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Projeto e coordenação Reginaldo Ribeiro CNPJ: 01.343.898/0001-63 (64) 8111-4217 / 9213-8936 Contatos: Reginaldo Ribeiro ultimosacontecimentos@gmail.com Textos Reginaldo Ribeiro ultimosacontecimentos@gmail.com Larissa Cristina Pacheco larissacrispacheco@gmail.com Fotos Reginaldo Ribeiro / Foto Zaga / Dalvo Leão Revisão Professor: José Francisco da Silva Formação em Letras - UFG / Catalão-GO jfranciscoSRP@hotmail.com Projeto gráfico / Criação / Diagramação / Arte Final James Cruvinel Junior / jameskalel@gmail.com Impressão Gráfica Imagem

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Congada

tradição, devoção e fé

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Congado originouse na África, no país do Congo, se inspirando no cortejo aos Reis Congos, uma expressão de agradecimento do povo aos seus governantes. Ao receber a colonização portuguesa, vários africanos foram trazidos para o Brasil para serem escravos e, acabaram trazendo esta tradição, mesclada com a cultura local. No Brasil, o Congado é celebrado em várias localidades, como nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, entre outros. Em Catalão, cidade do Sudeste de Goiás, esta cultura folclórica se mistura a religiosidade e é tradicional há mais de 140 anos. 4

Uma tradição emanada com a devoçaõ e a fé de vários devotos de Nossa Senhora do Rosário. Na cidade, a festa em louvor a santa atrai uma mutidão, de pessoas vindas de várias localidades. Os preparativos começam ao som das caixas, pandeiros e acordeons, sendo ouvido a distância pelos dançadores, os congadeiros que organizam seus ternos para mais uma jornada de fé e devoção. Desde o mês de julho os dançadores, capitães, general e seus familiares se preparam para mais um ato de fé. Cada pessoa envolvida nesta grandiosa festa de devoção, dedica-se inteiramente, não somente nos meses que antecedem a comemoração, mas o ano todo. A fé é

expressamente estampada no rosto de cada um, perceptível nas lágrimas, nos pedidos de graça, nas homenagens à santa. Uns já nascem com esta tradição no sangue, passada de geração a geração. Outros, tocados pela fé, começam a participar fervorosamente da festa. Como exemplo de herança e religiosidade, destacam-se algumas pessoas da comunidade catalana: Esta obra é uma homenagem àquelas pessoas que ajudaram de alguma forma e contribuem para o crescimento da cultura em nossa cidade. Salve o Rosário REVISTA O CONGADO 2016


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Dedicatória D

edico este trabalho aos congadeiros de Catalão e região, em especial a José Mário Ribeiro, Maria Aparecida da S. Ribeiro (in memoriam), Pedro Alcino Ribeiro (in memoriam), Carlinda Ribeiro (in memoriam). A minha esposa Luciana Borges da Silva, aos meus filhos Clayver Alves Ribeiro, Eithel Alves Ribeiro e ao enteado João Paulo B. Mesquita aos meus irmãos Luiz André Ribeiro, Simone da Silva Ribeiro e Alessandra da Silva Ribeiro sem esquecer-se dos amigos e antigos que iniciaram a tradição. Reginaldo Ribeiro

INTRODUÇÃO

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urante a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, no mês de outubro, os dançadores de congado mobilizam suas famílias, irmãos que perpetuam as danças, cantos de devoção religiosa, representados num mosaico multicolorido de vestimentas, estandartes em desfile pelas ruas avenidas da cidade e ao redor da centenária Igreja do Rosário.

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Apresentação

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ão só de aspecto físico se constitui a cultura de um povo. Há muito mais contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas e em diversas manifestações, transmitidas oralmente ou através de gestos, recriadas coletivamente e modificadas ao longo dos anos. Por isso, é reconhecida como patrimônio religioso e cultural num município em franco desenvolvimento no interior do Estado de Goiás. Divulgar uma das maiores festas folclóricas do Estado, a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, nos faz reconhecer a nossa origem, história, fé e a nossa força cultural. Ao evidenciar ao mundo nossa dimensão, a complexidade e a diversidade do patrimônio cultural, promovemos a importância de se reconhecer a beleza, a força, o valor e as pessoas que preservam a 8

tradição dessa expressiva manifestação religiosa existente na centenária cidade catalana. Esta publicação não pretende aprofundar as reflexões sobre a temática, mas apenas apresentar os grupos de congada que compõem a maior manifestação de fé e cultural da cidade. São esses grupos, as famílias, as pessoas, a alma de tudo, a verdadeira essência de um dos mais ricos e importantes patrimônios vivos de Catalão.

sem fardas. Ao final da cerimônia religiosa, são levantadas duas bandeiras, a de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Todos os ternos realizam suas evoluções ao mesmo tempo ao redor dos mastros erguidos, cantando, dançando e batendo as caixas. Caixa de congo – O ciclo da festa da congada de Catalão em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito inicia-se sempre no segundo domingo de Agosto, quando as batidas das caixas podem ser ouvidas por toda cidade. Os ternos sempre comandados pelos seus capitães, levam seus oratórios com os Santos de devoção e coreografias.

