Programa SWitCh apontado como caso de sucesso

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TALENTO TECH, PRECISA-SE

A transformação digital está a alterar o mercado de trabalho que necessita agora, mais que nunca, de talentos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O desafio que se coloca a nível nacional, mas também europeu e mundial, é o de que os profissionais que se formam não chegarem para as vagas existentes nas empresas. O que pensam os diferentes agentes sobre a escassez de recursos qualificados nas TI em Portugal? Ouvimos diversos intervenientes sobre esta matéria e é unânime que algo terá de ser feito sob pena de atrasarmos o desenvolvimento económico e tecnológico do País.

O Instituto Superior Técnico tem diversos programas de mestrado e pós-graduações em TIC, entre os quais em Engenharia de Software e dos Sistemas de Informação Empresariais (SISE) que conta com o patrocínio da Deloitte. Por: Mafalda Freire

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egundo o relatório da OCDE Digital Economy Outlook 2017, os empregos nas TIC ocupam o segundo lugar no ranking das dez profissões em que é mais difícil preencher as vagas, especialmente na Europa. Isto é confirmado também pelo ManpowerGroup no seu inquérito Talent Shortage 2018. O relatório conclui que, a nível mundial, a dificuldade em recrutar na área das tecnologias cresceu 5%. Assim, 45% das empresas dizem que têm dificuldade em encontrar talento tech de que necessitam em comparação com 40% registados em 2016; este é o valor mais alto desde que existe este inquérito, ou seja, desde 2006. Isto demonstra bem as dificuldades que o mercado enfrenta, mas há diferenças sobretudo a nível regional. Entre os países com maiores dificuldades estão a Alemanha, Hungria, Polónia (todos com 51%), Eslováquia (54%), a Grécia (61%), a Turquia (66%), Hong Kong (76%), Taiwan (78%), a Roménia (81%) e o Japão (89%). Portugal situa-se perto da média mundial mas isso não são boas notícias: 46% das empresas nacionais indicam que tem dificuldades em encontrar mão-de-obra

qualificada de TI. E as previsões para 2020 não são animadoras, de acordo com a consultora alemã empírica vão existir mais de 700 mil vagas por preencher na área nas TI, só na Europa. Vasco Teixeira, manager de IT do escritório da Michael Page de Lisboa indica que o sector das TIC «deverá continuar a crescer, como aliás se tem verificado nos últimos anos» e que «as áreas de Inteligência Artificial, Big Data & Data Science, Internet of Things, Cloud Computing vão continuar a ser os grandes catalisadores deste mercado».

O CENÁRIO PORTUGUÊS Os dados do Eurostat referem que existem em Portugal cerca de 120 mil de trabalhadores especialistas TIC em Portugal o que representa que o nosso país ocupa o décimo sexto lugar nos vinte e oito da União Europeia (UE). Para termos uma ideia, o maior mercado é o do Reino Unido com cerca de 1,6 milhões de trabalhadores, seguido pela Alemanha com 1,2 milhões e a França com quase um milhão. Os profissionais TIC no nosso país representam 2,4% da força de trabalho quando a média da UE é de 3,7%. Já no Reino Unido representam 5,4%. A Landing.jobs, startup que tem uma

plataforma especializada em carreiras na área das tecnologias, refere que a maioria do talento tech a trabalhar no mercado nacional são sobretudo full-stack developers, back-end developers e gestores de projecto ou produto. José Paiva, CEO da Landing.jobs, refere que evolução nos últimos anos no País foi «muito condicionada pela emigração de grande parte dos números de trabalhadores qualificados para o estrangeiro aquando da crise económica de 2012-2014» - desde aí, Portugal não conseguiu recuperar. Segundo o executivo, a questão também está nos «salários baixos» e no «forte crescimento do remote working» que está a tornar «elástico» o mercado de trabalho e a «trazer problemas acrescidos» às empresas que têm para recrutar profissionais da área. A par disto há ainda a chegada de grande players tecnológicos a Portugal mas também de empresas mais pequenas e startups que criam centros tech em território nacional. O responsável da Landing.jobs refere que há imensas PME a vir para território nacional e a criar equipas de cinco a dez pessoas, o que também está a contribuir para a actual falta de talento tech.A isto não é alheio a

