Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato

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Projeto de pesquisa de Iniciação Científica PIBIC 2016 | Orgão financiador: CNPq

“Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato”. Nome completo do Pesquisador: Isabella Rebolla Bueno Orientador: Prof. Dr. Haroldo Gallo

UNICAMP – IA/FEC | Curso de Arquitetura e Urbanismo Campinas – SP 2015



Sumário Introdução Contexto Linhas de referência Aldo Fortunati Spazio Arredo Linhas O Movimento Módulos Ambiente Ficha técnica mobiliários Ergonomia Análise

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4 Introdução

O

cenário educacional é o fator constante presente durante o crescimento da criança e interfere significativamente no seu progresso.

Se considerarmos o desenvolvimento pessoal e social de uma criança como propósito maior da educação, há de levantarmos como questão presente o meio em que esta se desenvolve. O meio físico se incluí nesta questão, ele expressa muito das intenções dos seus usuários mais influentes – os educadores – para com os seus usuários mais preponderantes – as crianças. Muito da consideração do espaço (meio físico) pelos seus usuários reside na escala em que este se apresenta incluindo os mobiliários que o caracteriza. E ao pensar no mobiliário escolar é importante considera-lo em sua maioria destinado às crianças, e não aos adultos. Assim, o design da mobília destinada as crianças e sua escala própria é impor-

tante: os mobiliários para usuários infantis não podem ser considerados apenas a redução daqueles destinados aos adultos – estes devem nascer como complementação de um processo global de projeto, arquitetônico ou educacional. Levando esta linha de raciocínio, a Pedagogia da Região da Reggio Emilia e Toscana, na Itália, apresenta uma porção de conceitos que levam o respeito pelas proporções dos pequenos a outro patamar. Os ambientes de suas escolas e creches refletem o empenho em desenvolver as crianças como cidadãs autoconscientes e socialmente responsáveis – iniciando este processo na primeira infância. Como processo paralelo ao crescimento e popularização, na Itália, do que podemos e iremos chamar de “Pedagogia Toscana”, encontra-se o caminhar de designs de interiores voltados à complementar esta fase de desenvolvimento infantil. Principal para


este estudo são linhas de mobiliários criadas por Aldo Fortunati, pedagogo de renome e designer de mobílias focadas na primeira infância.

linhas exemplificavam como necessárias, no ambiente e nas mobílias, para a experiência das crianças.

Aldo Fortunati em sua carreira como pedagogo, levantava a importância com o desenvolvimento das crianças nos ambientes educacionais. Os mesmos não ofereciam (pelo menos não conscientemente) o que as crianças necessitam para desenvolvimento da criatividade e autoconsciência: fatores necessários para a formação de carácter e personalidade na infância.

Assim como o entendimento da “pedagogia Toscana” está atrelado ao um histórico sócio-político italiano do surgimento e propostas de creches públicas; o entendimento da importância e papel dos mobiliários de Aldo Fortunati está atrelado ao conhecimento das diversas linhas de referência, as quais projetam nos ambientes internos das escolas o que eles devem proporcionar, e do papel de Aldo como atuante na concretização destas projeções.

Havia na Itália diversas linhas teóricas de referência que não apenas complementavam a pedagogia “Toscana”, mas exemplificavam como que a mesma deveria ser levada a diante em seus ambientes, mobiliários, experiências que deveriam proporcionar etc. Assim, o outro lado de Aldo, como designer de mobiliário, procurava maximizar o processo de desenvolvimento da criança através do que estas

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6 Contexto

A

creche na Itália surgiu no início do séc. XX com a função de assistir as mulheres mães que trabalhavam e não haviam com quem deixar seus filhos. Cabia ao governo proporcionar esta realidade de abertura do mercado de trabalho para as mulheres uma vez que a Primeira Guerra Mundial (e o cenário futuro da Segunda Guerra) impunha a necessidade de mão de obra nas industrias. Passando por períodos de intensos pedidos e debates sobre a temática da educação infantil, há então a conquista de Leis que propõem um novo olhar para a situação, considerando como problema de âmbito nacional. E o qual deve ser solucionado com programas públicos e gestões municipais. Surge destes debates um olhar diferenciado da criança como ser atuante socialmente e a qual se tornará uma cidadã, acima de tudo. Há então a priorização dos pequenos no cenário educativo.

