Depois de ter se livrado de seu trono e deixado o Reino de SA, LA e DA, o Rei Damián deixa seus filhos e vai passar uma longa temporada em suas terras de verão, ele pretende descansar por um longo tempo até decidir o que fazer da vida. Em um desses descansos ele começa a cochilar e tem um sonho bem esquisito.
Em seus sonhos ele está em um aposento real, lendo um livro, quando de repente é interrompido intempestivamente.
- Meu amado marido nós estamos arruinados!
Ele tem um sobressalto e o livro vai parar longe de suas mãos enquanto ele pensa:
- Marido? - Arruinado?
As lamúrias continuam sem parar. - O que será de nós? Como irei comprar roupas novas, joias...dar novas festas? A solução para nossos problemas será o casamento de nossa filha o mais rápido possível.
Agora já era demais, pensa ele:
- Já tenho uma filha em idade de casar?
Atordoado com as informações, calado estava, calado ficou. Levanta-se para fugir da situação e sai do cômodo com um pensamento na cabeça:
- Mas será o benedito que isto é real? Só pode ser um sonho. Justo agora que até queria comprar uma casinha nova para meu cachorro eu descubro que estou arruinado, sem dinheiro e casado?
Não!
Não pode ser!
Ele balança a cabeça de um lado para o outro como se quisesse acordar, mas nada, de repente ele se vê em um grande salão com um belo trono.
Ele vai até lá e se senta como se tivesse atordoado, mas é imediatamente interrompido por um soluço e outra entrada triunfal.
- Papai! Eu não me casarei de forma alguma com aquele príncipe. Vocês não podem me obrigar a... (no mesmo instante ela é interrompida por uma voz forte e alta)
Era a voz de um arauto anunciando às pressas a chegada de um príncipe.
Ele entra, cumprimenta a todos oferece uma rosa à princesa e começa a elogiar sua beleza, mas ela não consegue olhar para ele, que apesar do porte e da riqueza tinha uma cabeça de leão.
- Mas o que está acontecendo? Que sonho doido é esse? (pensava o rei e para disfarçar o embaraço ele se remexia no trono e coçava a cabeça).
Nisso, com outro estardalhaço, entra a rainha no salão praguejando, falando alto...
- O que será de mim? Hoje em dia os familiares são muito ingratos.
- Já não me basta ter um marido moleirão, agora tenho uma filha que recusa casar-se com um príncipe!
- Como farei com minhas joias, roupas, sapatos, perfumes de morcego...
Perfumes de morcego? – pensa o rei. Aqui tem coisa muito errada. Será que ela é uma... Ele nem tem tempo de terminar seu pensamento pois é interrompido por um novo lamurio.
- Pelo calcanhar de Moloch se essa filha ingrata não se casar eu vou fazê-la dormir uns mil anos e nem beijo de príncipe apaixonado vai acordá-la.
O príncipe e o rei até tentam falar alguma coisa, mas ela se vira pra eles e fala: - Com vocês eu me acerto depois (risadas macabras e ela sai cantarolando o seu melô).
Quando chega a noite
O pio da coruja diz
Que está na hora da bruxa
Faço meus feitiços, meus encantamentos
Em sinistros momentos
Eu jogo feitiço nessa turma toda
Não me venha com essa
De não ter casamento
Eu faço toda a historia
Ficar muita preta
Ficar mesmo feia
Perna de cobra
Focinho de pato
Dente de rã
Orelha de sapo
Lingua de ostra
Escama de gato
E crista de macaco
Abra kabra zan
Eu jogo feitiço nessa turma toda
Eu faço tudo escurecer
Eu faço tudo escurecer.
De repente raios e trovões.
O rei acorda suado e assustado.
Se benze e pensa:
- Que pesadelo! Nunca mais quero pensar em casamento.
