3 museu do
carnaval
Pontifícia Universidade Católica de Campinas Trabalho final de Graduação:
Museu do Carnaval Orientador: Mestre Antonio Fabiano Junior Aluna: Isabella Luvizotto Lolli| RA: 08086175 Campinas, dezembro 2013
Carnaval, desengano Deixei a dor em casa me esperando E brinquei e gritei e fui vestido de rei Quarta-feira sempre desce o pano
Carnaval, desengano Essa morena me deixou sonhando Mão na mão, pé no chão E hoje nem lembra não Quarta-feira sempre desce o pano
Era uma canção, um só cordão E uma vontade De tomar a mão De cada irmão pela cidade
No carnaval, esperança Que gente longe viva na lembrança Que gente triste possa entrar na dança Que gente grande saiba ser criança
Sonho de um carnaval – Chico Buarque.
AGRADECIMENTOS. Dedico este trabalho às alas mais importantes da minha
Por fim, agradeço à bateria, meu orientador, o
escola de samba, que cantaram junto à mim o meu
responsável por determinar o ritmo e o andamento
samba enredo por todo o ano e hoje fazem parte do
da minha escola de samba, mas mais do que isso, por
meu desfile final.
saber as batidas certas nos momentos certos e por
Primeiramente agradeço ao melhores mestre-sala e
me ensinar que, com amor, vontade e crença, nosso
porta-bandeira que existem, meus pais, que me
desfile pode se realizar, e pode ser uma festa linda.
conduziram, me protegeram e hoje me apresentam com graciosidade e orgulho, sem nunca dar às costas um para o outro, como deve ser. Em seguida, agradeço à minha ala das baianas, meu irmão, namorado e amigos, pela extrema importância que vocês representam em minha vida, pelo verdadeiro significado de valores e raízes e por sempre, com alegria extrema, me conduzirem pelos melhores caminhos possíveis.
Obrigada.
ÍNDICE
1. O que.
09
2. Porque.
11
3. O tema.
13
4. Inserção urbana e conexões.
17
5. Partidos de projeto.
21
5.1 O rio. 5.2 A rua. 5.3 A arquibancada.
21 22 23
6. Arquitetura e programa.
25
6.1. Nível 0.00. 6.2. Nível 3.75. 6.3. Nível 9.25. 6.4. Nível 6.75. 6.5. Nível -1.00. 6.6. Nível -4.00. 6.7. Exposições.
26 28 30 33 36 38 41
7. Referências gerais.
45
8. Referências projetuais.
47
8.1. Museu da Memória. 8.2. Cais das Artes. 8.3. Museu do Futebol.
47 49 51
9. Conclusão
55
10. Bibliografia
57
1. O QUE. Museu do Carnaval. mu.seu sm (gr mouseîon) 1 Coleção de objetos de
car.na.val sm (ital carnevale) 1 Folc Período de três
arte, cultura, ciências naturais, etnologia, história,
dias de folia que precede a quarta-feira de cinzas,
técnica etc. 2 Lugar destinado ao estudo e
durante o qual, com o afrouxamento das normas
principalmente à reunião desses objetos. 3 Casa que
morais, se dá o irromper de recalques, por meio de
contém muitas obras de arte. 4 Reunião de musas. M.
danças, cantos, trejeitos, indumentária diversa da
científico: aquele que se destina a documentar as
habitual etc. No Brasil aparecem após a guerra do
conquistas da ciência e da tecnologia.
Paraguai, como forma nova do entrudo. 2 Folguedo, orgia. 3 Mascarada.
do (de + o) contração, Contração da preposição de e artigo ou pronome o.
09
2. PORQUE. “A cultura está entre nós, sempre. É no campo da consciência que o mundo se faz ou se desfaz, é nesse universo da imagem, do som, da ação, da ideia. Tudo se resolve na criação. E na invenção que o tempo volta atrás e o atrás vai para frente. É onde o homem vira bicho, bicho vira conversa com gente. É onde eu sou Guimarães, você é Rosa. É onde fica dantes ou tudo muda num átimo. É onde você se entrega de mãos amarradas ou se rebela de faca no dente. É onde o silêncio vira pedra ou o grito rompe tudo e esparrama vida por todos os poros. É onde o riso chora e o choro é o começo da cura.” (1)
Nota 1 artigo publicado originalmente na Folha de São paulo, em 20/09/1993 e republicado no livro “Ética e Cidadania [Carla Rodrigues e Hebert de Souza. São Paulo. Moderna, 1994, Coleção polêmica, p16-18].