Inicio do Projeto Nacional Maternidade e Infância. Programa de incentivo à maternidade criado pelo regime fascista. 1920

final da déc. 50 início séc. XX A creche nasce na Itália com finalidade não educativa, mas com objetivo fundamentalmente assistêncial.

Presença da mulher italiana na industria. Porém já com dificuldades pela aceitação da sociedade. + Nota-se uma ausência dos serviços sociais, assim como um retardo organizacional, cultural e de conteúdo da escola em geral.


Lei Nacional 1044 Lei Nacional 1044 [06 de Dezembro [06de de1971] Dezembro de 1971] Lei prevê um primeiro Lei prevêprograma um primeiro de programa de difusão do serviço difusão de creches do serviço públicas de creches públicas no país, contando no país, comcontando gestão por com gestão por parte das prefeituras. parte das prefeituras. Percebe-se o foco Percebe-se políti- o foco polítiPor ter como objetivo Por ter como inicial objetivo manter oinicial manter o co em difundir os co serviços em difundir os serviços acesso das mulheres acesso ao dasmercado mulheresdeao mercado de no território nacional. no território nacional. trabalho, difundiu-se trabalho,sobretudo difundiu-se nassobretudo nas desde 2007 desde 2007 Intenso pedidoIntenso e debates pedido e debates partes mais desenvolvidas partes maisdo desenvolvidas país. do país. para que haja apara renovação que haja a renovação 1971 1971 das instituiçõesdas escolares instituições e escolares e creches públicas. creches públicas.

déc. 50

italiana na om dificula sociedade.

dos serviços um retardo al e de geral.

déc. 60

déc. 60

1968 1968 Proposta de lei Proposta 444 de lei 444 [18 de Março de[18 1968] de Março de 1968] Lei propõe a Lei perspectiva propõe a naperspectiva na qual a educaçãoqual da população a educação da população infantil de 3 a 6infantil anos é de assumi3 a 6 anos é assumida finalmente como da finalmente problemacomo problema de carácter nacional. de carácter nacional.

déc. de 80 e 90 déc. de 80 e 90 Fortificação Fortificação de conceitos de conceitos pedagógicos pedagógicos e sociais que e sociais que conceituam aconceituam criança como a criança como cidadã, a qualcidadã, tem aa creche qual tem a creche como direito, isto comoemdireito, primeiro isto em primeiro lugar, antes mesmo lugar, da antes necessimesmo da necessidade da família.dade da família.

“A creche não responde, sobretudo, à necessidade da família, mas principalmente a um direito da criança.”

Aldo Fortunati (1998)

Surge por consequência Linhas Pedagógicas que abordam a criança de forma diferenciada. Focando no desenvolvimento social de cada fase infantil. Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato Isabella Rebolla Bueno | Prof. Haroldo Gallo - PIBIC UNICAMP 2016

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8 Linhas de Referências

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o cenário educacional há linhas pedagógicas que exemplificam o anseio de fundamentar a educação infantil como o caminho de desenvolvimento pessoal e social da criança. Constituem cenários de Instituições normalmente vistas em países europeus, e algumas até mesmo com filiais no Brasil. Com propostas diferenciadas, estas pedagogias focalizam em soluções não convencionais e com conceitos que interligam a pedagogia com áreas tais como Arquitetura, Urbanismo, Design, Fisiologia e Filosofia.

Uma vez que os conceitos destas Instituições, consolidados em creches e escolas, solucionam uma necessidade de carácter nacional, é de extrema importancia a compreensão de seus pensamentos e linhas de ação para com a criança. Neste campo será apresentado 3 destas pedagogias nas quais pode-se notar conceitos nos quais o trabalho do designer pedagogo Aldo Fortunati baseia-se, refletindo por consequência na confecção de seus mobiliários destinados à primeira infância.

