrativa das tradições sertanejas, modas de viola. Sinto-me pega pela mão e conduzida para um lugar. Penso no meu repertório como um mapa, e o mapa tem várias possibilidades de leitura, várias mesmo, mas não infinitas. Como a prática de cozinhar, de juntar vários ingredientes e só oferecer depois de experimentar e saber que está bom. É bem isso, acho que passa primeiro pelo meu paladar quando eu ofereço para alguém diferente. A música vem assim para mim, o meu repertório vem assim. Gosto de cantar coisas que me sacodem, que me tocam de alguma maneira, que me arrepiam, que me fazem chorar, que me dão água na boca. Não sei se faço essa ponte ou não, mas acho maravilhoso que você veja a ponte e passe por ela, e espero que outras pessoas passem por ela também. A ponte para mim já estava estabelecida quando eu cheguei, foi por isso que colei uma música na outra. Acho que elas vieram para caminhar juntas, em mim elas caminham juntas, sou um ponto de encontro para elas, o meu corpo é um ponto de encontro dessas duas vertentes discursivas e estéticas. Acredito que a ponte poética e a ponte estética estão no ouvido de quem escuta, nos olhos de quem vê. A gente sabe que o projeto era um extermínio completo das nossas tradições e da nossa presença negra aqui no Brasil. É uma história compartilhada dentro da diáspora africana nas Américas e no Caribe – e, por que não dizer, na Europa também. Acho que a diáspora foi muito poderosa e, de alguma forma, a gente se uniu poderosamente com base nesses saberes, antes do idioma, antes da palavra. Acho que a ponte já está feita, quando cheguei o trem já estava pronto. Fico muito feliz de poder ser um canal potencializador disso.


Foto: Frame Produções

“Quando você fala em Cidade Sonora, penso nas possibilidades narrativas dos nossos encontros, como um ouvido pensante.” Ellen Oléria


Foto: Mak천 Oiwa

Elo da Corrente


Elo da Corrente O trio paulistano destaca-se no cenário do rap nacional por suas produções inspiradas na música brasileira e mundial com raízes na África. Com onze anos de carreira juntos, os MCs Caio Neri e Pitzan Oliveira e o DJ PG criam seus instrumentais a partir de pesquisas sobre sonoridades características de décadas anteriores. O grupo prepara-se para lançar seu terceiro álbum, intitulado Cruz, que contará com participações de músicos jovens do cenário atual, além de artistas consagrados na história da música brasileira, como a cantora Célia, que interpreta a letra de “Ave liberdade”, em single recém-lançado pelos mesmos. elodacorrente.tumblr.com soundcloud.com/elodacorrente

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por Pitzan Oliveira

Na sua concepção, o que é uma Cidade Sonora?

São Paulo é uma Cidade Sonora. Eu acho que as grandes cidades são cidades sonoras. Toda cidade que tenha um movimento musical, cultural, é sonora. Mesmo cheia de ruídos, acho que a nossa cidade é a mais sonora de todas. São Paulo se mostra sonoricamente de várias formas. No momento em que você acorda, tem o barulho do ônibus; no momento em que você vai dormir, também tem o barulho do ônibus.

Como o Elo surge no meio dos anos 2000?

O Elo é de 2000. A gente se formou em 2000 e o primeiro disco do Elo saiu em 2007. Mas em todo esse tempo até lançar o primeiro disco a gente participou de umas doze coletâneas.

No início dos anos 2000, teve uma virada dentro do hip-hop. O hip-hop estava sendo muito questionado, e foi uma virada complexa. Como você vê a música do Elo da Corrente,

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ao longo desses doze anos?

seguir. O que a gente quer daqui pra frente é isso: fazer de uma maneira diferente do jeito anterior.

“A cidade de De 2000 para cá, acho que muita coisa mudou. O rap Você acha que o caminho do Elo para expressar nacional existe há bastante tempo, só que essa cena só São Paulo é o essas diferenças é através do contato com outras despontou no início dos anos 2000, 2001, com os nomes espelho do que a sonoridades, outros artistas, oriundos de outras de agora. A gente se formou na escola, começamos a tradições, nem sempre ligados ao hip-hop frequentar estúdio juntos e resolvemos fazer o grupo. gente gosta de ou à cultura de rua? Era bem diferente, as baladas, o tipo de convivência, era retratar nas tudo mais íntimo. Hoje a coisa tomou uma proporção músicas.” É bem isso, dialogar com outras formas de música que, maior. Mas eu vejo que a cena ainda está começando a até então, a gente só tinha acesso ao vivo, vendo uma pessoa querer crescer. E a cidade de São Paulo é o espelho do que a tocar, ou tocando junto com ela. O que a gente quer fazer é tornar gente gosta de retratar nas músicas, do que a gente fala nas letras, a nossa música mais orgânica, deixar ela cada vez mais fácil de ser do que a gente vive, do que a gente já viu. manipulada. De uma forma dinâmica, que não fique repetitiva, que não fique um ritmo do começo ao fim da música, e você cantando qualquer Olhando para o futuro, o que você espera para o Elo, coisa. A ideia não é essa, a ideia é que, em cada segundo, a música para o hip-hop? valha a pena, não só para quem está ouvindo, mas pra gente, especialmente. E essa contribuição de pessoas com outra visão, Falando pelo Elo, o que a gente quer fazer e continuar fazendo é outra bagagem musical, leva a coisa para outro plano. música junto. Só que cada trabalho, cada disco, é um disco novo, pois a gente não quer ficar se repetindo. Não é porque um trabalho deu certo que o outro vai vir na mesma pegada. A ideia é que cada disco tem que vir com um olhar novo, com uma abordagem nova. Até hoje, a gente fez tudo com o computador, com bateria eletrônica, a gente produzindo tudo. Hoje em dia, a gente tem estudado música e está chamando um “A maioria dos produtores de rap deve monte de gente pra tocar. Nosso próximo disco vai ter um arranjador, vai ter sopro, vai ter estar pensando novas possibilidades de cordas. A maioria dos produtores de rap “A ideia é composição, seja você mesmo fazendo ou devem estar nessa pegada que é pensar que, em cada novas possibilidades de composição, seja alguém contribuindo.” segundo, a música você mesmo fazendo ou alguém Essa liberdade de fazer o que valha a pena.” acontribuindo. gente quer torna a coisa mais livre para a música e para o caminho que ela tiver que 36


Emicida Cria da Zona Norte de São Paulo, Emicida surgiu no cenário rap em 2006, destacando-se desde cedo nos torneios de freestyle. Tido como um dos maiores nomes do freestyle nacional, lançou, em 2009, Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe, a mixtape mais comentada e vendida do rap brasileiro. Em 2010, Emicida lançou a mixtape Emicidio. Apresentou-se no Rock in Rio 2011 e no SWU. Recebeu duas premiações no VMB, como Melhor Videoclipe e Artista do Ano.

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O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

Cidade Sonora é uma cidade que respeita e valoriza os seus barulhos. Não anula nem condena, faz com que todos montem uma sinfonia. A cidade se torna mais musical por causa deles, para se poder compreender com seus barulhos.

Como você vê a relação da sua música com as cidades que você está encontrando?

Trato minha música como um desenho. Quando a escuto, visualizo cada um dos lugares por onde passei ao criá-la. Visitar outros lugares não diminui minha propriedade ao falar da minha quebrada. Viajar enriquece, porque mostra que nem todo rap é de protesto, que nem todo rock tem guitarra. Sou a rua em que nasci entregando o coração à música para todos ouvirem por onde passei.

Emicida não é o MC e o homicida? O MC é da batalha, do freestyle, rima na hora sobre o que está acontecendo. Como conciliar essa

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Foto: Fernanda Negrini

Emicida


capacidade com a mensagem a passar, como trocar essa ideia e formalizá-la?

As duas coisas se complementam. O freestyle é um estágio eterno, na verdade, um eterno aprendizado. Nunca vou deixar de ver o freestyle como estudo. É ele que me faz revisitar as palavras e as células rítmicas. Uma sessão de improviso é sempre uma aula. Antes de mostrar meu freestyle, me preocupei em escrevê-lo, porque queria passar uma mensagem e o tempo do freestyle é curto. No meu trabalho gravado, consigo trabalhar temas que tenho vontade. Busco com que os dois se pareçam muito, não unicamente na estética, mas no conteúdo, porque o lance é ter freestyles que pareçam letras e ter letras que pareçam freestyles.

Para mim, a batida da música “Triunfo” une ética e estética, faz parte do conteúdo, é orgânica.

“Triunfo” é uma declamação do momento que a gente está vivendo, do sonho de mostrar e ser visto. Se você atrai os olhos para você, não pode deixar acontecer em vão. “Triunfo” foi isso. O Felipe, produtor musical da base, foi quem conseguiu captar e desenhar harmonicamente o discurso. As pessoas se contentam com as coisas como elas são. Mas as coisas não devem ser como elas são, as coisas devem ser como a gente quer que sejam. Se batalhar por isso, a gente consegue. O trabalho, desde sempre, aqui no Laboratório Fantasma foi criar uma estrutura que possa ser compartilhada com artistas que admiramos. A gente está começando a viver isso agora. O jurídico, o atendimento, o merchandising têm que funcionar pela música. É isso que dá a impressão de que é uma pessoa fazendo tudo, mas, na verdade, é um grupo funcionando como um organismo vivo. Vou fazer o meu álbum agora, o meu primeiro álbum oficial. Graças a Deus a gente criou essa estrutura, e eu vou usá-la para criar o meu primeiro álbum.

É um passo do hip-hop nacional, consequência do seu modo de pensar, ou os dois?

“Sou a rua em que nasci entregando o coração à música para todos ouvirem por onde passei.”

O modo de pensar me inspirou muito, mas é um passo diferente. Não consigo ver outra empresa oriunda do rap nacional tão estruturada como a empresa que tenho com meu irmão, com uma movimentação desse tamanho. Artistas grandes se vinculam a gravadoras, não é uma crítica, acho totalmente natural. Talvez a gente seja pioneiro nesse tipo de iniciativa, de ter um negócio que funcione de maneira totalmente independente e que proporcione tantas coisas legais.

A música serve para expressar todas essas coisas?

A música fala tudo. Não precisa nem ser entendida. Às vezes, eu falo de um conflito interno e o ouvinte assimila de outra maneira, também positiva para ele. É a qualidade maior da música, dialogar com a alma das pessoas, não exclusivamente com o cérebro.

“O lance é ter freestyles que pareçam letras e ter letras que pareçam freestyles.” 39


Flávio Renegado

Foto: Mario Canivello

“A música é a única coisa que eu conheço capaz de aproximar as pessoas independente da língua.”


