Sañjaya ABIY em REVISTA
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VOZ DA PRESIDENCIA p. 1 SUTRA EXPRESS p. 4 CONEXÃO PUNE p. 8 ABIY ENTREVISTA p.13 TRIBUTO A GURUJI p.18 ESPECIAL CENTENÁRIO p. 25 ESPECIAL CONVENÇÃO p. 31 ARTE DO SEQUENCIAMENTO p. 37 EVENTOS p. 46 CANTINHO DO ASSOCIADO p. 47
SAÑJAYA - ABIY em REVISTA FICHA TÉCNICA Presidente Sun Vaz Moura Vice-Presidente Ana Silvia Stocche Comitê de Comunicação (CCom) Coordenação Karla Vasconcellos Redesenho Marca ABIY e Criação Logomarca Centenário Guruji Ana Carolina Fernandes Keila Akemi Design Gráfico Ana Carolina Fernandes Caroline Cantelli Diagramação e Layout Caroline Cantelli Pauta, Edição e Revisão Daniela Santa Rosa Karla Vasconcellos Tradução Daniela Santa Rosa Karla Vasconcellos Régis Mikhail Abud Filho Jornalismo Daniela Santa Rosa Midias Sociais CCom Cris Destri Diogo Durval Elaine Moreli Li Camargo Luanda de Moura Colaboradores Desta Edição Fernanda Carneiro (Diretora Secretária) Karina Grecu (Professora Associada) Marcia Neves Pinto (Professora Associada) A revista da ABIY é elaborada pela equipe de voluntários do CCom. Entretanto, todos os associados são convidados a participar enviando suas sugestões, comentários, críticas e correções para o e-mail comunicacao@iyengar.com.br
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VOZ DA PRESIDENCIA
IYE
Querida Comunidade,
BRASILEIR ÃO A AÇ
ASSO CI
NG
Esperamos que todos estejam em plena harmonia.
AR Y
O GA
Estamos felizes em lançar mais um exemplar da nossa revista digital para enriquecer a todos com inúmeros artigos, entrevistas, histórias e notícias de tudo que vem acontecendo neste ano especial do centenário do nosso querido Guruji. Em julho passado aconteceu no RIMYI em Pune, Índia, o primeiro curso para brasileiros. O curso aconteceu com tradução simultânea para o português, em local próximo ao Instituto e também no próprio RIMYI. Nosso grupo foi de 40 brasileiros e 10 portugueses, e as aulas foram conduzidas por Abhijata, Raya, Geeta, Prashant, Sunita e Rajlaxmi, com a assistência de outros professores do Instituto. Ouvimos inúmeras histórias sobre Guruji e muito sobre Iyengar Yoga. Honestamente, não há palavras para descrever como tudo foi especial. Tivemos uma receptividade muito carinhosa, práticas e ensinamentos intensos e a beleza de vivenciar o Instituto tão perto da família Iyengar. Uma oportunidade que queremos repetir no futuro, levando professores brasileiros para outro intensivo lá, o que provavelmente acontecerá em julho de 2021. Na ocasião do curso estávamos presentes Renata Ventura (Comitê de Treinamento e Formação de Professores), Fernando Sanchez Lynn (Comitê de Certificação), Fernanda Carneiro (Diretora Secretária) e eu, Sun Vaz (Presidente). Em reuniões com Abhijata Iyengar, tivemos a oportunidade de discutir novos caminhos para o Iyengar Yoga, que apresento abaixo, como as formações de professores, mentorias, provas, cursos e projetos. A própria Abhijata poderá falar mais sobre estes assuntos em nossa próxima Convenção, em maio 2019. Formação de Professores e Metodologia Durante o curso foi comentada e exposta a maneira como Pune introduz Iyengar Yoga e como o Instituto gostaria que as pessoas fossem apresentadas à prática e ao método, além do caminho para se tornar um professor. Por exemplo, segundo Geeta e Prashant, os cursos de formação não devem mais existir. Por enquanto, somente os cursos já em andamento podem ser finalizados. A ideia é priorizar a qualidade de 1
ensino através do contato direto com o professor (mentoria) e não a quantidade de professores. O processo de se tornar um professor deve ser mais orgânico e acontecer naturalmente durante as aulas regulares, sem que se perca a inocência de ser um aluno praticante. Durante as aulas, quando o professor identificar um aluno com potencial e qualidades como respeito, humildade, esforço e uma genuína e inocente vontade de aprender, deve colocá-lo para ajudar, ajustar, demonstrar, observar e, com o tempo, começar, por exemplo, a ensinar alguns āsanas para mulheres no período, ou para aqueles que não podem seguir a aula normalmente. Resumindo, um professor deve ser preparado de forma natural, da mesma maneira como são formados os professores no RIMYI. Desta forma, após seis anos de prática de Iyengar Yoga, o aluno já terá se preparado naturalmente para a prova de certificação, pois praticou as posturas, compreendeu-as em seu corpo e contou com o apoio de seu professor-mentor para refinar seu aprendizado e passar pela avaliação formal. Tudo isso parece ser uma grande mudança, pois são novas maneiras de praticar e de ensinar, mas confiamos na visão de Guruji, Geeta, Prashant e Abhijata para o futuro do Iyengar Yoga. Para melhor entendermos estes conceitos, foram publicados alguns artigos na última edição da revista Yoga Rahasya (revista quadrimestral de notícias do RIMYI) que oportunamente iremos traduzir para vocês. Já nesta edição, contamos com a tradução de uma interessante entrevista com Guruji sobre seu “sistema”. Confira! Mentoria e Provas Será necessário que os professores e os avaliadores absorvam essa visão e a maneira de ensinar, treinar e avaliar os alunos. As avaliações nas provas de certificação serão mais orgânicas, considerando participações mais espontâneas, com a apresentação de conhecimentos adquiridos a partir da prática e não de textos e informações decorados e pouco assimilados. Assim, com essa atmosfera mais amigável nas provas, o candidato deverá ser capaz de ensinar um āsana para qualquer pessoa, não apenas para os que tem determinado tempo de prática. O processo de certificação continuará com os mesmos pré-requisitos, os quais podem ser conferidos no Guia do Candidato para a Certificação publicado no site da Associação. Corine Biria voltará ao Brasil em data a ser definida para retiro, curso de avaliadores e avaliação de provas de níveis avançados. Ações de Divulgação Abhijata incentivou todos os professores a promoverem palestras, workshops e demonstrações dentro de suas próprias escolas e em outros locais para transmitirem os valo2
res e os benefícios do yoga, para divulgarem o método e encorajarem as pessoas a estarem juntas e a praticarem. Projetos em Construção Livros: a organização da tradução de livros importantes escritos pela família Iyengar está em andamento. Comunicação: melhorar e refinar nossa comunicação, divulgação e informação para a comunidade e sociedade, revista, redes sociais, mídia, etc. Pesquisa: traduzir artigos, fazer estudos e pesquisas sobre o benefício da prática na saúde e na vida do ser humano para que sejam divulgados para a sociedade. Social: estamos trabalhando no planejamento do nosso projeto social, o qual visa levar Iyengar Yoga para as comunidades, escolas, parques e pessoas com poucos recursos e com necessidades. Abhijata encorajou-nos e forneceu-nos algumas dicas para começar este importante projeto. Em breve teremos novidades.
A partir de agora, manteremos uma comunicação mais fluida entre o RIMYI, a ABIY e seus professores associados para mantê-los atualizados neste período de transição e sobre os novos projetos em andamento. Agradecemos a atenção, apoio e parceria. Qualquer dúvida, pergunta ou vontade de ajudar, por favor, contate-nos. Grande Abraço. Com Amor. Sun Vaz - Presidente
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SUTRA EXPRESS
Texto: Light on the Yoga Sūtras of Patañjali de B.K.S. Iyengar Tradução: Régis Mikail Abud Filho
I.3 tadā draṣṭuḥ svarūpe avasthānam tadā então, naquele tempo draṣṭuḥ a alma, o vidente (aquele que vê) svarūpe em seu próprio, em seu estado avasthānam descansa, resiste, habita, reside, radia I.3 Então, aquele que vê reside em seu próprio e verdadeiro esplendor Quando as ondas de consciência se aquietam e são silenciadas, não podem mais distorcer a verdadeira expressão da alma. Revelado em sua própria natureza, aquele que vê, iluminado, reside em sua própria grandeza.
Sendo a volição o modo de comportamento da mente, esta está sujeita a mudar nossa percepção do estado e da condição daquele que vê a cada momento. Quando ela é controlada e contida, um estado refletivo de ser 4
é vivenciado. Neste estado, o conhecimento surge tão claramente que a verdadeira grandeza daquele que vê é vista e sentida. Essa visão da alma radia sem atividade alguma por parte de citta. Uma vez que isso é percebido, a alma reside em seu próprio lugar. (Vide: I.16, 29, 47, 51; II.21, 23, 25; III.49, 56; IV.22, 25, 34.)
