Panorama da doença em portugal 4 º inquérito nacional de saúde

Page 1

PANORAMA DA DOENÇA REUMÁTICA EM PORTUGAL: 4.º INQUÉRITO NACIONAL DE SAÚDE Daniela Simões, Teresa Monjardino, Raquel Lucas, Henrique Barros Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto


PANORAMA DA DOENÇA REUMÁTICA EM PORTUGAL: 4.º INQUÉRITO NACIONAL DE SAÚDE

Daniela Simões, Teresa Monjardino, Raquel Lucas, Henrique Barros Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

1.

Introdução

As doenças reumáticas são uma das principais causas de morbilidade em todo o mundo, tendo um elevado impacto ao longo do ciclo de vida (1). Contudo, a incidência das doenças reumáticas mais frequentes, tais como a osteoartrose e a osteoporose, aumenta com a idade. Consequentemente, o rápido envelhecimento das populações dos países desenvolvidos faz prever um aumento acentuado da carga global deste grupo de doenças nas próximas décadas (1). De acordo com uma revisão sistemática, publicada em 2011, a prevalência de doença reumática em Portugal situa-se entre 14,5% e 24,0%, o que por si só traduz o seu enorme peso no nosso país (2).

213


As doenças reumáticas representam um importante problema social e económico, com consideráveis custos para os cuidados de saúde e de apoio social (3). A nível individual, estas doenças associam-se com dor, incapacidade, limitação nas atividades da vida diária e na participação social (1). Além disso, a auto-perceção do estado de saúde e o recurso frequente aos cuidados de saúde, resultados cada vez mais valorizados, têm vindo a ser fortemente relacionados com a presença de doença reumática (4, 5). O conhecimento da epidemiologia das doenças reumáticas na população é um elemento fundamental para informar estratégias de redução do impacto populacional destes resultados adversos de saúde, pois permite identificar os grupos sociodemográficos que mais beneficiariam com as intervenções (6). Tradicionalmente, a estimativa da prevalência de uma doença crónica e a definição de um plano de intervenção são direcionadas individualmente a uma única entidade nosológica. No entanto, a elevada proporção da população com multimorbilidade reforça a necessidade de coordenação na implementação das estratégias de prevenção e intervenção, para que não ocorra multiplicação do recurso aos cuidados de saúde e, consequentemente, dos gastos para o doente e para os sistemas de saúde (7). Reconhecendo que a multimorbilidade é um importante determinante dos resultados adversos de saúde (8) e que implica um conjunto de interações entre patologias cujo efeito global não é necessariamente a soma das partes, torna-se importante analisar, não apenas a frequência de resultados adversos de saúde nos indivíduos com doença reumática, mas também nos indivíduos que apresentam, além de doença reumática, uma ou mais co-morbilidades. A partir dos dados do 4.º Inquérito Nacional de Saúde Português este capítulo tem como objetivos estimar a prevalência de doença reumática auto-declarada, isoladamente ou na presença de outras co-morbilidades e descrever o impacto da doença reumática na população portuguesa através da quantificação da frequência de resultados adversos de saúde nestes doentes.

214


2.

O IV-Inquérito Nacional de Saúde

De forma a compreender melhor o panorama da doença reumática em Portugal, foram analisados dados obtidos através do 4º Inquérito Nacional de Saúde (4º INS), realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre fevereiro de 2005 e janeiro de 2006. Este foi o primeiro inquérito sobre saúde que abrangeu todo o território nacional apresentando resultados para o Continente e para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos I - NUTS I). O espaço amostral do 4º INS foi constituído pelo conjunto dos indivíduos que residiam em alojamentos familiares em Portugal à data das entrevistas. Excluiu-se do inquérito a população residente em alojamentos coletivos e outros alojamentos não clássicos. A amostra do 4º INS foi selecionada a partir de uma amostra-mãe de unidades de alojamento, que é a base de amostragem dos inquéritos do INE, junto das famílias. Por sua vez esta amostra foi selecionada a partir dos Censos 2001, utilizando um esquema de amostragem que incluiu estratificação e seleção sistemática de conglomerados (áreas constituídas por uma ou mais secções estatísticas dos Censos 2001, tendo um mínimo de 240 unidades de alojamento de residência principal). Esta amostragem complexa permitiu obter uma amostra representativa tanto a nível regional (NUTS II) como nacional (9). Foram avaliados por entrevistadores treinados 41 193 indivíduos, residentes em 15 239 habitações, sendo que em 17 352 (42,1%) indivíduos, a informação foi obtida por proxy. Assim sendo, tendo-se verificado que a prevalência de doença reumática era significativamente diferente entre os indivíduos que forneceram a informação por si próprios e aqueles que não a forneceram (mulheres: p<0,001; homens: p<0,001 após padronização para a idade), optou-se por excluir da análise a informação obtida por proxy, considerando-se um tamanho amostral final de 23 841 inquiridos.

215


Relativamente às variáveis sociodemográficas recolhidas, foram consideradas nesta análise o grupo etário, a região de residência (NUTS II), a nacionalidade e naturalidade, o índice de massa corporal, o nível de ensino mais elevado atingido e a profissão, tendo os inquiridos sido classificados numa das seguintes três categorias: profissões manuais (blue collar), profissões administrativas ou dos serviços (lower white collar) e profissões intelectuais, científicas, técnicas e quadros superiores (upper white collar). A presença de doenças crónicas foi averiguada através da questão “tem ou já teve alguma ou algumas destas doenças crónicas que vou referir?”, sendo ainda questionado se “foi algum(a) médico(a) ou enfermeiro(a) que lhe disse ter esta(s) doenças?”. Para a análise realizada neste capítulo a doença crónica foi considerada presente quando o inquirido respondia afirmativamente às duas perguntas e ausente quando respondia negativamente a uma delas. Foram consideradas 8 das 20 doenças crónicas definidas na lista de afeções crónicas definidas pelo grupo de trabalho das doenças crónicas múltiplas do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Saúde, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos da América (lista OASH: Office of the Assistant Secretary of Health) (10). As doenças crónicas consideradas foram: doença reumática, hipertensão arterial, diabetes, depressão, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), enfarte do miocárdio e cancro. Foi ainda considerada a combinação da presença de doença reumática com as seguintes doenças crónicas: hipertensão arterial, diabetes, depressão e outra doença - categoria que incluía as patologias de frequência comparativamente menor mas de maior letalidade (AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro).

