Cosmologia - Crônica de um universo revirado

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CrĂ´nica de um universo revirado

J.R. Silva Bittencourt


Crônica de um universo revirado J.R. Silva Bittencourt Quando à noite olhamos para a abóbada celeste estamos, de alguma forma, olhando para o nosso próprio passado. Disso ninguém tem dúvida. Para entender e perscrutar esse passado, dispomos de duas únicas variáveis: o espaço e a radiação cósmica de fundo. A comunidade científica do nosso tempo considera que ambos formariam um todo contínuo, uma coisa só. Acredita-se, por isso, que apesar das limitações físicas, impostas pelas insuperáveis distâncias que nos separam das estrelas, poderíamos chegar até os seus quentes núcleos simplesmente rastreando a luz que elas emitem para o espaço. Se o espaço ao redor dessas estrelas tivesse a sua geometria alterada pelas consideráveis massas que as compõem, isso se refletiria diretamente na luz. Para esse grupo de pessoas é como se a luz fosse como um fio tênue e contínuo, que nos ligasse diretamente ao passado. Esse erro já foi corrigido por Planck e por Einstein no início do século passado, mas há quem insista em não abrir mão das ondas contínuas. Isso mostra que o ser humano tem uma imensa dificuldade em reconhecer que, na realidade, sabe pouco ou nada


do que acontece a bilhões de anos luz de onde estamos. A impotência em solucionar esses impasses obriga-nos a sustentar firmemente a tese do efeito Doppler, que depende diretamente da continuidade das ondas luminosas. Caso revíssemos a nossa posição, demonstrando certa humildade e dando atenção mais direta a alguns conceitos da mecânica quântica, veríamos que a luz não utilizaria o seu aspecto de onda para ‘percorrer’ o vácuo, e sim o seu aspecto de partícula. O verbo foi grifado, porque não há como se saber se uma partícula está imóvel ou em movimento no vácuo. Do nosso ponto de vista, a luz das estrelas sempre esteve por aqui, até o exato momento em que os nossos sentidos puderam capturá-la. O mais importante seria reconhecer que teria havido uma separação entre a luz e o espaço, evento que teria coincidido com o início da contagem do tempo. Essa ruptura nos diria, basicamente, que não seria o espaço que nos manteria diretamente informados sobre o que acontece nas distâncias astronômicas, ou mesmo nas ínfimas distâncias que separam as partículas subatômicas. A luz teria se transformado na portadora das informações que necessitamos para descrever a geometria do espaço. O leitor poderia perguntar por que tanta preocupação com um


detalhe tão desprezível (?). Como tentarei mostrar a seguir, a tese seria capaz de inverter até mesmo o sentido das forças que atuam no nosso espaçotempo. Veja bem, aceitando-se que a luz seria a mensageira do espaço, teríamos que levar em consideração as diferenças entre o comportamento de ambos. O espaço, apesar de aparentemente ficar em segundo plano nesse processo teórico de separação, teria criado as condições favoráveis para a condensação ou para o empacotamento da luz (quantização). No entanto, o comportamento da luz é distinto do espaço, pois apenas ela obedece a um movimento conhecido por “harmônico simples”, em que estariam envolvidas forças conservativas. É aquela velha história do elástico, em que notamos a existência de duas fases excludentes entre si: ou o elástico é registrado na sua fase de esticamento ou na de relaxamento, sem que ambas possam ser confrontadas. Na primeira fase do seu movimento harmônico, equivalente ao da quantização da energia luminosa, o empacotamento da luz seria perfeitamente capaz de simular uma curvatura no espaço. Isso equivaleria a você esticar o elástico. Se a luz e o espaço formassem uma coisa só, a curvatura do espaço e a força envolvida no processo apontariam na mesma direção, e não poderíamos


