Revista o congado 2017 web final

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TOCK CELULAR

Loja 1 - (64) 3411-6790 - Av. 20 de Agosto, 1487, Galeria Chaud, Centro - Catalão/GO REVISTA O CONGADO 2017 2 Loja 2 - (64) 3442-3051 - Av. 20 de Agosto, 1576, em frente ao banco Itaú, Centro - Catalão/GO


DEDICATÓRIA PROJETO E COORDENAÇÃO Reginaldo Ribeiro CNPJ: 01.343.898/0001-63 (64) 9 9922-0054 CONTATOS: REGINALDO RIBEIRO ultimosacontecimentos@gmail.com

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edico este trabalho aos congadeiros de Catalão e região, em especial a José Mário Ribeiro, Maria Aparecida da S. Ribeiro (in memoriam), Pedro Alcino Ribeiro (in memoriam), Carlinda Ribeiro (in memoriam). A minha esposa Luciana

Borges da Silva, aos meus filhos Clayver Alves Ribeiro, Eithel Alves Ribeiro e ao enteado João Paulo B. Mesquita, sem esquecer-se dos amigos e antigos que iniciaram a tradição.

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LEÍZA ROSA leiza.rosa@hotmail.com

Reginaldo Ribeiro

INTRODUÇÃO

urante a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, no mês de outubro, os dançadores de congado mobilizam suas famílias, irmãos que

TEXTOS Reginaldo Ribeiro ultimosacontecimentos@gmail.com

perpetuam as danças, cantos de devoção religiosa, representados num mosaico multicolorido de vestimentas, estandartes em desfile pelas ruas avenidas da cidade e ao redor da centenária Igreja do Rosário.

FOTOS Reginaldo Ribeiro / Foto Zaga APOIO CULTURAL

PROJETO GRÁFICO / CRIAÇÃO / DIAGRAMAÇÃO / ARTE FINAL James Cruvinel Junior jameskalel@gmail.com (62) 99376-5476 IMPRESSÃO Gráfica Top Digital 3


APRESENTAÇÃO

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ão só de aspecto físico se constitui a cultura de um povo. Há muito mais contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas e em diversas manifestações, transmitidas oralmente ou através de gestos, recriadas coletivamente e modificadas ao longo dos anos. Por isso, é reconhecida como patrimônio religioso e cultural num município em franco desenvolvimento no interior do Estado de Goiás. Divulgar uma das maiores festas folclóricas do Estado, a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, nos faz reconhecer a nossa origem, história, fé e a nossa força cultural. Ao evidenciar ao mundo nossa dimensão, a complexidade e a diversidade do patrimônio cultural, promovemos a importância de se reconhecer a beleza, a força, o valor e as pessoas que preservam a tradição dessa expressiva manifestação religiosa existente na centenária cidade catalana. Esta publicação não pretende aprofundar as reflexões sobre a temática, mas apenas apresentar os grupos de congada que compõem a maior manifestação de fé e cultural da cidade. São esses grupos, as famílias, as pessoas, a alma de tudo, a verdadeira essência de um dos mais ricos e importantes patrimônios vivos de Catalão. Levantamento da bandeira – A Festa do Rosário em Catalão tem duração de dez dias, com a alvorada festiva, terços, missas, procissões e entrega da coroa. No dia em que se comemora a nona novena, por volta das 19h, milhares de pessoas participam da procissão acompanhada por religiosos e todos os ternos. Ao final da cerimônia religiosa, são levantadas duas bandeiras, a de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Todos os ternos realizam suas evoluções ao mesmo tempo ao redor dos mastros erguidos, cantando, dançando e batendo as caixas. Caixa de congo – O ciclo da festa da congada de Catalão em lou4

vor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito inicia-se sempre no segundo domingo de Agosto, quando as batidas das caixas podem ser ouvidas por toda cidade. Os ternos sempre comandados pelos seus capitães, levam seus oratórios com os Santos de devoção e coreografias. Novena – Durante as novenas são realizadas missas, reza de terços e os leilões que são organizados no Salão de Festa ao lado da Igreja. Os leilões são promovidos para ajudar na elaboração da festa.

ros usam as cores de Nossa Senhora do Rosário, o azul, rosa e o branco. Os congos se vestem em cores diversas, significando o caminho, com galhos e flores, para a Senhora passar. Rainha – Só pode ser substituída quando morrer e sua substituta é uma pessoa da própria família. Bandeirinhas – Tem o significado da Virgem do Rosário. As meninas vão levando as bandeiras com a imagem dos santos de devoção, sempre à frente dos ternos.

Entrega da coroa – Ao final da festa, a comissão festeira sai em cortejo da porta da Igreja do Rosário, acompanhado por todos os dançadores, religiosos, milhares de populares e pagadores de promessa, os ternos de Moçambique são responsáveis por acompanhar a família real, que leva a coroa de ouro. Vale ressaltar, a presença de policiais militares que garantem a segurança. Após anunciar os próximos festeiros e equipe responsável pela festa do ano seguinte, cada terno realiza sua apresentação perante os populares.

Reinado – Composto pelo rei, rainha, príncipes e princesas, que podem ser coroados perpétuos. Sua função é manter uma vigilância constante com orações de proteção e ensinamentos ou como o Rei de Ano, ou seja, o Rei Coroado para a festa daquele ano, cuja função é orar e buscar contribuições para a festa da Irmandade.