I.4 vrtti sārūpyam itaratra
vrtti sārūpyam itaratra
comportamento, oscilação, modificação, função, estado mental identificação, semelhança, proximidade, aproximação em outras ocasiões, alhures
I.4 Em outras ocasiões, aquele que vê se identifica com a consciência oscilante Quando aquele que vê se identifica com a consciência ou com os objetos vistos, une-se a eles e esquece sua grandeza. A tendência natural da consciência é envolver-se com o objeto visto, atrair aquele que vê em sua direção, movendo-o para identificar-se com ele. Então, aquele que vê torna-se absorto no objeto. Isso passa a ser a semente para a diversificação da inteligência, fazendo com que aquele que vê esqueça a sua própria consciência luminosa. Quando a alma não radia sua própria glória, é um sinal de que a faculdade do pensamento manifestou-se no lugar da alma. A impressão de objetos é transmitida para citta através dos sentidos da percepção. Citta absorve essas impressões sensoriais e torna-se colorida e modificada por elas. Objetos agem como feno para a citta que pasteja, que é atraída a eles por seu apetite. Citta projeta-se, assumindo a forma de objetos a fim de possuí-los. Assim, ela passa a ser envolvida por pensamentos do objeto, resultando no obscurecimento da alma. Dessa maneira, citta torna-se turva e causa mudanças no comportamento e ânimo conforme se identifica com as coisas vistas. (Vide: III.36) Embora na verdade citta seja uma entidade amorfa, pode ser útil visualizá-la para
compreender suas funções e limitações. Vamos imaginá-la como se fosse uma lente óptica, que não contém nenhuma luz própria, mas colocada diretamente sobre uma fonte de luz pura, a alma. Uma face da lente, virada para dentro em direção à luz, permanece limpa. Somos normalmente cientes dessa faceta interna de citta somente quando ela fala conosco com a voz da consciência. Entretanto, estamos muitíssimo cientes da superfície superior da lente virada para fora do mundo e ligada a ele pelos sentidos e pela mente na vida cotidiana. Essa superfície serve tanto como sentido quanto como conteúdo da consciência, conjuntamente com o ego e a inteligência. Afetada pelos desejos e medos da turbulenta vida mundana, ela se torna nebulosa, opaca, até mesmo suja e marcada, impedindo que a luz da alma brilhe através dela. Carente de iluminação interna, ela busca ainda mais avidamente as luzes artificiais da existência condicionada. A técnica inteira do yoga, sua prática e controle têm o objetivo de dissociar a consciência de sua identificação com o mundo dos fenômenos, para conter os sentidos pelos quais ela é ludibriada, e para limpar e purificar as lentes de citta, até que esta transmita a luz da alma integral e unicamente. (Vide: II.20; IV.22)
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I.5 vrttayaḥ pañcatayyaḥ kliṣṭā akliṣṭāḥ vrttayaḥ pañcatayyaḥ kliṣṭā akliṣṭāḥ
movimentos, modificações em número de cinco, quíntuplo aflitivo, atormentador, angustiante, doloroso não-preocupante, imperturbável, não-aflitivo, não-perturdor, agradável
I.5 Os movimentos da consciência são cinco. Podem ser cognoscíveis ou incognoscíveis, dolorosos ou não-dolorosos Oscilações ou modificações da mente podem ser dolorosas ou não-dolorosas, cognoscíveis ou incognoscíveis. A dor pode estar escondida no estado não-doloroso e a ausência da dor pode estar escondida no estado doloroso. Estas podem ser cognoscíveis ou incognoscíveis. Quando a consciência toma a liderança, aquele que vê toma naturalmente o assento de trás. A semente de mudança está na consciência e não naquele que vê. A consciência vê objetos em relação às suas próprias idiossincrasias, criando oscilações e modificações no pensamento do indivíduo. Essas modificações, das quais existem cinco, são explicadas no próximo sūtra. Podem ser visíveis ou escondidas, dolorosas ou não, angustiantes ou agradáveis, cognoscíveis ou incognoscíveis. O sūtra anterior explica que a consciência envolve aquele que vê com os objetos por ele vistos, e convoca cinco tipos de oscilações que podem ser divididas e subdivididas quase infinitamente. Quando associados à angústia, os pensamentos são conhecidos como condições dolorosas (kliṣṭā) da mente e da consciência. Por exemplo, um carvão aceso coberto de cinzas parece ser cinza. Se alguém tocá-lo, ele queima a pele de imediato. O carvão aceso estava em um estado incognoscível ou akliṣṭā. No momento em que a pele foi queimada,
tornou-se cognoscível, ou kliṣṭā. Como a angústia predomina na dor, o estado prazeroso não pode ser identificado com ela, embora existam lado a lado. O prazer do sexo acaba na agonia da dor do trabalho de parto no momento do nascimento, sucedendo-lhe todos os ciclos de alegria, preocupação e tristeza associados à maternidade. Até almas altamente evoluídas, que atingiram uma certa elevação espiritual, como no sūtra I.18 que descreve um estado não-doloroso e bem-aventurado, são advertidos por Patañjali no sūtra I.19. Ele alerta que, embora o yogi permaneça livre enquanto potências virtuosas continuam a ser poderosas, no momento em que elas se enfraquecem,
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ele tem que lutar novamente, um fim doloroso para a conquista do ápice espiritual. Por outro lado, as dores podem estar escondidas, podendo surgir como não-dolorosas por um longo período, até que venham à tona. Por exemplo, um câncer pode permanecer indetectável por um longo tempo até alcançar um estado doloroso e atormentador. Dores e angústias cognoscíveis são controladas ou eliminadas pela prática de yoga e pela força de vontade. Dores incognoscíveis são impedidas de elevarem-se ao estado de cognição pela libertação de desejos (vāsanas) e pelo desapego (vairāgya), além do sādhanā yôguico. No sūtra II.12, Patañjali usa as palavras dṛṣṭa (visível) e adṛṣṭa (impercebido, invisível). Estes podem ser comparados a kliṣṭā e akliṣṭā. A natureza causa o surgimento das cinco oscilações em suas formas aflitivas (kliṣṭā), ao passo que puruṣa tende a trazê-las ao estado akliṣṭā. Por exemplo, a forma kliṣṭā da memória é a escravidão ao tempo psicológico, a forma akliṣṭā é a função de discriminação. Ambos estados, o doloroso e o não-doloroso, podem estar visíveis ou escondidos. As dores e prazeres conhecidos e visíveis podem ser reduzidos ou erradicados. Em estados dolorosos, a ausência da dor pode estar escondida e, consequentemente, torna-se difícil reconhe-
cer ou perceber as virtudes. Ambos estados devem ser estancados pela prática de yoga e renúncia. Nos sūtras I.23, 27, 28, 33-39, e em II.29, Patañjali ressalta os meios de atingir o ápice da virtude, que é a liberdade e a beatitude. Citta age como a roda, enquanto os estados kliṣṭā e akliṣṭā são como os dois raios de uma roda que causam oscilações e modulações no próprio ser do indivíduo. Os vṛttis, em suas manifestações kliṣṭā e akliṣṭā, não são entidades paralelas separadas, mas alimentam e sustentam uma a outra. Por exemplo, o entorpecimento, que é o aspecto negativo do sono, sustenta a percepção errônea das outras modulações da consciência, ao passo que a experiência positiva do sono (o estado passivo, virtuoso, experimentado imediatamente ao acordar, quando o “Eu” é silencioso) dá um lampejo de um estado mais elevado, encorajando os esforços do conhecimento correto e da discriminação. Se a roda está em repouso, os raios permanecem estáveis e citta liberta-se dos vṛttis. (Sobre aflições, vide I.30, 31; II.3, 12, 16, 17)
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CONEXÃO PUNE
Redescobrindo a Prática Através da Sensibilidade Lorem ipsum
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod Em julho último, a professora de Iyengar Yoga tincidunt ut laoreet dolore magna aliquam eratmineira, Fernanda Carneiro, teve a oportunidade deminim um evento para falantes de língua portuguesa volutpat.de Ut participar wisi enim ad veniam,especial quis no Ramamani Iyengar Memorial Yogasuscipit Institute – RIMYI, em Pune. O evento, que fez nostrud exerci tation ullamcorper lobortisdas nisl celebrações ut aliquip ex ea consequat. parte docommodo centenário de nascimento de B.K.S. Iyengar, lhe trouxe
inspiração e transformações profundas. Acompanhe aqui o relato dela
por Fernanda Carneiro
A cada manhã, logo que acordo, agradeço o dia e elevo meus pensamentos Àquele que me permite estar aqui e agora repetindo: ”Senhor, que eu seja Seu instrumento e que eu realize a Sua vontade.” Em seguida, na quietude, pergunto: ”O que quer de mim para o dia de hoje?” Espero em silêncio e a resposta vem. É surpreendente como Ele nos fala de diferentes maneiras! Assim foi que tomei a decisão de ir para Índia. Havia chegado o tão esperado momento de conhecer o RIMYI em Pune. Essa primeira visita ao Instituto aconteceu em julho de 2018 com o grupo de brasileiros e portugueses em um dos eventos realizados para a celebração do centenário de B.K.S. Iyengar. Foi uma viagem inesquecível! É uma benção entrar no Instituto, andar por onde Guruji andou, honrar e praticar com sua família, onde ele praticou. Reverenciar Guruji e Ramamani, sua esposa, ao passar pelo portão de entrada, presenciar Patañjali no pátio e também no salão principal, visitar o templo de Hanuman e percorrer cada cantinho deste local cheio de vida e de histórias, inspirando-nos através de tanta sabedoria, é sagrado para mim. Foram 10 dias de intensivo e uma programação completa de aulas com os professores do Instituto. A primeira aula foi com a Abhijata, neta de Guruji, que conduzia a prática, recheando-a saborosamente com as mais belas histórias vividas com seu guru/avô, Foto: Arquivo pessoal
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Mesmo não tendo conhecido Guruji pessoalmente, senti a presença dele através de cada professor que segue vivendo seus ensinamentos, compartilhando seu legado e transmitindo-nos a luz do mestre. Os professores mostram além do que alguns rotulam como sendo o método Iyengar de um yoga dos props e do alinhamento. Eles conhecem, estudam e ensinam através dos sūtras de Patañjali, tornando esse tratado mais acessível e aproximando-nos ainda mais da verdadeira essência do yoga. E todos eles foram unânimes em trazer-nos para uma prática onde pudéssemos ir além das instruções verbais e despertar nossa inteligência através da sensibilidade. Cada aula teve sua particularidade e em todas elas recebemos inspiração que ainda hoje reverbera em meu ser.
“E todos eles foram unânimes em trazer-nos para uma prática onde pudéssemos ir além das instruções verbais e despertar nossa inteligência através da sensibilidade”. Um dos momentos mais esperados foi conhecer a Geeta, filha do Iyengar. Antes de contar como foi, gostaria de complementar que também rezo à noite ao dormir, agradeço pelo dia, pela existência e me entrego confiante ao que virá, ao que está pronto para chegar até mim. Acredito que o melhor sempre vem para cada um de nós exatamente da maneira como tem que vir... foi assim que adormeci: tranquila e aberta para o despertar de um novo dia cheio de possibilidades. No segundo dia aconteceu o encontro com a Geeta, o qual foi transformador em minha vida. Sua presença é imponente no sentido de que ela traz segurança, confiança e a certeza de que estamos recebendo um cuidado amoroso e compassivo, de quem realizou o yoga na vida e vive transmitindo os ensinamentos de seu guru/pai.
Fotos: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
emocionando-nos. Percebia a nobreza de caráter dela na maneira em que se expressava ao compartilhar um pouco de sua vida de yogini fazendo parte da família Iyengar, assim como sua postura reverente com seus tios Prashant e Geeta e seu envolvimento e atenção com nosso grupo.