Levantamento da bandeira – A Festa do Rosário em Catalão tem duração de dez dias, com a alvorada festiva, terços, missas, procissões e entrega da coroa. No dia em que se comemora a nona novena, por volta das 19h, milhares de Novena – Durante as novepessoas participam da procissão acompanhada por religiosos e to- nas são realizadas missas, reza de dos os ternos de Congo, Moçambi- terços e os leilões que são organique, Catupé, Vilão e Penacho ainda zados no Salão de Festa ao lado da

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tuída quando morrer e sua substituta é uma pessoa da própria família. Bandeirinhas – Tem o significado da Virgem do Rosário. As meninas vão levando as bandeiras com a imagem dos santos de devoção, sempre à frente dos ternos. Reinado – Composto pelo rei, rainha, príncipes e princesas, que podem ser coroados perpétuos. Sua função é manter uma vigilância constante com orações de proteção e ensinamentos ou como o Rei de Ano, ou seja, o Rei Coroado para a festa daquele ano, cuja função é orar e buscar contribuições para a festa da Irmandade. Capitães – Divididos em primeiro, segundo e terceiro capitão, cada um com funções especificas Igreja. Os leilões são promovidos os ternos de congo trazem. Nor- dentro do terno. para ajudar na elaboração da festa. malmente o proprietário da casa, oferece aos capitães, dançadores e Oração – Sempre que os Entrega da coroa – Ao final bandeirinhas, refrescos, biscoitos, dançadores se reúnem para louvar da festa, a comissão festeira sai em bolo, pão de queijo ou mesmo um em nome dos santos, antes fazem cortejo da porta da Igreja do Ro- copo d’água para repor as energias. um momento de oração. sário, acompanhado por todos os dançadores, religiosos, milhares Encontro dos ternos – Vindo Caixeiros ou dançadores de populares e pagadores de pro- de diferentes localidades da cida- – São tocadores de tambores ou messa, os ternos de Moçambique de, os ternos se reúnem sempre na caixas, que dão ritmo aos ternos. são responsáveis por acompanhar Praça em frente à Igreja do Rosá- Além dos caixeiros temos os tocaa família real, que leva a coroa de rio. dores de viola ou violão, acordeom, ouro. Vale ressaltar, a presença de tamborim, pandeiro, reco-reco e policiais militares que garantem a Bastão - É o símbolo de co- gunga (campanha). segurança. Após anunciar os pró- mando dentro dos ternos de conximos festeiros e equipe responsá- gado. Símbolos – A presença visível pela festa do ano seguinte, cada vel do invisível é muito forte nas terno realiza sua apresentação peVestuário – Os moçambi- manifestações de fé do congado. rante os populares. queiros usam as cores de Nossa Se- Eles expressam e tornam presente nhora do Rosário, o azul e o bran- a memória dos antepassados e diVisita às residências – Casas co. Os congos se vestem em cores vindades do povo negro e a fé no simples, muitas vezes também mo- diversas, significando o caminho, Deus criador, Salvador, em Nossa rada de dançadores, filhos, netos e com galhos e flores, para a Senhora Senhora do Rosário e nos Santos parentes, preparam-se para receber passar. e Santas patronos e protetores das o oratório e a bandeira que todos Rainha – Só pode ser substi- Irmandades. REVISTA O CONGADO 2016

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Entrevista José Mario Ribeiro é o capitão do Terno de Congo São Bendito e Santa Efigênia. A trajetória de congadeiro começou quando ele ainda bebê estava muito doente e o pai fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário para ele ser curado e em agradecimento ele dançaria Congo enquanto tivesse vida. Ele foi curado e cumpre a promessa. A família toda sempre esteve ligada as congadas, o pai, Pedro Antonio Ribeiro, foi capitão depois general. Foi ele quem ensinou tudo a senhor Zé Mario, inclusive a fazer caixas, assunto o qual ele é mestre. Ele conta todas as etapas do trabalho artesanal que lhe confere fama de fazer bons instrumentos. “Dá muito trabalho, mas eu faço cerca de 20 caixas todos os anos. Vem dançadores de todo lado comprar. Quem costura caixa como eu, modéstia parte não existe!” fala orgulhoso. É também defensor da tradição, acha que o que aprendeu com o pai tem que ser preservado e mantido. Até para bater caixa ele explica que tem uma técnica que o pai ensinou para não rasgar o couro. “Meu pai era 10

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muito enérgico e eu não batia direito a caixa e ele me mostrava como fazer. Para ser dançador é preciso ter uma ginga porque além de bater tem que pisar no ritmo e cantar tudo ao mesmo tempo”. Senhor Zé Mário é daqueles que valoriza a farda que veste, emocionado diz, “quando era época da festa a gente fardava como se estivesse indo casar! Era algo muito importante! Era colocar a roupa e nos sentíamos como anjos de tanta leveza. Quando meu pai colocava o terno para dançar, rezava e levantava o bastão apitando para sairmos... me arrepio até hoje de lembrar, a gente flutuava de tanREVISTA O CONGADO 2016

ta alegria”, diz emocionado. Seu Zé Mario a principio é tímido, mas logo fica a vontade e relembra as inúmeras historias de capitães e dançadores que conheceu como, por exemplo, um antigo capitão bem peculiar que para muitos tinha poderes místicos e amedrontava os dançadores de outros ternos com suas façanhas. “Antigamente um terno não passava dentro do outro com medo de que alguém fizesse mandinga. Hoje em dia estas pessoas morreram então acabou isso”. Também recorda de um dançador, negro Quirino que dançava como ninguém, “era um dançador completo que

eu nunca vi ninguém nem para comparar”. Enfim, seu Zé Mário tem muito gosto e prazer em contar o que já viveu e viu nestes 71 anos de vida. Pai de quatro filhos e avô de oito netos, e três binstetos, ele declara que já passou por momentos difíceis na vida, mas que Nossa Senhora do Rosário que lhe tem valido todos estes anos. O que o move é o sentimento de poder dançar até o último dia de vida, para cumprir o que a mãe prometeu a Santa quando era bebê, “e vou ser devoto de Nossa Senhora do Rosário até o meu último suspiro de vida”, finaliza. 11


