Resvista Pitoresca

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Seja marginal, seja herรณi cartazes tipogrรกficos resistem herรณicamente em sua marginalidade Sรฃo Paulo Junho de 2017 Exemplar nยบ1

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CARTA AO LEITOR Uma Revista Inovadora Pitoresco é um adjetivo na língua portuguesa e define aquilo que é excêntrico, inusitado e interessante. Nossa revista traz esse significado como propósito e vai além! Pitoresca além chamar atenção por sua singularidade, possui a capacidade de entreter, distrair e divertir por conta de sua essência própria e diferenciada. Pensando no viés artístico da revista e sem deixar de lado o aspecto design informativo e de conhecimento, a Pitoresca em sua primeira edição traz o cartaz como tema. Com suas primeiras aparições ainda no século X, a principal função do cartaz era a informação. Anos depois, sua essência permanece a mesma, porém as mídias digitais trouxeram outras ferramentas que atuam com a mesma função. Isso não significou sua extinção completa, mas possibilitou que o suporte impresso ganhasse caráter mais artístico e aberto a experimentações. Com isso o cartaz transferiu-se dos muros e das ruas para dentro de galerias ou/e residências. Aos amantes de design que se interessam pelo cartaz, resta encará-lo como uma plataforma para testar técnicas, linguagens gráficas e formatos. Essa possibilidade, que é inerente ao suporte, permanece intacta.


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22 ENSAIO

AT U A L I D A D E S

26 MUSEALIZANDO

30 BRASILEIRÍSSIMOS

A TRANSCENDÊNCIA DO CARTA Z Entenda como esse suporte reapareceu de outra maneira sem perder a sua essência:

PENUMBRA

A HISTÓRIA COM BELEZA

uso das sombras e vultos

AS DESCOBERTAS DE JIRI KOLAR: COLAGEM E EXPERIMENTAÇÃO

dos personagens invisíveis.

Um dos representativos

Rápidos, baratos e

nomes da arte do século

descartáveis.

XX, Jiri Kolar, ganha

Lambe-lambes tipográficos

a primeira exposição

resistem heroicamente

individual no Brasil.

em sua marginalidade.

"No Jardim em Penumbra" do poeta paulista Ribeiro Couto mostra através do

Padrões do design que se repetem na arte de contar uma história.

a informação.

SEJA MARGINAL SEJA HERÓI


38 DE TODOS

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46 TIPOS

DESIGN CURIOSO

50 INFORMAÇÃO

E SE CADA BAIRRO DE SÃO PAULO TIVESSE UM LOGOTIPO? Conheça a identidade

SIGNOS E SIGNIFICADOS

GRAFITE PEGA LOTAÇÃO CPTM abre as portas para uma explosão de cores.

de São Paulo.

AlOISIO MAGALHÃOES Conheça o pioneiro do

Palavras que contam

Design Gráfico no Brasil

e ilustram.

e seus principais trabalhos.


E N S A I O

PENUMBRA AtravĂŠs do uso das sombras e vultos, o ensaio conta a histĂłria do poema "Na jardim em penumbra" de Ribeiro Couto Fotos por Jackeline Alves.

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Na Napenumbra penumbraem emque quejaz jazo o jardim silencioso A tarde triste vai morrendo... desfalece... Sobre Sobre a pedra a pedra de um de um banco banco um um vulto doloroso Vem sentar-se, Vem sentar-se, isolado, eisolado, como e como que se esquece...




Deve ser um secreto, um delicado gozo Permanecer assim, na hora em que a noite desce, AnĂ´nimo, na paz do jardim silencioso, Numa imobilidade extĂĄtica de prece...

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Em lugar tão propício à doçura das almas Ele vem meditar muitas vezes, sozinho, No mesmo banco, sob a carícia das palmas.





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E uma sĂł vez o vi chorar, um choro brando... Fiquei a ouvir... CaĂ­ra a noite, de mansinho... Uma voz de menina ao longe ia cantando.

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Encontros e desencontros.


AT U A L I D A D E S

JIRI KOLAR: COLAGEM E EXPERIMENTAÇÃO Um dos respresentantivos nomes da arte do século XX, oriundo da Europa Central, Jirí Kolár, ganha a primeira exposição individual no Brasil.