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Decidi ir para Pune, mesmo sabendo das minhas limitações físicas, devido a uma rigidez e dor que me acometeram e com as quais vinha convivendo há dois anos. Fui sem expectativas, fazendo a prática limitada que estava conseguindo fazer devido as dores que sentia na região baixa das costas e quadril, que foram se modificando ao longo deste período e que me levaram à vários profissionais de saúde, iniciativa que não trouxe nenhuma resposta ou solução para a questão. Minha maior dificuldade era fazer as extensões à frente. Foi quando a Geeta viu que eu estava com as mãos nos blocos em Uttānāsana e me pediu para levar as mãos no chão, porém assim havia dor nas costas. Diante desta situação, ela me chamou para a plataforma, pediu que eu executasse Uttānāsana com as mãos no chão mesmo que para isto eu precisasse afastar mais os pés e, dando instruções corretivas para a Abhijata e para o Raya, que foram me ajustando e aos poucos conseguiram me levar para muito além do limite que eu havia imposto a mim mesma. Neste dia, deixei os blocos que me acompanhavam em todas as práticas. A mente entendia o que a Geeta dizia, mas as células do corpo ainda precisavam despertar para o novo caminho no qual ela estava me conduzindo. No final da aula, as pessoas me perguntavam como eu estava, mas não sabia responder. Estava extremamente sensibilizada, mexida externa e internamente. Confiante, deixei fluir. A compreensão ainda estava por vir e viria, mas não tão imediatamente. Levei alguns dias para perceber que meu corpo estava abandonando a rigidez, que minha mente estava se abrindo para o novo, que minha alma não encontrava palavras para descrever a sensação de liberdade que a Geeta me fez experimentar após esta aula que foi uma benção para mim. O que mudou foi a forma como estava praticando para ganhar espaço interno com intenção de descomprimir as vértebras. Antes buscava somente a tração através do uso dos props e realmente estava dependente deles. Mas senti a suavidade -- ao mesmo tempo a profundidade -- através das direções dos ajustes. Desde aí, surgiu uma melhor compreensão das palavras de Guruji em relação a realizar as ações internas, conquistar a extensão e a expansão desde as camadas mais externas às mais profundas e íntimas de maneira lucidamente atenta. Esta energia da atenção que Geeta despertou em mim confirmou uma das afirmações de B.K.S. Iyengar: “A dor é tempo-
rária. A liberdade é permanente”.
As aulas seguiram, isso era só o começo e já era tanto!
Grupo de brasileiros e portugueses que participaram das aulas no Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute, em Pune, Índia, em julho de 2018. Foto: Arquivo pessoal
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Cada dia, cada noite, pensava em Guruji com gratidão, bendizendo sua vida e a das pessoas que seguem seu legado. Uma noite fui dormir e fiquei imaginando como seria se ele estivesse fisicamente aqui. Ao mesmo tempo, sabia que ele estava entre nós. Uma voz interna me disse para estar mais atenta aos sinais da presença dele em minha vida. Fotos: Arquivo pessoal
No dia seguinte, acordei e fui informada que a Geeta havia dito que eu deveria participar da classe médica. No horário desta aula, fui chamada até a casa dela que rapidamente me olhou e descreveu o que estava acontecendo comigo, através de um diagnóstico, confirmado por um exame de imagem após meu retorno ao Brasil. Em seguida, rapidamente, Geeta foi dando-me uma sequência e instruindo-me sobre como eu deveria praticar. Subi para o salão principal e junto com muitas pessoas fui recebendo o cuidado e instruções da Rajlaxmi para aprender a prática que mantenho como um cuidado pessoal.
É inexplicável como nestas aulas médicas, mesmo com muitas pessoas e casos tão distintos, tudo acontece de maneira natural. Fiquei impressionada como tantos são beneficiados através dos ajustes e ensinamentos tão preciosos dos professores que seguem as orientações da Geeta que, com seu olhar, em segundos, enxerga o que a gente não vê e seguramente sugere o quê e como fazer para cada um dos presentes.
“A dor é temporária. A liberdade é permanente”.
Foto: Arquivo pessoal
Como disse o Raya, tivemos uma excelente oportunidade de praticar com todos os professores em tão pouco tempo e com tanta intensidade. Todos foram tão abertos e tão próximos. Cada aula foi única: com o Raya senti alegria, energia e segurança; com a Rajlaxmi, clareza e leveza; com Prashantji, novas possibilidades de conexão corpo e mente através da respiração e
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muitas reflexões; com a Sunita, introspecção; e com todos eles, encantamento, sensibilidade, mobilidade, estabilidade, sutileza, profundidade, conexão, integração e muito aprendizado. Para fechar nossa viagem, tivemos uma noite especial de Guru Purnima – que é uma celebração de respeito e gratidão ao guru (aquele que leva luz à escuridão). Assim como os raios do sol, reconhecemos o legado de Guruji se estendendo por toda parte, iluminando a todos. Nesta noite, estávamos mais próximos deste sol, na presença de Geetaji, Prashantiji e da família Iyengar reunida com praticantes de muitos países. O salão estava lotado. Que possamos honrar, sentir e expressar a cada dia nossa gratidão, amor e devoção por aqueles que são luz e dissipam a escuridão em nossas vidas! Com as bençãos dos gurus a todos os seres. Foto: Arquivo pessoal
Hari Om Tat Sat.
Namaskar!
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ABIY ENTREVISTA
Usha Devi Lorem ipsum
"Ninguém Quer Ser Estudante, Todo Mundo Só Quer Ser Professor" Tradução: Marcia Neves Pinto
Usha Devi é uma lenda viva em Rishikesh. Uma mulher suíça que vive na Índia há 40 anos e sofreu dois acidentes terríveis - em 1998 e 2003 - que quase destruíram suas pernas. Após 23 cirurgias, havia pouca esperança de que pudesse voltar a andar novamente, mas as orientações de seu guru B.K.S. Iyengar, a força de vontade e o trabalho árduo de Usha Devi resultaram em um milagre. Ela está andando, fazendo āsanas e ensinando em Rishikesh a centenas de estudantes que vão ao seu encontro todos os anos para aprender sobre seus próprios corpos e avançar para um nível de compreensão e controle físico que nunca pensaram ser possível. Usha Devi tem a reputação de ser uma professora rigorosa e exigente, com um incrível conhecimento da mecânica do corpo humano. Ela exige muito de seus alunos, algumas vezes levando-os a experimentar seus limites, mas ela sabe como fazê-lo de uma forma segura. Os alunos têm grande confiança e respeito por ela, porque ela é um exemplo vivo do poder de cura do Sistema Iyengar Yoga. Sabendo o valor do trabalho duro e da determinação, ela pode fazer seus alunos atingirem seu pleno potencial.
Usha Devi compartilhou conosco seus insights sobre o significado da prática de yoga e da situação atual do yoga em Rishikesh. Ushaji, você é um dos nomes mais reconhecidos e respeitados na cena do yoga em Rishikesh. Por que você não ministra cursos de formação de professores? Porque sou contra isso. Acho que é completamente errado. Nós nunca pedimos ao Guruji para nos tornarmos professores. Por que aprendi yoga com Guruji? Porque para mim era o meu sādhanā. Foi puro sādhanā. E eu pratiquei sete anos com Guruji, até que ele me disse: “Agora você tem que começar a ensinar”. E eu lhe disse: “Guruji, eu não estou aprendendo yoga para me tornar professora, é apenas para o meu sādhanā”. E ele disse: “Você tem o conhecimento, agora deve começar a ensinar e passá-lo adiante”. Sabe, agora ninguém quer aprender, todo mundo só quer ser professor, ninguém quer ser um bom aluno. Então, eu nunca entraria nisso (o negócio da formação de professores). Eu acho que é uma coisa errada. E você vê o que está acontecendo aqui? Todos estes pro-
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fessores de yoga não estão recebendo alunos regularmente, porque estão se encaminhando somente para o treinamento de professores. E eles ganham muito dinheiro. E, em alguns lugares, você não tem nem mesmo que estar presente: você apenas paga e recebe um certificado.
E eu pratiquei sete anos com Guruji, até que ele me disse: “Agora você tem que começar a ensinar”. Ushaji, você acha que um mês é suficiente para se tornar um professor de yoga? De jeito nenhum! Veja, estamos aprendendo há anos e anos e todo ano ainda vou para Pune para aprender. Todo ano vou por três meses, três meses e meio, para aprender mais e mais e, ainda assim, sinto que não sei nada. Eu sei tão pouco. E mesmo Ekta, minha aluna, começou a conduzir a classe para iniciantes há dois anos, e senti que está pronta para ir para Pune. E ela também está lá aprendendo, por um mês, dois meses; este ano ela esteve lá por três meses. Então, é um processo sem fim. E como poderia ser? Eu acho que você precisa aprender continuamente em todas as profissões. O que quer que você faça. Tudo está se movendo tão rápido, então você tem que se manter em movimento, aprendendo. Essa é a minha opinião. Em toda profissão você tem que aprender. E quem está aprendendo aqui? Veja, todas essas escolas de yoga aqui surgiram como cogumelos e eu não sei de onde tiraram sua certificação. Eles aprendem um pouco aqui, ali e ensinam, e muita besteira está acontecendo.
Qual é o propósito da prática de yoga? Para mim, é o meu sādhanā ... Então todo mundo tem um objetivo diferente? Claro. Você vai ver quando perguntar. Lógico, muitos vão apenas querer ser professor (risos). Mas, para mim, é a minha prática. Eu estou vivendo em um ashram, também. Sacrifiquei minha vida pela vida do ashram. Então, para mim, talvez, o propósito seja completamente diferente (do que para outras pessoas). Mas, normalmente, eu diria que atualmente as pessoas praticam yoga, quando o fazem de modo um pouco sério, apenas para serem felizes e saudáveis emocionalmente, mentalmente e fisicamente. Agora, na sua experiência, as pessoas têm que seguir a abordagem Iyengar para terem uma prática de yoga equilibrada e segura? Não gosto quando você diz “elas TÊM que” (sorriso). Sabe o que me atraiu quando conheci Guruji? Você podia verdadeiramente sentir que ele tinha muita experiência. Ele tinha tanta gente, e eu vi durante todos esses anos como ele podia ajudar tantas pessoas; como ele me colocou sobre as minhas pernas novamente. E acho que não havia mais ninguém que pudesse fazer isso. Ele tinha realmente muita experiência e, para mim, ele era um guru-mestre. O que aprendemos com Guruji é a ajudar os alunos a não se machucarem.
“O que aprendemos com Guruji é ajudar os alunos a não se machucarem”.
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Porque você vê, o nosso corpo não é um corpo de yoga, não mesmo. Quando você pensa como os yogis viviam no passado e em como estamos vivendo... Estamos vindo de países tão diferentes, sentados em uma cadeira, sentados em um carro, totalmente distantes do modo antigo, sob tanto estresse, por isso o nosso corpo é diferente sob muitos aspectos. E Guruji entendeu isto. Pessoalmente, às vezes me sinto como se estivesse em um hospital.
ciência para lidar com lesões. Muitas pessoas nos disseram que vieram para a sua classe com lesões e, em seguida, com o trabalho e a prática persistentes, se curaram.
Principalmente, nos joelhos e ombros. E, também, meninas não menstruando e problemas lombares.
Sim, eles se curam, mas não sei como e porquê eles voltam para suas práticas anteriores (risos). Lembro-me de Paramahamsa Yogananda, que curou pessoas que tinham certos problemas, e a primeira coisa que ele pedia era para elas serem vegetarianas. Elas desistiam da carne, realmente se curavam e, uma vez resolvido o problema, começavam a comer carne novamente. Então, aqui é mais ou menos assim.
