"Os portugueses são o fator-chave do sucesso do turismo em Portugal"

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À CONVERSA COM

LUÍS ARAÚJO Presidente Turismo de Portugal, IP

O IPDT lançou recentemente o programa de qualificação transversal para o turismo ALA+T que conta com o apoio e envolvimento do Turismo de Portugal. Como avalia a importância da qualificação dos recursos humanos para o futuro do turismo? Os portugueses são o fator-chave do sucesso do turismo em Portugal. Não falo apenas da hospitalidade, uma caraterística que nos é reconhecida enquanto povo, mas também na qualidade dos recursos humanos que trabalham neste setor. Importa, cada vez mais, valorizar a formação e a qualificação de quem trabalha no turismo e, neste campo, a estratégia turística nacional - ET 2027 delineou uma meta bastante clara: duplicar o nível de habilitações do ensino secundário e pós-secundário de 30% para mais de 60%. Nos últimos anos temos vindo a investir nas Escolas do Turismo de Portugal, atualizando os currículos para a nova realidade de um mundo digital, apostando nas soft skills e nas áreas comportamentais, adequandoos aos novos perfis de turistas e às novas tendências, incentivando o empreendedorismo e, no fundo, aproximando a formação às necessidades do mercado. Este projeto educativo, denominado Tourism Training Talent, foi implementado nas 12 Escolas do Turismo

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de Portugal e foca-se essencialmente no talento das pessoas, na inovação e na internacionalização dos profissionais do turismo, como base do sucesso do setor em Portugal. Anualmente, estas escolas formam cerca de 1.400 alunos de Formação Inicial e 4.500 de Formação Contínua (profissionais e desempregados), com uma taxa de empregabilidade de 90%, de acordo com o Estudo de Inserção Profissional relativo a 2017, o índice mais elevado dos últimos dez anos. Apesar da sua recente implementação, este modelo formativo foi distinguido com o primeiro lugar na categoria Inovação e Políticas Públicas da 14ª edição dos prémios UNWTO (2018), agência das Nações Unidas responsável pela promoção da sustentabilidade do setor, pelo seu exemplo de capacitação das futuras gerações de recursos humanos do setor, e está a ser analisado por países como a Colômbia, Roménia, Marrocos, Croácia e Cazaquistão, para possível adaptação aos seus mercados. O Turismo de Portugal está fortemente empenhado na formação de bons profissionais, abertos à inovação, às transformações do negócio, versáteis, empreendedores e com capacidade para acompanhar as novas tendências.

Pretendemos formar profissionais com empregabilidade que contribuam para tornar Portugal, cada vez mais, um destino turístico de excelência, um país onde o trabalho é valorizado e onde se investiu nas pessoas, qualificando as profissões do turismo e atraindo talento.

Ressalvo, contudo, que a formação é uma responsabilidade de todos os agentes do setor, públicos e privados. É, sem dúvida, a grande aposta da Estratégia Turismo 2027, mas a qualificação dos recursos humanos deve ser uma ação concertada, e devem ser privilegiadas sinergias entre os vários organismos e as escolas de turismo que promovam o emprego, a valorização das pessoas e, consequentemente, o aumento dos rendimentos dos profissionais do turismo.

Valorizar as carreiras do turismo é a melhor forma de atrair mais profissionais para o setor. E não só, a aposta na formação é também um passo estratégico para desenvolvermos o território através do turismo. Tendo em conta que são as entidades públicas locais e regionais que, em primeira mão, interferem na valorização e apoio ao desenvolvimento do turismo, importa dotá-las com as competências de negócio e de marketing que, por um lado, vão ao encontro dos mercados e dos novos perfis de consumidores e, por outro, promovam a oferta de produtos turísticos compósitos e de maior valor acrescentado, assim como de maior riqueza, emprego e bem-estar para a região. Os organismos públicos, desde o nível local ao regional, com responsabilidades no desenvolvimento e na gestão do turismo, têm um importante papel a desempenhar nesta ambição de promover uma procura mais homogénea por todo o território, durante todo o ano. É necessário criar condições de atratividade e de estruturação de oferta em municípios que não são tradicionalmente destinos turísticos e em que o turismo pode assumir um papel importante na estratégia de desenvolvimento. Existe um enorme potencial de crescimento do turismo em Portugal e seguimos uma estratégia que nos permitirá alcançar todos os objetivos delineados.

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A 1ª edição do programa ALA+T colocou em contacto mais de 100 entidades públicas nacionais, entre CM’s, CIM’s, ERT’s, envolvendo e qualificando alguns elementos dos seus quadros. Esta iniciativa pioneira poderá ser o catalisador de novas sinergias a nível nacional, permitindo o surgimento de projetos supramunicipais, não limitados pelas tradicionais distribuições geográficas e onde o produto é o elemento chave? O programa ALA+T foi a primeira experiência do género e com resultados muito positivos. O objetivo é promovermos mais iniciativas conjuntas, não só com parceiros públicos, mas também privados.