216


Incapacidade e estado de saúde

Foram analisados os seguintes resultados adversos de saúde: —— Auto-perceção negativa do estado de saúde - avaliada através da pergunta “de uma maneira geral, como considera o seu estado de saúde?”. O resultado adverso foi considerado presente nos indivíduos que consideravam o seu estado de saúde mau ou muito mau; —— Incapacidade temporária - avaliada através da pergunta “nestas duas semanas, quantos dias deixou de fazer alguma das coisas que habitualmente faz, seja em casa, no trabalho ou no tempo livre, devido a doença, acidente, violência ou a motivos relacionados com a saúde?”. O resultado adverso foi considerado presente nos indivíduos que responderam ter deixado de fazer alguma das coisas que habitualmente faziam, pelo menos um dia nas duas semanas anteriores; —— Incapacidade de longa duração - avaliada através de um conjunto de 18 perguntas sobre a existência de limitações graves da função, estar acamado ou não conseguir andar, ou limitações físicas na realização autónoma de atividades como mudar de posição na cama, utilizar transportes públicos, ir às compras, subir e descer escadas, deitar-se e levantar-se da cama, sentar-se e levantar-se de uma cadeira, ir à retrete, arrumar e limpar a casa, apanhar objetos do chão, pinçar um objeto pequeno, vestir-se e despir-se, preparar refeições, tomar banho, lavar as mãos e a cara e comer. O resultado adverso foi considerado presente nos indivíduos que responderam afirmativamente à presença de pelo menos uma limitação grave da função, ou limitação em pelo menos uma atividade da vida diária, exceto quando as limitações existentes eram atribuídas a motivos de acidente, violência ou doença profissional; —— Presença de dor crónica - avaliada através da pergunta “tem ou já teve alguma dor crónica (dor constante ou repetitiva durante, pelo 217


menos, três meses)?”. O resultado foi considerado presente nos indivíduos que responderam afirmativamente a esta pergunta.

Recurso aos cuidados e despesas com saúde

Quanto ao recurso aos cuidados de saúde, foi inicialmente analisada a proporção de inquiridos beneficiários de um subsistema além do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e/ou que contratavam um seguro privado de saúde, através das questões “de qual das entidades que vou referir é beneficiário em matéria de cuidados de saúde?” e “tem algum seguro de saúde?”. O recurso a consultas médicas foi avaliado através da questão: “nos últimos três meses, quantas vezes é que consultou o médico?”. O recurso a consultas médicas foi considerado frequente para os indivíduos que reportaram ter ido a duas ou mais consultas nos três meses anteriores. Foi ainda analisado o consumo de medicamentos através das questões “tomou medicamentos receitados, nestas duas semanas?” e “durante estas duas semanas, tomou medicamentos não receitados por um médico?”. O consumo de medicamentos foi considerado frequente nos inquiridos que responderam afirmativamente a uma das questões. Os indivíduos foram ainda questionados sobre o motivo da toma medicamentosa, nomeadamente, se foram medicamentos para “dor das articulações”, no caso dos medicamentos receitados, ou se foram medicamentos para “dores” ou “vitaminas, minerais e ou tónicos (fortificantes)”, no caso dos medicamentos não receitados por um médico. Foram também tidos em consideração os gastos com os cuidados de saúde, avaliado através da seguinte questão “queria agora fazer algumas perguntas sobre os gastos que esta família fez com a saúde nas últimas duas semanas. Diga-me quanto é que gastou, com:”, sendo depois 218


enumerados os gastos com consultas, exames complementares de diagnóstico, medicamentos, tratamentos e cirurgias e outros gastos que não estejam abrangidos pelas opções anteriores (incluindo despesas de transporte).

Análise Estatística

Tendo em conta o esquema de amostragem complexa aplicado no 4º INS, que inclui estratificação e seleção sistemática de conglomerados, foi necessário o cálculo de estimativas que têm como base a aplicação a cada unidade estatística de ponderadores, o que permite expandir os dados recolhidos para a população residente (9). O cálculo do ponderador foi efetuado pelo INE e foi baseado no estimador de Horvitz-Thompson, dado pelo inverso da probabilidade de seleção de cada unidade amostral, sendo posteriormente corrigido através do método de ajustamento por margens. O ponderador selecionado para a análise destes resultados foi o ponderador específico para as variáveis em que não foram aceites respostas proxy durante as 52 semanas do estudo, ponderador 2_ES. Na análise da incapacidade de longa duração, por se tratar de variáveis questionadas apenas no 1º trimestre de avaliação, foi aplicado o ponderador 3. Foi calculada, para cada doença crónica, a prevalência e respetivos intervalos de confiança a 95% (IC95%), estratificada por sexo e por grupo etário. A prevalência das doenças crónicas por grupos sociodemográficos foi calculada após estratificação por sexo e padronização para a idade. Foi calculada a prevalência de existência de resultados adversos de saúde e de recurso aos cuidados de saúde, para cada doença crónica, estratificado por sexo e grupo etário. Para a comparação das prevalências entre sexos ou entre patologias, foi utilizado o Teste Qui-quadrado. A análise foi realizada através do software estatístico STATA 11 e foi considerado um nível de significância 0,05. 219


3. Resultados 3.1. Prevalência de Doença Reumática por grupos sociodemográficos Globalmente, das doenças crónicas inquiridas, a hipertensão arterial foi a mais reportada, com uma prevalência de 24,7% (IC95%: 23,98-25,45), seguida da doença reumática, com uma prevalência de 20,1% (IC95%: 19,41-20,76). Dos indivíduos que referiram ter doença reumática, 90,7% mencionaram ter um diagnóstico médico dessa doença. Nestes indivíduos a idade média ao diagnóstico foi 44,1 anos (desvio padrão: 16,61) e 88,1% (IC95%:86,89-89,27) dos indivíduos referiram que a evolução da doença era superior a 12 meses. Observou-se ainda que, dos indivíduos com doença reumática, 33,8% (IC95%:31,97-35,61) reportaram apenas esta patologia (do conjunto de doenças crónicas inquiridas), 38,3% (IC95%:36,53-40,14) tinham doença reumática e uma outra das doenças crónicas inquiridas, 20,6% (IC95%:19,20-22,14) tinham doença reumática e mais duas outras doenças crónicas e 7,3% (IC95%:6,38-8,29) tinham doença reumática e três ou mais doenças crónicas associadas. A partir da Tabela 1 verifica-se uma tendência de aumento de prevalência com o aumento da idade. Nos dois sexos, o grupo etário com maior prevalência de apenas doença reumática foi o dos indivíduos com 75 anos ou mais anos (mulheres: 11,5% IC95%:9,47-13,79; homens: 11,0% IC95%:8,67-13,80). Em todos os grupos etários, a prevalência de doença reumática foi significativamente superior nas mulheres em relação aos homens (prevalência padronizada para a idade: 7,2% IC95%:6,61-7,74 e 5,1% IC95%:4,53-5,68, respetivamente; p<0,001). Relativamente à multimorbilidade, a combinação de doenças crónicas mais prevalente foi a doença reumática associada à hipertensão arterial, 220