Visita às residências – Casas simples, muitas vezes também morada de dançadores, filhos, netos e parentes, preparam-se para receber o oratório e a bandeira que todos os ternos de congo trazem. Normalmente o proprietário da casa, oferece aos capitães, dançadores e bandeirinhas, refrescos, biscoitos, bolo, pão de queijo ou mesmo um copo d’água para repor as energias.

Oração – Sempre que os dançadores se reúnem para louvar em nome dos santos, antes fazem um momento de oração.

Encontro dos ternos – Vindo de diferentes localidades da cidade, os ternos se reúnem sempre na Praça em frente à Igreja do Rosário.

Símbolos – A presença visível do invisível é muito forte nas manifestações de fé do congado. Eles expressam e tornam presente a memória dos antepassados e divindades do povo negro e a fé no Deus criador, Salvador, em Nossa Senhora do Rosário e nos Santos e Santas patronos e protetores das Irmandades.

Bastão - É o símbolo de comando dentro dos ternos de congado. Vestuário – Os moçambiquei-

Capitães – Divididos em primeiro, segundo e terceiro capitão, cada um com funções especificas dentro do terno.

Caixeiros ou dançadores – São tocadores de tambores ou caixas, que dão ritmo aos ternos. Além dos caixeiros temos os tocadores de viola ou violão, acordeom, tamborim, pandeiro, reco-reco e gunga (campanha).

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CONGADA

TRADIÇÃO, DEVOÇÃO E FÉ

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Congado originou-se na África, no país do Congo, se inspirando no cortejo aos Reis Congos, uma expressão de agradecimento do povo aos seus governantes. Ao receber a colonização portuguesa, vários africanos foram trazidos para o Brasil para serem escravos e, acabaram trazendo esta tradição, mesclada com a cultura local. No Brasil, o Congado é celebrado em várias localidades, como nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, entre outros. Em Catalão, cidade do Sudeste de Goiás, esta cultura folclórica se mistura a religiosidade e é tradicional há mais de 141 anos. Uma tradição 6

emanada com a devoção e a fé de vários devotos de Nossa Senhora do Rosário. Na cidade, a festa em louvor a santa atrai uma multidão, de pessoas vindas de várias localidades. Os preparativos começam ao som das caixas, pandeiros e acordeons, sendo ouvido a distância pelos dançadores, os congadeiros que organizam seus ternos para mais uma jornada de fé e devoção. Desde o mês de julho os dançadores, capitães, general e seus familiares se preparam para mais um ato de fé. Cada pessoa envolvida nesta grandiosa festa de devoção, dedica-se inteiramente, não somente nos meses que antecedem a comemoração, mas o ano todo. A fé é expressamente es-

tampada no rosto de cada um, perceptível nas lágrimas, nos pedidos de graça, nas homenagens à santa. Uns já nascem com esta tradição no sangue, passada de geração a geração. Outros, tocados pela fé, começam a participar fervorosamente da festa. Como exemplo de herança e religiosidade, destacam-se algumas pessoas da comunidade catalana: Esta obra é uma homenagem àquelas pessoas que ajudaram de alguma forma e contribuem para o crescimento da cultura em nossa cidade. Salve o Rosário REVISTA O CONGADO 2017


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Entrevista

Paulo Antônio Lima catalano e congadeiro de coração

O Congado - Quais trabalhos já desempenhou na e sobre a festa? Paulo – Diretamente não desempenhei nenhum trabalho na festa. O Congado - O que representa a Congada e o louvor a Nossa Senhora e São Benedito para você? Paulo - Um momento de reflexão, de religiosidade e de união da comunidade catalana. O Congado - Como observa a miscigenação do branco na cultura negra no âmbito da Congada? Paulo - Entendo ser um momento onde não são marcadas diferenças pela cor, e vejo todos participando em iguais condições. O Congado - O que você acha da possibilidade da mudança do local da festa? Paulo - Não conheço as propostas de mudança, mas acredito que deve ser mantida conforme as tradições.

Paulo Antônio Lima é professor universitário, natural de Goiânia, mas reside em Catalão há vinte anos. Não participa da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário como dançador ou organizador, mas a observa, como conta, as ações diretas e indiretas que estão envolvidas para que o evento aconteça todos os anos. 8

Então pode ser considerado um catalano e um congadeiro de coração. O Congado - Qual a importância da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário para você? Paulo - Vejo a festa como uma ação cultural importante para manter as tradições catalanas.