Flávio Renegado Desde sua estreia, em 2008, Flávio Renegado parecia prever que suas músicas percorreriam o mundo. O primeiro álbum do cantor, intitulado Do Oiapoque a Nova York, foi lançado de forma independente e o levou a turnês por Cuba, França, Inglaterra, Espanha e Austrália, além de percorrer diversas cidades brasileiras. Esse processo resultou no seu novo trabalho, o álbum Minha tribo é o mundo, lançado em novembro de 2011. Com sonoridade urbana, influenciada pela multiplicidade dos movimentos sonoros contemporâneos, Flávio Renegado vai invadindo o mundo. minhatribo.flaviorenegado.com.br soundcloud.com/flaviorenegado download.flaviorenegado.com.br

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O que é para você uma Cidade Sonora?

As cidades, no meu ponto de vista, são sonoras sempre. Cada lugar a que você vai tem informação. São Paulo tem os seus ruídos, os seus passos, o seu trânsito, o seu ritmo, o seu metrô. A Cidade Sonora é uma cidade que tem informação no que ela tem de som. É hereditário, é o RG dela.

Qual é a relação da sua música com a cidade em que você mora, ou com as cidades em que você já morou, com as cidades que você habita?

Acho que a minha música é a trilha sonora de qualquer lugar que eu esteja. Procuro fazer isso dela, a música tem que compor. Quando a música não pode sofrer interferência externa do lugar em que está sendo feita, ou do lugar em que está sendo executada, ela não é uma música atual, não é contemporânea. Procuro fazer uma música que seja contemporânea à cidade em que estou, ao lugar que estou vivendo, que seja urbana a ponto de recompor com aquele cenário, com aquele local.

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Flora Matos

Foto: Carla Arakaki

“Dançamos juntos as cidades em forma de som.”


Flora Matos Flora foi criada por uma família de músicos, tendo subido aos palcos pela primeira vez aos 4 anos. Em 2006, começou a fazer shows solo, recebendo o prêmio de melhor cantora do ano de Brasília. Foi convidada por KL Jay e Ice Blue para participar da mixtape O jogo é hoje. Em outubro do mesmo ano, lançou o seu primeiro single, intitulado Jogo da velha. No fim do ano, produziu e lançou sua primeira mixtape, Flora Matos vs Stereodubs.

O que é uma Cidade Sonora para você?

Uma Cidade Sonora pode acontecer em qualquer lugar. Basta caminhar de ouvidos abertos.

Qual a relação da sua música com a cidade, ou com as cidades que você habita?

A relação da minha música com as cidades que habito é curiosa e interessante. Me inspiro ao caminhar por elas, depois refletimos e dançamos juntos as cidades e suas características em forma de som.

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Foto: Antonio Brasiliano

Guilhermoso Wild Chicken


Guilhermoso Wild Chicken Conhecido como o Frango Selvagem do rock ’n’ roll, o estilo de Guilhermoso inclui o rock ’n’ roots, o rock de raiz e o rock com pitadas da culinária nacional. A maior parte do repertório é composto de criações originais, mas existem também versões de clássicos como “Back in black” do AC/DC; “Fire”, de Jimi Hendrix, que virou “Teu fogo”; e “School days”, de Chuck Berr y, que é “Dia de prova”. soundcloud.com/guilhermoso

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O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

Na Cidade Sonora, apesar dos barulhos urbanos, buzina, trânsito, a gente consegue escutar os passarinhos, os cachorros latindo, os gatos de madrugada. Cidade Sonora é uma cidade que tem uma cena musical muito forte. A imagem que me vem quando você fala Cidade Sonora é uma noite com mil opções de shows, dança, teatro, cinema, mas basicamente com muita música numa cidade. Você tem várias formações, teatro, história da mitologia, e tem um DNA muito forte no seu som que é o rock ʼnʼ roll. Como é a relação dessa musicalidade, nos shows muito quentes, com a cidade, com as cidades que lhe vêm à cabeça quando você evoca o som delas?

A gente pode ler a cidade como sendo um grande palco e, quando a gente diz palco, não se separa o show e a parte teatral do show. Algumas bandas, ao longo da história, tiveram uma preocupação mais teatral do que outras. Gosto muito da mitologia,

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estava dando aula de mitologia antes de a gente conversar. A mitologia resgata, leva a gente para as raízes da percepção. Desde quando o homem vivia inserido na natureza até o homem urbano, são as mitologias que vêm se sucedendo através das eras. Com relação ao rock, sempre gostei da sonoridade, principalmente na primeira fase, nos anos 1950. Chuck Berry, Little Richard, Elvis, Jerry Lee Lewis, a gênese sonora do rock ʼnʼ roll. Existe uma coisa atemporal nesse som. Depois tem a fase psicodélica, o rock pesado e mil variantes. Quanto à cidade, mais do que agitação, há muitas regras para se viver numa como São Paulo. Às vezes, a gente fica tolhido na nossa expressão, na nossa vontade de dar um grito, de dançar. O rock resgata isso, esse impulso de “vamos dançar, vamos gritar, vamos viver”.

“Rock ’n’ roll, energia e vamos viver.”

O Guilhermoso Wild Chicken existe há quanto tempo?

Existem duas cronologias, uma concreta e outra abstrata. A concreta é o primeiro show, que aconteceu em 1990, há 22 anos. A abstrata é o tempo místico da banda, que está sempre em 1958 nos Estados Unidos. O calendário vai virando e dia 31 de dezembro a gente fala: “Amanhã é dia 1º de janeiro de 1959.” Na cronologia abstrata, a banda está com quatro anos de idade, começou ali por 1954, fazendo umas experiências de rhythm ʼnʼ blues, junto com o country. A música é um veículo de excelência para trazer todas essas diversas fontes de convivência ao redor do mundo?

É um veículo de excelência e de transcendência. A música tem uma coisa mágica, é uma ponte invisível que liga pessoas, cidades, 46

agrupamentos sociais. É mágico “A música tem uma música numa língua que uma coisa mágica, é escutar a gente não conhece e entender, uma ponte invisível que sacar a sensação. O mundo deveria escutar mais música, faz bem para liga as pessoas, as a saúde espiritual. cidades, os agrupamentos Você gostaria de colocar alguma sociais.” coisa em relação ao show? Estou superfeliz de participar desse projeto, fazendo entrevista, livreto. Gostaria que projetos como esse acontecessem mais na cidade. Fica o meu incentivo para que várias pessoas façam várias coisas bonitas. Rock ʼnʼ roll, energia e vamos viver.

“Quanto à cidade, mais do que agitação, há muitas regras para se viver numa como São Paulo. Às vezes, a gente fica tolhido na nossa expressão, na nossa vontade de dar um grito, de dançar. O rock resgata isso, esse impulso de ‘vamos dançar, vamos gritar, vamos viver’.”


Karol Conka Karol Conka vive no Paraná e é considerada uma das principais representantes do rap feminino dos últimos tempos no país, sendo indicada como “a aposta” no VMB 2011. Após disponibilizar no MySpace algumas músicas, lançou seu primeiro single oficial, Boa noite, que ganhou videoclipe e estará em seu primeiro extended play, lançado em 2012. Estabelecendo parcerias com grandes nomes do rap, como Marcelo D2 e Emicida, Karol Conka tem muita personalidade e não tem medo de mostrar. soundcloud.com/karolconka

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O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

Cidade Sonora seria uma cidade bem movimentada musicalmente, com uma música muito forte.

Como é a relação da sua música, do som que você faz, com a cidade em que você vive?

Procuro colocar nas minhas músicas o que vivo no cotidiano, e o que outras pessoas veem também. Antes de fazer show pelo Brasil, eu não tinha saído de Curitiba. O que me levou para fora de Curitiba foi a minha música. Eu colocava tudo o que eu via nas ruas de Curitiba, mas o que falo na minha música se encaixa na vida de muita gente.

Curitiba tem uma relação dentro do hip-hop, DJs muito bons, é um cenário do qual você faz parte. Como é fazer hip-hop em Curitiba?

Foi meio por acaso. Quando eu era mais nova, escrevia poemas e sempre quis estar no palco. Queria ser cantora de MPB, admirava

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Milton Nascimento, Elis Regina, mas eu tenho uma coisa mais avacalhada, mais despojada, que não se encaixa bem na MPB. Permaneci perdida por uns tempos, até um amigo me falar: “Olha, isso está parecendo um rap.” Eu era muito nova, tinha 14, 15 anos. Comprei um CD do Fugees e me apaixonei. Falei: “Eu posso!” E comecei a ir nas festas de rap, porque vi que tinham umas meninas que faziam rap. Só que o jeito que elas faziam não me agradava; elas se vestiam como homens e a rima delas era muito pobre. Como eu já manjava muito de poemas e versos, me colocaram para abrir um show. Eu tinha 16 pra 17 anos. Desde então, não parei mais, me apaixonei. Me apaixonei pelo público, pois adoro pessoas, adoro estar em cima do palco com um microfone na mão mandando uma mensagem, com a sensação de voltar para casa e saber que eu disse alguma mensagem para alguém. Aqui em Curitiba tem uma cena forte, a galera é fiel ao rap, tem uma cena de respeito. Curitiba provou que tem público, sim, a galera consome. O público daqui ama ou odeia, é verdadeiro.

Karol Conka

“Dizem que o rap não foi feito pra mulher. Mas a gente está chegando e o negócio é só chegar cada vez mais.”

Nós, mulheres, estamos chegando, já tem um bom tempo que a gente está chegando. Desde quando eu nem imaginava que ia cantar rap, já tinham as meninas, Negra Lee, Tina Dee. Era sempre esse discurso “estamos chegando”, e eu continuo mantendo esse discurso, mas acrescento que hoje a gente já provou que pode. Quando eu comecei, era aquela coisa de “estamos provando”. Hoje, a gente já provou. Agora, é cada coisa no seu tempo, é passo a passo. Se tem festival de rap, sempre estamos lá, eu ou Camila ou Negra Lee, porque o público gosta. O público gosta de ver como é importante a atuação da mulher no rap nacional. Tem pessoas que não gostam, dizem que o rap não foi feito pra mulher. Mas a gente está chegando, a gente sempre vai estar chegando. Eu me recuso a dizer que estou tentando provar, porque eu já provei e o negócio é só chegar cada vez mais.

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Foto: Luciana Faria

Como é ser mulher MC em um cenário que é hipermasculino, como o do hip-hop nacional?


KL Jay Kleber Geraldo Lelis Simões começou sua carreira em 1984. Juntamente com Edi Rock, Mano Brown e Ice Blue, fundou o Racionais MC’s no fim dos anos 1980. Com o rapper Xis, criou a gravadora 4P, onde lançou seu álbum solo Na batida volume 3 – Equilíbrio, a busca, em 2002, que conta com a participação de vários artistas do hip-hop. Divide o tempo entre shows com os Racionais, discotecagem em casas noturnas, oficinas de DJ e o seu atual projeto solo, a fita mixada Rotação 33, lançada em junho de 2008. djkljay.com

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O que é, para você, uma Cidade Sonora?