Salários nas TIC em Portugal: quase metade dos profissionais recebe entre 35 e 55 mil euros brutos anuais. Já 25,8% recebe mais de 55 mil euros brutos anuais, revela um estu do da Michael Page. 18

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«A Fujitsu tem assumido um papel relevante de atracção e fixação em Portugal de muitas centenas de recursos de várias nacionalidades que desempenham funções de âmbito tecnológico e contribuem para a exportação de serviços de valor acrescentado», indica Susana Soares, directora de marketing da empresa. chegada da Web Summit, que veio trazer grande visibilidade ao País, sobretudo no que diz respeito às TIC. Mas nem tudo são más notícias e Portugal tem conseguido atrair algum talento tech de fora. O Brasil é quem mais tem contribuído para suprir a falta de recursos de TI em Portugal. Segundo José Paiva, são já cerca de dois mil profissionais brasileiros a entrar no mercado nacional todos os anos. O executivo acredita que esta deve ser uma aposta para suprir as necessidades do mercado de trabalho das TIC.

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DO PAÍS PODE ESTAR EM CAUSA É verdade que a falta de recursos nas TI pode atrasar o desenvolvimento económico e tecnológico do País? Efectivamente, sim. No mês passado durante uma conferência, o professor Arlindo de Oliveira, presidente do

Instituto Superior Técnico (IST), referiu perentoriamente que sim. Da mesma opinião é o professor Miguel Mira da Silva, também da mesma instituição de ensino, especialista em Transformação Digital. «A situação será dramática no futuro e a verdade é que já há empresas que estão a rejeitar projectos por não terem mão-de-obra para os fazer». O alerta de José Paiva é no mesmo sentido, «a falta de profissionais em tech está a dificultar imenso o desenvolvimento das empresas pois o custo dos projetos disparou». Além disso está a «adiar a digitalização das empresas e, assim, a torná-las menos competitiva». Já Rui Serapicos, managing partner da Cionet Portugal, refere que «se as empresas estão a delinear uma estratégia e para essa estratégia precisam de um determinado número de profissionais especializados em TIC

e não os conseguem, naturalmente o desenvolvimento dessa empresa não será o mesmo; será, à partida, menor». A iTGrow, uma iniciativa conjunta entre a Critical Software e o BPI, considera que a falta de recursos humanos qualificados vai ter «naturalmente um impacto no crescimento do sector e na economia do nosso País».

UNIVERSIDADES ESTÃO ATENTAS E A TRABALHAR NO DESAFIO Com a introdução do novo modelo de ensino superior, conhecido por Processo de Bolonha, as universidades só consideram os alunos preparados para iniciar uma actividade profissional após o mestrado. Quer o IST, quer a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, conseguem formar cerca de 170 a 180 alunos anualmente na área de TIC, o que se tem revelado claramente insuficiente.

INICIATIVA NACIONAL COMPETÊNCIAS DIGITAIS E.2030 - INCODE.2030

Os escritórios da Blip oferecem aos profissionais um ambiente descontraído. Nuno Ferreira, membro da equipa de leadership, diz que a empresa tem «uma cultura informal e de proximidade entre as pessoas».

