Sanjaya- ABIY em Revista 02

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2018

C E N T E N Á R I O

B .K .S . IY EN GAR

Sañjaya ABIY em REVISTA EDIÇÃO SEMESTRAL MAIO/2018

nº02 ESPECIAL 2ª CONVENÇÃO BRASILEIRA com

RAYA UMA DATTA


VOZ DA DIRETORIA [p.3] ESPECIAL CONVENÇÃO [p.4] CONEXÃO PUNE [p.13] SUTRA EXPRESS [p.19] CONEXÃO BELLUR [p.21] LUZ SOBRE O PRĀNĀYĀMA [p.27] UNIVERSO FEMININO [p.30] LUZ SOBRE A CIÊNCIA [p.33] ABIY ENTREVISTA [p.37] GEOMETRIA DO ASANA [p.39] EVENTOS [p.47] CANTINHO DO ASSOCIADO [p.49]


SAÑJAYA - ABIY em REVISTA FICHA TÉCNICA Presidente Sun Vaz Moura Vice-Presidente Ana Silvia Stocche Comitê de Comunicação (CCom) Coordenação Karla Vasconcellos Redesenho Marca ABIY e Criação Logomarca Centenário Guruji Ana Carolina Fernandes Keila Akemi Design Gráfico Ana Carolina Fernandes Caroline Cantelli Diagramação e Layout Caroline Cantelli Pauta, Edição e Revisão Daniela Santa Rosa Karla Vasconcellos Tradução Filipe Castelo Karla Vasconcellos Régis Mikhail Abud Filho Tania Iglesias Marketing Clarice Maia Cristiane Destri Elenice Maria Casarteli Isabel Zagonel Nicole Bartosik Jornalismo Daniela Santa Rosa Isabel Zagonel Midias Sociais Liana Velasquez de Brito Renan Mazzali Outros Colaboradores Ana Luisa Matsubara (Analu) (Comitê de Treinamento e Formação de Professores) Cyntia Carvalho Deborah Weinberg (Comitê de Ética) Luanda de Moura (Comitê de Eventos) Marcia Monroe

A Revista da ABIY é elaborada pela equipe de voluntários do CCom. Entretanto, todos os associados são convidados a participar enviando suas sugestões, comentários, críticas e correções para o e-mail info@iyengar.com.br

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"Existe uma realidade universal dentro de nós que nos alinha com uma realidade universal que está em todos os lugares.” B.K.S. Iyengar, Luz na Vida

Na fotografia, praticantes reunidos na celebração do 99° aniversário de BKS Iyengar, organizada pela ABIY, em dezembro de 2017, em São Paulo.

Fotografia: Lu De Francesco

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VOZ DA DIRETORIA

ABIY

Juntos vamos mais longe! associados.

Olá, queridos amigos, praticantes e

É com grande alegria que damos as boas-vindas à nossa 2ª edição de SAÑJAYA - ABIY em Revista. Recebam mais um exemplar feito com muito carinho, e que nos traz um pouco mais de conhecimento, histórias e acontecimentos do mundo do Iyengar Yoga. Gostaríamos de agradecer a todos os envolvidos no processo de criação desta revista e a todo o nosso time de voluntários que faz a ABIY continuar operando, crescendo e buscando novas possibilidades de trazer aprendizado e divulgar o Iyengar Yoga no Brasil.

Este ano está sendo muito especial, pois estamos celebrando os 100 anos de BKS Iyengar, comemorando o Centenário de nosso Guruji, e vários eventos especiais estão acontecendo em todo o mundo, unindo assim toda a comunidade de praticantes. Aqui no Brasil, em abril, tivemos o primeiro Curso para Avaliadores durante nossas Provas de Certificação de Professores. Corine Biria conduziu o treinamento de avaliadores de vários países da América Latina que, por iniciativa da ABIY, se reuniram em Florianópolis para refinar e aprimorar a maneira de avaliar um candidato, trazendo união e mais clareza nas questões práticas e pedagógicas das provas. Este evento também proporcionou um ambiente muito favorável para as provas de certificação, construindo assim um processo cada vez mais humano, acolhedor e maduro. Parabenizamos todos os participantes, principalmente os novos professores do nível Introdutório II e Júnior I aprovados durante o processo. Neste mês de maio estamos recebendo o professor Raya Uma Datta, diretamente do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute

(RIMYI), discípulo direto de BKS Iyengar, como professor convidado para a nossa 2ª Convenção Brasileira de Iyengar Yoga que aconteceu nos dias 26 e 27 de maio. Este será um grande encontro para nutrir os praticantes e trazer mais conhecimento e união para toda a comunidade de Iyengar Yoga. Em julho teremos nosso primeiro intensivo em Pune para 80 brasileiros e portugueses que terão a oportunidade de estudar por 10 dias com os professores do RIMYI com tradução simultânea para o português. Uma oportunidade única de estar perto destes professores, visitar o Instituto Iyengar e ter uma vivência da Terra Sagrada e berço do Yoga, a Índia. Para o segundo semestre estamos preparando novas surpresas e em dezembro esperamos contar com cada um de vocês para uma carinhosa e unida celebração do aniversário do Guruji. Aproveitamos para lembrar que em maio de 2019 teremos a visita da neta do Guruji, Abhijata Sridhar Iyengar, para nossa 3ª Convenção Brasileira de Iyengar Yoga. Programe-se! Mais uma vez, agradecemos e honramos este momento que todos nós estamos vivendo e esperamos que todos possam se fortalecer para seguir estudando, aprendendo e compartilhando o conhecimento. Estamos sempre abertos para que entrem em contato conosco em casos de dúvida ou sugestão, para que possamos assim seguir juntos nesta jornada. Desejamos vê-los em breve em algum destes futuros eventos planejados para o crescimento de nossa comunidade com todo o nosso empenho e dedicação! Um grande abraço a todos. Juntos vamos mais longe! Com Amor, Sun Vaz – Presidente ABIY Silvia Stocche – Vice-Presidente ABIY

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ESPECIAL CONVENÇÃO

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ESPECIAL CONVENÇÃO

Entrevista com

RAYA UMA DATTA Professor de muita sensibilidade, profundidade e grande energia!

Entrevista Claudia Diaz Boitano e Pamela Mateluna - Pune janeiro 2018 Tradução Deborah Weinberg

Raya Uma Datta é aluno do Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute (RIMYI) em Pune, Índia, desde os 10 anos de idade. Seus pais foram íntimos colaboradores de BKS Iyengar desde a criação do Instituto. Raya cresceu ao lado de Abhijata, neta de BKS Iyengar, tendo recebido ensinamentos diretamente da família Iyengar. Aos 20 anos, começou a ministrar aulas infantis no RIMYI. Ensina regularmente no Instituto desde 2002 e acompanhou BKS Iyengar e Geeta Iyengar nas últimas convenções que realizaram na Rússia, China, Austrália, África do Sul e Europa. Participou de seminários e convenções em Israel, Canadá, Espanha, Itália, Alemanha, Brasil, Chile e Argentina. Raya é mestre em filosofia e um apaixonado por fotografia. Sua compreensão sobre a prática e filosofia do yoga tornou-se rica através dos muitos anos de convivência estreita com BKS Iyengar. Conjuntamente com Abhijata Sridhar Iyengar, Raya Uma Datta representa a nova geração de propagadores do grande legado de BKS Iyengar, que tem a imensa responsabilidade de dar continuidade aos seus ensinamentos ao redor do mundo. Raya vem ao Brasil pela segunda vez, agora como professor convidado para a 2ª Convenção Brasileira de Iyengar Yoga. Ele é um professor surpreendente que ensina com sensibilidade, propriedade, simplicidade, profundidade e grande energia! Confira a entrevista com ele. Como você definiria Iyengar Yoga para novos alunos? Como eu defino yoga? Entre pessoas da minha geração, digo que yoga é a arte da descontração, a melhor forma de descobrir o que podemos ter. A definição das escrituras, a definição técnica, é a fusão da alma individual à alma universal, o que fica muito na teoria. E é aí que vejo a contribuição maciça de Guruji, pois não permanece só na teoria é claro que há teoria – mas, como Guruji costumava dizer, yoga é um tema emocional e algo que se vivencia. Como conectar esses dois pontos, a alma individual e a alma universal? Isso é o que devemos buscar. Em Iyengar Yoga nós usamos āsanas e prānāyāma como os meios para isso. Eles são as cores, as telas. Mas, como disse Guruji, yoga é tanto o meio quanto o fim, da mesma forma que a busca da vida está no próprio viver, não está fora, em algum nível teórico. Então, em Iyengar Yoga, usamos āsanas e prānāyāma como meios para entender tudo o que está acontecendo. É uma apreciação e conexão com tudo ao redor. É simplesmente encontrar essa sincronização perfeita com tudo ao redor e

consigo mesmo. Você se senta aqui e observa as nuvens passando; essa é uma busca tão importante para o yogi quanto para um pintor. Quando as pessoas sabem muito pouco a respeito do tema, fica difícil de fato dar uma resposta. Então, eu digo que é muito divertido. Outra coisa que eu digo é: dê ao sistema um ano; um ano para você vivenciar e um ano para nós apresentarmos (o assunto). Isso porque o sistema deve ir crescendo dentro de você. Às vezes eu digo isso sobre a Índia também; é preciso deixar que o país cresça dentro de você. É uma viagem, algo que você adentra. Talvez você tenha alguma impressão em uma aula, em uma semana, mas para captar o que é essa prática, você precisa de um tempo para que a experiência cresça dentro de você. Se você tentar explicar e dar sentido rapidamente, você não terá sucesso; mas se deixar o yoga crescer em você, então ele terá um efeito em sua mente e estará com você onde você for. Iyengar tinha uma personalidade tão linda que aquela impressão crescia em você; você ficava hipnotizado por ela. Quando você fica hipnotizado por alguma coisa, há uma atração natural. Portanto, muitas vezes eu sinto que yoga é algo que desenca-

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deia o amor, carinho, intensidade, integridade, para você e os outros. Digo às pessoas que busquem não formar uma opinião rapidamente, que deixem passar algum tempo. Que não corram para apertar ‘curtir’, ‘compartilhar’ etc. Mesmo que você faça ardha chandrāsana perfeitamente, ainda assim, tente não formar uma opinião imediatamente, mas dê um pouco de tempo, deixe estar, não se apresse em fazer o seu comentário; apenas fique com a prática e coisas vão emergir. E as coisas que emergem são bem diferentes.

“Quantas vezes nos apaixonamos por uttānāsana? Ou será que estamos simplesmente fazendo uttānāsana? Se estivermos apenas fazendo uttānāsana, sem estarmos apaixonados por uttānāsana; se, ao ouvirmos a palavra uttānāsana, nossos olhos não se iluminam; se não ficamos arrepiados pensando na postura, então não nos apaixonamos por ela; estamos simplesmente tentando alcançá-la”. Como devemos praticar para ir além da prática física para um nível mais profundo? Muitas vezes vemos pessoas que praticam há 10 anos e nada parece acontecer e outras praticam por dois anos e parecem se modificar tanto. Quais são as chaves? Quando escreve um roteiro, o autor cria um gráfico do personagem. Ou seja, o personagem começa em um ponto e progride em determinada direção, depois passa por alguma situação e muda de direção. Dessa forma, o autor pensa no desenvolvimento do personagem. Quando pensamos em nós mesmos como personagens, precisamos descobrir, como praticantes, qual é o desenvolvimento da prática? Se você está dizendo que no ano zero estava em um ponto e, no ano um estava em outro, e no terceiro ano em outro ponto, “então é uma progressão muito linear, não há movimento ascendente, digamos assim. A compreensão é muito grosseira. As pessoas estão fazendo lindos paśchimottānāsanas, kandāsanas, ganda bherundāsanas e tudo o mais, mas, para mim, o que parece estar faltando é o amor pelos āsanas. Quantas vezes nos apaixonamos por uttānāsana? Ou será que estamos simplesmente fazendo uttānāsana? Se estivermos apenas fazendo uttānāsana, sem estarmos apaixonados por uttānāsana; se, ao ouvirmos a palavra uttānāsana, nossos olhos não se iluminam; se não ficamos arrepiados pensando na postura, então não nos

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apaixonamos por ela; estamos simplesmente tentando alcançá-la. Se você estiver tentando alcançar uttānāsana ou ganda bherundāsana ou qualquer outro āsana da sua escolha, então esse processo tem a ver com ambição. Quando seguimos praticando com a ambição de alcançar algum āsana, podemos alcançá-lo e, no momento que conseguimos, já queremos outra coisa. Por exemplo, se eu quiser 1.000 rúpias, daqui a pouco quero 10.000; depois, minha ambição infla para 100.000 rúpias e assim por diante; assim é a ambição. Eu consegui uttānāsana hoje, então eu quero fazer paśchimottānāsana amanhã, ubhaya pādāngustāsana no dia seguinte, depois kūrmāsana e assim por diante. Essa é uma progressão que vem da ambição, e a ambição necessariamente vem do ego. O ego tem ambições. A emoção não tem ambição. Emoção é como quando você quer conquistar uma pessoa: quando você quer atrair uma pessoa, você se torna muito gentil. Se você quiser possuir uma pessoa, aí a história é outra. A questão é, portanto, se você quer possuir uttānāsana ou quer se apaixonar por uttānāsana. Se você estiver apaixonado por uttānāsana, você será muito mais terno, ao passo que, se quiser possuir uttānāsana, você será um mestre que quer escravizar uttānāsana, o que em si é impossível. Você não pode possuir uttānāsana, não importa o que faça, você nunca vai poder possuir uttānāsana. É um fato; é como se eu quisesse possuir a natureza. Você não pode possuir a natureza. Você não pode possuir uttānāsana - não é uma motocicleta ou um carro que você pode ter. Você pode estar em uttānāsana. E, para isso, a configuração mental e a configuração emocional precisam entrar… é por isso que a Abhijata estava mencionando outro dia que este é um tema 90% emocional. É por causa dessa emotividade – imagine que você esteja querendo atrair uma pessoa. Seria atrair o termo certo? Não sei qual é o termo apropriado, mas estou falando de um caso com você mesmo. Por exemplo, quando você vê um pássaro tentando atrair outro, percebe como todo o ser dele muda? Isso acontece conosco quando estamos estudando āsanas e prānāyāma? Por que falo em āsanas e prānāyāma? Porque são os meios com os quais estamos lidando. Acho que alguns de vocês estavam presentes quando eu disse que as pernas de uttānāsana têm que ser como um penhasco e a coluna tem que descer como uma cachoeira? Imagine um penhasco, o oceano e um restaurante onde um casal está sentado ao pôr-do-sol... Será que criamos esse ambiente em uttānāsana? Como você seguraria a mão dessa pessoa? Qual seria a