O Congado - Qual sua opinião sobre a participação dos políticos na festa? Paulo - Não vejo esta participação proveitosa para os propósitos da festa. O Congado - Se você tivesse o poder, o que mudaria na festa? Paulo - Melhoraria a organização e a segurança. REVISTA O CONGADO 2017


O MUNDO CONECTADO

E AO ALCANCE DAS SUAS MÃOS

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CATALÃO ESTÁ INSERIDA NO DIA DO FOLCLORE

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m 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore e, em Catalão temos uma expressão típica e forte para comemorar esta data. As congadas que fazem parte da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, são uma marca registrada da cidade. A data que comemora o dia do folclore foi criada em 1965 através de um decreto federal. No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como o mês do folclore. Folclore tal como aparece no dicionário pode ser definido como o conjunto de todas as tradições, lendas e crenças de um país. A origem da palavra é inglesa, “folk” significa povo e “lore”, conhecimento, assim, folklore quer dizer “conhecimento popular”. Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, “constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação”. Em seu livro “Catalão – Poesias, Lendas e Histórias”, Cornélio Ramos conta a sua versão da origem da tradição das congadas e da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário em Catalão. Ocorre que as primeiras manifestações das congadas na cidade surgiram em 1880. Nas ruas, devidamente enfeitados, com seus instrumentos de percussão os dois ternos de dançadores, de um lado os Congos, de outro os Moçambiques. Hoje, estes grupos se multiplicaram, são vinte e um ternos cadastrados e o que presenciamos, é uma grande festa que atrai romeiros 10

e turistas de várias partes do país. Todo mês de outubro, durante dez dias de festa, Catalão se enfeita com um rancho no meio da rua, na Praça do Rosário, onde se realizam bailes dançantes, leilões e apresentações. Além das inúmeras barracas de co-

merciantes de outros estados, parque de diversão e muita dança. Fonte: http://educaterra.terra. com.br/almanaque/datas/folclore. htm

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Comissão Organizadora se prepara o ano inteiro para a festa Fé, devoção, tradição. São essas as palavras que mais vêm à mente quando o assunto é a Congada e a Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário que acontece todo mês de outubro em Catalão. As batidas das caixas dos ternos de congo anunciam mais uma festa e, como todos os anos, muitas pessoas são envolvidas para que seja inesquecível. Paulo César Santos e a esposa Maria Luzia Ferreira (Malu) receberam a coroa de Nossa Senhora e a tarefa de serem o casal de festeiros desse ano, há três fazem parte da comissão organizadora e também ajudam na organização da festa da Paróquia São Francisco. Mas para acontecer a festa que todos conhecem em outubro, uma série de ações precisam ser tomadas. “Nós acompanhamos os terços, montamos o projeto para a festa, e realizamos eventos durante o ano como a Festa da Amizade, por exemplo”, diz o festeiro. Paulo conta que um dos principais objetivos para este ano é terminar a reforma da Matriz São Francisco. O festeiro disse que, além da Festa da Amizade, este ano foi programada uma noite de prêmios, com venda de cartelas para sorteio, um estande na pecuária e a tradicional ceia da comissão no Centro do Folclore, que este ano tem a renda destinada ao Hospital do Câncer de Barretos-SP. De acordo com ele, foi necessário fazer melhorias no Centro do Folclore com novos jogos de mesa e cadeiras e ainda é preciso melhorar a climatização no local para que se torne uma fonte de renda mensal para a Irmandade. Conforme todos os anos, várias ceias de clubes sociais são organizadas no espaço, continua o ran12

chão, que não é mais feito de palha, mas serão montadas tendas no mesmo local de sempre para receber a população e, uma novidade é contar com mais comerciantes catalanos na praça de alimentação, concentrada no Largo do Rosário, com foodtrucks, por exemplo, além de um espaço para shows quase todos os dias para animar o público. Paulo é irmão de honra da Irmandade há seis anos e conta que ele e a esposa Malu sempre acompanharam a festa, oferecem almoços para os ternos de congo todos os anos. “Desde a geração do meu pai aprendemos a amar essa festa e essa tradição catalana, tenho muita devoção em Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, não consigo ficar sem acompanhar, as batidas das caixas dos ternos me emocionam, eu amo essa cultura, me sinto muito bem em fazer parte”, diz. Por gostar e acompanhar tanto da festa, Paulo não gostaria que fosse realizada em outro local, segundo ele a Igreja é um patrimônio cultural e tudo tem que acontecer perto dela. “Fazemos a festa para os santos e para o congado, as barraquinhas são um comércio, mas também fazem parte da festa, talvez o que poderia acontecer é uma melhor organização e padronização para que diminuam

riscos e tumulto”, diz. “As pessoas gostam de tudo na festa, tem para todos os públicos, a parte religiosa, a congada e as barracas que geram renda para a cidade”, completa. O festeiro acredita que é preciso que haja apoio do poder público, mas que não deve haver partidarismo na organização da festa. Acredita ainda que tudo deve ser feito por devoção a Nossa Senhora e que Irmandade e Comissão precisam aprender a caminhar sozinhos, porque é possível, por isso devem fazer parte da organização pessoas que têm compromisso com os santos de devoção e que gostam de verdade da festa. Sobre a entrega da coroa, Paulo gostaria que houvesse um local mais cômodo para a população assistir, como era no pátio da Igreja Nova Matriz, muitas pessoas não conseguem esperar de pé até o final do percurso. “Queremos fazer uma festa diferenciada, gerar um lucro maior para ajudar a Irmandade e as paróquias, investir no Centro do Folclore, no Museu da Congada, tentar reviver a cada dia mais a congada em Catalão, pela fé, pela devoção e pela cultura que não pode acabar em nossa cidade, enquanto eu puder e tiver forças estarei ajudando”, finaliza Paulo. REVISTA O CONGADO 2017


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O CONGADO E A FÉ NA SANTA DO ROSÁRIO