Mas a verdade é que de acordo com o professor associado do IST, Miguel Mira da Silva, as universidades «não irão conseguir formar muito mais» porque «não é possível aumentar os numerus clausus. No entanto, o docente acredita que as universidades, politécnicos e as escolas formação «podem fazer mais» e que «é possível aumentar o número de pessoas qualificadas na área das tecnologias com «cursos de formação contínua, online e cursos para executivos e pós-graduações». O professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, João Manuel Paiva Cardoso, vê «com alguma apreensão» a falta de profissionais qualificados de TIC em Portugal mas está «também esperançado em relação aos desafios e oportunidades que isso pode criar em termos do sistema universitário nacional». Para o director do Departamento de Engenharia Informática (DEI) da FEUP, «a procura por profissionais nacionais qualificados de TIC é reveladora da confiança e percepção de que as empresas nacionais e internacionais têm da qualidade do sistema universitário nacional na formação em TIC». Mas o docente receia «que não se consiga dar reposta às necessidades, que algumas tecnológicas optem por não ampliar as áreas de intervenção (nomeadamente

em I&D) ou evitem a criação de centros de competência no país, e que os padrões de qualidade da formação dos nossos profissionais venham a ser afectados negativamente por aumentos irracionais em termos de número de estudantes em TIC». O professor João Cardoso considera também «importante que se distinga a natureza dos profissionais que as empresas procuram e o papel das universidades e dos politécnicos em termos da formação das competências procuradas para esses profissionais de TIC». Segundo Luís Silva, presidente da Porto Tech Hub, «as universidades e os institutos politécnicos do Norte têm respondido com prontidão» para «colmatar o gap de recursos humanos» nas TIC e têm-no feito com «programas mais curtos e desenhados para responder às necessidades das empresas». Assim, há manifesta preocupação e empenho dos corpos docentes universitários em garantir que as suas instituições possam responder melhor ao desafio da falta de talento tech em Portugal.

A VISÃO DAS EMPRESAS DO MERCADO DE TRABALHO Mas como é que empresas tecnológicas vêm o mercado de trabalho de TIC em Portugal? Conforme verificámos, as

O programa do Governo, aprovado em Março de 2018, concretiza uma estratégia para o desenvolvimento do país que visa garantir a literacia e a inclusão digitais. O INCoDe.2030 quer ainda estimular a especialização em tecnologias e aplicações digitais para a qualificação do emprego e uma economia de maior valor acrescentado, além de produzir novos conhecimentos em cooperação internacional. O programa estrutura-se em cinco eixos essenciais: inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação. Um dos objectivos é que os especialistas TIC na população activa em Portugal passem de 2,4% (2016) para 5% em 2025, que corresponde ao valor actual da Estónia, e cheguem aos 8% em 2030, o actual valor da Finlândia. Para que tal aconteça, o número de trabalhadores nas áreas tecnológicas tem de crescer 10% ao ano, ou seja precisamos de adicionar dez a vinte mil novos profissionais TIC por ano. Isto é «algo muito difícil de se conseguir» refere Pedro Guedes de Oliveira, professor emérito da Universidade do Porto e coordenador geral da equipa de Coordenação Técnica do INCoDe.2030. O responsável acredita que o programa só será bem-sucedido se for possível «dotá-lo de uma estrutura operacional» e de «verbas adequadas», além da garantia «um alinhamento estratégico e operacional dos vários agentes públicos envolvidos».

A Blip não tem «exclusivamente pessoas com licenciatura ou mestrado» pois acredita «essencialmente no talento e na atitude das pessoas» diz Nuno Ferreira, membro da equipa de leadership da Blip.

A falta de talento tech é um problema que afecta todas as empresas independentemente da sua dimensão.