textura desse toque? Você seguraria brutalmente ou gostaria simplesmente de estender a mão? Da mesma forma, quando você segura seus tornozelos em uttānāsana, qual é a textura desse toque? Isso determinará se essa prática de āsanas e prānāyāma produzirá qualquer efeito ou não, mesmo após 20 anos. Honestamente, vejo as pessoas fazendo trikonāsanas e kapotāsanas ou outros āsanas muito fortes e claros, mas quando sento para conversar, percebo que são pessoas com estruturas tão rígidas, então eu me pergunto o que está acontecendo… Mas como aprofundar a prática? Pessoalmente, detesto a expressão “aprofundar a prática”. Tudo bem, eu até entendo o clichê. Vejo os anúncios de workshops de como “aprofundar a sua prática” e tendo a revirar os olhos. Não existe nada disso. Honestamente, acho que tudo isso é marketing, estratégias e cartazes chamativos. Você não precisa de um pôster para dizer como a Lua é linda; a Lua é linda e pronto. Āsana é lindo e pronto. Quando você está apaixonado por algo, você busca aquilo por inteiro, você faz o que for preciso, e essa é possivelmente uma das razões pelas quais BKS Iyengar sempre disse que “se a sua prática for uma prioridade, tudo mais a seguirá”. Como diz Prashant frequentemente, vejo muitas pessoas praticarem por anos e anos e nada muda, isso porque a prática não foi uma prioridade. Eu tenho tentado conectar duas citações de Guruji: “o corpo é meu primeiro acessório”, o corpo como acessório, e “o corpo é meu templo e āsanas são minhas preces”. Se conectarmos esses dois pontos que Guruji nos deu, então começaremos a entender Iyengar Yoga de uma maneira muito melhor. Ele está desenhando um gráfico que não é linear; tem uma curva. Se tentarmos rastrear essa curva, começaremos a entender as coisas de maneira diferente. Venho sentindo que, em nosso sistema, cada vez mais as coisas estão sendo tomadas de forma muito linear e progressiva. Talvez seja uma abordagem ocidental, eu não sei. As coisas não são lineares, absolutamente. Cem coisas distintas acontecem simultaneamente. A flor desabrocha por inteiro ao mesmo tempo. Não é uma pétala de cada vez, não é algo progressivo nesse sentido. Toda essa ideia do que fazer nas extensões para trás, ou o que fazer para tal e tal, não é assim.

afinal faço parte desse grupo de professores. Qualquer um que tenha estudado com Guruji é igual. O que cada um tira de um ensinamento é necessariamente diferente de pessoa para pessoa. Alguém morando a milhares de quilômetros de distância que tenha estudado com o livro Luz Sobre o Yoga pode ter aprendido mais do que uma pessoa que ficou com ele por 10 anos, talvez, eu não sei. Seria muito arrogante dizer que os professores de Pune entenderam Guruji melhor do que outra pessoa. Quando a família Iyengar me diz para aceitar um convite para ensinar no exterior, faz isso com minhas necessidades em mente. Como seu discípulo, dizem para eu ir ou não. Não como uma corporação. A primeira vez que Guruji me disse para ir a algum lugar para ensinar, eu disse que não queria ir. Depois de um tempo, ele me perguntou por que não, e eu respondi: “Acho que não tenho nada para contribuir”. Nessa hora ele retrucou: “Não cabe a você decidir, eles não estão chamando você especificamente, eles estão lhe chamando porque você vem deste lugar. Então, é seu dever ir e compartilhar o que você aprendeu”. Então, é isso que eu tento fazer; não é sobre mim, não é sobre o Raya. Simplesmente tento não atrapalhar. Os ensinamentos são deles e eu tento, dentro da minha capacidade limitada, compartilhá-los. Se isso é importante ou não, o que eu posso dizer? Sinto que há uma armadilha aí. No ano passado, estavam me apresentando na Bélgica e disseram gentilmente: “Esse professor vem de Pune e é um professor sênior”, e eu disse “Eu não!” O que veio à minha mente como um flash naquele momento foi que a maioria dos professores seniores são seniores porque têm juniores; eles não fizeram nada, eu não fiz nada para merecer ser chamado de sênior. Aconteceu de eu estar por aí, aconteceu de haver pessoas que vieram depois de mim e isso me empurrou para frente da linha e eu me tornei sênior. Eu não mereci nem fiz nada que me qualificasse para isso. Agora, o que está acontecendo é que as pessoas passam 10 ou 15 anos e dizem coisas como “eu já pratico há 15 anos”. O que são 15 anos? O que são 30 anos? Eu lembro

Você acha importante que os professores do RIMYI viagem para o exterior para divulgar os ensinamentos de Guruji? Você se sente como um embaixador? Você considera isso importante estrategicamente? Não posso dizer que os professores de Pune deveriam estar viajando. Quem sou eu para dizer algo assim? Eu teria que estar me gabando,

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quando Guruji disse, certa vez para alguém que estava dizendo que já vinha a Pune há 20 anos: “Você vem aqui há 20 anos, um mês por ano, o que significa que esteve aqui quase 2 anos, ou seja, nada! Você é um iniciante, pratique!” Ou seja, tudo é uma questão de perspectiva. Claro que é uma coisa difícil ter passado 30 anos, ou 20 anos como eu, fazendo algo e saber o quão estúpido você ainda é! Claro que você gostaria de ter chegado a algum lugar, que gostaria de ter progredido mais nesse tempo. Também venho pensando que atualmente somos tão espertos, tão espertos com as palavras, que a gente se engana muito eficientemente. Enganar os outros é sempre fácil, mas aprendemos a também nos enganar com muita eficiência. Todos vocês já participaram de diferentes workshops e todos nós nesta mesa somos professores. O quão difícil é dar um workshop de dois dias e impressionar as pessoas? É muito, muito fácil impressionar alguém em dois dias, três dias, uma semana. Você não precisa fazer nada, e as pessoas vão se impressionar. Isso não serve de critério para avaliação. Por isso Prashantji diz que sua avaliação deve ser feita por alguém que de fato valha a pena avaliar você. Hoje em dia somos reconhecidos e avaliados por pessoas que na verdade não sabem o suficiente. Eu não quero ser desrespeitoso com as pessoas que demonstram sua apreciação, mas, honestamente, eu sinto que, se as pessoas ficam impressionadas ou gostam do meu ensino é porque Iyengar Yoga tem essa potência, os ensinamentos do Guruji são tão poderosos, tão extraordinariamente exuberantes que chegam até as pessoas, mesmo passando por um filtro tão ruim quanto eu. As pessoas falam sobre como a Lua é linda, mas tecnicamente a Lua é apenas uma pedra grande e gorda que reflete 7% da luz que vem do Sol. Então, se você acha que eu sou bonito, eu sou apenas uma rocha grande e gorda que parece linda, mas a luz está vindo de algum outro lugar, então eu não posso aceitar o crédito. Mas agora, com a nossa esperteza, e com as palavras, e as expressões e o drama e a exposição, ficamos espertos demais, de forma que é prejudicial para nós mesmos. Somos prejudicialmente espertos. Não estamos nos tornando sábios, estamos nos tornando sabidos.

“Como praticantes, temos que aprender a respirar, a brincar, se divertir, apreciar. As pessoas estão se tornando robocops, programadas; isso não funciona”.

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Parece que nossa abordagem sobre as certificações no Ocidente é diferente daqui, talvez distorcida. Qual a sua opinião sobre os certificados e o processo de Certificação criado pelo Guruji? Veja, se vocês estão embarcando em um voo e escutam: “Senhoras e senhores, este é o Capitão Raya falando, muito obrigado por escolher a Iyengar Yoga Airlines. Eu não tenho brevê, nunca pilotei um avião antes; da última vez que eu tentei, caí; não tenho licença para pilotar, mas sei andar de bicicleta! De qualquer maneira, sente e relaxe.” Você se sentaria confortavelmente? Neste caso, você quereria alguém que soubesse pilotar, certo? A certificação é como obter um brevê, é tirar as licenças, mas não têm nada a ver com o prazer de voar nem com a estética do voo. O problema é que atualmente tiramos a licença e nos tornamos pilotos comerciais. Está certo, é muito importante que você obtenha a licença e que seus alunos saibam disso. De fato, e eu diria que há um bom sistema sobre como fazer isso, como se equipar para se tornar um professor de Iyengar Yoga. Imagine que você queira ensinar kapotāsana; você deve ter praticado a postura cerca de 2000 vezes antes de tentar ensiná-la, você deve ter abordado a postura de centenas de maneiras diferentes, estudado diferentes “condições climáticas”, o que você faria se tivesse que pousar em diferentes condições, ou se estiver nevando, como você faria, e assim por diante. Assim, quando você tira uma licença, é um sistema seguro que diz que você está equipado e preparado para enfrentar essas situações. Por isso a certificação é importante. O problema é quando você considera esse processo de certificação como praticante. Como praticante, não podemos levar em consideração a certificação. Eu diria que o programa de estudos de um praticante é completamente diferente. Não tem nada a ver com o programa de estudos de


alguém que quer ensinar. Se você quer ser um professor de um determinado nível, você segue um plano de estudos e aprende aqueles āsanas específicos da lista de um ponto de vista particular, você pensa neles. Você tem que pensar naqueles āsanas. Por exemplo, digamos uttānāsana: como você ensinaria isso a uma pessoa muito rígida, ou para alguém mais leve? Mas essas coisas são necessariamente enraizadas na prática, então você sempre precisa ser um praticante primeiro; depois, ensinar virá de maneira natural. É aí que acho que está havendo erro; se você estiver praticando pensando em um determinado nível de certificado, isso nunca funcionará! Digamos que vamos preparar a terra para plantar um jardim, se você começar criando uma estrutura grande e dura, ele não vai respirar. Como praticantes, temos que aprender a respirar, a brincar, se divertir, apreciar. As pessoas estão se tornando robocops, programadas; isso não funciona. Para mim todo esse processo de alcançar āsanas para o próximo nível de certificação é muito fixo em um alvo; como um headhunter, você quer chegar a algum lugar, e para isso você faz isso e aquilo. Não importa se na sua lista tem kapotāsana ou uttānāsana; como praticantes nós precisamos conscientemente esquecer essas listas. Se o praticante for seguir alguma lista, deveria ser Luz Sobre o Yoga, Light on Prānayāma e Light on the Yoga Sūtras of Patañjali. Se não, assim que temos uma lista, empacamos. Isso é garantido. Novamente, estaremos caindo na armadilha do pensamento linear. Nós não vamos sentir a prática porque vamos nos forçar a ir em uma direção particular, e eu não acho que é uma maneira orgânica de crescer, por assim dizer. Eu não sei o que você tem que fazer para ser um professor de um determinado nível, porque tecnicamente eu não sou um professor certificado de Iyengar Yoga, mas essa é uma linha de pensamento diferente. Para se tornar um professor, a lista de posturas que você está estudando não pode limitar sua mente de praticante. Você não pode se limitar àquelas posturas em sua prática... Não funcionaria para mim; seria um processo descarrilhado. Não importa se eu passo seis meses sem fazer kapotāsana ou se não faço uttānāsana por seis meses; não que isso tenha acontecido. Mas atualmente as pessoas querem “cobrir” um plano de estudos. Elas têm posturas de segunda-feira, terça-feira e assim por diante. Não estou dizendo que isso não tenha sido ensinado pelos Iyengars. Guruji disse categoricamente que você precisa trabalhar metodicamente em todas as categorias diferentes de āsanas, mas por quantos anos? E se depois de 10 anos nada mudou? Porque você

seguiu cegamente essa estrutura dura por anos e anos e não aprendeu a voar! As pessoas ficaram presas nessa forma linear, linear, linear. Por exemplo, quando você vem para Pune pela primeira vez e você quer ir para Decan, você sabe que, do Lalit Mahal você vira à direita e segue direto pela Ferguson College Road. Mas, depois de um tempo, você aprende que pode tomar outras ruas que não são a avenida principal e são muito mais tranquilas a pé, e começa a encontrar vias secundárias.... É assim que você se torna um praticante que conhece todo o ethos da prática. Neste caso, se você quiser fazer parivrtta pārśvakonāsana e ardha matsyendrāsana I e, em seguida, ekapāda koundyniāsana, ainda terá uma linearidade. Mas se você pensa “na minha lista de āsanas para este ano não tem ekapāda koundyniāsana”, então você perde o bonde…. Digamos que você tenha visto pārśva bakāsana em Luz Sobre o Yoga e ficou fascinado, então você faz um processo reverso e se pergunta como fazer para girar? Talvez de pāśāsana; e como eu compreendo pāśāsana? Talvez marīchyāsana III deva ser entendido primeiro; talvez eu devesse ter feito parivrtta pārśvakonāsana e parivrtta trikonāsana antes e, antes disso, trikonāsana e tādāsana. Portanto, é uma teia de aranha, não é linear. Com uma lista, você sempre permanecerá linear, sempre pensará em “ticar” (fazer um “x” em um quadrado) e isso não funcionará. A prática não pode ser marcar um “x” em uma lista igual a um cardápio do McDonalds. A prática não pode ser assim. Às vezes pode ser assim: digamos que hoje você queira trabalhar em direção à kūrmāsana, então você faz um retrocesso para estabelecer com o que você vai começar. Mas depois de ter feito isso, um dia essa linha tem que ser quebrada, não importa o nível que você está, introdutório ou sênior, essa lista se torna realmente um obstáculo. Não estou dizendo que você não deva aprender as estradas principais, estou dizendo que não deve ficar preso a elas. Talvez essas estruturas tenham sido projetadas para abordar corpos e mentes ocidentais? O que estou entendendo é que estamos sendo lineares demais, é aí que nos perdemos? Eu sempre empresto as palavras que já foram ditas, “vrttayah pañcatayyah klistā aklistah”. As mesmas coisas podem ser klistā ou aklista. As mesmas coisas podem servir para bhoga e apavarga. Se estas listas parecem ser mais aklista, tudo bem. Se elas estão se tornando klista, então há um problema. Parece que, frequentemente, elas estão se tornando klista por causa da maneira como nós as abordamos. Porque, como praticantes, o que estamos fazendo é “vrtti sārūpyam itaratra”, nós estamos fazendo “sārūpyam itaratra” com as listas.