O Congado e a fé na Santa do Rosário

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ores, ritmo, alegria, tradição, fé. Muitas são as vertentes que se podem abordar ao falar sobre a congada de Catalão e a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Porém, pouco se fala sobre as cantigas dos ternos e suas rezas pelas ruas da cidade, um detalhe quase insignificante aos ouvidos alheios, mas de fundamental importância para quem faz parte de um legítimo terno de congada. A história do congado e suas cantigas a partir da tradição do negro africano encantam gerações diferentes da gente catalana e turística. Mais que a recuperação de traços que identificam um sentimento étnico e grupal, durante os dez dias de danças, cantos, crenças e evoluções, as congadas oferecem uma riqueza muito diversa, em cantigas inventadas e reinventadas pelo povo congadeiro. Originalmente, as congadas são práticas de negros, mas por muitas vezes não há branco que resista ao ritmo dançante e colorido, fundindo-se uma mistura de raças na exaltação da tradição e da fé. Entoando suas cantigas, os brincadores deixam de ser meros cidadãos cotidianos, numa organização social de classes, passam de pessoas comuns para personagens coloridos e alegres, sob os olhares atentos da multidão e os aplausos calorosos da platéia. Cantam santos que não sabem a história e outros que sabem, 12

e segue a fé, misturada com tradição e ritmo, muito ritmo, o importante para esses donos da festa é acreditar no que estão cantando. O batuque das caixas artesanais contagia até o mais tímido transeunte. Os versos são repetitivos, curtos, fáceis de guardar na memória e no coração, às vezes expressam tristeza e angústia, em que os negros relembram seus sofrimentos; outros são cantados em agradecimento a ajudas e farturas, pelas bênçãos alcançadas. Mais que a fé na Santa do Rosário, as cantigas dizem de dores, medos, desejos e da conversão do negro ao catolicismo do branco. A lembrança triste do passado torna-se música para celebrar a festa da fé. Em Catalão, a Congada é constituída por vinte e um ternos registrados, que todo ano participa da festa, fazendo das Congadas de Catalão uma das maiores manifestações culturais conhecidas no Estado, na região e em todo país.

Cerca de quatro mil e oitocentos dançadores desfilam pelas ruas da cidade, nos ternos, blocos de congo, moçambique e catupé cacunda. Uma verdadeira mistura de religião e ritual africano, a fé que se junta à luta pela liberdade. É o espaço que promove a abolição das diferenças, negros, igreja, comércio e elite local, se juntam para transformar a cidade em palco de folclore e tradição. A origem - A origem das congadas retorna ao ano de 1.482, na África, período no qual o império do Congo foi aos poucos sendo destruído por Portugal. O título de rei do congo tem um significado especial, equivale ao poder do negro na luta contra o branco português. No Brasil, os escravos saíam em procissão, ao som de atabaques e reco-recos para relembrar as lutas do Congo contra Portugal. Cantavam, dançavam (capoeira e outras danças), até chegar a uma igreja, onde acontecia a encenação REVISTA O CONGADO 2016


de coroação do rei e da rainha. Dessa encenação surgiram os bailados das congadas, que é inspirado na luta pela liberdade. Os grupos chamados ternos se dividem em cantadores, dançadores e tocadores. Também recebem nomes como congo, moçambique, catupé, vilão, capitães, marinheiro e marujeiro e, é claro, o rei e a rainha. A primeira manifestação registrada por escrito no Brasil foi em Recife, em 1.674. Hoje o congado é tradição em muitas localidades no país. Pode ser compreendida como um meio de expressão de conflitos sociais decorrentes das disparidades sociais entre o escravo e a elite constituída pelas oligarquias, Igreja, e o Estado durante todo o período colonial e regencial. Em Catalão – Em Catalão a origem da congada se embrenha em várias versões, nas palavras do historiador Cornélio Ramos, “conta o cidadão catalano”, Azamor Neto Carneiro, que seu avô, Pedro Neto Carneiro Leão, descendente da família Montadon, de origem alemã, mudou-se de Araxá - MG para Catalão, com a intenção de tornar-se aqui um grande fazendeiro, o que realmente aconteceu. Depois de estabilizar-se, casou-se com D. Enriqueta Cristina da Silveira. Ao iniciar sua grande aventura, fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário, Santa de sua REVISTA O CONGADO 2016

devoção em Araxá, que se bem sucedido fosse, haveria de realizar em Catalão, uma festa como ninguém antes realizara, em homenagem a sua Santa protetora. Decorrido pouco mais de uma década, bem sucedido nos negócios, ficou rico e preparava-se para o cumprimento da promessa, quando foi acometido por uma pertinaz moléstia. Receioso de ser impedido pela morte, chamou á cabeceira da sua cama, seu filho de nove anos de idade, Augusto Neto Carneiro, e pediu-lhe caso faltasse, para pagar sua dívida com a Santa. Faleceu como previra. Augusto Neto Carneiro cresceu e como o pai, prosperou. Já adulto, casou-se com D. Maria Luiza da Costa Neto, filha do Padre Luiz Antônio da Costa Souto. Rico senhor de muitos escravos e também apreciador das festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, na época realizadas salpicadamente nas fazendas da redondeza, preparou um grupo de negros, mandou-os para Araxá, a fim de aprenderem as regras e técnicas das danças praticadas na terra de seu falecido pai. De volta, juntou-se este terno aos demais grupos de pretos das várias fazendas da região, formando-se um numeroso agrupamento de dançadores. Cada grupo obedecendo ordens de um ‘Capitão’, e todos, sob comando de um ‘General’.