cuja frequência também aumentou com a idade, em ambos os sexos (mulheres com 75 ou mais anos: 16,6% IC95%:14,18-19,39; homens com 75 ou mais anos: 10,6% IC95%:8,34-13,35). À exceção da coexistência de doença reumática e depressão no sexo feminino, que apresentou uma maior prevalência no grupo etário dos 55-64 anos, todas as restantes combinações de doenças crónicas foram mais prevalentes nos grupos etários dos 65-74 anos e dos ≥ 75 anos (Tabela 1). As regiões geográficas com maior prevalência de doença reumática, após padronização para a idade, foram, no sexo feminino, o Algarve (8,8% IC95%:7,72-10,00), e, no sexo masculino, a região Centro (6,3% IC95%:5,15-7,69) (Tabela 2). A região com menor prevalência de doença reumática foi a Madeira (feminino: 3,7% IC95%:2,84-4,92 e masculino: 2,3% IC95%:1,53-3,54). Em todas as regiões, em ambos os sexos, a doença reumática associada à hipertensão arterial foi a combinação de doenças crónicas mais frequente. As regiões de com maior prevalência de multimorbilidade de três ou mais doenças associadas à doença reumática foram, nas mulheres, a região de Lisboa e Vale do Tejo (2,2% IC95%:1,66-2,80) e nos homens a região Centro (0,9% IC95%:0,56-1,46) (Tabela 2).

221


222 223

6,3 (5,14; 7,60) 2,8 (2,04; 3,80) 2,7 (2,02; 3,69) 0,2 (0,05; 0,63) 0,7 (0,36; 1,21) 0,0 (0,01; 0,19) 0,00 0,1 (0,04; 0,50) 0,00

Apenas Depressão Apenas Outra Doença Crónica Apenas Doença Reumática DR + Hipertensão Arterial DR + Depressão DR + Diabetes DR + Outra Doença Crónica DR + 2 Doenças Crónicas DR + ≥ 3 Doenças Crónicas

0,4 (0,20; 0,86) 0,9 (0,53; 1,39)

0,6 (0,30; 1,36) 1,5 (0,95; 2,44) 2,9 (1,95; 4,22) 1,6 (0,99; 2,72)

0,00 0,00 0,00 0,2 (0,06; 0,97) 0,0 (0,00; 0,03) 0,00

Apenas Diabetes Apenas Depressão Apenas Outra Doença Crónica Apenas Doença Reumática

DR + Hipertensão Arterial DR + Depressão DR + Diabetes DR + Outra Doença Crónica DR + 2 Doenças Crónicas DR + ≥ 3 Doenças Crónicas

Outra Doença Crónica – AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro Realçado – escalão etário com maior prevalência da(s) doença(s)

0,3 (0,11; 0,63)

0,5 (0,22; 0,97)

0,2 (0,11; 0,56)

1,1 (0,71; 1,67)

4,4 (3,56; 5,50)

2,3 (1,64; 3,10)

3,0 (2,23; 3,93)

2,5 (1,88; 3,38)

3,5 (2,52; 4,82)

11,1 (9,72; 12,66)

0,9 (0,57; 1,31)

2,9 (2,33; 3,63)

0,6 (0,37; 1,01)

0,4 (0,24; 0,82)

2,4 (1,92; 3,07)

2,8 (2,27; 3,55)

8,0 (6,96; 9,06)

2,1 (1,61; 2,73)

8,8 (7,78; 10,00)

2,2 (0,17; 2,85)

Apenas Hipertensão Arterial

Sexo Masculino

1,1 (0,68; 1,79)

Apenas Diabetes

10,7 (9,56; 11,94)

% (IC95%)

% (IC95%) 3,0 (2,30; 3,99)

35-54 anos

<35 anos

Apenas Hipertensão Arterial

Sexo Feminino

Doenças Crónicas

Tabela 1. Prevalência de doenças crónicas por grupo etário e sexo

1,3 (0,73; 2,41)

3,6 (2,55; 4,99)

1,6 (0,93; 2,63)

0,5 (0,18; 1,17)

1,4 (0,77; 2,37)

6,5 (5,07; 8,38)

8,6 (6,93; 10,55)

3,3 (2,30; 4,59)

1,8 (1,08; 2,92)

4,4 (3,22; 5,91)

16,4 (14,20; 18,95)

3,9 (2,95; 5,23)

11,8 (10,03; 13,83)

1,8 (1,15; 2,68)

1,4 (0,84; 2,24)

4,1 (3,10; 5,47)

11,0 (9,32; 12,86)

11,1 (9,41; 12,95)

1,6 (1,00; 2,40)

4,3 (3,35; 5,60)

1,9 (1,27; 2,89)

12,7 (10,92; 14,62)

% (IC95%)

55-64 anos

2,2 (1,41; 3,31)

0,7 (0,58; 9,18)

2,3 (1,46; 3,44)

0,6 (0,22; 1,40)

1,6 (0,92; 2,68)

7,6 (6,06; 9,43)

8,4 (6,77; 10,30)

4,9 (3,69; 6,52)

0,8 (0,36; 1,53)

4,7 (3,52; 6,33)

18,9 (16,58; 21,56)

4,8 (3,79; 6,17)

13,0 (11,22; 14,90)

1,8 (1,22; 2,72)

1,7 (1,15; 2,61)

1,9 (1,31; 2,87)

13,1 (11,45; 15,02)

9,9 (8,35; 11,65)

2,2 (1,53; 3,22)

1,6 (1,03; 2,37)

2,4 (1,69; 3,36)

17,3 (15,34; 19,40)

% (IC95%)

65-74 anos

2,6 (1,61; 4,26)

7,3 (5,48; 9,69)

2,8 (1,73; 4,35)

0,5 (0,16; 1,53)

2,7 (1,61; 4,44)

11,0 (8,34; 13,35)

11,0 (8,67; 13,80)

5,4 (3,86; 7,61)

0,8 (0,29; 2,15)

2,8 (1,82; 4,33)

14,7 (12,09; 17,78)

5,0 (3,68; 6,86)

11,4 (9,32; 13,76)

2,7 (1,72; 4,23)

1,0 (0,58; 1,73)

0,4 (0,16; 0,99)

16,6 (14,18; 19,39)

11,5 (9,47; 13,79)

2,4 (1,55; 3,64)

1,0 (0,51; 1,76)

2,4 (1,56; 3,76)

17,2 (14,77; 19,88)

% (IC95%)

≥75 anos


224 225

5,6 (4,71; 6,75) 2,8 (2,17; 3,71)

7,0 (6,06; 8,15)

5,3 (4,52; 6,19) 0,7 (0,41; 1,05) 1,7 (1,23; 2,27) 1,2 (0,79; 1,67)

4,8 (4,05; 5,64)

1,9 (1,43; 2,45)

Apenas Depressão Apenas Outra Doença Crónica Apenas Doença Reumática DR + Hipertensão Arterial DR + Diabetes DR + Depressão DR + Outra Doença Crónica DR + 2 Doenças Crónicas DR + ≥ 3 Doenças Crónicas