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ores, alegria, tradição, fé. Muitas são as vertentes que se podem abordar ao falar sobre a congada de Catalão e a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Porém, pouco se fala sobre as cantigas dos ternos e suas rezas pelas ruas da cidade, um detalhe quase insignificante aos ouvidos alheios, mas de fundamental importância para quem faz parte de um legítimo terno de congada. A história do congado e suas cantigas a partir da tradição do negro africano encantam gerações diferentes da gente catalana e turística. Mais que a recuperação de traços que identificam um sentimento étnico e grupal, durante os dez dias de danças, cantos, crenças e evoluções, as congadas oferecem uma riqueza muito diversa, em cantigas inventadas e reinventadas pelo povo congadeiro. Originalmente, as congadas são práticas de negros, mas por muitas vezes não há branco que resista ao ritmo dançante e colorido, fundindo-se uma mistura de raças na exaltação da tradição e da fé. Entoando suas cantigas, os brincadores deixam de ser meros cidadãos cotidianos, numa organização social de classes, passam de pessoas comuns para personagens coloridos e alegres, sob os olhares atentos da multidão e os aplausos calorosos da platéia. Cantam santos que não sabem a história e outros que sabem, e segue a fé, misturada com tradição e ritmo, muito ritmo, o importante para esses donos da festa é acreditar no que estão cantando. O batuque das caixas artesanais contagia até o mais tímido transeunte. Os versos são repetitivos, curtos, fáceis de guardar na memória e no coração, às vezes expressam tristeza e angústia, em que os negros relembram seus sofrimentos; outros são cantados em agradecimento a ajudas e farturas, pelas bênçãos alcançadas. Mais que a fé na Santa do Rosário, as cantigas dizem de dores, medos, desejos e da conversão do negro ao catolicismo do bran14

co. A lembrança triste do passado torna-se música para celebrar a festa da fé. Em Catalão, a Congada é constituída por vinte e um ternos registrados, que todo ano participa da festa, fazendo das Congadas de Catalão uma das maiores manifestações culturais conhecidas no Estado, na região e em todo país. Cerca de quatro mil e oitocentos dançadores desfilam pelas ruas da cidade, nos ternos, blocos de congo, moçambique e catupé. Uma verdadeira mistura de religião e ritual africano, a fé que se junta à luta pela liberdade. É o espaço que promove a abolição das diferenças, negros, igreja, comércio e elite local, se juntam para transformar a cidade em palco de folclore e tradição. A origem - A origem das congadas retorna ao ano de 1.482, na África, período no qual o império do Congo foi aos poucos sendo destruído por Portugal. O título de rei do congo tem um significado especial, equivale ao poder do negro na luta contra o branco português. No Brasil, os escravos saíam em procissão, ao som de atabaques e reco-recos para relembrar as lutas do Congo contra Portugal. Cantavam, dançavam (capoeira e outras danças), até chegar a uma igreja, onde acontecia a encenação de coroação do rei e da rainha. Dessa encenação surgiram os bailados das congadas, que é inspirado na luta pela liberdade. Os grupos chamados ternos se dividem em cantadores, dança-

dores e tocadores. Também recebem nomes como congo, moçambique, catupé, vilão, capitães, marinheiro e marujeiro e, é claro, o rei e a rainha. A primeira manifestação registrada por escrito no Brasil foi em Recife, em 1.674. Hoje o congado é tradição em muitas localidades no país. Pode ser compreendida como um meio de expressão de conflitos sociais decorrentes das disparidades sociais entre o escravo e a elite constituída pelas oligarquias, Igreja, e o Estado durante todo o período colonial e regencial. Em Catalão – Em Catalão a origem da congada se embrenha em várias versões, nas palavras do historiador Cornélio Ramos, “conta o cidadão catalano”, Azamor Neto Carneiro, que seu avô, Pedro Neto Carneiro Leão, descendente da família Montadon, de origem alemã, mudou-se de Araxá - MG para Catalão, com a intenção de tornar-se aqui um grande fazendeiro, o que realmente aconteceu. Depois de estabilizar-se, casou-se com D. Enriqueta Cristina da Silveira. Ao iniciar sua grande aventura, fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário, Santa de sua devoção em Araxá, que se bem sucedido fosse, haveria de realizar em Catalão, uma festa como ninguém antes realizara, em homenagem a sua Santa protetora. Decorrido pouco mais de uma década, bem sucedido nos negócios, ficou rico e preparava-se para o cumprimento da promessa, quando foi acometido por uma pertinaz moléstia. Receioso de ser REVISTA O CONGADO 2017


impedido pela morte, chamou á cabeceira da sua cama, seu filho de nove anos de idade, Augusto Neto Carneiro, e pediu-lhe caso faltasse, para pagar sua dívida com a Santa. Faleceu como previra. Augusto Neto Carneiro cresceu e como o pai, prosperou. Já adulto, casou-se com D. Maria Luiza da Costa Neto, filha do Padre Luiz Antônio da Costa Souto. Rico senhor de muitos escravos e também apreciador das festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, na época realizadas salpicadamente nas fazendas da redondeza, preparou um grupo de negros, mandou-os para Araxá, a fim de aprenderem as regras e técnicas das danças praticadas na terra de seu falecido pai. De volta, juntou-se este terno aos demais grupos de pretos das várias fazendas da região, formando-se um numeroso agrupamento de dançadores. Cada grupo obedecendo ordens de um ‘Capitão’, e todos, sob comando de um ‘General’. Gastou-se muito dinheiro para dar a todos uma idumentária característica. Quando se achava todo aquele pessoal treinado e preparado para a maior festa a ser realizada em Catalão, surgiu um inesperado