Gastou-se muito dinheiro para dar a todos uma idumentária característica. Quando se achava todo aquele pessoal treinado e preparado para a maior festa a ser realizada em Catalão, surgiu um inesperado obstáculo: o vigário da cidade, Padre Joaquim Manoel de Sousa, não concordou com a realização da festa e desapareceu levando a chave da Igreja. Todavia, o coronel Augusto Neto Carneiro, desabusado como todos os coronéis daquele tempo, determinado como estava em cumprir a promessa do pai, custasse o que custasse, mandou chamar o rezador de terços. Antônio Romualdo Fernandes, um glutão, também conhecido por Antônio Guloso, para rezar as novenas e cantar as ladainhas. Arrombaram a porta da Igreja e deram início á maior festa até então realizada em Catalão. “Divididos em dois grandes ternos, os negros dançadores foram colocados nas ruas devidamente enfatiotados, providos com seus instrumentos de percussão, de um lado os Congos e do outro os Moçambiques”. Fonte: “Catalão de ontem e de hoje”, (Curiosos fragmentos de nossa história) – Cornélio Ramos

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Entrevista A fé em Nossa Senhora do Rosário e a humildade são as características mais marcantes de Antônio Biano, capitão do Terno de Congo Prego. Ao longo dos seus 83 anos, este senhor lembra que dança desde criancinha por uma promessa que a mãe fez e nunca mais parou.

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á foi dono de outro terno, o Marujeiro, mas resolveu voltar para seu terno de origem, o qual permanece. É o único filho vivo de 10 irmãos e casado com D. Maria Aparecida há mais de 50 anos que sempre foi sua companheira na época da festa, ajudando em tudo o que preciso. Em 1960 ele se mudou para Brasília, local o qual trabalhou como pedreiro e ajudou a construir. Hoje, vivendo em Catalão ele leva uma vida simples e dedica seu tempo a cuidar da esposa doente e as Congadas. Ele reafirma todo momento que possui um enorme apreço por Nossa Senhora do Rosário conta que já houve situações que ele pediu sua intercessão e foi atendido, como quando a esposa ia submeter a cirurgia complicada e diz “ajoelhei e pedi Nossa Senhora para nos socorrer e fui ouvido”, se lembra emocionado. Mas senhor Antônio sente um descontentamento em relação a 14

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mudanças ocasionadas ao longo dos anos na festa e considera isto quebra de tradições, como por exemplo, o fato do Terno Moçambique apresentar depois que os Ternos de Congo na entrega da coroa. “Antes os Moçambiques que iam a frete do cortejo levando a coroa, pois segundo a lenda, a imagem de Nossa Senhora apareceu na gruta e os congos foram dançar para ela mas a Santa nem se mexeu e quando os Moçambiques foram cantar ela gostou tanto que os acompanhou, e por isto eles que levam a coroa na frente de todos os outros terno, mas agora a gente vai a frente e não vemos esta parte tão importante. Eu danço desde criança e tá diferente demais agora”, pontua. Lamenta também que as novas gerações que não respeitam o capitão e não obedecem as ordens. Para ele a tradição antiga tem que voltar. Este

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olhar de capitão para ele é criterioso e levado a sério, afinal, esta tarefa de ser capitão para seu Antônio é uma grande responsabilidade e reforça isto em uma de suas canções: “O capitão pra ser capitão tem que ser um compositor, inventar musica na hora, pra mostrar o seu valor”. Inspirado canta vários de seus versos e com os olhos marejados em lágrimas, diz “Quem manda nesse mundo eu sei quem é, que é. É o filho de Maria, Jesus de Nazaré”. Sua far-

da é artefato guardado com enorme zelo e que ele faz questão de mostrar orgulhoso. Ele guarda e exibe uma de suas primeiras camisas de dançador com mais de 40 anos em ótimo estado de conservação. Enfim, a fé de seu Antônio e da esposa são exemplares. As congadas estão na mente e no coração e a cada ano esta admiração pela Santa se renova e se renova também o motivo dele estar ali, “só deixo de dançar o dia que morrer”.