2,7 (2,04; 3,61) 2,1 (1,48; 3,02) 3,8 (2,90; 4,90)

4,7 (3,79; 5,80)

2,8 (2,11; 3,56) 0,9 (0,53; 1,38) 0,2 (0,08; 0,57) 1,3 (0,90; 1,98)

2,4 (1,85; 3,22)

0,7 (0,41; 1,15)

Apenas Diabetes Apenas Depressão Apenas Outra Doença Crónica Apenas Doença Reumática DR + Hipertensão Arterial DR + Diabetes DR + Depressão DR + Outra Doença Crónica DR + 2 Doenças Crónicas DR + ≥ 3 Doenças Crónicas

0,9 (0,56; 1,46)

2,5 (1,87; 3,20)

0,7 (0,43; 1,18)

0,3 (0,10; 0,62)

0,6 (0,29; 1,11)

3,4 (2,68; 4,29)

6,3 (5,15; 7,69)

2,9 (2,10; 4,08)

1,6 (1,01; 2,56)

1,9 (1,28; 2,66)

11,1 (9,54; 12,83)

1,6 (1,17; 2,08)

5,5 (4,63; 6,45)

1,0 (0,69; 1,50)

2,0 (1,51; 2,64)

0,6 (0,35; 1,00)

5,2 (4,47; 6,05)

7,9 (6,79; 9,09)

2,8 (2,04; 3,70)

8,3 (6,94; 9,93)

1,5 (1,05; 2,14)

0,8 (0,49; 1,35)

2,1 (1,57; 2,87)

0,8 (0,44; 1,41)

0,6 (0,29; 1,07)

0,6 (0,36; 1,13)

3,4 (2,65; 4,27)

5,2 (4,16; 6,52)

3,1 (2,18; 4,24)

1,9 (1,28; 2,82)

2,4 (1,74; 3,26)

11,7 (10,13; 13,41)

2,2 (1,66; 2,80)

5,7 (4,90; 6,65)

0,7 (0,39; 1,06)

2,1 (1,54; 2,76)

0,6 (0,37; 0,99)

5,7 (4,84; 6,65)

7,3 (6,24; 8,44)

1,8 (1,26; 2,55)

5,3 (4,35; 6,48)

1,7 (1,17; 2,36)

9,8 (8,63; 11,09)

% (IC95%)

Lisboa

Outra Doença Crónica – AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro Realçado – região (NUTS II) com maior prevalência da(s) doença(s)

9,3 (7,97; 10,71)

Apenas Hipertensão Arterial

Sexo Masculino

2,2 (1,64; 2,87)

Apenas Diabetes

8,5 (7,41; 9,72)

% (IC95%)

% (IC95%)

9,8 (8,63; 11,00)

Centro

Norte

Apenas Hipertensão Arterial

Sexo Feminino

Doenças Crónicas

0,5 (0,26; 0,82)

1,8 (1,32; 2,46)

0,6 (0,38; 1,06)

0,2 (0,07; 0,56)

0,6 (0,34; 1,12)

2,1 (1,56; 2,76)

4,1 (3,27; 5,14)

2,1 (1,47; 3,10)

1,5 (0,94; 2,52)

2,9 (2,16; 3,86)

10,9 (9,32; 12,81)

1,2 (0,89; 1,72)

3,5 (2,85; 4,23)

0,8 (0,52; 1,25)

1,8 (1,24; 2,52)

0,6 (0,35; 0,93)

5,7 (4,95; 6,64)

5,3 (4,28; 6,43)

1,5 (0,95; 2,20)

6,0 (4,89; 7,36)

1,6 (1,16; 2,29)

11,7 (10,26; 13,26)

% (IC95%)

Alentejo

Tabela 2. Prevalência das doenças crónicas por NUTS II, padronizada para a idade, por sexo

0,3 (0,14; 0,62)

1,8 (1,32; 2,42)

0,4 (0,19; 0,71)

0,1 (0,01; 0,34)

0,5 (0,30; 0,90)

2,9 (2,30; 3,71)

4,9 (3,96; 5,94)

1,6 (1,13; 2,34)

1,3 (0,77; 2,03)

2,3 (1,67; 3,01)

10,8 (9,44; 12,35)

0,9 (0,57; 1,29)

3,5 (2,84; 4,19)

0,7 (0,41; 1,03)

1,4 (0,95; 1,90)

0,8 (0,48; 1,17)

6,0 (5,16; 6,89)

8,8 (7,72; 10,00)

1,4 (0,93; 1,95)

4,4 (3,56; 5,46)

1,8 (1,31; 2,40)

9,9 (8,78; 11,22)

% (IC95%)

Algarve

0,9 (0,50; 1,61)

1,9 (1,32; 2,63)

0,9 (0,52; 1,65)

0,4 (0,19; 0,84)

0,8 (0,42; 1,46)

2,0 (1,43; 2,74)

4,7 (3,76; 5,73)

3,6 (2,79; 4,55)

1,4 (0,95; 2,12)

2,2 (1,57; 2,94)

8,5 (7,21; 9,88)

1,9 (1,41; 2,60)

4,6 (3,75; 5,55)

0,6 (0,34; 1,06)

1,3 (0,89; 1,83)

0,9 (0,58; 1,43)

5,3 (4,45; 6,36)

5,9 (4,98; 7,02)

1,4 (0,93; 1,95)

3,6 (2,91; 4,48)

2,3 (1,74; 3,06)

10,6 (9,39; 11,99)

% (IC95%)

Açores

0,2 (0,04; 0,67)

1,2 (0,66; 2,07)

0,8 (0,40; 1,61)

0,00

0,2 (0,04;0,66)

1,4 (0,80; 2,58)

2,3 (1,53; 3,54)

3,7 (2,40; 5,66)

1,5 (0,67; 3,31)

2,2 (1,41; 3,47)

9,8 (7,97; 12,04)

0,9 (0,57; 1,40)

2,2 (1,65; 2,90)

0,3 (0,12; 0,59)

1,0 (0,59; 1,53)

0,5 (0,24;0,88)

3,1 (2,44; 3,90)

3,7 (2,84; 4,92)

2,1 (1,43; 2,91)

4,3 (3,34; 5,57)

2,0 (1,39; 2,88)

12,1 (10,70; 13,65)

% (IC95%)