A Casa das Crianças [de Maria Montessori]

M

aria Montessori, precursora do método montessoriano, dedicou maior parte de sua carreira no estudo da criança. Tendo primeiramente trabalhado com crianças anormais, com deficiências motoras e cognitivas, Montessori desenvolveu teses nas quais afirmava a completa capacidade da criança em aprender e se autodesenvolver. Com os fundamentos de seus estudos, Maria iniciou trabalhos na área educacional, com a proposta de demonstrar as potêncialidades das crianças. Os fundamentos pedagógicos das escolas montessorianas são baseados em 6 pilares essenciais.

São eles: Autoeducação (1), Educação como ciência (2), Educação Cósmica (3), Ambiente Preparado (4), Adulto Preparado (5) e Criança Equilibrada (6). Focando no quarto pilar (“Ambiente Preparado”), o método montessori emprega um ambiente destinado e planejado para as crianças, onde seus mobiliários são feitos para elas, em medidas que comportem sua escala pequena, e os quais ofereçam uma experiência de autonomia. Os mobiliários são feitos para que as crianças possam movimentá-los, manuseá-los e senti-los, estimulando os sentidos e a curiosidade.


A

Escola Waldorf [de Rudolf Steiner]

primeira escola Waldorf nasce da necessidade do industrial Emil Molt em oferecer aos funcionários de sua fábrica de cigarro um local onde os filhos possam ficar e estudar durante o período de trabalho dos pais. Convocando Rudolf Steiner para assumir o comando desta iniciativa. A pedagogia Steineriana fundamenta-se no ideal de liberdade de que a criança deve vivenciar, para que assim esta se torne um adulto ciente e capaz de constante renovação social.

Tomando o mesmo principio da pedagogia montessoriana, Steiner seguiu convicto de que a criança não é um ser passivo, mas sim ativo em suas transformações e desenvolvimento. Assim, os elementos que constituem a pedagogia devem ser apoios e não uma interferência. Por tanto, os ambientes que cercam as crianças, principalmente as escolas, seguem princípios simplificados, com poucos objetos predominantes e com área livre onde as crianças podem ser os protagonistas.

O Instituto da Rua Lòczy de Emmi Pikler

O

Instituto da Rua Lòczy em Budapeste recebe este nome devido a sua localização. Baseado nos fundamentos de sua idealizadora Emmi Picker, exprime a ideia constante de independência, ou autonomia, da criança em seu próprio desenvolvimento. Para Pickler, a criança precisa apenas de supervisão, nada de interferências, “auxílio” ou sugestões. Como ser capaz, ela deve escolher o que fazer e como fazer. A pedagogia do instituto foca muito em três parâmetros essenciais para

o desenvolvimento da criança: A espontaneidade (1), assumindo que a criança (ou bebê) é capaz de se estimular e desvendar o ambiente ao seu redor por si só; O cuidado dos adultos (2) que reflete nos cuidados afetivos que os adultos destinam as crianças, não como intervenção; e O movimento (3), o qual configura-se como forma de expressão da criança para com o ambiente, estando acima de ser apenas uma funcionalidade, os pequenos expressam e exprimem seus desejos, anseios e superações.