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Catalão está inserida no Dia do Folclore

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m 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore e, em Catalão temos uma expressão típica e forte para comemorar esta data. As congadas que fazem parte da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, são uma marca registrada da cidade. A data que comemora o dia do folclore foi criada em 1965 através de um decreto federal. No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como o mês do folclore. Folclore tal como aparece no dicionário pode ser definido como o conjunto de todas as tradições, lendas e crenças de um país. A origem da palavra é inglesa, “folk” significa povo e “lore”, conhecimento, assim, folklore quer dizer “conhecimento popular”. Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, “constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação”. Em seu livro “Catalão – Poesias, Lendas e Histórias”, Cornélio Ramos conta a sua versão da origem da tradição das congadas e da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário em Catalão. Ocorre que as primeiras manifestações das congadas na cidade surgiram em 1880. 16

Nas ruas, devidamente enfeitados, com seus instrumentos de percussão os dois ternos de dançadores, de um lado os Congos, de outro os Moçambiques. Hoje, estes grupos se multiplicaram, são vinte e um ternos cadastrados e o que presenciamos, é uma grande festa que atrai romeiros e turistas de várias partes do país. Todo mês de outu-

bro, durante dez dias de festa, Catalão se enfeita com um rancho no meio da rua, na Praça do Rosário, onde se r ealizam bailes dançantes, leilões e apresentações. Além das inúmeras barracas de comerciantes de outros estados, parque de diversão e muita dança. Fonte: http://educaterra.terra.com. br/almanaque /datas/folclore.htm REVISTA O CONGADO 2016


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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Há três meses para a festa, diretoria se organiza com dançadores e festeiros para garantir um grande evento

Em agosto o som das batidas das caixas já anuncia nos ensaios que a Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário se aproxima. Este ano, entre os dias 30/09 a 10 de outubro, a região próxima à Igreja do Rosário se transforma em palco de rezas, danças e cantos para louvar à santa padroeira e São Benedito. É chegada a 140ª edição. São 21 ternos entre Congo, Catupé, Moçambique, mais de 4.800 dançadores nas ruas de Catalão, membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Festa 2016 - A programação da festa é definida meses antes. Rituais importantes que se repetem a cada ano, como o levantamento do 18

mastro com a bandeira dos santos de devoção, o cortejo da missa de domingo, terços, novenas, tudo já programado. O tradicional ranchão que não é mais erguido com palha, mas com tendas, também estará montado. No Centro do Folclore acontecem várias ceias. As barraquinhas com vários tipos de produtos a serem comercializados também chegam, como sempre, em grande número. “É prazeroso representar uma festa de tamanha grandeza, é importante buscar melhorias a cada ano, porque nossa festa só cresce”, conta Leonardo Bueno, o Léo, presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Antes da festa acontecem eventos para arrecadar dinheiro, segundo

Léo, já foram organizados jantares, a tradicional Festa da Amizade. A comissão é representada por vários casais, entre eles os festeiros Mauro Abrão e Luiza Helena de M. Abrão. Além disso, todos os anos a Irmandade organiza o Encontro de Congadas, com participação dos ternos da cidade e de várias partes do país. Este ano, o encontro foi realizado no dia 21 de agosto. Museu das Congadas - Pelo terceiro ano o Museu das Congadas, que fica numa sala do Centro do Folclore, ficará aberto durante todos os dias da festa. Lá é possível que os visitantes vejam fotos e objetos raros de dançadores e capitães. “Aqui fica registrada a históREVISTA O CONGADO 2016


ria da nossa festa, a parte religiosa e cultural”, diz Léo. O Museu fica aberto de segunda a sexta, Léo pede que quem tiver material relevante sobre a história da festa, que doe ao museu. Diretoria – Leonardo Bueno está em seu quinto mandato como presidente da Irmandade. Além de Leonardo, ocupam a diretoria vários outros membros: João Costa (vice-presidente); Luís Cláudio (primeiro secretário); Eder Canedo (segundo secretário); Reginaldo Nascimento e Roberto Rivelino (tesoureiros); Arnaldo Ribeiro, Saulo Júnior, Wanderlei da Paixão (patrimônio); Eduardo Camilo, Cristóvão Luís (comunicação); Diogo Gonçalves, Antônio Carlos, Marcos de Jesus, Roberto Santana (social); Wolman Rabelo, Sérgio Eurípedes, Renato Nascimento, Silésio Teixeira, Carlos Rosa Francisco (conselho); Leandro Barbosa, Clésio Arcanjo, Emerson Furtado (esporte). “É uma turma muito boa, que tem a minha total confiança e que vem honrando sempre a Irmandade”, diz Léo.

vulga o nosso trabalho e assim vamos seguindo”, conta Léo. Ele diz que as despesas são altas e, por isso é preciso recursos. Para este ano ainda continua o repasse financeiro da prefeitura para cada terno, no valor de R$ 5 mil. A cada ano o presidente diz que procura trazer novidades para a festa, o local da entrega da coroa foi modificado ano passado e deve permanecer o mesmo esse ano, na Avenida Vinte de Agosto, “melhorou a acomodação dos ternos e do público, o tempo de apresentação e reduzimos gastos, apenas com montagem de palco e iluminação; além disso conseguimos fornecer água para todas as pessoas até o final”, disse. Patrimônio - O presidente conta que o prefeito Jardel Sebba foi procurado para que o Centro

do Folclore fosse repassado em definitivo para a Irmandade, pois o que existe é uma concessão que dura até 2021. “Fomos bem recebidos e estamos aguardando solucionar apenas questões burocráticas, será um ganho muito grande”. Léo ainda ressalta outros bens que são de posse da Irmandade e que foram conquistados ao longo dos anos, uma sede no Bairro São Francisco, uma padaria e um terreno, onde pretendem fazer um campo de futebol para receber a Copa Congada, que é realizada todo ano. Além da Copa Congada, outros eventos também são realizados por essa turma, o campeonato de truco e o grupo de capoeira. “Precisamos agradecer à Nossa Senhora do Rosário, desde a primeira vez que colocamos nosso nome à frente da Irmandade, temos conseguido a graça de trabalhar e conquistar muita coisa”, disse Léo.