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Como praticantes, estamos nos definindo, nos identificando com as listas. No momento em que você pensa que esta lista é a sua prática: klista vrtti. Isso é klista vrtti. No momento em que estamos nos identificando com as listas, com os cronômetros, com “oh, fiquei 5 minutos em paśchimottānāsana”: klista vrtti! Você ficou em paśchimottānāsana pelo tempo que você curtiu paśchimottānāsana. Você simplesmente estava em paśchimottānāsana, você estava ali de forma atemporal: aklista vrtti. Se você devia ficar em uttānāsana por um minuto, e você ficou 40 segundos ou dois minutos não importa. São diretrizes, não são regras escritas em pedra. Todo nosso conflito é que estamos nos identificando com essa rigidez e nos tornando rígidos, por isso estão se tornando klista. Começamos a nos sentir ameaçados porque estamos rígidos dentro dessa estrutura. Isso é um problema. Queremos ser seniores não sei para quê. Estamos aprendendo kapotāsana por kapotāsana ou como um caminho para vrśchikasana ou ganda bherundāsana? Neste caso, então, meu kapotāsana se torna muito divertido, se não,se torna doloroso porque é isso que “eu quero alcançar”. Isso é uma coisa dura. Não estamos fazendo as coisas pela diversão, pela alegria de fazê-las. Não estamos fazendo as coisas pela diversão. Veja, não acho que são as certificações que estão criando isso. Não podemos culpar o processo de certificação ou avaliação. Não sei como são as avaliações, não tenho essa experiência, mas acho que precisamos ver esses processos de forma diferente: se passarmos, ok; se não passarmos, ok. É como algumas pessoas na escola que querem ter a descrição e cinco explicações sobre um poema, enquanto outras são tomadas por sua métrica e harmonia, e mergulham nele. As primeiras estão preocupadas com o que terão que escrever na prova a respeito daquele poema. São tipos diferentes de pessoas. Escutem uma aula que Geetaji ensinou em dezembro 2017. Você não precisa das certificações para se motivar. Se você está com lesões, por que prestar a avaliação? O que importa? Que diferença faz? Deixe os certificados de lado, você será mais livre! O que estou dizendo é, faça as coisas que são para sua própria alegria. Tente pular para ganda bherundāsana só para tentar fazer, porque tem curiosidade; porque você escutou um poema e aquilo o inspirou a ler o livro todo. Os certificados vão te apresentar um poema, seu significado e perguntas a respeito; alguns vão chegar ao ponto de dizer que essas são as respostas ideais. Bobagem! Que nada! Nada disso. Infelizmente, agora, as pessoas seguem uma fórmula porque é mais fácil. Fórmula é a coisa mais

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fácil de seguir. E como estamos cada vez mais espertos, temos fórmulas. É assim que tem que fazer, é desse jeito que se faz, tem que ser de determinado jeito para determinado avaliador etc. E aí todo o sistema está sendo afetado por isso, porque estamos pensando dessa forma. O ponto não é ter a resposta certa. Não há uma resposta certa. Há centenas de respostas certas e centenas de respostas erradas. Tem que ter espaço para respirar. Estamos empacados como praticantes nessa linearidade dos certificados. Nós estamos parando nessa meta de alcançar uma postura e depois guardá-la no armário. O ponto é a alegria. Deixe kapotāsana ser uma alegria e ele estará sempre disponível para você. Essa amizade em relação aos āsanas, ao pranāyāma, ao corpo, à respiração, essa amizade deve estar presente. E, na minha opinião, o que estamos fazendo é que estamos tentando ser proprietários. Estamos tentando nos apossar dos āsanas, como se fossem um cachorro na coleira que você de repente diz: “Kapotāsana, vai!”.

“O ponto não é ter a resposta certa. Não há uma resposta certa. Há centenas de respostas certas e centenas de respostas erradas. Tem que ter espaço para respirar’. Outra coisa que está acontecendo são os professores ”faladores”. Isso foi algo que Guruji falou em uma entrevista. No tempo dele, suas ações vinham antes das palavras. É tão conveniente dar um workshop e não precisar demonstrar nada. Posso dar seis semanas de aula sem demonstrar nada. Posso usar centenas de palavras. Os Iyengars já falaram tanto, basta fazer copiar/colar, copiar/colar, ou até inventar seu próprio blá blá blá. Quem vai verificar? Às vezes penso nisso: que tolice eu estou falando? Quando as pessoas sabem que o Raya vem de Pune, então elas confiam, seguem o que estou falando, não sabem que a tolice é minha. Você vê várias coisas estranhas, nas fotos, etc. Nunca vi os Iyengars ensinando essas coisas. A certificação tem seu lugar, mas não tem nada a ver com a estética. Temos que ter as certificações? Com certeza. Há certificado para pilotar um avião, um carro, uma motocicleta, tudo isso, e não tem nada a ver com o prazer de pilotar. Você precisa apreciar a estética? Cem por cento de certeza. É diferente ensinar ocidentais? Você teria algum conselho para os ocidentais? Não acho que é uma questão de india-


nos e ocidentais. Não há diferença na forma de ensinar. Há tipos de corpos diferentes em todo lugar, todos têm cinco vrttis, dormentes ou ativos. Prashantji tem lembrado ultimamente que Guruji era cientista, artista e filósofo; precisamos ver se estamos equilibrando essas 3 pernas do tripé deste sistema. Qual é a pergunta que você gostaria que perguntassem nessas entrevistas? Tenho muitas perguntas já (risadas), mas posso compartilhar uma que vem me ocorrendo ultimamente: Como transmitir como é alegre esse sistema? Realmente tenho buscado transmitir o quão extraordinariamente exuberante belo e feliz é esse sistema. Ele se tornou muito regrado, tem que ser assim, não pode ser assim. Nenhum dos três Iyengars tinha isso. Nenhum dos três. Absolutamente. Posso dizer isso com total convicção, pois os vi de perto o suficiente. Como se tornou tão duro, compartimentado. Não é compartimentado. É um jardim lindo, é um oceano! É isso que estou tendo dificuldade de entender, para onde foi essa beleza? Muito obrigada.

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Apoio:


CONEXÃO PUNE Dando início às comemorações do centenário de BKS Iyengar, Sri Prashant Iyengar conduziu uma sessão especial de abertura de 17 a 22 de dezembro de 2017. Praticantes com 10 ou mais anos de prática de Iyengar Yoga tiveram a oportunidade de participar deste evento, realizado no PYC Hindu Gymkhana, localizado a 3Km do RIMYI em Pune. O evento marcou o início de um longo e auspicioso ciclo de comemorações alusivas a data em que BKS Iyengar completaria 100 anos em 14 de dezembro de 2018. A brasileira Cyntia Carvalho, única representante do nosso país no evento, praticante dedicada e professora certificada pela ABIY, compartilha aqui as suas memórias e impressões deste evento tão especial. Fazendo reflexões sobre sua prática pessoal à luz de algumas obras de autoria de Prashant, ela revela preciosas informações, bem como postula interessantes questionamentos para que a comunidade brasileira de Iyengar Yoga possa conhecer e refletir sobre a maneira como pensa este grande e enigmático professor, filho e discípulo direto de Guruji.

SESSÕES COM PRASHANT IYENGAR - DEZ 2017 por Cyntia Carvalho

17 de dezembro de 2017 Primeiro dia das sessões com Prashantji Estava muito feliz por ter a oportunidade de viver aquele momento! Prashantji começa: "Ansiedade e expectativa não favorecem a prática do yoga. Isto aqui não é um intensivo, pois isto significaria que vocês iriam aprender muita coisa em um curto espaço de tempo. Toma-se muito tempo para aprendermos alguma coisa de forma profunda. A forma de aprender yoga não precisa ser muito formal o tempo todo, pois yoga é algo natural." Intensivo não é a forma dele e tão pouco é o formato do encontro. Ele conta sobre a relação Guru-discípulo, de como se desenvolvia esta relação no passado. O discípulo passava a viver com o Guru na casa dele. Era um ambiente de intimidade. Um passava a conhecer muito do outro. Pelo que entendi, o ensinar e o aprender precisam desse

conforto de "estar em casa". E Prashantji esperava que fôssemos mais naturais e informais. Uau! Era o que meu coração e minha mente precisavam. Algum dia de setembro 2007 Minha primeira vez na Índia e no Instituto. Me inscrevi por 3 meses para participar das aulas intermediárias no primeiro andar. Meu primeiro contato com Prashantji foi assistir parte de sua aula sentada na escada, enquanto aguardava o início da minha aula no andar superior. Pensava: "Será que vou conseguir entendê-lo um dia? Que inglês difícil..." Setembro de 2008 a janeiro de 2009 Retorno no ano seguinte, agora um pouco mais desenvolta por conta da experiência anterior. Fico por cinco meses e participo

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novamente das aulas intermediárias. Sabia que ainda era cedo para as aulas no salão principal. Durante este período, além das aulas intermediárias e das práticas pessoais no salão principal, entro em contato com três livros que me iniciaram no processo de aprender a aprender a partir de Prashantji. O primeiro foi um exemplar da Revista Yoga Rahasya de 2006. Era uma edição especial dedicada à Prashantji. Percebi durante a leitura que Prashantji parecia muito singular. Ele conta do seu início no yoga, de que demorou um bom tempo para seu interesse em yoga acontecer. Fala sobre sua natureza introspectiva e observadora e da necessidade de estarmos em contato com nossa própria natureza. "Alunos sinceros de Guruji tentam ser Guruji, mas não podem... pois esta é a natureza de Guruji..." Bem, isso mexeu comigo. Os outros dois livros foram: A Class After a Class (Uma Aula Após uma Aula) e Yoga and the New Millenium (Yoga e o Novo Milênio). E é sobre estes dois livros que me fazem muita companhia até hoje que gostaria de compartilhar alguns pontos com vocês. O que de fato nosso Guruji fez pelo yoga? Antes de Guruji, aspectos do yoga como āsana e prānāyama eram considerados exercícios. Āsana, em particular, não poderia ser relacionado a adhyatmic sādhana (ciência sobre o entendimento da alma) e era considerado mero exercício físico. O principal propósito do āsana que Patañjali menciona não é físico; não é um ganho para o corpo ou para o bem estar físico. Nenhum outro livro ou sistema pode provar ou convencer de que āsana é espiritual no seu propósito. Somente Guruji pode desenvolver o processo de "adhyatmikização" do āsana. A importante característica de adhyatma é objetificar os vários instrumentos que nos compõem: corpo, mente, inteligência, sentidos, consciência, emoções. O processo de autoanálise e autoinvestigação que surgem a partir da objetificação são a marca do nosso sistema. De fato, não é nosso sistema, mas aquele ao qual Patañjali se refere como āsana no Astanga Yoga. Assim, o propósito do āsana é divulgado e aberto por Guruji. Há três aspectos importantes em nosso sistema a considerar:

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1. Técnica Os aspectos técnicos são meticulosamente observados pelos Iyengars, por professores de "Iyengar" e pelos estudantes de "Iyengar". Muitas vezes nosso sistema é considerado complicado, em razão destes "detalhes técnicos”, os quais proporcionam um portão de entrada para a internalização (Prashant usa o termo "intrincacies", aqui traduzido como "detalhes técnicos"). Eles expandem as avenidas e abrem os canais para procedermos da camada física do corpo e descobrir a gloriosa mente interna, para assim atingir o propósito psicomental do āsana diretamente conectado a citta-vrtti-nirodha. 2. Sequência A partir de uma sequência apropriada podemos aumentar o efeito da prática. A prática de um āsana que é desenvolvido com determinados detalhes técnicos produz um efeito até um certo nível mas, se desejamos desenvolver uma estrutura, é necessário praticar uma sequência correta de āsana. Sendo assim, o sequenciamento tem como propósito elevar e aumentar a estrutura da mente serena e entrar em um estado iogue. Uma vez que você passa a entender a psicologia e a fisiologia do yoga e desenvolve a inteligência apropriada, você percebe que o sequenciamento pode ser subjetivo. Você precisa saber em que estado você está e, a partir daí, desenvolver a sua própria sequência. Mas se você não conhece a fisiologia e a psicologia do āsana, você sempre dependerá de um professor para dizer-lhe o que fazer, como fazer e o quê não fazer. Esta qualidade de julgamento subjetivo das sequências deve ser desenvolvida e isto toma tempo. Até que isso aconteça, você dependerá de um professor. Todos fazemos śirsāsana nas aulas, mas não fazemos de forma idêntica. Isto acontece por conta das diferentes estruturas mentais. Então, em aula, de alguma maneira, há uma certa regimentação. Mas quando o desenvolvimento de sua prática floresce, você não precisa deste regimento. É uma ciência, mas não é tão rígida assim. É uma ciência fluida, porque é subjetiva. Ela envolve julgamento subjetivo. 3. Tempo É o tempo necessário para desenvolver um processo. Permanecer em um āsana por um período prolongado não é para simplesmente


mostrar força de vontade. O tempo ajuda na construção do efeito. Prashantji chama o tempo de "período gestacional". O aspecto tempo serve para criar uma circulação dentro de nós que é peculiar àquele āsana. Isto é importante para a evolução da consciência, para mudar ou sintonizar com o nosso estado mental. O tempo não é medido apenas marcando-o em relógios ou cronômetros. É o tempo metabólico, celular com todas as devidas absorções. Permanecer 10 minutos em śirsāsana não significa que você ficou efetivamente este tempo na postura. Ao que parece, ficamos muito menos tempo na postura do que nossos relógios registram. Estes três aspectos são tão integrados que eles não funcionam de forma isolada. A integração destes três aspectos forma a quarta maravilha do nosso sistema. Portanto, técnica, sequência, tempo e, o mais importante, a junção destes três aspectos, são marcas importantes do nosso sistema. Tendo em vista estas considerações de Prashant, poderíamos estar errando na forma como abordamos e compreendemos a prática? A ciência do yoga e a técnica da prática são tão amplos e profundos que há, sim, parâmetros seguros que indicarão se você está na direção correta. Através do seu próprio desenvolvimento na prática, você terá sabedoria, inteligência, percepção e também o discernimento subjetivo sobre ela. Fluidez no corpo não significa liberdade no corpo mental. Portanto, não olhe para o āsana como postura física. O āsana existe para dar-nos acesso à mente e, se isto está acontecendo, não há problema se o corpo é rígido. O importante é conhecer os efeitos das posturas. Sim, podemos ter a atitude de querer ir em frente para melhorar a postura, para ter melhores efeitos e não para alcançar o pé. A geometria externa do āsana é um instrumento para criar a geometria interna da postura. O āsana não precisa ser fotogênico, mas sim “organogênico.” 1. Início (upakrama) A fase inicial do āsana condiciona seu corpo, mente, inteligência e sua consciência para entrar na postura. Envolve as técnicas de como fazer o āsana. A pergunta que surge é: por que estou fazendo o āsana? É para gerar energia? É para relaxamento e recuperação? É para apren-

der? Você está fazendo o āsana para aprender, praticar ou consolidar? 2. Estado (sthiti) Significa estar no āsana e não apenas fazer. É esperado que fiquemos no āsana e não constantemente fazendo. No momento que entramos na postura, se inicia um processo de orientação para todas as células, todas as articulações, músculos, pele, carne, ossos, consciência e tudo o que podemos identificar em nosso corpo. Tomamos algum tempo, algumas respirações para atingirmos nossa postura final. Então, até atingirmos a postura final estamos dando orientação, direção para nossa postura. Em seguida precisamos ter coordenação para que possamos manter o āsana e não perdê-lo ou encerrar antes que se crie a circulação do āsana. O aspecto tempo começa quando estamos em um estado coordenado. Sendo assim, há 2 aspectos a considerar em nossa prática: um é aprender as posturas e o outro é consolidar. Mas muitas vezes só praticamos para aprender. Queremos fazer mais. Queremos fazer sempre melhor. E é por isso que queremos estar sempre aprendendo, aprendendo e aprendendo… fazendo, fazendo e fazendo. Porém nunca consolidamos. Para consolidar, não é esperado que você aprenda mais ou faça mais. Se você estiver fazendo mais a todo momento, você não consolida e assimila. Você não deve pegar mais um pedaço ou dar mais uma colherada. O primeiro ponto a aprender para consolidar é que o cérebro deve ficar quieto. Desta forma, algumas vezes, você deve praticar de forma que o parâmetro é deixar o cérebro quieto, não tenso, não endurecido. Descubra seu parâmetro, seu nível óptimo. Sempre vamos na direção do máximo. Por isso devemos praticar para consolidar com menos esforço e mais compostura. 3. Saída (upasamvhara) Você deve perceber como sair da postura para não perturbar sua consciência. Você não deve sair de qualquer jeito, pois assim sua consciência é perturbada e você perde os

