Administração eclesiástica vida de José e princípios de administração

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A D M I N I S T R A Ç Ã O E C L E S I Á S T I C A

V i d a d e J o s é

E P R I N C Í P I O S D E A D M I N I S T R A Ç Ã O


SBPV – Seminário Bíblico Palavra da Vida

ANDREI VANDERLEI DE SIQUEIRA ALVES

Princípios básicos de administração com base na vida de José

ATIBAIA/SP 2010.1


Antes de adentrar no objetivo primário, faz-se mister, a este opúsculo ensaio acadêmico, vislumbrar, preambularmente, os aspectos históricos pontuais sobre a vida de José. Provavelmente, José viveu no período de 1678 a 1570 a.C., época dos reis hicsos, dominadores do Egito. José era o lho esperado e favorito de Jacó, que não fazia esforço para esconder tal predileção, e de sua amada esposa, Raquel. Ele tinha como irmãos: Rúben ( lho mais velho de Jacó), Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom – lhos de Lia; Benjamin – lho de Raquel (único irmão de pai e mãe); Dã e Naftali – lhos de Bila (serva de Raquel); e, por m, Gade e Aser – lhos de Zilpa (serva de Lia). A vida de José é marcada por várias circunstâncias reveses, traumáticas e turbulentas. Os irmãos de José, pelo fato de seu pai deixar declarado o favoritismo por ele, foram desenvolvendo um sentimento de ódio e desejaram tirar-lhe a vida. Entretanto, José acaba sendo vendido como escravo e tido como morto para seu pai. No decurso dos acontecimentos, José assume como superintendente da casa de Potifar, alto o cial egípcio e capitão da guarda. Todavia, a mulher de Potifar insinua-se para José, que ao rejeitá-la é preso sob a pseudo-acusação de que haveria violentado-a. Na prisão, o carcereiro encarregou José de todos os presos e ele se tornou responsável por tudo o que acontecia por lá. Neste ínterim, José conhece o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que angustiados com os sonhos que tiveram, pediram-lhe que os mesmos fossem interpretados. José interpreta os sonhos e pede ao copeiro, que se seria reintegrado à sua função, para se lembrar dele no momento em que estivesse com faraó, a m de tirar-lhe da prisão. Contudo, somente depois de dois anos, o copeiro se lembrou de José, porque Faraó tinha tido dois sonhos e não conseguira ninguém para interpretá-los. José não apenas interpreta os sonhos, como também apresenta uma série de diligências que se faziam necessárias para superar os sete anos de fome que Deus tinha revelado ao rei. Faraó concede a José o comando de seu palácio e de todo o seu povo, estando sujeito, somente, ao trono. Desta forma, depois dos anos de fartura, como tinha sido o sonho de faraó, adveio os sete anos de fome e os irmãos de José são obrigados a ir comprar alimentos no Egito. Oportunidade que Deus dá a José de rever seus irmãos, de perdoá-los e de se despedir de seu pai. En m, torna-se evidente a competência administrativa de José em várias circunstâncias da sua vida, tendo como destaque: o momento em que assume a administração dos bens de Potifar e, depois, quando se torna governador do Egito. Importa a este estudo, focalizar os princípios administrativos utilizados por José, no momento, em que ele assume o governo do Egito. Destarte, pode-se extrair do governo de José os seguintes princípios administrativos: delegação ou descentralização; planejamento; prospecção; scalização; razoabilidade 1 O princípio da delegação ou descentralização se encontra no texto de Gênesis 41.33 , uma vez que José apresenta ao rei egípcio a sugestão de encontrar um administrador sábio e criterioso. Ora, José poderia ter proposto a Faraó que o mesmo executasse a sua idéia, já que este detinha o poder monárquico autocrático de todo o Egito. Ademais, o rei precisava perceber algumas qualidades na pessoa que escolheria e José propôs algumas delas, sendo: um homem criterioso, em outras palavras, o administrador deveria ser sistemático, objetivo e zeloso na execução do planejamento que seria traçado; e, ainda, deveria ser um homem sábio que tomasse decisões prudentes, equilibradas e sensatas.

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Gn 41.33 “Procure agora o faraó um homem criterioso e sábio e coloque-o no comando da terra”.