11
Desde os primeiros passos do desenvolver do
E entende-se por equipamentos culturais não
trabalho urbano na região da Zona Norte de São
somente “prédios” de exposições de cultura, mas
Paulo,
em
espaços que permitam o desenvolvimento da cultura
equipamentos de âmbito cultural capazes de atender
como um todo, de expressões culturais em suas
duas demandas: a necessidade de proporcionar
várias formas que respeitam a origem e as
possibilidade de espaços culturais para a cidade como
características do local em que estão inseridos. Assim,
metrópole
gerar
o espaço deve conversar diretamente com a
representação e reconhecimento da própria cultura
população, levando à ela estímulos para que ela traga
(também local) para os 2 milhões de habitantes que
de volta a vida ao edifício e ao próprio espaço. É a
vivem somente na região Norte.
criação de um ciclo que se auto alimenta: cria-se
A falta de equipamentos de cultura em um local não
espaço para que as pessoas se reconheçam e, com
prejudicam somente o desenvolvimento do intelecto
esse (re)conhecimento, cria-se pessoas que ocupam
de seus habitantes, mas torna escassa a convivência
esses espaços.
tornou-se
e
a
evidente
criação
de
a
carência
meios
de
entre as pessoas, os encontros e a vivacidade da região, criando cidades como vemos atualmente, sem respiros, sem convívios, fragmentadas e violentas.
12
3. O TEMA. A escolha do tema Carnaval para a criação de um projeto de caráter cultural tem seu embasamento na história e nas características da região em estudo. A Zona Norte de São Paulo é a região que mais apresenta comunidades que originaram as principais escolas de samba da cidade e, com suas sedes e inúmeros galpões espalhados pela região, é uma grande “produtora” do carnaval de desfile na cidade, que na época do feriado, se apresentam no Sambódromo
do
Anhembi,
localizado
a
dois
quilômetros da área de projeto. Dessa forma, fica evidente que parte da população que se utilizará do edifício cultural projetado traz em seu sangue uma relação bastante íntima com a cultura do carnaval, seja ela de desfile como o do sambódromo, seja ela de rua, como demais manifestações carnavalescas.
13
O fato é que essas pessoas vivenciam o Carnaval além
O equipamento cultural voltado à essa peça da
dos 5 dias em fevereiro. São pessoas que produzem,
cultura brasileira tão importante não deve, por
criam, inspiram, constroem, idealizam, respiram e
princípio, ter como principal objetivo expor o que é o
vivem do carnaval, todos outros 360 dias do ano.
carnaval, mesmo porque o carnaval é movimento, é
Além de apresentar um grande significado para a
festa, é feito pelas pessoas e deve ser vivido. Carnaval
região, o tema Carnaval também tem influencia em
é cultura como a vida, como os encontros, como o
todo o país, sendo a festa popular mais conhecida e
momento, como a lembrança do que é o carnaval em
disseminada do Brasil. Ele transita entre as duas
si. Assim, o Museu do Carnaval aqui proposto deve
escalas, a local, das pessoas que tem laços afetivos
servir como um marco, como um memorial para ser
com o carnaval produzido no local, que martela o
visto e usado em diversas manifestações populares,
carnaval, sua o carnaval e o vive ao longo da vida e a
deve ser vivenciado e deve resguardar o que o
geral, como meio de possibilitar a elevação dessa
carnaval não expõe.
cultura popular à esfera da cultura a ser admirada.
14
Deve ser memória de histórias das pessoas que ali costuram pequenas peças brilhantes para as baianas reluzirem na rua. Deve ser caixa de música das marchinhas, deve ter vida e ter suor como qualquer bom desfile. O Museu é o estopim de quem trabalha a vida toda por momentos. Deve saber que o trabalho do tempo, no carnaval é outro. É como o tempo da vida, feita de marcantes histórias e muitos dias entre coloridas memórias. É o local do reconhecimento que a construção do carnaval é fundamental nos dias que as mulatas não se mostram com a pele lustrosa rebolando para o mundo. É o local do encontro e do riso mesmo sabendo que o riso do carnaval só é dado uma vez ao ano.