Madeira


Em ambos os sexos, e após padronização para a idade, verificou-se que os cidadãos com naturalidade e nacionalidade portuguesa apresentavam prevalência superior de doença reumática relativamente aos cidadãos com nacionalidade ou naturalidade estrangeiras (sexo feminino: 7,2% IC95%:6,67-7,85 vs 3,59% IC95%:1,66-7,56; sexo masculino: 5,2% IC95%:4,60-5,79 vs 3,13% IC95%:1,25-7,62). Apesar de as mulheres com nacionalidade portuguesa e naturalidade estrangeira apresentarem uma maior prevalência de doença reumática comparativamente às mulheres com nacionalidade e naturalidade estrangeira (6,2% IC95%:3,64-10,22 e 63,6% IC95%:1,66-7,56 respetivamente) e no sexo masculino acontecer o oposto (2,0% IC95%:0,6-6,57 e 3,1% IC95%:1,25-7,62 respetivamente), não existem diferenças estatisticamente significativas na prevalência de doença reumática por grupos de nacionalidade/naturalidade, entre os sexos (p=0,288) (Gráficos 1a e 1b). Gráfico 1 a. Prevalência (%) das doenças crónicas por nacionalidade/naturalidade, padronizada para a idade, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

20 18 16 14 12

% 10 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Arterial

Apenas Depressão

Apenas Outra Doença

Nacionalidade e Naturalidade Portuguesa

226

Apenas Doença Reumática

DR + DR + Hipertensão Diabetes Arterial

Nacionalidade e Naturalidade Estrangeira

DR + DR + Outra Depressão Doença

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Nacionalidade Portuguesa e Naturalidade Estrangeira


Gráfico 1 b. Prevalência (%) das doenças crónicas por nacionalidade/naturalidade, padronizada para a idade, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 20 18 16 14 12 % 10 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial

Nacionalidade e Naturalidade Portuguesa Nacionalidade e Naturalidade Estrangeira

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Nacionalidade Portuguesa e Naturalidade Estrangeira

Analisando a prevalência de doença reumática por grupos profissionais, após padronização para a idade constatou-se que existiam diferenças na proporção de indivíduos com doença reumática entre diferentes grupos profissionais, em ambos os sexos (sexo feminino p=0,006; sexo masculino p<0,001) (Gráficos 2a e 2b). No sexo feminino a doença reumática foi mais prevalente nos inquiridos com profissões manuais e nos inquiridos com profissões intelectuais, científicas, técnicas e quadros superiores (7,4% IC95%:6,54-8,43 e 7,59% IC95%:6,06-9,47 respetivamente). No sexo masculino a doença reumática foi mais prevalente nos inquiridos com profissões manuais (6,1% IC95%:5,33-7,03). Analisando a presença de multimorbilidade, observou-se uma maior prevalência de coexistência de várias doenças crónicas no grupo das profissões manuais, com exceção da associação da doença reumática à depressão, que foi mais prevalente nas profissões administrativas ou dos serviços.

227


Gráfico 2 a. Prevalência (%) das doenças crónicas por grupo profissional, padronizada para a idade, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 16 14 12 10 % 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática

Blue Collar

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial Lower White Collar

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Upper White Collar

Gráfico 2 b. Prevalência (%) das doenças crónicas por grupo profissional, padronizada para a idade, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

16 14 12 10 % 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática

Blue Collar

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial Lower White Collar

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Upper White Collar

Observou-se uma tendência para a diminuição da prevalência da doença com o aumento da escolaridade (Gráficos 3a e 3b). No sexo feminino, a prevalência da doença foi maior nos indivíduos sem nenhum grau de escolaridade completo (11,87% IC95%:6,83-19,81), enquanto no sexo masculino a prevalência foi maior no grupo dos indivíduos com o 1º ciclo do ensino básico (6,53% IC95%:4,87-8,72). A tendência de diminuição da prevalência da doença reumática foi observável apenas até ao ensino superior, uma vez que nos indivíduos com ensino superior a 228


declaração de doença reumática voltou a aumentar (sexo feminino: 9,4% IC95%:7,00-12,53 vs 4,33% IC95%:2,68-6,90 nas mulheres com ensino secundário; sexo masculino: 4,0% IC95%:2,63-6,01 vs 2,99% IC95%:1,67-5,30 nos homens com ensino secundário). Não existiram diferenças significativas entre os sexos na prevalência de doença de acordo com o nível de ensino (p=0,165). Relativamente à multimorbilidade, os indivíduos com níveis de ensino mais baixo apresentaram maior prevalência de doença reumática associada a outra(s) doença(s) crónica(s), do que os indivíduos com níveis de escolaridade mais elevados.

Gráfico 3 a. Prevalência (%) das doenças crónicas por nível de ensino mais elevado, padronizada para a idade, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

20 18 16 14 12 % 10 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial Nenhum

Apenas Outra Doença

Ensino Básico - 1º ciclo

Apenas Doença Reumática

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial

Ensino Básico - 2º ciclo

Ensino Básico - 3º ciclo

Ensino Secundário

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Ensino Superior

229


Gráfico 3 b. Prevalência (%) das doenças crónicas por nível de ensino mais elevado, padronizada para a idade, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 20 18 16 14 12 % 10 8 6 4 2 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial Nenhum

Apenas Outra Doença

Ensino Básico - 1º ciclo

Apenas Doença Reumática

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial

Ensino Básico - 2º ciclo

Ensino Básico - 3º ciclo

Ensino Secundário

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Ensino Superior

A obesidade é um fator de risco estabelecido para a doença musculosquelética (6). Contudo, através da análise dos dados do 4º INS verificou-se que, após padronização para a idade, esta associação se verificava nas mulheres mas não nos homens (Gráficos 4a e 4b). Enquanto nas mulheres, a maior prevalência de doença reumática se observou na categoria de obesidade (8,7% IC95%:4,76-15,23), havendo diferenças significativas entre as categorias de índice de massa corporal (p=0,004), nos homens a maior prevalência de doença reumática situava-se na categoria de baixo peso (7,0% IC95%:5,06-9,51) mas sem existirem diferenças estatisticamente significativas entre as categorias (p=0,560). Analisando a multimorbilidade foi possível verificar que, em ambos os sexos, nas categorias mais elevadas de índice de massa corporal (sobrepeso ou obesidade) existia uma maior prevalência de doença reumática associada a outra(s) doença(s) crónica(s).