Após 14 anos de sua morte, Jiri Kolar, um representativo nome da arte do século XX, ganhou em 2017 sua primeira exposição individual no Brasil, no Istituto Tomie Ohtake. O artista tcheco, que fora perseguido pelo regime comunista em seu país e notabilizou-se como poeta, escritor e tradutor, foi um dos premiados da 10º Bienal de São Paulo (1969), ao lado do alemão Joseph Beuys e dos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, entre outros, na coletiva Além dos Preceitos: a experiência dos anos sessenta. As cerca de 70 obras reunidas nesta mostra, são provenientes do Museu Kampa. Há obras que utilizam reproduções de revistas, xilogravuras e páginas de livros, que empregam diferentes técnicas e materiais. Segundo o curador, são trabalhos feitos no período mais importante de sua produção.

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Maçã - Jirí Kolár Crédito de imagem Oto Palán.


AT U A L I D A D E S

A colagem se tornou o seu grande meio de expressão.

Kolar iniciou seus trabalhos com colagem na década de 1930, quando fez uma exposição com seus primeiros trabalhos conectados à visualidade surrealista. Juntou-se ao Grupo 42, que reunia pintores, fotógrafos, poetas e teóricos e afastou-se das artes plásticas, dedicando-se progressivamente à poesia. Os anos de 1940 foram decisivos para ele, momento em que passou a colecionar materiais que representassem sua relação com a cidade, com a história e com as descobertas na ciência e na tecnologia. Tal repertório apontava a sua abertura para apreender o mundo em toda a sua diversidade e, ao mesmo tempo, retomava sua expressão nas artes plásticas. Mergulhou nas artes visuais e transplantou alguns princípios literários, tais como, a sobreposição livre dos temas, o ritmo da composição das palavras e frases. Conforme a sua trajetória e suas obras foram amadurecendo, a colagem tornou-se o seu grande meio de expressão, o que permitiu alterar a narrativa das imagens originais nas suas séries de confrontage e reportage. Depois de anos de experimentação, descobriu seus procedimentos principais, no qual a palavra se transformava em instrumento artístico e compositivo. Suas duas técnicas principais para a composição de suas colagens foram o Froissage, que deforma os temas originais das imagens por meio do ato de amassar, e Rollage, que consiste em cortar reproduções de imagem em faixas ou quadrados e as recolocar em novas composiçõe.

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A série de objetos de colagem entre os anos de 1960 e 1970, também se destacam, assim como os banners que, combinando tecidos e diferentes técnicas de colagem, refletem o olhar irônico de uma arte engajada e tornaram-se seu protesto contra o regime totalitário. A obra de Jiří Kolář foi apreciada em países como França, Alemanha, Itália e Estados Unidos, onde foram organizadas exposições em instituições prestigiadas. Na Tchecoslováquia totalitária não havia exposições, tampouco era possível adquirir obras para coleções. Tanto seus trabalhos quanto os de outros artistas tchecos e estrangeiros, que o próprio Kolar possuía, foram apreendidos pelo Estado após sua saída forçada da Tchecoslováquia e entregues à Galeria Nacional em Praga. Apenas depois da queda do regime comunista, no final da sua vida, foi reconhecido e admirado em seu próprio país. Os museus e galerias tchecos e eslovacos competiam, nos anos 1990, para a organização de exposições sobre seu trabalho. Dois anos antes de seu falecimento, foi apresentada uma grande retrospectiva na Galeria Nacional em Praga (1999-2000), acompanhada por uma monografia representativa com textos de Josef Hlaváček, Jan Rous e Jiří Machalický. Eva: narrativas criadas com junção de imagens aleatórias. Créditos de imagem: Oto Pálan.

Jiri Kolar Colagem - Hommage à Mlle Rivière, 1981.

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MUSEALIZANDO

A HISTÓRIA COM BELEZA São Paulo arte e design

Padrões do design que se repetem na arte de contar uma história.

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A linha tênue que divide a arte do design, ambos elementos essenciais para o ser humano, estão lado a lado em sua constituição. Porém, o design é concebido a partir de uma necessidade real, vem ao mundo com o intuito de trazer respostas, já sua prima artista faz o questionamento. Por possuírem muitos elementos visuais, acabam sendo confundidos. Uma visita ao museu e se adquire experiência, cria-se história – a história da história –, se aprende através dos sentidos. Podemos comparar a existência de determinado artefato e sua correlação com a arte ou design. No MASP, a exposição que narra a história da avenida mais paulista de todas, apresenta pinturas, fotos, objetos que lembram os hábitos paulistas, cartazes e vídeos mostrando atos de manifestações na Avenida Paulista. Isso é arte ou design, caro leitor? Experiências sensitivas estão ligadas ao universo artístico, o objetivo da mostra não é dar soluções para o que esse pedaço, digamos, o coração de São Paulo é, nem responder aos “porquês”, sejam de caráter visual/explicativo. A exposição apresenta esse lugar pontuando como é ser Paulista e as influencias dela no dia a dia.