15
4. INSERÇÃO URBANA E CONEXÕES. A implantação do projeto se integra à proposta do
Do lado oposto da rua Jacoffer, de frente para o
trabalho urbano, que segue uma relação de escala
museu, encontra-se o Polo Carnavalesco, complexo
metropolitana à escala local, sendo edifícios de
de galpões destinados às escolas de samba da região
âmbito metropolitano localizados mais próximos ao
de São Paulo, proposto pelo grupo para integrar,
rio Tietê e os de âmbito local mais próximos à
facilitar e profissionalizar a produção do carnaval no
Avenida Nossa Senhora do Ó. Dessa forma,
estado. Esse Polo é um dos elementos fundamentais
considerando que o projeto de caráter cultural irá
para a inserção do museu nessa área, já que é nítida a
atender todas essas escalas, principalmente a
vontade dos dois equipamentos de se integrarem e
metropolitana, seu terreno de inserção se localiza
complementarem: nos galpões se produz e se cria, no
próximo ao rio Tietê, voltado para a rua Jacoffer, com
museu se utiliza, se expõe e se festeja.
implantação linear, sendo as duas elevações maiores
Por fim, o projeto se conecta direta e indiretamente
voltadas à rua e ao rio.
com os dois projetos de âmbito cultural próximos à
O projeto se conecta diretamente com o eixo da
ele, que são a Escola do Som e Movimento e o Centro
estação intermodal, que se localizada acima do rio
de Tradições Nordestinas.
Tietê. Essa estação será responsável pela transição de inúmeras pessoas e pela chegada e partida de grande parte dos visitantes do museu, assim sendo, sua ruapassarela é incorporada pelo projeto como peça fundamental de conexão.
17
Com a escola, projeto lindeiro ao museu, ele se
2
conecta visualmente e também em programa, utilizando a infra-estrutura ali existente como os 4
teatros e salas de aula para eventuais cursos e apresentações. Suas primeiras arquibancadas são
1
completadas pela escola e proporcionam espaço para o público assistir a apresentações no palco aberto. Além de se conectarem em programa, os projetos se conectam em relação às suas temáticas, o mesmo que ocorre com o centro nordestino cuja praça aberta se conecta à praça aberta do Museu do Carnaval gerando uma enorme Apoteose entre os
3
5
projetos descritos. Os três juntos criam um grande complexo que reforça e incentiva o valor que a cultura, as raízes, a música e a dança tem para o país e o quanto estas podem agregar ao seu povo. Implantação | Sem escala 1- Museu do Carnaval| 2- Escola do Som e Movimento| 3- Rampa de acesso à Estação Intermodal|4- Centro de Tradições Nordestinas | 5- Polo Carnavalesco
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Habitação Viver (Com)viver
Centro de Aprendizado 5 a 100
Conjunto Habitar
Escola do Som e Movimento
Centro de Tradições Nordestinas Museu do Carnaval Centro Esportivo
Polo Carnavalesco
Estação Intermodal
Eixo da proposta urbana | Sem escala
19
20
5. PARTIDOS DE PROJETO. 5.1. O RIO. Foi através da descoberta de um rio e de sua abertura
Dessa
para a cidade que se consolidou o projeto urbano. A
incessantemente o contato e a manifestação humana
crença de que as pessoas se abrirão umas para as
na cidade e nos espaços públicos, a ligação de quem
outras vem conjuntamente com a necessidade das
está na rua com o rio permanece como premissa do
cidades
e
projeto, gerando um edifício com seus volumes
proporcionarem o contato entre seus espaços
elevados do solo, para que a integração pessoa-rua-
construídos, sua natureza e seus vazios com quem ali
rio-cidade nunca deixe de existir em nenhum
habita. É na ebulição desses atores que o convívio
momento na utilização do espaço público do projeto
acontece.
e também do próprio museu. É uma linha de luz que
também
se
abrirem,
respirarem
forma,
como
um
projeto
que
busca
liga a terra à água. Que liga o ar à matéria. É o destampar de tudo, onde o vazio é utilizado não só como espaço a ser tomado mas como elo potencial a ser vivenciado.