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10 Aldo Fortunati

A

ldo Fortunati iniciou seus estudos na área de psicolinguística e comunicação durante sua passagem pela faculdade de Filosofia da universidade de “La Sapienza” de Roma. Seguiu por este caminho se especializando no estudo de crianças até a idade de dois anos e foi direcionando para uma carreira de pesquisas sobre o desenvolvimento da criança, se envolvendo com revistas e centros de pesquisa para a divulgação de materiais sobre o desenvolvimento infantil. Focado na temática de desenvolvimento social, linguístico e de comunicação das crianças, Aldo participou de diversos projetos de pesquisa e difusão sobre educação infantil, principalmente na área da Toscana na Itália. Possuindo já o caminho e o conhecimento de vários pedagogos como referência, tais como de Maria Montessori, Aldo fundamentou muito de seus estudos na premissa que a educação e desenvolvimento da criança dependem de um conjunto de fatores influenciadores do meio em que os pequenos frequentam. O caminhar do crescimento da criança é liderado apenas por ela mesma, porém os adultos (educadores e família) e o ambiente (escola e casa) podem apoiá-la neste caminhar, oferecendo condições favoráveis para que ela se autodesenvolva com liberdade e autonomia. Fortalecendo assim a capacidade da criança em resolver problemas, lidar com dificuldades e descobrir novos meios para o que ela deseja. Fundamentado nessas premissas de um desenvolvimento saudável e baseado na liberdade, Aldo passou a investir na conceituação do ambiente educativo mais adequado à criança. Estimulado por esta missão, Aldo criou a Spazzio Aredo, uma linha de mobiliários que compatibilizava as condições ambientais ideais para o desenvolvimento pleno das crianças.


Spazio Arredo

C

omo premissas vindas das escolas Steinerianas, o ambiente educativo das escolas e creches infantis devem ser de extrema simplicidade e liberdade, permitindo o reger e o sentir dele pelas crianças. Isto é, a movimentação dos mobiliários e o aproveitamento das texturas devem ser possibilidades disponíveis a todo momento. Isto contribui para que a criatividade e a autonomia sejam desenvolvidas. Assim como para as escolas Montessorianas, o ambiente constitui um dos pilares pedagógicos, sendo o fator que deve favorecer as relações da criança com exterior. Este deve ser a oferta das

possibilidade, com seus cheios e vazios disponíveis para brincadeiras livres propostas pelas próprias crianças. Para que isto ocorra, os mobiliários que compõem o cenário do ambiente educativo devem ser compatíveis com a escala da própria criança. Não devendo ser “adaptados” mas sim pensados para elas. O Spazio Arredo foi criado na concepções destes fundamentos. Apresentados em 8 linhas distintas, os mobiliários propõem apoiar as crianças em todas as atividades por elas desenvolvidas.

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12 Linhas

L’acconglienza - A recepção

O

espaço de entrada da instituição de ensino representa o primeiro contato da criança e sua família com a escola, gerando a primeira impressão de acolhimento ou a ausência dele. A entrada é também o espaço de transposição do externo para o interno, da cidade para a escola, o que o torna um foco de sensibilidades. Representa o dever de receber o exterior e transpor para o interior, de forma alguma negando o que encontra-se fora do espaço da instituição (a cidade). Os mobiliários devem expressar esta maleabilidade e ao mesmo tempo manter a identidade da instituição. Deixando o espaço livre para a circulação, brincadeiras e recepção das crianças.

Il Gruppo-Sezione - Em Grupo

C

onforme os fundamentos da Spazio Arredo, a experiência dentro do ambiente educacional deve seguir dois elementos importantes para o crescimento e desenvolvimento da criança perante o mundo: O espaço educativo deve ser a continuidade da experiência social. Ele deve proporcionar o correto dimensionamento do contexto social. Assim, os mobiliários proporcionam a identificação da criança no contexto de grupo, diante de outras crianças e até mesmo diante de seus educadores. Possibilitando a criança em uma experiência contínua de socialização em atividades de grupo.


Le Situazioni di Cura - Os cuidados

A

hora dos cuidados destinados às crianças é um momento de extremo afeto entre o adulto e o pequeno, devendo ser respeitado a individualidade de cada criança. Com tratamentos que façam com que esta sinta-se em um momento destinado a ela mesma e não para ela além dos outros. Os mobiliários devem contribuir para a construção e preservação deste momento de afetividade, proporcionando funcionalidade aos adultos, assim estes não se distraem da criança. Além de deverem ser flexíveis para que os cuidados possam ser oferecidos em momentos distintos do dia.