Seus estudantes lhe dizem que algumas práticas ou āsanas tendem a provocar mais lesões do que outros?
Então, yoga não é uma solução a curto prazo, uma cura rápida, é um estilo de vida.
Não é o āsana em si, mas a maneira como eles o fazem. Às vezes, os praticantes vêm aqui com algumas lesões e sua prática é restrita, e eles não gostam disso. E também, por vezes, somos rigorosos com eles, eles não querem isso e voltam para a sua prática anterior. E então, depois de algum tempo, eles vêm novamente. E o que estou fazendo agora, se alguém tem um problema, é claro, eu cuido na classe, eu digo o que fazer e o que não fazer, mas às vezes eles não escutam. E se eles realmente precisam de ajuda, peço-lhes para vir para a prática (prática pessoal diária, na parte da manhã, na sala de yoga). E então vou ajudar. Se alguém não vem para a prática e só vai aqui e ali, eu não vou ajudar. Por que eu deveria desperdiçar minha energia? E para aquelas pessoas que vêm para a prática pessoal, prestamos auxílio, eu e meus alunos que têm conhecimento de problemas particulares.
Claro. Quero dizer, de alguma forma você tem que mudar sua abordagem e compreensão. Às vezes, temos pessoas que seguem o caminho do yoga e depois param. Porque é um esforço. E eu acho que isto é uma tolice — você vê na TV como as pessoas falam que foram curadas com yoga como se fosse uma solução isolada. Você tem que ser realmente um praticante.
Você vê prevalência de lesões específicas?
Iyengar Yoga e sua abordagem, em particular, são famosos em Rishikesh por sua efi-
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Ushaji, qual é a sua prática pessoal? Você certamente tem uma prática diária. (Risos) Eu deveria ter. Às vezes, há muitas coisas. Porque estou vivendo em um ashram, e há um certo trabalho que tem que ser feito, não posso simplesmente dizer: “Não, eu vou fazer a minha prática agora”. Mas eu realmente tento. E depois, claro, às vezes, quando eu não estou aqui (no ashram), eu pratico de manhã cedo em casa. E o que seria se você tivesse, por exemplo, apenas 15 minutos para a sua prática? Qual o elemento mais importante? Normalmente, não pratico apenas por quinze minutos. Pelo menos uma hora, mesmo duas. Faço minhas orações, então faço algum prāṇāyāma. Caso contrário, não saio de casa. O que você diria a uma pessoa que pedisse conselhos sobre uma prática diária de 15 minutos? O que você faria em apenas quinze minutos? Talvez outra coisa, como ir caminhar. Mesmo em uma hora é difícil fazer caber sua prática. É o mínimo... Porque ela toma tempo também, sabe? Certamente, para integrar qualquer coisa. Sabe, todas as manhãs, quando você se levanta, você se sente em condições diferentes. Às vezes você se sente preguiçoso, às vezes leva uma hora para remover esta resistência e começar a prática, para descobrir o que você realmente precisa. Ushaji, qual é a sua abordagem para o apoio sobre a cabeça? No Ocidente, há professores que não praticam śīrṣāsana e o não ensinam.
Nas classes gerais, não ensino śīrṣāsana. E nos cursos intensivos, ensino. Ele tem que ser feito corretamente, caso contrário, pode causar uma série de problemas: nos olhos e todo o tipo de problemas. É por isso que eu entendo porque até mesmo os médicos, às vezes, condenam śīrṣāsana. De acordo com Guruji, no curso preliminar, iniciantes têm que aprender sarvāngāsana — invertida sobre os ombros, primeiro. Isso tem que ocorrer, eles têm que se preparar. E depois, lentamente, devagar, com compreensão, podem fazer śīrṣāsana. Mas eu o ensino realmente muito pouco. Sim. Precisa preparação. Claro, muita preparação. Acabo de ter um grupo chinês aqui, e lhes pedi para fazer o seu śīrṣāsana. Tive que parar tudo e dizer: ”Não, isso está completamente errado”. E devagar os ensinei como fazê-lo corretamente, da maneira como Guruji nos ensinou. Você poderia dar algum conselho para as pessoas que vêm para Rishikesh pela primeira vez em busca de sua prática de yoga? Eles podem estar um pouco perdidos. O que você lhes aconselharia?
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Veja, Guruji nos disse: “Quando você procura por um professor, primeiro descubra se ele está praticando”. Se ele está praticando diariamente, então você pode experimentá-lo. E depois, claro, você deve desafiar o professor, fazendo perguntas. Você foi desafiada? Sim, as pessoas me fazem perguntas. E, claro, eles vêm com problemas. Evidentemente, todo mundo tem que descobrir por si mesmo onde ir e o que fazer, mas sinto que Iyengar Yoga é seguro; é realmente seguro. Claro, isso depende do que as pessoas querem. Fonte: Entrevista originalmente publicada no blog Top Yogis em 23/01/2018 (https://topyogis.com/blog/interview-yogi/usha-devi-nobody-wants-be-student-everybody-just-wants-be-teacher)
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TRIBUTO A GURUJI
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*“Sentir o movimento dos momentos é vaguear no passado ou no futuro. Viver no momento do movimento é estar no presente”.
"Kāla (tempo) não existe. Kāla surge com o movimento da mente"
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Ślokas sobre Guruji Texto: Srineet Sridharan Tradução: Karla Vasconcellos
Um śloka é um canto de louvor, uma homenagem em forma de verso. No dia da celebração anual do RIMYI em 2018, Prashantiji revelou dois ślokas sobre nosso amado Guruji. Estes ślokas podem ser recitados livremente em memória e reverência ao Guruji. Estes dois ślokas são citados abaixo com seus respectivos significados. O primeiro deles apresenta as facetas notáveis de Guruji em seu yoga e o segundo é sobre o seu impacto no mundo. Estes ślokas em sânscrito foram compostos por Srineet, neto de Guruji, como um tributo ao ano de seu centenário.
Primeiro Śloka
vaijñānikah śikṣakatvē kalākāra āsanēṣu yaḥ yōgābhyāsē ca tattvajñastaṁ vandē sundaraṁ guruṁ Significado de Cada Palavra vaijñānikah = cientista śikṣakatvē = quando ensina, em seu ensino kalākāra = artista āsanēṣu = nos āsanas yaḥ = aquele que yōgābhyāsē = no estudo ou na busca pelo yoga
ca = e tattvajñaḥ = aquele que conhece a verdade (verdade máxima), filósofo taṁ = a ele vandē = reverencio sundaraṁ guruṁ = ao Guru Sundara, Guru Sundaraja
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Significado do Primeiro Śloka Eu reverencio o Guru Sundaraja, conhecedor da verdade máxima, aquele que era um cientista no seu ensino, um artista em seus āsanas e um filósofo em seu estudo de yoga.
Segundo Śloka
yōgavŗkṣō lokē´smin vardhitō yasya prēraṇayā yōgacāryāya guravē sundarāya namo namaḥ Significado de Cada Palavra yōgavŗkṣō = a árvore do yoga lokē´smin = neste mundo vardhitō = cresceu, floresceu yasya prēraṇayā = através de cujo ímpeto ou inspiração yōgacāryāya guravē sundarāya = ao Yogācharya Guru Sundaraja namo namaḥ = saudações e saudações Significado do Segundo Śloka Saudações e saudações àquele que, através de seu ímpeto e de sua inspiração, fez crescer e florescer a árvore do yoga neste mundo!
Vídeo Um vídeo da apresentação destes ślokas no dia da celebração anual do RIMYI em 2018 está disponível no YouTube. O link direto é: https:www.youtube.com/watch?v=ONYJii3V3ZM&t=29s Assistir este vídeo também ajudará a entender a pronúncia e como fazer a recitação. Fonte: Revista Yoga Rahasya Vol. 25 No. 3; 2018 p. 58 (Edição Comemorativa ao Centenário de Yogacharya B.K.S. Iyengar)
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SOBRE O LOGO DO CENTENÁRIO Texto: Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute Tradução: Karla Vasconcellos
"Yoga é para todos." Esta foi a convicção que levou B.K.S. Iyengar a trilhar o caminho do yoga para sí, fazendo com que o yoga estivesse disponível para qualquer pessoa que estivesse buscando-o. Guruji B.K.S. Iyengar ergueu-se graciosamente como um farol para todos aqueles que chegaram até o yoga. O ano de 2018 foi o centenário deste maravilhoso ser. Maharshi Patañjali postulou que aśuddhikshaya (destruição das impurezas) e vivekakhyati (senso de discernimento) são conquistados através de anuṣṭhāna (prática devocional) de yoga. Conjuntamente com estes dois [elementos], Guruji difundiu duas coisas: amor incondicional pela criação e por tudo o que lhe diz respeito e gratidão pelo que quer que seja que a vida lhe ofereceu. Neste sentido, Guruji naturalmente teceu a gratidão como um efeito do yoga. Ao longo de sua vida, Guruji construiu um sādhanā duplo – ao aceitar a criação exuberante como parte de sí, simultaneamente rendendo-se à criação. Ele deu muito mais do que recebeu – esta era a sua personalidade. Unidas no gesto de namaskar, as palmas de Guruji denotam o seu afeto pelos outros seres, assim como a gratidão pela própria vida. Os zeros do número cem aparecem na forma de infinito, sugerindo que nos movamos do número finito de 100 em direção ao infinito. Eternamente atuais, os ensinamentos de Guruji incitam-nos nesta direção.
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"Yoga ĂŠ para todos"
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Sobre Ensinar “Eu ofereço muito mais do que levo. Todos os meus professores devem fazer o mesmo”. “É preferível treinar um aluno honestamente do que treinar milhares”. “Deixe-nos amadurecer dentro de nós mesmos, antes de ofertar aos outros”. “O aluno também ensina o mestre. Olhar para o aluno guia o professor”. “Mestre é aquele que sabe como descer ao nível do aluno e que sabe como ascender”. “O professor deve mover-se com o aluno”. “Ensine através do exemplo”. “A arte de ensinar é a tolerância”.
Fonte: Yoga Rahasya Vol. 25 No. 3; 2018 p. 21 (Edição Comemorativa ao Centenário de Yogacharya B.K.S. Iyengar)
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ESPECIAL CENTENÁRIO
Entrevista com Guruji Sobre Lorem ipsum o Seu “Sistema” Tradução: Karla Vasconcellos Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore magna aliquam erat Para aqueles sem familiaridade com o seu As práticas de yoga tem moção e ação. Moção volutpat. Ut wisi enim ad minim veniam, quis “estilo” de ensinar yoga, de que formas ele é o movimento sequencial de uma posição nostrud exerci tation ullamcorper suscipit loboré diferente detisoutros para outra para alcançar a posição final e nisl ut tipos aliquipde exyoga? ea commodo consequat.