21
5.2. RUA. A rua o é palco da cidade. É na rua que o carnaval acontece e é para a rua que o Museu do Carnaval deve se voltar. É ela o grande palco da maior manifestação de cultura brasileira que ocorre no país. Nasce assim a vontade de criar um projeto que resgate a rua como protagonista e se volte à ela para que esta, por sua vez, se volte ao carnaval. Um projeto que integre seu entorno urbano e o histórico de seu tema, já que abandonar a influência da rua e dos espaços públicos seria perder a imensa capacidade que estes proporcionam à um projeto de âmbito cultural, além de abandonar a raiz do carnaval. Se o projeto é um marco de elevação do carnaval à cultura nacional, a rua, com toda a certeza, é o “objeto” ao qual o projeto se reverencia.
22
5.3. A ARQUIBANCADA. O Carnaval é vivido, é sentido, é ouvido. Muito se faz
A arquibancada, portanto, se volta para a rua para
na rua, com a participação de quem quiser, quem
que sirva de mirante para todas as manifestações que
vier. Mas o carnaval também se faz assistindo,
poderão ocorrer mas que, mais do que isso, vire
apreciando, avaliando, venerando e torcendo. Além
espaço público, e se faz útil até em seu “verso” que,
da rua como peça principal nessa festa, temos a
incorporado ao projeto, se transforma em área
arquibancada, que pode ser tanto a imensa
pública e cria relações visuais e perceptivas de todos
arquibancada voltada para o Sambódromo, como a
o espaços do complexo.
cadeira na frente da televisão ou a calçada que sentamos para ver o trio passar. Nessa manifestação,
Por fim, como reverência final, a arquibancada se
assistir também é participar.
volta ao Sambódromo do Anhembi, pois mesmo que
Assim, o projeto carrega em seu partido inicial a
não se consiga ter contato visual direto de cima da
vontade de afirmar a rua e a arquibancada como
arquibancada, em linha reta, da arquibancada do
ponto de partida e item primordial para um projeto
projeto, temos o Sambódromo a 2km de distância.
que tenha como tema o carnaval.
Um símbolo reverenciando sua razão de existir.
23
6. ARQUITETURA E PROGRAMA “Visitar um museu é uma questão de ir de vazio a vazio.” Robert Smithson (in HOLT, 1979)
25
6.1. NÍVEL 0.00. Não há como explicar o projeto de arquitetura desse
Com o prédio elevado do solo, o nível zero
museu sem começar pelo térreo, pela cota 0.00, pela
permanece como uma continuação da rua, que se
rua. Na realidade, é no próprio nível que,
encontra e termina no rio, tornando-se o grande
aparentemente, “não tem nada” que acontecerá o
palco público. A única intervenção presente nesse
tudo, o carnaval. É no vazio, nas praças criadas (ora
nível é de uma praça elevada dois metros, com
coberta, ora descoberta, ora elevada) que as
arquibancada em todo o seu perímetro, servindo
manifestações
como
ocorrerão,
que
as
principais
um
segundo
palco
e
espaço
para
exposições, mesmo que involuntárias, acontecerão. É
contemplação. Vale ressaltar que essa praça também
a apoteose, a concentração, o olho do furacão
chega à margem do rio, com alguns degraus voltados à observação do grande respiro urbano proposto pelo grupo.
26
5 3
4
1 2
Planta Nível 0.00| Sem escala 1- Praça Pública Nível 0.00| 2- Praça Pública Nível 2.00| 3- Circulação Vertical| 4- Praça Pública Nível -1.00| 5- Rampa de Acesso à Praça
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6.2. NÍVEL 3.75. É pelo nível 3.75 que, oficialmente, se acessa o
E no “verso” da arquibancada é onde se encontra a
prédio, acesso este feito pela rampa-rua que leva à
loja e o café do museu, programas públicos, que
estação intermodal. Neste nível, o espaço ainda é
poderão servir à todos, mesmo quem não for
totalmente público, fazendo a vez do grande foyer do
adentrar às exposições, cada qual com seus
museu. É nele que se encontra o acesso para a
fechamentos próprios para o período da noite.
grande arquibancada voltada para a rua.
