Faculdade de Educação Tecnológica do Estado Rio de Janeiro – FAETERJ-Rio/FAETEC Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em “Tecnologias da Informação e Comunicação Aplicadas à Educação” Disciplina: Tecnologias da Informação e Comunicação Aplicadas à Educação Prof. Msc. Ricardo Marciano
Uma visão crítica do Ensino a Distância atual no Brasil pela perspectiva do aluno
Palavras-chave: Ensino a Distância, EaD, TICs, Evasão, Tecnologias da Informação e Comunicação Aplicadas à Educação.
Aluno: Jameson da Costa Rangel Matrícula: 1510609400012
Introdução Apesar de toda evolução tecnológica, das ferramentas e diversas plataformas disponíveis, vivemos um momento de reflexão sobre o Ensino a Distância no Brasil. Alguns autores relatam que no Brasil, a primeira notícia que se tem da Educação a Distância foi em 1891, momento em que era oferecido um curso de datilografia por meio de anúncio de jornal; já outros colocam o Instituto Universal Brasileiro, iniciado em 1940, como a instituição mais antiga a manter cursos por correspondência. Desde então, outras instituições deste gênero foram criadas no Brasil, como o Centro de Estudos Regulares (C.E.R.), fundado em 1981. O objetivo do C.E.R. era permitir que crianças, cujas famílias se mudavam temporariamente para o exterior, continuassem a estudar pelo sistema educacional brasileiro. Atualmente, a grande maioria dos cursos ainda não utiliza as potencialidades da Web 2.0. Como aluno de mais de dez cursos a distância em instituições como Universidade Estácio de Sá, CECIERJ, FAETEC, UFF, CEDERJ/UFRRJ, FGV, entre outras, pude perceber que as ferramentas utilizadas e o nível de interatividade é bem aquém do citado por diversos educadores e especialistas. Estamos no século XXI, mas as plataformas de Ensino a Distância são utilizados como as instituições dos séculos IXX e XX. Tecnologia existe, mas não é utilizada adequadamente Das observações realizadas ao longo dos últimos cinco anos, a instituição que mais consegue utilizar minimamente a tecnologia disponível é a Universidade Estácio de Sá, pois além de manter disponível conteúdo em texto, existem conteúdos em outras mídias como apresentações dinâmicas e aulas em vídeo. Além de conteúdo em diversos formatos, a instituição ainda mantém fóruns ativos e com participação intensa dos alunos. Apesar de longe do ideal, é bem melhor do que o modelo adotado pela maior parte das demais instituições, que apesar de terem tecnologia disponível, as mesmas não são utilizadas. Tanto CECIERJ, FAETEC, UFF e CEDERJ/UFRRJ utilizam em seus cursos quase 90% do material somente em texto, onde não existe qualquer interatividade ou tecnologia de ponta utilizada. A FGV, dependendo do curso chega a oferecer vídeos, fóruns, aulas em tempo real, o que torna mais interessante o aprendizado.
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Castells (2013) afirma que não é a tecnologia que determina nada e sim porque a estrutura social em rede só pode desenvolver-se sobre essa base tecnológica, como a sociedade industrial só pode desenvolver-se sobre as novas formas tecnológicas associadas à nova produção e distribuição de energia. Portanto, a tecnologia é necessária, mas não é ela que determina o sucesso ou não de um projeto pedagógico a distância. Demo (2009) já havia traçado dois desafios para o futuro da pedagogia em termos de aprendizagem: ser "pedagogicamente correta" e ser "tecnologicamente correta". No desafio de ser "pedagogicamente correta", Demo nos coloca a necessidade de primarmos por relacionamentos emancipatórios. Relaciona a essa "inovação" Paulo Freire e sua politicidade, que distinguia entre o tipo de influência que promove a emancipação e outra que a impede. Nesse novo despertar pedagógico, fica visível para o autor o desafio da nova concepção de autoria na autonomia de reconstruir e reinterpretar, tornando ambiente propício para aprendizagem aquele em que o aluno se torna o centro das atenções, cabendo ao professor se firmar como promotor dessa transformação com ações construtivistas e primando pela interatividade real e concreta no processo da aprendizagem. Já no desafio de ser "tecnologicamente correta", Demo nos mostra que a tecnologia é muito mais que meio ou simples recurso, pois representa um novo horizonte de aprendizagem virtual, sendo, portanto, possível aprender bem, desde que existam condições adequadas, inclusive a aprendizagem do próprio professor. O autor coloca que os meios tecnológicos podem constituir sedução para a aprendizagem com qualidade e nos apresenta as "novas alfabetizações", sinalizandoas como um conjunto distinto de novas outras habilidades e competências, comparando as "mentalidades" - percepções sociais de ensino/aprendizagem, sendo uma mentalidade tradicional, ultrapassada e "moderna" e a outra, "pós moderna", essa mais solidária, coletiva e política, com mais chances de formação. Ainda segundo Demo, o palco privilegiado da aprendizagem virtual, em termos tecnológicos, é a Web 2.0, tratando-se da nova mentalidade, realizado na forma de autoria e coautoria como as plataformas blog e wiki, que deram novos sentidos à autoria.