Visita ao Museu Foto: Juliane Paroschi


MUSEALIZANDO

Os cartazes de passeatas, como da LGBT, feitos para questionar – aí um elemento do design – e convidar os interessados. Pinturas que se eternizam mesmo com a passagem rápida do tempo, revelam as estradas de terra, algumas árvores e até pequenas casas que envolviam a região no início do século passado. Fotos que capturam a essência do hábito de estar na cidade e viver dela. Apesar de encontrarem-se objetos do design no museu, a história vai continuar sendo arte, porque não é uma questão de trazer respostas, mas uma razão que só os olhos do artista podem enxergar e transmitir da forma que um bom ouvinte a interpreta.

A vida do Paulistano Papéis de recibos enrolados e colocados em sequência. Foto: Juliane Paroschi

Paulista na década de 80 Foto: Juliane Paroschi

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Conjunto de fotos de vários autores Foto: Anna Magalhães

Avenida Paulista Ibã Huni Kuin Dami Foto: Anna Magalhães

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B RAS I LE I R Í S S I M O S

A TRANSCENDÊNCIA DO CARTAZ Um forte alido comercial.

Entenda como esse suporte reapareceu de outra maneira sem perder a sua essência: a informação.

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Os primeiros cartazes datam do século XV, mas os primeiros relatos que se tem sobre o cartaz como meio de comunicação, coincidem com a história da própria humanidade. Esse fato faz perceber como o cartaz desempenhou um papel importante na história da comunicação humana. Em 1860 surgiram primeiros cartazes publicitários. Foi possível combinar texto e imagem, permitindo desta forma uma compreensão e leitura rápida do conteúdo do cartaz. Estudos da psicologia ligadas a comunicação visual mostram que a combinação entre imagem e texto é mais eficaz do que qualquer um dos dois apenas. Após a revolução industrial, o cartaz se tornou uma das ferramentas mais importantes para a comunicação. Ele se manteve como um forte aliado comercial do final do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, onde foi o suficiente para influenciar o pensamento crítico, a expressão pessoal e a criação de outras peças de protesto. Mas a medida em que novas mídias aparecem, o cartaz perde espaço para outras opções mais rentáveis e vantajosa. A revista, o outdoor, a televisão e, principalmente, as mídias digitais abalaram intensamente a força do cartaz.


Cartaz Guerra Civil Espanhola, 1936


B RAS I LE I R Í S S I M O S

O cartaz prevalece como uma alternativa às mídias tradicionais e assume novas formas, aparecendo em campanhas comerciais e políticas, além de ser muito usado por designers e artistas ao redor do mundo como ferramenta de expressão pessoal. No entanto, é inocente imaginar que o cartaz um dia voltará a ter a mesma força do início do século XX; a televisão, o cinema, os painéis eletrônicos e até mesmo as revistas são escolhas muito mais óbvias para os anunciantes. É preciso saber como e quando usá-lo, pois ele ainda é uma ferramenta poderosa é surpreendente. Algum dos melhores designers do mundo passaram a escolher o cartaz como ferramenta de expressão pessoal, ou como uma alternativa comercial inesperada.

I Want You. Miami ad School

Cartaz para campanha de impressão do prêmio BAFTA 2015.

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O poder do cartaz é indiscutível, e pode ser compreendido através da sua composição. Para pensar em elementos essenciais de um cartaz, o ponto, a linha e as formas geométricas são alguns aspectos que devem ser considerados. O ponto é aquilo que se destaca em um cartaz, o que o espectador tomará conhecimento de imediato. A linha é a relação entre dois desses pontos e que, por meio do olhar, pode criar uma história entre esses dois elementos. Já as formas trabalham o conteúdo, com quadrados se criam movimento horizontal ou vertical e, com as formas redondas, os movimentos circulares. Dentro disso, as cores e tonalidades são elementos que também devem ter relevância.