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companhias, independentemente, da sua dimensão estão preocupadas mas ao mesmo tempo atentas às oportunidades e algumas já estão a preparar-se para o futuro. Susana Soares, directora de Marketing da Fujitsu Portugal, refere que o País «tem condições para assegurar uma geração altamente qualificada e preparada para dominar e liderar as tendências de futuro das TI, como a Inteligência Artificial, Blockchain, Robótica, Machine Learning ou Realidade Aumentada». No entanto, Susana Soares lembra que o número de recursos «não é suficiente» e o ritmo a que se formam pessoas nestas áreas também «não irá, a curto ou médio prazo, colmatar a procura» até porque a «formação crítica para o desempenho é feita ‘on the job’ e em situações reais». Já Lígia Cabeçadas, Human Resources leader da IBM Portugal, refere que «a acelerada transformação» que vivemos «cria um gap de skills, tornando essencial investir em novos talentos e novas competências para antecipar e equilibrar as necessidades das empresas e responder

às exigências das novas profissões». Este gap está a «acontecer em todo o mundo, e Portugal não é excepção», avisa Lígia Cabeçadas. A responsável da IBM Portugal refere mesmo que «o desajuste entre oferta e procura tem estado a acelerar» e acrescenta que o País tem «pela frente um enorme desafio» no que diz respeito à qualificação nas áreas de CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas) com «especial predominância nas engenharias e em áreas tecnológicas emergentes como a computação cognitiva ou a Internet das Coisas». Mas a IBM acredita que «Portugal reúne condições únicas para estar na linha da frente desta transformação». A executiva refere que existe um «bom Ensino Superior» e que há jovens com «muitas aptidões e que falam diferentes línguas». Contudo, Lígia Cabeçadas acredita que «é essencial investir nestes novos talentos e desenvolver as competências do futuro». A Blip, sediada no Porto, acrescenta que o mercado de trabalho das TIC está a «crescer muito e rápido», o que é

Entre outros cursos, a Rumos disponibiliza formação em segurança e proteção de dados, gestão de projetos, IT service management, business analysis, business intelligence e power BI.

A atracção de talento de outros países é uma das formas como será possível mitigar a escassez de recursos qualificados nas TIC.

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«extremamente gratificante para quem trabalha na área e bastante positivo para o crescimento do País» mas lembra que também é preciso «ter os pés bem assentes na terra». Nuno Ferreira, da equipa de leadership da empresa, alerta: «No dia em perdermos as maiores vantagens competitivas que o País traz, deixamos também de ser interessantes de um ponto de vista de investimento estrangeiro. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, essa vantagem competitiva não é apenas custo mais baixo, é também o talento que temos e a nossa cultura do querer fazer bem». Já Luís Silva, presidente da Porto Tech Hub, que aglomera catorze empresas de tecnologia do Porto, falou à businessIT da situação do mercado de trabalho das TIC em Portugal e nessa cidade. «Portugal tem trabalhado bem a captação de novas empresas na área da tecnologia e o respetivo marketing territorial» e que «a curva de crescimento da cidade do Porto tem sido bastante exponencial». O executivo refere que «esta crescente fixação de empresas na área do Porto é por isso mesmo bastante positiva, já que vem agitar o mercado e criar um espírito tecnológico na cidade, que de outra forma seria bastante difícil».

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EMPRESAS COM MAIOR DIFICULDADE EM RECRUTAR Das empresas que contactámos é transversal a todas que o recrutamento de profissionais de TIC está mais difícil e por isso mesmo as empresas apostam em serem diferentes já que a questão salarial já não é o único parâmetro que os millenials consideram na hora de escolher um emprego. Nuno Ferreira, da Blip, refere que «está mais difícil para todas as empresas». O mesmo sublinha que «é um facto que, neste momento, não existem pessoas suficientes no mercado para o número de vagas disponíveis, nem haverão nos próximos anos». Isto faz com que as empresas tenham, cada vez mais, de se «focar em retenção, evolução de carreira e ao mesmo tempo ir adaptando as estratégias de recrutamento». Nuno Ferreira fiz que isto não é algo que não tenha sido feito antes mas «merece maior foco agora», até porque, por outro lado sabe-se que, apesar dessa pressão, a Blip não «quer cometer erros que comprometam a visão de futuro que temos 23