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efeitos que foram conquistados. Na realidade, você pode até aumentá-los, mas deve pelo menos mantê-los e não perdê-los. Janeiro e fevereiro de 2010 Finalmente me inscrevi para as aulas no salão principal com Geetaji e Prashantji. Não há como negar: praticar com eles é especial! É um marco importante em nossas práticas. Acho que é especial para todos, especialmente para a geração que não teve Guruji como seu mestre direto. As aulas com Prashantji são de fato diferentes das aulas que normalmente estamos acostumados. As tradicionais ações físicas, “esqueletais” e musculares não são seu enfoque. Pelo que percebo, você precisa ter um desenvolvimento de prática suficiente, onde as posturas propostas já são bem familiares e tem um grau de estabilidade física e mental, de forma que assim você terá melhores condições para vivenciar e aproveitar sua condução e proposta. Em nenhum momento ele diz que um āsana deve ser feito com menos zelo e que tudo o que aprendemos e desenvolvemos na aulas dos "tradicionais professores de Iyengar Yoga", como ele diz, tem um valor menor. Sua crítica, se assim posso dizer, é para que não nos percamos na tempestade de ações, ajustes e correções, iludindonos sobre o propósito real do āsana. A ideia que Prashantji pretende plantar consiste em perceber como melhor internalizar o āsana, usando com inteligência mais afiada as faculdades de sensação e percepção. Em outras palavras, o āsana não é apenas para ser feito, mas sim para ser visto, ouvido, sentido, pensado e respirado. Ou seja, além das técnicas físicas do corpo, há técnicas para os sentidos, para a mente e para a respiração. Percebo que, gradativamente, com o passar dos anos, a cada nova ida ao Instituto, participo das aulas com melhor atenção e passei a entendê-lo com mais clareza. O processo é lento, mas transformador. Gostaria de um dia poder participar de suas aulas por um período mais longo. Sem dúvida, ser seu aluno regular deve ser muito diferente do que ser seu aluno a cada um ou dois anos. Enquanto isso, nutro-me com as curtas visitas e a leitura de seus livros que me dão melhor direção.

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Sessões com Prashantji de 17 a 22 de dezembro de 2017 Não tomo notas durante as aulas. Não tenho interesse nem capacidade de registrar explicações e sequência no exato momento da aula. Prefiro me colocar na melhor posição de atenção que tenho no momento e o que meu corpo e minha mente absorvem é o que tenho e o que levo comigo. Sem dúvida, não aprendo tudo, mas me sinto mais integrada e relaxada no processo de aprendizagem. As impressões registradas são assimiladas de um jeito mais próprio e com menos imitações. Prashantji coloca que temos que estar em um plano onde estamos trabalhando juntos e que ele não é apenas o que ensina. Ele conta que nunca viaja para ensinar, pois o isolamento favorece o verdadeiro estudo. Ele fala que dizemos: "Prashant trabalha com a respiração..." Mas ele acrescenta que Guruji já ensinava a respiração. Quando Guruji fazia demonstrações, era uma maravilha para os nossos olhos. E as exalações eram grande parte do processo. "Guruji foi o primeiro a usar a respiração como suporte (prop)", diz Prashant. A respiração pode ser usada de diferentes formas: para exercitar, para manter uma postura ou como ferramenta para investigar o corpo e a mente. Há inúmeras práticas de respiração. Para cada qualidade da mente (citta bhumi) há um estado de respiração. As lições devem ser aprendidas de forma espontânea, caso contrário instruções podem se tornar obstruções. Prashantji fala muito sobre as exalações. Em todas as sessões ele abriu espaço para perguntas e dúvidas. Ficamos todos quietos e ele perguntou se não nos pronunciamos com receio de mostrar que o que achamos possa ser ignorância. Prashant é grande e humilde. Manouso Manos fez uma pergunta que acredito que muitos gostariam de fazer. "Há diferença entre o yoga das ações de Guruji e o que você ensina?" Ele respondeu que para uma pessoa, o que é importante, talvez seja diferente para outra pessoa e nunca existirá dois professores idênticos. O que praticamos e ensinamos não são necessariamente as mesmas coisas que Guruji ensinou. Prashant contou sobre uma situação onde Guruji disse que ele fazia coisas difíceis se tornarem fáceis e Prashant fazia coisas simples parecerem difíceis. E, então, ele se desculpou.


Acrescentou que espera que as futuras gerações possam tornar seu trabalho mais simples. Prashant esclareceu que não corrige os alunos nas aulas, a não ser que o erro seja muito grave. Ele acredita que a correção deva vir através de nossa própria consciência e ele dá tempo para que ela se desenvolva. Assim, temos que desenvolver uma conexão profunda a partir de uma urgência interna. Ele diz que isso, talvez, seja sua limitação, mas sente que os alunos devem desenvolver sua própria consciência e saber o que é certo ou errado. Ele afirmou que seu trabalho está em aberto, que se desenvolve com o passar do tempo e que não pode ser desenvolvido em um intensivo de semanas. Conta que em seus anos iniciais, Guruji lhe corrigia, mas depois deixou que ele próprio se desenvolvesse sozinho. Prashantji dá espaço para que tenhamos dúvidas sobre ele e seu trabalho. Me emociono com isso, pois ele dá-nos poder de avaliação a todo momento. Ele disse que nunca lê livros como todos acham... ( jura?!) Mas revelou que lê o mundo, sua mente e a mente de seus alunos. Seu papel é ajudar-nos a perceber o que Guruji fez dentro dele mesmo. Ele colocou que não tem intenção de ser uma "celebridade" ou uma força central agora que Guruji já não está mais aqui. Disse que ocupamos muito do tempo do Guruji com nossas dores, em como melhorar nossas dores do ciático, por exemplo. E completou dizendo sobre o quanto ficava impressionado ao ver a disposição de Guruji em responder a todas as cartas. Assim, vou me dando conta cada vez mais sobre como o assunto é profundo.

Em uma das práticas após o almoço, Prashantji chamou um aluno seu de muito tempo para subir na plataforma e fazer paśchimottānāsana. Ele contou que Guruji chegava em casa após um dia inteiro de aulas e fazia paśchimottānāsana por 10 minutos. Guruji não começava com a postura mostrada no livro Luz Sobre o Yoga. Ele começava com as costas arredondadas e, com a permanência, a postura se assentava. As posturas não devem ser apenas feitas, mas sim "usadas" para estudar o assunto yoga, para que possamos estudar nossa composição total (Prashant utiliza o termo “embodiment”). Devemos buscar educar-nos na prática, pois podemos fazer gastando muito menos energia. Educação na prática é muito importante, pois dá-nos visão e direção. Afinal, yoga é conhecer a nós mesmos, a nossa própria estrutura, a nossa manifestação, o nosso self. Como a única brasileira presente no evento, me senti no compromisso de abrir minha prática e quem sabe contribuir com nossa comunidade. O que compartilho aqui está dentro do meu próprio limite de compreensão, entretanto, ainda assim, tomei coragem para me apresentar e quem sabe colocar um pouco de luz na prática de vocês. Obrigada pela oportunidade!

“Música é uma linguagem emocional em que você se expressa sem palavras e é por isso que minha prática tinha música. (...) Havia um tom musical pronunciado na minha prática, que abriu os aspectos ambíguos ou velados ou implícitos ou esotéricos do yoga.”

Prashant Iyengar entrevistado por Rajvi H. Mehta, extraído da versão revisada do livro Iyengar: His Life & Work.

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2018

C E N T E N Á R I O

B . K . S . I Y E N G AR


SUTRA EXPRESS Tradução Régis Mikhail Abud Filho

1.2. yogah cittavrtti nirodhah yogah

união ou integração da camada mais externa ao eu mais íntimo, isto é, da pele aos músculos, ossos, nervos, mente, intelecto, vontade, consciência e o eu.

citta

consciência, composta de três fatores: mente (manas), intelecto (buddhi) e ego (ahamkāra). Citta é o veículo de observação, atenção, metas e razão; possui três funções: cognição, conação ou volição, e movimento.

vrtti

estado mental, divagações mentais, modo de agir, comportamento, um estado de ser, modo de ação, movimento, função, operação.

nirodhah

obstrução, parada, oposição, aniquilação, contenção, controle, cessação.

Yoga é a cessação de movimentos na consciência. Yoga é definido como uma restrição de divagações na consciência. É a arte de estudar o comportamento da consciência, que tem três funções : cognição, conação ou volição e movimento. Yoga mostra maneiras de entender os funcionamentos da mente e ajuda a acalmar seus movimentos, conduzindo-nos em direção ao imperturbável estado de silêncio que habita dentro do próprio âmago da consciência. Yoga é, portanto, a arte e ciência da disciplina mental através da qual a mente se torna cultivada e amadurecida. Este sutra vital contém a definição de yoga : o controle ou a contenção do movimento da consciência, conduzindo à sua cessação completa. Citta é o veículo que leva a mente (manas) em direção à alma (ātmā). Yoga é a cessação de toda vibração no âmago da consciência. É extremamente difícil transmitir o significado do termo citta, pois se trata da forma mais sutil da inteligência cósmica (mahat). Mahat é o grande princípio, a fonte do mundo material da natureza (prakrti), ao contrário da alma, que é um desdobramento da natureza. Segundo a filosofia sāmkhya, a criação materializa-se através da mescla de prakrti com purusa, a Alma cósmica. Esta visão da cosmologia também é aceita pela filosofia do yoga. Os princípios de purusa e prakrti são a origem de toda ação, volição e silêncio. Tão frequentemente empregam-se termos como citta, buddhi e mahat de maneira intercambiável que o estudante pode facilmente confundir-se. Um modo de estruturar nosso entendimento é lembrar que todo fenômeno que alcançou sua evolução total ou individuação tem uma contraparte sutil ou cósmica. Assim, traduzimos buddhi como a inteligência individual discriminante, e consideramos mahat seu equivalente cósmico. Da mesma maneira, a consciência individuada, citta, corresponde à sua forma sutil cit. Para fins de autopercepção, a mais profunda noção da consciência e a mais refinada faculdade de inteligência têm de operar em tamanha sintonia que nem sempre há préstimo em fazer esforço para separá-las. (Vide Introdução, parte I – Cosmologia da Natureza.) O princípio pensante, ou consciência (antāhkarana), liga o princípio motivador da natureza (mahat) à consciência individual, que pode ser imaginada como um ego (ahamkāra), uma inteligência (buddhi)

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e uma mente (manas) envoltos por um fluido. Esse « fluido » tende a tornar-se nebuloso e opaco devido ao seu contato com o mundo externo através de seus três componentes. A meta do sadhaka é trazer a consciência a um estado de pureza e translucidez. É importante observar que a consciência não somente liga uma natureza evoluída ou manifesta a uma natureza não-evoluída ou não-manifesta; a consciência também está mais próxima da própria alma, que não pertence à natureza, estando apenas imanente nela. Buddhi possui o conhecimento decisivo que é determinado pela ação e experiência perfeitas. Manas reúne e acumula informações através dos cinco sentidos de percepção, jñānendriyas, e os cinco órgãos de ação, karmendriyas. Inteligência cósmica, ego, inteligência individual, mente, os cinco sentidos de percepção e os cinco órgãos de ação são os produtos dos cinco elementos da natureza – terra, água, fogo, ar e éter (prthvi, āp, tejas, vāyu e ākāśa) – com suas qualidades infra-atômicas de odor, paladar, forma ou visão, tato e som (gandha, rasa, rūpa, sparsa e śabda). A fim de ajudar um indivíduo a entender a si mesmo, os sábios analisaram o ser humano como se fosse composto por cinco invólucros ou kośas: Invólucro Anatômico (annamaya) Fisiológico (prānamaya) Mental (manomaya) Intelectual (vijñānamaya) Bem-aventurado (ānandamaya)

Elemento correspondente Terra Água Fogo Ar Éter

Os primeiros três invólucros estão dentro do campo dos elementos da natureza. Diz-se que o invólucro intelectual é a camada da alma individual ( jīvātman), e o invólucro bem-aventurado é a camada da Alma universal (paramātman). De fato, todos os cinco invólucros têm de ser penetrados para alcançar a emancipação. O conteúdo mais íntimo dos invólucros, até mesmo além do corpo bem-aventurado, é purusa, aquele que é indivisível, não-manifesto, o « vazio que é pleno ». Esta experiência ocorre em nirbīja samādhi, ao passo que a experiência do sabīja samādhi ocorre no nível do corpo bem-aventurado. Se ahamkāra (ego) é considerado como uma extremidade de um fio, então antarātma (Eu Universal) é a outra extremidade. Antahkarana (consciência) é o unificador de ambos. A prática de yoga integra uma pessoa através da jornada da inteligência e da consciência do exterior para o interior. Ela a unifica da inteligência da pele à inteligência do eu, de modo que seu eu se funde com o Eu cósmico. Esta é a fusão de uma metade do ser de um indivíduo (prakrti) com o outro (purusa). Através do yoga, o praticante aprende a observar e pensar, e a intensificar seu esforço até que a alegria eterna seja obtida. Isto é somente possível quando todas as vibrações da citta individual estiverem desativadas antes de emergir. Yoga, a contenção do pensamento divagante, leva a um estado sāttvico. Mas, para conter as divagações, é necessário força de vontade, por isso um certo grau de rajas está envolvido. A contenção dos movimentos do pensamento promove quietude, que leva a um silêncio profundo, com percepção. Esta é a natureza sāttvica de citta. Quietude é concentração (dhārāna) e silêncio é meditação (dhyāna). Concentração precisa de um foco ou forma, e este foco é ahamkāra, nosso próprio eu, pequeno e individual. Quando a concentração flui para a meditação, aquele eu perde sua identidade e torna-se um junto ao grande Eu. Como os dois lados de uma moeda, ahamkāra e ātma são os dois pólos opostos do ser humano. Por um lado, o sādhaka é influenciado pelo eu e, por outro, por objetos percebidos. Quando ele está absorto no objeto, sua mente divaga. Isto é vrtti. Seu objetivo deve ser distinguir o eu dos objetos vistos, de modo a não se envolver por eles. Através do yoga, ele deveria tentar libertar sua consciência das tentações de tais objetos e trazê-la mais perto daquele que vê. Conter as divagações da mente é um processo que leva a um fim : samādhi. A princípio, yoga age como o meio de contenção. Quando o sādhaka tiver obtido um estado total de contenção, cumpre-se a disciplina yógica e atinge-se o fim: a consciência permanece pura. Assim, yoga é tanto o meio quanto o fim. (Vide I.18 ; II.28.)