Kiko Farkas Cartaz para Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

Kiko Farkas Cartaz para Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

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Rápidos, baratos e descartáveis. Lambe-lambes tipográficos resistem heroicamente em sua marginalidade. Cartazes por Rico Lins.

SEJA MARGINAL SEJA HERÓI última em serigráfia.

da em tipografia e a

digitalmente, a segun-

a primeira, impressa

em camadas:

A impressão é feita

B RAS I LE I R Í S S I M O S


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plorar disjunções.

introduzindo distorções e ruídos de modo proposital, com o intuito de realçar e ex-

propiciadas pelas novas ferramentas. O resultado gera peças híbridas, muitas vezes

impressão tradicional de uma máquina alemã da década de 1920 às possibilidades

a impressão com tipos de madeira. Em parceria com a mesma, Rico Lins mistura a

A Gráfica Fidalga, é uma das últimas restantes na cidade de São Paulo a praticar

timento de perda de elementos de linguagem característicos dos processos antigos.

um lado, o entusiasmo com os recursos da computação gráfica e por outro, um sen-

A partir dos anos 1990, a transição dos meios analógicos para os digitais gerou por

Marginais Heróis e seus processos

xilia na transmissão do conceito e a ideia central da exposição.

cartazes como intervenção urbana. Com seus processos, de maior parte manual, au-

Os cartazes Seja Herói Seja Marginal estão intimamente ligados ao Lamb-Lamb,

memórias ou nas coleções.

heroica resistência dessa peça feita para ser fugaz, mas que resiste seja nas ruas, nas

logo sobre as possibilidades geradas pela interação de tecnologias e a refletir sobre a

A peça gráfica cartaz está no centro dessa exibição que se propõe a instigar o diá-

destacaram como “heróis”, mesmo estando de certa forma à margem da sociedade.

Rodrigues, Chico Science, entre outros personagens de diversos contextos que se

mais de 40 cartazes com Zé do Caixão, Chacrinha, James Dean, Maria Bonita, Nelson

logias da informação Mabuse, deu início ao projeto “Marginais Heróis” que reúne

Rico Lins, em parceria com o grande xilogravador J. Borges e o mestre nas tecno-

e identidade brasileira.

uso de tecnologias híbridas e se propõe a preservar o patrimônio gráfico, de memória

co Hélio Oiticica, o lema, o projeto “Marginais Heróis” explora as linguagens visuais, o

Sendo a frase “Seja Marginal, Seja Herói”, da obra “Bandeira-Poema” do artista plásti-

Cartazes Seja Marginal, Seja Herói por Rico Lins


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Museu da Casa Brasileira.

cional da República em Brasília e posteriormente para o

do Funcultura. Sua continuação se deu para Museu Na-

com ações de arte e educação que conta com recursos

vez em uma exposição na Galeria Amparo 60, integrada

Em 2015 o projeto veio para o Brasil pela primeira

contexto.

a circular em torno deles, deslocando o cartaz de seu

tos frente e verso, os cartazes convidavam o espectador

Aires e Berlim. Pendendo do teto da galeria, justapos-

Sua continuação se deu no ano seguinte em Buenos

configuração.

ação artística, impossível de ser repetida com a mesma

só arrancando. A montagem transformou-se assim em

ao processo de colagem de cartazes. Para retirá-los,

colados diretamente às paredes da galeria, remetendo

julho e setembro de 2012. Os cartazes originais foram

Somerset House de Londres onde permaneceu entre

posição “From the Margin to the Edge”, inaugurada na

concebida inicialmente como parte integrante da ex-

A primeira exposição do projeto “Marginais Heróis” foi

Exposição

B RAS I LE I R Í S S I M O S


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DE TODOS

Integração com a comunidade.

O GRAFITE PEGA LOTAÇÃO

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CPTM abre as portas para uma explosão de cores.