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para a empresa». Para isso oferecem «desafio tecnológico» e uma «cultura informal e de proximidade entre as pessoas». O executivo indica que «não é simplesmente não usar fato e gravata, o ter massagens ou bilhar no escritório». Para Nuno Ferreira é uma questão de «mentalidade em que as pessoas que aqui trabalham sabem que podem gerir o seu tempo da forma que melhor entenderem desde que cumpram aquilo que é esperado deles». Já na Glintt, que está neste momento a «contratar profissionais das áreas de Engenharia Informática, Sistemas e Tecnologias de Informação, Bioengenharia, Engenharia Biomédica, Gestão e Ciências Farmacêuticas», o projeto Academia Glintt é a grande mais-valia. «Para a Glintt dar uma oportunidade aos jovens recém-licenciados, é uma aposta ganha. Uma aposta que se concretiza em ideias diferentes e inovadoras, que resultam em grande medida da discussão e trabalho intergeracional. Este pensamento foi o mote para a criação da Academia Glintt, uma iniciativa de captação de talento que contribui ativamente para a formação de profissionais, conferindo-lhes ferramentas essenciais para construírem uma carreira no setor. E é esta a atitude que nos diferencia», diz Inês Pinto, responsável de RH da Glintt. Para a Bi4ALL, «apesar da crescente competitividade do mercado», o facto de serem «especialista e líderes na área de business intelligence «tem ajudado bastante a atrair talento». A Fujitsu Portugal, que conta com 1900 pessoas de sessenta nacionalidades, tem sentido mais dificuldades em contratar em «alguns sectores». A directora de marketing da empresa indica que «é mais visível a escassez de recursos qualificados em áreas que estão agora a ganhar uma maior relevância. Temáticas como a Inteligência Artificial, IoT, RPA (Robotic Process Automation) ou Blockchain são alguns dos exemplos de áreas onde o recrutamento é mais difícil». Susana Soares indica que o mercado «é extremamente competitivo» e que os

Nos últimos dois anos, cerca de 150 jovens recém-graduados que participaram na Academia Glintt foram recrutados para a equipa da empresa.

novos profissionais mais qualificados olham para as organizações tendo por base uma série de critérios que os faz escolher uma empresa em detrimento de outra. «Não é apenas a folha salarial que define a escolha do local de trabalho. Temos de saber cativar e reter talentos pelos valores que a empresa representa e pela valorização que garantimos aos nossos colaboradores através da formação contínua e das perspectivas reais de crescimento interno que são oferecidas», acrescenta a directora de marketing.

PERSPECTIVA DOS CIO Os Chief Information Officer são uma peça fundamental no que respeita à gestão de talento nas empresas e estes profissionais vêm a situação portuguesa com preocupação conforme explicou à businessIT, Rui Serapicos, managing partner da CIONET Portugal. Segundo o responsável da associação que agrega diversos CIO, em Portugal, a diferença entre a oferta e a procura é «porventura mais alarmante do que noutros países da União Europeia na medida em que ainda existe um elevado nível de desemprego

(que ronda os 7,5%), em particular nos jovens». Ao mesmo tempo, «inúmeras empresas e instituições, nomeadamente o caso das PME, que representam uma parte significativa do tecido empresarial, não fazem ainda uma alavancagem adequada das Tecnologias de Informação, existindo, ainda assim, uma diferença significativa entre a procura e a oferta de talentos», ressalva Rui Serapicos. Para o executivo, «existe um enorme número de profissionais altamente qualificados no mercado português com competências desenquadradas do sector das TIC». A conversão das competências em ciências, em engenharia e nas matemáticas deste talento para o sector das tecnologias «iria tanto colmatar a lacuna do lado da oferta como reduzir os níveis de desemprego do País, alavancando o sector empresarial e a economia nacional».