Também é por este nível que se acessa o espaço
A arquibancada, com 46 metros de comprimento e 3
museológico, através de uma rampa fechada que
de altura é o espaço de contemplação, das
limpa o olhar do visitante e o prepara para o contato
manifestações que ocorrerão na praça térrea, da rua,
com as exposições, localizado no nível 6.75. Esta é a
dos galpões de carnaval, da cidade e do Sambódromo
concentração da bateria, a preparação para a entrada
do Anhembi, distante 2km dali. Os degraus da
da festa, da luz, da dança, da música, pois sim, até a
arquibancada são vazados, para que assim, a
festa precisa do silencio inicial, até a mais alegre
constante relação do fora com o dentro, da
dança precisa da concentração. Dessa forma, o
contemplação, do encontro de pessoas não se perca.
acesso ao museu convoca a introspecção, é o silêncio entre todas as notas, para que o que vem em seguida seja ainda mais surpreendente.
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1
2
3
4
5 6
Planta 3.75
7
Planta Nível 3.75| Sem escala 1- Patamar de Acesso ao nível| 2- Loja| 3- Café| 4- WC| 5- Rampa de acesso ao Museu| 6- Espaço Público Coberto|7- Arquibancada
29
6.3. NÍVEL 9.25. O nível 9.25 é composto somente de uma laje de piso
O acesso à essa laje dá-se exatamente pelos próprios
que vem como uma continuação do último degrau da
degrau da arquibancada que se inicia na cota 3.75 ou
arquibancada e que cobre os equipamentos do nível
pela própria rampa de acesso ao museu, que, com a
3.64. Sua existência deve-se à vontade de se criar
inclinação propicia para cadeirantes, servirá de auxilio
mais uma praça pública para permanência e
para que todos tenham acesso à ela.
contemplação dos níveis inferiores que abrigarão as
Como proposta para o conforto dos que ali
atividades de carnaval além da possibilidade de
permanecerão, cria-se uma cobertura de estrutura
receber exposição aberta. Essa praça, por assim dizer,
metálica que percorrerá toda a sua extensão, desde o
abre-se não somente à rua, mas também ao rio e à
bloco do museu até o final da rampa-rua de acesso
todo o projeto urbano desenvolvido. É nela que faz-se
principal, englobando-a para reforçar a intenção de
a junção visual de todos os elementos primordiais do
que esta também pertence ao projeto.
partido de projeto: rua, rio, cidade, arquibancada, povo e suas conexões.
30
1
2
3
Planta Nível 9.25 | Sem escala 1- Rampa de Acesso| 2- Laje/Praça Coberta| 3- Arquibancada/Acesso à Laje
31
Corte AA| Sem escala
32
6.4. NÍVEL 6.75. Enfim, adentra-se ao museu, espaço dedicado única e
O bloco desse nível apresenta-se praticamente todo
exclusivamente às exposições.
hermético, fechado por painéis metálicos. Sua
Ao sair da rampa de acesso principal, chega-se ao
elevação leste não possui abertura nenhuma, pois
grande nível de exposições dividido em 3 partes, duas
servirá de painel para projeções externas. A fachada
para exposições permanentes e uma temporária. As
norte, voltada à Escola do Som e Movimento
exposições
nas
apresenta somente um rasgo da altura dos pés, o
extremidades do volume. No centro, abre-se um
suficiente para quem está dentro, sentir a relação de
grande vão que possibilita o contato visual direto com
cumplicidade com a escola, e para quem está fora,
o rio e com a praça que se encontra abaixo do
entender o tema museu através da visão dos diversos
volume. É no corredor de acesso entre esses dois
pés que “sambarão” por todo o museu. A fachada
espaços que se encontra área de exposições
oeste também será toda fechada com exceção às
temporárias, nela as obras expostas acontecem ora
portas-camarão que serão abertas quando necessário
penduradas no grande vão, ora voltadas pro rio,
para as exposições. A fachada sul, por sua vez, é a
através de “portas-camarão” que se abrem à ele,
única que apresentará um grande pano de vidro
possibilitando exposições lúdicas e diversificadas que
voltado
possam ser vistas também por pessoas que não estão
arquibancada.
permanentes
encontram-se
para
a
visão
e
integração
com
a
visitando o espaço museológico.