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Outro axioma que pode ser observado é o do planejamento. Em Gênesis 41.34-36 , é mostrada a preocupação de José de elaborar estratégias para superar as adversidades que viriam sobre o povo egípcio. De certa forma, a plani cação deveria ser rica em detalhes e atenta a fatores imprevisíveis – tais como: os casos fortuitos ou de força maior que poderiam advir –, contendo, destarte, uma margem de segurança no cálculo que seria realizado. Além disso, era imprescindível que os alimentos, não consumidos, fossem não perecíveis, pois seriam armazenados durante sete anos, e que os locais de estoque estivessem distantes e livres de quaisquer tipos de pragas. O princípio da prospecção, corolário do princípio do planejamento, que pode ser extraído de Gênesis 41.34-35, demonstra a importância de se ter um administrador visionário, e, portanto, atento às necessidades futuras. Neste ínterim, José aponta o quantum, “um quinto da colheita do Egito”, que deveria ser preservado durante o período de fartura, sendo que esta quantidade precisava ser su ciente para suprir a carência no período de fome. Outro princípio, consectário natural do planejamento, é o da scalização, que se encontra em Gênesis 41.34-35, quando José sugere a nomeação de alguns supervisores para que acompanhassem todo o processo de tributação, armazenagem e conservação dos alimentos. Tais 3 scalizadores deveriam “prestar relatórios ao seu superior” , o rei do Egito, a m de que este tivesse controle sobre tudo o que estivesse ocorrendo no seu reino e que em determinados casos de urgência pudesse estar apto para tomar soluções adequadas. Por último, não em razão de uma ordem de importância ou lógica, no que tange aos princípios corolários do planejamento, encontra-se o princípio da análise de campo ou da avaliação de recursos, um dos mais importantes instrumentos administrativos pelos quais José se valeu. 4 Alicerçado em Gênesis 41.46 , que relata o momento em José sai da presença de faraó e percorre todo o território do Egito, demonstrando a preocupação de se avaliar os recursos humanos e materiais que estavam disponíveis e, ainda, fazer o reconhecimento da área, onde produziria a matéria prima. José não deveria apenas conhecer esses recursos, mas como também fazer contatos com os o ciais locais, a m de encontrar e preparar os armazéns em todas as cidades. O princípio da razoabilidade também norteia esse momento da vida de José. O texto de 5 Gênesis 41.53-56 relata o momento em que os anos de fartura chegam-se ao m e, logo em seguida, advêm os anos de fome. Neste momento, a responsabilidade de manter o povo suprido nas suas necessidades recai sobre os ombros de José, que deverá agir com sensatez e prudência, a m de que fosse preservado aquilo que tinha sido estocado nos anos de fartura. Em outras Gn 41.34-36 “O Faraó também deve estabelecer supervisores para recolher um quinto da colheita do Egito durante os sete anos de fartura. Eles deverão recolher o que puderem nos anos bons que virão e fazer estoques de trigo que, sob o controle do faraó, serão armazenados nas cidades. Esse estoque servirá de reserva para os sete anos de fome que virão sobre o Egito, para que a terra não seja arrasada pela fome”. 3 A partir de uma interpretação não literal de quando José a rma que “Eles deverão recolher o que puderem nos anos bons que virão e fazer estoques de trigo que, sobre o controle do faraó, serão armazenados nas cidades” pode-se entender que tudo o que seria feito passaria pelo controle do rei egípcio. (negrito nosso) 4 Gn 41.46 “José tinha trinta anos de idade quando começou a servir ao faraó, rei do Egito. Ele se ausentou da presença do faraó e foi percorrer todo Egito”. 5 Gn 41.53-56 “Assim chegaram ao fim os sete anos de fartura no Egito, e começaram os sete anos de fome, como José tinha predito. Houve fome em todas as terras, mas em todo Egito havia alimento. Quando todo Egito começou a sofrer com a fome, o povo clamou a faraó por comida, e este respondeu a todos os egípcios: ‘Dirijam-se a José e façam o que ele disser’. Quando a fome já se havia espalhado por toda a terra, José mandou abrir os locais de armazenamento e começou a vender trigo aos egípcios, pois a fome se agravava em todo Egito. E de toda terra vinha gente ao Egito para comprar trigo de José, porquanto a fome se agravava em toda parte”. 2


palavras, José deveria equilibrar o que seria consumido durante os sete anos de penúria, para que em nenhum momento o povo padecesse por ausência de alimento. Portanto, um bom gestor que se encontra num momento de adversidade deve saber utilizar os recursos e meios que ele sabiamente soube preservar nos momentos de estabilidade e bonança, a contrario sensu, de um gestor prodigalizador, que pelo susto dos fatores negativos, consume tudo o que tem precocemente.


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