230


Gráfico 4 a. Prevalência (%) das doenças crónicas por categoria de índice de massa corporal, padronizada para a idade, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

30 25 20 % 15 10 5 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática Baixo Peso

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial Peso Normal

Sobrepeso

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Obesidade

Gráfico 4 b. Prevalência (%) das doenças crónicas por categoria de índice de massa corporal, padronizada para a idade, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

30 25 20 % 15 10 5 0 Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática Baixo Peso

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial Peso Normal

Sobrepeso

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Obesidade

231


3.2 Estado de Saúde

a) Auto-perceção negativa do estado de saúde Foi analisada a prevalência de resultados adversos de saúde (auto-perceção negativa do estado de saúde, incapacidade temporária, incapacidade de longa duração e presença de dor) nos indivíduos que reportaram ter cada uma das doenças ou combinações de doenças. Em ambos os sexos, verificou-se que a auto-percepção negativa do estado de saúde foi mais frequente nas idades mais avançadas independentemente da existência de patologia crónica (Gráficos 5a e 5b). Nos indivíduos apenas com doença reumática, a prevalência mais elevada de auto-perceção negativa observou-se no grupo etário dos 35-54 anos, sendo semelhante em ambos os sexos (feminino: 38,6% IC95%:30,4047,46; masculino: 30,9% IC95%:21,73-41,84). No entanto, estas diferenças não foram significativas entre os sexos, após padronização para a idade (p=0,177). Nos grupos etários mais baixos, a prevalência de perceção negativa do estado de saúde foi semelhante entre indivíduos com doença reumática e aqueles com hipertensão, diabetes ou depressão. No entanto, nos grupos etários mais avançados, a frequência de um estado de saúde desfavorável foi maior nos doentes reumáticos que nos indivíduos com outras doenças crónicas. Foi possível também verificar uma relação direta entre o número de co-morbilidades e a auto-perceção negativa do estado de saúde.

232


Gráfico 5 a. Prevalência (%) de auto-perceção negativa do estado de saúde por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

Gráfico 5 b. Prevalência (%) de auto-perceção negativa do estado de saúde por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

b) Incapacidade temporária Relativamente à incapacidade temporária, observou-se que, nos doentes reumáticos, esta não pareceu estar associada nem à idade (sexo feminino: p=0,098; sexo masculino; p=0,388), nem ao sexo (p=0,934) (Gráficos 6a e 6b). Nas mulheres mais jovens com doença reumática, a frequência de incapacidade temporária foi semelhante à das mulheres com outras doenças crónicas. No entanto, nos grupos etários mais idosos, foram as mulheres com doença reumática que mais frequentemente declararam 233


incapacidade temporária. A existência de multimorbilidade associou-se ao aumento da incapacidade temporária, em ambos os sexos e em todos os grupos etários. Gráfico 6 a. Prevalência (%) de incapacidade temporária (pelo menos um dia de suspensão das atividades de casa, trabalho ou tempos livres nas duas últimas semanas) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

Gráfico 6 b. Prevalência (%) de incapacidade temporária (pelo menos um dia de suspensão das atividades de casa, trabalho ou tempos livres nas duas últimas semanas) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

c) Incapacidade de longa duração A prevalência de incapacidade de longa duração, após padronização para a idade, foi semelhante entre sexos (sexo feminino: 22,4% 234


IC95%:17,70-27,93; sexo masculino: 19,1% IC95%:13,06-27,503; p=0,304) e aumentou com o número de co-morbilidades e com a idade, sendo o grupo etário dos 75 ou mais anos de idade aquele onde a prevalência foi maior (sexo feminino: 67,0% IC95%:44,15-83,91; sexo masculino: 66,0% IC95%:33,30-88,29) (Gráficos 7a e 7b). A elevada prevalência de incapacidade temporária nas mulheres com doença reumática foi semelhante à estimada nas mulheres com as outras doenças crónicas consideradas (hipertensão arterial, diabetes e depressão). No sexo masculino, a doença reumática foi mais incapacitante que as restantes doenças crónicas nos grupos etários mais novos, mas nos grupos etários mais idosos a incapacidade de longa duração foi mais frequente entre os inquiridos que reportaram hipertensão arterial (65-74 anos) ou depressão (≥ 75 anos). Gráfico 7 a. Prevalência (%) de incapacidade de longa duração (limitação ou restrição funcional em pelo menos uma das atividades da vida diária) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

Gráfico 7 b. Prevalência (%) de incapacidade de longa duração (limitação ou restrição funcional em pelo menos uma das atividades da vida diária) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

235


d) Dor crónica Relativamente à dor crónica, e de uma forma global, esta foi mais frequente nas mulheres (sexo feminino: 38,9% IC95%:33,27-44,81; sexo masculino: 24,1% IC95%:19,55-29,21, após padronização para a idade). Nos inquiridos com doença reumática a prevalência de dor não se associou à idade (sexo feminino: p=0,412; sexo masculino: p=0,603) (Gráficos 8a e 8b). Observou-se uma tendência para o aumento da frequência de dor crónica com a presença de multimorbilidade. Nas mulheres, a doença reumática foi a patologia associada a maior frequência de dor crónica, sendo apenas superada pela depressão nos grupos etários dos 55-64 anos e 65-74 anos. Nos homens, a doença reumática foi a patologia associada a maior prevalência de dor crónica, sendo apenas equiparada à depressão. Gráfico 8 a. Prevalência (%) de dor crónica (dor constante ou repetitiva durante, pelo menos, três meses) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

Gráfico 8 b. Prevalência (%) de dor crónica (dor constante ou repetitiva durante, pelo menos, três meses) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

236

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + Outra DR + Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

≥75 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas


3.3 Utilização de Cuidados de Saúde Do total de indivíduos inquiridos, 20,6% (IC95%: 19,86-21,28) eram beneficiários de um subsistema de saúde (tal como ADSE, SAMS, SSMJ) e 10,8% (IC95%: 10,22-11,49) tinham seguro privado de saúde. A proporção de beneficiários de sub-sistemas de saúde era semelhante entre sexos (20,8% vs 20,3%, p=0,492) mas os homens eram mais frequentemente tomadores de seguros de saúde (12,5% vs 9,3%, p<0,001). Os beneficiários de sub-sistemas de saúde encontravam-se maioritariamente no grupo etário dos 55-64 anos (23,6% IC95%: 21,85-25,35) e os seguros de saúde eram mais comuns entre os 35-54 anos (15,3% IC95%: 14,21-16,51). Analisando os gastos com saúde, incluindo consultas, exames complementares de diagnóstico, tratamentos e outras despesas, realizados nas duas semanas anteriores, foi possível verificar que as famílias dos doentes reumáticos gastaram uma mediana global de 10,0€ (P25: 0; P75: 40), sendo que a maioria dos gastos foram com medicamentos (5€ - P25: 0; P75: 30). As mulheres referiram uma maior frequência, após padronização para a idade, de utilização dos cuidados de saúde (feminino: 36,8% IC95%:31,2842,64; masculino 22,4% IC95%:18,05-27,49, após padronização para a idade; p<0,001) (Gráficos 9a e 9b). No sexo feminino observou-se também menor proporção de utilizadores frequentes dos cuidados de saúde entre os doentes reumáticos do que entre os restantes doentes crónicos, o que parece demonstrar uma desvalorização da necessidade de acompanhamento da doença. Nos homens, a proporção de utilizadores frequentes dos cuidados de saúde nos indivíduos com doença reumática foi semelhante nos doentes reumáticos e nos doentes hipertensos.