Os princípios permanecem os mesmos, mas o “estilo” pode ser diferente. Assim como o tronco é um, mas os galhos são muitos; o yoga é um, mas a adaptação pode variar. A fonte do tronco é a mesma. Qualquer que seja o estilo de yoga, o indivíduo experiencia a transformação em seu estilo de vida. A minha forma de praticar não é diferente das outras, exceto pelo alinhamento dos nervos motores com os nervos sensoriais, que precisa de reflexões intelectuais e de ações habilidosas sem distorcer sequer a menor parte da estrutura anatômica do corpo, de maneira que os ossos, as articulações, as fibras musculares, a energia, a mente e a inteligência funcionem simultaneamente com equilíbrio e harmonia, de forma que a força da vida, bem como o âmago do ser toquem em todas as camadas do corpo envolvidas.
retornar ao ponto de partida que é geralmente conhecido como vinyasa krama.1
Na moção, a mente externa está ativa, enquanto que se o āsana é mantido por um período mais longo de tempo, a mente externa move-se automaticamente para tocar na mente interna, através da qual se alcança a consciência e o Eu. Uma longa permanência em um āsana faz com que a inteligência e a consciência desenvolvam paciência e resistência. Isso também auxilia na avaliação judiciosa de cada āsana visando obter a sua posição correta, bem como para experienciar firmeza e quietude. Em segundo lugar, manter o āsana por um longo tempo auxilia a mente e a inteligência a penetrarem no desconhecido ou nas partes irreconhecíveis do corpo interno. A penetra-
Qual é a importância da precisão e do alinhamento em Iyengar Yoga? Minha amiga, o alinhamento leva à precisão e a precisão é um estado divino no qual se experiencia a força cósmica fundindo-se com a força individual. Em poucas palavras, a precisão é o ponto de encontro da alma individual com a Alma Universal. Quais são os benefícios da permanência nas posturas por tempo mais longo?
“A precisão é o ponto de encontro da alma individual com a Alma Universal”
1
N.T. O texto original menciona o termo “vinyasa karma”. No entanto, acredita-se tratar-se de um erro de transcrição da entrevista, visto que o assunto abordado discute claramente a questão de mover-se passo a passo, sequencial e gradualmente, para atingir a um determinado objetivo, apontando para o termo correto: “vinyasa krama”.
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ção envolve a atenção ativa com ação, consciência dinâmica e ajustes refinados para1 obter a posição precisa. Finalmente, a permanência em um āsana auxilia na construção de uma força de resistência no sistema nervoso, na medida em que este cria coragem mental e intelectual, vigor, confiança e fé para estabelecer-se na sādhanā. O uso de props – almofadas, cobertores, cintos e blocos – é um elemento-chave no seu ensino de āsanas. Por que? Poderia descrever a sua função – se física, espiritual ou ambas? O uso de props, almofadas, blocos ou cintos não é um elemento-chave na minha prática ou no meu ensino. É um método alternativo para desenvolver a maestria dos āsanas. Na medida em que professores verdadeiros são raros, desenvolvi estes props para guiar os praticantes no sentido de adquirirem o senso correto de direção enquanto estiverem executando os āsanas, pois os mesmos não permitem que erros aconteçam ou que tomem direções erradas em suas práticas. Os props são uma auto- ajuda e um guia para a prática pessoal. Em segundo lugar, aqueles que são mentalmente confusos, fisicamente rígidos e frágeis ou que tem deficiências não podem atuar de forma independente. Assim como em hospitais existem CTIs (Centros de Tratamento Intensivo), estes props monitoram os corpos dos praticantes de modo a impedir práticas errôneas, permitindo a experiência de um senso de bem-estar, conforto e confiança. Em terceiro lugar, estes props fazem duas coisas ao mesmo tempo. Auxiliam na extensão e expansão dos músculos, articulações e órgãos do corpo, levando o indivíduo a relaxar a mente para olhar para dentro com conforto, o que é uma chave para a meditação.
“ Na moção, a mente externa está ativa, enquanto que se o āsana é mantido por um período mais longo de tempo, a mente externa move-se automaticamente para tocar na mente interna, através da qual se alcança a consciência e o Eu”
Na medida em que os props guiam o corpo na direção correta, experencia-se o sentimento de bem-estar no corpo e a exaltação do frescor mental que naturalmente levam o indivíduo a sentir equilíbrio e unidade entre o corpo, a mente e o eu. Em Luz na Vida você fala sobre o sistema yôguico como um veículo para a iluminação, onde as posturas físicas são somente um começo daquilo que é, em última instância, uma viagem para dentro. Você acha que o yoga tem algo a oferecer para pessoas de qualquer fé, mesmo aquelas que não acreditam e que não estão tentando alcançar a iluminação? Se usar meu próprio exemplo, comecei a fazer posturas meramente no nível físico para ganhar saúde a partir de uma saúde prejudicada. Gradualmente, isto treinou minha mente e minha inteligência a interpenetrar minha consciência e a rastrear o âmago em todas as ações e pensamentos. Em mim isso funcionou para ascender do nível puramente físico para o nível do conhecimento da Luz na Vida. Em segundo lugar, o yoga com āsana tem muito a oferecer às pessoas em qualquer vocação que se encontrem. Não há limite geográfico, de gênero, casta ou religião. Cada um,
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no Oriente ou no Ocidente, Norte ou Sul, tem problemas físicos, distúrbios emocionais e confusão intelectual. O yoga auxilia no cultivo do corpo, mente, inteligência e consciência. É fato que o ser humano é suscetível a problemas físicos, mentais, emocionais e intelectuais. Como uma ciência e uma filosofia, o yoga auxilia na recuperação destes problemas mostrando formas corretas de viver para pessoas de todas as partes do mundo, energizando suas vidas para uma vida digna e nobre. Felizmente, o yoga é um assunto prático, queira que acredite ou não; tenha fé ou não; o yoga ilumina o indivíduo com uma boa saúde física, clareia a mente, estabiliza os pensamentos emocionais e cria clareza no pensar, ensinando a limpeza não somente para consigo mas também para com os outros. Para experienciar isso é necessário praticar ininterruptamente por um longo tempo, pois a natureza age lentamente. Entretanto, isto certamente tem o poder de reduzir e minimizar as aflições dos praticantes nos casos em que elas não foram totalmente eliminadas. Quais são os seus pensamentos sobre a tendência de difusão do yoga em academias nos Estados Unidos? Isso é uma coisa boa ou ruim? Minha amiga, eu estou feliz pelo fato do yoga
estar se difundindo seja em sua forma física, mental ou espiritual. Atualmente, o mundo científico quer pesquisar e registrar os efeitos do yoga nos seres humanos na medida em que se difunde amplamente. Os cientistas podem pesquisar centenas e milhares [de pessoas] no que diz respeito a testes clínicos, os quais não estavam disponíveis inicialmente. Hoje em dia, os dados científicos podem ao menos ser coletados de forma a apresentar o valor do yoga sob as perspectivas corretas física, fisiológica e mentalmente. Como pode uma coisa boa para ao menos manter a saúde nas academias tornar-se uma coisa ruim? Manter uma boa saúde é o objetivo de muitos enquanto que a sua abordagem espiritual é completamente uma questão individual. Para você e muitos Hindus, o yoga é uma forma de vida. Para muitos ocidentais, é frequentemente meramente uma ótima maneira de alongar-se, fortalecer-se e relaxar. O que você acredita que se perde quando o yoga é despido de sua espiritualidade e tratado como mais uma aula de ginástica? O yoga tem duas facetas. Uma é física e a outra é espiritual. A faceta física da vida é uma parte visivelmente concreta da força da vida reconhecida através dos órgãos de ação, dos sentidos e da mente. A outra faceta da vida é o Eu ou a Alma, que é volúvel e abstrata. Este estado pode ser sentido e não há palavras ou expressões [para descrevê- lo]. Seja oriental ou ocidental, o indivíduo acredita no que vê e após compreender a camada visível e conhecida do corpo, ele naturalmente gosta de envolver-se nas matérias mais sutis das outras camadas do corpo (fisiológica, mental, intelectual e espiritual) e tenta alcançar a fonte de todos os movimentos através do refinamento da inteligência e da consciência para experienciar a melhor parte da faceta da vida. Esta faceta da vida é o
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âmago do ser ou do Eu. Assim, eu não penso que a essência do yoga se perca na sādhanā individual. A sua dedução é uma coisa, enquanto que os fatos associados ao fazer e ao experienciar são outra coisa. Para mim, o corpo é o eu visivelmente concreto, a mente é o eu mais sutil e o “Eu” é o mais sutil de todas as formas sutis. As pessoas se beneficiam do yoga, não importando onde as suas mentes estão? Aqueles que não ativam os seus músculos da forma como deveriam ser ativados com certeza sentem uma sensação de bem-estar através dos movimentos yôgicos. Primeiro, obtém-se os benefícios da leveza dos membros do corpo ou do frescor da mente, mesmo se sua onda mental não está no yoga. O yoga traz a atenção da mente, visando o foco no alinhamento correto do corpo com a mente e da mente com a inteligência. Sem esta atenção e reflexo da mente, a prática não é possível, na medida em que a essência do yoga é integrar o corpo com a mente e a mente com o Eu; isso pode tomar tempo. Por favor, observe que o benefício do yoga é obtido de acordo com o estado mental de cada um. Se o indivíduo pratica casualmente, então o yoga fornece resultados casuais, enquanto que uma prática intensa traz benefícios intensos. Você enfatiza que o hatha yoga é mais profundo do que somente uma experiência física. Poderia escolher uma postura que sente que você aprendeu e poderia conduzir-nos em uma jornada física, emocional e espiritual, passo a passo, dos efeitos que você experienciou a partir deste aprendizado? Quem disse que eu enfatizo hatha yoga? Por que você está me fazendo uma pergunta errada? Eu tenho dito frequentemente que yoga é um. Por que você demarca? No que diz
respeito a segunda parte da pergunta, isto requer páginas e páginas para responder. Isto tem que ser feito na forma de um livro e é difícil dizer em poucas linhas. Eu tenho lidado com isto como um guia em meu último livro Luz na Vida. Se você ler todo o livro, você pode obter uma resposta para a sua pergunta. Digo minimamente isto aqui, que a força física, mental, nervosa, intelectual e da consciência deveriam equilibrar-se igualmente através do trabalho harmônico com todas as partes do corpo instantaneamente, de forma que o âmago do ser, a inteligência e a consciência movam-se com todas as partes do corpo simultânea e uniformemente. Se o corpo é o campo para a inteligência arar, o Eu é o jardineiro que faz com que a inteligência cave a terra usando āsana e prāṇāyāma como instrumentos. Através do arado, camada após camada (física, fisiológica, mental, intelectual e a consciência), o indivíduo experiencia o auspicioso estado da vida. Este auspicioso estado é a vida divina ou espiritual. Você descreve um estado emocional na medida em que ingressamos em uma viagem ao interior através do yoga, no qual o indivíduo sente-se relaxado e consciente, porém não entorpecido. Em uma sociedade na qual ser perspicaz e “ativo” é venerável e usualmente dissociado de um
“Se o corpo é o campo para a inteligência arar, o Eu é o jardineiro que faz com que a inteligência cave a terra usando āsana e prāṇāyāma como instrumentos” 28
sentimento de estar relaxado, você pode dizer mais sobre a relação entre os estados de relaxamento e de consciência? Nosso cérebro é provido de quatro lóbulos, os quais, apesar de descritos biologicamente, Patãnjali descreve-os em um nível intelectual da seguinte forma: centro argumentativo, centro de síntese, centro de exaltação e centro da consciência. Similarmente, de acordo com o aforismo de Patañjali, as quatro câmeras do coração correspondem às sedes da amizade, compaixão, contentamento e desapego. Se a cabeça auxilia no crescimento vertical do intelecto, o coração auxilia no seu crescimento horizontal. A cabeça cultiva a atenção, enquanto o coração cultiva a consciência. Tanto a atenção quanto a consciência são a chave para bons relacionamentos. A prática de yoga mistura estes dois tipos de inteligência integrando- os, de maneira que a atenção e a consciência convergem para comunicar-se, para trocar, conversar e ter uma intimidade mútua. Isso traz um estado pensativo ao coração, o qual automaticamente auxilia na atenção sem tensão. Isso traz relaxamento para a atenção e para a consciência. Essa é a beleza do yoga, na medida em que é uma matéria de experiência mais do que uma matéria discursiva. Você vê a avalanche recente de desastres no mundo (tanto naturais como aqueles provocados pelo ser humano) como um sinal de um sistema que está em desequilíbrio ou é tão somente como o universo funciona? Se as coisas estão fora de equilíbrio, o que um indivíduo poderia fazer sobre isso?