Il Riposo - O Descanso

O

oferecimento de momentos para descanso das crianças é uma prática comum de várias instituições de ensino. Porém há a complicação do espaço, o qual pode tanto oferecer uma área dedicada a esta atividade ou ser fruto de adaptação. Os mobiliários da linha procuram atender abas as possibilidades, oferecendo desde módulos móveis e empilháveis, até conjuntos fixos de espaços para descanso, que também podem possuir função de armazenagem e espaços para brincadeiras.

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14 Linhas Manipolare, transformare, Costruire - Atividades artísticas

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o desenvolver atividades artísticas, a criança desperta em si mesma novas modalidades expressivas e conhecimento do mundo. Através de pintura, desenho, modelagens e até mesmo jardinagem, as crianças experimentam suas capacidades motoras e visões do mundo que os cerca. Os mobiliários para estas atividades devem estar prontos para uso e imediatamente disponíveis, sendo funcionais no quesito de organização dos materiais.

Far finta per davvero - Faz de conta

O

s jogos de faz de conta ganham novos sentidos no contexto educativo, as crianças são levadas a imaginar as atividades do cotidiano, a experimentar com objetos não convencionais e desenvolver o simbolismos. Os mobiliários simulam o ambiente da cozinha e as situações de cuidados de bonecas, com elementos que caracterizam estas situações.


Giocando col Sé - Jogando com si

A

o participar de brincadeiras que modificam a própria imagens, tais como teatro e faz de conta, a criança vê-se próxima de condições “adultas”. Capaz de escolher o que irá usar, com o que vai se maquiar, quem vai interpretar - seja em peças realistas ou fantasiosas - a criança passa por um processo de identificação dela mesma e desenvolve a habilidade de compreender e agir conforme a realidade proposta na brincadeira. Os mobiliários propostos para estas atividades conformam ambientes íntimos (nos quais ocorre as transformações - o backstage) e de apresentação.

Spazi organizzati e attività O movimento

P

ara a criança, um espaço educativo de qualidade reflete nas possibilidades enxergadas pela mesma. A presença de um espaço organizado no qual permite-se experimentações, com seus materiais organizados de maneira racional e de fácil visualização, demonstram um território transparente e aberto. O espaço deve permitir as escolhas das crianças em suas ações, desenvolvendo-as motoramente, assim inspirando a criativade e a capacidade de tomar decisões. Os mobiliários desta linha representam as potencialidades que o ambiente deve propor para as crianças que o usufruem. São normalmente compostos por módulos que permitem uma linguagem contínua e concisa, sempre sendo trabalhadas com cores e texturas dos materiais de confecção. Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato Isabella Rebolla Bueno | Prof. Haroldo Gallo - PIBIC UNICAMP 2016

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16 O Movimento

O

movimento constitui para a criança o momento de maior desenvolvimento motor e cognitivo. Através dele há a experimentação e por consequência o percorrer criativo que a estimula.É função da instituição educacional permitir esta abertura ao movimento. Como fundamento para os ambientes do Spazio Arredo, a autonomia da criança deve ser o fator constante e presente em todo percurso educativo. Desde a escolha da criança sobre qual atividade será realizada, seu percurso tomado e seu devido ritmo, esta deve se sentir capaz para tais decisões. O ambiente dos móveis da Spazio Arredo oferecem esta possibilidade com propostas amplas e distribuídas com espaços abertos entre eles. Assim como, para um melhor aproveitamento das atividades, os móveis são trabalhados em módulos cambiáveis com diversas configurações de aberturas, cores e materiais.


Módulos

S

endo trabalhados em módulos, os mobiliários da Spazio Arredo permitem diversas conformações do espaço e propostas para o direcionamento das crianças. Cada mobília oferece diversas montagens, variando desde tamanho de aberturas até mesmo materiais utilizados. Os mobiliários da linha de Movimentos se diferem principalmente pelo oferecimento de montagens de cada módulo maior, conforme o interesse de percurso da proposta pedagógica da instituição. Possibilitando a personalização de cada face, o móvel é formatado de maneira única, e ao mesmo tempo mantendo uma linguagem homogênea. Contribuindo para a conformação de um ambiente onde as crianças trabalham com a condições específicas de cada um destes móveis e ao mesmo tempo possuem esta constância visual da linha da Spazio. Assim os educadores são livres para consolidar o ambiente conforme suas diretrizes pedagógicas.