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Evasão – Um problema a ser resolvido Uma pesquisa publicada no Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta a Distância em 2008 apontou que entre os alunos que abandonam cursos a distância, 85% o fizeram logo no início, e 91% não chegaram nem à metade. A administração do tempo e das dúvidas é a questão mais preocupante. Esta pesquisa ouviu não apenas estudantes evadidos, mas também os que completaram seus cursos, num total de 204 alunos (102 evadidos e 102 formados), indicados por 32 instituições de todos os níveis de ensino espalhadas pelo país (exceto o nível de Educação de Jovens e Adultos – EJA).
Tabela 1 Na Tabela 1 os alunos opinaram sobre as dificuldades e facilidades que tiveram, os motivos para abandonar, a qualidade do material pedagógico e dos recursos oferecidos pelas instituições. A todos foi pedido que atribuíssem notas a diferentes variáveis, e que avaliassem outras de acordo com a importância que tiveram para concluir ou abandonar o curso, e que comparassem a EaD com a educação presencial. Se somarmos alguns indicadores de uma boa escola a distância poderíamos ter reduzido o número de evasões. Então vejamos: 15,6% respondeu que não se adaptou ao sistema EaD, 15,2% disse que a escola não ofereceu os recursos necessários, 2% não gostou do material didático e 6,1% sentiu falta da interação com outros alunos. Se somarmos estes percentuais teremos 38,9 %, portanto um número alto para questões que poderiam ser resolvidos com um trabalho mais bem elaborado de Tecnologias da Informação e Comunicação Aplicadas à Educação. 3
Conclusão - Como colocar em prática as recomendações de Grünwald Promovido pela UNESCO e discutido inicialmente em 1982, Grünwald, Alemanha, e depois em 2007, portanto 25 anos depois em Paris, França; pouco se avançou em relação às questões básicas do que foi definido como modelo a ser seguido por todos os países participantes. Até o momento, nenhum sistema educativo integrou oficialmente a mídia-educação como uma prioridade ou conseguiu difundir seu espírito e sua importância entre os educadores em geral. Embora existam iniciativas interessantes, porém, em geral elas são paralelas, têm caráter facultativo, fora do tempo escolar e dos programas obrigatórios, e dependem da boa vontade de atores motivados. 25 anos depois de Grünwald, a mídia-educação continua a ser, na maioria dos países, uma preocupação e uma prática de educadores e jornalistas militantes. Para Bévort e Blloni (2009) é preciso ressaltar que as mídias são importantes e sofisticados dispositivos técnicos de comunicação que atuam em muitas esferas da vida social, não apenas com funções efetivas de controle social (político, ideológico...), mas também gerando novos modos de perceber a realidade, de aprender, de produzir e difundir conhecimentos e informações. São, portanto, extremamente importantes na vida das novas gerações, funcionando como instituições de socialização, uma espécie de “escola paralela”, mais interessante e atrativa que a instituição escolar, na qual crianças e adolescentes não apenas aprendem coisas novas, mas também, e talvez principalmente, desenvolvem novas habilidades cognitivas, ou seja, “novos modos de aprender”, mais autônomos e colaborativos, ainda ignorados por professores e especialistas. Para Demo é notória a dificuldade de muitos profissionais em lidar com as novas tecnologias, por questões de uso, domínio e inclusive econômicas. O autor coloca que o professor precisa continuar estudando a vida toda, precisa ser exemplo maior para os estudantes, precisa ser literalmente "eterno aprendiz". Demo enfatiza que, nos tempos do século XXI, a marca maior do professor será a autoria, cabendo à sua essencialidade um olhar crítico e pesquisador sobre o mundo tecnológico, porque só se pode questionar bem o que se conhece por dentro. Cabe também ao professor humanizar as tecnologias, fazendo delas alavancas de cidadania, depuradas do assédio do mercado, com a qualidade imprescindível que essas novas relações requerem.
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Podemos concluir que, como na maioria das instituições de hoje, a tecnologia está disponível, grande parte dos problemas está no despreparo e desqualificação dos docentes, que deveriam dominar a tecnologia, mas quem acaba dominando são os alunos. Fazendo uma analogia, não adianta apenas dar um novo e moderno automóvel automático, cheio de recursos para o professor, tutor ou pedagogo. É necessário ensiná-lo a guiar este novo carro, treiná-lo de como ele pode retirar o melhor deste novo veículo incrível. Sendo assim, o que falta então é qualificar e preparar cada vez mais os docentes para a utilização dessa tecnologia.
Referências CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009. Trabalho A Visão dos Alunos Sobre o Processo de Ensino-Aprendizagem a Distância publicado pela ABED – Associação Brasileira de Ensino a Distância. Disponível em <http://www.abed.org.br/congresso2008/tc/522008105751PM.pdf>. Acesso em 31 julho 2015. Artigo “Mídia-educação: conceitos, história e perspectivas”. In: Educação & Sociedade: Campinas, vol. 30, n. 109, set./dez. 2009, p. 1081-1102 de BÉVORT, Evelyne; BELLONI, Maria Luiza. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v30n109/v30n109a08.pdf> .Acesso em 31 julho 2015. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta a Distância. Disponível em <http://www.abraead.com.br/anuario/anuario_2008.pdf>. Acesso em 31 julho 2015.
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