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obstáculo: o vigário da cidade, Padre Joaquim Manoel de Sousa, não concordou com a realização da festa e desapareceu levando a chave da Igreja. Todavia, o coronel Augusto Neto Carneiro, desabusado como todos os coronéis daquele tempo, determinado como estava em cumprir a promessa do pai, custasse o que custasse, mandou chamar o rezador de terços. Antônio Romualdo Fernandes, um glutão, também conhecido por Antônio Guloso, para rezar as novenas e cantar as ladainhas.

Arrombaram a porta da Igreja e deram início á maior festa até então realizada em Catalão. “Divididos em dois grandes ternos, os negros dançadores foram colocados nas ruas devidamente enfatiotados, providos com seus instrumentos de percussão, de um lado os Congos e do outro os Moçambiques”. Fonte: “Catalão de ontem e de hoje”, (Curiosos fragmentos de nossa história) – Cornélio Ramos

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Entrevista

Congada tem nova Rainha Quando o Rei Eurípedes da Congada faleceu, quem assumiu o trono foi o sobrinho, Cleiber Francisco Inês, escolhido pela tia e Rainha Eloene. Este ano a Congada sentiu novamente uma perda, a Rainha Eloene deixou o posto, após falecer em março, vítima de um ataque cardíaco. Assim como foi Eloene quem escolheu a substituição do Rei, já estava escolhida aquela que a substituiria, a filha Eloá Ribeiro Rita. Eloá tem apenas 24 anos, mas sente que essa responsabilidade é sua. Apesar de já ter representado a mãe como Rainha, quando Eloene precisou ficar internada nos dias da festa, Eloá sente que dessa vez é diferente, pois é a primeira vez que estará no posto de Rainha sem ter a mãe por perto. Ao lado do Rei e primo, Cleiber, promete fazer jus ao posto que herdou, pois explica que passar de Princesa a Rainha é uma responsabilidade muito maior. Estará ainda ao lado do irmão, Leopoldo, que é Príncipe. O Reinado da Congada tem cerca de dez componentes, entre Rei, Rainha, Príncipes, Princesas, Generais e Guarda Coroa. A função do 16

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Reinado é conduzir a coroa de Nossa Senhora do Rosário. O Rei passa os comandos para o General para que este organize os ternos durante os cortejos, ele e os outros membros acompanha algumas visitas, participa das missas e da entrega da coroa. Eloá faz parte da Congada desde sempre, quando criança via a avó Carolina sair como Rainha, depois a mãe Eloene. Também foi bandeirinha no terno Congregação do Rosário por muitos anos, está no sangue e na alma essa devoção. Ela conta que recebe o apoio da família, dos membros do Reinado e dançadores, recebe muita ajuda e explicação do primo Cleiber. “Conversamos muito, tomamos decisões, confeccionamos as roupas que usamos; mudou o posto que eu

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ocupava, mas já estou acostumada a acompanhar a festa desde criança”, conta. “Meu objetivo é dar o melhor de mim, ser merecedora desse posto, porque são mais de cinco mil dançadores para acompanhar”, diz. Eloá reforça que é preciso levar essa tradição adiante, não deixar que se acabe. “Eu gosto muito, não sei explicar o que sinto, é uma emoção fazer parte do Reinado”, diz. A nova Rainha diz que a festa é muito importante para a cidade, além de ser uma opção de entretenimento é bonito, reforça uma tradição muito importante que é a Congada, e é uma manifestação de fé muito grande. Apesar de ser uma tradição trazida pelos negros escravos, Eloá considera que a miscigenação de negros e brancos nos ternos de congo

é saudável e natural. O que não concorda mesmo é com a possibilidade de a festa sair do local atual, do largo da Igreja do Rosário. “O local também é tradição, fica muito sem graça tirar a festa dali, tem que permanecer como está, com a Congada, as missas e as barraquinhas”, diz. Como Rainha, Eloá sai às ruas no sábado, domingo e segunda, mas participa da festa todos os dias. “Eu sou apaixonada, essa festa, esses rituais da Congada são tudo na minha vida, eu e minha família temos muita fé em Nossa Senhora do Rosário e vamos continuar mantendo nossas raízes e tradições”, diz. Eloá não mudaria nada, nem nos rituais da festa, nem nos ternos, nem no Reinado; o que é deve continuar, pois traz alegria e muita satisfação à nova Rainha.