O universo move-se ritmicamente em uma disciplina cósmica. É o ser humano que penetra na disciplina cósmica perturbando o ritmo do movimento cósmico, transformando-se na maior causa dos desastres naturais. Ele tem que aprender a respeitar a generosidade e a beleza da natureza e não deveria esgotar sua energia e recursos para o seu uso próprio e egoísta. Como o yoga ajuda em condições físicas como dor na coluna baixa? Distúrbios físicos ocorrem na anatomia congenitamente, como obra de Deus. Esta condição é substituída por uma anatomia artificial, na medida em que o ser humano perturba a anatomia original com hábitos errados. A prática de yoga auxilia no entendimento da anatomia divina e não da anatomia habitual moldada pelos hábitos e comportamento. Cada āsana deve ser executado de maneira a retificar a anatomia habitual distorcida. Quando da execução dos āsanas, deve-se ajustar a anatomia judiciosamente sem perturbar os músculos ou as articulações. Se existe distorção anatômica, então, não é um āsana. Esta é a razão pela qual a minha ênfase é no alinhamento, o qual é um guia para a iluminação. Esta é a chave, não somente para dores na coluna baixa, mas para muitos outros distúrbios.
Esta é uma pergunta hipotética. Entretanto, eu digo que os desastres são causados pelo ser humano, que perturbam o ritmo da natureza trazendo sofrimento. Fonte: Entrevista realizada por Stephanie Tade, em 2005. Publicada em Yoga Rahasya Vol. 25 No. 3; 2018 p. 3 (Edição Comemorativa ao Centenário de Yogacharya B.K.S. Iyengar)
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“Partindo do mais bruto ao mais sutil, não se vê nem o início nem o fim.” B.K.S. Iyengar
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SMT.ABHIJATA SRIDHAR IYENGAR é a neta de Yogacharya B.K.S. Iyengar. Ela comprometeuse com os estudos de yoga aos 16 anos de idade, sob a orientação direta de Guruji, de sua tia Dra. Geeta S. Iyengar e de seu tio Prashant S. Iyengar. Ela é Mestre em Bioinformática pela Universidade de Pune. E, agora, é professora Sênior no Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute (RIMYI), o berço do Iyengar Yoga, localizado em Pune, Índia. Abhijata viajou com Guruji para a Rússia e para a China. Acompanhou Geetaji à Convenção Internacional de Iyengar Yoga do Reino Unido, Austrália, Alemanha e Estados Unidos. Ela também conduziu convenções de Iyengar Yoga nos Estados Unidos, França, Espanha, Itália, Suíça, Polônia, Reino Unido e Israel. Abhijata é uma professora talentosa, com grande energia, clareza e equilíbrio. Seus ensinamentos combinam instruções precisas de āsana com filosofia de yoga. Ela também generosamente compartilha deliciosos casos sobre seu avô. A convite da ABIY, ela estará em São Paulo em maio de 2019 para guiar a 3ª Convenção Brasileira de Iyengar Yoga.
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Um Ano se Passou ... São Muitas as Memórias, Amado Guruji Texto: Abhijata Sridhar Iyengar Tradução: Marcia Neves Pinto
Tenho uma memória vívida de uma aula terapêutica no Instituto. Em uma tarde ensolarada, quatro a cinco meses antes de acontecer o inevitável, um dia como outro qualquer. Conforme o programa, a aula terapêutica começou às 16h. Guruji entrou na aula vestido em seu kurtā de seda e com um dhoti de algodão. Ele sentou-se na plataforma para recuperar a respiração enquanto entoávamos os mantras. A cada vez que isso acontecia, em cada classe, sempre abria meus olhos para olhar para ele. Às vezes, ele também recitaria os mantras. Às vezes, olharia para os alunos ao redor do salão. Às vezes, ele ficaria sentado com os olhos fechados e isso era muito bonito de se ver. *A morte de Guruji ocorreu em 20 de agosto de 2014, portanto há quatro anos. Esta matéria, entretanto, foi escrita há três anos.
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No final do "Hari Om" ele levantou-se e, como um homem em uma missão, dirigiu-se de um corredor para o outro, ajudando a todo mundo. A cada passo parecia lançar um olhar sobre tudo ao seu redor — o aluno, o professor, o corredor, os suportes e até mesmo os observadores. Nada lhe escapava. Aproximadamente às 17h30 daquele dia, Guruji aproximou-se da plataforma novamente e sentou-se. Eu disse a ele que poderíamos ir para casa, já que ele tinha estado lá por um bom tempo. Guruji sabia muito bem como me ignorar, especialmente em situações como essa. Ele ficou quieto olhando para a grade, onde um aluno a quem ele acabara de ensinar torsões estava fazendo ardha chandrāsana com as costas voltadas para a grade. Guruji foi até o aluno e o professor que o estava ajudando e disse: —O que é isto? O professor disse: —Guruji, esta pessoa tem um problema nas costas e o estou ajudando a fazer ardha chandrāsana.
tava 95 anos completos quando isso aconteceu. Como neta, eu não queria que ele se extenuasse. Eu disse: —Tātā, eu faço isso. Por favor, diga-me o que fazer. Ele ignorou-me novamente. Pensei que seria possível que ele não me tivesse ouvido. Então levei minhas mãos para onde estavam as mãos do Guruji, ele veria isso e deixaria esse trabalho para mim. Àquela altura, o dia estava chegando ao fim. A noite caiu, o sol já não estava em chamas, as aves voltavam para seus ninhos e, claro, todos ansiavam por se retirar das tarefas diárias, em casa. Mas Guruji não parecia ter tal plano. Ele me olhou com raiva. Ele não era um homem de suar muito. Mas, naquela ocasião, sua respiração estava mais pesada e ele estava suando. Seus lábios estavam tremendo. Todos estes eram sinais de pura raiva indisfarçada. Eu não
—Eu sei, ele retrucou. —Ensinei marichyāsana a ele, agora mesmo. A perna de base dele está correta? O professor agora estava perdido e parecia ainda mais perdido. Ele apenas murmurou algumas palavras. —Você não vê a cabeça do fêmur? — Guruji perguntou. Guruji empurrou a mão do professor que estava no quadril do aluno e começou a ajustar a cabeça do fêmur do aluno com sua própria mão, o topo da pélvis com a cabeça e a cabeça com a outra mão. Fiquei alarmada! Guruji con-
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aniversário de sua passagem?
sabia o que fazer. Sua simples expressão empurrou minhas mãos para longe do aluno. Ele me olhava como se tivesse me atingido com uma arma paralisante. — Deus pode me chamar a qualquer momento. Deixe-me ao menos ajudar o aluno enquanto estou aqui. Ninguém quer aprender. (...) — Vocês nem usam a cabeça, nem trabalham com o coração. Vocês são todos Trishankus (alguém que está no “limbo” entre dois domínios ou reinos). Não estão nem aqui, nem lá. Eu estou aqui e em todo o lugar. Esta é toda a diferença entre eu e vocês. Guruji então trouxe o aluno para baixo e este tocou os pés do Guruji. — Obrigado, Guruji— ele disse. — Nunca me senti assim. Guruji sorriu para ele, olhou para mim e disse: —Veja... Olhe para o rosto dele agora. Olhe para os olhos. Nunca pensei ter entendido como ler os olhos de uma pessoa neste contexto. Mas ali estava tudo. Tão claro como pode ficar. Os olhos do aluno estavam claros e brilhantes, Guruji olhou para mim e disse: —Se esta é a situação enquanto estou vivo, Deus sabe o que vocês farão quando eu tiver partido. (...) Como sua aluna, o que significa para mim o
Deixe-me compartilhar com você uma história de cerca de dez anos atrás. Era apenas mais um dia de prática no Instituto. Mas, para mim, era o aniversário do falecimento da minha avó, mãe do meu pai. A cerimônia deveria ser realizada na casa dos meus pais, em Aundh. O plano era que eu terminaria a prática às 11h, iria para casa, tomaria um banho, lavaria o cabelo, e então sairia para Aundh para participar. Eu informei isto ao Guruji no início da sessão. O relógio marcou 11h, 11h15, 11h30... Em diferentes momentos, eu poderia ter dado ao Guruji uma dica do horário... Que eu tinha que ir. Mas ele era todo ensino. Eu comecei a ficar inquieta. Finalmente, ele disse: —Sua avó estará mais feliz no céu se você aprender isso corretamente, do que apenas participar dos rituais. Pode ir agora. Nós somos ritualísticos em muitas esferas da vida. Ritualísticos na vida, no comportamento, na prática, na aprendizagem... Poucas vezes o nascimento e a morte são ritualísticos. Nascimento e morte estão além do controle humano. Não pertencem ao nosso domínio. A vida se esvai quando chega a hora. Acontece tão naturalmente quanto, por exemplo, respirar. Simplesmente acontece. A compreensão deste fenômeno não é diferente de uma aula de uttānāsana que Guruji uma vez ministrou em uma aula para mulheres. Ele me disse para fazer uttānāsana. Como eu estava tentando fazer com que os alunos alongassem o tronco para frente, ele disse: — Você não precisa falar tanto. Eles só têm que descer. Fiquei um pouco intrigada com isso. Que tal declaração viesse de Guruji, me confundiu e ao meu aprendizado dos últimos catorze anos 34
sob a orientação de B.K.S. Iyengar e seus filhos. Ele retomou e disse: — Como a flor cai da árvore, deixe seu tronco cair. Nem a flor tem uma mente própria pensando “eu não vou cair”, nem a árvore tem uma mente própria pensando “não permitirei que minha flor se vá”. Podemos dizer: "A flor apenas se entrega à Mãe Terra." Ou podemos dizer: “A árvore deixou a flor ir-se” Onde há o senso de ego, ambas as declarações são tidas como verdadeiras. E, onde o senso de ego não está presente, nenhuma das declarações é tida como verdadeira.