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ATRAIR TALENTO, FORMAÇÃO E PROGRAMAS DE RECONVERSÃO PROFISSIONAL DEVEM SER AS APOSTAS ‘Formação’ e ‘reconversão’ parecem ser as palavras de ordem em relação à resolução

Na Academia Glintt, que conta já com duas edições, os participantes são acompanhados por elementos seniores da empresa e integram diferentes equipas de projeto ao longo de toda a formação. 24

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da situação de falta de talento tech nas empresas. Todos os intervenientes que ouvimos falam disso e consideram que, além de atrair profissionais do estrangeiro, isto nunca será muito fácil em relação às discrepâncias salariais existentes entre Portugal e o resto da Europa ou os Estados Unidos. Susana Soares refere que «a reconversão é essencial e a atracção contínua de recursos também». O professor Miguel Mira da Silva indica mesmo que a «grande revolução» que ainda está por fazer é nas próprias empresas: «Algumas já têm academias mas é preciso fazer mais» aponta. O docente dá como exemplos a EDP, Novabase, a Glintt e a Critical Software. «Estar à espera que seja o Estado ou o Governo a resolver a situação não faz sentido porque não vai acontecer. As empresas têm um problema e têm de pensar numa solução. Em vez de despedirem as pessoas menos jovens, as empresas deviam reconvertê-las profissionalmente em informáticos e aí o Técnico pode ajudar», conclui Mira da Silva. Na FEUP, que tem «mantendo e promovendo sempre os elevados níveis de qualidade», o DEI tem vindo a «reforçar as actividades científicas em colaboração com empresas e a criar novos cursos de Mestrado que focam áreas e competências com necessidades reconhecidas pelo tecido industrial e empresarial nacional e internacional, como é exemplo o Mestrado em Engenharia de Software (MESW)», refere o professor João Cardoso. O docente acredita que, apesar das restrições orçamentais, a Faculdade de Engenharia «tem dado passos importantes na criação de novos cursos de reconversão profissional na área de TIC». Um exemplo recente é o curso de formação em cibersegurança com envolvimento de empresas. A universidade tem «também cursos de formação intensivos como por exemplo o curso de ‘Testes de Software’ e a participação de docentes do DEI em cursos na Porto Business School», conclui. Atenta a realidade está também a Rumos. De acordo com Marlene Almeida, directora da unidade de formação da empresa, esta «procura sempre adequar a sua oferta formativa e preparar os seus formadores das ferramentas necessárias para conseguir disponibilizar formação actualizada». Através das parcerias técnicas de informática que mantem com

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os principais fabricantes tecnológicos a nível mundial e através da oferta formativa desenhada pela Rumos, «os programas de formação pretendem não só dar resposta às necessidades atuais, como antecipar futuros desafios que se coloquem».

CASOS DE SUCESSO A verdade é que acções como a Acertar o Rumo da iTGrow e o SWitCH do Porto Tech Hub ou os exemplos da Academia Glintt, Academia de Código, Rumos ou Le Wagon têm demonstrado o quando a formação e reconversão profissional são importantes e como podem ser vitais para colmatar as necessidades das empresas

de profissionais com competências TIC. A iTGrow, vocacionada para a qualificação informática, forma e prepara para a vida profissional na área das TI os recém-diplomados, mediante programas de formação e treino de competências on-the-job. «A empresa tem cerca de 280 jovens envolvidos nos seus programas de treino e formação, sendo que 20% deles advém precisamente de programas de reconversão profissional que ajudámos a construir, em parceira com escolas superiores de referência em Portugal», afirma a directora da iniciativa. A entidade é responsável pelo programa Acertar o Rumo, que existe desde

Os programas de reconversão profissional, como o Acertar o Rumo, têm demonstrado taxas de sucesso e de empregabilidade muito elevadas, normalmente acima dos 96%.

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O talento tech a trabalhar no mercado nacional é constituído sobretudo por full-stack developers, back-end developers e gestores de projecto ou produto.