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Entrevista

Devoção e tradição marcam a família de Alice Ribeiro Para quem conhece e participa da Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário desde criança é muito difícil deixar a tradição. Esse é o caso de Alice Ribeiro Rossine, que pertence à família de congadeiros e Reinado da Congada e acompanha a festa há mais de sessenta anos. “Eu sempre participei dessa festa, gosto muito das novenas, terços, missas, sou muito católica e devota de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Além disso, ajudo na confecção das roupas dos netos e bisnetos que são dançadores”, conta. Mas o contato de Dona Alice com essa festa vai além, aliás, da família toda. Alice é irmã de Carolina, que foi Rainha da Congada por muitos anos, nessa época, a filha Jussara era Princesa. Este ano, quando Eloene, filha de Carolina, faleceu, Alice chegou a ser cotada para a substituir como Rainha. Alice conta que, pela ordem natural, Eloá que é filha de Eloene seria a substituta, como aconteceu, mas que, se acaso ela não aceitasse poderiam convidá-la. “No meu caso o que pesa é a questão da saúde, a Rainha precisa participar de várias atividades, precisa andar bastante, acompanhar cortejos, isso me cansaria 18

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muito e, pela minha responsabilidade eu iria querer fazer tudo direito”, conta. Ela diz que a festa é diversão, mas tem um lado sério que precisa ser respeitado, a conduta do Reinado, por exemplo, é muito importante. Alice conta que antigamente confeccionava as roupas dos membros do Reinado, mas tem anos que não mais participa assim. Sobre a nova formação, diz que deseja sorte aos membros e que haja organização e seriedade. “Espero que eles nos surpreendam, é um Rei e um Rainha jovens, são responsáveis por não deixarem essa tradição familiar se perder”, diz. Sobre a miscigenação de negros e brancos na festa, Alice diz que não importa a raça

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de quem dança nos ternos, o que importa é participar por amor, fé, devoção. “O problema maior é ver desorganização e bagunça na Congada, principalmente misturar bebida alcoólica, cigarro, é feio ver os dançadores bebendo ou bêbados, perde o respeito que deve se ter”, diz. Outra coisa com a qual Alice não concorda é com uma possível mudança do local da festa. “A tradição da festa é ser perto da Igreja, tem que impedir as ruas necessárias e a população pode aceitar e compreender, pois é uma festa tradicional, inclusive com as barracas, elas fazem parte da festa, talvez em menor número, mais organizado, mas tem que continuar como é e no mesmo local”, diz.

A intervenção política na festa desagrada Alice, pois segundo ela, virou uma briga partidária. “É caro e difícil manter um terno, mas cada um sabe da sua obrigação na época da festa, quem é dançador não precisa ficar esperando dinheiro de ninguém”, diz. Alice gostaria de ver um Reinado maduro, organizado, com respeito conforme a festa merece; acompanhando as missas, terços, procissões. “Eu tenho muita fé e respeito demais a Igreja, os santos, a religião é de fundamental importância na minha vida, tudo que sou e tenho depende da minha fé em Deus e Nossa Senhora, me sinto muito bem e muito feliz assim, por isso gostaria que todos respeitassem essa festa que, antes de tudo é religiosa”, diz.

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Entrevista

Um moçambiqueiro que trabalha para manter as batidas das caixas Clayton Cândido aprendeu o ofício de confeccionar as caixas que dão o som e o ritmo à Congada, passa o ano todo atendendo ternos de congo de Catalão e região reformando caixas e confeccionando novas. O processo é lento, precisa paciência para buscar o couro, deixar secar, esticar, montar as caixas, mas o trabalho é recompensado ao ver nas ruas o som que ecoa dos instrumentos que produz de forma artesanal. Além dessa tarefa, Clayton é o quarto capitão do Terno Moçambique Mamãe do Rosário, do qual a esposa Suely e os filhos Suellen e Frederique são dançadores. “Eu escuto as cantigas passadas pelos capitães e fico mais atrás para repassá-las aos demais dançadores, para que não percam o ritmo e a letra”, conta. Os ensaios começam em agosto e os preparativos duram o ano todo, as quatro caixas usadas pelo terno são feitas pelas mãos de Clayton e muito antes da festa começar já está tudo pronto. São quatro anos de Moçambique, mas a história de Clayton na Congada começou há cinquenta. “Eu tinha um problema grave de saúde quando bebê e os médicos de Goiânia não deram esperanças à minha mãe de que eu pudesse resistir, então ela viu uma imagem de Nossa Senhora no vagão do trem de ferro, na viagem de volta para casa. Minha mãe fez um voto que, caso eu melhorasse 22

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eu participaria da festa. Ainda na viagem eu reagi e tive melhoras, minha mãe então providenciou uma roupa branca e eu saí no terno Moçambique”, conta. Com o passar dos anos Clayton dançou também no Terno Sagrada Família e quando a mãe faleceu ficou muito triste, desmotivado a continuar como dançador. Mesmo sem terno foi assistir aos ensaios do Moçambique, pois a esposa e os filhos faziam parte, então decidiu continuar na Congada, assim nunca passou nenhum ano sem dançar. “É uma festa de todos, de negros, brancos, todas as raças, quem dança e gosta faz por devoção, no nosso terno, por exemplo, todos são tratados da mesma forma, a mistura de raças e crenças é saudável”, diz. Clayton diz que a festa tem uma dimensão muito grande na sua vida. “A festa para mim dura o ano todo, confeccionando caixas, apre-