Cidade Sonora é uma cidade que emana música, com música em todos os cantos, palcos, camelôs na rua, lojas, restaurantes. Rola música nas casas, nas rádios, nos carros. A música como trilha sonora da cidade.

Como é a relação da sua música com a cidade? A cidade em que você vive, o bairro onde você viveu, as cidades que você conhece.

São Paulo é uma cidade cosmopolita, é uma selva de pedra. A música que eu toco tem a ver com a realidade da selva. Vários prédios, vários carros, bandido, ladrão, trabalhador, polícia, gente boa, pessoas românticas, pessoas apaixonadas, pessoas que têm ódio, pessoas que querem trabalhar, que tem um foco, pessoas que pensam pra frente. Tudo isso está na música que eu toco e no meu jeito de tocar. 49


Você participa, na minha concepção, da maior banda de hip-hop que já existiu no Brasil, e uma das mais importantes na América, que é o Racionais. Como é olhar para trás e ver esse percurso, desde o Holocausto Urbano, até agora?

“Cidade Sonora é uma cidade que emana música. A música como trilha sonora da cidade.”

Quando comecei, eu não tinha um plano, fui pelo instinto, pelo amor. Sabe quando você sente o cheiro da comida e vai? No começo foi isso, não coloquei no papel, eu fui e fui. Como disse o Garrincha: “Você vai indo, indo e indo.” Eu “fui indo” e ficou nítido para mim. Foi um caminho que eu escolhi, ser DJ e ser versátil. Não ser só um DJ de grupo de rap, mas ser um DJ que toca em festa, que produz, que faz performance, que faz esquete. A conclusão é que eu estava certo.

Quero ver o show, e vai ser ótimo o bate-papo, ter esse depoimento ao vivo.

No dia do evento, quero realizar mais um trabalho bem-feito. Quero fazer bem-feito. Cada lugar é um lugar, e cada lugar é uma energia, um público diferente, um som diferente. É como se fosse um jogo de futebol: é exclusivo, você treina, treina, estuda, mas no campo é tudo improvisado. Salvo algumas jogadas ensaiadas, o resto é tudo improviso. É como tocar jazz, eu espero improvisar bem nesse dia.

O que é, para você, ser DJ depois de 22 anos?

Ser DJ é ser eu. Entendeu? É ser eu. Mesmo. Ser DJ faz parte da missão que eu vim cumprir aqui. A missão de estar envolvido na música, revelar talentos, ser verdadeiro, tocar a música, a música de que eu gosto, mostrar a música para as pessoas, fazer as pessoas felizes e fazê-las voltar no tempo, ir para outra galáxia. Amenizar um pouco a dor das pessoas e, ao mesmo tempo, trazer a felicidade. É uma missão.

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“Ser DJ é ser eu. Entendeu? Ser DJ faz parte da missão que eu vim cumprir aqui. Amenizar um pouco a dor das pessoas e, ao mesmo tempo, trazer a felicidade. É uma missão.”


Foto: Bob Donask

KL Jay


Foto: Gabriel Wickbold

Lino Krizz


Lino Krizz Cantor, compositor e produtor, começou a carreira artística profissional com apenas 13 anos, quando gravou um grande sucesso lançado pela Sony Music e foi premiado com disco de ouro. É integrante das bandas Motirô, Urban Toten e Jam Suburbana. Cantou e gravou com grandes nomes da música nacional e internacional, como Ed Motta, Sandra de Sá, Seu Jorge, Fernanda Porto e Rogério Flausino. Faz músicas com uma simples levada soul, ao mesmo tempo em que apresenta canções com melodias sofisticadas. Faz hip-hop e rap ao mesmo tempo em que canta doces baladas.

linokrizz.com.br myspace.com/linokrizz/radio

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O que é uma Cidade Sonora para você?

Cidade Sonora é onde você acaba captando todos os tipos de sons, todos os tipos de vibrações, independentes do ruído, afinadas ou não. Qualquer tipo de ruído pode se tornar musical. Você pode captar o ambiente e transformar em música. É conseguir captar a essência da cidade e transformá-la em música de qualidade.

O entorno, o bairro, a cidade, o som da lata, tudo está muito presente do seu som. Qual a relação da sua música com as cidades onde você viveu, a cidade onde você vive e os lugares que você conheceu?

Vamos começar pela parte mais fácil. Com outras cidades, a relação é de estudo. Sou um pesquisador muito curioso, gosto de saber da musicalidade das cidades, do Sul até o Norte. Conheço um pouquinho da musicalidade do Nordeste, da Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, da música mato-grossense e pantaneira. A parte mais difícil é justamente a minha cidade. São Paulo é uma cidade fria, a cidade

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da garoa, é muito urbana, cosmopolita, nunca para, nunca dorme, 24 horas do dia você vê, ouve, capta sensações. Sempre tem alguma coisa acontecendo em São Paulo. No Lino Krizz, a urbanização musical está muito presente. Esse trabalho é muito profundo e, ao mesmo tempo, pop. É conceitual ao mesmo tempo em que é fácil. O foco é São Paulo, é o som urbano, o som eletrônico, frio, mecânico e, ao mesmo tempo, triste e humano.

pessoas, que eu consiga produzir música e que essa música vá e arrebente no Brasil inteiro, como já aconteceu, com “País de nenhum”.

Você falou de uma urbanização musical, de um cantor que é autodidata, paulistano. A música serve para falar sobre todas essas questões?

Música é uma linguagem universal, principalmente com internet, Facebook, com as redes sociais. Você pode chegar “A música no Japão em um minuto. Temos que fazer as coisas está muito mais acontecerem, aproveitar esse momento, esse ensejo social. A qualquer pessoa, da mais comum até a de maior poder igualitária.” aquisitivo, a música chega. A música está muito mais Exatamente isso. Eu escuto bem o passado, gosto de igualitária. Esperamos por mais músicos, por mais música, ficar pesquisando, desde Chiquinha Gonzaga, desde os uma andorinha só não faz verão. Como o pagode dos anos negros escravos, até a atualidade. Lino Krizz é um 1990, como o pop-rock dos anos 1980, a música de São Paulo Frankenstein, nunca estudou música. Sou autodidata em tudo o está precisando de um movimento que faça crescer todo mundo, que faço. Não sei ler partitura, toco male male violão e sei cantar male como uma avalanche. Um movimento que não dê ao público tempo male também. O que faço é esse estudo de todas as músicas possíveis e imagináveis. Daqui a dez dias, daqui a um ano, alguma coisa vai estar de respirar quando as coisas começarem a acontecer. É isso o que eu espero para os próximos dois anos. sempre guardada e, na hora da composição, vou utilizar. Ouço todo tipo de música, que procuro captar e transformar em alguma coisa com a cara do Lino Krizz.

Você é uma das fusões do rhythm and blues com DNA brasileiro. Isso se deve aos discos que você escutou, ao jeito que está olhando para o passado e o futuro?

Você acompanha determinados momentos do pop nacional que são divisores de água. Como você vê isso?

Sinto-me, em primeiro lugar, privilegiado por estar trabalhando com caras como Thaíde, Racionais, por fazer participação em outros grupos de rap, que não são populares, mas têm o mesmo potencial, fico simplesmente lisonjeado. É uma oportunidade de crescer e ser reconhecido, porque nada é por acaso. Não acredito em sorte, em acaso, em destino, o negócio pra mim é a permissão de Deus. Ele permite que as pessoas venham até mim, que eu vá até as

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“O foco é o som urbano, o som eletrônico, frio, mecânico e, ao mesmo tempo, triste e humano.”


M.Takara Mauricio Takara chega ao seu quinto disco em carreira solo, após o sucesso do último disco, Ocupado como gado com nada pra fazer, lançado em vinil em 2008. Sobre todas e qualquer coisa é um disco cheio de acidentes, resultando em ritmos que misturam música eletrônica, hip-hop, afrojazz e ritmos regionais. É assinado como “M.Takara-3” por conta da parceria com os músicos Rogério Martins e Guilherme Valerio. O vinil 12”, com lançamento simultâneo nos EUA, coloca Mauricio Takara como parte de uma geração que carrega a preocupação com a obra do ponto de partida até sua finalização. Ao vivo, conhecido como M.Takara, Mauricio assume o controle de samplers, sintetizadores, trompete e percussão, em meio a ritmos que deixam espaço para desconstrução e improviso. desmonta.com myspace.com/mtakara

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Na sua concepção, o que é uma Cidade Sonora?

É o som da cidade em um sentido estético. É a música que representa uma cidade, mas que acaba achando singularidades e referências em cada cidade do mundo e do Brasil. Certos elementos estéticos ficam muito presentes na música, na arte em geral, nas manifestações culturais em cada ponto da cidade. Como é a relação da sua música, como artista e instrumentista, com a cidade?

Ter trabalhos variados, tanto em termos de estilo, quanto em relação às pessoas envolvidas, tem a ver com a força de São Paulo. Poucas cidades do terceiro mundo têm a importância cultural que São Paulo tem no circuito mundial. Toco com gente de Recife, do Ceará, do país inteiro. Por viver em São Paulo, entrei em contato com muita gente de fora que estava de passagem pelo Brasil, que dificilmente eu teria se estivesse em outro lugar do mundo. Música tem muito a ver com a circunstância e com a localização.

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Ela pode dar, ela tem que dar. Música tem que ser uma coisa viva, de pergunta e de diálogo. Aliás, todas as artes têm que ser vivas. Por mais que isso tenha mudado positivamente, acho que pode e deve mudar mais. É fácil estar numa situação privilegiada, cultural e artisticamente, e cair num certo conforto.

Foto: Caroline Bittencourt

A música dá conta de expressar tudo isso: essa atenção diferenciada, os encontros na cidade, a possibilidade de uma produção colaborativa?

Você tocou com o Pharoah Sanders, jazzista que simboliza uma geração. O Curumim tocou com o Herbie Hancock. Há dez ou vinte anos, seria difícil para essas gerações dialogarem. Você acha que isso está colocado diante da expansão cultural da cidade?

Acho que tem a ver com uma série de motivos geográficos, políticos, econômicos e culturais que colocaram em São Paulo uma atenção diferente. Jamais me passou pela cabeça tocar com um cara cujos discos eu ia ouvindo no caminho para a escola. Era um mundo à parte que foi se transformando em realidade. Apesar das gerações passadas terem uma disposição tão grande quanto a nossa, a arte responde, mesmo que indiretamente, à realidade que se vive, fruto de diversos fatores. Estou conseguindo desenvolver os trabalhos que eu sempre quis, com muitos dos meus ídolos. Ainda assim, me pergunto: será que estou respondendo a isso da forma que eu poderia? É fácil pensar: “Tá tranquilo aqui, shows estão lotados, as pessoas estão gostando do disco novo, então valeu, é isso aí, vou fazer mais dois, três discos na mesma linha que está tranquilo.” Vejo um pouco disso, claro, na música. A música pode e deve dar conta de todas essas perguntas, afirmações, aprofundamentos, mas não é fácil, falo por experiência própria, porque estou sempre nessa busca. Acho, inclusive, que uma das coisas que me motivam é estar buscando, é não chegar nunca.