As manifestações do grafite surgiram a partir do movimento contracultural em 1968 com inscrições de caráter poético político nos muros de Paris, mas também podem estar associados a diferentes movimentos e tribos urbanas. Em Nova York, nos anos 1970, essa prática foi expandida para espaços públicos. Tornou-se um fenômeno mundialmente valorizado e de muita relevância no cenário artístico. Em São Paulo, o grafite se incorporou aos sucessivos programas culturais da CPTM de 2001 até hoje. A direção da empresa apoiou a equipe de Comunicação e este abraçou o desafio, na busca de apoio institucional junto a fabricantes de tintas, empresas, Ong’s, prefeituras e artistas. A dupla OsGemeos fizeram pareceria desde o início do projeto e ciaram painéis na estação da Lapa, com a colaboração da artista Nina Pandolfo – que se tornaria também muito respeitada – e na Ipiranga, mais uma vez com a participação de Nina e também do artista Ise. Outros trabalhos surgiram, a exemplo do Mural da Luz, no qual a dupla desenhou a imagem de um imenso trem, apara anunciar a integração com a Linha 4 do metrô. Já em 2006, o projeto 30 Horas de Arte contou com a participação de 150 artistas.


Mural dos OsGemeos em São Paulo.


DE TODOS

O projeto 30 Horas de Arte contou com a participação de 150 artistas nacionais

Muro da Estação Mooca ganha grafite inspirado em gatos do artista paulista Thiago Goms.

e internacionais.

A intervenção no muro interno da Estação Domingos de Morais, na linha 8, protagonizou um painel de mais de mil metros quadrados. O mutirão artístico que consumiu 30 horas – dando nome ao evento – foi coordenado por Binho Ribeiro e Bonga, artistas de destaque no universo do grafite. Em 2010, o Espaço Cultural Brás abrigou um Tributo ao cantor pop Michael Jackson. Seis grandes artistas do cenário nacional e internacional (Binho Ribeiro, Bonga, Dingos, Graphis, Mauro e Nossa) foram chamados para criar vários painéis de grafite em muros e paredes de estações. A ação utilizou como referência o documentário This is It e teve o apoio da Sony Pictures e da Colorgin. Neste ano de 2017, ao completar 25 anos, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos possui um acervo cultural imenso em 33 estações e continua aberta a proposta de artistas para a confecção de grafites nos muros e demais equipamentos do sistema. Um dos pioneiros da street art no Brasil, Binho Ribeiro também foi curador da pintura completa dos cerca de 500 metros lineares de tapumes e muros do Poço de Ventilação e Saída de Emergência, considerado o coração da obra de construção, da linha 6 Laranja do metrô.

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Mural do OsGemeos em São Paulo.

A intervenção se encontra na rua Edgar Ferreira de Barros, esquina com a Avenida Otaviano Alves de Lima, na Freguesia do Ó. Cerca de 40 jovens artistas da região da Freguesia e Brasilândia foram selecionados para o trabalho, antecedido de quatro workshops que debateram e desenvolveram o projeto. A ideia principal: integrar a comunidade com a construção da linha naquele local, por meio de uma linguagem leve e colorida.

A efeméride relembra Alex Vallauri, ícone da arte urbana no Brasil.

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TIPOS

SIGNOS E SIGNIFICADOS O verbo e a visuabilidade

Palavras que contam e ilustram.

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A palavra escrita não é apenas palavra quando observada uma a uma, ela reflete a grande complexidade humana, sua história e necessidade de transmitir conhecimento. Ela imortaliza o efêmero, eterniza o passageiro, tem o poder de decodificar sentidos e descodificar sensações. Não obstante que pensadores, escritores, romancistas, dramaturgos, como Shakespeare, Alexandre Dumas, Victor Hugo e muitos outros se perpetuam por gerações através das páginas de seus livros. A história da humanidade é contada por meio de signos e a partir deles é que se pode afirmar a existência da historicidade. É a forma do homem se auto afirmar como ser superior dentre a natureza, transcendendo sua própria capacidade criativa. A criação de signos e códigos é tão natural para o ser humano quanto é para a formiga construir com presteza seu local de morada. Essa necessidade de exprimir sentimentos, expor aquilo intrínseco, viver de forma harmônica em sociedade fez da palavra escrita um código visual necessário para o homem. Sendo tão importante quanto a palavra em si, a tipografia exerce grande influência na forma em que se lê um texto.


Guerra Paz - 1974 - 37/50. Foto por: Anna MagalhĂŁes.