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sentando em outras cidades, e tudo com amor, porque eu sei que é para louvar Nossa Senhora, sou católico e tenho muita fé”, diz. Este ano se apresentou em Aparecida-SP, Ouvidor, Três Ranchos, Cumari, mas a principal festa para ele é a de Catalão. Sobre a mudança no Reinado, Clayton diz que espera que Nossa Senhora do Rosário abençoe a nova for-

mação para que façam bonito na festa, com muita responsabilidade. Sobre mudar a festa de lugar, Clayton não concorda, para ele a tradição é no Largo do Rosário, com as manifestações religiosas, apresentações de Congada e barraquinhas. A entrega da coroa ele preferia que voltasse a tradição de ser entregue na casa do próximo festeiro. Mas o que mudaria mesmo é a forma de agir e pensar de alguns dançadores. “Os dançadores devem participar das missas, terços e procissões, eu acho que a Congada deve estar presente na parte religiosa da festa, isso sim é de fato louvar Nossa Senhora, seria importante ter representantes de cada terno nas atividades religiosas”, diz. Para quem acredita que recebeu um milagre, não há motivos para deixar de lado tanta fé e devoção. A Congada proporciona a Clayton alegria, emoção, paz, nostalgia e, acima de tudo, representa sua vida.

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Entrevista

Márcia Rosa

registrando a alegria da congada

A catalana Márcia Rosa de Vasconcelos Silva há anos mora em Londrina-PR, mas sempre encontra uma forma de visitar a cidade natal em outubro, propositalmente para participar da Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário. Ela participava da festa todos os anos quando criança, ia aos terços, assistia à apresentação dos ternos, sempre gostou muito. Ficou ausente 17 anos, pois foi morar em outro Estado. Mesmo morando longe, retornou à festa entre os anos 2000 e 2010, sem faltar nenhum 24

ano; entre 2010 e 2016 faltou apenas duas vezes. Márcia é fotógrafa e não se cansa de registrar a alegria e o colorido da congada, a fé e a devoção daqueles que louvam Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O Congado - Qual a importância da Festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, em Catalão, para você? Márcia - Muito importante manter essa história religiosa que nasceu com a cidade. O ato das pes-

soas se reunirem em determinados horários como, por exemplo, às 18h para a Ave Maria, tem o poder de trazer luz e energia para todos e muitas pessoas vão em busca disso. O Congado - Quais trabalhos já desempenhou na e sobre a festa? Márcia –Engraçado, até barraca uma vez eu montei, de bijuterias, em 2010, foi uma experiência diferente. Mas sempre que consigo ir, gosto de registrar fotografando, por prazer e emoção, sem fins lucrativos. REVISTA O CONGADO 2017


O Congado - O que representa a Congada e o louvor a Nossa Senhora e São Benedito para você? Márcia - Muito, pois viajo 900 quilômetros para prestigiar. Representa fé, muita fé, agradecimento, estar um pouco mais próximo de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O Congado - Como observa a miscigenação do branco na cultura negra no âmbito da Congada? Márcia - É muito importante, é essa mistura de raças que faz com que nosso país seja rico em cultura, dança, música, fé, e quem ganha com isso somos todos nós. Vejo que mesmo os brancos entrando, sempre é lembrado que a festa começou com os negros descendentes dos escravos. O Congado - Qual o seu ponto de vista, em relação às músicas cantadas por alguns capitães de ternos? Márcia - Difícil dizer algo so-

bre os ternos se não somos participantes. Mas acredito que as músicas deveriam seguir a tradição religiosa, devem ajudar a sustentar a fé e ajudar a lembrar sempre o motivo pelo qual estão ali. O Congado - O que você acha da possibilidade da mudança do local da festa? Márcia - Não consigo nem imaginar, pois cresci vendo a festa em volta da Igreja e retornei vendo a festa no mesmo local. A Igreja, a Congada, o Ranchão, as missas e terços, parques e barracas. Tudo isso é a festa, faz parte da tradição e um está ligado ao outro. O Congado - Qual sua opinião da participação dos políticos na festa? Márcia - Acho que independente de qualquer partido político que esteja liderando a cidade, de-

veria ter o compromisso com a festa em geral. Cabe à cidade investir na cultura e no incentivo ao crescimento do turismo. O Congado - Se você tivesse o poder, o que mudaria na festa? Márcia - Minha opinião é que a entrega da coroa poderia acontecer na Represa do Clube do Povo, pois é um local aberto, tem uma característica turística e é muito belo. Esta é a visão de quem vive fora de Catalão e tem como profissão a fotografia. O Congado - Se tivesse o poder, mudaria a conduta do reinado? Márcia - Conheço muito pouco sobre o reinado, mas penso que seja importante manter a tradição e os valores perante a sociedade e aos fiéis, para serem sempre motivo de orgulho.

Devotos que ajudam na história das Congadas de Catalão

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Comissão Organizadora 2016

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Procissรฃo e Missa dos devotos de Nossa Senhora do Rosรกrio

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Procissรฃo e Missa dos devotos de Nossa Senhora do Rosรกrio

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glossário do

congadeiro

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coletivamente e modificadas ao longo dos anos. Por isso, é reconhecida como patrimônio religioso e cultural num município em franco desenvolvimento no interior do Estado de Goiás.

reconhecer a beleza, a força, o valor e as pessoas que preservam a tradição dessa expressiva manifestação religiosa existente na centenária cidade catalana. Esta publicação não pretende aprofundar as reflexões sobre a temática, mas apenas apresentar os grupos de congada que compõem a maior manifestação de fé e cultural da cidade. São esses grupos, as famílias, as pessoas, a alma de tudo, a verdadeira essência de um dos mais ricos e importantes patrimônios vivos de Catalão.