Segundo o presidente, a palavra de ordem entre os membros da Irmandade é união. É preciso uma conduta de respeito entre diretoria e dançadores, para que haja união e tudo seja feito em prol de um grande evento. “A diretoria social visita os capitães e dançadores para averiguar as necessidades dos ternos, a diretoria de patrimônio zela pelo que é da Irmandade, a diretoria de comunicação sempre diREVISTA O CONGADO 2016

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Entrevista Eurípedes Luiz Severino, o conhecido Pavão, é capitão do Terno Vilão II Nossa Senhora do Rosário. Tem 62 anos e dança desde criança. Ele conta que toda família dançava e ele foi “tomando gosto” pelas Congadas e não parou mais. A esposa, filhos, netos e até a bisneta também seguem a tradição. Funcionário público da Prefeitura de Catalão, ele conta que o primeiro terno que dançou foi o Moçambique. Também dançou no terno Vilão e por fim resolveu montar um terno para ele, o Vilão II Nossa Senhora do Rosário. “Começamos com quatro bandeirinhas e oito dançadores. Hoje somos mais de 160 integrantes”. Em suas memórias ele revela que dançou com o capitão Antônio Miguel, que era conhecido por ser severo e supersticioso, “ele tinha a superstição de dançar com 44 dançadores, ele gostava de terno pequeno porque era melhor de conduzir. Era muito rígido e lembro de uma vez que um rapaz tinha ido pela primeira vez dançar e o senhor Antônio parou durante o desfile para conversar com uma pessoa, o dançador achando que estava demorando resolveu comprar cigarros em uma venda ao lado e o 20

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capitão viu e não admitiu que ele saísse sem a permissão dele e o mandou embora. O coitado foi chorando, todo mundo morria de medo do seu Antônio Miguel”, conta em meio a risadas e acrescenta, “por isso acho que hoje é diferente, a maioria chega a faltar respeito com os capitães, saem a hora que querem e não dão satisfação. No meu terno eles me respeitam, a maioria dos integrantes são jovens, nunca tive problemas”. A união da família é um dos diferenciais deste Terno. Cada um tem sua função; seu Eurípedes busca as varas no campo para confeccionar os instrumentos junto com o filho. Depois outros familiares se juntam REVISTA O CONGADO 2016

para lixar, pintar, arrumar o couro deixando as caixas prontas para o grande dia. Enquanto isso a esposa, Dona Maria do Rosário e as duas filhas fazem os bordados nos capacetes e enfeitam a bandeira. “Em julho começamos os preparativos não podemos deixar para ultima hora, todos trabalhamos fora e precisamos começar antes, caso contrário não dá tempo, mas o bom é que toda família se mobiliza neste momento e alguns dançadores também ajudam”, comenta D. Maria que participa assiduamente de todo processo. Ela também nasceu em meio as Congadas e é atuante, sendo membro da diretoria da Irmandade Nossa Senhora

do Rosário em varias ocasiões. Ela ainda revela que o casal se conheceu através do terno que Sr Eurípedes dançava que era do Pai de D. Maria e hoje eles se alegram em dizer que o Vilão II já formou inclusive vários casais. “A Santa também é casamenteira”, brinca ela. Assim Sr. Eurípedes e a família são exemplos de dedicação à tradição das Congadas. Ele e a esposa rezam o terço todos os dias, participam da novena durante a festa e assume que a relação com Nossa Senhora do Rosário é muito especial, “tudo o que vou fazer peço à Ela para me proteger e para guiar meus passos. E ela está sempre ao meu lado”, finaliza. 21


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Entrevista Família e tradição são as palavras que podem resumir a vida deste homem. Elson Arruda, 75 anos, capitão do Terno de Congo Prego, herdou a função do pai, fundador do mesmo. Em todos estes anos ele viveu e respirou as congadas desde o ventre da mãe, e relembra que o pai foi capitão das congadas aos 12 anos e fundou o único terno de congo que havia na época e anos depois fundou o Prego. “Todos os antigos capitães de terno foram dançadores do primeiro Terno de Congo que meu pai montou. Eles seguiam uma mesma linha da tradição. Eram rígidos e muito fervorosos. Se reuniam no quintal da minha casa e eu cresci vendo as discussões deles e as decisões que tomavam. Pouca gente sabe, mas a festa começou aqui na minha rua (Rua José Saturnino de Castro no bairro Mãe de Deus), a rua da Capoeira e no quintal da minha casa tivemos várias festanças. Debaixo das mangueiras eram rezados os terços, só após um tempo que a festa começou a ser feita no Largo do Rosário, depois que aquele terreno foi doado e construída a igreja”, relembra ele. 24