33
A iluminação desse bloco se da, portando, pelo grande vão proposto na área central e também por grelhas metálicas presentes nas duas laterais leste e oeste que, além de proporcionarem iluminação proveniente de baixo, ajudam na ventilação natural quando necessária, podendo ser controlado por sistema eletrônico. O bloco de circulação vertical e de banheiros se encontra na área central fechado por um corredor de circulação de serviço. A circulação feita por elevador leva o visitante ao nível -1.00, onde a visitação ao museu continua.
Corte CC| Sem escala
34
1
2
3
5 4
4
7
6
7
Planta Nível 6.75| Sem escala 1- Caixas d’água| 2- Rampa de Acesso ao Museu| 3- Entrada Museu| 4- Exposição Permanente| 5- Exposição Temporária| 6- Circulação Vertical|7- WC
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6.5. NÍVEL -1.00. Este nível serve como uma transição entre museu e
Nesse nível encontram-se todas as áreas de serviço:
espaço educativo. Além de ser uma continuação do
administração, carga e descarga e depósito de acervo.
percurso do museu, pode também ser acessado por
Em sua área voltada ao público, há um mezanino que
uma praça externa que se conecta com a cota 0.00.
se conecta diretamente com o bloco -4.00 e
Dessa forma, quando necessário, o museu pode
possibilita a visão, através de um pé direito duplo, de
permanecer fechado e ainda assim o espaço
exposições temporárias que ocorrerão no nível
educativo se mantém aberto, incentivando a
abaixo.
vivacidade do local.
Com
o
objetivo
de
proporcionar
iluminação,
ventilação natural e contato visual entre o dentro e o fora, os degraus da arquibancada da praça que geram esse espaço serão vedados com vidros.
36
1
3
2 4 6 8
5
7
Planta Nível -1.00| Sem escala 1- Vazio: Exposições temporárias/ culturais | 2- Mesanino/Hall de Acesso | 3- Praça Pública| 4- Circulação Vertical | 5- Corredor de Serviço| 6- WC |7- Depósito | 8- Administrativo
37
6.6. NÍVEL -4.00. Espaço
dedicado
de
Buscou-se setorizar o programa do museu, separando
acontecerão
a parte unicamente museológica da parte de
exposições temporárias, oficinas de educação e
produção do conhecimento para que um não
produção,
para
necessite obrigatoriamente da presença do outro
armazenamento de documentação e exposições de
para funcionar. Assim, em períodos que as exposições
mídia e um auditório/arquibancada, que poderá ser
estiverem por ventura fechadas, a produção de
utilizado para palestras, exposições e eventos.
cultura não para, a fim de manter o local sempre
Estas instalações têm como objetivo a disseminação
respirando, pulsando, existindo, pois o Museu do
do carnaval como cultura e patrimônio do país,
Carnaval deixaria de existir sem o carnaval de
utilizando-se da própria raiz que pulsa tão fortemente
pessoas.
aprendizado
do
uma
ao
processo
carnaval.
pequena
criativo
Nele
midiateca
e
dentro de cada brasileiro e principalmente dos habitantes da região de projeto, para promover a cultura e incentivar a educação.
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1 2 4
6 7 6
5
3
8
9
Planta Nível -4.00| Sem escala 1- Exposições temporárias/ culturais | 2- Circulação vertical | 3- Maquinário/ Depósito | 4- Educacional/ Oficinas | 5- Apoio educacional | 6- WC | 7- Apoio midiateca | 8- Midiateca | 9- Arquibancada para palestras
39
Corte BB| Sem escala
40
6.7. EXPOSIÇÕES. Um museu com um tema como este não pode conter somente exposições em salas fechadas, limitadas somente aos visitantes. Um museu do carnaval deve ser a própria peça de exposição, deve instigar as pessoas a participarem, tornando-as parte da obra exposta, deve interagir, ser usado, ser a própria exposição em cada canto de sua obra. Assim sendo, a proposta do museu é que quase todas as suas paredes, aparentemente lisas, tornem-se projeções das mais diversas formas de carnaval que acontecem no pais. Que exposições de dentro do bloco do museu, “desçam” até a praça que se encontra abaixo, expondo suas obras à todos. Que as paredes do museu se abram pro rio, para que, dele se vejam exposições e, por vezes, até ele próprio contenha alguma exposição. Assim, a relação visual e interação entre níveis colabora diretamente para o acervo do museu.