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M.Takara


Ner voso O músico compositor carioca sempre teve o sonho de montar um espetáculo infantil. A cada cena escrita pelo próprio Nervoso, O médico que tinha letra bonita ganha uma nova música, sempre com base na história do médico sonhador que sofria bullying na escola por adorar escrever com caligrafias diferentes e originais e que tinha incrível talento para transformar seus manuscritos e receitas em melodias. Tudo novinho em folha. Inclusive, pode-se dizer o mesmo da banda montada pelo músico e produtor. O repertório se transformará em espetáculo teatral sonorizado ao vivo pela própria banda. Diversão garantida! nervoso.art.br/discos soundcloud.com/nervoso nervoso.art.br/discos/calmantes

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

Tento transformar tudo o que vejo em música. Tudo o que vivo tem a ver com música, tudo o que faço tem a ver com som, acho que vivo numa Cidade Sonora. Meus dias de lazer, meus dias de trabalho são todos ilustrados por som. Falando com você, situo minha voz numa região, numa frequência. Cidade Sonora seria uma cidade em que as pessoas compartilham ideias.

Qual a relação da sua música com as cidades, a cidade em que você está, Rio de Janeiro, São Paulo, as outras cidades por onde você circulou?

Para mim, não tem cidade, a música é universal. Meu desafio hoje é ter uma identidade sem ter identidade, porque as pessoas procuram uma prateleira para colocar você. Acho que você tem que ter a sua integridade, como compositor, como artista, como músico, que é ter a liberdade de fazer. O grande barato da música é não ficar enraizado numa cidade, numa sonoridade, numa estética sonora.

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O grande barato da música é absorver o máximo possível de informações para transformá-las na sua cidade.

Como é ser filtro desse mundo de informações e, ao mesmo tempo, não se apegar a uma identidade formal, a uma estrutura estética?

Não importa o que você faça, contanto que seja de coração. Saí de bandas que não têm a ver com o que faço, porque a gente “Tudo tem que manter a direção, saber o que o que vivo tem a nos deixa feliz. Você só vai conseguir ver com música, tudo sobreviver de música fazendo o que de fazer. O que você o que faço tem a ver gosta consegue transmitir de sentimento, com som, acho que vivo pescou nas suas referências musicais. A sua identidade vem numa Cidade da sua longevidade, da sua Sonora.” integridade artística.

O que fica muito forte no seu som é o rock não como um fim, mas como um elemento aglutinador. Você concorda com isso?

O rock é a minha raiz. Comecei a ouvir música ouvindo rock. O que me deixou maluco da cabeça foi o rock. Comecei a comprar discos aos 10 anos de idade, que é o momento que o meu filho vive agora. Me vejo no espelho, um moleque cabeludo ouvindo rock sem parar, com guitarra em casa. Quando você vai amadurecendo, vai ficando mais curioso ainda em relação à música, começa a escutar música com outros ouvidos. Isso acontece com a arte de modo geral, com a vida, e com a música não é diferente. 58

A música serve para expressar todas essas dimensões da vida?

Eu sou um privilegiado. Já passei por momentos pelos quais não gostaria de ter passado, mas gostaria menos de ter passado por eles sem música. A música tem poderes e quem a consome também. Meu modo de consumir música é fazer música. Hoje em dia, faço mais música do que ouço. O espetáculo que você vai apresentar no projeto está, evidentemente, dentro do seu escopo, mas é uma forma diferente de lidar com essas questões, não é?

O show do Cidade Sonora vai ser a apresentação das músicas do espetáculo. O espetáculo ainda não está pronto, não tem dramaturgia. As músicas falam da história do personagem, que tinha o dom de escrever com letra bonita e se tornou um médico. A gente ainda não sabe como vai fazer a peça visualmente, mas acho que é uma ideia bacana para a criançada, que está crescendo sem se preocupar com a escrita.

“Já passei por momentos pelos quais não gostaria de ter passado, mas gostaria menos de ter passado por eles sem música.”


Ner voso

Foto: Fernando Fischgold


Foto: Michelle Barrionuevo

Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene


Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene

A Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene, formada por capoeiristas, músicos e pessoas da comunidade da Vila Pirajuçara, Butantã, São Paulo, é modelo de inclusão social e sustentabilidade que valoriza a capoeira enquanto manifestação e patrimônio cultural brasileiro. Contar com mestres, contramestres e professores de capoeira caracteriza interpretação própria e singular de ritmos brasileiros como o samba de roda, ijexá, congo de ouro, barravento, além de ladainhas, chulas e corridos, tudo com arranjos arrojados e inéditos de Mestre Dinho Nascimento. A orquestra mostra a versatilidade do berimbau como instrumento musical, já que no seu repertório encontramos tanto toques da capoeira quanto outros gêneros da música brasileira. dinhonascimento.com.br/orquestradeberimbaus

radio.uol.com.br/#/artista/orquestra-de-berimbaus-do-morro-do-querosene/410042

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por Dinho Nascimento

O que é, para você, a Cidade Sonora?

Cidade Sonora é todo som que a cidade respira. É tudo o que a gente quer sentir, é onde a gente quer percutir, interferir. É o que pode ser ouvido e sentido numa cidade urbana como São Paulo, desde a hora em que a gente vai dormir até a hora em que acorda. São os artistas vivendo sua expressão artística. Isso, pra mim, é a Cidade Sonora.

Você já passou por várias cidades com a Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene. Qual a relação da sua música com as várias cidades em que você circulou e morou?

Quando nasci, ouvia muitos badalos de sinos e sons de instrumentos, pessoas, mercadores, tambores, porque Salvador tem essa sonoridade. Quando saí da Bahia, continuei ouvindo as sonoridades de outras cidades, e essas diferentes sonoridades foram se misturando na minha memória. A Orquestra de Berimbaus representa esses sons da minha memória. Ao ouvir várias cordas do berimbau tocando, ouço sinos batendo com várias tonalidades. É importante dizer que o Morro do

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Querosene, em São Paulo, é nossa inspiração para a idealização da Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene.

A música serve para expressar tudo isso, os sinos da igreja, os mercadores em Salvador, a passagem para São Paulo, as várias camadas que a vida tem?

A música é um dos meios de expressão que mais toca o ser humano; aliás, os seres vivos. A música é a nossa linguagem oral, verbal, de comportamento, de expressão, de visão, porque o músico tem o instrumento para transmitir e, quando ele não tem o instrumento, ele já é o instrumento. A música é uma ferramenta viva e prática dentro da realidade. A Orquestra de Berimbaus, com seu repertório de musicalidade de raiz, tenta transmitir tudo isso.

Além dos berimbaus convencionais, a Orquestra usa outros instrumentos inusitados, como o berimbum, que é um berimbau com som grave e corda de contrabaixo; o berimbau de rabeca, que é tocado com arco; e o berimbau de boca. A Orquestra de Berimbaus é uma experiência de clareza de afinação dentro da especialidade do berimbau, que é rústico, raiz, visceral. Gostaria de pontuar algo sobre o show do Cidade Sonora?

Vamos tocar músicas do CD Sinfonia de arame, que tem esse nome em referência ao aço tirado do pneu do automóvel para a corda do berimbau, numa ação de sustentabilidade. O repertório terá músicas de domínio público com nova roupagem, como “Aquarela do Brasil” e “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso; terá também algumas faixas de minha autoria e uma breve interpretação do Hino Nacional com berimbaus. A Orquestra está participando com componentes de Gostaria que você falasse um pouco sobre o minimalismo diversos setores da sociedade, não só alunos de capoeira, mas do berimbau como instrumento e do trânsito com o blues até professores, mestres, arte-educadores, dançarinos, atores, pessoas chegar na paridade da música sinfônica executada pelo berimbau. que não têm como pretensão serem músicos de orquestra, mas que, aos poucos, estão conhecendo o que é um instrumento de orquestra O berimbau, como um instrumento artesanal de raízes, atravessou rústico e completo como o berimbau. São onze componentes, os séculos, o Atlântico. É um instrumento de resistência. cada um respeitando o repertório da Orquestra, mas tendo Tem uma composição praticamente orgânica, a madeira das sua expressividade dentro do processo. A Orquestra tem árvores, o caxixi, a pedra, a baqueta, a corda tirada do “A Orquestra de formar cidadãos para encarar esse mundo pneu. É um instrumento de transformação, de tem a intenção de adeintenção sonoridade e de vida. reciclagem, e a gente é uma reciclagem desse universo formar cidadãos para ancestral. O blues tem a ver com a musicalidade do berimbau pela sua trajetória de cantar a saudade, a vida encarar esse mundo e o trabalho. Daí vem o Berimbau blues. Temos três de sonoridade berimbaus: o gunga, o médio e o viola, cada um com uma sonoridade, o grave, o médio e o agudo. Esses graves, e de vida.” médios e agudos estão no nosso universo urbano, no telefone que toca, por exemplo. São vários timbres, várias frequências que a gente tenta organizar para que saia uma coisa só.

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Passo Torto

Passo Torto é a união dos compositores Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci e do baixista e produtor Marcelo Cabral. Partem do samba, elemento em comum nos trabalhos dos três, e dialogam entre si através de afinidades estéticas que transcendem a música, como a cidade de São Paulo. Além de um disco de parcerias, Passo Torto reflete o trabalho colaborativo que os quatro artistas desenvolveram no último ano: em seus trabalhos solos, um participa do trabalho do outro, seja nos shows ou nos discos.

passotorto.com.br passotorto.com.br/site/streaming passotorto.com.br

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por Rodrigo Campos

O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

A cidade é sonora no sentido de ter vida, de estar pulsando, de estar em movimento o tempo todo. São Paulo é uma cidade supersonora, está sempre sendo construída, estão derrubando um prédio para construir outro, motoboy passando, buzina, gente indo trabalhar. É uma cidade muito viva, cheia de ruídos. Quando você pensa em música, tem que traduzir um pouco desses ruídos, mas não no sentido literal. Você precisa impregnar a sua música com um tipo de elemento que remeta a esses ruídos, a essa vida, a essa pulsação da cidade.

Vocês são de regiões diferentes, foram criados em lugares diferentes da cidade. Como é essa relação da música com a cidade, com as várias cidades que existem, por exemplo, São Paulo e outras cidades que você habita, frequenta?