237


Gráfico 9 a. Prevalência (%) de utilização frequente de cuidados de saúde (duas ou mais consultas médicas nos dois meses anteriores) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo feminino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro) 100 100 90 90 80 80 70 70 60 50 % 60 % 50 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0

Sem Doença Sem Crónica Doença Crónica

Apenas Hipertensão Apenas Arterial Hipertensão Arterial

Apenas Apenas Diabetes Apenas Depressão Apenas Diabetes Depressão

Apenas Apenas Outra Doença Apenas Apenas Doença Outra Reumática Doença Doença 35-54 anos Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença DR + DR + DR + DR + Outra Arterial Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos ≥75 anos

35-54 anos

65-74 anos

55-64 anos

DR + 2 Doenças DR + 2 Crónicas Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças DR + 3 Crónicas Doenças Crónicas

≥75 anos

Gráfico 9 b. Prevalência (%) de utilização frequente de cuidados de saúde (duas ou mais consultas médicas nos dois meses anteriores) por doenças crónicas, estratificado por grupo etário, no sexo masculino (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

35-54 anos

Apenas Doença Reumática 55-64 anos

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial 65-74 anos

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

≥75 anos

Nos 12 meses anteriores, 59,3% (IC95%: 57,54-61,12) dos doentes reumáticos referiram ter utilizado medicamentos ou outros tratamentos devido a essa doença. Nos Gráficos 10 e 11 encontra-se representada a prevalência de consumo de medicamentos, com ou sem prescrição médica (incluindo vitaminas e minerais), nas duas semanas anteriores à entrevista. Após padronização para a idade, verificou-se uma maior frequência de consumo de medicamentos prescritos no sexo feminino (sexo feminino: 76,6% IC95%:71,46-81,02 vs sexo masculino: 49,2% 238


IC95%:40,21-58,30). Relativamente à doença reumática, o consumo de medicamentos prescritos foi menos frequente do que nas restantes doenças crónicas consideradas e praticamente todos os doentes com multimorbilidade consumiam medicação prescrita. Dos inquiridos sem nenhuma das doenças crónica referidas, 59,0% (IC95%:57,19-60,71) das mulheres e 30,6% (IC95%:28,95-32,25) consumiam medicamentos, sendo a proporção de utilização de medicamentos significativamente inferior à da encontrada nos indivíduos com doença crónica (sexo feminino: p<0,001; sexo masculino: p<0,001). Quando analisamos os medicamentos mais consumidos nos inquiridos com doença reumática, verificamos que nas mulheres, após padronização para a idade, 45,0% (IC95%:40,42-49,74) tomavam medicação para as dores das articulações, tendo esta prevalência sido 39,9% (IC95%:29,1251,66) nos homens (p=0,634).

Gráfico 10. Prevalência (%) de consumo de medicamentos prescritos pelo médico nas duas últimas semanas, por doenças crónicas e sexo, padronizada para a idade (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática

Sexo Feminino

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas

Sexo Masculino

Relativamente ao consumo de medicação não prescrita, foi nos doentes reumáticos (sexo feminino: 13,0% IC95%:9,65-17,32; sexo masculino: 15,6% IC95%:8,98-25,75, após padronização para a idade) e nos doentes com depressão (sexo feminino: 16,8% IC95%:9,99-11,74; sexo masculino: 239


15,7% IC95%:8,90-26,08, após padronização para a idade) que a prevalência de consumo de medicação não prescrita foi maior. Nos doentes reumáticos, o consumo de medicação não prescrita foi semelhante entre sexos (p=0,568). Em relação à multimorbilidade, verificou-se que nos indivíduos com doença reumática e hipertensão arterial ou diabetes ou depressão, o consumo de medicamentos não prescritos era superior nos homens. Quando questionados sobre o motivo da medicação, os inquiridos com doença reumática referiram que tomavam medicação para dores (sexo feminino: 47,2% IC95%:36,98-57,58; sexo masculino: 53,3% IC95%:38,0967,85; p=0,400) e vitaminas, minerais ou tónicos (sexo feminino: 18,9% IC95%:12,33-27,83; sexo masculino: 10,4% IC95%:4,98-20,58, p=0,038). Gráfico 11. Prevalência (%) de consumo de medicamentos não prescritos pelo médico (incluindo vitaminas e minerais) nas duas últimas semanas, por doenças crónicas e sexo, padronizada para a idade (Outra Doença Crónica: AVC, DPOC, enfarte do miocárdio ou cancro)

60 50 40 % 30 20 10 0 Sem Doença Crónica

Apenas Apenas Apenas Hipertensão Diabetes Depressão Arterial

Apenas Outra Doença

Apenas Doença Reumática

Sexo Feminino

240

DR + DR + DR + DR + Outra Hipertensão Diabetes Depressão Doença Arterial Sexo Masculino

DR + 2 Doenças Crónicas

DR + 3 Doenças Crónicas


4.

Considerações Finais

A informação sobre a epidemiologia da doença reumática em Portugal tem sido considerada escassa (11). Neste contexto, é particularmente relevante a análise e interpretação dos dados referentes a esta patologia que vêm sendo recolhidos através dos Inquéritos Nacionais de Saúde, que constituem instrumentos fundamentais de monitorização do estado de saúde das populações na maioria dos países desenvolvidos. De uma forma global, o presente estudo permitiu-nos estimar que a prevalência de doença reumática em Portugal, isoladamente ou associada a outras doenças crónicas, afetava mais os grupos etários mais idosos, o sexo feminino, os indivíduos com profissões manuais, bem como os inquiridos com menores níveis de ensino e as mulheres com índice de massa corporal mais elevado, ou seja, de uma forma global, grupos que podem ser descritos como mais desfavorecidos em termos socioeconómicos. Os nossos resultados mostram uma estimativa global de doença reumática de 20,1%. Estes dados vêm de encontro aos encontrados por Costa, L. e colaboradores (2004) (12) e por Branco, M. e colaboradores (13). Apesar da existência de estimativas anteriores sobre a prevalência da doença reumática em Portugal (9, 12, 13), pouco se sabe sobre os resultados destas doenças quando estão associadas a outras patologias. Neste estudo, verificou-se que a doença crónica mas comummente associada à doença reumática foi a hipertensão arterial, seguida da combinação de doença reumática com outras duas doenças crónicas. Verificou-se ainda um aumento da prevalência de multimorbilidade com a idade, o que é concordante com a distribuição descrita noutras populações (7). Apesar de este estudo ter demonstrado uma maior prevalência da doença entre indivíduos com naturalidade e nacionalidade portuguesas, as estimativas oficiais (14) demonstram que os imigrantes inquiridos eram mais frequentemente trabalhadores ativos, no grupo etário dos 25 aos 44 anos, o que nos pode indicar uma propensão de emigração de indivíduos saudáveis. 241