41
43
7. REFERÊNCIAS.
45
8. REFERÊNCIAS PROJETUAIS. 8.1. Museu da Memória do Chile + Centro Matucama.
Um museu que convoca a observação, reflexão e
Santiago, Chile.
sensação do visitante. Que expõe o imaterial, o
Estudio America
intangível que se materializa apensas no pensamento de quem o vê. Apresenta-se como um monumento, um marco de uma passagem do país, mas mais do que isso, se integra física e conceitualmente com o local de inserção, que além de criar novos espaços de convívio público, eleva à escala de “registro monumental” um momento histórico do país. Apresenta um programa basicamente divido em exposição e produção. As exposições acontecem no bloco
elevado
enquanto
a
produção
de
conhecimentos se desenvolve na área de subsolo. Dessa forma, o museu não convoca somente à reflexão do passado do pais, mas também à construção de um novo futuro.
47
“Projetada para criar lugares e marcos físicos ou
“O
Museu
se
organiza
em
dois
momentos
mentais, onde se possa oferecer condições [entornos
conceituais: a Barra e a Base. Na primeira, elevada, a
operativos] para que o conhecimento germine do
história, as exposições, as informações, o viver da
interior de cada indivíduo. Somente aquilo que uma
memória aberta nas duas extremidades como quem
pessoa descobre por ela mesma pode acumular-se
deixa a vida passar. Na outra, a base, primeiro a mais
como memória ativa. Um espaço dedicado à memória
profunda, mineira, a produção, os estudos, a
pode não só transmitir informações, mas também
invenção, os seminários, os conhecimentos da terra e
provocar a reflexão sobre as recordações e os
do território e em outro momento o necessário apoio
desejos.”
dos setores administrativos. A Barra como espaço museológico específico e os eventos na Base, área que complementa o programa usual de um Museu no subsolo que poderá funcionar com cinemas de arte e espaços para cursos sobre direitos humanos e a memória, sobre a cultura e o território chileno.” (2)
Nota 2. Trechos retirados do Memorial Descritivo do Projeto. Fonte: concursosdeprojeto.org/2010/05/02/museu-memoria-chile/
48
8.2. Cais das Artes.
Projetado para ser um espaço de eventos artísticos
Assim, o prédio não surge somente como espaço
Paulo Mendes da Rocha, METRO
de grande porte, constituído por Museu e Teatro, o
expositivo, mas sim como integração e afirmação do
Vitória, ES, Brasil.
projeto, como o próprio Paulo Mendes da Rocha o
espaço como item tão primordial à cultura quanto as
define, é um elogio ao território onde está inserido. O
próprias instalações museológicas.
arquiteto deixa sempre evidente que a busca
A relação museu-entorno do projeto não se dá
principal do projeto é valorizar o espaço, o entorno e
somente com a suspensão dos edifícios do solo, mas
a história de onde se encontra. Dessa forma os
também com a articulação elaborada de forma
volumes apresentam-se elevados do chão, tornando
meticulosa de seu interior e percursos, criando,
a praça pública de seu projeto uma conexão direta
sempre que possível, relações de contemplação da
com o mar, “um passeio público junto ao mar”,
paisagem natural do entorno dentro do próprio
segundo o arquiteto.
museu.
49
“Trata-se, portanto, de uma ação arquitetônica orientada urbanisticamente no sentido de adequar história e geografia a uma desejada visão do presente,
indicando,
ao
mesmo
tempo,
uma
concepção museológica que procure associar arte e ciência numa perspectiva integrada.”