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18 Ambiente

O cenário educacional é o fator constante presente durante o crescimento da criança e interfere significativamente no seu progresso.

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ara aprofundamento de análise de qualidade dos mobiliários da linha Movimento da Spazio Arredo, foi escolhido um ambiente (proposto pela marca) representativo da proposta. Deste ambiente foram extraídos seus mobiliários-chave para análise ergonómica posterior. O ambiente é constituído por mobiliários propostos para a faixa etária de 3 a 6 anos, sendo módulos maiores para comportar a utilização pelas crianças.


Fichas técnicas

Mobiliários

Movimentando Small

Vistas:

Dimensões gerais: 170 x 129 x 105 cm Materiais: Madeira e borracha

Piso emborrachado

Estrutura em madeira

Vista frontal

Vista posterior

Planta

Idade: de 3 a 6 anos

Vistas laterais

Cordas

Estrutura em madeira

Gymno Large Dimensões gerais: 135 x 135 x 135 cm Materiais: Madeira, corda, espelho, acrílico e metal.

Grade metálica

Acrílico

Vistas:

Planta

Vista frontal

Vista posterior

Idade: de 3 a 6 anos

Espelho

Vistas laterais Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato Isabella Rebolla Bueno | Prof. Haroldo Gallo - PIBIC UNICAMP 2016

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Fichas técnicas

Mobiliários

Gymno Small

Corda

Vistas:

Dimensões gerais: 148 x 135 x 129cm Materiais: Madeira, corda e espelho

Planta

Vista frontal/posterior

Idade: de 3 a 6 anos Espelho

Madeira

Vistas laterais

Estrutura em madeira

Prisma

Vistas:

Dimensões gerais: 148 x 135 x 129 cm Materiais: Madeira e espelho Idade: de 3 a 6 anos

Planta

Vista frontal/posterior

Espelho

Vista lateral


Padrões de crianças Percentil 50 de 3 a 6 anos de idade

3 anos

3 anos

4 anos

4 anos

5 anos

5 anos

6 anos

6 anos

A

Ergonomia

ergonomia é um fator presente de projeto, principalmente no quesito de mobiliários. Atender ergonomicamente o público de usuários é a melhor perspectiva que um artefato pode proporcionar. Para atendê-los adequadamente porém, há a necessidade de compreender a formatação do corpo humano, como este se comporta diante de suas posições no cotidiano e quais são suas proporções. Muitos destes parâmetros podem ser obtidos através de percentis, que são as dimensões padrões de uma determinada porcentagem da população. Ou seja, por exemplo, se 50% da população feminina possui até 75,7 cm de comprimento de perna, estas dimensões correspondem a um percentil 50 de comprimento de perna para mulheres. Para a análise comparativa da ergonomia dos mobiliários da linha movimento, da Spazio Arredo, foram utilizados bases de desenho técnico de percentil 50 de crianças, de 3 a 6 anos de idade, vindos do livro de referência “As Medidas do Homem e da Mulher: Fatores Humanos em Design” de Henry Dreyfuss Associates. A partir da derivação dos desenhos foram compostos outras posições das crianças, simulando o andar e o engatinhar, para que possa ser analisado os mobiliários e se estes integram ergonomicamente com a necessidade dos pequenos.

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22 Análise

O

s mobiliários da Spazio Arredo possuem uma composição única perante ao mercado de mobiliários para crianças. Todas as coleções são confeccionadas em madeira para manter uma ambiência natural e simples. Seus acabamentos emborrachados conservam a segurança das crianças, e suas escalas adequadas permitem uma utilização efetiva pelos pequenos. Todos os artefato podem ser tocados em todas as suas superfícies pelas crianças, o que, mesmo eles sendo mais altos que elas, possibilita uma sensação de “permissão” do manuseio destes objetos.