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Segundo seu Elson, naquela época era tudo muito diferente, “os capitães faziam as congadas com esforço e pela fé. O povo dançava de pé no chão e todos dançavam cumprindo um voto à Santa” revela. Atualmente ele vê que a festa perdeu muito com a morte dos antigos e acha que os mais novos precisam se interessar em conhecer esta história da festa para saber como ela começou. “É importante às novas gerações saberem disto! A juventude tem que respeitar o passado da festa para preservar. Hoje se importam mais em contar o numero de dançadores de cada terno para ver qual é maior que dança para Nossa Senhora do Rosário. Acho que mudanças são necessárias, mas com ponderação REVISTA O CONGADO 2016

e com tantas transformações que já vi acho que a festa está perdida, virou carnaval”. Elson acha que é necessário haver uma figura de liderança e representativa na Irmandade Nossa Senhora do Rosário que reavalie sobre tudo o que acontece e voltar às tradições, unido todos em prol das congadas. A família, seu ponto de apoio, passou por vários problemas, a doença do pai que ficou cadeirante, um irmão assassinado as vésperas de uma das festas, anos depois outra irmã também faleceu e por fim em 2014 seu grande companheiro de todas as horas o irmão Edson Arruda, memorável capitão do terno, também faleceu. “Minha família é muito unida e a festa ajuda a unir mais. Mesmo

com tanta tragédia nós permanecemos juntos e dançamos pela fé em Nossa Senhora”. É homem perseverante em suas crenças. Ele resume a emoção em colocar o Terno na rua em gratificação. O compromisso que assumiu com o pai de perdurar a festa passa para os netos, sobrinhos, irmãos e irmãs. Os bons tempos são relembrados com muito orgulho a cada fala deste pedreiro aposentado que afirma, “vou dançar para Nossa Senhora do Rosário até quando Deus permitir. Faço isso com muito amor e fé. Quero que as novas gerações também tenham este fervor e por isto prezo tanto pelas tradições”, finaliza. 25


Entrevista Sebastião Heloi Rita, 53 anos, tem coração humilde e sangue nobre. Ele é filho do Rei do Congado, Antônio Leopoldo Rita e da Rainha, Carolina Rita, ambos falecidos. Senhor Sebastião é capitão das caixas do Terno Moçambique Coração de Maria e dança desde criancinha, “na família ninguém escapava de ser dançador tendo o pai e a mãe no congado”, afirma ele sorridente. Hoje vive com a irmã, Eloene de Jesus Rita que herdou a coroa da mãe. Ele explica que sua função é importante no terno, pois, um capitão das caixas cuida para que todas as caixas estejam em boas condições nos dias de festa. “Eu ouço o barulho que as caixas fazem e percebo se estão boas ou não”. Quem o ensinou a fazer o instrumento foi o pai, que como todos os capitães da época tinham um sistema mais rigoroso que os de hoje, segundo ele, principalmente os horários eram cumpridos à risca, “se a gente tinha que sair e se tivesse alguém que não tinha chegado eles ficavam para trás”. Sente falta das festas de antigamente ao relembrar e afirma 26

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que até a conduta dos festeiros mudaram. Uma das festas mais especiais para ele foi a que o Dr. João Sebba foi festeiro, pois o tratamento que ele deu aos dançadores, cumprimentando, abraçando e oferecendo almoços o ano inteiro era diferenciado. “Hoje em dia os festeiros já não conhecem mais a gente. Veem-nos na rua e nem sabem que somos dançadores. Só nos cumprimentam no dia da festa ou nos ensaios. Antigamente eles visitavam a nossa casa sempre, mas agora só mesmo no dia da festa vemos os festeiros”. Seu Sebastião divide as obrigações entre o terno e o REVISTA O CONGADO 2016

trabalho. Ele é auxiliar de serviços gerais, mas durante os dias de festa ele é autoridade para os mais de 120 dançadores e se alegra em falar que sua maior emoção é quando os colegas de trabalho o assistem dançando e ficam felizes ao vê-lo. “Eles me chamam, tiram foto comigo, é uma beleza, eu quase morro de alegria com isso! Tenho muitos amigos na cidade e fico muito orgulhoso quando eles me veem dançando”, ressalta. Outro momento da festa que lhe agrada muito são as famosas barraquinhas, “visito a semana inteira, chego em casa, tomo banho e vou pra lá. Fico

o ano guardando dinheiro para a festa. É a melhor época para mim porque reúne as pessoas, os familiares, mas quando termina bate a tristeza, pois, cada um da família vai para seu canto e só o ano seguinte para juntar tudo de novo”. Assim, com muita humildade, calma e serenidade ele realiza sua função de capitão de caixas do Moçambique. Ele gosta da responsabilidade e diz que quer ser congadeiro enquanto viver, e conclui, “Tenho muito orgulho de ser dançador de Nossa Senhora do Rosário e de fazer parte da historia da festa junto com minha família”. 27


Entrega da Coroa

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Reza do Terรงo e Missa Campal

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Entrevista Antônio Rubens de Matos é dançador do Terno de Congo Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora da Guia. Ele conta que desde os cinco anos de idade começou a dançar com os outros seis irmãos por influência dos pais e desde então não parou mais. Hoje aos 58 anos de idade, aposentado, montou junto com o irmão o terno que começou e dedica a maior parte do tempo com o Congado. O terno tem 14 anos e iniciou com 70 pessoas e hoje são mais de 120. Ele relembra os tempos que era criança e como o pai amava a festa, “meu pai chegava em casa e dizia para minha mãe, “apressa o almoço porque hoje tem ensaio! E todos os quatro filhos iam. Pra nós não tinha coisa melhor no mundo que isso. Naquela época era muito rígido, cada um comprava sua caixa e como meu pai não tinha condição de comprar para todos eu usava um pandeirinho de plástico bem feliz”, relembra. Herdou dos pais também a religiosidade. Faz questão de ir às novenas e missas durante a festa e diz que a família já recebeu milagres, “meu irmão e minha irmã estavam muito doentes e desenganados pelos médicos quando crianças, e minha mãe firme na fé pedia a intercessão de Nossa Senhora do Rosário para curá-los e 38