“...no percurso de visitação do Museu, cuja circulação vertical em rampas e patamares cristalinos criará varandas para a contemplação do entorno natural e construído em cotas inesperadas.”
“E ainda, de forma complementar, implica a decisão de suspender os edifícios do solo de modo a permitir visuais livres e desimpedidas desde a praça para a paisagem circundante.” (3)
Nota 3. Trechos retirados do Memorial Descritivo do Projeto. Fonte: http://www.metroo.com.br/projects/view/3/3
50
8.3 . Museu do Futebol. Mauro Munhoz.
Além de trazer ao visitante exposições lúdicas
São Paulo, SP, Brasil.
referentes ao tema futebol e toda a sua trajetória na historia no país, o museu se localiza no “avesso” do Estádio do Pacaembu, fazendo com que a sua própria inserção seja uma constante referencia à um dos maiores símbolos do futebol: o estádio. Dessa maneira une-se ainda mais o “objeto a ser contemplado” com a sua “real maneira de se contemplar”. Como um adendo ao acervo e para trazer ao visitante a noção real da verdadeira sensação ao se assistir uma partida de futebol, em determinado momento do percurso museológico, abre-se uma porta para dentro do próprio estádio, fazendo com que o visitante vivencie a exposição, deixando de ser somente expectador.
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“Investigar, divulgar e preservar o futebol como manifestação cultural brasileira. Esse é o pilar fundamental da missão do Museu do Futebol. Para isso, trabalhamos a inserção histórica e cultural desse esporte no Brasil por meio de exposições, ações educativo-culturais, pesquisas e procedimentos de salvaguarda, valorizando a prática que atravessa o cotidiano do país desde fins do século XIX.“ (4)
Nota 4. Trecho retirado do site do Museu do Futebol. Fonte: http://www.museudofutebol.org.br/o-museu/
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9. CONCLUSÃO. No fim, faz-se o carnaval. Que é a manifestação, o
O trabalho é feito de níveis porque são os diferentes
estopim de um processo. Se formos pensar, vivemos
níveis que proporcionam o povo se ver, que
isso o tempo inteiro. É o estopim de uma vida
proporcionam o cotidiano ser celebrado. Porque
cotidiana, que, inevitavelmente, acontece na rua,
deixamos de ser qualquer um quando as pessoas nos
todo dia, quase sempre no mesmo local. Faz-se um
enxergam.
marco, materializa-se o estopim, mas ele É a rua. O
Por fim, carnaval é isso: é o estopim materializado de
projeto faz as pessoas escalarem as paredes do
vidas cotidianas que tentam, por isso mesmo, fazer a
estopim, faz elas verem o cotidiano em projeções em
vida cotidiana valer a pena.
suas laterais lisas. E se abre para o rio, que é nosso
cotidiano agora, é nosso sistema, é a linha que mostra que a coisa pode dar certo.
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BIBLIOGRAFIA
Sites. <http://www.metroo.com.br/projects/view/3/3> Acesso: Agosto/2013 <http://www.museudofutebol.org.br/> Acesso: Julho 2013 <http://concursosdeprojeto.org/2010/05/02/museu-memoria-chile/> Acesso: Agosto/2013 MELENDEZ, Adilson. “Complexo cultural promove elogio ao território construído”. Publicada originalmente em Projeto Design na Edição 372. Março/2011. Disponível em <http://www.arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-rocha-museu-teatro-30-03-2011> Acesso: Agosto/2013 GUERRA, Abilio. “Museu do Futebol: uma pedagogia do olhar”. Fevereiro de 2011 Vitruvius<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.122/3784> Acesso: Julho/2013 Livros. -SOUZA, Herbert; RODRIGUES, Carla. “Ética e Cidadania”. São Paulo. Moderna, 1994. -VAN UFFELEN, Chris. “Museus Arquitectura”. Alemanha: h.f.ullmann, 2010. - VILLAC, Maria Isabel (Org.). ROCHA, Paulo Mendes da. “América, cidade e natureza”. Coleção Estúdio Aberto, volume 1. Estação Liberdade, São Paulo SP Brasil, Estação Liberdade, 2012. Vídeo. "Visite chez Paulo Mendes da Rocha". Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.127/3990> Acesso: Agosto/2013
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