Ali... Exatamente ali... Um velho sábio deitado em um banco de vipārita daṇḍāsana enquanto me guiava no ensino de um āsana, está exposta a lição de vida. Toda a sua vida, ele fez exatamente isso. Enquanto através do corpo ensinava āsana e prāṇāyāma, ele nos ensinava como remover as complexidades e os nós de nossas próprias mentes, de forma a podermos vislumbrar que o yoga está bem aqui. Tão simples quanto uma flor caindo de uma árvore, tão profundo quanto um ato de rendição... Guruji, vamos sentir terrivelmente a sua falta em todos os momentos.
A flor cai. Simplesmente acontece.
SOBRE O LOGO ABHIJATA SRIDHAR IYENGAR TOUR 2019 A identidade visual do Tour 2019 da neta de B.K.S. Iyengar permeia a sua impressionante figura carismática. Quem olha para ela, mesmo por foto, não pode deixar de perceber o quanto seus olhos são expressivos. Quem a vê de perto, sabe que eles são plenos de uma presença inconfundível, regados a afeto e atenção. São olhos negros como um lago profundo, destacados por cílios que desenham uma linha também negra. O branco contrasta com o negro, acentuando a profundidade e trazendo uma sensação de doçura e objetividade, magnetizando-nos. Este conjunto é emoldurado por suas densas e bem desenhadas sobrancelhas que, ao cabo, revelam a expressão singular de seu rosto.
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Foi com este olhar que Kiko Farkas e Gabriela Gennari, designers deste logo, transferiram a personalidade de Abhijata para um sinal gráfico especialmente criado para a 3ª Convenção Brasileira de Iyengar Yoga em maio de 2019. A ABIY agradece profundamente aos designers gráficos pela sua sensibilidade perceptiva e convida a todos para este grande evento que marcará a primeira visita de Abhijata Sridhar Iyengar ao Brasil. As inscrições já estão abertas! Acesse em www.iyengar.com.br e confira! E lembrem-se: associados tem desconto especial neste evento!
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ARTE DO SEQUENCIAMENTO
Procure os Segredos O sequenciamento de āsanas é um dos aspectos mais importantes do sistema Iyengar Yoga. por Karina Grecu* Fotos Carolina Cabral
corpo, mente e coração. É um processo. Para esta edição especial da nossa revista, alusiva ao centenário do Guruji mobilidade desta sequência traz uma abertura enorme, uma possibilidade de “desengessar” os conceitos por vezes deturpados da prática de Iyengar Yoga. Não existe apenas uma maneira de desenvolver a prática. Podemos trabalhar com criatividade e harmonia, usando elementos como permanência/ mobilidade, variações/ posturas clássicas, sequências prontas (listas)/o que seu corpo ou mente necessitam em determinado momento. O talento está nas escolhas. Procure os segredos. Lembre-se: “Yog é um processo de investigação.” Espero que você aproveite essa maravilhosa sequência e que renove seus votos com a sua prática pessoal. 1- Adho mukha vīrāsana 2- Adho mukha śvānāsana 3- Uttānāsana (pés afastados) 4- Uttānāsana (completo) 5- Prasārita pādōttānāsana (completo) 6- Utthita trikoṇāsana 7- Utthita pārśva koṇāsana 8- Ardha chandrāsana 9- Parivṛtta trikoṇāsana 10- Parivṛtta pārśva koṇāsana 11- Parivṛtta ardha chandrāsana 12- Upaviṣṭha koṇāsana 13- Pārśva upaviṣṭha koṇāsana 14- Supta baddha koṇāsana 15- Sālamba śīrṣāsana 16- Eka pāda śīrṣāsana 17- Parivṛtta eka pada śīrṣāsana 18- Sālamba sarvāṅgāsana 19- Eka pada sarvāṅgāsana 20- Pārśva eka pāda sarvāṅgāsana 21- Parivṛtta eka pāda sarvāṅgāsana 22- Pārśva ūrdhva vīrāsana em sarvāṅgāsana 23- Pārśva halāsana *Karina Grecu é uma professora Sênior de Iyengar Yoga. Dirige seu estúdio Ananda Iyengar Yoga Shala em São Paulo desde 2011
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24- Supta Koṇāsana 25- Karṇapīdāsana 26- Śavāsana
1. Adho mukha vīrāsana
3. Uttānāsana (pés afastados)
2. Adho mukha śvānāsana
4. Uttānāsana (completo)
5. Prasārita pādōttānāsana (completo)
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6. Utthita trikoṇāsana
7. Utthita pārśva koṇāsana
8. Ardha chandrāsana ardha chandrāsana
ardha chandrāsana
6.1 Utthita trikoṇāsana
7.1 Utthita pārśva koṇāsana
8.1 Ardha chandrāsana
Agora você irá repetir as mesmas três posturas (6, 7 e 8), porém em postura clássica, com a palma da mão no chão. Mais uma vez, depois do ardha chandrāsana, flexionar e saltar finalizando o lado direito. Então, iniciamos para o lado esquerdo as três posturas juntas e sequenciais novamente de forma fluida. Após ardha chandrāsana para esquerda, flexionar e fechar
9. Parivṛtta trikoṇāsana
10. Parivṛtta pārśva koṇāsana
11. Parivṛtta ardha chandrāsana
Seguindo esta prática mais fluida, as três posturas seguintes (9, 10 e 11) devem ser feitas para o mesmo lado. Depois do parivṛtta ardha chandrāsana , flexionar e saltar finalizando o lado direito. Então, iniciamos para o lado esquerdo as três posturas juntas e sequenciais novamente. Após o parivṛtta ardha chandrāsana para a esquerda, flexionar e saltar finalizando
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9.1 Parivṛtta trikoṇāsana
10.1 Parivṛtta pārśva koṇāsana
11.1 Parivṛtta ardha chandrāsana
Agora repetimos as mesmas posturas (9, 10 e 11), mas de forma clássica, com a palma da mão no chão. Observe que parivṛtta pārśvakoṇāsana também tem o pé de trás no chão. Depois do parivṛtta ardha chandrāsana, flexionar e saltar finalizando o lado direito. Em seguida, fazemos as três posturas de maneira fluida para o lado esquerdo. Após o parivṛtta ardha chandrāsana para a esquerda, flexionar e saltar finalizando
12. Upaviṣṭha koṇāsana (postura clássica)
15. Sālamba śīrṣāsana
13. Pārśva upaviṣṭha koṇāsana Fazer para os dois lados
14. Supta baddha koṇāsana Sem props
16. Eka pāda śīrṣāsana
17. Parivṛtta eka pāda śīrṣāsana
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18. Sālamba sarvāṅgāsana
19. Eka pāda sarvāṅgāsana
21. Parivṛtta eka pāda sarvāṅgāsana Desça com o grande artelho do pé esquerdo na direção do ombro direito e mantenha a resistência da perna de cima
20. Pārśva eka pāda sarvāṅgāsana
22. Pārśva ūrdhva vīrāsana em sarvāṅgāsana Primeiro gire o tronco com as duas pernas estendidas. Depois dobre as duas pernas em ūrdhva vīrāsana, coloque o cóccix para dentro e leve o topo das duas coxas para trás. Expire e entre na próxima postura de forma fluida
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23. Pārśva halāsana
24. Supta koṇāsana (postura clássica) Segure os grandes artelhos
25. Karṇapīdāsana (postura clássica) Mãos nas costas
26. Śavāsana
“É a sua prática que traz os segredos para você. Nenhum professor pode te dar os segredos.” Geeta Iyengar por Karina Grecu
Estar na Índia no Instituto diante do Guruji B.K.S. Iyengar, enquanto ele estava em seu corpo físico, em 2009 e 2014, sem dúvida levou minha sādhanā (prática) para um estado de amadurecimento que eu jamais poderia imaginar. E, durante todos esses anos, tive a grande e boa fortuna de estudar com vários professores Sênior do método, que com suas observações pontuais e refinadas me compeliram a remover uma grande parte das impurezas do meu corpo, mente e coração.
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A frase acima citada de nossa amada Geetaji me desperta para sempre buscar mais camadas na prática pessoal. Para que o processo de transformação do yoga realmente ocorra, precisamos estar presentes. Nosso guru, nossos professores não são como uma lavanderia, como diria Swami Chidvilasananda, uma santa da Maharashtra, onde deixamos a roupa suja e buscamos a roupa lavada e passada no dia seguinte. Ninguém poderá fazer a limpeza por nós. Śauca (limpeza, pureza, o primeiro dos niyamas) só acontece com “um fio ininterrupto de consciência“, como diria o Guruji. Esse fio ininterrupto de consciência é conquistado através da prática pessoal. Durante as aulas, estamos mentalmente e fisicamente abertos e atentos às instruções. “Do it,” como comanda Geetaji; então fazemos. Prashantji diria: “Yoga você pode fazer. Yog é um processo interior, de investigação. Yog você não faz. Yog passa por você.” Essa capacidade de observação exige da mente um silêncio e foco que a medida que se tornam constantes, diários, se transformam naturalmente no “fio ininterrupto de consciência”, permitindo que o āsana penetre profundamente nas camadas do corpo agudamente. Quando o termo yogāsanas aparece na literatura de Iyengar Yoga, trata-se de uma referência conceitual de todo esse processo. No começo é disciplina; é esforço. Então, chegam os benefícios da prática pessoal constante. E com eles, vem a gratidão. Vem a percepção clara de que os āsanas não são algo para se fazer, mas sim um lugar onde você entra, onde você repousa a mente. A partir deste ponto, a disciplina se transforma em amor. E quando isso acontece, o discípulo também se torna devoto, sem perceber. Foi assim que aconteceu comigo ao trilhar o caminho de Iyengar Yoga.