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2013 e que já inseriu no mercado de trabalho «mais de 115 profissionais», que hoje desempenham funções como «programadores informáticos em várias empresas», invertendo a situação de desemprego ou de insatisfação profissional em que se encontravam na altura em que decidiram fazer esta aposta. Catarina Fonseca revela que o sucesso deste programa se deve a três factores principais: «Os formandos estão muito motivados e têm as características adequadas à reconversão profissional para a área de TI, a componente lectiva é muitíssimo exigente e de grande qualidade, ministrada pela Universidade de Coimbra e totalmente alinhada com as necessidades do mercado e, finalmente, o estágio remunerado». Isto faz, assim, com que esta seja «uma oportunidade efectiva de inserção no mercado de trabalho e de desenvolvimento de competências em contexto de posto de trabalho». Luís Silva, presidente da Porto Tech Hub, refere que o SWitCH surgiu «da necessidade óbvia das empresas associadas» da organização «em recrutar recursos com competência na área de Tecnologias de Informação». Assim «o know how dos elementos da associação empresarial, junto com a componente prática definida pelo corpo docente do ISEP em conjunto com estas mesmas empresas, ajudou a definir um programa virado à resposta mais imediata para o sector empresarial». A ideia surge ainda da perceção de que este tipo de formação tem a «capacidade de combate ao desemprego em áreas com menos procura, através da requalificação efetiva para a área das TI», acrescenta o vice-presidente da Porto Tech Hub. «O programa é aberto a todas as pessoas que pretendam, de facto, fazer uma mudança relativamente à sua área de formação inicial e tenham interesse em integrar esta área das TI. Não há limite de idades, não há restrição nas áreas de formação nem em relação à situação de emprego em que a pessoa que se encontre atualmente. O principal requisito

A consultora Michael Page, especializada em recrutamento, acredita que «contratar e reter talento, na área de IT, representa um desafio tremendo para qualquer organização».

«É DE MENINO QUE SE TORCE O PEPINO» A importância da educação dos jovens para atraí-los para carreiras tecnológicas deve acontecer no ensino básico e secundário, refere Pedro Guedes de Oliveira, coordenador do INCoDe.2030. «É preciso trabalhar já no secundário ou estaremos a comprometer o nosso futuro», indica o executivo. A IBM é uma das empresas mais activas neste domínio e possui dois programas em Portugal, o IBM EX.I.TE. Camp - EXplorar o Interesse pelas Tecnologias e pelas Engenharias e o o IBM Teachers TryScience. O primeiro pretende «sensibilizar as jovens raparigas, entre os onze e os treze anos de idade, para o interesse das CTEM - Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática - e contribuir para um cenário mais equilibrado entre o número de homens e de mulheres que escolhem cursos ligados às engenharias e às tecnologias» refere Lígia Cabeçadas, Human Resources Leader IBM Portugal. A nível nacional, já participaram neste projecto 430 jovens. Já o IBM Teachers TryScience corresponde a uma plataforma destinada a professores, que agrega planos de aula concebidos para todos os níveis de ensino e que aborda disciplinas das áreas CTEM. Em Portugal, a IBM estima que o Teachers TryScience já envolveu mais de quatrio mil professores e 34 mil estudantes.

é que os candidatos já tenham o grau de licenciados», conclui Luís Silva.

O QUE NOS GUARDA O FUTURO? As perspectivas para os próximos anos não são as melhores e as companhias vão certamente encontrar dificuldades acrescidas para conseguir encontrar os talentos tech de que necessitam. Mas uma coisa é certa, todos os intervenientes,

desde a academia ao mundo empresarial, estão empenhados em que o gap entre a oferta e a procura diminua. Quem sabe se todas as iniciativas que estão agora a começar e as que virão num futuro próximo vão permitir realmente que, em Portugal, a falta de profissionais TIC tenha um impacto menor do que previsto e a situação não seja tão dramática quanto a que está em perspectiva.

Os participantes no SWitCH aprendem tecnologias como UML, Software design patterns, Git version control system, Java, SQL, Oracle DBMS, React.JS, entre outras. 28


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