Como a autonomia é um fator muito importante no ambiente das creches e escolas que utilizam as pedagogias da região da Toscana, a capacidade das crianças de configurar seu ambiente é o que torna esses mobiliários o reflexo deste fundamento. A visão é um sentido que possui função facilitadora para a criança. Através dela há a auto consciência corporal e a percepção do ambiente em que ela se encontra. Juntamente com as funções motoras do corpo, a criança aprende com seus erros e se aprimora em seus movimentos e ações.


A

visão da criança é contemplada e valorizada, abordada com incertivo para que se desenvolva a curiosidade. Os pequenos, médios e grandes vãos que surgem por todo o artefato não permitem que a criança vá de um lado ao outro da face, porém permite a visão, com um ou os dois olhos.

que o pequeno, ao se ver no ambiente, se “dê a presença”, identificando-se como ativo e capaz de suas escolhas e ações.

Os mobiliários possuem formas simples e muitas vezes organicas, sem muitos ornamentos ou sequer detalhes de montagem. Esta conformação apresenta-se desta maneira devido ao fundamento Muitos dos artefatos possuem espelhos em suas de que o espaço educacional deve ser simples, conformações, podendo serem simples ou até mes- permitindo a clareza dele, sem nada que não seja mo curvados. Fazendo com que a criança se visunecessário para o desenvolvimento do grupo. Sem alize no espaço, ao mesmo tempo que contribui que hajas distrações, assim a criança pode focar em para que ela crie uma consciência corporal, faz com si mesma, nos objetos que ela quer manusear e em Um diálogo entre Arquitetura, pedagogia e design: Estudo de um artefato Isabella Rebolla Bueno | Prof. Haroldo Gallo - PIBIC UNICAMP 2016

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24 Análise

seu grupo de pares.

M

uitas vezes mobiliários, possuem uma configuração espacialmente caracteristica externo-interno. Por serem baseados em formas tridimenssionais simples (cubo, cilindro, prisma etc), permitem o adentrar da criança. O que acaba por caracterizar semi-ambientes, cada um com ambiência única a qual somente as crianças são “donas”, vez que os adultos não conseguem nem sequer adentrar. Esta configuração privativa, íntima e focada ap-

enas na criança permite uma percepção do espaço ocupado e do sentimento de pertencimento pelos pequenos. Como conceito muito utilizado na arquitetura, o sentimento de pertencimento é o que concretiza nos usuários o prazer de cuidar e preservar o local, como se aquele pertencesse a pessoa. O mesmo se dá pelas crianças com estes artefatos. Desenvolvendo esta percepção de cuidado e carinho pelo que os cerca, configura uma formação de cidadania em todas elas.


Bibliografia ART POWER (org.) - “Paradise of growth - kindergarten design”. Hong Kong, China: Ed. Art Power International Publishing co. Ltd SD. FORTUNATI, Aldo - “A abordagem se San Miniato para a educação das crianças”. Firenze, Itália: Ed. Edizioni ETS 2014. HALL, Edward T. – “A Dimensão Oculta”. Lisboa, Portugal: Ed. Relógio d’ Água 1986. LESCHIUTTA, Fausto E. & VISCARDI, Fabio - “Strutture educative da 0 a 6 anni”. Roma, Itália: Ed. Gangemi 2004. PANERO, Julius & ZELNIK, Martin - “Dimensionamento humano para espaços de interiores”. São Paulo, Brasil: Ed. GG Brasil 2014. TILLEY, Alvin - “As medidas do homem e da mulher - Fatores humanos em design”. Porto Alegre, Brasil: Ed. Bookman 2005. ANDREETTO, Valéria - “Reggio Emilia e San Miniato: Experiência em política pública para qualidade da infância”. Campinas, Brasil. Ed. UNICAMP 2014.

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