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CONEXÃO BELLUR

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m janeiro último, Ana Luisa Matsubara (Analu) se uniu a um grupo de outros professores e praticantes de Iyengar Yoga para participar de um curso ministrado por Rita Keller no BKSSNT (Bellur Krishnamachar & Seshamma Smaraka Niddhi Trust). A instituição criada por BKS Iyengar fica em Bellur, pequeno vilarejo no Sul da Índia, onde ele nasceu. A convite de Sañjaya- ABIY em Revista, Analu, que tem quase 20 anos de prática e estudo de yoga no Sistema Iyengar, faz um tour guiado pelo vilarejo e pelo complexo arquitetônico idealizado por Guruji, ilustrando detalhadamente o seu sonho materializado que beneficia a muitas crianças e adolescentes

A Visão de Bellur aos

Olhos de Guruji Texto e legendas Ana Luisa Matsubara (Analu) Fotos Ram Godar

BKS Iyengar tinha uma visão sobre Bellur, sua cidade natal, cujo povo sofria com a pobreza, analfabetismo, desemprego e insalubridade. Com a intenção de ajudar estas pessoas, ele instituiu um fundo de caridade denominado “Fundo Krishnamachar e Seshamma Smaraka Nidhi". Através dele, Guruji fundou uma escola secundária, uma faculdade, um hospital e um estúdio de yoga na cidade em que ele viveu até os 18 anos. Saraswati, a deusa do conhecimento, e Lakshmi, a deusa da riqueza, estão a cada um dos lados do grande portão de entrada da sede do Bellur Krishnamachar e Seshamma Smaraka Niddhi Trust (BKSSNT). E, de fato, a iniciativa de Guruji trouxe as riquezas da saúde, através do yoga, e do conhecimento, através da educação para os moradores da região. A construção de edifícios foi o primeiro passo; porém, o grande desafio para o fundo é criar recursos para que os estudantes de Bellur tenham acesso aos serviços sem nenhum tipo de custo. Toda a comunidade de Iyengar Yoga ao redor do mundo tem trabalhado ativamente para tornar a visão de Guruji uma realidade, enfrentando o desafio de responder à enorme demanda envolvida no gerenciamento das atividades do BKSSNT. Renomados professores de Iyengar Yoga ministram regularmente cursos na instituição para angariar verbas.

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Estátua de Saraswati

Estátua de Lakshmi

Na entrada do campus, imagens de Patañjali e Ganesha são banhadas por uma fonte. O hospital, onde consultas e tratamentos gratuitos são ofertados aos pacientes, fica logo atrás da fonte.

A escola foi nomeada em homenagem à esposa de Guruji, Smt. Ramamani Sundararaja Iyengar.

O salão de prática de Yoga foi construído e pessoalmente supervisionado por Guruji. Ele foi peculiarmente construído em cima de uma enorme pedra monolítica.

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A moderna construção dos dormitórios acolhe estudiosos e praticantes das mais diferentes partes do mundo.

A faculdade foi inaugurada em 27 de novembro de 2012, na véspera do 94º aniversário de Guruji. Algumas grandes corporações ajudaram a construir a faculdade e equipa-la com toda a infraestrutura moderna necessária ao ensino superior.

O talento dos estudantes está sendo reconhecido e trabalhado desde os primeiros estágios. Você poderá ver verdadeiros prodígios no yoga oriundos de Bellur.

Muitos jovens estão sendo treinados como professores de yoga e já começaram a ensinar crianças e moradores de Bellur e arredores. Eles aprendem yoga com renomados professores que ministram workshops em Bellur e são enviados a Pune periodicamente para aprimorar seus aprendizados.

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Conheça Bellur

Bellur

Bellur é um pequeno vilarejo no distrito de Kolar, a 55 quilômetros de Bangalore em Karnataka, Índia, com cerca de 500 casas e uma população de aproximadamente 2 mil pessoas. Foi neste vilarejo que o Yogacharya Sri. BKS Iyengar nasceu, no dia 14 de dezembro de 1918. Bellur era uma agrahara na época do nascimento de Guruji. Agra significa ”frente” e hara significa ”guirlanda”. De acordo com a prática tradicional Hindu de arquitetura e planejamento urbano, uma agrahara consiste em duas fileiras de casas (principalmente de Brâmanes, ou membros da casta Sacerdotal) percorrendo de Norte a Sul de cada lado da estrada, semelhante a uma guirlanda, com um templo de Shiva em uma das pontas e outro de Vishnu na outra. Os dois templos de Shiva em uma das pontas do vilarejo e o templo de Rama (encarnação de Vishnu na mitologia Hindu) ainda estão presentes no vilarejo de Bellur. Os templos são bem antigos e foram apontados como locais de herança de patrimônio cultural nacional pelo Serviço Arqueológico da Índia (ASI). Eles estavam em ruínas, e com a permissão do ASI, Guruji os renovou e reavivou, sem modificar seus traçados e arquitetura históricos. Adjacente ao templo de Shiva, está o primeiro templo de Patañjali do mundo, construído por Guruji em 2004 em gratidão e devoção àquele que é considerado o pai do Yoga. Possui uma imagem de Patañjali de 1 metro de altura, esculpida pelo renomado escultor Padmanabhachari. Existem três outros templos no complexo. O de Hanuman, o de Valmiki e o de Navagraha, na entrada. Apenas os Iyengar Yogis visitam o templo, pois os moradores do vilarejo não creem em Patañjali, pois não o conhecem e consideram-no um Deus para os yogis.

Templo de Patañjali

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Templo de Shiva renovado


A 200 metros do templo de Patañjali está o local onde Guruji nasceu. Devia ser bem diferente do que vemos nesta foto (acima) tirada há 6 anos. Esse ano, não encontrei essa casa que foi demolida e já estão construindo uma nova de concreto no lugar. A fraternidade Iyengar Yoga desejava comprar este local e construir um memorial a Guruji, mas a família que vivia na casa não concordou em vendê-la.

Guruji sabia que as filhas de Bellur não estavam recebendo educação apropriada após a 7ª série, visto que não havia escolas no vilarejo. Os pais tampouco estavam dispostos a enviar suas filhas para as escolas de vilarejos vizinhos. Após a fundação da escola de Guruji, muitas meninas estão agora estudando. E atualmente o número de meninas e meninos frequentando a escola e o número de moças e rapazes estudando na faculdade é o mesmo.

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Bellur Bellur entrou em minha vida como o mais delicioso prasādah (clareza; pureza) depois de 18 anos de entrega e práticas dentro do sistema de Guruji. É um pouco como tornar-se mãe ou outras similares experiências que demandam que passemos pelo processo. É necessário ir e viver algumas semanas em Bellur para dar tempo ao sistema ser literalmente ativado de forma única dentro de uma compressão expandida de quem foi Guruji, Sri Patañjali, e do que trata efetivamente viver o yoga na contemporaneidade. De forma resumida, aviso aos próximos visitantes a Bellur que o amor à primeira vista será inevitável! Não tão somente pelo espetáculo de estrutura que existe hoje lá em operação através do fundo de Guruji, mas talvez mais pelo invisível assombro prânico que se encontra no ar que por lá circula. Os dias são especiais, os aromas são especiais, as noites são especiais. O silêncio é de profundo cuidado e, invariavelmente nas alvoradas, as ladainhas de cânticos e mantras ao longe tornam o despertar ainda

mais mágico e realista (simultaneamente).

Bellur é tão mágico que se torna real demais! Desfrutem quando lá estiverem da captura profunda e desprotegida dos olhares de seus habitantes. Observe como você os vê e como eles o vêem e estudem a presença que existe neste arco ou ponte de contato humano. Ao longo de um mês ininterrupto diariamente caminhando até o templo de Patañjali para as entoações dos 108 nomes de Patañjali, as mesmas fizeram brotar algo de muito ancestral dentro de mim. É como se o yoga cedesse dentro da mente, do coração, das células do corpo… É como se o yoga se reapresentasse para mim de forma desnudada, serena, discreta e celebrativa. Guruji, seus bons olhos e ensinamentos parecem ser um corpo único que abrange aquele campus, aquele campo… Aquele povo! OM Paz

As crianças de Bellur amam ser fotografadas e interagir com os estrangeiros e visitantes.

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LUZ SOBRE O PRĀNĀYĀMA Em sânscrito, prāna é energia vital e āyamā é criação, distribuição e manutenção. Logo, prānāyāma é a ciência da respiração, que leva à criação, distribuição e manutenção da energia vital. Em seu livro A Árvore do Ioga,1 B.K.S. Iyengar faz uma analogia entre prānāyāma e as folhas das árvores. Ele diz: “como as folhas que arejam a árvore e fornecem nutrição para que seu crescimento seja saudável, o prānāyāma também alimenta e areja as células, os nervos, a inteligência e a consciência do sistema humano.” Esta transcrição, editada de uma palestra do Guruji BKS Iyengar em Pequim, em Junho 2011, foi originalmente publicada na revista Yoga Rahasya vol. 18 nº 3, 2011

Prānāyāma: Trampolim para a Vida Espiritual Tradução Daniela Santa Rosa

Quando você é ensinado a fazer prānāyāma, começa observando os pulmões. Você é solicitado a expirar. E por que expirar primeiro? Enquanto expira, você rastreia a origem do seu corpo interior. No momento em que você expira, alcança o núcleo. O núcleo é a força vital. E todos os sentidos alcançam esse núcleo. Por exemplo, temos um copo cheio de água. Posso fazer uso dele? Ele já está cheio. Por isso, preciso esvaziá-lo. Então, quando primeiro expiramos, esvaziamos tudo por dentro, para que a carga da mente, que se mantém firme, seja esvaziada. Quando você começar a inspirar, observe o formato dos pulmões. Como os pés devem estar estáveis nos āsanas, a coluna precisa estar estável durante o prānāyāma. Em uma postura sentada, a coluna tem a função dos pés. A base da coluna se torna os pés. É assim que a discriminação começa. Não se trata apenas de inspirar e expirar se você sequer sabe como se sentar. A coluna vertebral deve estar estável. A COLUNA vertebral TEM A FUNÇÃO DOS PÉS EM UMA POSTURA SENTADA. A BASE DA COLUNA SE TORNA OS PÉS. A COLUNA DEVE estar ESTÁVEL NO PRĀNĀYĀMA O segredo do prānāyāma: Quando você inspira, a inspiração começa no centro e depois move-se para os lados. E se você observar os pulmões, vai perceber que eles estão apenas cheios pela metade. O diafragma normalmente se movimenta verticalmente. No prānāyāma, ele se move horizontalmente. A ciência médica ainda não sabe disso. Então você precisa deixar o diafragma como um piso plano. Se o piso for inclinado, você não poderá andar. Você pode andar somente se o piso for plano. Da mesma forma, você tem que deixar o diafragma plano. O DIAFRAGMA normalmente SE MOVIMENTA VERTICALMENTE. No PRĀNĀYĀMA, VOCÊ deve MOVÊ-LO HORIZONTALMENTE O diafragma se fixa nas costelas flutuantes. Ao inspirar, a respiração tem que se mover a partir da superfície interna. São 12 pares de costelas. Quando você 1. Embora o padrão adotado para Sañjaya - ABIY em Revista seja sempre utilizar a palavra “yoga” com “y”, o título do livro A Árvore do Ioga de BKS Iyengar apresenta esta palavra escrita com “I”. Por esta razão, respeitamos o título desta obra conforme foi traduzida para o português.

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inspira, deve sentir se a respiração toca costela por costela e, ao tocar esta região, sentir se cria-se espaço entre elas através dos músculos intercostais. Quando a respiração toca esses espaços há uma inspiração completa. Você precisa aprender que esse é o ponto de partida do conhecimento espiritual. Esse copo está cheio porque está completo com água. Se eu esvaziar a água, ele estará vazio, mas cheio de ar. No momento em que colocarmos água, ela entra e o ar sai. Pergunte a si mesmo: quando você inspira, o que cede espaço para a respiração entrar? O que sai quando a respiração entra? Quando você inspira, o âmago do ser sai para que a respiração entre. Isso é conhecido como inspiração – absorção de energia. A consciência dá espaço para a energia entrar. Em linguagem filosófica, a alma cede espaço, o eu dá espaço para a respiração entrar. Da mesma forma que o ar sai do copo, o eu continua se movendo para a respiração entrar. Então, ao final da inspiração, o eu e a respiração tocam as extremidades. Quando isso é tocado, temos kumbhaka – retenção. Kumbhaka não significa prender a respiração. Kumbhaka serve para fazer você entender a comunhão da respiração com o eu. Enquanto a respiração estiver unida ao eu, tem-se o verdadeiro kumbhaka. Quando INSPIRAMOS, O NÚCLEO do SER SAI PARA A RESPIRAÇÃO ENTRAR. KUMBHAKA É A COMUNHÃO DA RESPIRAÇÃO com o EU