Relativamente aos resultados adversos de saúde, os indivíduos com doença reumática apresentaram elevada frequência de incapacidade de longa duração e dor. A auto-perceção negativa de saúde e a incapacidade de longa duração pioraram com a idade, enquanto a incapacidade temporária e a dor permaneceram constantes entre grupos etários. De uma forma global, as mulheres e os doentes com multimorbilidade referiram mais frequentemente resultados adversos de saúde. Comparando os resultados adversos de saúde com resultados de um inquérito de Saúde do Canadá (4), cujo método de inquirição é particularmente semelhante ao do INS no que diz respeito aos resultados adversos, é possível constatar que Portugal apresenta uma maior prevalência de auto-perceção negativa do estado de saúde nos doentes reumáticos, mas apresenta uma menor prevalência de incapacidade de longa duração. Apesar de existir uma tradicional subvalorização da doença reumática, tanto pelos doentes, devido a uma atitude cultural de resiliência à dor e à incapacidade (3), como por alguns sectores da prestação de cuidados de saúde, verificamos agora que o doente reumático procura ativamente os cuidados de saúde. No nosso estudo, as mulheres com doença reumática eram utilizadoras mais frequentes de cuidados de saúde (independentemente da idade) e maiores consumidoras de medicamentos prescritos. Contudo, os homens eram maiores consumidores de medicamentos não prescritos. Este padrão de utilização de cuidados e recursos de saúde tem óbvias implicações socioeconómicas, que também contribuem para a carga da doença na nossa sociedade. Apesar de os dados do 4º INS fornecerem uma perspetiva global sobre a prevalência das doenças reumáticas em Portugal, existem algumas limitações relacionadas com a metodologia de recolha de dados que devem ser tidas em conta. Relativamente ao desenho do estudo, verificou-se uma taxa de realização de entrevistas de 76%, sendo que a não participação implica uma possibilidade de viés. Segundo dados oficiais 242


(9), os motivos mais frequentes para a não participação no 4º INS foram a unidade de alojamento não estar habitada, ausências de curta duração ou recusas explícitas. No que diz respeito aos métodos de recolha de informação, a principal limitação desta fonte de informação e a ausência de critérios clínicos ou observação direta para a definição de caso recorrendo a métodos como a auto-declaração. A prevalência de patologia obtida por auto-declaração representa uma medida de um conjunto de constructos que vão além da doença, tais como os sintomas, o acesso aos cuidados de saúde e o conhecimento da presença ou da ausência de patologia (2). Esta análise tem a vantagem de ter sido realizada com dados provenientes de uma grande amostra, que se pretende representativa da população portuguesa, na qual foi recolhida informação sobre um grande número de variáveis sociodemográficas e comportamentais com interesse na descrição da distribuição da patologia na comunidade. De facto, os inquéritos de saúde de âmbito nacional fornecem informação valiosa e generalizável a população sobre a frequência da doença reumática e o recurso aos cuidados de saúde por estes doentes. Estes instrumentos são aplicados a grandes amostras da população geral, selecionadas independentemente do recurso aos cuidados de saúde, o que otimiza a validade externa das estimativas. Este estudo estende a Portugal os achados de maior frequência de doenças reumáticas entre grupos socialmente mais desfavorecidos. Fornece ainda, estimativas, mais realistas, da ocorrência de multimorbilidade, para lá do isolamento clássico mas artificial dos grupos nosológicos e permite, para além da mera descrição da frequência, uma caracterização diversificada de um grande conjunto de resultados de saúde, tanto objetivos como subjetivos, refletindo múltiplas dimensões do impacto individual destas doenças. Agradecimento: Gostaríamos de expressar o nosso reconhecimento ao Instituto Nacional de Estatística (INE) pela cedência dos dados que permitiram a realização deste trabalho. Agradecemos ainda o contributo 243


científico de: Dr.ª Sara Lourenço, Dr. Fábio Araújo, Dr.ª Margarida Pereira, Dr. Luís Alves e Doutor Milton Severo (Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto).

244


Referências Bibliográficas

1. The Burden of Musculoskeletal Conditions at the Start of the New Millenium: Report of the WHO Scientific Group. Geneva: World Health Organization2003Monjardino T, Lucas R, Barros H. Frequency of rheumatic diseases in Portugal: a systematic review. Acta Reumatol Port. 2011 Oct-Dec;36(4):336-63. 2. Monjardino T, Lucas R, Barros H. Frequency of rheumatic diseases in Portugal: a systematic review. Acta Reumatol Port. 2011 OctDec;36(4):336-63. 3. Faustino A. Epidemiologia e importância económica e social das doenças reumáticas: estudos nacionais. Acta Reumatol Port. 2002;27:2136. 4. Perruccio AV, Power JD, Badley EM. The relative impact of 13 chronic conditions across three different outcomes. J Epidemiol Community Health. 2007 Dec;61(12):1056-61. 5. Molarius A, Janson S. Self-rated health, chronic diseases, and symptoms among middle-aged and elderly men and women. J Clin Epidemiol. 2002 Apr;55(4):364-70. 6. Busija L, Buchbinder R, Osborne RH. Quantifying the impact of transient joint symptoms, chronic joint symptoms, and arthritis: a population-based approach. Arthritis Rheum. 2009 Oct 15;61(10):1312-21. 7. Barnett K, Mercer SW, Norbury M, Watt G, Wyke S, Guthrie B. Epidemiology of multimorbidity and implications for health care, research, and medical education: a cross-sectional study. Lancet. 2012 Jul 7;380(9836):37-43. 8. Loza E, Jover JA, Rodriguez L, Carmona L. Multimorbidity: 245


prevalence, effect on quality of life and daily functioning, and variation of this effect when one condition is a rheumatic disease. Semin Arthritis Rheum. 2009 Feb;38(4):312-9. 9. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), Instituto Nacional de Estatística (INE). Inquérito Nacional de Saúde 2005-2006 [Internet]. Lisboa: INE; 2009. Available from: http://www.insa.pt/sites/ INSA/Portugues/Publicacoes/Outros/Documents/Epidemiologia/ INS_05_06.pdf. 10. Goodman RA, Posner SF, Huang ES, Parekh AK, Koh HK. Defining and measuring chronic conditions: imperatives for research, policy, program, and practice. Prev Chronic Dis. 2013;10:E66. 11. Branco JC, Canhao H. Epidemiological study of rheumatic diseases in Portugal - EpiReumaPt. Acta Reumatol Port. 2011 Jul-Sep;36(3):203-4. 12. Costa L, Gal D, Barros H. Prevalência auto-declarada de doenças reumáticas numa população urbana. Acta Reumatol Port. 2004;29:169-74. 13. Branco M, Nogueira P, Contreiras T. Uma observação sobre a prevalência de algumas doenças crónicas em Portugal Continental. Lisboa: Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Observatório Nacional de Saúde (ONSA).2005. 14. Dias CM, Paixão E, Branco M, Falcão J. A saúde dos imigrantes. Inquérito Nacional de Saúde 2005-2006. Lisboa: Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, IP.2008.

246



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.