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hoje eles estão aí bem saudáveis e todo ano louvando a Ela”. Seu Antônio assume que sua grande paixão na festa é a Alvorada, que dá inicio as comemorações, “é o que mais me motiva! Quando eu era mais novo todos dançadores e familiares juntávamos a noitinha e fazíamos forró até dar a hora de ir para a alvorada que é por volta das 2 horas da manhã. Era muito divertido e é a parte que mais gosto!”. Mas ele também relata que o Congado já não é mais o mesmo de tempos atrás. Faz duras críticas as pessoas que não levam a sério as Congadas e aos ternos que desfilam para disputar quantidade de dançadores, chegando a brigar em algumas ocasiões. “eu abraçava qualquer um de outro terno fardado, hoje é uma rivalidade que não permite mais essa aproximação. REVISTA O CONGADO 2016

Falta muita disciplina também. Às vezes precisamos parar a procissão no meio do caminho para organizar. O padre chega a parar a missa e pedir para fazerem silêncio os dançadores! Antigamente para sair do dispositivo para beber água tinha que pedir para o capitão do terno, hoje saem sem nem avisar”. Ele acredita que algumas destas situações vêm ocorrendo por omissão da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, “a diretoria da Irmandade peca muito na disciplina dos ternos e na organização. Eu já vi tanta coisa bonita na Irmandade que hoje eu fico triste de ver que não temos ajuda e apoio da diretoria. Também os dançadores não dançam pela fé e pelo respeito à Santa. Os dançadores mais antigos estão descrentes com estas situações e eu fico desanimado com

isso também.”, desabafa. Mas apesar dos desapontamentos ele admite que não desiste e que não deixa de dançar, “enquanto eu tiver vida e tiver couro de vaca para bater caixas eu vou dançar para Nossa Senhora! Eu gosto demais e está no sangue desde pequeno! A festa é uma riqueza para Catalão. Conheço varias pessoas que juntam o dinheirinho o ano todo para comprar as coisas nas barraquinhas. Para a minha casa vem parentes de São Paulo e Bahia na época. A casa fica lotada e eu fico feliz demais com isso, por isso é muito importante a Revista O Congado porque registra nossa festa e vem gente de fora que a leva e espalha nossa cultura e precisamos disto, divulgar as Congadas da cidade porque não é apenas patrimônio de Catalão, mas também do Brasil!” 39


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ProcissĂŁo das Congadas e Devotos

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Entrevista Antônio Alves Lima, o popular senhor Toinzinho, 79 anos, ex-capitão do Terno de Congo Santa Terezinha, é um senhor de grande humildade e de grande sabedoria.

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jeito calmo e simples de falar revela aos poucos o homem de fé e respeito às tradições que é. Desde o ano de 2015 entregou o cargo de Capitão do terno para o sobrinho, a idade avançada e os problemas de saúde não permitiram que ele permanecesse na função, mas não deixou de participar das Congadas. Ele se farda, e sai no terno dando instruções e louvando Nossa Senhora. Natural da cidade de Três Ranchos, de onde o seu terno é originário, ele entrou para as Congadas aos 10 anos por influência de familiares que comandavam o terno, desde então ser congadeiro se tornou algo sagrado para ele. Os familiares saíram da cidade e foram morar em outros lugares, assim como seu Toinzinho, que veio para Catalão e trouxe o terno consigo que atualmente conta com cerca de 50 dançadores. Criou os quatro filhos como lavrador, pedreiro e garimpeiro e chegava a passar semanas na zona rural, mas quando era a época da festa “eu me aprontava e vinha embora e nada me segurava. Eu deixava o garimpo e eles não achavam nada, quando eu voltava achavam 54

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diamantes”, afirma ele sorridente. Relembra que os capitães eram muito mais severos e criteriosos em sua forma de conduzir o terno. “A quantidade de pessoas que dançavam era muito menor. Pessoas que não fossem negras não dançavam e nem crianças muito pequenas. A gente não podia sair do terno sem falar com o capitão, as bandeirinhas não podiam pegar uma balinha da mão de desconhecidos que o capitão tinha medo de macumba e jogava fora. Eles eram muito rigorosos! Tinha que obedecer senão não era aceito. Hoje em dia o sistema mudou muito, por isso que tem mais pessoas, mas

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acho que ficou liberal demais”. Ele recorda esta fase das congadas com muito saudosismo, mas ao mesmo tempo ele reconhece que a vinda da nova geração é bastante positiva, pois, “eles vão dando continuidade as congadas e os mais jovens têm mais animo”. Ele aconselha os novos capitães com sua experiência e é bastante respeitado, “converso com os sobrinhos que assumiram o terno e eles me ouvem, dou conselhos e participo de tudo. Mas têm as novidades, coisas da nova geração. Acho que temos que adaptar porque as coisas vão mudando e a gente tem que se habituar e acompanhar os que estão vindo”.

Enfim, toda a perseverança conduzida pela fé deste homem, segundo ele eram reveladas todas as vezes que chegava o período da festa. Mesmo que estivesse com a saúde debilitada, a Santa lhe dava força para dançar. “Teve ano em que eu fiz cirurgia um mês antes e no dia da festa e ela me deu saúde pra dançar. Eu e minha esposa participamos todos os anos da novena, vamos às missas mesmo com os problemas de saúde não faltamos. Se tem algum compromisso na hora da missa eu desmarco pra antes ou depois. Quem me conhece sabe que eu não falto com a minha Santa”, encerra o simpático capitão.

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