TIPOS

A tipografia é como se fosse a voz da palavra escrita, dá entonação a cada parágrafo lido. “A mão do poeta inventa e

O poema, uma união de vocábulos que formam sentenças

relaciona imagens, mobiliza

com o propósito de transmitir um pensamento de seu es-

os pensamentos daqueles que procuram por uma história, ou melhor, por uma pré-história das artes gráficas e sua poética.

crito, pode ser mudado de forma ao permitir que uma ou duas palavras permaneçam à frente do leitor. Estamos nos referindo ao Poema Processo, movimento artístico que

A performance da visualidade

ocorreu no Brasil durante o Regime Militar. Esse movimento

viaja no tempo e nos demanda

dispensava o uso da palavra como linguagem falada, abs-

uma contemplação provoca-

traindo dela um significado abstrato, junto com sinais, cores

tiva.”

e formas. O movimento considerava a poesia como palavra

Almandrade

oficial e falsa, passando a defender o fim do sentido poético, buscando compartilhar a criação com os usuários no momento da experimentação e criação. Tinha por objetivo ser inovador propondo um desmonte no que era pré-estabelecido no que se refere a experiências criativas. Possuía uma postura de vanguarda anti-ditatorial ao mesmo tempo em que atacavam poetas consagrados. Daí surge o artista, poeta e arquiteto baiano Antônio Luiz M. Andrade com o pseudônim Almandrade, membro do grupo artístico Poema/Processo e um dos fundadores do grupo de Estudos de Linguagem da Bahia. Ele trabalha com conceito de forma minimalista desde a década de 1970, onde a eferverscência dos grandes acontecimentos se passavam na região Sudeste, entre Rio-São Paulo, mas mesmo distante, estudava e se mantinha a par do que se passava, além de criar e escrever. Almandrade pertencente a era do pós-construtivismo, também incorporou em sua produção, além da poesia concreta, influências do neo-concretismo e construtivismo.

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Sua investigação aponta para a epistemologia construtivista, a forma da informação, a arquitetura dos signos com o poder da experimentação. “Estamos sempre relacionando tudo que vemos com a nossa carência de olhar, apropriamos das cenas vazias dando-lhes o sentido que nos pareça conveniente, para insinuar uma comunicação sem a interferência da raciocínio; mas o artista quer ir mais longe; enfrenta as aventuras da imagem, olha para dentro das coisas procura no fundo da paisagem, o que não se vê, à distância.” escreveu o poeta Almandrade. A maioria de seus trabalhos, o autor utiliza um tipo nãoserifado, que conversam com as linhas e planos ao redor como já dito, o minimalismo está presente em todas as formas. Sempre utiliza cores que se contrapoem à cor fundo. O poema não foi feito com o objetivo de ter um significado pré-estabelecido, mas para que a partir de obseravações, que vai muito além da leitura corrida de palavras, exige obervação de como os signos se manisfestam sobre o papel. É uma forma de expressão com o verbo onde o verbo em si não apresenta grandes respostas. é necessário olhar mais afundo para encontrar o que se busca. Foto por: Anna Magalhães. Almandrade 1986 - sem título.

Foto por: Anna Magalhães. Almandrade: Por que a arte? - 1986

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DESIGN CURIOSO

E SE CADA BAIRRO DE SP TIVESSE UM LOGOTIPO? Você saberia dizer a história do bairro onde mora? Essa foi a pergunta que motivou o designer gráfico Pedro Campos a criar um projeto de identidade visual com o objetivo de representar os bairros de SP, contando suas histórias e tradições. Você por acaso já parou para pensar quais são as histórias e lendas que envolvem seu bairro? Um designer gráfico e fotografo muito curioso e criativo resolveu se perguntar qual o motivo do bairro onde ele mora se chamar Butatã, e depois de muitas pesquisas teve a ideia de criar um logotipo para seu bairro, fez alguns rabiscos e acabou esquecendo no fundo de sua gaveta. Após 4 anos, em uma arrumação rotineira, encontrou seu caderno de ideias e resolveu mostrar para sua esposa e sócia Stella Curzio (Jornalista e fotografa), que amou o projeto e o apoiou a fazer o primeiro logo, depois o segundo, e quando surgiu o terceiro, os dois resolveram registrar e criar um site sobre, então nomeado de “Identidade São Paulo” com o objetivo de conseguir fazer um logo para os 450 bairros de São Paulo.

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Cidade de SĂŁo Paulo.


DESIGN CURIOSO

"Queremos fortalecer o elo entre as pessoas e seus bairros.."