Acho que o Passo Torto tem quatro elementos que traduzem vários pontos diferentes da cidade que se convergem num elemento comum. É um tipo de olhar poético e, de alguma maneira, cronista que a gente

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tem sobre a cidade, de tentar descrever ou tentar flertar Compartilho da opinião do Romulo, até porque a gente com esses personagens da cidade. O Passo Torto conversa muito sobre isso. Tem vários exemplos disso: “É muito atual é um pouco a fusão de uma São Paulo mais antiga Bahia Fantástica, além do Passo Torto, é um esse processo de poder oexemplo com uma São Paulo moderna. É tentar traduzir disso. Quatro músicos que são parceiros realmente dar vazão ao que e ajudaram na produção do disco. Todo mundo o samba para uma linguagem atual, reformular o samba, retrabalhar o samba. A gente flerta com você está pensando, compor entrou de um jeito mais artístico, colaborativo, aquele Largo da Banana, antigo, onde nasceu do que seria na época da indústria fonográfica, o que você está querendo, no auge da indústria, na época em que você o samba de São Paulo, trazendo esse samba para a Rua Augusta. O Passo Torto é uma espécie de chamar quem você quiser, contratava um produtor, contratava os músicos, conjunção de tempos, de épocas, sempre olhando pagava todo mundo, não pedia a opinião de sem obrigação para trás, uma espécie de relógio de pêndulo, que ninguém. Acho que esse momento colaborativo nenhuma.” vai e volta. Acho que o Passo Torto é a conexão de é reflexo também do momento do mercado da música, várias cidades e até de várias épocas, vai um pouco do jeito de se produzir música. Os artistas têm essa além da geografia. proximidade e têm mais liberdade de escolha. Quando você tem liberdade de produzir, você chama as pessoas que você quer, você Você acha que a música serve para traduzir o que você está não está com o rabo preso com ninguém, você tem liberdade artística falando, a relação das cidades, o pêndulo que não vai em ritmo total, e isso enriquece o trabalho de todo mundo. Você vê que mesmo constante para os tempos? o “Labirinto em cada pé”, do Romulo, que é um disco anterior ao Passo Torto, já tinha colaboração da gente. O Bahia Fantástica também tem Sim, a música serve para isso, mas não só. Ela acaba servindo para isso de colocar o nome dos músicos como produtores, não isso como consequência dessa necessidade de se dizer algo. Mas a simplesmente como músicos. Não é “cada um foi lá e tocou”. Não, cada primeira coisa para a qual eu acho que ela serve não é essa. A primeira um foi lá e produziu o disco, cada um vivenciou o disco à sua maneira coisa é simplesmente fazer música e ter um olhar sobre a vida da gente, e contribuiu efetivamente para a sonoridade do disco. É um reflexo sobre a vida de cada um, sobre o que cada um sente no dia a dia. muito atual esse processo de poder realmente dar vazão ao que você está pensando, compor o que você está querendo, chamar quem você O Passo Torto possui, na sua formação, artistas que têm um quiser, sem obrigação nenhuma. Isso faz com que o seu disco seja a trabalho muito consistente. O Romulo Fróes, por exemplo, acha sua casa, a sua família, com coisas mais próximas, sem um que isso é uma característica desse momento da música brasileira: compromisso de mercado tão urgente. a reunião de artistas com musicalidades muito potentes, que se encontram em determinados momentos. Essa colaboração ocorre não só porque junto é mais fácil sobreviver, mas também como força criativa. Como você entende isso? 64


Passo Torto

Foto: JosĂŠ de Holanda


Foto: Diana Basei

Pipo Pegoraro


Aláfia Pipo Pegoraro BatuqPuipeodP e eugmorbaigroa,dpaa, uelnistaainooddeees3c3oalanodse, saémm bau,sjiocnogeo perobdauilteoB r lm acuks.icUaml.aSebuanádlbaudme Taxi igmeãntfeoireevleiviteondcomnosucmordpoossdqeuzemdealnhçoarm es, caánlbtaum nsedteoc2a0m 11,.aGsramvuaidtaosnhoissteósrtiúads idoos Treasqpuíirtiatonad,aToTecrarad.oCToantusi,dQeurae-rosesefnaetoer Mindufcuan, doadmisecnotatel m paaraporoindeudçiãtoisdmoopqruóeprsioe Pipoinesdtaoucranetm or cBarduanoapMroesraeinst.aNçeãloe,doam baúnsidcao, essa alpianuçliasteantoreexopslocroonuteaxtcuoaleistievliedm adeenteoas intedraaçmãúosdicoas tm raúdsiicciosnanlaecaap“tmaçuãsoicae formcaotançteãm o dposrâanrera”n,jobsu.sOcaánlbduomalpterronpâõnecuiams resgaetentsroenaoroítm daicsacdaapstapçaõleasvrcaosleetiovapsr,ócporm io acm anatioo.rCpoam rtpeodsotas pinosrtrbuam ixeonetoléstrgicraov, abdaotesraiao, vpievrocudsesuãm o,amúentiacias,vgeuzi.tA ararap,revisoelnõteasçeãovodzo, Cidade SoAnláofriaa cbounstcaaráacaotm enatas, peasrptoicnitpâançeõaese progressivadaoscucpaançtoãroadseBulumbaelsl oenLourisda dMeaqituae. identifique-se como atemporal. pipopegoraro.com myspace.com/pipopegoraro amusicoteca.com.br/?p=132

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O que é uma na sua Cidade concepção Sonorauma paraCidade você?Sonora?

Para Eu imagino mim, aque Cidade o som Sonora é a máquina é uma cidade do planeta. cujo ruído, Está pulsando cujo somopulsa tempo de uma todo,maneira fervendoque o tempo a gente todo. consiga Às vezes perceber a gente ritmicamente, esquece que esse musicalmente. elemento está sempre Eu não presente. penso emAprodução Cidade Sonora musical, é uma penso dissertação numa música do presente. que éNela, feita nessa o som cidade está presente para além o tempo do próprio todo na ruído gente, da música. com a gente. Qual é a relação da música do Aláfia com a cidade ou com as cidades Você tocou queem você coletivos já conheceu, que seque reuniram você dá aqui umem rolê, São o lugar Paulo,que você mas também mora, asfora cidades do Brasil. que habitam Como éem a relação, você? tanto do músico como do artista, com as cidades? Essa pergunta é recorrente até, porque quando as pessoas procuram definir É bem oautofágico. nosso som, É eu umpenso contato muito da fome, na questão da autofagia da tradição. mesmo, E essas porque influências, essas referências diversas a gente tem, não os lugares que habito, as cidades ondeque estou, as pessoas com quem conseguem encontro, mechegar alimentam nem o perto tempo da todo, tradição. de música, Quandode alguém informação, fala de gênero, de cor, de euideias. sempre Aspenso pessoas na tradição fazem oscomo lugares, algoeu que mevem alimento meio que de naturalmente conexões. Tem deum algum lugartipo de de deitar comunidade, sobre a cidade, algumpensar tipo desobre agrupamento as de cidades. gente.No E eu primeiro sempre disco, estive eumuito estava cercado vindo de deuma diversas turnêinfluências europeia, e, nesse em quecaldeirão, a gente ficou a cidade. seis meses O som tocando. do Aláfia Cada se identifica músicamuito era referência com a

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de uma nova cidade em que eu passava. Às vezes, eu escrevia um texto num trem e, quando chegava numa cidade, fazia a composição. Essa multi-identidade que cada cidade tem influencia a obra. Há duas dimensões: uma é a do produtor dentro das diversas linguagens, e eu sei que você já produziu outros trabalhos de outros artistas, e a outra é a do engenheiro de som, na acepção criativa, não do técnico por trás da mesa, mas do engenheiro criador. Essas faces são distintas e aparecem em momentos diversos. Como você as encarna num cara só, no Pipo?

Cada obra é um novo trabalho, cada novo encontro cria uma perspectiva criativa. Dentro da troca artística, e na minha obra autoral, tento imaginar sonoramente como chegar naquele lugar. Tento me apropriar de coisas. Melhor do que apropriar, porque essa palavra é forte, tento entender como as pessoas chegam em certos resultados sonoros. Antes de trabalhar com diferentes pessoas, em diferentes contextos, tento entender como aquele cara chegou naquele som, como ele compôs aquilo. Vai ver o cara compôs aquilo porque estava no meio de um festival com hippies dançando pelados durante três dias em volta da fogueira. O contexto das cenas artísticas influencia muito. Eu sou um grande curioso. Tenho um olhar aguçado, um olhar para o que as pessoas já fizeram, e procuro fundir com ideias novas para não ser uma repetição do que já foi feito, trazendo as pessoas para o presente. O show que você está elaborando faz uma investigação entre os timbres e as sonoridades, mas também lida com as condições reais das salas. Não parece que tem essa ideia de “eu moldo o som”, você parece o tempo inteiro se deixar perpassar pelos sons.

Com certeza. Não buscamos chegar no som ideal, é o som que vai chegando ao que ele quer. 68

A sua construção melódica parece ser elaborada de uma maneira mais feminina. Sempre fico ouvindo cantoras cantando as suas músicas, mesmo quando você canta.

“Eu imagino que o som é a máquina do planeta.”

Nunca parei para pensar nisso, mas as cantoras sempre me perguntam: “Você tem uma música?” Realmente são cantoras que vão atrás das minhas canções, eu nunca tinha sacado.

Fica essa questão, porque no show vai ter a participação da Luisa Maita e da Blue Bell. Você quer falar alguma coisa a respeito do show?

A gente demorou um tempo para lançar esse disco, e agora que lançou parece que saiu a tampa do disco, sabe? A gente deu as caras e muitas pessoas têm tido um olhar muito interessante. Vai ser um puta show legal, vai vir a Maita junto com a Bebel, somando com uma galera superlegal. Vai ser bem porreta. Espero que vocês apreciem.

“Eu sou um grande curioso. Tenho um olhar para o que as pessoas já fizeram e procuro fundir com ideias novas, trazendo as pessoas para o presente. Não buscamos chegar no som ideal, é o som que vai chegando ao que ele quer.”


Rael da Rima Nascido e criado na zona sul de São Paulo, no Jardim Iporanga, já fez parcerias com Marcel Baden Powell, Kamau e Emicida. Fez três temporadas de apresentações no Canadá; a primeira, no mesmo ano em que seu primeiro single ganhou as ruas, antecipando o que viria com o lançamento de seu primeiro disco solo. São catorze faixas em que gêneros como jazz, reggae e MPB se somam ao rap, com algumas pitadas africanas. Rael rima e canta em um formato ainda pouco tradicional ao rap. raeldarima.com myspace.com/raeldarima raeldarima.com

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O que é, para você, uma Cidade Sonora?