Podemos esperar outras iniciativas e apoios do turismo de Portugal nesta vertente da qualificação dos RH? Há algum projeto em marcha? Sim, a aposta na formação e capacitação dos profissionais de turismo é uma prioridade na atuação do Turismo de Portugal. Temos a decorrer, ou a arrancar muito brevemente, quatro formações que foram desenvolvidas em parceria com outras entidades. Um desses exemplos é o programa BEST - Business Education for Smart Tourism, uma parceria entre o Turismo de Portugal, a CTP e as associações empresariais do setor, dirigido a empresários, empreendedores e gestores de turismo e que visa criar as condições para aumentar o valor gerado pelos seus negócios em face dos atuais desafios, dinâmicas e tendências do setor. O programa é constituído por um conjunto de ações e iniciativas de formação e qualificação que abordam temas como o digital, o marketing, os modelos de financiamento, a gestão financeira e operacional e os recursos humanos. No âmbito deste programa, que terá periodicidade anual, serão desenvolvidas ações em todo o território nacional.

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Outro exemplo é o REFUTUR, desenvolvido em parceria com a Presidência do Conselho de Ministros e com o Alto Comissariado para as Migrações, um curso de formação para capacitação em turismo exclusivamente dirigido a refugiados e imigrantes integrados ao abrigo de programas coordenados pelo Alto Comissariado para as Migrações. Esta formação pretende qualificar os participantes com competências profissionais que os habilitem a trabalhar em empresas do turismo, sendo que podem optar pelas vertentes de restauração ou alojamento, permitindo adquirir as competências essenciais para o acesso à atividade profissional. O curso, com a duração total de 158 horas, inclui ainda um estágio integrado com a duração de um mês, proporcionando uma aprendizagem prática em contexto de trabalho a realizar em unidades hoteleiras e de restauração. Estamos também a desenvolver, em parceria com o IEFP, uma Formação de Formadores do Turismo e outra de Formação para Licenciados de outras áreas.

Acredita que, desta forma, o turismo pode tornar-se efetivamente, fator de desenvolvimento sustentável e de coesão social? Sem dúvida, capacitar sobre estruturação de produtos turísticos, captação de investimento, dinamização de redes locais, marketing territorial e digital, inovação em turismo, mercados, produção de conteúdos e instrumentos de apoio ao turismo é essencial para potenciarmos o turismo local e regional enquanto fator de desenvolvimento económico, de preservação ambiental, de valorização cultural e de bem-estar social.

A responsabilidade é de todos nós, agentes do setor. A nossa ambição é que o turismo e a economia nacional beneficiem desta que é uma das atividades


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mais geradoras de riqueza e emprego em Portugal. Apontou como um dos grandes desafios para o turismo a questão do crescimento, particularmente, um tem que ver com o próprio crescimento em si: onde é que queremos crescer? O que é que está a ser feito para que os benefícios do turismo cheguem a todo o território e ao longo de todo o ano? Para além da grande aposta que tem vindo a ser feita na formação e qualificação enquanto fator de desenvolvimento, ambicionamos crescer em valor. Temos de continuar a promover os produtos que ainda têm potencial de crescimento e atingem segmentos com maior capacidade financeira, segmentar os mercados e focar a mensagem. Outro desafio é a redução dos efeitos da sazonalidade e o alargamento do turismo a todo o território. Portugal tem atualmente uma taxa de sazonalidade de 36,5% (2017), a mais baixa de todos os países do Mediterrâneo. Acredito que em 2018 este índice ainda tenha diminuído mais um pouco. Conseguimos, finalmente, combater a sazonalidade, principalmente em destinos como o Algarve, e estamos a conseguir, de facto, esbater as épocas altas e as épocas baixas.

que possamos manter os bons resultados também nos meses de menor procura.

Como vê a evolução até aqui e o que podemos esperar para 2019? A Estratégia Turismo 2027 foi delineada para um período de dez anos, pelo que ainda é prematuro fazer balanços. Contudo, os números não mentem e os resultados que temos vindo a alcançar, mês após mês, são um bom prenúncio de que esta estratégia está a funcionar. Quanto a 2019, o que ambicionamos é um crescimento em valor, com as receitas a crescerem a um ritmo superior ao das dormidas, que já começámos a notar em 2018 mas que queremos impulsionar durante este ano. O objetivo é criarmos as condições necessárias para que os turistas que nos visitam queiram permanecer mais tempo, gastem mais dinheiro no destino, se desloquem pelo país e que tenham experiências memoráveis que os façam ter vontade de regressar, não só para visitar como para viver, investir e criar empresas.

Diria que 2019 vai ser um ano de consolidação do turismo nacional. •

Em 2016, a sazonalidade era de 37,6% e temos o objetivo de reduzi-la para 33,5% até 2027. Estamos a conseguir esta redução através da aposta em produtos que trazem mais pessoas ao longo de todo o ano, como o Turismo Cultural, o Turismo Religioso, o Cycling e o Walking. Em 2019, iremos dar especial atenção ao Enoturismo e ao Turismo Literário, dois produtos que ainda têm potencial para crescer. Vamos, cada vez mais, apostar na promoção do destino Portugal em mercados não tradicionais, e reforçar a comunicação nos mercados habituais, para

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