OS TRÊS ASPECTOS IMPORTANTES NO NOSSO SISTEMA Por Prashant Iyengar* Tradução Daniela Santa Rosa
Você disse que sequenciar āsanas, de certo modo, nos permite observar a mente e manipular a mente Vejo que vocês estiveram aqui na celebração do Guru Purnima (1998). Naquele dia, falei sobre os três aspectos importantes no nosso sistema: o primeiro são os detalhes técnicos; o segundo, o sequenciamento; e o terceiro, o tempo.
Estes são todos peculiares ao nosso sistema, no sentido de que é o que o sistema de Patañjali é. Sobre sequenciamento, naturalmente, se você faz apenas uma postura, um āsana, com qualquer profundidade, com qualquer que seja a penetração, terá um efeito particular. Por exemplo, mesmo se você fizer śīrṣāsana com todos os detalhes técnicos, você terá um efeito particular. Mas, então, se você parar sua prática com śīrṣāsana, você é privado da evolução do progresso
*Trechos do livro de Prashant Iyengar, A ‘CLASS’ after a CLASS, Yoga – An Integrated Science (Uma “AULA” depois de uma AULA, Yoga – uma Ciência Integrada). Prashantji concedeu a entrevista transcrita nesse livro em 1998, no RIMYI, em Pune
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que deve vir por conta de sarvāṅgāsana na sequência de śīrṣāsana. Portanto, pelo sequenciamento, você pode aumentar os efeitos de sua prática. E a prática de um āsana pode potencializar seus efeitos a um determinado nível; mas se você deseja ter uma estrutura, então deve haver uma sequência de āsanas. Unicamente fazendo sarvāṅgāsana, você não obterá os benefícios. Você faz śírṣāsana hoje e sarvāṅgāsana amanhã, e depois de amanhã efeitos você pode obter. Mas suponha que você faça um sequenciamento adequado, o efeito do āsana pode ser potencializado. Então, o objetivo do sequenciamento é levantar ou elevar a estrutura da mente serena e entrar no estado yôguico. Quando você atinge uma mente serena ou sublime depois de uma boa aula, você diria que isso aconteceu por causa de um āsana? Você não pode dizer que isso aconteceu por causa de um āsana; nesse caso, depois daquele āsana você deveria ter sentido o efeito. Por exemplo, depois de śīrṣāsana , você deveria ter obtido aquele efeito, mas você não obteve. Você o obteve depois da aula. E foi depois da aula porque a estrutura é impulsionada por causa do correto sequenciamento de āsanas. Então, os efeitos que você obtém, que são chamados de benefícios, podem se potencializar. (...) É como o dinheiro que você coloca em um banco. Quando você faz um depósito, o dinheiro continua a crescer. Mas, suponha que você deposita cem libras esterlinas de
acontecer com sua conta bancária? Ao sequenciar os āsanas, você obtém benefí-
cios acumulados e o efeito geral também pode ser aumentado. E isso não é apenas o sequenciamento, não é apenas sarvāṅgāsana depois de śīrṣāsana, ou śīrṣāsana antes de sarvāṅgāsana. Isto é sarvāṅgāsana de uma maneira peculiar quando você faz śīrṣāsana de uma maneira peculiar, que sarvāṅgāsana tem que seguir. Com os detalhes técnicos da prática, você virá a saber que śīrṣāsana não é o mesmo todos os dias. Embora você possa ter todas as notas do Luz Sobre o Yoga, estas são as técnicas de śīrṣāsana. Se você está maduro na postura, então saberá que as —não estão explicadas no livro e não podem ser explicadas em um livro. Suponha que você leu sobre as técnicas de śīrṣāsana no Luz Sobre o Yoga e você as segue. Mas os efeitos de śīrṣāsana feito depois das extensões para trás serão diferentes de śīrṣāsana feito depois das car as mesmas técnicas. Então, depende de como você fez uma postura e isso determina como você deve fazer a seguinte. É assim que o sequenciamento deve ser construído, não somente posturas em pé, śīrṣāsana, sarvāṅgāsana, setubandha sarvāṅgāsana, viparīta karaṇi. Não há conceito de sequência aí. A técnica da postura dependerá do que foi precedido e de como foi feito. (...) Você poderia dar um exemplo de sequenciamento? Todos os dias vocês observam exemplos de sequenciamento em aula. Sequenciamento não pode ser regimentado, como o Luz Sobre o Yoga menciona um curso ou prática diária, ou algo assim... Desta forma, sequenciamento não pode ser descrito como “esse é o ciclo de āsanas: primeiro, você faz posturas em pé, depois torções,
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então śīrṣāsana, em seguida sarvāṅgāsana”. Não é tão regulamentado. Śīrṣāsana dependerá de como as posturas em pé foram feitas, do porquê as posturas em pé foram feitas. Existem várias razões para se fazer as posturas em pé, vários paradigmas para se fazer posturas em pé. Então, assim que você entender isso, o sequenciamento é algo que deve ser desenvolvido subjetivamente. Até você desenvolver essa inteligência, o professor deve te guiar: “depois disso, faça isso”; “antes disso, faça isso...” mas assim que você entender a psicologia do yoga, você saberá como fez śīrṣāsana e o que deve seguir aquele śīrṣāsana. Não é necessário que sarvāṅgāsana sempre siga śīrṣāsana imediatamente. Depende de como e porque você fez śīrṣāsana. Se você fez śīrṣāsana e quer fazer as extensões para trás em seguida, então não faz sentido algum fazer sarvāṅgāsana depois de śīrṣāsana. Não vai fazer muito efeito.
como você deve fazer as torções antes de sarvāṅgāsana. Esses são julgamentos muito subjetivos. Só nas aulas podemos dar-lhes muitas variantes e todas elas não serão adequadas para todos os 70, 80 membros da aula, porque depende do estado da mente em que cada um chegou aqui. Alguém pode ter um compromisso no tribunal depois da aula, então existe tensão. Muitas coisas estão ali, existem tantos julgamentos subjetivos, e acho que não haveria tal livro mencionando que "estas são as sequências". As linhas gerais estão lá como você as obtém no Luz Sobre o Yoga mas, então, se você vai em direção ao aspecto mais profundo, não pode haver tal ciência, tal ciência tão rígida. É uma ciência, mas uma ciência muito subjetiva. Depende do estado mental particular em que você se encontra naquele momento: se você tem que ir ao tribunal, ou se você está indo viajar.
Suponhamos que você está praticando śīrṣāsana e você vai fazer extensões para trás depois. Assim que você sai de śīrṣāsana, recebe um telefonema dizendo que deve voltar em meia hora. Você diria: “porque deveria fazer posturas de extensão para trás, vou fazer sarvāṅgāsana”, mas você não receberá o benefício adequado porque esse śīrṣāsana (que você acabou de fazer) estava condicionado pelas extensões para trás que deveriam segui-lo. Então, na aula, suponhamos que fazemos śīrṣāsana como um preparatório para as extensões para trás, mas algo acontece, você recebe uma ligação de emergência e precisa sair em 15 minutos e por isso não pode fazer as extensões para trás. O professor fala: “faça sarvāṅgāsana”, você vai fazer sarvāṅgāsana, não há nada de errado nisso, mas o efeito não será atingido — aquele efeito que deveria ser atingido ao fazer sarvāṅgāsana depois das extensões para trás. Então, sequenciamento não é algo regimentado. Depende do seu estado mental, de como você fez a postura, depende de como você deve fazer flexões para frente ou de
Todas essas coisas condicionam sua mente. Você veio à aula, que acaba às 9h, e você precisa pegar seu trem às 9h20; então, naturalmente, todas essas coisas influenciam sua mente. O professor pode estar falando “fique quieto”, “seja sereno”, mas definitivamente, comparado aos outros, você não estará sereno. É uma questão muito subjetiva, não pode ser tão generalizada. Mas você precisa saber os princípios. Uma vez conhecendo os princípios, uma vez sabendo a psicologia e a fisiologia dos āsanas, você será capaz de fazer um cronograma adequado da sequência de āsanas. Todos fazem śīrṣāsana em aula, todos não o fazem identicamente; eles não serão capazes de fazê-lo por causa de diferentes estados mentais. Então, em aula, em certa medida, há uma regulamentação; mas quando se trata de sua prática, você não precisa de um regulamento. Você precisa saber em qual estado está e como você deve montar sua sequência. É uma ciência, mas não uma ciência tão rígida; é uma ciência fluida, porque é subjetiva. E envolve um julgamento subjetivo.
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EVENTOS
ABHIJATA SRIDHAR IYENGAR
Local: Tênis Clube Paulista Datas: 18 e 19 de maio (sábado e domingo) Requisito: 6 meses de prática de yoga (qualquer linha) Investimento: R$600,00 sócios / R$750,00 não-sócios CURSO DE APROFUNDAMENTO Local: Tênis Clube Paulista Datas: 20, 21 e 22 de maio (2ª / 3ª / 4ª feira) Requisito: 3 anos de prática regular de Iyengar Yoga Investimento: R$700,00 sócios / R$850,00 não-sócios CONVENÇÃO + CURSO DE APROFUNDAMENTO: Investimento: R$1.000,00 sócios / R$1.400,00 não-sócios
Abhijata ajustando delicadamente uma aluna em principal do RIMYI
śavāsana
no salão
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CANTINHO DO ASSOCIADO Visando oferecer melhores benefícios para seus associados e ampliar a difusão do conhecimento do legado de B.K.S. Iyengar, a ABIY mantém uma parceria com seus professores para dar desconto para você, associado, conforme segue: - 15% de desconto para associados em dia com suas obrigações para com a ABIY, interessados em participar de workshops, cursos e aulões internacionais ministrados por professores estrangeiros convidados pelo professor associado parceiro; - 10% de desconto para associados em dia com suas obrigações para com a ABIY, interessados em participar de workshops, cursos e aulões nacionais ministrados por professores brasileiros. Em contrapartida, a ABIY divulgará estes importantes eventos em seus canais de comunicação para ampliar a sua divulgação. Confira abaixo os eventos em que você, associado, poderá obter descontos. É a ABIY zelando pelo interesse dos seus associados! Juntos vamos mais longe!
Retiro de Ano Novo 2019 Ve n h a c e l e b r a r m a i s u m a v o l t a a o s o l !
28.12 A 04.01 E M F L O R I A N Ó P O L I S
Informações no site iyengarbrasil.com ou email retiros@iyengarbrasil.com
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Ainda não é associado? Ou não está em dia com suas obrigações, mas gostou de nossa parceria e teria interesse de obter estes descontos e/ou contar com o nosso apoio para a divulgação do seu evento? Entre em contato com tesouraria@iyengar.com.br e associe-se!
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Foto: Raya Uma Datta (extraída de calendário editado pelo RIMYI)
“A mudança não é algo que devemos temer. Ao contrário: é algo que devemos acolher. Pois sem mudança, nada neste mundo jamais cresceria ou floresceria, e ninguém neste mundo jamais avançaria para se tornar a pessoa que deveria ser”. B.K.S. Iyengar