Cidade Sonora é toda metrópole em que existe som. Metrópole não, porque no interior também tem som, e o silêncio também é um som. São Paulo acaba sendo uma Cidade Sonora com o seu lado industrial, seu trânsito e a diversidade musical que existem aqui. Todas as cidades para mim são sonoras.

O hip-hop tem uma relação muito forte com a sonoridade de cada lugar, com as cidades. Qual a relação da sua música, da sua rima, com as cidades?

A música faz parte da possibilidade de me unir com outras pessoas. Tenho uma ligação muito forte com a música do Norte, do Nordeste, principalmente com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, que meu pai toca e tocava quando eu era criança. Depois disso, me aproximei mais do samba e do rap. Meu irmão toca reggae, estou bem próximo de tudo. Também ouço outras coisas, Black Rio, Djavan, Jorge Ben, conexões para fazer música.

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Está sendo mágico, porque estou produzindo com pessoas de quem sou fã, com muita influência de música jamaicana e misturando essas influências com as músicas brasileiras. Unir o Brasil com o hip-hop e a música jamaicana vai dar uma sonoridade bem louca.

Você acha que essa interligação com outros grupos do mundo é uma tônica desse novo hip-hop brasileiro?

Foto: Ênio Cesar

Você está trabalhando agora num projeto com o Laboratório Fantasma, com um sistema de produção específico. Como é esse novo momento?

Acho que é um primeiro passo. É um grande passo, na real. Muita coisa ainda está para acontecer, mas é um momento de portas se abrindo. Ser reconhecido como uma música popular brasileira é um grande passo. Muitas coisas que se misturaram com o rock ou com a tropicália, por exemplo, foram reconhecidas como música popular brasileira depois. O rap, com influência norte-americana, também tem o direito de ser reconhecido como música popular brasileira, porque tem a nossa mistura. As pessoas estão começando a entender isso. Você acha que a música serve para expressar todas essas questões?

A música é nossa porta-voz. Acredito que o rap e a música brasileira são frutos de uma diáspora africana. Em todo lugar do mundo tem um pouco de negro. O hip-hop foi criado por pessoas negras, o samba foi criado por negros, assim como o rock. Se você for ao Canadá, vai ver comunidade haitiana, jamaicana, de Trinidad e Tobago. Se for à França, vai encontrar gente da Tunísia, da África árabe. A gente se espalhou por todo o mundo e acaba se reencontrando através da música. 70

Rael da Rima

“O rap tem direito de ser reconhecido como música popular brasileira. As pessoas estão começando a entender isso.”


Roberta Estrela D’Alva A atriz-MC e slammer Roberta Estrela D’Alva apresenta um repertório que tem como ponto de partida a mistura de ritmos como o jazz e o blues com o universo do spoken word (poesia falada) e dos poetry slams (campeonatos de poesia falada). Roberta desenvolve projetos performáticos-musicais no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e na Frente 3 de Fevereiro. É idealizadora do ZAP! Zona Autônoma da Palavra, primeiro poetr y slam brasileiro. Foi finalista da Copa do Mundo de Poetry Slam 2011, em Paris. É vencedora do Prêmio Shell de Melhor Atriz do ano de 2011 por sua atuação no musical Orfeu mestiço – Uma hip-hópera brasileira.

zapslam.blogspot.com.br

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O que é para você uma Cidade Sonora?

São Paulo é uma Cidade Sonora. Tem vozes diversas, máquinas, pessoas. Essas canções que são máquinas, pessoas e seus sentimentos, suas alegrias, suas angústias. A cidade como polifonia, com evidentes cruzamentos de culturas. A cidade proporciona a diversidade cultural, que traz consigo jeitos de falar, musicalidades, tradições musicais, sonoridades da sexualidade de cada pessoa e o encontro dessas sonoridades, dos homens, das máquinas. Fora a visualidade, é o som que faz uma cidade ser o que ela é. Qual a relação da sua musicalidade com as cidades, com a cidade em que você nasceu, que você conhece, da sua voz, do seu trabalho no teatro, da sua poesia?

A referência maior do meu trabalho, tanto no Bartolomeu, teatro hip-hop a que me dedico há doze anos, quanto em trabalhos individuais, é a cidade, ela é a inspiração. Estou sempre a partir dela, para ela. Ela está no centro. Ela possibilita. É a partir do sentimento,

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das experiências, das trocas, das dificuldades, das angústias de viver interface para a expressão. Esse trânsito, mais do que natural, na cidade, da alegria que é ser uma cidade grande, uma metrópole, é necessário, é o encontro. Não ficar circunscrito num ambiente ou no que vem a inspiração para a forma e o conteúdo, para o verso outro, mas também não ser um saco de gatos, que faz tudo, mas não e a prosa, para a poética. A cidade move, é a parceira, a antagonista, faz nada direito. É ter sempre esse norte, a autorrepresentação, falar a que provoca e a que acolhe. É de onde parte o som, do meu tempo. Essa vontade de trabalhar com a palavra como de onde partem todos os estilos. Uma obra teatral, um algo material, que você pode aumentar, trabalhar com o ritmo. poema, um blues, essas discussões, o próprio hip-hop, “Está o teatro, a Ágora, o slam, o spoken word são expressões A música dá conta, ou a música serve? surgindo uma da cidade. São formas que os homens encontram nova era para de praticar a livre expressão e o pensamento dentro A música tem essa característica de mover a frequência. da cidade. a música, e para A vibração sonora é muito poderosa, traz e leva conteúdos. Cabe muita coisa numa música, cabe muita sensualidade, as artes.” Você é uma slammer, uma poetisa, atriz, cidadã, muito amor, muita poesia, paixão. Tudo, enfim, cabe numa cantora, ativista. Quais são os trânsitos que isso música. É o tambor que tem no nosso coração. Pode mudar permite? tudo, mas a música é música e vai ser para sempre uma necessidade, um desejo, uma fonte de expressão para O que vem antes de tudo é o teatro. O teatro traz a representação, o ser humano. permite colocar muitas coisas em cada personagem. Eu tive contato com esse trânsito muito cedo, com essa vontade de estar em vários Você gostaria de falar alguma coisa relacionada ao show? ambientes, em contato com várias culturas, com várias formas de se fazer. A música e o ativismo são, na verdade, Os espaços que promovem a livre expressão, o livre pensamento, uma coisa só. Esse trânsito é um desejo e o encontro entre artistas, a troca são muito bem-vindos. A gente uma necessidade também. Esse teatro da precisa que esses espaços cresçam. Precisamos ser agentes dessa “A cidade autorrepresentação, de contar a história proliferação: das coisas se abrindo e não fechando, começando move, é a parceira, que você vive, do seu país, do seu povo, e não acabando. Está surgindo uma nova era para a música, e para a antagonista, a que está em primeiro plano. É o que possibilita as artes, para o que se faz, o que se fala, o que se toca, e para esse trânsito. No teatro, cabe a poesia a maneira como se recebe isso. provoca e a que falada; na música, tem a poesia falada; no spoken word, no slam, no rap, tem a acolhe.” contação de histórias. Em várias manifestações, a poesia falada serve de 72


Roberta Estrela D’Alva

Foto: Tathy Yazigi

“Tudo, enfim, cabe numa música. É o tambor que tem no nosso coração.”


Romulo Fróes

Foto: Pedro Spagnol

“A música brasileira está muito viva, como poucas vezes esteve na sua história.”


Romulo Fróes Lançamento do CD Um labirinto em cada pé. Muito influenciado por Nelson Cavaquinho, Romulo Fróes demonstra intimidade e transita por toda e qualquer vertente da canção brasileira, valendo-se de sua rica tradição na construção de um vocabulário próprio. Romulo faz parte de uma nova geração de compositores que vêm propondo novos caminhos à música popular brasileira. Agora, com o lançamento de seu quarto disco, reafirma o desejo de um diálogo com esta história e confirma seu consistente trabalho de renovação. Neste show, Romulo é acompanhado por Guilherme Held, Marcelo Cabral, Pedro Ito, Rodrigo Campos e Thiago França. umlabirintoemcadape.blogspot.com.br myspace.com/romulofroes umquetenha.org/uqt/category/romulo-froes

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O que é a Cidade Sonora para você?

Acho que a Cidade Sonora tem muito a ver com essa convergência de artistas do Brasil inteiro. Esses artistas de toda parte do país que, para desenvolverem suas carreiras, acabam chegando em São Paulo. Esse encontro de gente de muitos lugares gerou uma música poderosa. Essa nova música brasileira de que a gente fala, essa música independente que está fora das grandes gravadoras, é feita por colaboração, é feita de trocas e ajudas. Acho que esse encontro gerou uma nova música brasileira que ainda está sendo descoberta e que, tenho certeza, é muito rica e diversa. Como é a relação da sua música com as cidades pelas quais você passa?

Eu sou paulistano, filho de um baiano e de uma mineira. Quer dizer, na minha genética, eu já sou fruto de uma mistura do nosso país, de lugares muito específicos, como a Bahia e Minas. Depois, o trabalho também tem a ver com a potência econômica de São Paulo.

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Porque a coisa criativa acontece em qualquer canto, na menor cidade do mundo está sendo produzida música, mas a coisa econômica ainda faz você se movimentar, faz você sair do seu lugar para querer levar a sua música ou a sua arte para outros lugares. Cada horizonte conquistado, cada lugar que você conhece, cada pessoa que você encontra influencia muito. Essa coisa colaborativa tem um fundo econômico, que é: “Vamos nos ajudar, porque ficamos sozinhos, sem o apoio da grande indústria.” Fazer o meu som com o Rodrigo Campos, o Kiko Dinucci, o Thiago França, leva a minha música para lugares que eu nem podia supor.

Qual você acha que é o papel da música? A música serve para expressar tudo isso?

A arte serve para tudo isso, a arte é uma resposta à vida. E é até maior que a vida, em certo sentido. Às vezes, é ela que possibilita a você responder aos questionamentos da vida, lutar contra as misérias da vida. Acho que a arte, não só para quem faz, mas também para quem a consome, responde à vida. Até acredito na transcendência em relação à vida, sim. Acho que a arte, quando vira mera denúncia, deixa de ser arte para ser jornalismo ou algo que o valha. Por isso a arte tem que transcender a vida, tem que ser maior que ela, tem que tornar a vida suportável, bela e grandiosa. Nesse critério de arte, a música talvez seja a que mais facilmente, mais diretamente, atinge esse objetivo. Uma canção é capaz de transformar profundamente a vida de uma pessoa.

A forma canção está muito presente na sua música, porém os limites dela são, digamos, reconfigurados. Essa sua frase sobre a canção é muito potente: uma canção pode mudar a vida de uma pessoa. Você acredita ainda nessa construção da forma canção como o resultado máximo da música popular?

