#VaiDarMusicaAoPapa

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Universidade Católica Portuguesa Escola das Artes – Mestrado em Ensino da Música Ano letivo: 2014/2015 |1º Semestre Unidade Curricular: Ensino, Aprendizagem e Avaliação Professora: Doutora Luísa Orvalho Mestrando: Ivo Brandão #VaiDarMúsicaAoPapá Projeto de Intervenção Musicalização de pais/encarregados de educação

Entidade de acolhimento: Banda Musical de Arouca / Escola de Música Motivação: Dotar os pais/encarregados de educação de ferramentas que possam contribuir para a orientação e acompanhamento, mesmo que informal, do estudo musical dos filhos/educandos. Envolver os pais/encarregados de educação na dinâmica da escola e da associação, providenciando-lhes, em casos que se justifique, formação musical mais aprofundada.

ENQUADRAMENTO A Entidade A Banda Musical de Arouca, Associação Cultural e Artística, foi fundada no primeiro quartel do século XIX, por Bernardino Joaquim Soares, sendo apontado

o

ano

de

1825

como

sendo

o

da

sua

fundação.

A 25 de junho de 1985 foi oficializada juridicamente, tendo sido agraciada, por Sua Excelência o Senhor Primeiro-ministro, com o estatuto de Utilidade Pública, pela defesa que tem feito da causa musical. Também a Câmara Municipal de Arouca distinguiu esta Banda com a Medalha de Mérito Municipal – Grau Ouro.


Prosseguindo o seu objetivo, a Banda mantém em pleno funcionamento uma escola de música, gratuita para as crianças, atualmente com cerca de 100 alunos, e continua a percorrer os vários pontos do País, abrilhantando festividades diversas. A Banda conquistou o primeiro lugar no Concurso de Bandas Civis “Terras de Cambra”, em 19 de setembro de 1993. No verão de 2003, a Banda Musical de Arouca deslocou-se à cidade francesa de Poligny, com quem Arouca tem laços de geminação, com o objetivo de participar nas festas da cidade. Em 2009 realizou uma pequena atuação na Assembleia da República, junto de deputados, ministros e do presidente da Assembleia da República. No mesmo ano, deu concertos na Casa da Música (Porto) e no festival «Filarmonia ao mais alto nível», em Santa Maria da Feira. Em 2011, na apresentação do seu último CD, realizou um grande concerto com a presença do trompetista Ruben Simeó,

do

qual

resultou

um

DVD

amplamente

aplaudido.

Já em 2013, dois grandes eventos marcam a vida da associação: o I Certame Musical de Arouca e um grande concerto com o pianista e compositor português Mário Laginha, eventos que tiveram forte impacto regional. O ano de 2014 é marcado por mais um grande concerto, desta feita com os GNR, com a participação especial de Isabel Silvestre, e por um feito memorável. Na sequência da sua participação no 128.º Certamen Internacional de Bandas de Música de Valência (evento que reúne, naquela cidade espanhola, algumas das bandas de maior renome internacional), a Banda Musical de Arouca conquistou, na sua secção, um honroso segundo lugar, dignificando, assim, Arouca e o país com esta apresentação de nível internacional. A Banda Musical de Arouca é, neste momento, composta por cerca de 75 elementos, muitos deles integrados em instituições de ensino superior, bandas militares e orquestras portuguesas.

A Escola de Música A Escola de Música da Banda Musical de Arouca ganhou expressão, pela primeira vez, com a oficialização da associação, em 1984. Desde então, e até


há cerca de cinco anos, o seu ensino visava essencialmente a formação básica e num curto espaço de tempo, para ingresso na Banda. Dos inúmeros alunos ali formados, vários foram os que aprofundaram a sua formação em escolas oficiais, vindo, inclusivamente, a licenciar-se em música. Hoje, os cerca de 100 alunos da escola de música da Banda Musical de Arouca são acompanhados por um grupo de 15 professores, licenciados pelas várias instituições de ensino superior do país. Embora não tenha caráter oficial reconhecido, segue os programas propostos pelos conservatórios de música, nas disciplinas de trompete, trombone, trompa, percussão, fagote, clarinete e saxofone, bem como de formação musical e classe de conjunto (a chamada Banda Juvenil). Na sequência do seu bom funcionamento, a escola tem procurado levar os alunos a conhecerem novas realidades, promovendo várias atividades em parceria com outras associações e entidades, nomeadamente a participação em estágios de formação, concertos e visitas de estudo. A título de exemplo, regularmente os alunos visitam a Casa da Música, e participam em projetos promovidos por aquela entidade.