Não só de aspecto físico se constitui a cultura de um povo. Há muito mais contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas e em diversas manifestações, transmitidas oralmente ou através de gestos, recriadas

Divulgar uma das maiores festas folclóricas do Estado, a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, nos faz reconhecer a nossa origem, história, fé e a nossa força cultural. Ao evidenciar ao mundo nossa dimensão, a complexidade e a diversidade do patrimônio cultural, promovemos a importância de se

Reinado Composto pelo rei, rainha, príncipes e princesas, que podem ser coroados perpétuos. Sua função é manter uma vigilância constante com orações de proteção e ensinamentos ou como o Rei de Ano, ou seja, o Rei Coroado para a festa daquele ano, cuja função é orar e buscar contribuições para a festa da Irmandade.

Caixa de congo O ciclo da festa da congada de Catalão em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito inicia-se sempre no segundo domingo de Agosto, quando as batidas das caixas podem ser ouvidas por toda cidade. Os ternos sempre comandados pelos seus capitães, levam seus oratórios com os Santos de devoção e coreografias.

Rainha Só pode ser substituída quando morrer e sua substituta é uma pessoa da própria família.

Oração Sempre que os dançadores se reúnem para louvar em nome dos santos, antes fazem um momento de oração.

Capitães Divididos em primeiro, segundo e terceiro capitão, cada um com funções especificas dentro do terno.

Encontro dos ternos Vindo de diferentes localidades da cidade, os ternos se reúnem sempre na Praça em frente à Igreja do Rosário.

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Entrega da coroa Ao final da festa, a comissão festeira sai em cortejo da porta da Igreja do Rosário, acompanhado por todos os dançadores, religiosos, milhares de populares e pagadores de promessa, os ternos de Moçambique são responsáveis por acompanhar a família real, que leva a coroa de ouro. Vale ressaltar, a presença de policiais militares que garantem a segurança. Após anunciar os próximos festeiros e equipe responsável pela festa do ano seguinte, cada terno realiza sua apresentação perante os populares.

Caixeiros ou dançadores Sempre que os dançadores se reúnem para louvar em nome dos santos, antes fazem um momento de oração.

novena Durante as novenas são realizadas missas, reza de terços e os leilões que são organizados no Salão de Festa ao lado da Igreja. Os leilões são promovidos para ajudar na elaboração da festa. REVISTA O CONGADO 2017

Vestuário Os moçambiqueiros usam as cores de Nossa Senhora do Rosário, o azul e o branco. Os congos se vestem em cores diversas, significando o caminho, com galhos e flores, para a Senhora passar.

Levantamento da bandeira A Festa do Rosário em Catalão tem duração de dez dias, com a alvorada festiva, terços, missas, procissões e entrega da coroa. No dia em que se comemora a nona novena, por volta das 19h, milhares de pessoas participam da procissão acompanhada por religiosos e todos os ternos de Congo, Moçambique, Catupé, Vilão e Penacho ainda sem fardas. Ao final da cerimônia religiosa, são levantadas duas bandeiras, a de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Todos os ternos realizam suas evoluções ao mesmo tempo ao redor dos mastros erguidos, cantando, dançando e batendo as caixas.

Visita às residências Casas simples, muitas vezes também morada de dançadores, filhos, netos e parentes, preparam-se para receber o oratório e a bandeira que todos os ternos de congo trazem. Normalmente o proprietário da casa, oferece aos capitães, dançadores e bandeirinhas, refrescos, biscoitos, bolo, pão de queijo ou mesmo um copo d’água para repor as energias. Bastão É o símbolo de comando dentro dos ternos de congado.

Símbolos A presença visível do invisível é muito forte nas manifestações de fé do congado. Eles expressam e tornam presente a memória dos antepassados e divindades do povo negro e a fé no Deus criador, Salvador, em Nossa Senhora do Rosário e nos Santos e Santas patronos e protetores das Irmandades.

Bandeirinhas Tem o significado da Virgem do Rosário. As meninas vão levando as bandeiras com a imagem dos santos de devoção, sempre à frente dos ternos. O CONGADO 25 - eD. vIi ano 2015

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Terno Catupé Nossa Senhora das Mercês (Amarelo)

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Terno Catupé Nossa Senhora das Mercês (Amarelo)

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Terno Moçambique Coração de Maria

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Terno Moรงambique Mamรฃe do Rosรกrio

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Terno Catupé Santa Efigênia (Prata)

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Terno Congo Congregação do Rosário

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Terno Congo Penacho Caboclinho

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Catupé Nossa Senhora do Rosário (Branco)

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Catupé São Benedito (Azul)

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Terno de Congo do Bairro Pio Gomes

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Terno de Congo Feminino Mariarte

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Terno de Congo Marinheiro

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Terno de Congo Marujeiro

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Terno de Congo Zé do Gordo

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Terno de Congo N. S. do Rosรกrio e da Guia

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Terno Congo Prego

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Terno de Congo Sagrada Família

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Terno de Congo Santa Terezinha

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Terno de Congo São Benedito (Goiânia)

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Terno de Congo São Francisco

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Terno Vilão Santa Efigênia

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Terno Vilรฃo II Nossa Sra. de Fรกtima

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Destaque

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Destaque

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Sincretismo no Congado

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