Prānāyāma é o trampolim para a vida espiritual Āsana o prepara para prānāyāma e prānāyāma o guia como fazer o āsana. Depois de uma inspiração completa, você segura a respiração. É como o encontro entre o amante e o ser amado, que na ciência do yoga chamamos de encontro entre prakrti e purusa. Dizemos: “expire”. E quando você expirar, veja a beleza disso. Você solta a respiração e, ao soltá-la, o âmago do ser vai para seu estado original. Você não deve olhar para a respiração saindo, mas observar como o âmago do ser está voltando para o corpo. Quando a respiração está saindo e a alma finalmente alcança sua morada, você não pode exalar mais. Isso significa que prakrti se moveu junto com a alma para perto da morada do ser. Expiração é a união da natureza com a alma. Na inspiração, o ser expandindo-se, dando espaço para a respiração entrar, é purusa. Na retenção da inspiração, o ser e purusa são um. Na expiração é o oposto. A natureza entra em contato com o ser. Isso é prānāyāma. VOCÊ solta A RESPIRAÇÃO e, AO SOLTÁ- , O ÂMAGO DO SER vai para O SEU ESTADO ORIGINAL Prānāyāma na verdade tem três movimentos: inspiração, retenção e expiração. É muito interessante perceber a semelhança entre prānāyāma e o Criador, o Protetor e o Destruidor. A inspiração é a geradora de energia conhecida como Brahma. O protetor é Vishnu. Você segura a respiração fazendo com que essa energia proteja totalmente o império da alma. O trabalho de kumbhaka é proteger, por isso é conhecido como Vishnu. O destruidor é conhecido como Maheshwara-Shiva. Se você prender a respiração viciosa, você morre. Da mesma forma, expiramos para que o ar que não é bom para a saúde seja expelido. Prānāyāma cobre Brahma, Vishnu e Maheshwara. Essa é a beleza do prānāyāma. PRĀNĀYĀMA NA VERDADE tem TRÊS MOVIMENTOS: INSPIRAÇÃO, RETENÇÃO E EXPIRAÇÃO. TEM SEMELHANÇA com o CRIADOR (BRAHMA), O PROTETOR (VISHNU) E O DESTRUIDOR (SHIVA) Nós armazenamos energia depois de aprender e fazer prānāyāma. Nós armazenamos água e, em seguida, irrigamos a terra. Da mesma forma, prānāyāma armazena energia e essa energia armazenada deve ser utilizada. Essa energia armazenada é então utilizada para suprir o corpo todo. A prática de āsanas tem duas funções. Antes do prānāyāma, torna os pulmões elásticos para armazenar energia como um reservatório. E, quando fazemos āsanas depois, é para levar essa energia aos vários sistemas do corpo. Então, você guia a respiração em como se mover nos āsanas depois de aprender prānāyāma. E é assim que āsana e prānāyāma trabalham de forma complementar um em relação ao

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outro. No prānāyāma, o campo e o camponês andam juntos como marido e mulher andam juntos. Nesse estado, você está em meditação e não apenas sentado quieto. 2 Silêncio ativo é meditação. Āsana tem o efeito de prayatna śaithilya ananta samāpattibhyām. Quando Patañjali usa as palavras prayatna śaithilya – quando a prática com esforço torna-se sem esforço, você experimentará o estado de infinito. Em uma frase, o efeito é dado como tato dvando anabhigatah – as dualidades desaparecem. NO PRĀNĀYĀMA você está EM MEDITAÇÃO e não APENAS SENTADO QUIETO A mente desempenha um papel duplo. A mente é como um funcionário de relações públicas em nosso sistema. O trabalho desse funcionário de relações públicas é satisfazer o cliente e ao mesmo tempo satisfazer o proprietário. A mente tem um papel semelhante. O que isso significa? Ela tem que satisfazer as demandas dos sentidos e aproveitar os prazeres do mundo e, por outro lado, ela quer agradar o proprietário do eu. Assim, a mente desempenha um papel duplo de acordo com Patañjali. Ela quer satisfazer os sentidos e também quer satisfazer o eu. Então, a prática de āsana faz com que os sentidos movam-se para dentro e a mente dê meia volta na prática. Assim que dá meia volta, ela se esquece do outro lado, o lado de fora. Então, Patañjali diz que dessa maneira a dupla função da mente desaparece e apenas a mente única permanece. Por tornar-se única, torna-se mente cósmica e universal em cada indivíduo. Isso é o que o yoga nos ensina. 2. II.47 Yoga Sūtras de Patañjali.

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UNIVERSO FEMININO

YOGA: A Gem for Women

(Yoga: Uma Preciosidade para as Mulheres)

Geeta Iyengar Tradução Karla Vasconcellos

Capítulo VII Três Etapas na Vida de uma Mulher Devido ao fato que este livro é destinado principalmente às mulheres, consideremos os três estágios importantes na vida de uma mulher, iniciando com a juventude, passando pela meia-idade e culminando na velhice: • Menstruação • Gravidez e parto • Menopausa Estes são os períodos de provação e etapas de sua vida. Examinemos como estas funções em cada estágio afetam o seu corpo e a sua mente e se a prática de āsana e prānāyāma é útil para ela. Menstruação Quando uma menina amadurece, as funções fisiológicas ativas para desenvolver o corpo na mais completa maturidade feminina encontram-se no seu auge para permitir com que ela cumpra com as responsabilidades que a natureza impôs sobre ela; esta é uma parte imutável da sua vida. A adolescência é um período de crescimento durante o qual há uma transição da infância para a maturidade. Durante este período, importantes mudanças físicas e mentais acontecem. Os ovários, principais órgãos sexuais femininos, encontram-se nas laterais do útero e começam a funcionar a partir da produção de óvulos, que são os gametas (células sexuais reprodutoras) femininos, que maturam um por mês. O processo de maturação inicia-se entre 10 e 15 anos de idade e culmina entre 45 e 50. O

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endométrio (camada que fica dentro do útero) torna-se macio e inchado para receber um óvulo, possuindo sangue o suficiente para nutri-lo. Quando o óvulo não é fertilizado e o sangue não é necessário para nutri-lo, a membrana túrgida e o excesso de sangue são expelidos do útero através da vagina sob a forma de uma secreção sangrenta. Esta secreção ocorre uma vez por mês e é denominada de menstruação. Assim sendo, a menstruação representa uma mudança periódica que ocorre na mulher, na qual a secreção de sangue flui a partir da cavidade uterina. Este é um processo meramente fisiológico que prepara o corpo da mulher para a reprodução, que é uma função biológica. As glândulas pituitárias estão localizadas na base do cérebro e são divididas em duas partes: anterior e posterior. As secreções da parte anterior da glândula pituitária estimulam a reprodução na mulher, enquanto as secreções da parte posterior regulam as secreções e alimentam os músculos involuntários do útero, preparando-o para um funcionamento saudável. Durante este período de maturação, o corpo da mulher passa por uma mudança visível. Ocorre um aumento rápido da altura e do peso. Os quadris alargam-se e gordura é depositada nesta região. A vagina e os seios tornam-se completamente desenvolvidos e o coração e os


pulmões aumentam de tamanho; os músculos do corpo tornam-se mais rígidos, as glândulas sebáceas embaixo da pele secretam mais óleo, o que muitas vezes resulta em acne ou espinhas nas bochechas e na testa e que representa uma causa comum de ansiedade entre as adolescentes. A geração profusa de hormônios sexuais também causa a secreção excessiva de gordura embaixo da pele. Uma menstruação saudável depende do correto funcionamento dos ovários, o qual depende do funcionamento saudável da glândula pituitária. Um ciclo ou ritmo normal nos ovários também depende do hipotálamo, o qual está diretamente relacionado à pituitária. Yogāsanas e prānāyāma oferecem um grande auxílio na puberdade quando o corpo está mudando para a maturidade feminina. Āsanas como as invertidas e as extensões para trás são úteis para estimular a glândula pituitária. Āsanas como as extensões para frente também são eficazes na medida em que sangue puro é levado aos órgãos pélvicos. Para o crescimento adequado do esqueleto e para melhorar a forma do corpo, as posturas em pé são imprescindíveis. Mudanças psicológicas também ocorrem nesta idade concomitantemente com as mudanças fisiológicas. A vida emocional de uma garota é estimulada e ganha um peso extra. Da mesma forma como mudanças somáticas dependem do equilíbrio hormonal do sistema endócrino, as mudanças mentais dependem de um ambiente saudável. Este é um período no qual há um salto brusco da simplicidade da infância para um estado emocional complexo. É um cabo de guerra entre duas mentes. A infância tenta segurá-la enquanto a adolescência tenta movê-la para frente. A autoconsciência e a individualidade se afirmam neste período. A sua mente tornase muito sensível e o seu comportamento e conduta moral adquirem um entusiasmo afiado. Devido às mudanças fisiológicas e psicológicas em seu corpo e em sua mente, ela encontra-se em um estado de perplexidade. Assim sendo, um reajuste é um fator essencial. Uma atmosfera saudável e uma orientação adequada são necessárias neste momento. A prática de yoga nesta idade confere coragem para abordar a maturidade feminina sem quaisquer perturbações mentais. Ajuda a controlar e verificar impulsos e emoções;

produz equilíbrio mental. A adolescente domina o medo e o nervosismo e aprende a encarar a sua vida de mudança e o seu entorno com confiança. Os pilares da conduta moral podem ser fixados apropriada e firmemente nesta idade através da prática de yoga, a qual constrói o seu caráter com uma personalidade integralmente madura. A sua beleza floresce e ela se torna uma mulher forte de sólidos princípios morais. O yoga desenvolve-a fisiologicamente, psicologicamente, moralmente e espiritualmente para que ela cresça de forma saudável e viva uma vida pura. A idade de doze a quatorze anos é ideal para começar a prática de yoga. Isto não significa que o yoga deve começar somente nesta idade e não antes. Pelo contrário, se alguém inicia antes, lá pelos oito anos, isso é bom; mas os pequenos não devem ser forçados a ser muito sérios. É suficiente se a criança é introduzida ao yoga através de brincadeiras com o intuito de despertar o interesse de forma a criar uma boa base. Entretanto, mesmo que não se comece com uma idade mais precoce, isso não deve impedir o começo tardio. O yoga pode ser iniciado a qualquer momento: yuvāvrddho´ativrddho vā vyādhito durbalo´pi vā abhyāsat siddhimāpnoti sarvayogesvatandritah H.P. I. 64 Os jovens, os idosos, os doentes e os fracos – todos podem praticar yoga e obter os seus benefícios sem obstáculos. Meu pai começou a ensinar yoga para a Rainha Mãe da Bélgica quando ela tinha 84 anos de idade. Ela nunca tinha praticado antes. A sua cabeça e o seu corpo tinham tremores. Com perseverança, ela praticou śirsāsana por oito anos. Com a experiência do meu pai e minha, digo com

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confiança que mulheres de todas as idades podem aprender yoga. Contudo, a rapidez do seu progresso poderá variar de acordo com a constituição e habilidade individuais. Distúrbios Menstruais A menstruação é uma função cíclica natural que ocorre dentro do sistema uterino. É um processo regular com somente um pequeno grau de periodicidade irregular que varia de pessoa para pessoa. Esta pequena irregularidade é considerada um sinal de saúde normal. Adicionalmente, deve-se manter em mente que sintomas como fadiga demasiada, sono, mudança de humor psicológico, sensibilidade ou pequeno inchaço dos seios devem-se à atividade acentuada dos hormônios e, como tal, devem ser considerados normais. Os ciclos menstruais devem acontecer em intervalos regulares. Variações na duração dos intervalos ocasionam distúrbios e causam aflições físicas e mentais que afetam a gravidez e a maternidade. Em diversas ocasiões, devido a condições gerais ou locais, o processo menstrual pode estar ausente, excessivo, irregular ou pode causar desconforto e dor demasiada. Neste caso deve ser considerado um distúrbio na menstruação. Os distúrbios menstruais são: •Amenorréia: A ausência de menstruação ou puberdade retardatária é chamada de amenorréia. Esta condição é raramente encontrada e deve-se ao subdesenvolvimento da glândula pituitária que atrasa o crescimento sexual. Por vezes, a puberdade tarda devido a causas físicas bem como psicológicas. Condições físicas não saudáveis, trabalho físico árduo,

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subnutrição, anemia severa, tuberculose, malária, constituição fraca, subdesenvolvimento dos órgãos genitais como o útero e os ovários, podem causar a falha ou o atraso da menstruação. Às vezes, causas psicológicas tais quais o medo abrupto, dor, mente fraca, separação de entes queridos, podem levar a este sério problema. Em todos estes casos, pode-se praticar yoga sem medo de qualquer mal (vide capítulo X). •Dismenorréia: Esta é uma menstruação difícil ou dolorida que pode ser causada por anemia, exaustão ou calafrios. Esta condição também pode ocorrer em função de defeitos ou problemas orgânicos, tais como a inflamação dos ovários, trompas ou útero, ou devido a espasmos no útero causados por um temperamento nervoso ou devido a uma má formação deste órgão. Mesmo fatores psicológicos como o medo, desarmonia, ansiedade e neurose estão envolvidos na dismenorréia. •Menorragia: O sangramento excessivo durante períodos menstruais é chamado de menorragia. Neste caso, a duração dos ciclos pode permanecer regular, porém a perda excessiva de sangue ocorre a cada ciclo. •Metrorragia: Esta condição é similar à Menorragia, porém aqui o sangramento ocorre em períodos atípicos, antes ou após a menstruação (fora do ciclo menstrual). Assim sendo, os ciclos também estão em mutação e irregulares. Miomas, tumores, cistos, deslocamento uterino, inflamação ou aborto natural são causas comuns deste problema. •Hipomenorréia: Nesta condição o fluxo é escasso. Isto ocorre devido ao subdesenvolvimento do útero ou à deficiência na formação dos ovários ou glândulas endócrinas. •Oligomenorréia: Nesta condição os ciclos são prolongados. •Polimenorréia: Nesta condição os ciclos tem uma curta duração. •Leucorréia: O fluxo excessivo de corrimento vaginal é um problema comum que causa fraqueza física e tortura mental. Fatores constitucionais, sexuais, hormonais e psíquicos são agentes causadores desta condição. Por vezes isto ocorre devido a um novo crescimento nos órgãos genitais ou devido a corpos estranhos na vagina. Frequentemente deve-se a uma higiene precária. •Tensão Pré-Menstrual: Muitas mulheres sofrem desta condição por uma semana ou dez dias antes do período menstrual. Usual-


mente, a causa é a tensão sobre o sistema nervoso, ocasionando dor de cabeça, nervos tensos, seios inchados, tremores, irritabilidade, flutuações de humor, peso na região pélvica ou inflamação. Todos estes sintomas de distúrbios menstruais se devem a um número de fatores, tal como um desenvolvimento falho dos órgãos genitais, desequilíbrio hormonal das glândulas endócrinas, musculatura fraca dos órgãos reprodutivos ou uma constituição debilitada. Além de defeitos orgânicos e fisiológicos, fatores psicológicos também estão envolvidos. Nestes casos, a prática de yoga pode ajudar muito. Yogāsanas e prānāyāma corrigem

as falhas ou o mau funcionamento dos órgãos. Um equilíbrio hormonal adequado é acionado nas glândulas endócrinas, as quais são estimuladas a funcionar eficientemente. Os músculos de órgãos como o útero são fortificados. Os āsanas ajudam a relaxar e descansar apropriadamente. Eles asseguram um fluxo menstrual adequado. Além disso, tensões e pressões psicológicas são reduzidas através da prática de āsanas e prānāyāma de forma que a atitude mental muda de um foco negativo para um foco positivo.