contar com a incerteza na posição da fonte de luz. Diz-se, por isso, que a imensa massa das estrelas geraria gravidade diretamente, ao mesmo tempo em que curvasse o espaço. Essa é a visão moderna da astronomia. Aceitando-se como viável a revisão proposta neste artigo vê-se que, ao se quantizar, a luz estaria assumindo o seu aspecto de corpúsculo, o que a impediria de irradiar energia. O “empacotamento” da luz na primeira fase do seu movimento harmônico seria um movimento negativo, à semelhança de uma implosão. Se houvesse alguma força envolvida no processo ela seria fictícia, correspondendo à antigravidade: o espaço se esticaria num sentido, contraindo o tempo de forma complementar, enquanto a força resultante apontaria no sentido contrário. A consequência para o observador é que sem a existência de tempo mensurável, ele não poderia medir movimento. A explicação é que sem tempo não existe memória e, para nós, somente existe o que pode ser lembrado. Assim, conviveríamos de forma aparentemente contínua apenas com a segunda fase do movimento harmônico da luz (de relaxamento e de contração do elástico) que corresponderia à fase de espalhamento dos fótons. Isso iria promover uma inversão


aparente no sentido da seta do tempo: apesar de a seta ainda apontar na direção do futuro obedecendo ao aumento da entropia, o observador vê a luz como se ela estivesse chegando do seu passado. Além de “projetar” a fase expansionária no passado, a inversão no sentido da seta do tempo misturaria os efeitos das duas fases distintas do movimento harmônico da luz: a expansão aparece como se estivesse acontecendo em tempo real, e sendo inesperadamente acompanhada de aceleração do movimento. Novamente devemos recordar que essa avaliação errônea é justificável, pois ao considerarmos a radiação como se ela fosse contínua e indissociável do espaço, teríamos a aceleração como sendo o resultado direto da expansão e da curvatura do espaço. Isso explica porque aceleração e gravidade são conceitos equivalentes, pelo menos na visão moderna da cosmologia. Sabemos como a gravidade atua através dos seus efeitos secundários, mas não conhecemos as causas que estariam por trás da sua atuação. Devido às características do movimento harmônico do nosso mensageiro do espaço, a radiação cósmica de fundo, poder-se-ia colocar alguns postulados ousados:


1-Se a expansão estivesse acontecendo em tempo real nós, como observadores isolados, não poderíamos lembrar-nos disso, pois o tempo se contrairia de forma complementar com o esticamento do espaço, retendo a luz para sempre. 2-Se a aceleração do movimento surgisse para nós apenas na segunda fase do movimento harmônico da luz, poderíamos concluir que as galáxias se afastam entre si, cada vez mais rápido, porque a curvatura do espaço estaria se desfazendo no presente. Ou seja, o espaço apareceria se esticando na fase expansionária porque a luz (não se sabe se isso também estaria acontecendo com o espaço) estaria na sua fase de contração (perdendo curvatura e densidade); 3-Como se prevê que no ocaso da sua existência o nosso Sol iria aumentar de volume, o aumento secundário da gravidade, descrito através da luzradiação, iria sugerir que a curvatura ao redor da estrela deveria se desfazer gradualmente. Neste caso, contrariando as expectativas atuais, os planetas não ficariam engessados pelo aumento da gravidade solar, pois o decréscimo da curvatura do espaço iria empurrá-los cada vez para mais longe


da estrela, mesmo na presença do aumento da gravidade. 4-Se lembrássemos de que as fases do movimento harmônico da luz influenciariam a nossa avaliação subjetiva, especialmente em relação aos eventos distantes, iria parecer que estamos vivendo fora do nosso próprio tempo, ou como se estivéssemos simultaneamente em mais de um lugar no espaço, o que soa como ficção científica. Isso se deve, em princípio, ao achado de que tanto a expansão do elástico luminoso quanto a sua contração teriam se transformado em tendências, que teriam ficado suspensas na direção do infinito. A primeira fase do movimento harmônico não existe para nós, porque reteria o tempo no futuro (ou até o espalhamento da luz). A segunda fase também não existe, porque as informações que dariam conta do relaxamento (contração do elástico) surgem com atraso, ou seriam desbancadas do seu próprio tempo por aquelas que dão conta da expansão, como se ela estivesse acontecendo em tempo real. Conclusão: o que existe, de fato, é unicamente o momento eterno, a que chamamos presente. Isso abre a possibilidade da existência de um universo estático, alheio aos movimentos ondulatórios que tanto valorizamos.>


Santa Maria, RS, 24/01/2018

Obs.: -Para entender melhor essa forma de abordagem do tema, com muito mais detalhes, siga o site do Issuu e procure “As aventuras de Ben-Hur e Padilha no espaço sideral”. São cinco episódios de muita informação.


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