FUNDAMENTAÇÃO DA AÇÃO Porquê? No ano de 2014, um grupo significativo de alunos da escola pôde participar de forma ativa na conceção do espetáculo «Sonópolis», promovido pelo Serviço Educativo da Casa da Música, que reuniu em palco perto de uma centena de executantes, oriundos de várias escolas e associações musicais, com idades, formações e estilos diversos. Juntos, sob a direção dos responsáveis pelo projeto, os músicos britânicos Pete Letanka e Paul Griffiths, conceberam as pelas e os arranjos, apresentados no concerto final, na Sala Suggia da Casa da Música, a 6 de julho de 2014. Na sequência dessa experiência intergeracional, pensou a Direção da Banda Musical

de

Arouca

dar

sequência

às

aprendizagens

ali

adquiridas,

nomeadamente no que diz respeito à utilização de formas de orientação


musical informal (Gordon, 2008), bem como no aproveitamento do potencial intergeracional para, neste caso concreto, envolver os pais/encarregados de educação neste tipo de dinâmicas. A música não é uma aptidão especial concedida a um pequeno número de eleitos; todo o ser humano tem algum potencial para entender a música. Os pais que consigam cantar com afinação razoável e movimentar o corpo de forma flexível com movimentos livres e fluidos, e que disso tirem prazer, têm as condições básicas para orientar e instruir musicalmente os filhos, mesmo que não toquem um instrumento musical. Se não assumirem essa responsabilidade, por sua própria iniciativa ou com a ajuda de professores e amigos, os filhos apenas poderão desenvolver uma limitada compreensão e apreciação da música. Crescerão julgando que vida e arte são pólos à parte, pois nunca lhes terá sido dada a oportunidade de descobrir que a arte é vida e a vida é arte. (Gordon, 2008, p. 8)

Assim, a proposta de intervenção pretende fazer com que estes agentes educativos vivam/vivenciem uma experiência musical (ainda que informal) orientada

e

enriquecida,

tomem

consciência

dessa

vivência

e,

em

consequência, passem a viver/vivenciar outras experiências musicais de forma consciente (Willems, 1965).

Ação/ações O primeiro objetivo é a preparação de um concerto/audição de pais, que possa ter matéria suficiente para avaliar a pertinência do projeto. Para tal, serão envolvidos, primeiro, os professores de formação musical e classe de conjunto, sendo, numa segunda fase, envolvidos os professores de instrumento, formando uma pequena orquestra de apoio, que pode ser enriquecida com os contributos performativos dos pais/encarregados de educação que consigam colaborar. Na fase de preparação do material a desenvolver, serão privilegiados cinco tipos de ações (Gordon, 2008): − Audição/visionamento de gravações; − (Re)produzir padrões rítmicos (primeiro, num contexto de imitação, depois de criação/improvisação);


− Cantar/entoar melodias (primeiro, num contexto de imitação, depois de criação/improvisação); −

Introdução de movimentos físicos ou aproveitamento do potencial espacial do palco/sala;

− Introdução de instrumentos. Desta forma, procura-se desenvolver quatro tipos de aspetos (Willems, 1970): − Sensibilidade afetiva; − Ouvido; − Capacidade de criação; − Inteligência musical. Após esta primeira experiência, será feita a avaliação e projetadas as ações seguintes, que poderão passar pela repetição de outras atividades similares, com continuidade/sequência pedagógica, ou, nos casos em que assim se justifique, a criação de turmas específicas para este público-alvo, no âmbito do normal funcionamento da escola de música.

Propósito orientador De uma forma muito básica, o propósito orientador é, como vimos, o da orientação musical informal, usado de uma forma restrita o suficiente para cumprir o seu objetivo, mas igualmente lata o suficiente para permitir a evolução para uma orientação formal. Desta forma, cremos, estaremos a demonstrar que a aprendizagem musical não tem de ser complexa e pode, inclusivamente, ser partilhada. A arte musical pode ter, assim, um caráter instrumental (de apoio às restantes aprendizagens) ou de lazer, mas também um objetivo próprio na educação dos jovens (CNE, 2013). Não é esta a única razão que os leva a ocupar-se da música, mas também a utilidade que ela tem para o descanso. Ainda mais: é preciso indagar-se se a sua natureza não será nobre de mais para se reduzir a essa utilidade. […] É precisamente nos ritmos e nas melodias que nos deparamos com as imitações mais perfeitas da verdadeira natureza da cólera e da mansidão, e também da coragem e da temperança, e de todos os seus opostos e outras disposições morais (a prática prova-o bem, visto que o nosso


estado de espírito se altera consoante a música que escutamos). […] Por tudo isto, se torna evidente que a música pode dotar o caráter com uma determinada qualidade. Ora, se isto é exequível, não vemos razão para que não deva ser aplicado à educação dos mais jovens. (Aristóteles, cit in Barenboim, 2009, p. 11)

Referências bibliográficas

Barenboim, D. (2009). Está Tudo Ligado: O Poder da Música (1.a ed.). Lisboa: Bizâncio. Conselho Nacional de Educação (2013). Pareceres 2012: Recomendação n.º 1/2013 sobre «Educação Artística» Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro: Programa do Departamento Curricular de Ciências Musicais/Grupo disciplinar de Formação Musical do 2.º ciclo do curso básico (2012/2013). Gordon, E. (2008). Teoria de aprendizagem musical para recém-nascidos e crianças em idade pré-escolar (3.a ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Manhattanville Music Curriculum Program (1999). MMCP Syntesis. New York: Media Materials Willems, E. (1965). L’oreille musicale: Tome II - La culture auditive, les intervalles et les accords (2.a ed.). Genève: Editions Pro Musica. Willems, E. (1970). As bases psicológicas da Educação Musical (1.a ed.). Bienne: Edições Pro-Musica.


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