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Eu acho. Recentemente, eu e o Walter Garcia tivemos uma longa discussão sobre a canção, o fim da canção, o que é canção, o que não é mais canção. Para produzir o meu trabalho, não posso deixar de acreditar na canção. Entendo todos os questionamentos, compreendo que a canção realmente vive uma crise, mas isso não pode ser castrador nem imobilizador. Desde meu primeiro disco, quando eu lidava com esse samba triste pelo qual sou totalmente influenciado, já estava tentando fazer algo que fosse realmente meu, reconfigurar esse limite, como você mesmo disse. Mas é claro que existe um modelo superior e inabalável que é a canção brasileira. Nenhuma arte no Brasil tem um modelo tão poderoso quanto a canção. Todo mundo no Brasil faz canção, consome canção, conhece canção. Você não pode fugir desse modelo, mas o meu papel como artista é esticar esses limites. Quero provocar uma reação nas pessoas, quero que elas gostem ou não da minha canção. Ela sendo nova ou não, isso não importa, mas que ela tem um pensamento forte, um propósito claro, isso eu acho que ela tem. E isso vem da canção. Se ela morreu, se não morreu, pouco me importa. O meu modelo é a canção brasileira, é com ele que eu dou conta, é com ele que eu vou dar conta sempre. Maravilha, Romulo. Você gostaria de dizer mais alguma coisa?

Cidade Sonora é sinal de que essa nova música, essa música independente, está ganhando força, tem público, tem interesse por ela. Projetos com uma escalação brilhante como essa só fortalecem esse momento. Acho que essa cena, essa turma, vai acontecer como conjunto. Não como um conjunto de pensamento, pois ninguém vai escrever um manifesto ou dizer como chama esse momento, mas essa colaboração, essa ideia de que existe uma cena, de que existe uma turma, é reforçada em projetos como Cidade Sonora. E têm que acontecer mais e mais mesmo, porque, há muito tempo, as viúvas da MPB estão chorando por algo que não existe. A música brasileira está muito viva, como poucas vezes esteve na sua história.


Siba Iniciou a carreira em 1992, tocando guitarra e rabeca na banda Mestre Ambrósio, uma das pioneiras do movimento Manguebeat. Em 1997, compôs “Baile catingoso”, incluída na trilha sonora do filme Baile perfumado. Em 2002, com o fim da Mestre Ambrósio, foi morar em Nazaré da Mata e formou a banda Fuloresta do Samba, com músicos da Zona da Mata pernambucana. Lançou em 2012 o disco solo Avante, em que buscou uma sonoridade mais elétrica, com produção do guitarrista Fernando Catatau, da banda Cidadão Instigado. mundosiba.com.br mundosiba.com.br/musicas mundosiba.com.br/musicas

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

A cidade é um ambiente, um ambiente físico, um ambiente humano e, consequentemente, um ambiente sonoro. Quem é músico percebe as cidades, os lugares, pelos sons que eles produzem. Até inconscientemente. O som passa por você na forma como você sente o lugar que vive ou o lugar que visita. Para mim é indissociável a existência de uma cidade, a minha presença numa cidade com o som que ela produz e o som que ela envolve.

Como você sente o seu som em relação às cidades, à cidade onde você mora, ou onde você morou, às cidades que você conhece?

Recife, São Paulo e a Zona da Mata são três lugares que têm uma presença muito forte no meu trabalho, porque são regiões onde eu vivi. Não consigo imaginar a minha música sem a relação com esses três lugares. Os lugares por onde você passa também deixam uma marca forte. Essa marca é menos fácil de detectar, mas está sempre presente. O artista é uma criatura interativa, sempre tentando tirar do mundo

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alguma coisa, alguma ideia, e processando isso no seu trabalho criativo. É claro que algumas cidades pelas quais passei causaram um impacto mais forte, estão mais presentes no meu trabalho, pontualmente ou profundamente, como é o caso de Recife, de São Paulo e da Zona da Mata. Conversando com outros artistas, surge essa questão de um avanço, de uma marcha, um levante, um direcionamento propositivo rumo ao futuro. Como você sente o seu som na relação com o momento da música brasileira?

O ponto de conexão entre tudo o que já fiz até hoje como artista é a poesia. A música como veículo para o texto é o principal. Eu estou, na verdade, fazendo a mesma coisa o tempo inteiro. No caso de Avante, foi um disco em que eu pensei em colocar de maneira mais plural elementos musicais que fizeram parte da minha formação como artista. Coisas que ouvi com mais atenção e intensidade, que me influenciaram sempre, embora não estivessem tão obviamente presentes no som.

O processo de feitura desse disco teve um desdobramento, que foi um documentário. São diversas camadas de uma mesma obra, a camada poética do texto, essas sonoridades mais plurais e a ideia de um documentário, um outro olhar sobre esse mesmo processo. Como você vê essas diversas camadas nessa obra específica?

Eu tenho dificuldade em avaliar isso, porque estou muito ocupado com as questões que envolvem realizar o meu sonho. Então eu me sinto despreparado para fazer uma avaliação, uma conexão mais profunda entre o que estou fazendo e o momento da música brasileira. Essa palavra, avanço, teria mais a ver, nesse disco, com a força O documentário não é exatamente parte da obra, porque não é um propulsora do movimento, e não com o direcionamento para o futuro. filme que eu me propus a fazer. É um filme de dois caras que se É um disco baseado em coisas que vivi, tentando buscar soluções debruçaram sobre o meu processo. Ele possibilita, de alguma para o meu presente. A palavra avanço tem mais a ver com a forma, uma aproximação maior com a obra, mas não faz busca dessa força-movimento, do fazer, do realizar, do parte da obra. Não tem a ver diretamente com as ideias continuar se movendo, do que com atingir algo que não “O ponto de estão no disco. Ele só abre uma janela, pode está no tempo presente. conexão entre tudo que aproximar ou até afastar, dependendo da forma como o que já fiz até hoje você se relaciona com a questão do recebimento da Quem me trouxe a sonoridade do Avante foi a minha informação. Mas é um momento em que expus uma mãe, que, como eu, é pernambucana. Ela ficou como artista intimidade muito grande, em que abri completamente inebriada com o disco e eu comecei a ouvir as é a poesia.” o processo do disco. O filme dá um mergulho em um composições. Tem um lugar de colcha de retalhos, momento intenso de realização de um artista e pode trazer uma colcha de mãe. O disco abre diversas um olhar interessante sobre esse processo. possibilidades, presentes na trajetória da sua música, mas de uma maneira diferente do que eu identificava com o seu trabalho. Você acha que tem relação com essa busca da força propulsora, do movimento, ou é um desdobramento contínuo do trabalho?

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Foto: Talita Miranda

Siba


Foto: Pedro Ivo/Andrea Possamai

Wado


Wado Depois de cinco discos, dez anos de chão e afirmação de fazer isso mais por necessidade de expressão e realização pessoal do que por questões de mercado, chegamos de Alagoas agora com este Samba 808. Depois de conversas com alguns selos, nada pareceu justo ou recíproco e optamos por extremar o do it yourself deste álbum. Estar em selo/gravadora servia para distribuição e para dar visibilidade. Visibilidade gravadora não tem dado e, quanto à distribuição, os caminhos da internet têm resolvido melhor. Baixe, deleite ou delete, fofoque para os amigos que é bom ou ruim e convide os outros a clicarem neste borro de gêneros. wado.com.br myspace.com/wwwado/music wado.com.br

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O que é uma Cidade Sonora pra você?

Cidade Sonora é um ambulante que reverbera. É uma cidade onde o que as pessoas estão compondo está chegando pra quem está ouvindo. A Cidade Sonora é um pouquinho mais justa do que as cidades que a gente habita, como um projeto como esse, que permite que a voz chegue às pessoas. É a cidade onde a voz do compositor do seu tempo chega à população, ao ouvinte.

O Samba 808 é um disco de muita canção, a melancolia perpassa os temas, é um disco muito autoral. Como esse lirismo se une ao procedimento da batida, que funda o dirty sound, e ao punk rock, ao beat?

O contexto do disco veio antes do disco. Eu queria borrar esses dois gêneros, o samba e o funk. São ritmos essencialmente brasileiros, o samba como a célula-mãe da música brasileira, e o funk como um gênero que já está maduro, na faixa dos 30 anos. Queria deixá-los cada vez mais próximos. Só que isso acabou ficando sutil no disco,

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“A textura pra gente é tão importante quanto o conteúdo.”

não ficou no primeiro plano. Como você falou, é um disco de canção. Qual é a relação da sua música com as cidades onde você viveu e a cidade onde você vive?

O meu trabalho é bem brasileiro, sem ser regional. Eu vim do Sul, moro em Maceió, já morei quase dois anos e meio no Rio, já morei em São Paulo. O meu trabalho acaba sendo muito brasileiro. Se a gente voltar a pensar no que é uma Cidade Sonora, tem praças no Brasil onde o meu trabalho é muito quente e bem-recebido pelas pessoas e tem lugares em que não. Tem lugares em que o Brasil está muito interessado no Brasil e tem lugares em que o Brasil já se tornou uma periferia do mundo. Tem lugares onde a gente concorre com shows gringos, e o interesse das pessoas em ver o show gringo acaba dando uma nublada nessa informação brasileira. Mas está passando esse deslumbre de fazer parte do circuito internacional. As casas estão começando a encher com música brasileira, e acho que isso é muito legal para a Cidade Sonora.

“Eu queria borrar esses dois gêneros, o samba e o funk.” 82

Eu vejo você apresentando as canções com violão, que é uma forma de canção clássica, mas a sonoridade das canções recebe o filtro da guitarra, que poderia se chamar de rock. A questão da eletrificação do som é um eixo central na sua música?

A textura pra gente é tão importante quanto o conteúdo. Eu sempre trago os gringos como referência para timbrar. O som do 808 tem essas influências internacionais, por isso tem timbragens bem travadas, muita frase de bateria, distorção. A gente se autossabota para o rádio, por exemplo, com esse estilo mais sujo.

A textura, a forma de apresentação da canção, é fundamental.

É também uma batalha para se colocar no mundo de uma forma que você não chegaria. A informação do samba, do funk, do ijexá, do afoxé, a gente já tem como ganha. E também, se eu for fazer o som que fazia em 1984, vai ficar ruim. Muito melhor é fazer como estou fazendo hoje.

“Tem lugares em que o Brasil está muito interessado no Brasil e tem lugares em que o Brasil já se tornou uma periferia do mundo.”