Stella ficou responsável por toda a parte de pesquisa teórica e de campo do projeto, ela pesquisa por histórias e significados e quando pode, vai até os bairros conversar com moradores de longa data para descobrir lendas urbanas ou informações que não se encontram na internet. E para mostrar que a jornalista não está de brincadeira, Stella criou uma Websérie, onde em cada episódio, os dois vão até o bairro que já tem seu logo criado e mostram de onde surgiram as inspirações para a criação. Stella também escreve boletins narrados pelo casal semanalmente na Rádio Bandeirantes, contando a história e conceitos do logotipo de cada bairro. Depois da pesquisa de sua esposa, Pedro analisa quais informações podem ser relevantes para a criação do logotipo e as estuda minuciosamente, descarta informações que não são relevantes, faz rascunhos, sintetiza o contexto e vai trabalhando os detalhes até finalizar a criação do logotipo definitivo. Quando perguntam para os dois porque levam a ideia a diante a resposta é sempre a mesma - “Queremos criar e fortalecer o elo entre as pessoas e seus bairros, despertando o sentimento de zelo, contribuindo para a divulgação da história, preservação de patrimônios e das tradições dos bairros paulistanos, valorizando o aspecto cultural da cidade.” O casal já crio 450 logotipos e pretendem seguir com a ideia do projeto. quando finalizarem São Paulo, irão para o Rio de Janeiro, e poteriormente para as demais capitais do Brasil.

1. Logotipo do bairro Cursino 2. Logotipo do bairro Santa Ifigênia 3. Logotipo do bairro Vila Madalena 4. Logotipo do bairro Jaguara 5. Logotipo do bairro Cambuci 6. Logotipo do bairro Paraisópolis

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1

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5

6

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INFORMAÇÃO

ALOÍSIO MAGALHÃES Conheça o pioneiro do Design Gráfico no Brasil e seus principais trabalhos.

50


Aloisio em seu escritรณrio.

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INFORMAÇÃO

PRINCIPAIS TRABALHOS COMO DESIGNER GRÁFICO Banco de Crédito Mercantil O banco foi inalgurado em

1965

1940, mas seu logotipo foi criado tempos depois, em 1963..

Fundação Bienal de São Paulo Símbolo, em versões bi e tvri-dimensionais, 1965

1963 1927

05 de novembro de 1927 Alisio Magalhães nasce em Recife (PE).

Primeiro colocado em concurso fechado à participação de profissionais de design escolhidos pela instituição.

1949

Abriu seu ateliê, produzia obras abstratas animadas, mostrando um pouco de sua terra natal.


ALOISIO MAGALHÃES

S

Petrobrás - Sistema de Identidade visual e produto. Desenvolvido por grande equipe, todas as manifestações visuais foram coordenadas pelo próprio e Rafael Rodrigues, enquanto a coordenação do projeto de desenho industrial – bombas e instalações – coube a Joaquim Redig. Foi o primeiro projeto de grande complexidade do escritório de Aloisio Magalhães.

1972

1970 Aloísio Magalhães (1927 - 1982)

Banco Central do Brasil Nota de Quinhentos Cruzeiros

Aloísio Magalhães destacou-se

Neste projeto, Aloisio Magalhães rompe com o modo tradi-

como pintor, gravador, cenó-

cional de compor figuras em cédulas de dinheiro e, através de

grafo, figurinista e adentrou no

uma sucessão de rostos masculinos, expõe a formação étnica da

universo do design gráfico com

sociedade brasileira.

o grupo O Gráfico Amador. A leveza e informalidade com que tratava os temas de seus trabalhos se assemelhavam as artes plásticas. Ministrou ao

1957

Viajou ao EUA, aprendendo mais sobre design, abandonou a atividade de artista plástico para iniciar seus trabalhos como desiger.

1960 - 1975 Desenhou e projetou cerca de 70 sinais de grande visibilidade, entre eles o símbolo da Light, o desenho de novas cédulas e cartazes para o governo de Pernambuco.

lado de Alexandre Wollner, um importante designer da épo-

1979

Assumiu a direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do MEC.

ca, o curso de Tipografia no MAM-RJ; mais tarde fundou, com outros designers, a Escola Superior de Desenho Indutrial (Esdi). Foi diretor do IPHAN, estando à frente nas ideias relacionadas

a

preservação

da cultura popular brasileira.

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PRÓXIMA EDIÇÃO

PARAISÓPOLIS DAS ARTES Um novo olhar sobre a cultura e riqueza artística na periferia. Em breve...




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