LUZ SOBRE A CIÊNCIA Com a intenção de fortalecer a confiança e valorizar a nossa prática, a cada edição de SAÑJAYA - ABIY em Revista, buscamos publicar pesquisas científicas que apontem para comprovações sobre os ensinamentos propostos pelo Sistema Iyengar. Desta vez, selecionamos uma revisão randomizada realizada na Suíça em 2015 sobre dores na coluna, em especial lombar e cervical. O texto abaixo é um resumo deste estudo e a pesquisa completa pode ser acessada no link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4278133/

A Eficácia de Iyengar Yoga no Tratamento de Dores na Coluna (lombar e cervical): Uma Revisão Sistemática Resumo e tradução Isabel Zagonel

INTRODUÇÃO A queixa número um dos pacientes mundiais é dor na coluna, principalmente lombar e cervical. "A origem das dores de coluna não foi extensamente pesquisada e compreendida; todavia, hábitos comportamentais e sociais são considerados forte influenciadores. Em número reduzido de casos, as dores são causadas por uma condição médica específica”. Os tratamentos tradicionais para esta questão são invasivos; incluem cirurgia e o uso de medicamentos de longo prazo. Pesquisadores da área da saúde pública começaram a perceber que a maioria das questões de coluna não recebiam um diagnóstico preciso nem um tratamento eficiente e otimizado. Muitos pacientes não melhoram de fato. Além de ser uma situação desconfortável, a necessidade de otimizar os recursos para outras doenças obriga que os gestores da área da saúde busquem outras alternativas. Como exemplo deste movimento, vimos recentemente no Brasil a inclusão de dez tratamentos holísticos no Sistema Único de Saúde (SUS), entre eles quiropraxia, reiki e yoga.

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METODOLOGIA A primeira parte do trabalho destes pesquisadores foi definir um método. Como existem muitas vertentes de yoga, eles precisavam escolher uma que constasse em um número significativo de estudos de caso e que tivesse estrutura e progressão bem definidas. Foi então definido Iyengar Yoga como objeto de estudo. Assim sendo, buscaram a colaboração de uma praticante dedicada e professora Sênior qualificada e encontraram Alison Trewhela, que orientou e colaborou com as pesquisas. "Iyengar Yoga é um método dentro do Hatha Yoga que coloca o foco no detalhe, precisão e alinhamento na execução da postura (āsana) e no controle da respiração (prānāyāma). O desenvolvimento de força (estamina), mobilidade e estabilidade é adquirido através dos āsanas. Iyengar Yoga é considerado terapêutico, quase clínico em termos médicos e mais eficaz para muitos tratamentos (síndromes da dor, doenças cardiovasculares, pulmonares e respiratórias, stress, depressão, distúrbios hormonais e endócrinos, artrite, doenças ginecológicas e gastrointestinais etc). O método utiliza acessórios para suporte em sequências de posturas que são rigorosamente concebidas para abordar questões médicas individuais. O conceito básico sobre a sequência das posturas predetermina que elas não irritem o sistema nervoso; deve haver uma ordem rigorosa de prática (visto que algumas posturas geram calor, estimulam, energizam, ativam, enquanto outras refrescam, acalmam, relaxam, etc.) e preparação apropriada para as invertidas e extensões para trás.” CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DO ESTUDO Esta revisão científica foi baseada no protocolo PRISMA, levando em consideração 27 itens de visão sistêmica e meta-análise adaptando o método Cochrane em sua terminologia e elaboração. Foram revisados todos os estudos (pesquisas), envolvendo 570 pacientes que contemplaram este tema e correspondiam aos seguintes critérios: • Os participantes tinham entre 18 e 67 anos; • Diagnóstico preexistente de dor nas costas e cervical feito por especialista; • Os participantes não eram praticantes assíduos de Iyengar Yoga; • Estudos realizados entre 2000 e 2013; • Estudos apresentando triagens controladas randomizadas (TCRs) e estudos pilotos que contenham TCR relacionados exclusivamente a Iyengar Yoga; • Os estudos deveriam conter dois grupos, um com dor nas costas e outro com dor na cervical. RESUMO DAS EVIDÊNCIAS Uma das causas primárias da dor nas costas é a tensão muscular. Muitas pessoas são encurtadas em lugares que afetam a coluna, como ombros e quadris. Durante as posturas de yoga os músculos são alongados e relaxados em áreas comuns de tensão. São muitos os músculos que não são utilizados durante as rotinas diárias da população em geral, porém na aula de Iyengar Yoga sim, é um tratamento que acessa estes músculos, principalmente em quem tem dores na região lombar diretamente relacionada a má postura ou estresse. Outro ponto considerado foi a segurança das técnicas de yoga. Uma vez que pode ser considerado um tratamento, é necessário rever e avaliar se yoga pode ser perigoso para pacientes com dor na coluna. Quais seriam os riscos de lesões? Assim como outras atividades físicas, a execução inadequada e potencialmente prejudicial estaria ligada à falta de instrução adequada e consciência corporal. Qualquer técnica sem orientação especializada é perigosa quando existe uma lesão.

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Os pesquisadores perceberam que professores certificados e experientes de Iyengar Yoga são treinados para auxiliar alunos com sérias limitações e lesões, reconhecem quando o corpo do aluno está pronto para determinada postura e só a partir de determinados pré-requisitos exigidos pelo método de BKS Iyengar os professores instruem o aluno com segurança e menor risco de lesão. Alison Trewhela afirma que os alunos devem buscar a otimização e não a maximização da postura. POSTURAS ESPECÍFICAS PARA DORES NA COLUNA O estudo verificou que exercícios baseados em yoga diferem muito de exercícios de ginástica, porque o praticante deve basear sua atenção na sua consciência interna. Todas as posturas devem ser praticadas com consciência sobre a forma de cada movimento. Os movimentos do yoga são fundamentados na natureza da mente, autoconsciência física, concentração, comunicação multi-direcional entre mente, nervos, esqueleto e musculatura. Dentre os inúmeros āsanas, os pesquisadores perceberam que existem alguns que beneficiam mais o alívio das dores na coluna porque ajudam a alongar músculos tensos, corrigem curvaturas vertebrais errôneas, alongam a coluna torácica junto com os músculos que envolvem o sistema respiratório auxiliando na manutenção das posturas. Analisando estes fatores, as posturas estudadas com maior benefício para a coluna foram: • Tādāsana - postura da Montanha e suas variações de braços e ombros • Ardha uttānāsana - principalmente quando realizada com as mãos na parede • Bharadvājāsana na cadeira • Adho mukha vīrāsana • Adho mukha śvānāsana • Utthita trikonāsana • Vīrabhadrāsana II • Utthita pārśvakonāsana • Prasārita pādōttānāsana • Supta pādāngusthāsana e variações • Śavāsana com pesos • Supta pavanamuktasana • Supta śavāsana supinado Todas as triagens utilizaram estes āsanas em diferentes sequências, com acessórios correspondentes às necessidades de cada paciente. Foi percebido que as posturas não são tão importantes por si só; o mais relevante e o que apresenta melhor resultado é a forma como estas posturas são realizadas e quais adaptações são feitas para cada indivíduo, além do uso correto e eficiente dos acessórios. Os professores certificados de Iyengar Yoga instruíram com segurança e eficácia. Além de fazer os alunos evoluirem com o passar do tempo, não foram verificados quaisquer problemas gerados pela prática de Iyengar Yoga, tais como lesões, stress, incapacidade de concentração, etc. OUTROS IMPACTOS O estudo salienta que existe uma relação forte entre os benefícios curativos de Iyengar Yoga e a cura das dores na coluna em casos de mobilidade na terceira idade, estabilidade

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postural e força em mulheres idosas. Melhoria e estabilização na doença de Parkinson, esclerose múltipla, câncer de mama, pressão arterial em pré-hipertensos e hipertensos, asma, osteoartrite de joelho, artrite reumatoide, síndrome do túnel do carpo, stress em mulheres e depressão. Melhoria das habilidades sociais e de concentração, gerando bem estar físico e mental nos grupos estudados. CONCLUSÃO A resposta relaxante pode reduzir estresse relacionado a neurobiologia da dor percebida. Os pesquisadores constataram que os pacientes se tornaram mais tolerantes à dor. Concluiu-se que Iyengar Yoga é seguro e eficaz como tratamento para dores da coluna, em especial para a cervical e para a lombar. Os estudos foram consistentes com os resultados apresentados sugerindo que praticantes de Iyengar Yoga desenvolvem consciência corporal no uso muscular e na posição articular gerando resultados significativos nos hábitos posturais da vida diária. A melhora ocorreu dentro e fora das salas de prática. A principal conclusão desta revisão sugeriu que a prática de yoga pode aliviar dores e melhorar a mobilidade funcional para pacientes com dores nas costas. Esta revisão, todavia, teve diversas limitações, dentre elas a quantidade de triagens realizadas até o momento envolvendo Iyengar Yoga como tratamento para dores na coluna, além do reduzido tamanho dos grupos. A revisão utilizou várias informações de pesquisas que utilizaram técnicas e abordagens distintas, o que tornou o trabalho de revisão difícil de comparar de forma homogênea. Desta forma, conclusões rigorosas e definitivas não puderam ser realizadas. Apesar das limitações, a revisão sistemática encontrou evidências indicando que Iyengar Yoga é válido como tratamento para dores na coluna. Dor crônica na coluna gera um impacto significativo na vida de um indivíduo, gerando restrições em sua motricidade, produtividade e habilidades. Um tratamento alternativo que auxilie na redução dessas limitações beneficiaria a sociedade em geral. Yoga é uma opção terapêutica, mas estudos científicos mostrando a relação entre prática de yoga e saúde ainda não foram feitos na quantidade necessária para comprovar esta relação. No futuro, novos estudos deverão ser realizados envolvendo os efeitos terapêuticos de Iyengar Yoga e sua eficácia em tratamentos de doenças crônicas. Os praticantes de yoga muitas vezes vêem a técnica acima do bem e do mal, sabem que este conhecimento milenar é muito rico e curativo, porém é necessário reconhecer que quanto mais estreita for a relação de uma técnica como Iyengar Yoga com a ciência, quanto mais estudos comprovarem a sua eficácia, mais a técnica poderá evoluir e levar estes benefícios para mais pessoas. Afinal, como disse o mestre BKS Iyengar “Yoga é para todos”. - Citações em vermelho são traduções exatas da pesquisa original.

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ABIY ENTREVISTA

MARCIA MONROE Texto Daniela Santa Rosa Entrevista Luanda de Moura

Marcia Monroe, carioca radicada em Nova York, foi aluna de BKS Iyengar nas aulas médicas do RIMYI em Pune, na Índia, e é professora de Iyengar Yoga há mais de 20 anos. Possui vasta formação em disciplinas relacionadas ao corpo e ao movimento. Seu livro Yoga and Scoliosis, a Journey to Health and Healing (Yoga e Escoliose, uma Jornada à Saúde e à Cura), sem tradução para o português, tem prefácio escrito por BKS Iyengar, que elogia o livro e ressalta o longo trabalho da Marcia em corrigir as severas assimetrias da sua própria coluna e experimentar os benefícios do correto alinhamento antes de partir para a confecção do livro. Marcia foi diagnosticada com escoliose aos 12 anos. Na época, os ortopedistas indicaram o uso do colete de Milwakee 18 horas por dia durante um ano. Mesmo assim, a escoliose progrediu e a recomendação médica era cirurgia. Do contrário, o prognóstico era sombrio: problemas sérios de locomoção e durante uma eventual gravidez, além de fortes dores na idade adulta. A operação, por outro lado, não era garantia de cura e o pós operatório de longos 12 meses engessada a fizeram buscar alternativas menos invasivas. Com o suporte e apoio de sua mãe, a cirurgia deixou de ser uma opção e ela iniciou uma longa jornada de pesquisas, práticas e estudos. Atualmente, Marcia ministra aulas de yoga regulares para crianças, seus pais e professores em uma escola de Nova York. Coordena também cursos especiais sobre escoliose e assimetrias em institutos de yoga e hospitais em Nova York, Brasil, Índia etc. ABIY: Como foi seu primeiro contato com Iyengar Yoga?

dentro do sistema de Iyengar Yoga.

Meu primeiro encontro com Iyengar Yoga aconteceu na cidade de Nova York, com a professora Sênior já falecida, Mary Dunn. Na primeira vez em tadasana senti minha mente se tranquilizar e registrar uma possível simetria oferecida pela postura e experimentada no corpo assimétrico. Esta conexão estabelecida pela postura me marcou como amor a primeira vista e abriu as portas para um longo e precioso caminho

ABIY: O que foi mais impactante nas aulas terapêuticas do RIMYI em Pune? Os caminhos para Pune abriram-se rapidamente pela graça do destino e logo conheci Guruji. Logo senti a presença de um mestre e estava certa! Todos os ensinamentos e sequências modificadas foram profundos e impactantes e residem dentro de meu corpo. O processo de absorção e cognição de suas

palavras e direções fazem parte de minha prática diária e ainda há muitas que permanecem obscuras. Guruji, como uma criança, era muito espontâneo e transparente, agia de acordo com o momento e várias vezes me surpreendeu com correções fora da sala de prática, na biblioteca ou nas escadas do Instituto, por exemplo. Em abril de 2014, no ano da morte de Guruji, como de costume, eu esperava para me despedir. Em sua varanda, sentei aos pés dele e agradeci e, para minha surpre-

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sa, recebi orientações verbais de como agir em relação aos dois lados da escoliose. Guruji mencionava os lados da escoliose como vales e montanhas. Na linguagem comum usa-se os termos lado côncavo e convexo, respectivamente. Um dos comandos impactantes no caso de escoliose foi o de mover os ossos como músculos, estabilizar o lado convexo (montanha) e expandir o lado côncavo (vale). Guruji dizia que a escoliose era uma patologia do primeiro invólucro energético do ser, o annamaya-kośa e, por isso, precisaria ser vista a partir do corpo físico, do sistema ósseo e muscular. Como a prática de posturas é um dos caminhos para o autoconhecimento e a emancipação, trabalhei arduamente durante diversas estadias em Pune, mas sempre com o prazer de descobrir, aprender e entender.