Xis Nascido na Vila Formosa, criado em Itaquera, Xis esta na cultura hip-hop desde o final da década de 1980. Ex-integrante do grupo DMN, gravou em 1997 o single de rap De esquina, produzido por DJ Hum. Seu primeiro disco solo rendeu o prêmio de Melhor Videoclipe de Rap no VMB com o sucesso “Us mano e as mina”. Em 2001, lançou Fortificando a desobediência pela Warner Music. Está produzindo o terceiro disco solo e o primeiro DVD de sua carreira. Lança, em 2012, a mixtape Xistape 2, que inova, pois tem sua versão em vídeo. apelidadoxis.com.br soundcloud.com/apelidadoxis

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O que é, na sua concepção, uma Cidade Sonora?

Cidade Sonora na minha concepção é Nova York ou São Paulo. Na minha primeira visita a Nova York, senti a vibração da cidade, o barulho musical que faziam os carros, as avenidas, os trens, tudo isso com o clima do hip-hop. Quando você chega em Nova York ou quando chega em São Paulo, você sente o clima do hip-hop e a pressão, a compressão da cidade. Isso pra mim é a Cidade Sonora. Qual a relação da sua música com as cidades, São Paulo, Nova York, outras cidades a que você foi?

A cultura hip-hop sempre esteve muito relacionada com a cidade, com os problemas e as virtudes da cidade. É uma relação de amor e ódio, de pedido de socorro e de recusa. “Us mano e as mina” é uma música que retrata isso. Quando ela chegou aos manos do meu bairro, que estavam começando a consumir a cultura hip-hop, eles logo se ligaram na batida. “Umas pá de mina cantando de esquina.” Eu era muito ligado ao samba, à música popular, e fui começando a descobrir coisas novas.

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vai completar vinte anos do álbum do DMN, Cada vez mais preto. Desde os 10 anos de idade, não consigo passar um “Quando ou dois dias sem escutar um rap, sem escutar hip-hop, você chega em sem ver alguém dançando break, sem prestar atenção O seu percurso dentro do hip-hop é histórico. Se num grafite na rua ou na internet. Outras coisas você não foi o primeiro MC a cantar no Municipal, Nova York ou São dimensões maiores, a família, as foi um dos primeiros. Paulo, você sente o clima ganharam responsabilidades, mas a música ainda tem muita do hip-hop e a pressão, importância na minha vida. Há dez anos estou Toda vez que eu passo lá na frente eu lembro disso. Já ouvi o Thaíde comentando que nós fomos os a compressão da cidade. diariamente na TV. Desses dez anos, cinco são falando de hip-hop. No rádio, estou há sete anos primeiros MCs a tocar no Municipal. É um lugar em Isso pra mim é a falando de hip-hop, de música black, tocando pra que poucas pessoas na cidade de São Paulo entram molecada nova que está descobrindo o rádio. Atuei de ou vão assistir a um espetáculo. Acho até que Cidade Sonora.” várias maneiras na música, compondo, produzindo, criando deveríamos negociar e participar mais desses espaços junto com uma galera do Sul, do Sudeste, do Norte. Eu amo municipais e estaduais. Quando eu era moleque, ficava a música, ela continua sendo o ar que eu respiro a cada segundo. assistindo à TV Bandeirantes para escutar uma chamada de 30 segundos da Rádio Bandeirantes FM, que tinha o Malcolm McLaren. Quer falar alguma coisa sobre o show que preparou para Quando chegou a MTV e eu escutei Black Juniors, com 11 anos de o Cidade Sonora? idade, aquilo acabou virando um sonho. Hoje eu sei que sou um MC, sei que sou um rapper conhecido, que represento o Brasil, a minha Estou felizão e muito agradecido de participar desse evento, área, a zona leste. O sonho acabou se concretizando. Existe a vontade num bairro como a Barra Funda. Vamos fazer uma parada de coração de passar o bastão e fazer com que esses moleques novos façam para quem for lá assistir, cantar nossas rimas, falando um pouco sucesso, de fazer com que as portas continuem abertas, com que a da cidade, do nosso dia a dia, do nosso cotidiano. cultura hip-hop possa elevar o nível mais e mais. Por mais que eu tenha realizado várias coisas, tocado em Cuba, em Barcelona, no aniversário de São Paulo, por mais que eu tenha tocado para mais de 4 mil pessoas, o sonho é sempre o mesmo, parece que nunca termina. A gente continua trabalhando essa intensidade num grau muito elevado.

A música para você, hoje, e o fato de ser MC ainda servem para contar a sua vida, a sua quebrada, o que você representa, o que sonha? Em 2012, completa dez anos do meu último álbum, Fortificando a desobediência, que foi lançado pela Warner em 2002. Em 2014,

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“Vamos fazer uma parada de coração para quem for lá cantar nossas rimas.”


Foto: Fabio Nunes

X is


ficha técnica CIDADE SONORA :: 2012 Realização Invisíveis Produções Coordenação Daniel Lima Concepção Daniel Lima, Eugênio Lima, Belma Ikeda e Élida Lima Curadoria e Entrevistas Eugênio Lima Direção de Produção Belma Ikeda Produção Sol Macineli Técnico de Som Evaldo Luna Desenho de Luz Guilherme Bonfanti e Grissel Piguillem Cenografia Mariana Cavalcante Projeto Gráfico Daniel Lima Edição de Texto Élida Lima Transcrição Fábio Abramo Revisão Duda Costa Site Ricardo Ruiz e Ricardo Brazileiro Fotografia Peetssa e Antônio Brasiliano Planejamento de Comunicação Daniel Lima e Élida Lima Estratégias Digitais Anne Fonseca Ilustração Líbero Malavoglia Criação de Moda Mariana Lima Assessoria de Imprensa Sylvio Novelli Assessoria Jurídica Caio Mariano - Senna & Mariano Advogados Apoio:

Realização: Este projeto foi selecionado pela Fundação Nacional de Artes – Funarte no Edital de Ocupação da Sala Funarte Guiomar Novaes 2012.

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índice Apresentação

Aláfia Anelis Assumpção Arícia Mess Banda Hamlet Banda Mirim Barbatuques Bixiga70 BNegão & Seletores de Frequência Ellen Oléria Elo da Corrente Emicida Flávio Renegado Flora Matos Guilhermoso Wild Chicken

07

11 13 17 19 21 23 25 29 31 35 37 41 43 45

Karol Conka KL Jay Lino Krizz M.Takara Nervoso Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene Passo Torto Pipo Pegoraro Rael da Rima Roberta Estrela DʼAlva Romulo Fróes Siba Wado Xis Ficha Técnica

47 49 53 55 57 61 63 67 69 71 75 77 81 83 86


www.cidadesonora.com.br

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ao vivo

transmissĂŁo

rĂĄdio on-line


:: 19h30 :: Siba

:: 18h :: bate-papo com Siba :: 19h30 :: Lino :: 16h30 :: Aláfia

Oléria

Ingressos

:: 18h :: bate-papo com Roberta Estrela DʼAlva :: 19h30 :: Arícia

www.cidadesonora.com.br

ao vivo

transmissão

Mess

rádio on-line

R$

meia

10,00 5,00

R$

Este projeto foi selecionado pela Fundação Nacional de Artes – Funarte no Edital de Ocupação da Sala Funarte Guiomar Novaes 2012.

:: 19h30 :: KL Jay :: 18h :: bate-papo com KL Jay :: 19h30 :: Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene :: 16h30 :: Banda Hamlet

:: 19h30 :: Flávio Renegado :: 18h :: bate-papo com Arícia Mess :: 19h30 :: Elo da Corrente :: 16h30 :: Roberta Estrela DʼAlva e convidados

:: 19h30 :: M.Takara :: 18h :: bate-papo com Dinho Nascimento :: 19h30 :: Wado :: 16h30 :: Passo Torto

:: 19h30 :: Romulo Fróes :: 18h :: bate-papo com Romulo Fróes :: 19h30 :: Flora Matos :: 16h30 :: Pipo Pegoraro part Blubell e Luisa Maita

:: 19h30 :: BNegão & Seletores de Frequência :: 18h :: bate-papo com Nervoso :: 19h30 :: Rael da Rima :: 16h30 :: Nervoso

:: 19h30 :: Bixiga70 :: 18h :: bate-papo com Rael da Rima :: 19h30 :: Emicida :: 16h30 :: Banda Mirim

:: 19h30 :: Karol Conka :: 18h :: bate-papo com Karol Conka :: 19h30 :: Ellen :: 16h30 :: Barbatuques

:: 19h30 :: Anelis Assumpção :: 18h :: bate-papo com Lino Krizz :: 19h30 :: Xis :: 16h30 :: Guilhermoso Wild Chicken

Krizz

28 SHOWS DA NOVA MÚSICA BRASILEIRA

AGO 31 :: Sex

SET 01 :: Sáb 02 :: Dom 07 :: Sex 08 :: Sáb 09 :: Dom

14 :: Sex 15 :: Sáb 16 :: Dom 21 :: Sex 22 :: Sáb 23 :: Dom

28 :: Sex 29 :: Sáb 30 :: Dom

OUT 05 :: Sex 06 :: Sáb 07 :: Dom 12 :: Sex 13 :: Sáb 14 :: Dom

19 :: Sex 20 :: Sáb 21 :: Dom

26 :: Sex 27 :: Sáb 28 :: Dom

28 ARTISTAS DA NOVA MÚSICA BRASILEIRA

Realização: Apoio:

Classificação Livre Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada para idosos e estudantes) Venda na bilheteria com 1 hora de antecedência. Entrada gratuita para bate-papos. Sala Funarte Guiomar Novaes – Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos Telefone: (11) 3662-5177

NOV 03 :: Sáb

CIDADE DE FUSÃO :: MÚSICA DE ENCONTROS Invisíveis Produções

ALÁFIA :: ANELIS ASSUMPÇÃO :: ARÍCIA MESS :: BANDA HAMLET :: BANDA MIRIM :: BARBATUQUES :: BIXIGA70 :: BNEGÃO & SELETORES DE FREQUÊNCIA :: ELLEN OLÉRIA :: ELO DA CORRENTE :: EMICIDA :: FLÁVIO RENEGADO :: FLORA MATOS :: GUILHERMOSO WILD CHICKEN :: KAROL CONKA :: KL JAY :: LINO KRIZZ :: M.TAKARA :: NERVOSO :: ORQUESTRA DE BERIMBAUS DO MORRO DO QUEROSENE :: PASSO TORTO :: PIPO PEGORARO :: RAEL DA RIMA :: ROMULO FRÓES :: ROBERTA ESTRELA DʼALVA :: SIBA :: WADO :: XIS

FESTIVAL :: 2012

28 artistas da nova música brasileira habitam a Cidade Sonora. A cidade fala. As esquinas convergem. O som caminha transversal, assimétrico, urbano, sem gêneros. A cidade é uma síntese poética aditiva, nunca se reduz, sempre se amplia. Cada músico traz os sons que o habitam. Cidade Sonora é uma outra cidade possível: colaborativa, independente, transformada.


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