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MEUS APLAUSOS
Realizar uma investigação, como a deste trabalho, exigiu muitos momentos nos quais o pesquisador fica aparentemente sozinho com suas visões, seus diálogos internos, suas imagens. Porém, nada mais coletivo que uma pesquisa. Não só porque o investigador porta vários saberes, produtos dos diálogos com a construção do conhecimento que a sociedade e sua história lhe ofertam, mas porque eles atravessam suas atividades, o tempo todo, uma multiplicidade de relações que lhe são fundamentais.
Nesse diálogo, tive a felicidade de ter a meu lado um parceiro como o Emerson Merhy, com quem caminho há muitos anos. Mas nossa parceria não se resume ao fato de sermos casados, o que já representa uma das coisas mais gostosas de minha vida. Foi com ele que aprendi os significados de trabalho intelectual, solidário e coletivo. Aprendi o que é ser mestre/aprendiz.
Nessa direção, sou devedora do encontro com o professor Alcir Lenharo, que me orientou na dissertação de mestrado e deu início à orientação do doutorado, que resultou neste livro. Infelizmente ele nos deixou e não me viu doutora. Mas, não tenham dúvidas, dialoguei com ele intensamente durante todo o meu trabalho e ele está em cada uma destas páginas. Com a sua lamentável perda, uma parte importante da produção acadêmica deste país ficou sem seu mestre.
A meu pai, Barry Charles Silva, circense – ator, ginasta, domador, globista, trapezista, palhaço, empresário –, que, com sua memória, sua capacidade de contar “causos” e sua relação apaixonada com o circo, acabou por agenciar em mim paixão e curiosidade sobre as histórias dos homens, mulheres e crianças circenses nas suas constituições como artistas e protagonistas das histórias da produção cultural na América Latina, e suas expressões diversificadas do circo-teatro. Minha mãe, que apesar de ser da “praça” me passou todo seu amor pelo circo. Tia Ivony e tio Ferreira sempre me foram fundamentais nisso.
A partir deles me percebi, não indivídua ou pessoa, mas coletiva, pois nas suas vivências, experiências e narratividades pude compreender a complexidade, as misturas, antropofagias, pluralidades de encontros polissêmicos e polifônicos, de cada período, sobre a constituição do espetáculo circense e, principalmente, dos seus corpos multidão artísticos.
Um dos momentos mais agradáveis durante a produção deste trabalho foi ter conhecido Jaçanan Cardoso Gonçalves e Juyraçaba Santos Cardoso, netos de Benjamim, e Jaciara Gonçalves de Andrade, bisneta de Benjamim, que desde o
primeiro momento me receberam de forma muito carinhosa e me forneceram, sem restrição, materiais e informações que tinham sobre Benjamim.
Em 2006, um encontro que produziu e produz muitas afecções foi com Daniel de Carvalho Lopes. Comecei orientando seu TCC, depois mestrado e doutorado. No meio desse caminhar todo, não era (como nunca foi) uma relação de mestre e aprendiz, mas sim de parcerias em inúmeras pesquisas, artigos e na constituição do site Circonteudo – portal da diversidade circense (www. circonteudo.com), junto com sua companheira, Giane Daniela Carneiro. Hoje afirmo que Daniel é um dos principais pesquisadores sobre as histórias circenses latino-americanas.
Alguns amigos foram chave para a realização da minha pesquisa; com destaque, agradeço a Jefferson Cano, Silvia Cristina Martins de Souza, Claudia Denardi e Silvana Blanco. Mas quero acrescentar aqui a disponibilidade e acolhida de Silvia Hunbold Lara na orientação do meu doutorado após o falecimento de Alcir Lenharo. Suas leituras cuidadosas foram importantes.
A Mauro Araújo Silveira, pelo seu apoio e total disponibilidade de compartilhar comigo seus materiais e conhecimentos sobre a história da música no Brasil, assim como a Nirez (M. A. de Azevedo), um dos mais importantes pesquisadores da discografia brasileira, que sempre me atendeu prontamente.
Agradeço ainda aos trabalhadores do Cedoc/Funarte (RJ) e o AEL-Unicamp (SP). Em ambos fica claro o quanto é possível um serviço público ter um atendimento de qualidade, cidadão e democratizante. No Cedoc/Funarte, há uma pessoa em particular – Márcia Cláudia Figueiredo – que sempre foi e continua sendo um alicerce naquela instituição. É uma trabalhadora que mostra o tempo todo a importância da “coisa pública”.
Quero registrar aqui meu agradecimento ao conjunto de pessoas que me acolheram na cidade de Pará de Minas, onde Benjamim de Oliveira nasceu, particularmente aos trabalhadores do Museu da Cidade na pessoa de Ana Maria Campos, da Academia de Letras Pará de Minas – ALPM, que mesmo depois de 14 anos da publicação da primeira edição as acolhidas, parcerias e contribuições não deixaram de acontecer.
Algumas pessoas e instituições que foram fundamentais na concretização desta segunda edição:
Ao Itaú Cultural, curadoria e a todas às equipes envolvidas na Ocupação Benjamim de Oliveira. Foi um convite incrível não só por mim e uma agradável surpresa o reconhecimento por parte de todes na Ocupação da importância de dar visibilidade tanto a este multiartista quanto à produção de homens e mulheres circenses no Brasil há mais de 200 anos.
À parceria Itaú Cultural com a Editora WMF – Martins Fontes, que resultou em mais um convite, quase único no Brasil, de publicar uma segunda edição de um livro sobre as artes do circo.
Afetivamente, aos meus parceiros eternos: minhas irmãs, Esther (Tézinha) e Shirley; meu irmão, Charles; aos meus filhos do coração, Pedro, Emília, Nathália, Isadora; e aos meus netos/netas, Carolina, Lia, Felipe, Luis Henrique, Irene e Luana, que, tenho certeza, me apoiam incondicionalmente. Às minhas primas queridas, Rosângela e Rosicleir Temperani, herdeiras de uma família circense que trabalhou com Benjamin. A Cleusa e Fábio Dieusis, fundamentais.
Às minhas parceiras Alice Viveiros de Castro e Verônica Tamaoki – apresentadas em todos os nossos encontros como “A palestra das Três Donzelas”. Tudo começou a partir de 2005, quando Alice achou (entre os guardados de seu pai) um cordel, cuja gravura da capa tem esse nome. Deu-se em nós três uma “identificação” e afinidade com aquelas meninas. Nesse mesmo período brincamos com a ideia de fundar o “Comitê Pró-Criação da Associação Nacional das Pesquisadoras de Circo do Brasil”; brincadeiras à parte, nos unimos, pois sabemos da dificuldade de fazer pesquisa quando todo o mundo dizia que circo não tinha história. O Comitê nunca foi criado formalmente, mas sempre nos apresentamos como as futuras e, talvez, fundadoras.
Tem sido também fundamental trabalhar com várias/os companheiros/as/ es – circenses de lona, das escolas de circo, das frentes de pesquisas, das ruas –, que vêm militando de maneira intensa, hoje, na sociedade brasileira em torno da batalha diária para a permanente construção do circo no Brasil, em uma luta incansável de fazer com que este seja visto como patrimônio cultural.
Ambiciosamente, espero que este livro contribua com isso.