“O elemento fogo de Guruji era tão forte que ele conseguia transmiti-lo através de sua presença, palavras, ajustes e olhar”. Uma ocasião profunda aconteceu há muitos anos. Eu prestava assistência na aula médica e estava muito quente. Parei para descansar e me alongar com minhas costas contra a parede de umas das colunas do hall, levantei os dois braços em urdhva hastāsana. De repente, deparei com Guruji em minha frente, ele pousou o topo da cabeça no corpo do osso esterno

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direcionando a ascensão do peito e também empurrou apenas um dos lados do peito, devido a assimetria, em direção a parede. Logo após, ele se colocou em pé em frente a mim, olhou diretamente nos meus olhos e disse "You see?" (voce vê?). Lembro-me que seus olhos brilhavam como dois diamantes. O elemento fogo de Guruji era tão forte que ele conseguia transmiti-lo através de sua presença, palavras, ajustes e olhar. ABIY: Para quem tem escoliose, como deve ser dosada a prática nas posturas que tem dois lados, como utthita trikonasana, por exemplo? Deve-se permanecer pelo mesmo tempo nos dois lados e fazer o mesmo número de repetições? Primeiro é preciso obter uma avaliação objetiva do padrão da escoliose através de radiografias, curvas e graus e definir se é uma escoliose estruturada ou postural em casos de assimetrias causadas por problemas secundários como nervos pinçados, tumores, osteoporose e de fundo emocional. Em seguida, definimos um programa de sequências e modificações. O professor precisa ter o grau de qualificação para poder trabalhar com a coluna vertebral. Como também o portador de escoliose precisa ter um acompanhamento médico, principalmente no caso de adolescentes em época de crescimento. Por ser um padrão tridimensional precisa ser estudado nas três dimensões. Inicialmente trabalhamos o

alinhamento simétrico (como em tadasana e utthita hasta padasana através dos órgãos de ação (karmendriyas). Os pés são a base de propriocepção, as pernas são como colunas firmes. Juntos com as mãos e braços formam a base de suporte para reeducação postural, mental, prânica, intelectual e espiritual. Procede-se, então, com as posturas assimétricas (como parsva hasta padasana, utthita trikonasana etc). Ambos os lados precisam de modificações e ações específicas para maior estabilidade e extensão. Por exemplo, o lado convexo, ou o lado da montanha, requer maior estabilidade, através de contração muscular concêntrica e isométrica. Em utthita trikonasana para a direita, por exemplo, o ângulo da postura pode ser diminuído. O lado retraído, côncavo, ou vale, requer a ação de contração muscular excêntrica também isométrica. Dependendo dos graus e curvas o lado retraído precisa se alongar mais e ter um tempo maior para que os músculos possam expandir, alongar e receber os benefícios da postura. O ângulo de extensão lateral também precisa ser modificado. Simplificando o não simples, o lado convexo precisa de tonicidade e os


músculos devem ser ativados, e o lado côncavo precisa ser alongado. Usamos assim a isometria, ou seja, a permanência na postura para que a mente possa penetrar e os ajustes sutis possam ser feitos. Os acessórios mais comuns para as posturas de pé em relação a escoliose são paredes, cordas, cadeiras e o cavalo. ABIY: Quais são os efeitos mais visíveis em adolescentes que praticam yoga regularmente desde a infância? Ministro aulas para crianças em Nova York no Bloomingdale Family Program e são aulas fechadas por fazerem parte do currículo da escola. Não trabalho com adolescentes.

Mas pelos anos de observação das aulas para crianças em Pune e vendo o crescimento das mesmas, vejo a diferença significante entre eles e os adolescentes que não praticaram na infância. O que mais me chama a atenção é em relação a atenção, concentração e reverência dos estudantes com os professores. Os alunos mais velhos na época de exames recebem sequências de posturas para renovar, restaurar e manter o sistema nervoso saudável. Acho isso fundamental. O yoga oferece as ferramentas para a automanutenção de acordo com a diversas fases da vida.

GEOMETRIA DO ASANA

Preparação para vātāyanāsana e goraksāsana Posturas avançadas que possuem uma base em comum: padmāsana Por Marcia Monroe Fotos Julia Pedersen (RIMYI)

Em fevereiro último no RIMIY, em Pune, padmāsana foi o tema das aulas ministradas por Geeta Iyengar. Essas aulas temáticas não foram conduzidas como aulas regulares, mas sim para treinar os professores do Instituto sobre o refinamento da arte de observar, ajustar e modificar posturas complexas. A convite da ABIY, Marcia Monroe compartilha com a comunidade de Iyengar Yoga do Brasil uma sequência especial para vātāyanāsana e goraksāsana ensinada por Geeta no dia 14.

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Ardha uttānāsana A aula começou com Raya Uma Datta ensinando ardha uttānāsana na parede. Palmas na parede, pés separados, pernas descentralizadas; alongar a coluna sem deixar os cotovelos e as escápulas irem na direção do chão exacerbadamente, visando manter os quatro pilares do tronco (frontais e posteriores) paralelos entre si (sem hiperestender os cotovelos e ao mesmo tempo absorvendo as escápulas).

Ūrdhva hastāsana Em urdhva hastāsana, alongar a parte anterior do corpo e as laterais do tronco, cotovelos para trás com polegares resistindo.

Foto: Arquivo pessoal

Ardha baddha padmōttānāsana Estágio básico De frente para parede, ardha baddha padmōttānāsana com a perna direita em padmāsana, segurando o pé direito com a mão esquerda. Empurrar (com ênfase e rapidamente) o joelho direito cinco vezes paras trás para abrir a raiz da coxa. Foto: Arquivo pessoal

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Ardha baddha padmōttānāsana Variação encostada na parede Extensão pélvica através do ângulo oblíquo de perna. Perna direita em padmāsana, perna esquerda inclinada para trás. Com as mãos na parede, apoiar a parte inferior do abdome, raiz das coxas e púbis na parede. Sacro e linha média dos glúteos em direção da parede (ação óssea e muscular), joelhos contrapondo para trás.

Vrksāsana

De frente para parede (ao lado), perna de base para trás; pelve e osso púbico na parede. Extensão pélvica com a linha média dos glúteos direcionada para a parede. Elevar o osso esterno na direção do teto.

Fotos: Arquivo pessoal

Variações: com a mão na parede (foto acima) para melhor equilíbrio; com braços elevados (acima à direita).

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Ardha baddha padmōttānāsana De costas para a parede Durante essa variação, uma aluna colocou uma corda para abrir espaço no joelho direito devido ao seu problema. Geeta interrompeu a aula e disse: “Tire a corda. Isso é uma condição mental. Primeiro, use as suas mãos, depois use a corda".

Fazendo a rotação da coxa manualmente Com a mão (ação sensorial), direcionar o joelho interno para fora. A compreensão das direções é o principal para corrigir a rotação de dentro para fora e preparar o joelho para receber a ação da corda. A sequência correta inicia com a supinação do pé na direção da raiz da coxa. Na sequência, a panturrilha precisa abrir de dentro para fora e direcionar os dedos do pé em padmāsana, metatarsos voltados para cima. O arco do pé e os ligamentos do joelho são relacionados nesta ação.

Trabalho em dupla Mover a linha média do glúteo para frente e direcionar o joelho para a parede simultaneamente.

De frente para a parede Distância de três pés da parede. Perna direita em padmāsana. Empurrar o joelho direito para trás, mãos na parede, flexionando o tronco para a frente como se fosse tocar com o topo da cabeça na parede. A função desta variação é facilitar o movimento do braço direito em direção aos dedos do pé direito (baddha hasta).

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Segurar o pé direito com a mão direita, baddha hasta (ao lado) . Alongar o tronco para que a cabeça possa chegar até a tíbia (abaixo à esquerda).

Modificações Para quem não consegue a postura completa, mãos no chão alongando o tronco para a frente absorvendo a coluna torácica (acima).

Fotos: Arquivo pessoal

Para quem não consegue chegar até o pé, usando um cinto para segurá-lo, indo em direção a baddha hasta (à direita).

Ardha baddha padma paśchimottānāsana Alongar o tronco primeiro para cima, coluna côncava (foto acima). Em seguida, alongar o tronco para a frente, postura final.

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Estágios de ardha baddha padma paśchimottānāsana Dandāsana (à esquerda). Padmāsana com a perna direita com rotação do tronco (centro).

Fotos: Arquivo pessoal

Lançar o braço direito várias vezes para trás até conseguir segurar os dedos do pé direito (à direita).

Adho mukha śvānāsana

Uttānāsana

Costelas posteriores para frente, escápulas para dentro. Estender as pernas e levar a raiz das coxas e joelhos para trás simultaneamente.

Mãos e pés descentralizados.

Ūrdhva dhanurāsana de pé De frente para parede, extensão com as pernas descentralizadas e as mãos na parte posterior das coxas (virilhas posteriores) direcionando o movimento da pele e músculos de dentro para fora. Alongando o tronco tocar com a parte frontal da pelve e a raiz das coxas na parede. Aprender como manter o peso nas pernas para poder estender para trás. Opção: colocar as mãos na parede se tiver dificuldade de manter as mãos na parte posterior das coxas. Repetir. Observar a distância necessária da parede, sem ter que tocá-la com a pelve obrigatoriamente. Linha média posterior da região pélvica (glúteo máximo) para frente. Cabeça para trás.

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Matsyāsana De padmāsana, deitar-se na postura supinada. Levar os joelhos e o abdome na direção do chão. Pressionar as coxas para baixo e ativar a área pélvica posterior através da ação dos glúteos em direção a pelve. Braços estendidos para trás. Variações com apoio: Cobertor embaixo dos cotovelos; cobertores em rolo embaixo da borda externa das coxas e do tronco.

Vātāyanāsana (somente ação das pernas) De frente para a parede, com cobertor dobrado ou bolster (ou com joelho diretamente no chão), flexionar a perna esquerda à frente e a perna direita em padmāsana. Levar a pelve para frente (glúteos em direção a parede) e a perna em padmāsana em direção ao apoio sem deixar o peso do corpo despencar para não comprimir o joelho. Alongar o tronco para cima.

Goraksāsana De frente para parede/plataforma Raya Uma Datta demonstrou a postura final (no centro da sala com as mãos unidas na frente do peito), enquanto nós fizemos a postura com as mãos apoiadas na parede/plataforma. De padmāsana, pressionar as mãos para baixo e erguer o tronco na vertical (ao lado). Linha média dos glúteos para frente (abaixo). Importante não colocar o peso do corpo nas patelas dos joelhos, mas sim um pouco acima para não comprimi-las.

Como opção para alongar mais o tronco, elevar os braços. Acabamos a aula sem inversões e sem śavāsana por não ser uma aula comum. Geeta então sugeriu para usarmos o horário da prática pessoal à tarde para praticar as invertidas.

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Sequência para vātāyanāsana e goraksāsana 1. Ardha uttānāsana 2. Ūrdhva hastāsana 3. Ardha baddha padmōttānāsana (estágio básico; e variação encostada na parede) 4. Vrksāsana (mão na parede; braços elevados; de frente pra parede) 5. Ardha baddha padmōttānāsana (de costas para parede, com corda e usando a mão e polegar para fazer o giro; em dupla; de frente para a parede com tronco flexionado paralelo ao chão; segurando pé direito com mão esquerda; cabeça em direção a tíbia; modificação para quem não consegue a postura completa; e modificação para quem não consegue segurar o pé) 6. Ardha baddha padma paśchimottānāsana (coluna côncava e descendo o tronco) 7. Adho mukha śvānāsana 8. Uttānāsana 9. Ūrdhva dhanurāsana de pé 10. Matsyāsana (com braços entendidos para trás; variação com apoio para os cotovelos; e variação com apoio para tronco e coxas) 11. Vātāyanāsana (somente ação das pernas) 12. Goraksāsana (com mãos apoiadas na plataforma e com os braços elevados)

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EVENTOS

Curso "O Processo de Certificação" ministrado pela Prof. Corine Biria e parcerias com professores seniores brasileiros promovidos pela ABIY Texto Karla Vasconcellos A ABIY promoveu uma série de eventos em parceria com professores seniores do Brasil - todos os quais já contaram com benefícios de descontos para os associados- para angariar fundos que foram revertidos para trazer a professora Corine Biria de Paris para ministrar um curso de aperfeiçoamento para os responsáveis pela avaliação de professores no processo de certificação no Brasil. O curso foi intitulado "O Processo de Certificação" e foi ministrado no Centro Iyengar Yoga Florianópolis de 13 a 15 de abril de 2018. O referido curso teve grande importância para nossa comunidade, pois teve como objetivo aprofundar a capacitação dos avaliadores, bem como padronizar e humanizar o processo de certificação, integrando e profissionalizando os responsáveis por este processo sob a orientação detalhada e notoriamente didática desta grande professora sênior francesa.

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Certificação 2018 O processo de certificação 2018 ocorreu de 13 a 16 de abril com provas dos níveis Introdutório I-II e Júnior I. Ciente do empenho de todos e da importância da dedicação individual de cada um dos candidatos e avaliadores, a ABIY saúda a todos a todos os envolvidos neste processo agradecendo a cada um pelo empenho nesta importante tarefa! Parabéns aos novos professores certificados, bem como aqueles que mudaram de nível neste processo! Agradecimentos profusos ao Comitê de Eventos (CEv) pela organização, ao Comitê de Certificação (CC) e ao Comitê de Treinamento e Formação de Professores (CTFP), bem como aos demais participantes deste processo de curso e avaliação, pelo seu tempo e dedicação.

Fotos: Acervo ABIY

Abhijata Sridhar Iyengar no Brasil pela Primeira Vez em 2019

Abhijata Sridhar Iyengar, neta de BKS Iyengar, estará no Brasil pela primeira vez em maio de 2019. Marque já na sua agenda! Informações detalhadas sobre este grande evento serão postadas em breve no site da ABIY. Aguarde e fique atento!

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CANTINHO DO ASSOCIADO

Visando oferecer melhores benefícios para os seus associados e ampliar a difusão do conhecimento do legado de BKS Iyengar, a ABIY criou uma parceria com professores certificados para dar desconto para os associados em diversos cursos, workshops e aulões conforme segue: • 15% de desconto para associados em dia com suas obrigações para com a ABIY que estejam interessados em participar de workshops, cursos e aulões internacionais ministrados por professores estrangeiros convidados pelo professor certificado parceiro; • 10% de desconto para associados em dia com suas obrigações para com a ABIY que estejam interessados em participar de workshops, cursos e aulões nacionais ministrados por professores brasileiros. Em troca destes descontos que beneficiam os associados em dia com suas obrigações com a ABIY, a Associação divulgará estes importantes eventos em seus canais de mídia para ampliar a sua divulgação. Confira abaixo os eventos em que você associado poderá obter descontos. É a ABIY zelando pelo interesse dos seus associados! Juntos vamos mais longe!

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Não é associado? Não está em dia com suas obrigações? Gostou de nossa parceria e gostaria de obter estes descontos? Entre já em contato com tesouraria@iyengar.com.br e associe-se!

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"Qualquer ação realizada com beleza e pureza, em completa harmonia com o corpo, mente e alma, é Arte." BKS Iyengar - The Art of Yoga


Sañjaya

nº02

2018

C E N T E N Á R I O

B . K . S. I YE NGAR


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